Florestas
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Por Vinicius Konchinski — Para o Valor, de Curitiba


Mais de 650 empreendedores, representantes de organizações ambientais e prefeitos de 60 cidades do país querem transformar a maior área contínua e preservada de Mata Atlântica num destino turístico tão icônico quanto a Amazônia ou Machu Pichu, no Peru. Para isso, assumiram compromissos pela sustentabilidade e resolveram passar a promover uma única marca: a Grande Reserva Mata Atlântica.

A Grande Reserva é uma área de 2,7 milhões de hectares - o equivalente a Alagoas - que se espalha por três Estados: São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Dois terços desse território são protegidos por suas características ambientais, históricas ou culturais. Ficam, por exemplo, em Itanhaém (SP), segunda cidade mais antiga do país, fundada em 1532; na ilha do Mel, um dos pontos turísticos mais famosos do Paraná; e no Parque Estadual do Acaraí, em São Francisco do Sul (SC). Todos esses destinos, historicamente, buscam atrair turistas de forma independente. A ideia da Grande Reserva é uni-los, reforçando os pontos em comum de cada local e transformando o conjunto deles num dos maiores pontos de ecoturismo do mundo, conectado a uma rede de negócios sustentáveis e socialmente responsáveis.

Dos 60 municípios que compõem a região, 31 já aderiram oficialmente à proposta. “A área original da Mata Atlântica engloba 15% do território nacional, mas hoje só 7% disso está bem preservado. A Grande Reserva concentra boa parte dessa área. Isso não pode ser uma barreira ao desenvolvimento, mas sim um fator para ele”, afirma o engenheiro florestal Ricardo Borges, coordenador de projetos da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SVPS). Ele gerencia as equipes de comunicação e articulação da Grande Reserva.

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Borges trabalha pela Grande Reserva desde sua estruturação, em 2018. Antes disso, conheceu um projeto para desenvolvimento de negócios sustentáveis ligados a Esteros Del Iberá, na província de Corrientes, na Argentina. Passou a defender a replicação dessa experiência por aqui. Esteros Del Iberá foi considerado por décadas um “poço sem fundo” de investimentos, segundo Borges. Pantanoso e habitat de inúmeras espécies silvestres em risco de extinção, como pumas e veados, o território era praticamente área proibida para negócios tradicionais. Isso desagradava sua população, que se via sem perspectiva. A área foi ambientalmente restaurada com ajuda de doações de um casal americano bilionário: Douglas Tompkins, fundador da marca de artigos esportivos North Face, e Kristine McDivitt Tompkins, ex-presidente da marca Patagonia. Esteros virou um ponto turístico, e a província de Corrientes passou a divulgá-lo. A restauração criou uma nova vocação para a região.

“A ideia é que isso também ocorra com a Grande Reserva”, almeja Borges. “Queremos conectar a comunidade com o projeto e transformar a natureza num ativo econômico.” Na Grande Reserva, já existem mais de 110 áreas de conservação públicas e privadas. O projeto pretende aumentar a sinergia entre elas e a conexão da população com essas regiões, possibilitando oportunidades econômicas que elas podem gerar.

A Grande Reserva acabou dividida em áreas menores, nomeadas com base em seus atrativos. O projeto prevê instalação de portais nas vias de acesso dessas regiões, a exemplo do que já aconteceu em Corrientes. Assim, o turista que transitar saberá mais facilmente onde está passando e, mais do que isso, saberá que está viajando num pedaço da Grande Reserva Mata Atlântica. Garuva (SC), por exemplo, faz parte do portal Babitonga, que também engloba Itapoá, Joinville e outras cidades catarinenses. Christine Zwettler Teixeira, chefe da Turismo Garuva, explica que 60% do território do município é composto por áreas de preservação. A adesão da cidade ao projeto vem da esperança de que isso passe a ser valorizado por turistas de outras regiões e do mundo.

Joel Henrique Machado, 52, turismólogo e piloto de balões da Travelum, agência de turismo receptivo de São Bento do Sul (SC), na região do portal Quiriri, diz que a preservação é fundamental ao seu negócio. “O turista paga por um passeio de balão justamente para contemplar a natureza”, diz.

No Estado de São Paulo, Tharsis Moraes Duarte, 37, sócio da agência Viva o Vale, sediada em Jacupiranga, e Gabriel Tilkian, 39, idealizador do Acampamento Tekomboe, em Juquitiba, também veem a Grande Reserva como algo a potencializar seus negócios. A Viva o Vale participou de um processo de aceleração promovido pela Fundação Boticário e pelo Sebrae para empresas do projeto. Já o Tekomboe encontrou um fornecedor de alimentos orgânicos para seus hóspedes em reuniões da iniciativa.

O secretário de Planejamento e Meio Ambiente de Itanhaém, César Augusto de Souza Ferreira, almeja que esse tipo de parceria também seja fechada entre órgãos públicos. A cidade litorânea, a maior em extensão da baixada santista, tem 80% de seu território coberto de Mata Atlântica. Faz divisa com a capital e sofre com construções irregulares. “Todo dia a gente tem que demolir um imóvel irregular”, conta. “Esperamos ajuda para esse tipo de ação e também investimento para, de certa forma, compensar pelo serviço ambiental que prestamos”, diz o secretário.

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