Memorial Professor Titular

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MEMORIAL PROFESSOR

TITULAR GEOGRAFIA-
CARTOGRAFIA NO
TEMPO & NO ESPAÇO

PROF. DR. RAFAEL SANZIO ARAÚJO DOS ANJOS

p. 01-76

Como citar este ar tigo:


ANJOS, Rafael Sanzio Araújo. MEMORIAL PROFESOR TITULAR
GEOGRAFIA-CARTOGRAFIA NO TEMPO E NO ESPAÇO
revista Revista Eletrônica: Tempo - Técnica - Território, v.7, n.1 (2016), p. 1:76
ISSN: 2177-4366. DOI: https://doi.org/10.26512/ciga.v7i1.16677

Disponível em: http://periodicos.unb.br/index.php/ciga

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Revista Eletrônica:
Tempo - Técnica - Território,
V.7, N.1 (2016), 1:76
ISSN: 2177-4366
DOI: https://
doi.org/10.26512/
ciga.v7i1.16677
2 www.ciga.unb.br Anjos, R.

______________________________

MEMORIAL PROFESSOR TITULAR


GEOGRAFIA NO TEMPO E NO
ESPAÇO

PROF. DR. RAFAEL SANZIO ARAÚJO DOS ANJOS

UNB – IH – GEA – CIGA


BRASÍLIA – DISTRITO FEDERAL

OUTUBRO - 2016

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3 Memorial Prof. titular Rafael Sanzio Araújo dos anjos. CIGA-GEA-IH-UnB 2016

FOTO: Detalhe de cesto de cipó. recôncavo da Bahia, 2002 Rafael Sanzio

“A nossa riqueza coletiva é constituída por nossa diversidade, o “outro”, indivíduo


ou sociedade, é precioso para nós na medida em que é diferente de nós.”

Albert Jacquard, 1983

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SUMÁRIO

Nota introdutória.....................................................................................05

1. Alguns antecedentes estruturais da vida e as referências espaciais:


a região do recôncavo e a cidade de Salvador........................................08

2. Os anos 1980: a formação básica na UFBA, os trabalhos, os projetos


e a opção pela acadêmia............................................................................17

3. Os anos 1990-2000: o mestrado na fau, o doutoramento na Poliusp-


ird, a expansão do projeto GEOAFRO, as publicações e o pós-
doutoramento (MRAC-BE).....................................................................22

4. Os anos 2010. As publicações de consolidação do projeto


GEOAFRO, o fortalecimento do grupo de pesquisa, do PPGEA e do
CIGA-UnB.................................................................................................33

5. As pesquisas básicas, os projetos estruturais, os conceitos e os


resultados: um breve balanço.................................................................37

6. O agora 2015: as pesquisas e os projetos em


operacionalização......................................................................................69

Anexos – alguns registros documentais...................................................75

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Foto anônima comunidade uruá com o chefe Calamata sentado. Baixo congo. Acervo tervuren-be.

NOTA INTRODUTÓRIA

Yàgò!
Com a saudação de licença em Yorubá, estou pedindo autorização aos meus ancestrais e
antepassados para contar a minha história geográfica-cartográfica a esta banca ilustre
que a existência esta me possibilitando dialogar. Duas dificuldades me foram
configuradas quando tive que "parar" para construir este Memorial: primeiro, mais um
desafio de exercitar a capacidade de síntese para um baiano da Região do Recôncavo
que gosta de falar e se estender e, o segundo, na escolha do caminho para esta
construção. O que estava colocado era na verdade rever as minhas histórias
profissionais que se confundem com as da minha vida no sentido largo (passado,
presente e futuro). A Historiografia enquanto possibilidade de estruturação de um
trabalho no tempo e no espaço pode ser eficaz se houver atenção para minorar a rigidez
cronológica e os cuidados necessários com a concepção linear e restritiva dos eventos e
passagens. Tomei esta direção e ao longo do percurso foi possível fazer correlações e ter
algumas respostas que sem esta abordagem talvez não chegasse ou chegaria com maior
dificuldade. Penso que pelo meu lado capricorniano e “terra”, sempre vislumbrei uma
Geografia que teria que estar comprometida em tornar o mundo e suas dinâmicas
compreensíveis para a sociedade, de dar explicações para as transformações territoriais
e de apontar soluções para as incompatibilidades e incongruências dos distintos espaços
com suas heterogeneidades. São com estas premissas que os instrumentos geográficos

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vão ocupar um lugar significativo nas minhas práticas, sobretudo a cartografia e a


fotografia. O primeiro pela ampla capacidade de representação gráficas do mundo real e
por se firmarem de forma crescente como a mais relevante ferramenta das interpretações
e leituras do território. Os mapas possibilitam revelar graficamente o que acontece na
dinâmica do espaço e tornam-se cada vez mais imprescindíveis por constituírem uma
ponte entre os níveis de observação da realidade e a simplificação, a redução, a
explicação e de pistas para a tomada de decisões. Apesar das potencialidades não perco
de vista que um mapa não é o território, mas que nos produtos da cartografia estão as
melhores possibilidades de sua representação. A fotografia como registro documental é
outro recurso importante no processo do conhecimento geográfico, sobretudo pelas
representações e interpretações do tempo, do espaço, da sociedade, que não se
cristalizam e não são estáticas. No registro fotográfico de um ambiente ou de uma
matriz cultural, podemos constatar as referências de uma estrutura social, que nos
possibilita observar se esta é rica ou pobre, justa ou discriminatória, dentre outras
possibilidades de interpretações espaciais. Sejam nos detalhes das matrizes culturais ou
nas paisagens geográficas, as fotografias não se restringem a um mero congelamento do
momento, mas a uma forma de olhar e sermos olhados. Por isso, entendemos a foto
como um instrumento estratégico no processo de conhecimento do que aconteceu e
acontece verdadeiramente em um território.
Com estas premissas, elaborei este Memorial estruturado em seis partes que dialogam,
de certa forma, entre elas. A primeira faz um retrospecto de algumas referências das
minhas infância-adolescência-juventude sobretudo que vão marcar decisivamente o
caminho profissional que vou seguir, acreditar e praticar. A segunda parte trata da
formação em Geografia no Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia,
os projetos, estágios e trabalhos que delinearam um caminho que não teria mais retorno.
No terceiro momento do Memorial são focados os contextos de realização do Mestrado
em Planejamento Urbano na FAU-UnB; do vínculo e aberturas junto ao Departamento
de Geografia da UnB e a continuidade das pesquisas na sequência no Programa de Pós-
Graduação em Informações Espaciais (POLIUSP).Ainda nesta parte citamos a expansão
do Projeto Geografia Afrobrasileira(Projeto GEOAFRO) no país e fora dele, assim
como os seus desdobramentos com publicações, exposições temáticas e programas
educativos (oficinas temáticas). É neste processo que o Projeto de Pós-Doutoramento
toma conformação e não sabia eu há que outros caminhos mais longos a pesquisa
proposta me levaria.A quinta parte mostro os desdobramentos das pesquisas e projetos

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realizadas fazendo uma abordagem dos seus resultados e produtos com exposições,
livros, vídeos, oficinas, artigos, dentre outros procedimentos que agregam o tripé da
pesquisa, do ensino e da extensão buscando “conversar” com a sociedade civil e o setor
decisório usando linguagens de maior eficácia. Na última Parte o foco está no momento
atual e a operacionalização dos estudos e projetos. Com esta estruturação sintética busco
reconstituir os elementos fundamentais do meu processo de vida profissional,
assumindo já, o risco de ter deixado de tratar de um ou outro aspecto também relevante
dessa trajetória. Tem um mestre chileno chamado Doro Ortiz, que morou muitos anos
em Brasília e certa vez ao estar com ele o mesmo me disse: “o erro não é um erro! Mas
uma oportunidade para descoberta e chegar ao acerto.” Fiquei um tempo pensando, sem
entender direito a sua mensagem e num momento de clareza que veio, eu percebi que o
olhar direto, de frente, sem medo para o erro, é onde esta o acerto. O erro perde a sua
força! Bem, errei muitas vezes na minha trajetória e eles me ajudaram a acertar também,
muitas vezes!

Brasília, outubro - 2016

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1. ALGUNS ANTECEDENTES ESTRUTURAIS DA VIDA E AS


REFERÊNCIAS ESPACIAIS: A REGIÃO DO RECÔNCAVO E A
CIDADE DE SALVADOR

No sentido de dar maior sistematização nas referências e eventos marcantes da minha


trajetória geográfica e suas significações, estruturei o texto em itens marcantes no
tempo-espaço, sempre que possível, associados a diagramas, imagens fotográficas e
cartográficas. Nesta Parte I destacamos o seguinte:
1. Apesar de ter nascido (1958) em Santo Antônio de Jesus, Região do Recôncavo
da Bahia o meu pai José Tibúrcio dos Anjos, me levava sempre que possível a
Salvador para acompanhamento de um problema de vista que eu tinha. Com isso
foi possível conviver mais com meu avô paterno (Jacinto Manoel dos Anjos)
que era Mestre de Ofício da Escola Técnica da Bahia e fazia parte da Diretoria
do Sociedade Protetora dos Desvalidos (sede no Terreiro de Jesus, Centro de
Salvador). Ele me levava para a Sociedade com ele (era o único neto disponível)
e eu observava as suas reuniões; as solicitações das pessoas de matriz africana
excluídas e suas necessidades; os móveis de jacarandá e vinhático; as situações
emergenciais que eles tinham que resolver e estas passagens ficaram gravadas.
Estas vivências semearam em mim algo maior que identifico no trabalho que
busquei realizar na minha prática profissional, nas minhas referências
ideológicas e nos caminhos da vida. A Foto 01 mostra os membros da Diretoria
da qual meu avô participava e eu olhava para ela neste período na parede do
corredor da sua casa no bairro de Santo Antônio Além do Carmo no Centro de
Salvador. Aqui está um dos braços das raízes que seguram a minha árvore!
2. O Mapa 01 mostra as principais cidades que circulei na minha infância e Feira
de Santana, era onde morava a minha avó materna (Maria dos Anjos, mãe de
minha mãe Antonieta Araújo dos Anjos) e minhas tias. Era ela que nos levava
(eu e mais quatro irmãos) nas férias escolares para ficar uns dias na sua casa.
Três experiências ficaram marcadas em mim: A. Ver e ajudar ela a fazer os
bombons e pirulitos no fogão de lenha para serem vendidos pelos baleiros no dia
seguinte (ficou viúva cedo e esta era a sua fonte de renda principal) me deu uma
dimensão da sobrevivência; do conhecimento ancestral firmado e do comércio
informal (herança colonial); B. A noite, no escuro do quarto, ela contava para
mim e meus irmãos as história do Reino de Aruanda, as quais me levavam a um

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mundo imaginário que me dava pertencimento na história contada e C. Ela


cozinhava em tachos de cobre e almoçávamos juntos aos tachos comendo de
mão. A matriz Yorubá é marcante nessas referências e a Foto 02 do Sr. Chico
com sua esposa Vicência (tia da minha mãe) confirma estas referências (pano da
Costa no ombro da Senhora). Estas vivências de infância me fazem ter uma
ligação com Feira de Santana até hoje! Sempre que viajo de carro de Brasília
para Salvador, paro lá, vejo minhas tias, vou na feira, faço compras, revejo
espaços e uma parte minha se “alimenta” de algo que não sei claramente, mas
que continua sendo importante;
3. Outro contexto marcante vem da linhagem de professoras (todas as tias
maternas eram professoras) e da parte de pai o meu avô Jacinto, com os filhos
formados e referências de bons estudantes (ver na Foto 03 em anexo onde o meu
pai Tibúrcio é o segundo da “escada”). As cobranças nos estudos por parte dos
meus pais se constituiam em uma certa ordem familiar, onde ouví muitas vezes:
“Estudo é tudo!”. De certa maneira o “exigente” que convive comigo e atuo com
meus filhos, com as mulheres, com a equipe de trabalho tem haver com estas
referências. Entendo claramente que era uma herança do sistema escravista que
ia sendo passado do Brasil Colonial ao Brasil República que sem estudo e sem
ofício (uma profissão) não se era ninguém!
Outro ponto desta parte se refere a uma escolha que minha mãe fez dentre os cinco
filhos (eu sou o terceiro, portanto o do “meio”) para acompanhá-la nas buscas com suas
amigas por peças antigas coloniais na Região do Recôncavo. Estas (panelas de ferro,
bancos de jacarandá, consoles, cristaleiras, tacho de cobre, arca, dentre outras)
posteriormente eram restauradas para uso na decoração das casas. Fui o filho escolhido
para ir com ela nas pequenas viagens e nessas andanças eu estive em ambientes diversos
e conhecimento de mobiliário até então desconhecidos. Fui em várias fazendas do
sistema escravista e com a estrutura espacial colonail ainda mantida (casa grande,
senzalas, área de plantio, etc.), além de ouvir as histórias das peças (o tipo da madeira, o
artesão que fez, o estilo, etc). Estas experiências, deu uma dimensão da arquitetura, da
tecnologia e do mobiliário colonial que era conduzido – operacionalizado pelos povos
africanos e seus descendentes. Ao longo dos estudos do Projeto GEOAFRO vou
perceber claramente o quanto estas referências e “conhecimentos guardados” me eram
preciosos para integrar numa Geografia de mariz africana que não estava nos
compêndios e nem no sistema de ensino oficial e muito menos no processo de

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planejamento e intervenção no território, assim como na academia.Estas matrizes


vividas e vivênciadas somente vão ser acordadas ao longo do curso de Geografia na
UFBa. (final dos anos 70 e início dos anos 80) e nos estudos do Projeto GEOAFRO
(meados da década dos anos 80).A seguir outros pontos que merecem registro.

Mapa 01

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Foto 01: Fonte: Acervo Família Dos Anjos. Registro da Diretoria da Sociedade Protetora dos
Desvalidos 1930. Salvador – Bahia

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Foto 02: Fonte: Acervo Família Dos ANJOS. Sr Chico, sua Esposa Viscência, sua mãe e o filho
Fernando. Salvador, Bahia, Anos 30 do Século XX

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Foto 03

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Foto 4: Vista aérea panorâmica do centro de Salvador. Acervo Bahiatursa. 1985

4. O meu 2º. Grau foi um curso técncio em “Desenho” realizado na cidade de


Salvador no Colégio Central (colégio público de referência na Capital). As
disciplinas de Desenho Topográfico e Arquitetônico vão me chamar mais
atenção e eu sabia que aí eu resolveria um destino! A escolha pela Geografia
surge nesse movimento da Cartografia que passei a aprender a partir do Curso
Técnco. O meu Tio Antônio (Eng. Civil, irmão de meu pai, foi fundamental
nesse processo nas conversas objetivas do que eu podia realizar com esses
conhecimentos);
5. Na UFBa. (ingressei em 1978) e já fui convidado pelos colegas mais antigos a ir
para o 3º. Encontro Nacional de Geógrafos realizado em Fortaleza de 19 a 27 de
julho de 1978. Sabia que algo importante estava se discutindo naquele evento
mas não tinha dimensão do que se tratava. No ano seguinte fui para o 1º.
Encontro Nacional de Estudantes de Geografia em Goiânia (18 a 22 de
dezembro de 1979). Estes dois eventos foram estruturais para o entendimento da
importância da AGB e de uma “Geografia” que não era a ensinada somente na
universidade. Nessa inquietação surge o TG (Grupo de Trabalho em Geografia)

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formado por alguns colegas com os mesmos questionamentos, sobretudo


referente a “Geografia Invisível da cidade de Salvador” que nos aparecia de
forma bem visível, mas não aceita. A Foto 05 mostra uma imagem aérea de
Alagados na Cidade Baixa em Salvador com sua tiplogia de materiais
aproveitados e um sistema de circulação precário e vulnerável. Esta Geografia
Urbana de exclusão era uma das inquietações do TG.

Foto 5: vista aérea da área de alagados na cidade Baixa em Salvador. Acervo Bahiatursa, 1980

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Mapa 02

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2. OS ANOS 1980: A FORMAÇÃO BÁSICA NA UFBa., OS


TRABALHOS, OS PROJETOS E A OPÇÃO PELA ACADEMIA

Como na Parte 1, a seguir estão as referências e os eventos significativos da minha


trajetória geográfica e suas significações no tempo-espaço. Nesta Partedestacamos o
seguinte:
1. O Diagrama da Etapa I retrata de forma esquemática os movimentos em torno
do Curso de Geografia realizado na Instituto de Geociências da UFBa. (1978-
1982), onde alguns aspectos já foram tratados no item anterior, mas outros
também relevantes merecem referência. Por exemplo: Os estágios técnicos na
CONDER (Companhia de Desenvolvimento da Região Metropolitana de
Salvador) onde participei da montagem do Sistema de Informações Geográficas-
Cartográficas Metropolitana usando fotografias aéreas coloridas para geração
dos dados necessários para a construção dos mapas temáticos. Estas experiências
me deram uma amplitude da segregação sócio-espacial e da “Salvador Africana”
que não tinha tido ainda a dimensão da sua extensão geográfica. O outro estágio
marcante é na Prefeitura de Salvador no Projeto Mamba (Mapeamento dos Sítios
e Monumentos Negros na Cidade de Salvador) onde eu fui designado para
realizar a cartografia propriamente dita dos dados sistematizados dos terreiros de
matriz africana na cidade e realizar o cadastro de alguns sítios que
posteriormente redundariam em áreas tombadas pelo IPHAN como: o Terreiro
da Casa Branca e o Parque de São Bartolomeu (Subúrbio de Salvador). Ver em
anexo uma cartografia moderna do terreiro da Casa Branca na Av. Vasco da
Gama em Salvador;
2. O Trabalho Final na Cidade de Barreiras (mapeamento dos tipos de usos
urbanos) e a constatação do potencial de mudança com a chegada da
agroindústria (soja) foi um marco nas evidências de estudos geográficos
aplicáveis. Sem utilizar produtos de Sensoriamento Remoto, mas apenas
trabalho de campo, a cartografia do território urbano utilizado foi o principal
produto do estudo. Logo após a Formatura (Bacharel em Geografia) sou
contratado para a Consultoria Técnica da elaboração do Mapa Termoelétrico da
Bahia a ser elaborado pela concessionária (Coelba);

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3. O convite para assumir um cargo de Geógrafo em Projeto do CNDU com


recursos do Banco Mundial em Juazeiro – Bahia (Projeto Especial Cidades de
Porte Médio), provoca a minha mudança da cidade de Salvador. Este trabalho
me trouxe maturidade profissional na medida em que tive de coordenar equipes
de campo e sistematizar base informacional de amplo uso na Prefeitura de
Juazeiro. Esta experiência foi ampliada com as aulas que passei a ministrar no
Curso Noturno de de Formação de Professores de Petrolina. Descobri uma
vocação que não tinha experimentado ainda de ser professor de Geografia. Junto
com a satisfação veio a contestação também da necessidade de estudar mais!
Solicitei umas férias e fui a São Paulo para um curso no INPE (São José dos
Campos) e uma vista a amigos em Rio Claro, onde me inscrevi num Curso de
Especialização em Sensoriamento Remoto. Tinha claro comigo que queria
estudar mais o uso e aplicação das imagens de satélite para ler-interpretar melhor
o território e portanto, a representação cartográfica estar mais próxima do mundo
real. Este era o fio condutor da decisão que iria tomar em seguida de pedir as
contas na Prefeitura de Juazeiro para ir fazer a Pós-Graduação Lato Sensu na
UNESP. Esta experiência me fortaleceu o caminho da instrumentação geográfica
e também uma investida na educação com uma especialização;
4. O Diagrama da Etapa II (páginas 2 - 2 ) mostra na sua primeira parte o retorno
para Salvador com atuação em trabalhos técnicos (Revisão do Plano Diretor do
Polo Petroquímico de Camaçari); em educação com aulas no Depto. de
Geografia da Universidade Católica de Salvador e junto ao Centro de Estudos
Afro-Orientais da UFBa. (CEAO) ministrando disciplina como Geógrafo Jorge
Conceição no Curso de Especialização “Introdução aos Estudos das Culturas
Africanas” em parceria com a Prefeitura Municipal de Salvador. Esta
experiência me conduz a elaborar um Projeto ligando a África-Brasil-Educação-
Geografia-Cartografia e faço uma solicitação de apoio ao CNPQ;

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Diagrama 01

Mapa 03

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5. No fim dos anos 1980 recebo um convite para montar um Laboratório de


Cartografia na Universidade de Brasília pelo colega geógrafo e amigo Neio
Campos que estava em Brasília fazendo Mestrado. Resolvi fazer a seleção em
Planejamento Urbano (FAU-UnB) e em paralelo implementar o Laboratório
solicitado pela Profa. Ignez Barbosa (Chefe do Depto.). Deu certo o projeto do
Mestrado, assim como o de Prof. Visitante em paralelo com as atividades de
montagem do Lab. de Cartografia e Fotointerpretação. Verifiquei uma condição
de trabalho e oportunidades que não tinha encontrado ainda e nesse contexto
surgiu um concurso público na área de Cartografia e Fotointerpretação. Resolvi
fazer o concurso e a perspectiva temporária que ainda eu tinha de ficar em
Brasília foi alterada com esta ação;
No item a seguir trato da minha formação na Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) e
os distintos projetos desenvolvidos.

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Mapa 04

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3. OS ANOS 1990-2000: O MESTRADO NA FAU, O


DOUTORAMENTO NA POLIUSP-IRD, A EXPANSÃO DO
PROJETO GEOAFRO, AS PUBLICAÇÕES E O PÓS-
DOUTORAMENTO (MRAC-BE)

1. Na UnB tive que equilibrar as atividades paralelas (disciplinas e pesquisa


Mestrado, aulas das Disciplinas Instrumentais como Prof. Visitante e
montagem do Laboratório de Cartografia e Fotointerpretação planejado).
Neste sentido, busquei relacionar o conteúdo e práticas das disciplinas com a
pesquisa em realização da Pós-Graduação (monitoramento do crescimento
urbano com recursos de Sensoriamento Remoto). O meu orientador foi o Prof.
Aldo Paviani que me trouxe mais conteúdo da Geografia Urbana particular do
DF e nas análises dos produtos cartográficos. Um dos avanços foi a
constatação que o monitoramento espacial possibilita a leitura de tendências
de crescimento que poderão se consolidar ou não. Trabalhei nesta direção e a
Dissertação de Mestrado já incorporou a configuração dos Vetores de
Expansão da Grande Brasília;

2. Paralelo a todas estas atividades tive o Auxílio solicitado ao CNPQ para o


Projeto GEOAFRO (Retratos da África) aprovado e com isso tive recursos
para aprofundar e elaborar produtos do estudo. O auxílio concedido
possibilitou aprofundar o conhecimento da cartografia Temática básica do
continente africano e a constatação da inexistência de uma abordagem
condizente nos livros didáticos em uso nos distintos níveis educacionais. Esta
constatação do processo de trabalho deu impulso ao comprometimento
educacional que passaria a ser crescente no referido Projeto. Os resultados
culminaram em uma exposição na Biblioteca Central da UnB e o artigo de
capa da Revista Humanidade No. 22 (Editora UnB);

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Diagrama 02

Foto 06: Vista aérea panorâmica do centro do Plano Piloto de Brasilia. Registro de helicóptero por
Rafael Sanzio, 1992.

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3. Em 1992 faço a seleção e passo para o Doutorado em Informações Espaciais


no Depto. de Enga. de Transportes da POLIUSP. Algumas experiências
relevantes nesse período: A. Ser orientado inicialmente por um Prof.
Empresário dono de uma empresa de consultoria técnica me deu uma
dimensão dos diálogos necessários entre a academia e o setor privado. Mas a
pesquisa tomou força quando o Co-orientador (Prof. Jorge Dantas FAU-USP)
passou a ser o orientador oficial; B. O Lab. de Geoprocessamento do
Programa Pós da POLIUSP recebia sistemáticas demandas e algumas delas de
cunho bem geográfico foram relevantes como a solicitação da Prefeita Luiza
Erundina para a criação de um Sistema de Informações Automatizado que
mostrasse o nível de infraestrutura da periferia de São Paulo, para onde estava
direcionada a sua gestão. O período de estadia em São Paulo foram durante os
anos 1992 e 1993. Em 1994 fui para Paris e Montpellier para complementação
da pesquisa e fazer parte do Grupo de Pesquisa do IRD (antiga Orstom) e
Maison da laGeographie (Montpellier);

4. A tese que modelou a estrutura urbana da grande Brasília para o ano 2000 foi
muito bem aceita por vários setores e com várias formas de produtos (jornal,
livro, exposição, consultoria técnica, etc). A vivência na França me revelou
uma africanidade dos espaços e da sua população que me era desconhecida até
então. Os séculos de dominação colonial e imperial evidenciava já um certo
“retorno” na grande metrópole francesa e no interior. Esta visão me trouxe
uma necessidade de alargar o Projeto GEOAFRO incorporando uma linha de
pesquisa mais consistente na Cartografia da Diáspora Africana no Globo
(passado e presente) e outra no mapeamento dos registros dos territórios dos
antigos quilombos existentes no Brasil;

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Mapa 05

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5. A Linha de Pesquisa da Cartografia dos Quilombos Contemporâneos do Brasil


resultou numa parceria com a Fundação Cultural Palmares – Ministério da
Cultura no fornecimento de informações e elaboração de mapas temáticos para
subsidiar ações governamentais (reconhecimento e titulação de territórios).
Deste processo de trabalho foram organizadas duas publicações: o livro –
Territórios dos Antigos Quilombos do Brasil e o material didático – Coleção
África-Brasil: Cartografia para o Ensino-Aprendizagem (2000) que fizeram
parte de exposições no Salão Negro do Ministério da Justiça e da Câmara dos
Deputados em Brasília. Vários artigos e capítulos de livros foram escritos e
publicados de diversos temas do Projeto GEOAFRO.
6. Em 2005 uma oficina temática para professores organizada pela SECAD –
MEC foi ministrada em sete capitais do Brasil (Salvador, Maceió, Brasília,
Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre) e em paralelo com
esta atividade foi realizado uma exposição temática nos Conjuntos Culturais
da Caixa Econômica Federal. O Ministro Gilberto Gil nos fez um convite para
levar a exposição ao Ano do Brasil na França. Realizamos a mostra em
outubro/2005 na Maison duBresil da CitéUniversitaire em Paris. Este
alargamento do Projeto GEOAFRO e seus produtos fortalecem as pesquisas,
adquirem mais respeitabilidade na academia e no setor decisório, assim como
junto a mídia;

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Foto 7: O geog. Rafael Sanzio com o ministro Gilberto Gil na abertura da exposição “cartografia
dos quilombos contemporâneos” na câmara dos deputados. Brasília, 2003

Foto 8: Registro de dinâmica de trabalho da oficina temática: Quilombos – Heranças Geográficas.


Rafael Sanzio, recife, 2005

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7. O Projeto do Crescimento Urbano de Brasília passa a ser denominado


“Dinâmica Territorial no Brasil Central” no sentido de alargar a região de
pesquisa e os tipos de estudos direcionando-se para uso do território –
território usado. Alguns capítulos de livros são publicados em obras
organizadas pelo Prof. Aldo Paviani (Coleção Brasília – Editora UnB), assim
como a edição e publicação de um material didático (Geografia do Distrito
Federal – Cartografia para Educação), assim como exposições temáticas e o
livro Dinâmica Territorial: Cartografia - Monitoramento - Modelagem (2008);

Foto 9: Registro da exposição Brasília: Tempo – Espaço – Território no Teatro Nacional de


Brasília. Rafael Sanzio, 2007

8. Dois Projetos em parceria como CIGA são relevantes neste período que reque
uma grande capacidade organizacional: o Mapeamento do Uso da Terra da
Região Sul da Bahia para a Empresa TCBR. Uma equipe de estudantes é
alocada para este trabalho e cumprimos os prazos sem comprometimento das
agendas acadêmicas. Outra atividade foi a parceria com a FUNAI na
elaboração da cartografia do Atlas bilíngue da Grande Área Kaiapó (Mato

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Grosso – Pará). O produto foi elaborado nas línguas tradicionais e português


do Brasil, assim como as cartografias produzidas-desenhadas pelos povos da
grande área e a oficial. Uma outra parceria importante foi a elaboração da
pesquisa, do livro e da exposição “Quilombolas - Tradições e Cultura da
Resistencia” desenvolvida pela AORI Comunicações com Pesquisa de minha
autoria e Fotografias de Andre Cypriano;
9. Em 2006 fiz uma visita técnica ao Museu Real da África Central na localidade
de Tervuren na periferia de Bruxelas. O Projeto do Pós-Doutorado foi
apresentado ao CNPQ e em agosto de 2007 fiz a mudança para desenvolver a
pesquisa de elaboração do Atlas Afrobrasileiro. Os estudos programados para
um ano se estenderam e tiveram o apoio institucional do MRAC por mais
alguns meses (final de 2008) e suporte para um trabalho de campo na
República Democrática do Congo e em Angola. Os resultados do processo de
trabalho foram muito além dos programado e pelo menos cinco publicações
foram planejadas das pesquisas realizadas no Pós-doutoramento. Foi
publicado a primeira obra em 2009 o livro: Quilombos: Geografia Africana –
Cartografia Étnica – Territórios Tradicionais (parceria do CIGA-UnB/Mapas
Editora & Consultoria/CESPE-UnB);
10. O retorno do Pós-Doutoramento ao Departamento de Geografia ocorre em um
momento de uma solicitação relevante do Colegiado: me atribuem a
operacionalização como novo Coordenador do Programa de Pós-Graduação de
rever o curso de Mestrado e implementar o novo curso de Doutorado. Paralelo
a operacionalização do Doutorado foi criado e equipado o Centro de
Documentação Milton Santos, instituído no regimento do PPGGEA-UnB
constituído pelos seguintes componentes: sala de alunos com equipamentos;
sala de aula para 25 alunos; acervo das teses, dissertações e monografias de
graduação do GEA-UnB; Mapoteca e Acervo de periódicos. Todos estes
componentes em um único espaço e funcionando bem! O Curso de Doutorado
foi aprovado pela Capes em 2012 e alguns alunos já defenderam as suas teses.
As outras obras programadas e publicadas estão tratadas no item a seguir.

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.
Foto 10: Registro da palestra proferida na embaixada do Brasil em kinshasa – rdc. Visita técnica
do pós-doutoramento, 2008

Mapa 07: Detalhe de cartografia antiga da região da costa da Guiné. Arquivo público de Angola.
s/d

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Foto 11: Detalhe de livro de registro de seres humanos africanos escravizados. Arquivo público de
Angola. Séulo xviii

Foto 12: Anônima: grupo de trabalhadores Bantus da região de Angola. Século xix. Coleção
arquivo hist´co de Angola.

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Mapa 08: carta: Detalhe de cartografia da costa dos antigos reinos de Baza Congo (São Salvdor) e
Angola (Ngola). Acervo arquivo público de Angola. S/d

Foto 13: Anônima: grupo de homens Bantus na região do baixo congo. Início do século xx. Coleção
mrac-

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4. OS ANOS 2010. AS PUBLICAÇÕES DE CONSOLIDAÇÃO DO PROJETO


GEOAFRO, O FORTALECIMENTO DO GRUPO DE PESQUISA, DO PPPGEA
E DO CIGA-UNB

1. Esta década se inicia no movimento das ações dos anos anteriores. Exposições
temáticas tendo como base de pesquisa o livro Quilombos: Geografia Africana –
Cartografia Étnica – Territórios Tradicionais (capa dura e brochura, 2009) são
realizadas em Luanda – Angola a convite da Embaixada do Brasil e em Brasília
no Museu da República com apoio do Setor Cultural da Petrobras. Ambos os
eventos alcançam o público desejado de professores e estudantes dos diferentes
níveis de ensino em visitações monitoradas por estudantes treinados para os
atendimentos;
2. Em 2011 é publicado o segundo livro oriundo das pesquisas do Pós-Doutorado:
Territorialidade Quilombola: Fotos & Mapas (português e inglês) e o mesmo
tem o seu lançamento e divulgação comprometida por uma inundação que
ocorre na UnB onde parte das publicações que tinham sido entregues dias antes
ficou comprometida. Este fato ambiental mostrou a fragilidade dos espaços do
sub-solo da UnB, do acervo do Depto. de Geografia e da integridade física dos
seus professores e funcionários. Neste desastre o Centro de Documentação
Geográfica Milton Santos também foi destruído;
3. Em 2013 é publicado o material didático cartográfico: Geopolítica da Diáspora
África-América –Brasil: Séculos XVI-XIX. A segunda edição foi publicada em
2014 junto com mais duas outras obras: o Atlas Geográfico ÁFRICABRASIL e
o Material Didático: O Brasil Africano: Cartografia para Educação (Mapas
Editora & Consultoria, 2014). Com isso já são cinco publicações oriundas das
pesquisas aperfeiçoadas durante o pós-doutoramento.

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Foto 14: Abertura exposição Brasil Africano em Luanda – Angola. Novembro 2009, Rafael Sanzio

Foto 15: Visitação de alunos de ensino médio na exposição Brasil africano em Luanda – Angola.
Maria Paula

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Foto 16: Visitação de alunos de ensino fundamental na Exposição Brasil Africano no Museu
Nacional em Brasília. 2010. Geog. Rafael Sanzio

Foto 17: Visitação de alunos de ensino fundamental na exposição Brasil Africano no Museu
Nacional em Brasília. 2010. Geog. Rafael Sanzio

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Diagrama 04

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5. AS PESQUISAS BÁSICAS, OS PROJETOS ESTRUTURAIS, OS


CONCEITOS E OS RESULTADOS: UM BREVE BALANÇO

1. A DINÂMICA TERRITORIAL URBANA DA GRANDE BRASÍLIA, O


AMBIENTE VULNERÁVEL E AS TENDÊNCIAS ESPACIAIS

Mapa 10

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A terra, o território e a territorialidade assumem grande importância dentro da


temática das mudanças e alterações nos espaços nacional, regional e local.
Preconizamos que é possível representar e interpretar graficamente as espacialidades
configuradas ao longo do tempo e apontar as suas tendências e restrições físico-
ambientais. Preconizamos que a geografia é a ciência da dinâmica do território e este,
componente fundamental num sentido amplo, continua sendo o melhor instrumento de
observação do que aconteceu, porque apresenta as marcas da historicidade espacial do
que está acontecendo, isto é, tem registrado os agentes que atuam na configuração
geográfica atual e o que pode acontecer, ou seja, é possível capturar as linhas de forças
do movimento espacial e apontar as possibilidades da estrutura do espaço no futuro
próximo.

Por outro lado, as demandas para a compreensão e resolução das complexas


questões da dinâmica da sociedade são crescentes e a cartografia constitui um dos
instrumentos melhor colocado para responder e informar com maior seriedade o que
aconteceu, o que está acontecendo e o que pode acontecer com o território. Nesse
sentido, as representações do processo de monitoramento do território, os produtos de
sensoriamento remoto de última geração (imagens de satélite, principalmente), assim
como as modelagens gráficas do território (cartografia de síntese), constituem um
conjunto de ferramentas geográficas fundamentais para investigações dessa natureza.
Estas possibilitam revelar graficamente o que acontece na dinâmica do espaço e tornam-
se cada vez mais imprescindíveis por constituírem, sobretudo, uma ponte entre os níveis
de observação da realidade e a simplificação, a redução, a explicação e de pistas para a
tomada de decisões e soluções dos problemas (ANJOS, 1992). Buscamos tratar o
espaço urbano numa perspectiva dinâmica, onde tomamos como referência o
crescimento da cidade, um dos componentes básicos da urbanização. É um processo
espacial com dimensão temporal, onde a compreensão da atualidade integra as
mudanças do passado e o potencial de variações para o futuro próximo.

Dessa maneira, entendemos a dinâmica territorial como um conjunto de eventos


interconectados e estabelecidos, onde as suas interações refletem a estrutura da
realidade. Ainda que a expansão das periferias urbanas seja, num nível geral, uma
característica comum à maioria das cidades brasileiras, e que possa ser explicada, ela
não forma um todo homogêneo. Neste sentido, o processo de expansão que se opera e a
configuração espacial resultante da mancha urbana assumem características locais, com

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especificidades próprias, e que tornam o seu entendimento uma tarefa mais complexa.
Entretanto, tomamos como premissa que os problemas enfrentados pelas cidades têm
solução, que existem alternativas para o desenvolvimento e a qualidade de vida, que é
possível direcionar o crescimento urbano e que os instrumentos de investigação e
dispositivos para controlar tendências não-desejadas existem.

Em função das várias interpretações que os termos crescimento urbano,


monitoramento territorial e estrutura espacial suscitam, consideramos fundamental
expressar o nosso entendimento. Inicialmente, é importante frisar que entendemos a
expansão física da cidade como um dos componentes básicos da urbanização, como um
espaço social e humano. Temos levado em consideração, também, que o modelo
rodoviário urbano é um dos principais fatores básicos do crescimento dispersivo e da
pulverização da cidade. Assim sendo, adotamos sistematicamente o crescimento da
cidade na dimensão horizontal do seu espaço como um processo que é percebido
espacialmente, dinâmico, que tem extensão territorial e que resulta em configurações.
Utilizamos também, sobretudo na documentação cartográfica, as expressões superfície
urbana e mancha urbana para traduzir a área urbanizada no território. Uma mancha é
entendida como uma porção delimitada do território que difere do ambiente que a
circunda(ANJOS, 2008). Tomamos como premissa que o monitoramento espacial
permite rever a história de determinados fatos geográficos, possibilitando a
reinterpretação de processos ocorridos, fornecendo elementos para percepção do que
acontece na atualidade, assim como propicia a verificação das suas tendências espaciais.
A monitoração espacial permite caracterizar as duas dimensões essenciais da
informação geográfica, ou seja, o lugar onde ela se localiza e o momento em que se
realiza.Sendo os mapas uma representação gráfica seletiva do mundo real com
mensagens cartográficas qualitativas e/ou quantitativas, os registros das variações no
tempo e no espaço de determinadas entidades continuam sendo um dos segmentos de
maior relevância e atraentes nas discussões de Cartografia Temática.

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FIG. 02

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FIG. 03

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A complexidade conceitual presente nesse segmento da ciência cartográfica, em


função das suas múltiplas abordagens, tem nas representações dinâmicas uma das suas
preocupações fundamentais. Isso porque os entes espaciais com seus respectivos
atributos mudam de posição, assim como ocorrem também mudanças das suas
fisionomias no território, e estas são questões de representação gráfica ainda em
discussão e em aperfeiçoamento.

As soluções mais usuais adotadas para os mapas dinâmicos podem ser


caracterizadas a partir de dois princípios básicos: primeiro, tratando a informação
espacial num contexto evolutivo (séries temporais ou intervalos de tempo, por
exemplo), constituído por um processo que resulta em vários mapas temáticos
mostrando as mudanças operantes nas suas aparências; a outra maneira para resolver as
representações cartográficas dinâmicas é ser apresentado em um único mapa as
mudanças operadas (posição e fisionomia) em uma entidade espacial classificada.
Adotamos o primeiro procedimento, dentre as soluções mais utilizadas, para mapas com
representações dinâmicas. O desenvolvimento de um monitoramento territorial é uma
das principais abordagens para as representações dinâmicas, isto porque, a historicidade
espacial possibilita uma leitura eficaz dos movimentos ocorridos e as suas direções
(ANJOS, 1991).

Ao tratarmos da sistematização do processo de evolução do espaço urbano como


uma possibilidade de representar simplificadamente aspectos da dinâmica no território,
estamos admitindo a existência de uma situação urbana possível de ser tratada neste
processo de captura da realidade. O processo de monitoramento do crescimento urbano
do Distrito Federal (DF), nosso espaço de interpretação e representação, são
apresentados na sequência com alguns outros produtos espaciais derivados do processo
de trabalho, tais como áreas restritivas para urbanização, espaços impermeabilizados e
vetores de expansão urbana.

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FIG. 04

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FIG. 05

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Constata-se uma tendência à estabilização do crescimento urbano horizontal do DF, seja


nos registros espaciais, como nos dados quantitativos. Podemos dizer em outras
palavras, que a velocidade da expansão do conjunto urbano de Brasília deve continuar
num ritmo mais lento que os verificados anteriormente. Com esta perspectiva se
configura uma nova territorialidade para o Distrito Federal urbano, onde se fará
necessário a criação de uma estrutura ampla de planejamento e gestão, que não implique
no enfraquecimento do papel do setor decisório, mas lhe atribua feições diferentes,
como uma atuação mais descentralizada, mais representativa e mais atuante. O
entendimento holístico para a criação das alternativas de ocupação territorial, que
reoriente as tendências atuais não desejadas a fim de não comprometer mais
desenvolvimento e a qualidade de vida da população, passa, nesse momento, por uma
retomada das reflexões sobre os novos elementos espaciais atuantes na trama urbana
desse território, partindo de pressupostos realistas, tanto do ponto de vista do processo
de produção do conjunto urbano, com suas especificidades, quanto dos seus próprios
limites.A falta de um permanente processo de avaliação pelo setor decisório sobre o
crescimento do conjunto urbano de Brasília é uma lacuna histórica a ser corrigida para
uma gestão com melhor apreensão da dinâmica espacial. Neste sentido, o fluxo de
informação entre as Estatais, tendo um centro de planejamento territorial com a
identificação mais nítida das suas competências e cumprindo o papel de gerenciador dos
fluxos de dados, é uma lacuna institucional estruturalno espaço do DF e da RIDE.

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Foto 18: Vista panorâmica da região de Taguatinga, Águas Claras e Vicente Pires revelando a
diversidade de tipologia e densidade espacial. Guilgermino Rocha, 2012

Foto 19

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Mapa 10 e 11

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GOUVÊA, L.A. Brasília: controvérsias ambientais. Brasília: Editora Universidade de
Brasília, 2003, p. 199-215.

______________ Expansão urbana no Distrito Federal e Entorno Imediato (1964-


1990): Monitoramento por meio de dados de sensoriamento remoto. Brasília, 1991. 136
f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo)- Instituto de Arquitetura e
Urbanismo, Universidade de Brasília.

______________ Modelagem dos processos formadores da dinâmica espacial urbana


no Distrito Federal do Brasil, São Paulo, 1995. 220 f. Tese (Doutorado em Informações
Espaciais) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo.

______________ Projeto Geografia do Distrito Federal: cartografia para o


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de Geografia-IH/Depto. de Urbanismo – IA: Brasília, 1992. 16p. (Mimeografado).

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51 Memorial Prof. titular Rafael Sanzio Araújo dos anjos. CIGA-GEA-IH-UnB 2016

2. O PROJETO GEOAFRO, A GEOGRAFIA DE ESTADO E A


DESORGANIZAÇÃO DAS AÇÕES PARA O TERRITÓRIO BRASILEIRO

Inicialmente lembrarnos, mais uma vez, que as demandas para compreensão das
complexidades da dinâmica da nossa sociedade são grandes e existem poucas
disciplinas melhores colocadas do que a Geografia e a Cartografia para auxiliar na
representação e interpretação das inúmeras indagações desse momento histórico. A
Geografia, sem desprezar os seus outros elementos fundamentais, podemos sintetizar
como a ciência do território e este componente fundamental, a terra, o terreiro num
sentido amplo, continua sendo o melhor instrumento de observação do que aconteceu,
porque apresenta as marcas da historicidade espacial; do que está acontecendo, isto é,
tem registrado os agentes que atuam na configuração geográfica atual e o que pode
acontecer, ou seja, é possível capturar as linhas de forças da dinâmica territorial e
apontar as possibilidades da estrutura do espaço no futuro próximo. O território é na sua
essência um fato físico, político, social, categorizável, possível de dimensionamento,
onde geralmente, o Estado está presente e estão gravadas as referências culturais e
identitárias da população (ANJOS, 2009).

Tento não perder de vista que a Geografia é a área do conhecimento que tem o
compromisso de tornar o mundo e suas dinâmicas compreensíveis para a sociedade, de
dar explicações para as transformações territoriais e de apontar soluções para uma
melhor organização do espaço. Por isso ela é uma disciplina fundamental na formação
da cidadania do povo brasileiro, que apresenta uma heterogeneidade singular na sua
composição étnica, socioeconômica e na distribuição espacial. Se olharmos a realidade
da educação geográfica básica da população do Brasil, onde a alfabetização cartográfica
deveria acontecer e fortalecer decisivamente a nossa cidadania constamos que a maioria
do nosso povo não sabe ler-entender um mapa, ferramenta fundamental para a “cultura
de espaço” e esta falha básica da nossa cidadania tem trazido danos seculares na
apropriação eficaz das referências territoriais nas distintas escalas de percepção
espacial. Num país continental de mentalidade ainda colonial onde o conceito de ter
terra significa poder, a precariedade da educação geográfica- cartográfica tem sido uma
estratégia geopolítica eficaz para a manutenção da “Geografia da exclusão e da
ignorância espacial”.

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A maneira como olhamos, representamos e situamos a África na Geografia


praticada é um exemplo desta precariedade. Este é ocontinente mais importante no
suporte e na manutenção da estruturação do mundo nos últimos cinco séculos,
particularmente na formação do Novo Mundo, da América e no enriquecimento e
fortalecimento da Europa moderna. O Brasil, por sua vez, mesmo se fazendo
desconhecer, apresenta um posição particular neste contexto global por ser a unidade
política contemporânea que registra na sua hitoriografia as maiores estatísticas de
importação forçada de distintos contingentes populacionais africanos ao longo dos
séculos XVI a XIX. Por isso, o Brasil continental, plurirracial, multicultural e com uma
historicidade em processo de reconstrução e uma diversidade étnica-cultural com
conflitos tem ainda o desafio de assumir decisivamente a nação multiétnica resultante
destes séculos de “conivência com ruídos” com a África.

Estes são pontos estruturais que preconizam a busca de equilíbrio social e


territorial e, sobretudo um tratamento ético e alteação no paradigma político. Neste
sentido, não se esgotaram ainda as interpretações dos deslocamentos das suas
populações nos primórdios da suas formações e os resutados destes processos no espaço
geográfico, ou seja, a busca de um melhor entendimento e representação das dinâmicas
da diáspora (do passado e no presente) e, uma melhor configuração das identidades
territorializadas resistentes-sobreviventes, mesmo com as ações contrarias de
invisibilidade pelo setor decisório.

A Geografia de Matriz Africana que tratamos nestes anos de estudo continua


sendo fruto de uma inquietação de um “Brasil invisível” secularmente, ou seja, povos e
territórios que existiram e se mantém sobreviventes, mas de uma maneira marginal, não
oficial na sua plenitude. Esta “Geografia da exclusão” justificada é o que questionamos
aqui e propomos outras leituras e representações do espaço geográfico, onde a
complexidade conflitante da África exitente-resistente no Brasil seja considerada
devidamente.

As estatísticas apontam o Brasil como a segunda maior nação do planeta com


população de ascendência na África e, é com relação a esse povo que são computadas as
estatísticas mais discriminatórias e de depreciação socioeconômica ao longo do século
XX e XXI. Nos piores lugares da sociedade e do território, com algumas exceções,
estão as populações afrobrasileiras. Não é possível mais esconder que temos diferenças

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sociais, econômicas, territoriais seculares e estruturais, para as quais os ”remédios”


ainda estão chegando e os assuntos são empurrados para um outro dia, para a próxima
semana, no mês que vem, no próximo ano, que nunca chega. E os séculos estão
passando!

A manutenção do quadro de desinformação da população brasileira no que se


refere ao continente africano continua sendo um entrave estrutural para uma perspectiva
real de democracia racial no país. Não podemos perder de vista que entre os principais
obstáculos criados pelo sistema a inserção da população de matriz africana na sociedade
brasileira, está a inferiorização desta no ensino e a educação geográfica-cartográfica
afrobrasileira é um dos pilares que precisa de outra perspectiva no processo
educacional.

Outro ponto estrutural, ainda dirigido ao setor decisório da gestão da informação


geográfica oficial do país, se refere à criação das condições necessárias para a realização
de um censo demográfico mais realista e que retrate melhor a diversidade étnica
brasileira e consequentemente, a verificação dos estereótipos sobreviventes e
resistentes. Este tema é complexo, porque significa mudar os métodos de aferiçãoe, por
conseguinte, a possibilidade de registro oficial de um “Brasil Africano” até então
“invisível”.

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54 www.ciga.unb.br Anjos, R.

Foto 18: Meninas senegalezas na Disney World em Paris. ANJOS, R.S.A. , 2007

Foto 19: Matéria “Tinga, racismo e a colonialidade do poder” por Negro Belchior, 25\07\2014

Não podemos perder de vista que a questão demográfica do “Brasil africano”


continua sem uma resposta e representação adequada, isto porque os critérios de

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aferição racial oficiais levam à subestimação do número real de cidadãos de matriz


afrobrasileira que integram o país.
No primeiro censo realizado em 1872 a “cor da pele” definia lugares na sociedade
colonial-imperial, nas quais o grupo étnico e a condição social estavam
indissociavelmente ligados. Esta herança colonialista sofreu pequenos ajustes ao longo
do século XX, mas se mantém da essência. O Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) continua agrupado os indivíduos em brancos, pretos, amarelos e
pardos, considerando brancos, pretos ou amarelos os que assim se declararem e os
“outros” ficam classificados como pardos. Recentemente, esta instituição inseriu o
grupo dos “índios”.
O Gráfico 01 da evolução das populações preta e parda do Censo realizado em 1940
até o mais recente (2010) mostra algumas constatações relevantes: 1. A timidez do
crescimento da população preta, secularmente associada a um contingente escravizado e
inferior revela como o racismo e a mentalidade colonial persistem na sociedade
brasileira e, 2. O crescimento espetacular dos pardos ao longo de todoas as décadas
computadas. É um fenômeno! Por que será? Esta é uma importante questão que não é
devidamente refletida pelo nosso povo e tem passado despercebida ao longo de algumas
decadas, ou seja, a “pardarização” da população brasileira. Lembramos que associado
ao “pardo” esta a indefinição da sua identidade, do seu lugar na sociedade, da sua
referência ancestral, em síntese, da sua territorialidade.
Nos lembra o ditado popular: “de noite todos os gatos são pardos”. São milhares de
homens, mulheres, crianças e idosos que sentem internamente que não existe, ainda, um
lugar definido na estrutura social do país e o processo de “embranquecer” é uma forma
de estar inserido, participando e “visto” na sociedade. Este “engano” psicológico, pelos
dados oficiais, é ascendente, constatação esta que revela uma fragilidade e indefinição
de identidade no Brasil contemporâneo.

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56 www.ciga.unb.br Anjos, R.

Grafico 01: Fonte: ANJOS, R.S.A. Atlas Geográfico ÁFRICABRASIL, Mapas Editora &
Consultoria, Brasília, 2014

Ainda sobre a Geografia Oficial do país, se olharmos condensadamente a história da


nossa Geografia de Estado, existe uma constatação básica de que a mesma quase sempre
esteve a serviço das instituições oficiais e de poder, ou seja, a sua evolução está
marcada por uma série de ações de suporte ao Brasil Colônia, Império e República.
Preconizamos que o espaço e a sociedade que vivemos atualmente (no sentido largo) é o
resultado do que aconteceu no passado (não muito longínquo), portanto, viver sem
conhecer os processos que aconteceram é estar e caminhar num “território de risco”. O
país se constituiu com dimensões continentais, mas a mentalidade dominante ainda é a
colonial onde, por exemplo, o conceito de ter terra significa ainda poder e a
precariedade da educação geográfica-cartográfica tem sido uma estratégia geopolítica
eficaz para a manutenção da “Geografia da invisibilidade e da ignorância espacial”.

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Mapa 12: Fonte: Carte de la Terre Ferm du Perou du Bresil et du Pays des Amazones. 1703.
Acervo do Arquivo Nacional de Angola – Código: FZ MAP 376

A Geografia de Estado do Brasil vai se desenvolver sobre este contexto secular de


dominação e exploração dos territórios e dos povos subjugados e inferiorizados
(matrizes “indígenas” e africanas). O Brasil Colonial foi quem mais importou
forçosamente seres humanos africanos de distintas matrizes étnicas e o último a sair do
sistema escravista, resolvido institucionalmente com a assinatura da Lei Áurea (1888),
devido a pressões internacionais e num contexto interno de tensão entre segmentos com
interesses distintos da sociedade dominante e com desdobramentos marcantes na
sociedade e no território brasileiro.Esse fato mostra por que o Brasil vai se manter com
um pensamento social dominante racista até os dias atuais, ou seja, saiu do período
escravocrata “sem querer”, portanto com esta resistência não resolvida secularmente. A
constatação nas ações do Estado e do sistema dominante é de se configura ainda um
preconceito secular e uma mentalidade escravocrata dominante na sociedade classista e
hierarquizada e no uso do território contemporâneo.

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58 www.ciga.unb.br Anjos, R.

A ÁFRICA, A AMÉRICA, A EUROPA E O SISTEMA ESCRAVISTA

INGLATERRA
ALEMANHA

FRANÇA BÉLGICA
ESPANHA

PORTUGAL
ITÁLIA
ESTADOS UNIDOS

CUBA
MÉXICO

AMÉRICA
CENTRAL
OCEANO PACÍFICO VENEZUELA

GUIANAS
ÁFRICA
COLÔMBIA
EQUADOR
EQUADOR

LEGENDA OCEANO ATLÂNTICO


BRASIL
PAÍS DE MAIOR IMPORTAÇÃO DE ESCRAVOS
E REGISTROS DE QUILOMBOS OCEANO ÍNDICO

BOLÍVIA
PAÍS COM REGISTRO DO SISTEMA ESCRAVISTA
E DE TERRITÓRIOS DE QUILOMBOS
PARAGUAI
PAÍSES QUE CONTINUARAM ESCRAVISTAS
MESMO DEPOIS DA INDEPENDÊNCIA CHILE
(BRASIL - 66 ANOS USA - 90 ANOS)

CONTINENTE DESESTRUTURADO TERRITORIALMENTE URUGUAI


PELO TRÁFICO - CONFLITOS DE FRONTEIRAS
(ÉTNICAS - ANTIGOS REINOS - LIMITES EUROPEUS - IMPERIALISMO)
ARGENTINA
PRINCIPAIS PAÍSES ENRIQUECIDOS PELA
ECONOMIA DO TRÁFICO

ÚLTIMOS PAÍSES A SAIR DO SISTEMA ESCRAVISTA


(REGISTROS DE TRÁFICO CLANDESTINO)

Mapa 13 Fonte: ANJOS, R.S.A. Geopolítica da Diáspora África-América-Brasil. Séculos XV-XVI-


XIX: Cartografia para Educação. Mapas Editora & Consultoria. 2ª. Edição, 2014

Ao observarmos as regiões de produção colonial – imperial e a distribuição


demográfica atual do Brasil (Censo 2010-IBGE), a constatação espacial mais evidente é
que o “espalhamento” da nossa população se processa ainda nos mesmos espaços
coloniais, ou seja, os outros territórios continuam sob o controle ou a serem controlados
pelos seguimentos dominantes e o setor decisório (o Estado) não consegue alterar esta
Geografia Colonial ainda persistente. Esta realidade geográfica evidencia o quanto
(conscientes ou inconcientes) trabalhamos para a manutenção de uma estrutura espacial
conservadora cujas formas de espalhamento dos usos do território se dão de forma
conflitante nas suas fronteiras e nos grupos socioeconômicos envolvidos e com lugares
bem demarcados no sistema vigente, mesmo com as contradições na fragmentação do
espaço.

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Mapas 14 e 15: Fonte: Anjos, R.S.A. Quilombos: Geografia Africana – Cartografia Étnica –
Territórios tradicionais. MapasEditora & Consultoria, 2009 \ ANJOS, R.S.A. Atlas Geográfico:
Africabrasil, Mapas Editora & Consultoria, 2014

A forma como o Estado brasileiro contemporâneo tem conduzido a política


cartográfica e geográfica no país revela uma fragmentação institucional e das ações,
costituindo um modelo de governança que fortalece os conflitos operacionais e de
atribuições, mas sobretudo causa um dano irreparável na gestão eficaz sobre o território
nacional de proporções continentais. A figura abaixo representa graficamente este
processo fragmentário na estrutura governamental. O círculo amarelo representa a
forma corriqueira como são tratadas as demandas governamentais com rebatimento
geográfico-cartográfico, ou seja, uma configuração de parcelamento, portanto dividido
entre vários órgãos cada um com uma parcela do problema (retângulos
azuis).Verificamos que esta configuração vem fortaleçendo a dispersão da gestão e a
questão básica nesse processo fragmentário é quem se responsabiliza pela demanda
central (círculo central em laranja com a interrogação). Se observarmos o lócus
principal deste modelo governamental na esfera federal, o espaço da concentração de
ministérios e do setor decisório do país, verificaremos a complexidade do fluxo de

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60 www.ciga.unb.br Anjos, R.

ações governamentais para demandas territoriais do tipo “cama de gato”, ou seja, pouco
foco no direcionamento da solução e a evidente dispersão no processo de gestão
institucional.

MODELO DISPERSIVO DA GESTÃO DE DEMANDAS


ESTRUTURAIS TERRITORIAIS-CARTOGRÁFICAS NO BRASIL

A B

C D

E F

G H

Fig. 06 Fonte: Anjos, R.S. As geografias oficial e invisível do Brasil: Algumas referências. Revista
GEOUSP. V.19 N.2 (2015)

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Fig. 07: Esplanada dos ministérios em brasília e o fluxo das ações institucionais tipo “cama de
gato”.
Fonte: ANJOS, R.S. As geografias oficial e invisível do Brasil: Algumas referências. Revista GEOUSP. V.19 N.2 (2015)

Dois exemplos com evidêcias bem explícitas desta forma de gestão


governamental, são dados a seguir.
O primeiro é referente à forma como a Cartografia Oficial está sendo gerida
atualmente no país continental, pulverizado entre quatro ministérios, com orçamento e
prioridades de ações distintas, são eles: Ministério da Defesa, operacionalizado pelo
DSG; Ministério do Planejamento, conduzido pelo IBGE; Ministério da Integração
Regional, com a atuação da Codevasf (Vale do Rio São Francisco); Ceplac (sul da
Bahia); Sudene (Região Nordeste) e Ministério do Desenvolvimento Agrário, com
ações da Embrapa (pontualmente em São Paulo).

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Mapa 21: Fonte: Anjos, R.S. As geografias oficial e invisível do Brasil: Algumas referências.
Revista GEOUSP. V.19 N.2 (2015)

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Se observarmos o mapa índice das cartas sistemáticas 1:100.000 (escala básica


do processo de planejamento onde 1 centímero no mapa corresponde a 1 quilômetro no
mundo real) do Brasil, representado no mapa-índice abaixo verificamos esta “colcha de
retalhos” que se configura na cartografia brasileira, fato que revela a grande quantidade
de espaços ainda sem mapeamentos nesta escala básica que é fundamental para iniciar
qualquer processo de conhecimento e ações sobre o território, assim como um quadro
quase que generalizado de desatualização da produção cartográfica existente (a maioria
dos mapeamentos foram realizados nas décadas de 1970 e 1980).
O outro exemplo da ineficácia na gestão das demandas territoriais pelo setor
decisório dentro da Geografia que caracterizamos aqui como “Invisível ou não Oficial”
no Brasil, destacamos o esquecimento proposital das comunidades e dos territórios
descendentes de antigos quilombos, sítio geográfico estratégico onde se agrupavam,
principalmente, povos de referência africana, mas, também, índios e europeus excluídos
da socidade, que se rebelavam contra o sistema escravista da época, formando
comunidades livres, autosustentáveis e com forte organização territorial, constitui uma
das questões emergenciais e estruturais da sociedade brasileira atual.
Mesmo passados mais 127 anos da sanção da Lei Áurea pelo regime imperial, a
história e o sistema oficial brasileiro ainda continua associando à população de matriz
africana uma imagem de “escravizados” e aos quilombos sempre como algo do passado,
como se esses não fizessem mais parte da vida contemporânea do país.
As ações do setor decisório, se mostram conflitantes e contraditórias. Apesar das
disposições constitucionais (1988) e da obrigatoriedade de alguns organismos
governamentais para tratarem e resolverem demandas das questões dos quilombos
contemporâneos, é possível constatar, de uma forma quase que estrutural, que a situação
tem apresentado um tratamento caracterizado por ações episódicas e fragmentárias
(Modelo “Cama de Gato”), fato que compromete o direcionamento de uma política
definida para o equacionamento dos seus problemas fundamentais, ou seja, o seu
reconhecimento dentro do sistema social brasileiro e a demarcação e titulação dos
territórios ocupados.
Essa problemática tem como “pano de fundo” a falta de prioridade políticos e
heranças preconceituosas sobreviventes no pensamento social dominante do Brasil
atual. Poderíamos complementar um pouco mais essa constatação apontando a
continuidade da falta de comprometimento para a formação de uma base informacional

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unificada, assim como uma cartografia oficial e as disputas e os conflitos institucionais


por espaço para a condução dessa questão, como fatores que dificultam decisivamente
as resoluções do seu problema central: a posse efetiva da terra, ou seja, a definição
oficial da fronteira afrobrasileira. A terra assegurada, que significa ainda na mentalidade
colonialista do setor decisório poder, se configura como o principal elemento de
negociação e conflito na resolução dessa pendência secular.

Grafico 02: Fonte: Anjos, R.S.A. Atlas Geográfico: Africabrasil, Mapas Editora & Consultoria,
2014 \ Foto: Rodrigo Vilela e Rafael Farias, 2006

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Foto: Rafael dos Anjos – Brasil, 20012.

Foto 21: Anjos, R.S.A., 2009

A história da Geografia de Estado no Brasil revela um gráfico com barras bem


expressivas da sua importância no período Colonial e Imperial, mas com evidente
decréscimo ao longo do século XX e uma situação de adormecimento constatada nesta
duas décadas do século XXI. Esta constação se revela evidenciada sobretudo na
banalização dos conceitos geográficos e cartográficos no universo acadêmico (território,
mapa, escala, mapeamento, espaço, cartografia, paisagem, região, dentre outras usadas
aleatóriamente por várias áreas do cohecimento) e na sociedade civil (todo celular tem
GPS, mapas variados, imagens de satélite multiescalar, dentre outras referências
geográficas-cartográficas de fácil acesso e sem contextualização). Este período de
inseguranças pode ser assumido mais devidamente pela Geografia e pela Cartografia e
serem enfrentadas nas brechas e oportunidades da atualidade. As possibilidades para o
futuro próximo que significaria sinalizarmos com ações para alterar a tendência do
Gráfico 03 não promissor, dependerá da construção coletiva da comunidade geográfica-
cartográfica.

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GRÁFICO
HISTORIOGRAFIA DA IMPORTÂNCIA DA GEOGRAFIA DE ESTADO NO BRASIL

ALTA

MÉDIA

BAIXA

SISTEMA SISTEMA
SISTEMA SISTEMA
REPUBLICANO REPUBLICANO
COLONIAL IMPERIAL
INICIAL CONTEMPORÂNEO

Grafico 03: Fonte: Anjos, R.S. As geografias oficial e invisível do Brasil: Algumas referências.
Revista GEOUSP. V.19 N.2 (2015)

Fig. 08: Esplanada dos Ministérios em Brasília e o fluxo das ações institucionais tipo “radial-
direcional”.

Fonte: ANJOS, R.S. As geografias oficial e invisível do Brasil: Algumas referências. Revista GEOUSP. V.19 N.2 (2015)

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O modelo dispersivo para resolução das demandas territoriais no país, sobretudo


as históricas, evidencia a resistência na manutenção dos valores e referências do “Brasil
Colonial”. A figura abaixo mostra uma modelagem gráfica de uma possibilidade de
fluxo e refluxo da gestão das demandas territoriais, contexto que pode trazer mais
“foco”, responsabilização e eficácia na resolução dos problemas geográficos e,
consequentemente, uma possibilidade de recuperação de relevância e da
representatividade da Geografia no Estado.

ALGUMAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ANJOS, R. S. A. “A geografia, a África e os negros brasileiros”. In: MUNANGA, K.
(org.). Superando o racismo na escola. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de
Educação Fundamental, 1999, p. 169-182.

_____________ .“Coleção África–Brasil: Cartografia para o ensino–aprendizagem”.


Brasília: Mapas Editora& Consultoria, 2ª. Edição. 2005 – BsB - DF.

ANJOS, R.S.A & CYPRIANO, A. “Quilombolas – tradições e cultura da resistência”.


Aori Comunicações. Petrobrás, 2006. São Paulo, 240 p.

ANJOS, R.S.A. Coleção África-Brasil: Cartografia para o ensino-aprendizagem.


Volume II Brasília: Mapas Editora& Consultoria, Brasília, 2007.

____________ Cartografia & Educação. Volume I Brasília: Mapas Editora&


Consultoria, Brasília, 2007.

____________ Quilombos: Geografia Africana-Cartografia Étnica-Territórios


Tradicionais. Mapas Editora& Consultoria, 190p. Brasília, 2009

____________ Territorialidade Quilombola: Fotos & Mapas / Quilombola


Territoriality: Photos&Maps. Mapas Editora & Consultoria., 124 p. Brasília,
2011

____________ Geopolítica da Diáspora África – América – Brasil. Séculos XV – XVI


– XVII – XVIII – XIX – Cartografia para Educação. Mapas Editora&
Consultoria, Brasília, 2012

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68 www.ciga.unb.br Anjos, R.

____________Relatório da atualização do cadastro dos registros municipais dos


territórios quilombolas do Brasil – 2012. Relatório Interno do Projeto
GEOAFRO. CIGA – UnB. Brasília, 2012b.

_____________ A Territorialidade dos Quilombos no Brasil Contemporâneo: Uma


Aproximação. In: SILVA, T.D. & GOES, F.L. (org.). “Igualdade Racial no
Brasil – reflexões no Ano Internacional dos Afrodescendentes”. Brasília: IPEA,
2013, p.137-152.

____________ Atlas Geográfico ÁFRICABRASIL. Mapas Editora& Consultoria,


Brasília, 104p. 2014

____________ O Brasil Africano – Algumas Referências dos Séculos XVI – XXI:


Cartografia para Educação. Mapas Editora& Consultoria, Brasília, 2014b

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Dados do Censo


2010. IBGE, Rio de Janeiro, 2011

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6. O AGORA 2015-2016: AS PESQUISAS E OS PROJETOS EM


OPERACIONALIZAÇÃO

1. A Figura da Estrutura das Referências correspondente à Etapa VI trata do


momento atual e a sua configuração espacial mostra um conjunto amplo de
atividades ligados a um núcleo central com dois módulos integrados. O processo
de trabalho e pesquisas envolvendo os Projetos GEAFRO e Dinâmica Territorial
do Brasil Central associados aos usos das ferramentas da cartografia e da
fotografia possibilitaram extensões e novas abordagens para as temáticas
geográficas contemporâneas conhecidas e outras que foram incorporadas. Os
Programas de pesquisa conhecidos como o Monitoramento do Crescimento
Urbano do DF está com uma atualização concluída para 2015, ou seja, temos a
história urbana do conjunto urbano de Brasília dos anos 1950 do século XX até
o presente momento. Esta atualização permite também inferir com maior
propriedade os vetores de expansão operantes no território. Outro seguimento é
a verificação com mais precisão dos espaços impermeabilizados (áreas que não
permitem a infiltração da água) na mancha urbana. Esta cartografia é relevante
para auxiliar na diminuição dos problemas de enchentes em pontos recorrentes e
diferenciados no conjunto urbano de Brasília. O programa da Cartografia da
Diáspora esta com uma pesquisa bem avançada da rede de cidades da Diáspora
Africana no Globo. Ainda do Projeto GEOAFRO duas publicações estão no
prelo: Geografia Afrobrasileira: referências para Educação e Cartografia da
Diáspora: Fotos & Mapas (planejamento nos suportes analógico e digital para
2016);
2. As orientações e pesquisas junto a Graduação, Mestrado e Doutorado estão bem
desenvolvidas com estudos complementares e de aprofundamento. Destaco a
Tese de Doutorado do Luiz Sanches (2014) sobre Geodireito traz elementos
muitos relevantes para o estudo sobre o Brasil desorganizado institucionalmente
(visível e invisível). Nesta verificamos como ao longo do Brasil Colônia,
Império, República a Geografia de Estado assumiu papéis e importâncias
distintas, fatos que nos possibilita entender e apontar questões estruturais da
Geografia oficial do país, que praticamente deixou de existir;

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Diagrama 06

3. Elaboração do Mapa das Rede de Vias com Concessões de Uso no Brasil


(ABCR). Esta parceria junto ao CIGA para elaboração de um mapa temático com os
registros atualizados das empresas e seus trechos de cobrança visa auxiliar no
planejamento de ações e minorar conflitos de uma cartografia desorganizada
anteriormente. O produto trouxe como contra partida um apoio com equipamentos
(drone de pequeno porte) para o desenvolvimento de pequenos projetos de
cartografia de baixo custo no CIGA;

4. Na perspectiva de um melhor funcionamento e alcance acadêmico-social do seu


acervo, desenvolvemos dois projetos em paralelo: 1º. A Biblioteca Virtual do CIGA,
cujo objetivo básico é disponibilizar o conjunto de obras analógicas com as suas
referências bibliográficas digitalizadas e que possibilitem o acesso dos estudantes do
curso de Geografia e de outras Unidades Acadêmicas da UnB. O mesmo foi
apresentado à Diretora da Biblioteca Central da UnB que apontou que o CIGA
avançou no grande projeto das Bibliotecas Setoriais da Universidade. Neste sentido
o nosso sistema já é uma referência do que é possível fazer; 2º. Trata-se do Sistema
de Informação Geográfica do CIGA, conhecido como SIGCIGA, que nada mais é

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que um SIG que contém todo o acervo da universidade (com seus patrimônios),
equipamentos e aquisições fruto das parcerias (com codificações especiais) e
referências das pessoas que trabalham nos projetos (professores, funcionários,
estudantes de Pós-Graduação, bolsistas, etc). Dessa forma, o uso dos equipamentos
fica mais responsável pela equipe na medida em que o monitoramento das
atividades ocorre de forma mais eficaz. O Reitor Ivan Marques foi convidado a
conhecer os sistemas e se interessou por ambos para aplicar em setores específicos
da UnB. O Centro de Processamento de Dados da Universidade tem se aproximado
para entender melhor o potencial do SIGCIGA para a gestão universitária. O entrave
está na disponibilização das informações para a formação da base informacional.
Entendemos que primeiro a cultura da informação guardada e sigilosa precisa mudar
em prol de uma gestão mais eficaz dos espaços, das pessoas e das demandas que
envolve espaço;

5. Estamos emprestando e doando uma parte das pesquisas do Projeto GEOAFRO


para a "Sala Diásporas" do Museu da Abolição em Recife – PE. É o único museu
federal com foco na matriz africana. A cartografia e a fotografia são os fios
condutores da comunicação de conteúdos de distintos tempos históricos e que terão
tratamentos em suportes digitais de última geração. Abaixo segue dois registros da
modelagem de como o espaço deverá ficar;

Fig 09: Registro 1- Modelagem da Sala Diáspora na reforma do Museu da Abolição. Recife – PE.

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Fig 10: Registro 2- Modelagem da Sala Diáspora na reforma do Museu da Abolição. Recife – PE.

6. Organizamos este ano um Curso de Especialização em Perícia-Auditoria


Geográfica para ser implementado no próximo ano uma vez que o contexto de greve
dos técnicos-administrativos inviabiliza a sua realização neste ano. Abaixo o release
e o folder da Pós-Graduação.

Especialização em Perícia e Auditoria Geográfica-Cartográfica:


Soluções Geoespaciais

O Centro de Cartografia Aplicada e Informação Geográfica, do


Departamento de Geografia da Universidade de Brasília (CIGA/UnB) está
com inscrições abertas em 2016 para o curso de especialização lato sensu
em Perícia e Auditoria Geográfica-Cartográfica: Soluções Geoespaciais. O
curso com 360 horas é destinado a profissionais atuantes em esferas
decisórias dos poderes municipal, estadual e federal e para estudantes e
técnicos que atuam com demandas de gestão territorial, como geógrafos,
advogados, arquitetos e urbanistas, geólogos, engenheiros civis,
agrônomos, biólogos, ecologistas, entre outros.O curso tem por objetivo

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instrumentalizar os alunos no conhecimento e na interpretação das


estruturas do espaço geográfico, as suas possibilidades de representações
cartográficas numa perspectiva multiescalar, além de identificar os marcos
jurídicos legais existentes relacionados ao território e seus usos e
possibilitar a emissão de laudos e pareceres de subsídios à gestão territorial.
Tem ainda como missão capacitar profissionais no uso das referências
geográficas e tecnologias cartográficas (automatizadas e analógicas) para a
construção de documentos técnicos que possibilitem a caracterização e
diagnóstico ambiental-espacial (auditorias geográficas) e documentação de
suporte à implementação de projetos no processo de gestão e solução
territorial (perícias geográficas). Serão oferecidas 30 vagas e as aulas serão
ministradas de quinta a sábado, em encontros com intervalos de quinze
dias.

7. Existem outros projetos menores e nem por isso menos relevantes, mas o que sinto
importante na condução de um Centro de pesquisa são os “movimentos” no sentido
largo (pessoas, espaço físico, atividades, tarefas) e isso possibilita uma “circulação” que
mantém todos sem estar numa “zona de conforto”. O inesperado é quase que uma regra
porque eu e a equipe aprendemos muito e esses contextos nos fortalecem. Fecho este
memorial com uma citação do velho mestre (na página a seguir) que muito me guiou
com seus escritos na minha trajetória!

Axé!

Revista Eletrônica: Tempo - Técnica - Território, V.7, N.1 (2016), 1:76 ISSN: 2177-4366
74 www.ciga.unb.br Anjos, R.

“A ação é sepre presente, não há ação passada, nem ação futura.


Há apenas ação presente.
E ação, de alguma forma, resulta de escolhas.”

Milton Santos, 1998

Revista Eletrônica: Tempo - Técnica - Território, V.7, N.1 (2016), 1:76 ISSN: 2177-4366
75 Memorial Prof. titular Rafael Sanzio Araújo dos anjos. CIGA-GEA-IH-UnB 2016

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