Jurii
Jurii
Jurii
SERRA TALHADA
2019
WELLINGTON SANTOS LIMA
SERRA TALHADA
2019
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
TÍTULO: ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DE UM JÚRI SIMULADO ABORDANDO
CONTROVÉRSIAS HISTÓRICAS PARA AS DISCUSSÕES SOBRE NATUREZA DA
CIÊNCIA DE PROFESSORES DE QUÍMICA EM FORMAÇÃO
___________________________________________________________________
Prof.ª Dra. Bruna Herculano da Silva Bezerra
Professora Examinadora
___________________________________________________________________
Prof.º Dr. Thiago Araújo da Silveira
Professor Examinador
___________________________________________________________________
Prof.ª Me. Cristiane Martins da Silva
Professora Orientadora
SERRA TALHADA
2019
AGRADECIMENTOS
Deixo aqui os meus sinceros agradecimentos a todos que foram importantes para a
realização deste trabalho. Agradeço primeiramente à Deus, por me permitir chegar
até aqui, me dando força e coragem nessa longa caminhada. À minha orientadora
Cristiane Martins da Silva, por todas as orientações, discussões, conselhos,
dedicação e disponibilidade que auxiliaram o desenvolvimento desse trabalho. À
minha esposa Mikaela, pela compreensão que muitas vezes precisei, pelo apoio para
me dedicar ao curso e por estar presente na minha vida com toda a sua paciência. À
minha mãe Maria do Carmo e ao meu pai Elias pelo apoio, incentivo, cooperação, por
acreditar em mim e estar sempre presente em todos os momentos da minha vida.
Agradeço também a todos os meus irmãos: Cristian por ser esse irmão presente que
está a todo tempo apto a me ajudar em tudo; Fagner pela sua paciência e
entendimento nas horas que precisei e que tive dificuldades nessa jornada; Wagner
por me dar sempre força e ser um espelho para minha vida e Fabio, que mesmo
distante esteve a todo tempo torcendo por mim. Á minha sogra Luciana, pois sempre
me deu conselhos para nunca desistir e ao meu sogro, Nelinho que sempre torceu por
mim acreditando que eu venceria todos os obstáculos na vida acadêmica.
O que vocês fizerem façam de todo o
coração, como se estivessem servindo o
Senhor e não as pessoas. Lembrem que o
Senhor lhes dará como recompensa aquilo
que ele tem guardado para o seu povo,
pois o verdadeiro Senhor que vocês
servem é Cristo.
Colossenses3:23-24
RESUMO
Partindo do princípio de que o entendimento de História da Ciência colabora para o
entendimento sobre ciência de maneira mais realista, diversas estratégias têm sido
utilizadas para se incluir essas discussões em sala de aula, tanto no ensino médio
quanto no superior. Dentre elas, os jogos educacionais têm sido utilizados como uma
relevante ferramenta de aproximação entre professores e alunos, bem como no
despertar do interesse dos mesmos pelos conteúdos abordados. Nesse sentido, este
estudo tem o objetivo de analisar as discussões sobre natureza da ciência (NdC) que
são desenvolvidas por Licenciados em Química durante a participação dos mesmos
em um júri simulado histórico sobre a descoberta do oxigênio. O júri simulado foi
realizado na disciplina de História da Química do curso de Licenciatura em Química
da Universidade Federal Rural de Pernambuco, na Unidade Acadêmica de Serra
Talhada. A atividade apresentou como discussão central as questões sobre a teoria
do flogístico e a descoberta do oxigênio e, foi realizada com 14 alunos no semestre
de 2018/1. Os dados foram coletados a partir da gravação em vídeo do
desenvolvimento do júri simulado, no qual buscou-se evidenciar os momentos de
discussão sobre NdC presentes ao longo da estratégia, Para analisar os dados, foi
utilizado o instrumento de pesquisa presente no trabalho de Oliveira (2017). Na sua
pesquisa, a autora analisou o mesmo episódio Historico para as discussões sobre
NdC, a partir de discussões de texto e reflexões dos mesmos por licenciandos Os
resultados apresentam que a participação no júri simulado permitiu a associação do
conteúdo estudado a algo que foi estimulante para o aluno, contribuindo assim para
um estudo bem mais motivador, dando abertura para os estudantes manifestarem
suas opiniões a respeito do tema tornando o assunto que era mais complexo em um
conteúdo bem mais interessante. O uso do Júri Simulado possibilitou aos estudantes
exercer um papel protagonista dentro da ação, momento em que estes adotaram
papeis no julgamento, podendo se expressar e mostrar dentro do episódio os seus
pontos de vista. O que indica que essa estratégia pode ser utilizada de forma relevante
por professores tanto do ensino médio como do ensino superior para o estudo da
História da Ciência.
Key Words: Mock Trial; Nature of science; History of science; Discovery of Oxygen
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ………………………………………………………………………9
4. METODOLOGIA …………………………………………………………………...23
6. CONCLUSÃO ………………………………………………………………………42
ANEXOS..........................................................................................................49
9
1. INTRODUÇÃO
Desde muito tempo, não tem sido novidade que pesquisas e professores da
educação básicas vêm apontando a dificuldade de aprendizagem que os alunos
apresentam em disciplinas científicas, como na Química, por exemplo. Uma provável
causa para essa dificuldade se deve ao fato de os estudantes terem pouca ou
nenhuma noção do processo de construção científica (MORIN, 2000 apud COLARES
et al., 2011). Outro fator que pode ser agravante para o caso é que, na maioria das
vezes, os estudantes se encontram distantes do objeto de estudo dessas disciplinas
(GOMES, 2013), visto que muitas vezes o que é ensinado na escola se encontra
distante do cotidiano do aluno.
2. OBJETIVO GERAL
Com base no que foi discutido, nossa questão de pesquisa busca investigar
como a participação em um júri simulado abordando controvérsias históricas contribui
para as discussões sobre natureza da ciência de professores de Química em
formação.
3. REFERENCIAIS TEÓRICO
Como bem nos assegura Silva e Prestes (2013), a NdC não possui uma
definição consensual porque existem diversas visões sobre a ciência muito diferentes
entre os epistemólogos da ciência, o que causa em consequência, a existência de
várias disciplinas científicas que possuem suas naturezas específicas, que se
modificam e evoluem ao longo da história. Dessa forma, a ciência seria um fenômeno
cultural muito difuso para ser caracterizado por uma única natureza.
Para muitos estudiosos da área como Beltran et. al. (2014), a História da
Ciência (HdC) vem nos últimos tempos, se tornando um campo de conhecimento
sólido que se constituiu a partir da inclusão da temática em cursos de formação, pela
formação de pesquisadores na área e pela produção de materiais históricos, como
livros e artigos científicos relevantes para o ensino. A consolidação da área se deu no
início do século XX, a partir de congressos e encontros específicos com
pesquisadores que inicialmente tratavam de discussões complexas como a falta de
consenso sobre ciência e sobre que tipo de história da ciência ou histórias das ciências
deveriam ser exploradas, até atingir uma definição final do seu objeto de estudo.
Beltran et. al. (2014) discutem que a HdC, enquanto área de conhecimento,
busca superar as narrações de fatos históricos simplistas, substituindo-as por
discussões históricas que possibilitem o entendimento e a reflexão das diferentes
formas de se elaborar e utilizar o conhecimento científico. Desta forma, os autores
definem a HdC da seguinte forma:
Para o ensino, essa nova proposta historiográfica, é significativa para que haja
a compreensão por parte dos estudantes dos conteúdos das disciplinas científicas de
maneira mais ampla, uma vez que a HdC aborda a ciência e a sua história de forma
contextualizada. Além disso, percebe-se que o ensino se torna mais atrativo para a
aprendizagem dos alunos, uma vez que eles se sentem bem mais motivados para
conhecer como aconteceram determinados acontecimentos relacionados à disciplina
(REIS, SILVA e BUZA, 2012).
inseridas em sala de aula, pois se a mesma for incluída desconsiderando o seu sentido
(reflexivo, contextualizado e crítico em relação ao desenvolvimento do conhecimento),
o mesmo pode conduzir a um entendimento inadequado sobre ciência (TRINDADE,
2009 apud SILVA, 2012).
A “teoria do flogisto” foi tão importante na época que foi denominado o período
entre o final do século XVII até o final do século XVIII como o período da química
flogística (BELTRAN et. al., 2015). É nesse período que o flogisto constituía a química
dogmática e experimental da época e era utilizada para explicar diversos processos
que aconteciam na natureza. Para Stahl, criador da teoria, é o flogisto que impelia o
ar, a água e a terra, movimentando-os e misturando-os em repouso, causa o frio e em
movimento, o calor do sol, quando o põe em movimento, produz o calor e a luz
(ARAÚJO, 2006).
A Teoria Do Flogístico permite explicar, por exemplo, porque uma vela apaga
depois de algum tempo dentro de um recipiente fechado, a explicação
plausível para aquela época era que a vela liberava “flogisto” para o ar que
se encontrava dentro do recipiente, e em um determinado momento o ar
ficava saturado de flogisto, nesse momento a vela apagava, pois não pode
liberar mais flogisto, porque o ar não pode mais receber (POPPOLINO, 2013.
p. 5).
Segundo Beltran et. al. (2015), foi havendo “várias” teorias do flogisto ao longo
dos anos a fim de adequar o corpo teórico às explicações de vários fenômenos da
natureza. Por isso, muitos foram os defensores do flogisto durante a predominância
da teoria nos meios científicos, como Black, Canvendish, Priestley e Scheele, que
basearam todas as suas descobertas na teoria do flogisto. Contudo, foram
incessantes também, os críticos à teoria de Stahl, contestando, por exemplo o
aumento do peso de um material após a sua queima mesmo o flogisto sendo liberado
na combustão. No entanto, nenhuma dessas críticas causou nenhum impacto ou
perturbação a essa ideia ou aos defensores dela, uma vez que a teoria era abrangente
e conseguia explicar os processos que eram de interesse da época. Essa teoria
perdurou até o surgimento de um dos seus críticos, Lavoisier, que conseguiu derrubar
a teoria do flogisto, “substituindo-a” pela teoria do oxigênio.
Assim, Lavoisier não tinha interesse, a princípio, em derrubar a teoria do flogisto e sim
alterar os seus principais pontos francos, como por exemplo a ideia de que o flogisto
era tão leve que chegava a possuir peso negativo (BELTRAN et. al., 2015). A partir
daí, Lavoisier começou a fazer diversos experimentos analisando os “ares” presentes
nas reações de combustão e calcinação de vários elementos como enxofre, fósforo e
vários metais, tomando sempre o cuidado de pesar os materiais e equipamentos em
diversas etapas com o intuito de explicar as imprecisões da teoria. Todos esses
trabalhos serviram para que Lavoisier compreendesse que existia um outro tipo de
“ar”, diferente do “ar fixo” (CO2) de Black, que deveria ter algum papel nos processos
de combustão e calcinação, porém ele não possuía ainda dados consistentes para
explicar que “ar” era esse.
De acordo com Beltran et. al. (2015), Lavoisier tinha na época mais perguntas
do que respostas, até o seu encontro em 1774 com Priestley em Paris, que lhe contou
de sua descoberta do “ar puro” (sem flogístico), através do processo de aquecimento
do óxido de mercúrio. Antes desse encontro, existem discussões que afirmam que
Lavoisier recebeu uma carta, datada de 1772 de um farmacêutico Sueco, chamado
Scheele, relatando os seus experimentos muito parecidos aos de Priestley, no qual
ele discutia a descoberta de um novo gás denominado de “ar de fogo”. Entretanto, não
se sabe se essa carta realmente chegou às mãos de Lavoisier antes dos estudos ou
se as discussões da mesma influenciaram os seus trabalhos.
A esse “ar puro” ele denominou de “ar eminentemente respirável”, que foi
utilizado para reinterpretar os processos de combustão, nos quais Lavoisier percebeu
que que esse “ar eminentemente respirável” estava presente em todos os ácidos,
então ele modificou o nome desse “ar” para oxigênio que em grego significa “formador
de ácidos” (BELTRAN et. al., 2015). A partir daí o flogisto não tinha mais lugar na
explicação dos processos de combustão e calcinação, uma vez que com o oxigênio
20
Embora hoje não seja mais considerada bem correta, a teoria do flogístico foi
aceita por mais de um século e foi de grande influência nas pesquisas em química da
época, principalmente no século XVIII. Foi à luz dessa teoria que os grandes cientistas
realizaram seus trabalhos no qual essa teoria teve contribuição muito importante, e,
provavelmente sem ela esses cientistas não conseguiram explicar seus experimentos,
e talvez suas descobertas fossem adiadas indefinidamente (GOMES,2013).
21
4. METODOLOGIA
Nesse sentido, a atividade contou com uma dinâmica que foi dividida em três
momentos, que serão apresentados sinteticamente a seguir:
Ressaltamos também que a divisão dos grupos ocorreu desta forma com o
propósito de que todos os estudantes participassem das discussões, contribuindo com
seus pontos de vista e suas percepções a partir dos estudos que foram realizados nas
aulas introdutórias e pesquisas posteriores.
Por fim, foi explicado pela professora que a forma como cada grupo se
organizaria para o júri (desenvolvimento das defesas e acusações e utilização de
testemunhas) seria a critério dos estudantes. Assim, a utilização de testemunhas não
era obrigatória dentro do júri simulado, mas ajudaria no auxílio dos grupos na defesa
e na acusação.
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Colaboração na ciência
Publicação na ciência
Interdisciplinaridade na ciência
Vale destacar que esse quadro foi elaborado para esse episódio histórico não
sendo possível utilizar em outras situações históricas. A seguir apresentamos
sucintamente as características referentes a cada categoria presente no quadro 1 de
acordo Oliveira (2017).
sido considerada formalmente como cientista ou que não seja possível afirmar com
certeza qual o nível de influência dela nas propostas e teorias de Lavoisier, podemos
considerar que ela esteve presente bem de perto em todos os momentos do
empreendimento científico do esposo, fato que deve ser considerado de grande
relevância, principalmente pela pouca presença de personagens femininos na história
da ciência.
2. Colaboração na ciência
Priestley não concordava, e ainda acreditava nas ideias do flogisto e acabou ficando
durante anos em discordância com Lavoisier.
5. Publicação na ciência
Para que os trabalhos dos cientistas sejam aceitos pela comunidade científica,
é necessário que ele passe inicialmente por um processo de divulgação a fim de
apresentar os estudos e resultados obtidos. Isso é de suma importância na ciência,
pois nada adianta o cientista descobrir algo e ele não compartilhar com a comunidade
para que se avance as discussões no campo de conhecimento científico para que o
mesmo evolua. Scheele (1772), não fez nenhuma publicação por isso não levou
nenhum status mesmo sendo o primeiro descobridor do oxigênio, já Priestley (1774),
descobriu e rapidamente publicou antes dele e ficou conhecido como o primeiro a
isolar e descobrir o gás flogisticado (chamado assim até então) (OLIVEIRA, 2017).
Scheele por não ser um cientista muito conhecido na época e por ser pobre de
uma província Sueca, país que não possuía o desenvolvido cientifico como da França
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Lavoisier bem mais sucedido possuía boas condições por ser um funcionário
público e podia custear suas pesquisas, ele era um cientista bem renomado na época
por residir na França, um país altamente desenvolvido cientificamente, e também
membro da Academia de Ciências Francesa, tendo conhecidos influentes na ciência
e no governo, possibilitando a ele um status diferente se Scheele.
Priestley não era químico, era teólogo e pastor, e aos 33 anos descobriu sua
paixão pela ciência e realizou importantes estudos e descobertas. Era casado e tinha
três filhos. Tanto Scheele quanto Lavoisier também eram casados e possuíam uma
vida “normal”, e possuíam outra profissão (boticário e funcionário público).
que é importante relacionar o experimento sempre com a teoria, não se deixando levar
somente por a observação. Tanto Priestley quanto Lavoisier utilizaram de muitas
observações, de experimentos, que se fez entender que tudo era observado e
interpretado em cima das teorias e correntes de pensamentos presentes na época.
Todo o conhecimento científico não é formado de um dia para outro, isso leva
um determinado tempo, pois podem acontecer alguns imprevistos e “erros”. Os
cientistas podem parar suas pesquisas e dar início a outras, e posteriormente após
alguma teoria nova, retomarem de onde pararam e dar continuidade.
5. RESULTADO E DISCUSSÕES
Número de
Características de NC
características
Papel da mulher na ciência 4
Colaboração na ciência 2
Publicação na ciência 1
Interdisciplinaridade na ciência 1
Umas das características que mais apareceu dentro do júri simulado foi o
“Papel da mulher na ciência”, que segundo Oliveira (2017), a inclusão da mulher
nos espaços públicos da sociedade e dentro da ciência se apresenta ao longo da
história como uma grande barreira a ser derrubada. Por um longo período histórico a
mulher foi sempre limitada ao espaço privado da casa e muitas vezes ignorada da
história como historiadora e personagem. Dentro do júri simulado temos a
demonstração de que a mulher fez parte também da história da ciência, no episódio,
a esposa de Lavoisier, Anne‐Marie Paulze Lavoisier teve uma grande contribuição.
Pois a mesma sempre ajudou o esposo em muitas de suas pesquisas, onde teve
vários papeis sendo deles traduzir os textos do inglês e do latim para o francês,
possibilitando que Lavoisier tivesse acesso a discussões científicas da época, entre
elas sobre a do flogisto.
“As pesquisas feitas por Lavoisier o qual eu fazia parte também eram feitas
em laboratórios, pois ele, não trabalhava com expectativas e sim com
comprovações no laboratório sendo tudo experimentalmente e não a base
de fatos” (AL2).
Em outro momento, ao ser questionada pelo grupo de acusação se Lavoisier
só havia “batizado” o gás com o nome de oxigênio, já que o gás já existia antes, a
personagem fez a seguinte afirmação, mostrando que sem os trabalhos em laboratório
não seria possível chegar ao gás:
AL5: ...Então quem garante que você é uma testemunha fiel que pode
afirmar que Lavoisier não roubou a ideia do outro se você assume que não
tinha conhecimento de tudo e que não tinha conhecimento do diálogo dele
com outros cientistas?
AL1: “Protesto! Temos que tomar muito cuidado aí, se vocês estudarem
um pouco o trabalho do cliente de vocês vai perceber que tem vários
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AL3: “Certo, na época a teoria era outra era a do flogisto, com certeza tinha
características que antes eles não sabiam, mas que já estavam na cara
[sic], então o senhor Lavoisier não descobriu o oxigênio pois ele já estava
descoberto, não tinha como descobrir uma coisa que todo mundo já sabia”.
AL1: “A colega mencionou que seu cliente descobriu um gás e nós não
estamos dizendo que esse trabalho não teve importância, apenas estamos
defendendo a teoria de que o nosso cliente (Lavoisier) descobriu o
oxigênio. Se eles descobriram um gás, parabéns mérito deles, mas que
eles tragam mais informação sobre esse elemento, porque o que o meu
cliente fez foi trazer outras interpretações para a descoberta do oxigênio,
coisa que os outros não conseguiram fazer porque pensavam no flogisto e
não conseguiram pensar em outra coisa além disso.
Scheele não era um cientista muito conhecido, era farmacêutico pobre de uma
província Sueca, país que não havia se desenvolvido cientificamente como o da
França e da Inglaterra, por exemplo. Ele tinha dificuldade de publicar as suas
descobertas e não possuía influências no meio científico. Priestley era um pastor da
Inglaterra e dissidente político-religioso refugiado nos Estados Unidos, um país de
desenvolvimento científico maior e era conhecedor de várias línguas, sendo que seus
estudos foram mais reconhecidos que os de Scheele.
Lavoisier ao contrário, era bem mais sucedido possuía melhores condições por
ser um funcionário público e podia investir em suas pesquisas, ele era um cientista
renomado na época e residia na França, um país altamente desenvolvido
cientificamente, possuía conhecidos de grades influencias na academia de ciências e
no governo, o que possibilitou a ele um status diferente dos outros.
Isso foi bastante retratado ao longo do júri, uma vez que essa era uma das
estratégias do grupo de acusação, de mostrar a diferença de oportunidade e posição
entre os cientistas. Aluna 2 (AL2) que no episódio representou o papel da esposa de
Lavoisier, Anne‐Marie Paulze Lavoisier em sua fala relatando quais condições se tinha
nos laboratórios de Lavoisier
“Quer dizer que a senhora como companheira do meu cliente observa que
além de todo o trabalho de pesquisa, ele fez um alto investimento em
equipamentos de última geração que favoreceu os estudos com o oxigênio
e de outros gases também?”. (AL1)
AL5: “A gente sabe que todos os trabalhos que estavam sendo feitos na
época era a sua esposa que traduzia para você não é isso?
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AL1: “vale ressaltar que essa comunicação entre os colegas ela é boa para
a ciência, mas também nós devemos ter uma dúvida aí se de fato essa
carta ela foi escrita antes ou depois da nossa publicação? Apenas chegou
uma carta datada na data que vocês já conhecem, mas não temos certeza
se ele de fato fez essa carta antes da nossa descoberta pois foi publicado
depois. Então é um argumento membros do júri, que não podemos levar
em conta para o julgamento final, pois é um argumento fraco”.
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AL5: “A gente sabe que naquela época para se publicar algo, teria que
possuir recursos e também ter um alto envolvimento com a sociedade
cientifica, isso se sabe que Scheele não possuía nem essas condições
financeiras como também não tinha tanta influência no meio científico.
Outra coisa que a gente sabe também é que ele teve um desentendimento
com o editor, o que fez com que a carta e os seus trabalhos não fossem
publicados antes dos de Lavoisier”.
Essa caraterística o que foi mais apresentado dentro do júri e de grande
importância para entendimento de NdC no júri simulado pois demostra que na época
as condições do contexto social, econômico, cultural e religioso influenciava para ser
um cientista de prestigio.
AL2: “Eu acho que saiu daquela situação que a gente ficava só lendo o
texto e discutindo ele depois, aqui a gente consegue perceber todo o
processo e não só entender que foi o Lavoisier que descobriu o oxigênio e
pronto, a gente pode ver outros fatos e outros cientistas que colaboraram”
AL3: “No trabalho a gente teve que lê muita coisa, foi mais trabalhoso, mas
foi mais interessante”.
AL5: “Ao invés da gente saber só sobre um cientista, a gente tinha que
saber sobre os outros também, porque um influenciava o trabalho dos
outros”.
Nesse caso, a partir das falas dos estudantes acreditamos que a dinamicidade
da atividade do júri simulado foi um dos fatores primordiais para as interações entre
os estudantes, bem como para aprofundar as discussões sobre o assunto, como os
próprios estudantes mencionaram.
6. CONCLUSÃO
Nesse sentido, podemos concluir que essa estratégia de atividade pode ser
utilizada de forma relevante por professores tanto do ensino médio como do ensino
superior para o estudo da História da Ciência. Entretanto é importante ressaltar, que
a atividade foi articulada dando ênfase à importância de se relacionar de forma correta
o júri simulado ao conteúdo trabalhado, para que a atividade não se torne apenas a
aplicação de um jogo pelo jogo, tendo apenas a função lúdica sem ter a função
educativa de obter conhecimentos sobre ciência.
Por fim, posso dizer que de modo particular essa pesquisa me ajudou a
entender a importância de se utilizar uma controvérsia histórica em aulas de ciências,
pois com o episódio do Júri simulado foi possível observar a existências de muitas das
caraterísticas de NdC que eu não tinha, até o momento percebido, e isso me mostrou
como o conhecimento científico realmente se desenvolve, o que foi de suma
importante na minha formação. O desenvolvimento dessa pesquisa foi também muito
importante para minha formação visto que foi o primeiro contato que tive com a
44
pesquisa científica na área, mostrando assim outra forma como utilizar a controvérsia
da história da descoberta do oxigênio no ensino e seus resultados na aprendizagem
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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
8. ANEXOS
Nota Final
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Nota Final
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