Siderurgia
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Por Domingos Zaparolli — Para o Valor, de São Paulo


A descarbonização chegou ao topo da agenda da indústria siderúrgica. As produtoras de aço brasileiras desenvolvem projetos para reduzir suas emissões de dióxido de carbono (CO2). As ações envolvem ampliar o uso de sucata metálica nos processos produtivos, emprego de gás natural, carvão vegetal e de energia de origem renovável. Os resultados projetados apontam 20% de redução nas emissões atmosféricas. A meta das principais siderúrgicas é alcançar essa marca até 2030.

A descarbonização completa da atividade, compromisso assumido pelo setor para 2050, depende de mudanças estruturais do parque industrial e a adoção de rotas produtivas que ainda estão em fase de amadurecimento tecnológico, como o uso de hidrogênio verde na alimentação energética dos altos-fornos.

A indústria siderúrgica global responde anualmente por algo entre 7% a 9% das emissões de gases de efeito estufa (GEE) de origem antropogênica. No Brasil, devido ao impacto das queimadas florestais, a produção de aço contribui com cerca de 4% do total de emissões, segundo a 4ª Comunicação Nacional do Brasil à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCC).

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“É um índice alto e o setor está consciente e empenhado em sua redução”, diz Jefferson de Paula, presidente da ArcelorMittal e do conselho do Instituto Aço Brasil. “É também uma necessidade mercadológica”, afirma Titus Schaar, presidente da Ternium. “Cada vez mais, grandes consumidores de aço, como a indústria automobilística, definem suas compras levando em consideração o inventário de carbono dos insumos.”

De acordo com a World Steel Association, a emissão atmosférica de GEE da indústria do aço vem aumentando no mundo. Em 2021, chegou a 1,91 tonelada de CO2 por tonelada de aço bruto fundido. Analistas internacionais avaliam que é resultado de uma maior participação de aço chinês no mercado, país que responde por mais de 50% da produção global e apresenta altos índices de emissões de poluentes.

No Brasil, a média de emissões é de 1,7 tonelada de CO2 por tonelada de aço produzido. A performance nacional é resultado de uma participação de 11% de carvão vegetal, com origem em florestas plantadas, em substituição ao carvão mineral nos altos-fornos. E também de participação de 22% na produção total proveniente de mini-mills, pequenas usinas que usam fornos elétricos para a transformação de sucatas.

As mini-mills emitem em média 0,67 tonelada de CO2 por tonelada de aço produzido, informa a World Steel, enquanto a tonelada de aço em altos-fornos emite 2,32 toneladas de CO2.

A maior produtora brasileira em mini-mills é a Gerdau, que tem 71% de sua produção originada no processamento anual de 11 milhões de toneladas de sucata metálica. A empresa também possui 250 mil hectares de florestas plantadas que geram carvão vegetal para a produção em altos-fornos.

Transição não ocorre devido ao alto custo do gás natural”
— Marco Polo Lopes

As duas estratégias permitem à companhia apresentar um índice geral de 0,89 tonelada de CO2 por tonelada de aço. “Nossa meta é reduzir para 0,83 tonelada de CO2 por tonelada de aço até 2031”, diz o CEO, Gustavo Werneck.

As mini-mills são eletrointensivas. Em 2022, a divisão de novos negócios Gerdau Next assinou uma parceria com a Newave Energia com o objetivo de investir em projetos greenfield de geração eólica e solar com capacidade de 2,5 gigawatts (GW) até 2026.

Nas grandes usinas integradas, que usam minério de ferro em seus processos produtivos, o gás natural pode substituir parcialmente o uso de coque e do carvão mineral como combustível dos altos-fornos. O gás natural emite 50% menos GEE do que o carvão mineral.

A siderurgia brasileira consome 3,4 milhões de m³ de gás natural em seus processos produtivos e poderia elevar esse consumo para 25 milhões de m³. “Essa transição não ocorre devido ao alto custo do gás natural no Brasil”, diz Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Aço Brasil.

O gás natural no Brasil é comercializado na casa de US$ 16,8 por milhão de BTU (unidade de medida do gás). Nos Estados Unidos e no México, o valor é de US$ 6,9 por milhão de BTU.

A ArcelorMittal, maior produtora de aço no Brasil, com capacidade total de produção de 12,5 milhões de toneladas anuais, tem planos para o uso de gás natural em suas unidades de Tubarão (ES) e Monlevade (MG). A companhia, porém, ainda não decidiu levar adiante o projeto, devido aos preços do gás natural. “É impraticável”, diz De Paula. “Nosso aço não teria competitividade no mercado”, afirma.

Vamos atingir o carbono neutro em 2050”
— Frederico Ayres Lima

Em média, as emissões da ArcelorMittal são de 1,6 tonelada de CO2 por tonelada de aço bruto produzido. A produção em altos-fornos soma 11 milhões de toneladas e emite, em média, 1,6 tonelada de CO2 por tonelada de aço. “Vamos reduzir esse índice em 10% até 2030”, afirma De Paula.

A sucata já é misturada ao ferro-gusa em uma média de 27% nos altos-fornos da companhia. Cada tonelada de sucata utilizada evita a emissão de 1,5 tonelada de CO2. A empresa agora elabora um cronograma para incorporar progressivamente o carvão vegetal nas unidades de Tubarão e Monlevade.

A Ternium, em sua unidade em Santa Cruz, na cidade do Rio de Janeiro, tem capacidade de produção de 5 milhões de toneladas de aço por ano. As emissões são de 2,2 toneladas de CO2 por tonelada de aço produzido em seus altos-fornos. A meta é reduzir as emissões para 1,8 tonelada de CO2 até 2030 por meio de investimentos estimados em R$ 500 milhões. Em 2019 a empresa foi pioneira no mundo ao adotar o biometano como fonte energética de seu alto-forno e o uso de gás natural é uma possibilidade que aguarda viabilidade econômica. “A próxima ação é um investimento de R$ 150 milhões em equipamentos que irão permitir à empresa utilizar até 60 mil toneladas de sucata por mês em seu processo produtivo” diz Titus Schaar.

Em março, a Ternium assumiu o controle da Usiminas e uma das primeiras missões do novo CEO, Marcelo Chara, é desenvolver um plano de descarbonização da companhia. “Os principais pilares vão ser eficiência energética, o uso de gás natural, se conseguirmos preços competitivos, e maior uso de sucata”, afirma Chara.

A descarbonização é uma ação que ganhou caráter de urgência na companhia, após a Justiça de Minas Gerais bloquear recursos da empresa em setembro por conta da poluição atmosférica na unidade de Ipatinga, na região do Vale do Aço.

Na Aperam, produtora de aço inox, os dois altos-fornos da usina de Timóteo (MG), que tem capacidade instalada para 900 mil toneladas de aço líquido, já operam exclusivamente com carvão vegetal de origem em florestas plantadas Em 2022, a unidade registrou emissão de 0,32 tonelada de CO2 por tonelada de aço. “Vamos reduzir em 30% as emissões até 2030 e atingir o carbono neutro em 2050”, diz Frederico Ayres Lima, diretor-presidente da companhia na América do Sul.

Mais recente Próxima Mercado prevê mudança de rota e aposta na valorização

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