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Imigrantes indianos se manifestam na Itália contra exploração, após morte de trabalhador ilegal

Milhares de trabalhadores agrícolas indianos manifestaram-se na terça-feira (25) para exigir justiça e o fim da “escravidão” na Itália após a trágica morte de um trabalhador que revelou a exploração de migrantes ilegais. Satnam Singh, um trabalhador ilegal de 31 anos, morreu na semana passada depois de ter o braço arrancado por uma máquina. Seu patrão o abandonou na beira da estrada, com o membro decepado.

Gurmukh Singh, chefe da comunidade indiana na região do Lácio, no sul da Itália, dirige-se à multidão durante um protesto da comunidade indiana em 25 de junho de 2024 em Latina, perto de Roma.
Gurmukh Singh, chefe da comunidade indiana na região do Lácio, no sul da Itália, dirige-se à multidão durante um protesto da comunidade indiana em 25 de junho de 2024 em Latina, perto de Roma. AFP - TIZIANA FABI
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"Ele foi abandonado como um cachorro. Há exploração, sofremos com isso todos os dias, isso deve parar", disse Gurmukh Singh, chefe da comunidade indiana na região do Lácio, no centro da Itália. “Viemos aqui para trabalhar, não para morrer”, disse ele à AFP.

Crianças seguravam cartazes coloridos que diziam "Justiça para Satnam Singh", enquanto os manifestantes desfilavam pelas ruas de Latina, uma cidade da zona rural ao sul de Roma, onde vivem milhares de trabalhadores indianos.

Desde a década de 1980, os indianos trabalham em uma região rural a 60 km ao sul de Roma. Muitos colhem abóboras, alho-poró, feijão e tomate. Outros trabalham na produção de muçarela.

A trágica morte de Satnam Singh, que continua sob investigação, reacendeu o debate no país sobre o combate aos abusos sistemáticos no setor agrícola, onde a utilização de trabalhadores ilegais e a sua exploração é comum.

 “Satnam morreu num dia, eu morro todos os dias porque também sou vítima de trabalho”, diz Parambar Singh, ele próprio gravemente ferido no olho durante um acidente de trabalho.

 “Meu chefe disse que não poderia me levar ao hospital porque eu não tinha contrato”, diz o homem de 33 anos, que desde então tem enfrentado dificuldades para trabalhar. “Há 10 meses que espero por justiça.”

Barbárie e atos desumanos  

Os trabalhadores recebem em média € 20 (R$ 116) por dia por 14 horas de trabalho, segundo o Observatório Placido Rizzotto, que analisa as condições de trabalho no setor agrícola.

A primeira-ministra italiana de extrema direita, Giorgia Meloni, procurou reduzir o número de migrantes sem documentos em Itália, ao mesmo tempo que expandiu as rotas de migração legal para trabalhadores de países terceiros para combater a escassez de mão-de-obra.

Mas de acordo com a associação agroindustrial Confagricoltura, apenas 30% dos trabalhadores titulares de visto vão realmente para Itália, o que resulta numa força de trabalho insuficiente para satisfazer as necessidades dos agricultores.

No início de junho, Meloni acusou as redes do crime organizado de explorarem o sistema de vistos italiano para contrabandear migrantes ilegais.

Ela própria condenou “atos desumanos” dizendo “esperamos que esta barbárie seja duramente punida”.

 A polícia financeira italiana identificou quase 60.000 trabalhadores sem documentos entre janeiro de 2023 e junho de 2024.

Mas o maior sindicato de Itália, o CGIL, estima que até 230 mil pessoas, ou mais de um quarto dos trabalhadores agrícolas sazonais do país, não têm contrato.

Embora alguns sejam italianos, a maioria são estrangeiros. As mulheres estão particularmente em situação desfavorável, elas ganham ainda menos do que os homens e são por vezes vítimas de exploração sexual, afirma o relatório.

“Todos nós precisamos de contratos de trabalho regulares para não ficarmos presos nesta escravidão”, insiste Kaur Akveer, 37 anos. “Satnam era como meu irmão. Ele deve ser o último indiano a morrer”, conclui ela.

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