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Conferência para a reconstrução da Ucrânia: luta contra a corrupção é desafio para Kiev

Os parceiros da Ucrânia se reúnem nesta terça-feira (11) e na quarta-feira (12) em Berlim. Quase 2.000 participantes de cerca de 60 países participam de uma conferência sobre a recuperação e reconstrução do país invadido pela Rússia. O evento acontece antes das reuniões marcadas a partir da quinta-feira (13) entre os membros do G7, que tentarão chegar a um acordo para devolver a Kiev os ativos russos congelados desde o início da guerra.

Ukrainian President Volodymyr Zelenskyy, left, and German Chancellor Olaf Scholz attend a press conference at the recovery conference in Berlin, Germany, Tuesday, June 11, 2024. Germany is hosting a conference to gather support for Ukraine's recovery from the destruction wreaked by Russia's war, sending a new signal of solidarity with Kyiv at the start of a week of intense diplomacy. (AP Photo/Ebrahim Noroozi)
Ukrainian President Volodymyr Zelenskyy, left, and German Chancellor Olaf Scholz attend a press conference at the recovery conference in Berlin, Germany, Tuesday, June 11, 2024. Germany is hosting a conference to gather support for Ukraine's recovery from the destruction wreaked by Russia's war, sending a new signal of solidarity with Kyiv at the start of a week of intense diplomacy. (AP Photo/Ebrahim Noroozi) AP - Ebrahim Noroozi
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No fim de semana, dezenas de países também se reunirão numa conferência de paz, sem a participação de representante de Moscou.

Estimativas de fevereiro do Banco Mundial apontam que são necessários € 486 biilhões para a reconstrução da Ucrânia, mais do que o orçamento da Alemanha, informa o correspondente da RFI em Berlim, Pascal Thibaut.

Habitação, estradas, indústrias, empresas... A guerra destruiu setores inteiros da economia: os especialistas estimam, por exemplo, que quase metade da capacidade da produção de electricidade do país foi destruída.

A conferência em Berlim reúne não só líderes políticos ucranianos e de outros países, mas também representantes da sociedade civil e dos municípios que desejam estabelecer contatos.

Investimento empresarial

Em Berlim, a Ucrânia mobilizará mais uma vez os doadores tradicionais, mas Kiev  espera contar com o setor privado e quer insistir em incentivos fiscais: são esperadas cerca de 600 empresas dos setores da energia, saúde e logística, por exemplo.

Quatro em cada dez empresas alemãs presentes na Ucrânia pretendem aumentar os seus investimentos. O objetivo é trabalhar na perspectiva de longo prazo da Ucrânia e não esperar até o fim da guerra para a reconstrução. 

O presidente Volodymyr Zelensky anunciou que a Ucrânia já não era capaz de assegurar a sua produção de electricidade. “A Ucrânia sofre atualmente a forma mais destrutiva da ofensiva russa: a destruição de energia é usada como arma. Como resultado dos ataques russos com mísseis e drones, nove gigawatts de capacidade já foram destruídos. O pico de consumo de eletricidade do inverno passado foi de 18 gigawatts. Metade, no entanto, não existe mais”, disse ele.

O chanceler alemão Olaf Scholz apelou aos seus aliados para que façam mais para fortalecer os meios de defesa aérea da Ucrânia. Volodomyr Zelensky estimou que o seu país precisava de pelo menos sete sistemas antimísseis Patriot adicionais para se proteger dos ataques russos. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, prometeu € 2 bilhões em ajuda de curto prazo a Kiev.

Vista da academia de arte Boychuk em Kiev, atingida por um bombardeio russo em março de 2024.
Vista da academia de arte Boychuk em Kiev, atingida por um bombardeio russo em março de 2024. AP - Francisco Seco

Acelerar a adesão da Ucrânia à UE

Quase 80% da produção térmica e um terço da produção hidrelétrica da Ucrânia foram destruídos por ataques russos, segundo Kiev. Nos últimos meses, o exército russo teve como alvo numerosas centrais elétricas ucranianas, assim como instalações de armazenamento de gás e sistemas que ligam a rede elétrica ucraniana à da União Europeia, relatou Zelensky.

Os cortes de energia são, portanto, organizados para racionar o consumo. A operadora nacional Ukrenergo anunciou nesta terça-feira a extensão do racionamento de energia em todo o país. Atualmente, os ucranianos ficam sem eletricidade entre 14h e 23h, horário local.

Esta conferência para a recuperação da Ucrânia é a terceira do gênero desde o início da guerra, há dois anos e meio. Depois da cidade suíça de Lugano, em 2022, e de Londres no ano passado, esta é a primeira vez que as reuniões acontecem em um país da União Europeia. Um verdadeiro símbolo para o país anfitrião, a Alemanha, que  lembra as reformas ainda necessárias para acelerar a adesão da Ucrânia à UE. 

A reunião acontece num momento em que Kiev envia uma mensagem preocupante aos seus parceiros ocidentais. O chefe da agência para a reconstrução da Ucrânia, o reformista Mustafa Nayyem, renunciou ao cargo após afirmar que o governo do presidente Volodymyr Zelensky o impede de cumprir as suas funções, como relata o nosso correspondente da RFI em Kiev, Stéphane Siohan.

Polêmica após a renúncia do chefe da agência para a reconstrução da Ucrânia

Antigo jornalista, figura da revolução Maidan de 2014, Mustafa Nayyem entrou na política há dez anos, com o objetivo de reformar o funcionamento das administrações públicas por dentro. Vice-ministro das Infraestruturas com uma reputação impecável, Mustafa Nayyem tornou-se, em 2023, o chefe da agência de reconstrução, responsável por coordenar a ajuda internacional ao país, a fim de colocar as infraestruturas novamente em funcionamento.

Poucas horas antes da conferência em Berlim sobre a reconstrução, o governo proibiu Mustafa Nayyem de viajar para a Alemanha, onde se encontraria com doadores para a reconstrução. Isso o levou à decisão de renunciar, algumas horas depois. Em Kiev, todos os olhos estão voltados para Andriy Yermak, o todo-poderoso chefe da administração presidencial, que faz as nomeações políticas: ele coloca homens leais no poder.

Para a sociedade civil e as organizações anticorrupção, o assunto é extremamente grave, porque Mustafa Nayyem e a sua equipe foram uma garantia de independência, elogiados pelos parceiros internacionais por sua probidade e profissionalismo. Muitos em Kiev temem que os homens de Zelensky tenham decidido pôr a mão em tudo, surgindo o risco de favoritismo ou corrupção em contratos de reconstrução.

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