2005FLORISVALDO - Estudo Toponimico de MG - Orientado Por DICK
2005FLORISVALDO - Estudo Toponimico de MG - Orientado Por DICK
2005FLORISVALDO - Estudo Toponimico de MG - Orientado Por DICK
São Paulo
2005
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE LINGÜÍSTICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGÜÍSTICA
São Paulo
2005
AGRADECIMENTOS
A Deus pela oportunidade e pelo privilégio que nos foi dados em compartilhar
tamanha experiência e, ao freqüentar este curso, perceber e atentar para a relevância de temas
que não faziam parte em profundidade, das nossas vidas.
A minha orientadora e amiga, Profª Drª Maria Vicentina pelo constante incentivo e
paciência, sempre indicando a direção a ser tomada nos momentos de maior dificuldade.
A Profª Drª Maria Margarida de Andrade e Profª Drª Guiomar Fanganiello Calçada,
pelas sugestões minuciosas e precisas.
A minha comadre Patatas, pelas palavras de ânimo, incansável disposição para nos
auxiliar, incontáveis favores e leitura crítica da dissertação.
This study analyzes the toponymy of the county of Barra do Garças, in the Eastern part of the
State of Mato Grosso, Brazil, which is situated in the micro-region of the Araguaia River
Basin denominated 520, and meso-region 128. The research was restricted to the toponymy
presented on the statistical map produced by the Brazilian Institute of Geography and
Statistics (IBGE), scale 1:100.000, and on the Topographic Base of the counties of the State of
Mato Grosso. Both sources were made available by the Mato Grosso Land Institute. The stydy
was conducted in the methodology proposed by ATB, which was developed and is
coordinated by Dick (1989 and 1994), and that has been consubstantiated in the Research
Directories presented to CNPq. The main objective of the research is to find the lexical-
toponymic occurrences that are cartographically registered (state and county maps by IBGE),
and analyze them from a linguistic (grammatical or morphological structures and semantic
lexis), historical, and geographical point of view. The analysis will help
To establish the semantic fields in toponymic function, and consequently, will explain the
compatible taxis from the terminological point of view.
Resumo
Abstract
Introdução............................................................................................................................ 7
I – UM POUCO DA HISTÓRIA........................................................................................ 11
1.1 – O início.................................................................................................................. 11
1.1.1 – Barra do Garças: aspectos históricos e geográficos............................. 13
1.1.2 - Um pouco de história.............................................................................. 13
1.1.3 – A localização geográfica........................................................................ 16
1.1.4 – A criação do município.......................................................................... 16
I I - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.............................................................................. 18
2.1.2 – Da Europa para a América: uma visão toponímica............................... 21
2.1.3 – Classificação Toponímica: modelos...................................................... 25
2.1.4 – A Motivação do signo lingüístico em função Toponímica.................... 29
III - DA METODOLOGIA E DO CORPUS....................................................................... 34
IV – ANÁLISE DO CORPUS............................................................................................ 36
V – CONCLUSÃO............................................................................................................. 76
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................ 81
ANEXOS............................................................................................................................. 84
ANEXO A – Figura 1 - Mapa de Mato Grosso................................................................... 85
ANEXO B – Quadro 1 – Topônimos do Município de Barra do Garças............................ 86
ANEXO C – Quadro 2 – Quantificação dos Topônimos do município.............................. 96
ANEXO D – Figura 2 - Quantificação das categorias toponímicas................................... 97
ANEXO E – Fichas Léxicográfico-toponímicas................................................................. 98
7
INTRODUÇÃO
signo lingüístico que Saussure (1970, p. 81) considera como unidades imotivadas. Isto
significa que a relação entre significante/significado e o referente não é direta nem natural e,
sim, convencionada.
representam simbolicamente o real e têm como função principal estabelecer a interação entre
interação e constituição e transmissão das culturas, é por ela que a cosmovisão de um povo se
manifesta.
Assim, o ato de nomear passou a ser alvo de estudo dos que se interessavam pelo
tema da linguagem, dando origem ao ramo da lingüística denominado Onomástica. Mais tarde
França, por volta de 1878, tendo como seu precursor Auguste Longnon, que introduziu os
pesquisas deste estudioso, resultou a obra Les Noms de Lieux de la France, publicada
A partir dessa obra, considerada clássica na área, muitas pesquisas teóricas têm
surgido para orientar pesquisas toponímicas. Dentre elas, destacamos os estudos de Albert
Dauzat (1922) que, retomando os estudos onomásticos de Longnon, realizou uma pesquisa
categorias de nomes de acordo com suas causas históricas. Os resultados desses estudos estão
registrados no livro Les Noms de Lieux Origine et Evolution, obra que nos legou uma forma
mais sistematizada de pesquisa na área por traçar normas a serem seguidas por aqueles que se
A segunda se dedica ao estudo dos nomes de pessoas e foi definida por Leite de
Vasconcelos, em 1887, em sua obra “Lições de Filologia Portuguesa” como estudo dos
de Barra do Garças, a ênfase será para os conceitos toponímicos, embora se possam utilizar
muito a ser feito, devido às dimensões territoriais do Brasil, pois este país ainda apresenta
aspectos geo-lingüísticos não estudados, por exemplo, a influência das línguas não tupis nos
Uma das regiões em que se nota essa falta de pesquisas lingüísticas é a Centro-Oeste,
vincula-se, na maioria dos casos, a fatores extralingüísticos, como por exemplo, fatores
históricos, sociais e até pessoais, estão espelhados na nomenclatura desse município, pois
segundo Dick:
povos que habitaram o município selecionado, bem como traçar o perfil e características do
Assim, esta pesquisa tem como objetivo amplo assinalar quais os fatores naturais,
sociais e culturais que possam estar refletidos e, talvez, preservados nos nomes dos acidentes
estudo científico;
fornecidas pelo Instituto de Terras do Estado de Mato Grosso. Também foi consultado o site
classificação taxionômica proposto por Dick (1992), por ser um modelo elaborado para
realidade brasileira, o qual abrange dois planos de motivação dos topônimos: o de natureza
corpus. O quarto é referente à análise dos dados e o quinto apresenta as considerações finais.
CAPÍTULO I - UM POUCO DA HISTÓRIA
1.1 – O INÍCIO
Não se pode apresentar a história do município de Barra do Garças, sem antes nos
Segundo Ferreira (sd), a vida humana em Mato Grosso data de quinze mil anos, com
caminhos tanto de Oeste para Leste, como de Norte para Sul, oriundos das Ilhas do Pacífico.
processo de ocupação do espaço brasileiro, a partir do século XVI, com o estabelecimento das
a capitania de São Paulo a organizar expedições, de caráter mercantil, que para conseguirem o
As bandeiras tinham como função, até meados do século XVII, aprisionar índios para
metade do século XVII surgiu o bandeirismo prospector, cujo objetivo era descobrir ouro e
Tratado de Tordesilhas o que garantiu à coroa Portuguesa, pela posse (uti possidetis), a
incorporação de novas áreas. A ação dos bandeirantes, do ponto de vista demográfico, levou à
praticamente inalterado, pois não oferecia nenhum produto que pudesse ser comercializado na
metrópole portuguesa.
exploradores, vindos das exauridas minas que originaram Cuiabá, chegaram à planície oposta
ao campo dos Pareci e depararam com matas muito espessas e altas. Embora este tipo de
vegetação não ocorra em toda a superfície do Estado, o nome foi mantido e oficializado pela
Este território era ocupado, esporadicamente, por algumas expedições hispânicas que
construíram fortificações e por entradas e bandeiras que tinham como finalidade aprisionar
índios.
pela descoberta de ouro pela bandeira chefiada por Paschoal Moreira Cabral, em 1719.
outra de Manuel de Campos Bicudo que também levava seu filho Antônio Pires de Campos
divagando-se para o norte, encontrou um rio de águas caudalosas que denominou Porto do Rio
chapadão quando desabava uma tempestade. Os homens abrigaram-se em grutas e à luz dos
relâmpagos viram umas formações rochosas com formas estranhas, parecendo Os Martírios de
Cristo no Calvário.
Segundo Pitaluga (sd, p. 15) nessa região, à beira do rio, os meninos filhos dos chefes
das bandeiras, brincavam com pedriscos redondos de ouro e escolheram alguns que levaram
consigo, embora desconhecendo seu valor, mas que depois foram reconhecidos como ouro.
Apesar de terem tomado todas as notas sobre a rota seguida pela bandeira de Campos
Bicudo, nunca mais nenhuma expedição encontrou a famosa Serra dos Martírios.
Foi nessa ânsia de busca de ouro e de mão de obra para obter lucro que as terras de
Mato Grosso foram palmilhadas. Sua importância, contudo, só foi reconhecida por parte da
existentes.
O primeiro bandeirante de que se tem notícia, que saiu à procura da lendária mina,
foi Amaro Leite Moreira. Ele seguia os roteiros deixados pelos primeiros bandeirantes. Saindo
de Caratinga, cidade de Porto Feliz, desceu vales e atravessou o Araguaia no local que
denominaram Porto Grande. Depois dele outros vieram, inclusive o filho de Anhanguera.
Segundo Ferreira e Moura e Silva (sd), durante a Guerra do Paraguai foram criados
três presídios na região do Araguaia: Ínsua, Passa Vinte e Macedina, que serviam também
do presídio de Ínsua, em 14 de maio de 1780, que mais tarde foi transferido para Porto do Rio
Grande.
14
constatada na região, e uma das maiores era a Caiapó, conforme Curt Nimuendaju (apud
Varjão, 1985), pesquisador alemão que estudou as etnias indígenas do Brasil no século XVIII,
dando notícia sobre a extensão e densidade populacional dos Caiapós e Araés, na região
centro oeste, que a partir dessa época foram expulsos lentamente pelos colonizadores brancos.
debandar.
servirá desde já como ponto de apoio, quer para comunicação quer para defesa das
duas províncias de Goiáz e Mato Grosso, podendo prestar importante auxílio à
catequese dos indígenas que povoam às margens do Araguaya e de seus afluentes
(apud VARJÃO, 1985).
capital da província era o Rio das Garças, em local assinalado por uma pedra chamada de
que trouxe muita gente para a região do Araguaia, cuja economia se dividia entre garimpagem
povoado de apoio, e Antonio Cristino Côrtes, que havia chegado à região por volta de 1914,
A fase áurea do garimpo durou, apenas, até à década de 40. O povoamento, devido ao
Brasil Central.
providenciar uma expedição para abrir uma estrada de penetração nos sertões de Mato Grosso,
que deveria entrar na Bacia do Rio das Garças com o Araguaia, tomando rumo ao Xingu, que
Essa expedição foi criada para materializar a Marcha para o Oeste. Com o sucesso da
primeira expedição, o então Governo Federal autorizou, pelo Decreto-lei nº. 5.878, de 4 de
áreas compreendidas entre os altos dos rios Araguaia e Xingu, e do Brasil Central e Ocidental.
A partir dessa Marcha para o Oeste, novos municípios foram sendo criados e muitos
Note-se que, no estado de Mato Grosso, o município de Barra do Garças foi o mais
beneficiado pela ação da Fundação Brasil Central. A Fundação também criou escolas e centro
na microrregião 528, mesorregião 128, Médio Araguaia, cujas coordenadas são 15° 49’ 0”
Araguaiana, ao Sul pelo município de Pontal do Araguaia, ao Leste pelo Estado de Goiás, a
Oeste pelos municípios de General Carneiro e Novo São Joaquim, a Sudeste pelo Estado de
Segundo Ferreira (1997), a criação do município de Barra do Garças veio a ser uma
A primeira denominação do atual município foi Pedra da Barra Cuiabana, que passou
a fazer parte da Paróquia do Araguaia, criada pela Lei nº 211, de 10 de maio de 1889, passada
a Freguesia do Registro do Araguaia, pela Lei nº 387, de 12 de abril de 1904, sancionada pelo
Garças. Mas o município só foi implantado em 15 de setembro de 1948, através da Lei nº. 21
na qual se lê:
O Fundador da cidade de Barra do Garças foi Antonio Cristino Côrtes. Foi ele que
alinhou as ruas, designou as primeiras pedras e distribuiu lotes. Este desbravador havia-se
Por esse território passou a Coluna Prestes para incorporar-se aos garimpeiros do
A partir da década de 60, Barra do Garças tornou-se pólo regional de Mato Grosso,
É sobre a Toponímia desse município que se irá tratar nos próximos capítulos, tendo
assim as sociedades primitivas conseguiram se comunicar com sucesso. Este ato lingüístico
cultural permite descobrir relações diversas entre os povos de outrora e os de hoje. Foi a
que o cerca.
Nota-se também que, conforme Dick (1990, p. 06), nos diferentes sistemas culturais,
do denominador, não apenas como elemento isolado, mas também como projeção de seu
grupo social.
Embora o ato de denominar seja comum a todas as línguas, ele não é aleatório, pois
cada povo tem suas especificações para realizar o ato de nomear, de “vivenciar os nomes
dados” o que, segundo Dick, (1992, p. 01), “os torna adequados a uma discussão acadêmica”
pois esse “vivenciar” os aproxima do meio ou fato motivador. Além de que o fato simples de
1999, p. 53).
Assim, nasce à ciência que se ocupa dos estudos dos nomes próprios, a Onomástica.
anthrópos (homem) mais o sufixo grego – onímia ou onimia (HOUAISS, 2001), a qual tem
por objeto de estudo os nomes próprios de pessoas, e que Dick (2000, p. 218) considera
“como um subsistema da onomástica”, uma vez que como forma lingüística permite distinguir
o indivíduo dentro de sua comunidade, além de estabelecer a forma parental que liga o
indivíduo pelos laços de sangue a um grupo familiar. Esta forma lingüística parental é
família. 2) A Toponímia cujo objeto é o estudo dos nomes de lugares. Este ramo da
onomástica é definido por Houaiss como sendo à parte desta que estuda os nomes próprios de
lugares, lista ou relação de topônimos, e para Greimas (1979, p. 446) topônimo na qualidade
de designação dos espaços por meio de nomes próprios, fazem parte da onomástica,
A definição feita por Salazar – Quijada (1985, p.18) de toponímia “aquellea ramo de
la onomástica que ocupa del estúdio integral, em el espacio em el tiempo, de los aspectos:
nombre de lugar se origine e subsista” traduz de forma clara a importância da toponímia para
o estudo das relações geo-históricas e sociais do(s) povo(s) que habitam ou habitaram uma
determinada região.
início na França, por volta de 1878. Seu precursor foi o francês Auguste Longnon introdutor
Infelizmente Longnon não publicou sua obra em vida. Só depois de sua morte é que um grupo
de ex-alunos trouxe a público a obra, que se tornou clássica na área, Les Noms de Lieux de la
Este marco originou diversas perspectivas teóricas que têm orientado pesquisas
Longnon, realizando uma pesquisa pormenorizada que deu origem à obra Les Noms de Lieux
hoje são seguidas pelos pesquisadores dessa área (Dick, 1992, p.02). Vale ressaltar que
dessa restrição, cabe aos franceses Longnon e Dauzat o mérito de terem despertado o interesse
toponímicos de origem indígena do Brasil. Sua proposta de pesquisa era verificar a presença
da língua tupi na nomeação toponímica brasileira. Sua obra intitulada “O Tupi na Geografia
históricos dos topônimos são bases que devem ser conhecidas/estudadas, pois há a
topônimo em que foi criado. Tal argumento era defendido tendo por base a constatação da
forma de nomear dos tupis que era baseada no caráter descritivo do ambiente em que o nome
se inseria, transformando “um topônimo em espécime simbólico de ícone”, uma vez que
demonstraria a vinculação dos topônimos aos traços ambientais, (DICK, 1992, p.41), porque
conforme Santos (1997), a associação entre objetos naturais, juntamente com objetos sociais -
determina.
lingüísticas que o ocuparam, porque além de outras razões “... o homem modifica a natureza
primeira, a natureza bruta, a natureza natural, socializando dessa forma o que Teilhard de
sua obra Opúsculos – vol. III: Onomatologia, de 1931, obra pioneira da onomástica
próprios. O autor português define toponímia como “estudo dos nomes de sítios, povoações,
A essência de seu estudo é tipicamente francesa, pois estuda a origem dos nomes por
classificar por categorias segundo os eventos que originaram o nome, Vasconcelos (1931: 03).
possivelmente, e devido ao pioneirismo das obras, uma incompletude nestes estudos. Os fatos
extralingüísticos, citados por Dick (1990, p.19) que considera a toponímia de um espaço
características topográficas locais mais sensíveis”, podendo ser desvelados através da análise
dos elementos formadores dos signos toponímicos. Conforme se pode perceber, (DICK, 2000,
topônimo, especificamente os aspectos culturais do grupo, bem como dos aspectos físicos
característicos da geografia do lugar, os quais são preservados por mais tempo, dado o caráter
sendo a linguagem algo exclusivamente humano e que reflete a sua cosmovisão, pode-se
compreender melhor a relação entre acidentes naturais que juntamente com objetos sociais –
1999).
Levando em conta a noção de Dolfuss (apud, DICK, 1990, p.63) sobre espaço
geográfico como “espaço percebido e sentido pelos homens em sua função tanto de sistemas
extralingüísticos para a toponímia, os quais permitem que esta ciência se complete aliada a
outras como a Geografia, a História e as Ciências Sociais. Esta associação das diferentes
disciplinas não permite incorrermos em posturas unilaterais que impedirão atingir a plenitude
do fato toponomástico em seu conjunto que, conforme (DICK, 1992, p.16) considera
toponímia “antes de tudo […] um complexo linguo-cultural, em que os dados das demais
Embora essa postura eclética tomada por Dick pareça ser contraditória à de outros
estudiosos que consideram a lingüística como princípio essencial da onomástica como, por
exemplo, (Charles Rostaing, 1958, apud DICK, 1992, p. 16), não o é, devido ao fato de Dick
(1992, p. 16) afirmar que “em sua função intrínseca a toponímia deve ser considerada como
Segundo Dick, (ULLMANN, 196, p.161), afirma que o estudo dos nomes próprios já
se havia firmado como “um ramo da lingüística, quase independente, com congressos próprios
O topônimo, enquanto fato da língua, apresenta várias interfaces que devem ser
analisadas pelo pesquisador, pois além de ser um signo lingüístico e, por isso, estar ligado à
lingüística, não se limita apenas à denominação do lugar, pois é um documento histórico que
23
social.
novas visões sobre os topônimos. Como exemplo do citado no período, elencam-se os casos
Os Estados Unidos publicam o trabalho realizado por essas equipes na revista Names
que é órgão oficial de divulgação da América Name Society a qual tem por objetivo “o estudo
pessoal, científico, comercial e popular.” George Stewart, autor das obras Name of the Land e
categorias. Apesar de seu modelo não atender a todas as taxes, ele foi o primeiro a considerar
a motivação semântica que pode estar relacionada a aspectos ambientais, sociais e culturais,
levada em consideração no ato de denominar um acidente físico ou humano, que ainda não
O Brasil e a Venezuela são os países da América Latina que mais têm feito
Sampaio (O tupi na Geografia Nacional, 1987), de 1901, o estudo de Levi Cardoso sobre a
influência das línguas aruaque e caribe no topônimo amazonense que deu origem à obra
brasileira.
A lacuna apontada por Drumond foi sanada por Dick que é autora dos mais recentes
para a orientação da toponímia. Dentre os vários estudos elaborados por Dick salientamos: A
de São Paulo – 1554 – 1897, publicado em 1997, além de artigos publicados em revistas
científicas.
através da investigação lingüística dos nomes geográficos nos quais era possível fazer o
levantamento das transformações fonéticas sofridas pelos vocábulos, bem como as variações
época.
etimológico que deu origem à busca de um instrumento que permitisse vincular o onomástico
a uma filiação genética, uma vez que o povo que habitam um espaço geográfico, seja como
distintos.
Para Dick (1987, p.370) “descobrir o seu significado (do topônimo) seria como
conhecer o povo que o originou, e conseqüentemente, a sua língua, talvez até reconstituí-la
classificação toponímica, alguns elaborados por estudiosos de outros países e, no que se refere
ao Brasil, o modelo de Dick e de outros trabalhos que, além de contribuírem com a proposta
de inclusão de novas taxes ao modelo de Dick, que também registram recortes regionais de
colocações do continente americano, iniciamos a revisão dos teóricos pelo europeu Dauzat
que estabeleceu o método de investigação toponímica ao criar duas faces investigativas para o
segundo a ordem histórica de suas formações (Dauzat, 1928, p.10), enfatizando que a
classificação do designativo pode ser feita a partir do ponto de vista da formação externa ou
dos sentidos intrínsecos do nome. No primeiro caso, o ato de nomear pode ser espontâneo, e
pode ser atribuído a uma vontade mais ou menos inconsciente do grupo ou pode ser
pessoas ilustres, como fundadores, proprietários, além de poderem ter origens nos diversos
de Portugal, propõe uma divisão de nomes geográficos que prevê três seções: classificação
dos nomes de lugares por línguas; modos de formação toponímica, e categorias de nomes
segundo as causas que os originaram. Cita, entre outras, a flora, a fauna, a natureza do solo, a
história e a religião. Segundo ele há, na toponímia portuguesa, a presença de várias línguas
que vão desde a pré-romana, romana, à germânica e à portuguesa, propriamente dita, desde as
fases de dominação da região pelos falantes destas línguas e pela consolidação da língua
Tanto Dauzat (1928) como Vasconcelos (1931) mostraram que os nomes geográficos
e etimológicos no topônimo. Dauzat (1928) divide a natureza dos topônimos em dois campos
primeiro a propor a distribuição dos nomes dos lugares em nove taxes baseadas em
etymologies e mistake names”. Como este modelo foi proposto para o contexto específico,
norte-americano, a única observação que pode ser feita é que os nomes descritivos e
nomeação, enquanto os outros são mais restritos, elaborados para o contexto citado, e valem
também para os estudos das nomeações procedentes das línguas indígenas do continente
Conforme já citado por Dick. (1975), a mais atuante toponimista brasileira, elaborou
foi reformulado pela própria autora e publicado em 1992, passando a ter vinte e sete taxes.
ligadas às relações estabelecidas pelo homem inserido numa sociedade com seus aspectos
topônimos relativos aos santos e santas do hagiológio romano: Fazenda São Bento–AF/MT;
relação metafórica às partes do corpo humano ou de animal: Fazenda Olho d’Água – AH/MT
Apesar dos vários estudos toponímicos realizados no Brasil, ainda há muito a ser
feito. É necessário que mais estudiosos se interessem pela pesquisa toponímica visto que
através dela podem se reconstituir aspectos etnolinguísticos, sociais e como os grupos que
habitam determinado local percebem o ambiente. Este resgate amplia a visão que se tem sobre
1
Os nomes de acidentes físicos e humanos utilizados como exemplos fazem parte do corpus desta pesquisa.
29
duas correntes de pensamento: a naturalista, cujo maior representante foi Platão, que defendia
convencionalista, cujo defensor foi Aristóteles, o qual sustentava ser a relação puramente
havia qualquer conexão necessária entre o significado de uma palavra e a sua forma”.
Segundo Lyons (1979, p. 04) a busca de respostas a essa questão deu origem a longo
que a relação existente entre essas partes do signo não é natural, pois é produto de um contrato
social.
O signo, para Saussure, só se reveste de valor que é adquirido na teia das relações
com outros signos, definindo-se como tal no interior de um sistema de signos, o que é
une não uma coisa ao seu nome, mas um conceito a uma imagem acústica num
vínculo arbitrário que remete à realidade, o referente, para o exterior do campo do
estudo [...] O signo só envolve, portanto, a relação entre significado (o conceito) e o
significante (imagem acústica), com exclusão do referente (DOSSÉ, 1993, p.70).
A teoria da motivação lingüística não teve muita aceitação no percurso dos estudos
lingüísticos. A arbitrariedade do signo, retomada por Saussure, foi e ainda é a tônica das
Muito embora seja o topônimo, em sua estrutura, como já se acentuou, uma forma de
língua, ou um significante animado por uma substância de conteúdo, da mesma
maneira que todo e qualquer outro elemento do código em questão, a funcionalidade
de seu emprego adquire uma dimensão maior, marcando-o duplamente: o que era
arbitrário, em termos de língua, transforma-se, no ato do batismo de um lugar , em
essencialmente motivado, não sendo exagero afirmar ser essa uma das principais
características do topônimo (DICK; 1990, p. 38) .
semântica que pode estar relacionada a aspectos sociais, culturais ou ambientais, que
Por esta perspectiva os topônimos - signos lingüísticos em função toponímica – são motivados
por fatores não lingüísticos podendo ser considerados como “verdadeiros testemunhos
históricos” os quais contêm “um valor que transcende o próprio ato da nomeação” (DICK,
Assim, esta posição assumida pela toponimista sobre o caráter motivador do signo
diferença entre o signo lingüístico e o topônimo a que este está ligado. Isto é, apesar de se
inscrever como parte do sistema de uma língua e, por isso, pertencer ao seu universo lexical,
ele é motivado por desejos pessoais ou eventos sócio-culturais e históricos, embora seja
similar a outros signos. Por se inscrever como parte do sistema da língua, ele nos fornece
dados sobre a relação língua – sociedade e cultura. Este fenômeno recobre o conceito de
O léxico pode ser considerado como o tesouro vocabular de uma língua. Ele inclui a
nomenclatura de todos os conceitos lingüísticos e não-lingüísticos que se referem ao
mundo e ao universo cultural, criado por todas as culturas humanas atuais e do
passado. Por isso o léxico é o menos lingüístico de todos os domínios da linguagem.
Na verdade, é uma parte do idioma que se situa entre o lingüístico e o
extralingüístico (BIDERMAN, 1981, apud BIDERMAN, 2001, p.132).
comunidade que quando os utiliza para nomear um acidente físico ou humano, passam a
Segundo Dick (1997, p.18) a motivação toponímica possui um duplo aspecto que
1964, p.134) recuperou a visão saussuriana em que a língua e seus conceitos são vistos como
completa com a teoria referencial, pois a primeira trata do significado ao nível de fala e a
lingüística, evidenciaram a dificuldade de se elaborar uma teoria do significado, visto este não
pode haver graus de motivação entre significante e significado, que classifica como arbitrário
idiomas contêm certas palavras que são arbitrárias ou opacas, ou seja, sua característica
principal é não haver conexão entre o som e o sentido. Porém há outras que, pelo menos em
certo grau, são motivadas e transparentes e que tal motivação pode ocorrer no nível fonético,
as onomatopéias, por exemplo, no morfológico, palavras simples e compostas, sendo que nas
A bibliografia citada permitiu a obtenção de subsídios teóricos para análise dos dados
que compõem o corpus deste trabalho, uma vez que a investigação toponímica valoriza
permitem entender numa visão contínua globalizante da história dessa região e dos povos que
geográfico, em sua essência, poderia ter sido motivado por fatores extralingüístico os quais
a região.
culturas.
Os dados da região foram levantados nos mapas cartográficos, escala 1:100 000, do
(1977);
várias lexias;
etimologia tupi;
denominativo, segundo a terminologia técnica que Dick (1990, p.24) propôs. Neste modelo o
primeiro nome tem a finalidade de definir a classe genérica e o segundo constitui o elemento
específico, alvo do estudo toponímico. Assim, por exemplo, no topônimo Fazenda Alvorada –
anexo E.
CAPITULO IV - ANÁLISE DO CORPUS
A análise do corpus tem por base o conceito de arquilexema elaborado por Geckler
(1971), como o significado global de um campo léxico, que assim se apresenta como
denominador comum de uma base semântica de todos os elementos do campo mais a lexia
diferencial, e Dick (1990) que afirma que o topônimo se liga ao acidente geográfico que o
Nos dados coletados, os acidentes físicos são definidos pelo próprio termo comum.
Assim foram elencados os seguintes termos que podem ser desmembrados: barra, córrego e
sua variante corgo e corgão, furna(s), ilha, serra, porto, cachoeira, boqueirão, rio, lagoa,
ribeirão, grota e suas variações grotinha e grotão, vale. A estas bases estão ligadas as lexias
diferenciais que serão objeto desta análise. O mesmo acontece com os acidentes humanos,
4.1.1 - A análise apresentada neste trabalho foi iniciada pelos termos genéricos dos acidentes
físicos. Assim, começamos pelo acidente físico Córrego - do latim corrugus s.m., ao qual se
Assim temos: Córrego Água Alta – do latim altus; Córrego Água Limpa – do latim
limpidus; Córrego Água Quente – do latim calentea. Estas lexias diferenciais individualizam
Cachoeirinha. Pode-se verificar que a atribuição do nome ao córrego se fez pelo aspecto
físico do mesmo, ou seja, cursos com desníveis acentuados originando as cachoeiras, cujos
cachoeirinha, todos estes topônimos são formados por substantivo + adjetivo. Este é derivado
para a situação.
Cabeceira - cabeça+eira, do latim vulgar capitia + ceira, séc. XVIII. Córrego Cabeceira
Comprida, Córrego Cabeceira Verde, Córrego Cabeceira Suja. Assim como nos
caracterizam o tipo de cabeceira: tamanho, comprida, cor, verde, aspecto, suja. Há também o
Córrego Corixo.
lexia. Porém tanto FERREIRA (1975) como HOUAISS (2001) se referem a ela como
específica de Mato Grosso e Goiás, e colocam que é de origem duvidosa ou obscura, mas
também afirmam que, para Nascentes, a origem é tupi. Só se pode afirmar que foi incorporada
ao português destes dois estados do Brasil para significar afluentes ou sub afluentes de
correntes hidrográficas.
de água cercada por terra. O sufixo inh+a permite afirmar que o nome foi dado, ou pelo
lambere, lamber – corroer, desgastar. A forma como as águas atuam nas margens, ou as
acariciam pode ter dado origem ao topônimo. Além disso, também pode ser levada em conta à
significação de terreno salobro que animais lambem para obter o sal de que necessitam.
Córrego Paraná – de origem tupi – Para’-nã – denominação dada aos grandes rios. Este
córrego deve ser maior do que os outros, pela característica semântica de sua denominação:
rio grande. Córrego Pulador – do latim pultare, pulo, s.m, pular+dor, sentido figurado
agitado, o que pula. Esta denominação se refere a aspectos físicos do córrego, que na visão
as seguintes lexias: Córrego Bacuri - de origem tupi – fruto contínuo, apressado, o que
frutifica de pronto. Isto nos leva a afirmar que na região cortada por esse córrego havia
bastantes arbustos de tal espécie, ou que a correnteza de tal acidente era muito rápida. Se
assim foi, este topônimo representa a visão de mundo do povo que o denominou. Córrego
Buriti Alegre – Buriti é de origem tupi e alegre de origem latina, portuguesa: tem-se um
topônimo híbrido. Esta ocorrência confirma uma primeira denominação em língua indígena,
complementada pela visão do colonizador, que não devia ter outra denominação para este tipo
de palmeira. Córrego Buriti Verde - conforme o anterior, mescla o tupi e o português. E este
acidente apresenta uma característica diferente dos anteriores, ou seja, o tipo de verde
apresentado pela palmeira. Este vegetal é importante tanto para alimentar a fauna da área,
como para as etnias indígenas que habitam ou habitavam a região, pois seu fruto tanto serve
de alimentação (polpa) como para a confecção de adornos usados pelos indígenas. Hoje os
planta da família das sapináceas cujo fruto tem sementes envolvidas por um amido
adocicado e abundante – A denominação deste córrego feita pelos bandeirantes é mantida até
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à atualidade. Esta ocorrência pode ser vista de duas maneiras: a visão do nomeador sobre o
visto este tipo de árvore não ser do universo botânico europeu e, portanto, teve de manter a
denominação dada pela etnia que habitava anteriormente a região. Córrego Pitombinha –
origem tupi: fruto da pitombeira, híbrido. Ao vocábulo tupi foi acrescentado o sufixo
diferentes. É possível que a sufixação seja produto da visão dos colonizadores que se
denominado. Nota-se que o diminutivo aqui está relacionado ao tamanho da árvore ou das
frutas. Córrego Buritizal - assim como em pitombinha, neste topônimo é formado pela
junção de estrutura vocabular do tupi, o radical buriti e a consoante de ligação z mais o sufixo
al, formador de lexias que designam lugar, no caso, de buritis, ou acúmulo de buritis. No caso
indica abundância daquele tipo de árvore. Córrego Pindaíba – origem tupi: Pindá-(a)iba, a
vara do anzol, ou a cana do anzol, ou anzol, pode também se referir à penúria, no uso atual
Neste caso predominou a designação indígena, até porque esta palavra foi incorporada ao
léxico português do Brasil. Córrego Cedro – árvore originária da Europa de caule reto e
copa cônica que fornece madeira resistente própria para marcenaria de luxo. O nome
atribuído ao acidente pode ter duas explicações: a semelhança entre a árvore da Europa e
nomeadores europeus, que pretendiam ver na região algo que não fosse totalmente
desconhecido. Córrego da Mata – do latim tardio matto – terreno onde nascem árvores
silvestres, bosque, selva, séc. XIII. Como a vegetação de cerrado não é alta, porém,
emaranhada, deve ter sido o motivo de tal denominação. Córrego da Mata Seca – As lexias
diferenciais que compõem este topônimo são de origem portuguesa e descrevem a situação da
encontrado nos rios de Mato Grosso e Paraguai. Neste caso, a classificação deste topônimo
na taxe de Fitotopônimo fica duvidosa, pois não se sabe se a denominação foi atribuída pela
existência de palmeiras ou de peixe, porém, como a palmeira é mais conhecida, optou-se por
possível origem de tal denominação não pode ser feita com rigor, porém optou-se pela
inclusão nesta taxe. O sufixo inh refere-se ao tamanho da palmeira. Córrego Gameleira
designação comum a diversas árvores da família das moráceas, com madeira para a
confecção de gamelas e objetos domésticos. O córrego tinha em suas margens árvores dessa
acidente.
doce pastoso de marmelo que passou às demais línguas da Europa numa acepção mais ampla,
designando todo e qualquer doce pastoso de frutas. Conforme sua etimologia indica, é uma
Taquaral – do tupi takuara-al: planta da família das gramíneas, taboca, bambus, também
pode ser ave coraciforme da família dos momotídeos. Híbrido, pois à sua raiz tupi foi
acrescentado o sufixo al que na língua portuguesa serve para indicar lugar ou onde se produz
algo, no caso, taquaras. Além desta classificação, também pode ser incluído como um
zootopônimo, pois devido à distância temporal não se sabe se foi pela existência de plantas ou
das aves que aconteceu a denominação, porém como a maior incidência é de vegetal, essa taxe
foi eleita para a classificação. Córrego Taquaralzinho - este denominativo se formou a partir
de taquaral, que já é híbrido, com a junção de outro sufixo inh que, neste caso parece se referir
à extensão do acidente, ao seu tamanho em relação ao outro. Como no anterior, este topônimo
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pode ser colocado em duas taxes. A colocação de ambos nesta taxe se deve ao fato de haver
mais ocorrências de taquara(l) como vegetal e menos como animal. Córrego Cambaúva –
Certa gramínea, comum em dois estados brasileiros. Este topônimo reflete o ambiente em que
o acidente está inserido. Córrego Melancia – origem incerta, planta de família das
cucurbitáceas ‘ o fruto dessa planta’. Ao que parece esta denominação foi feita pelo
lat campus-i – terreno plano; alegre do lat vulgar alicer/alicus/alecris, vivo. O topônimo é
formado por um substantivo e um adjetivo que, juntos, passam a idéia de um lugar aprazível,
pelo menos para os olhos do denominador. Córrego da Grota – do italiano, grota – abertura
produzida pela enchente na ribanceira, vale profundo. A existência de uma grota deve ter
sido o motivo para tal denominação dada ao acidente. Córrego da Grota Funda – Nesta
denominação as razões devem ter sido as mesmas da anterior, porém a característica funda
grande da furna. Córrego da Grotinha – indica tamanho pequeno da cavidade existente nele.
Córrego da Grota da Serra Isolada – Neste caso parece que o córrego nasce na grota de
uma serra que não faz parte de uma cadeia de montanhas, pois está isolada. Córrego Grota
interessante notar neste topônimo a contradição entre grota e vargem, pois pela definição
Córrego dos Índios – Do topônimo Índia, os indígenas das Américas. Esta denominação é do
colonizador e deve referir-se a um acidente que atravessava alguma aldeia indígena bororo ou
xavante, ou por haver muitas aldeias em suas margens Córrego do Mineiro – adjetivo
relativo à mina, pertencente ou natural do estado de Minas Gerais. Neste caso, devido à
migração de pessoas de vários lugares do Brasil para este município optou-se pela inclusão do
provenham do fato desses córregos terem sido denominados por naturais do Estado de Minas
hispânico.e africano, mamíferos da família dos tapirídeos. A motivação deste topônimo deve
estar ligada à existência desses animais nas imediações do acidente Córrego das Araras – do
tupi a’rara, nome comum a diversas aves de grande porte e da família dos psitorcidos.
Córrego dos Cavalos – do lat caballus. Animal mamífero da ordem dos perissodáctilos.
A escolha dessa denominação pode ser atribuída à função do córrego, que devia ser o
local onde os animais bebiam água. Córrego da Ema – de origem controvertida ‘ave
reiforme da família dos reídos – talvez essa denominação seja devida à abundância de tal ave
galhada (cornos) grande’. No caso, o uso do diminutivo pode indicar a presença de um veado
de porte pequeno como a galharda formada, proporcional ao seu tamanho. Esta denominação
deve ter sido dada por haver animais desse tipo na região ou talvez pelo próprio desenho do
comum aos grandes mamíferos carníveros da família dos felídeos’.O diminutivo leva à
conclusão de tamanho pequeno do rio ou dos animais que aí habitavam. Córrego da Lontra
– do latim lutra, ‘ mamífero carnívoro da família dos mustelídeos’. Esta designação foi dada
por portugueses, pois caso fossem os tupis seria ariranha (irar-ana) que é a lontra dos rios do
negros na região, que podem ter vindo como integrantes das bandeiras, ou fugidos para formar
Córrego Matrinxã – tupi, ‘ a coisa que escapa da linha (anzol), a coisa avessa à
linha’. É o nome de um peixe. Talvez por não haver semelhança entre este peixe e outros dos
rios ou mares europeus a denominação foi mantida. Tendo em vista a origem tupi, pode-se
concluir no córrego havia abundância deste peixe. Córrego Mutum – tupi ‘comum às aves
família dos felídeos’. Mais uma vez, pode-se afirmar a origem francesa da denominação, pois
se fosse indígena, tupi, seria jaguar ya-guara que é a denominação dada a tais felídeos pelos
família dos psitaciformes que imita a voz humana’ Pode-se deduzir que esta denominação
engloba as culturas indígenas e europeia, pois a existência de aves desse tipo deve ter sido a
razão de tal denominação. Córrego - Peixinho – peixe do latim piscis is – animal cordado,
gmastomado, aquático, com nadadeiras, com pele, geralmente, coberta de escamas, que
respira por brânquias. O diminutivo pode estar se referindo ao tamanho dos peixes
denominadaórrego Tucano do tupi tu’Kana, ‘ ave da família dos ranfastídeos’, muito comum
motivou a toponímia da região. Apesar das lexias pertencerem à língua do clonizador, branco,
divergente popular de médio, do latim médius, ‘que está no meio, ou entre dois pontos’. Este
topônimo localiza o acidente entre outros dois que tanto podem ser idênticos ao nomeado
como divisa entre dois espaços, municípios ou estados. Córrego da Divisa – do latim
hidrográficas ou territórios.
do quimbundo um’Kambu, esconderijo, cumieira. Tendo em vista sua origem, africana, este
terceira é que, de alguma forma, esta lexia já estava incorporada à língua do colonizador na
tivesse sido às margens deste córrego que soldados, ou outro tipo de grupos exploradores,
calvária ‘cranio’ de ‘calvu’. Talvez a existência de caveiras nas margens do córrego tenha
ad-day’a, s.f, pequena povoação. No Brasil esta designação se aplica aos povoados indígenas,
acidente.
relativo ao estado brasileiro, rio das piabas ou dos piaus. Neste caso, foi classificado como
origem. Porém se for levada em conta à segunda opção, tem-se um zootopônimo em que o
acidente e a lexia diferencial se aglutinaram, constituindo um bloco único dos quais não se
caso o primeiro termo genérico perdeu a função própria necessitando do reforço do segundo.
virides, adj. Da cor mais comum nas ervas e nas folhas das árvores. Esta denominação foi
atribuída ao acidente pelos colonizadores e parece demonstrar duas coisas: a cor das árvores e
arbustos que se reflete nas águas, ou a existência de muitas algas no acidente. Córrego
Vermelho – do latim vermiculus, da cor do sangue. Assim como no anterior, este adjetivo
parece caracterizar a cor da água, que talvez por ter elementos ferrosos apresenta cor
avermelhada. Córrego Azul – [Do persa läzwärd, atr. Do ar.vulg. lãzur e do arc. Azur. ‘Da
cor do céu sem nuvens com o sol alto; da cor do mar profundo em dia claro’. Esta
latim novus – ‘ original de pouco uso’. Segundo a tradição, a origem do topônimo Olinda
está ligada a uma expressão dita por um nobre da corte portuguesa que ao subir em um morro
do litoral de Pernambuco teria dito “Oh, linda paisagem para se ver”. Portanto este topônimo é
alvor.s.f ‘primeira claridade da manhã’. Esta denominação mostra a possibilidade das águas
latim duo, do latim corregus – Esta denominação pode ser atribuída à junção de dois córregos
em um só, ou seja, esta denominação tem por base a descrição física do acidente. Córrego
Duas Pontes – do latim duo e põns, pontis s.f, construção destinada a estabelecer ligação
entre margens opostas de um curso de água ou de outra superfície líquida qualquer. Esta
designação parece se referir à existência de dois acidentes humanos sobre o mesmo acidente
físico. Aqui o ambiente humano é usado para denominar o físico. Córrego Sessenta - do
latim sexaginta, ‘ numeral’. Pela designação atribuída a este acidente pode–se inferir que este
algum incidente que envolvesse pessoas. Córrego Três Marcos – do latim três, numeral, do
latim medieval Marcus, s.m, baliza, poste, limite, sinal de demarcação. Neste caso a
do tupi arua’na, nome de festividade ritualista dos índios Carajás da ilha do bananal.
Tartaruga verde, esta denominação evidencia a presença da língua tupi nas bandeiras.
Córrego Colônia, s.f, grupo de migrantes, possessão, domínio. Este topônimo deve ter sido
criado a partir de algum grupo de colonos, que para ali se mudaram, ou pela proximidade de
alguma outra povoação. Córrego da Estiva –do italiano stiva “armação do tabuleiro duma
ponte de madeira. Córrego Fortaleza – do latim fortis, s.m, ‘ lugar fortificado’. Aqui se pode
depreender que havia alguma construção, forte, ou que o próprio acidente dificultava o acesso
a algum lugar, o que permitia segurança aos habitantes. Córrego Monjolo – provavelmente
de origem africana, engenho tosco movido à água empregado para pilar milho e, a princípio,
no descascamento do café. Devido à sua origem, este topônimo pode dar duas informações: os
negros faziam parte das bandeiras ou os brancos já tinham incorporado a palavra ao seu
léxico. Córrego Oficina – do latim officina-ar – ‘ lugar onde se exerce um ofício, ou lugar
Porteiro – do latim portarius-ii, ‘ aquele que cobrava direitos reais’. ‘ Encarregado de porta
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gargalo estreito e destinado a conter líquido’. Esta denominação pode ser derivado do
oxigênio que são glicídeos e ácidos graxos, denominação dada a uma espécie de capim’.
Neste caso parece que a motivação deste topônimo talvez se deva ao tipo de capim existente
em suas margens”.
origem tupi: Ka’a pan, porção de mata isolada em meio ao campo. Conforme já se viu
anteriormente é o adjetivo que caracteriza estado de seres racionais, mostrando assim que,
mais uma vez, a motivação do signo toponímico, e surge assim a junção de uma lexia
indígena a uma que pertence à língua do colonizador, mostrando a visão que este tinha do
‘Suscita a prozer estético’, inh+o, sufixo formador de diminutivos, o que parece mostrar a
intensidade menor ou o carinho de denominar para com o acidente. Dick (1990), ao analisar a
ocorrência bonito (a) afirma que a forma feminina é menos freqüente na toponímia que a
masculina que é base usada tanto em acidentes físicos como em humanos. Estes topônimos
são compostos por base + substantivo + adjetivo, sendo este último o elemento de significação
específica que caracteriza o topônimo Córrego Alegre – do latim vulgar alecis, alecris ‘
animado vivo’. O topônimo conota a qualidade própria dos seres vivos, o que reflete a visão
do colonizador. Córrego Boa Sorte – do latim bônus, bona, do latim sorte – ‘ fado, destino,
bom resultado’. O topônimo composto parece mostrar que a intenção de seu denominador
recusar, rechaçar. A semântica desta palavra leva a possibilidade de, por motivos
desconhecidos, esse acidente ter provocado sentimentos negativos no seu nomeador, inclusive
ser evitado. Córrego Feliz – do latim - felix-icis ‘ afortunado, próspero’. Diferente do
anterior, este topônimo exprime sentimentos de felicidades, de bem estar. Córrego Inveja –
do latim invidia, desgosto ou pesar pelo bem dos outros. Aqui há duas possibilidades. Ser tão
bonito que desperta a inveja dos outros, ou ser tão mesquinho que até parece ser invejoso,
este topônimo reflete o sentimento que o córrego despertou em seu nomeador, talvez até
para a consecução de algo; ação pela qual Deus conduz os acontecimentos e as criaturas
para o fim que lhes foi destinado’. Neste caso, a motivação pode estar ligada à necessidade de
água, embora a região tenha uma malha fluvial ampla, às vezes, as trilhas iniciais percorridas
sanctus-a-um – ‘ santo popular cuja festa se realiza a 13 de junho’. Conhecido como Santo
protetor dos namorados. A devoção entre os portugueses a este santo é muito grande, pois
segundo a história ele nasceu em Lisboa. Córrego São Bento do antropônimo Benedito.
nomeou.
Santa Cruz – do latim crux, crucis, ‘ antigo instrumento de suplicio onde se pregavam os
condenados à morte’. Composto por Santa e Cruz, este topônimo reflete, assim como os
chapel (hoje chapeau) – ‘ Chapéu, peça destinada a cobrir a cabeça’. Esta denominação deve
ser conseqüência de algo acontecido lá, ou talvez devido à forma do córrego. Em ambos os
Substantivo do adjetivo latino focacius. ‘ Certa formação típica dos terrenos diamantinos’.
Esta denominação nos remete à existência de diamantes na área, conforme já foi descrito aqui.
latim pirum. ‘ Árvore que dá pêras’. Como esse tipo de árvore não é da região, pode-se
afirmar que tal denominação é decorrente de algum acontecimento que teve como
protagonista alguém com este apelido. Córrego Valadâo valado – do latim vallus – i ‘
depressão entre duas elevações’. Nota-se que antropônimos que nos remetem a acidentes
deveriam adotar outros nomes. Os chamados cristãos novos, ou judeus batizados escolheram
os nomes de família a partir deste leque de possibilidades, acidentes físicos, fauna e flora.
latim bestia, animal de carga. Esta expressão composta por forma verbal mais substantivo
parece indicar que no córrego os animais de carga ficavam atolados. Córrego Molha Pelego
– Molhar do latim molliare, embeber em líquido, banhar. Pelego – pele de carneiro com lã,
que pode ser colocada nos arreios para tornar o assento dos cavaleiros mais confortáveis.
Possivelmente esta expressão se refere à profundidade do córrego que ao ser atravessado pelos
cavaleiros, molhava as peles que lhes cobriam os assentos. Córrego Tomba Carro – Tombar
– de uma base expressiva tumbo que ‘indicaria o som causado pela pancada do objeto ao
cair’. Carro – do latim carrus, ‘veículo de transporte terrestre’. Neste caso a denominação
deve ter sido motivada pelo número de veículos que não conseguiram atravessar o córrego e
tombaram. Córrego Mortas de Fome – Não foi possível determinar os motivos que levaram
a esta denominação.
latim fundus – ‘ parte mais interior de um objeto, cavidade’. O aspecto físico do acidente,
deve ter sido o motivo de tal denominação. Córrego Grande – do latim grandis – ‘ vasto,
LITOTOPÔNIMOS são numerosas. Temos, então: Córrego Areia – do latim arena s.f
‘conjunto de partículas finas de rochas em decomposição que se encontram nos rios, no mar
origem de areia. A motivação destas denominações parece ser a existência em menor escala
terreno salobro ou salgado em área situadas em zonas de clima árido ou semi-árido onde
Córrego Barro Preto – origem pré-românica. ‘ Tipo de argila’; Preto – do. A denominação
deste acidente refere-se à existência do elemento barro, Preto do latim prettus – ‘ negro’ro e à
sua coloração. Assim “barro preto”, substantivo composto, é uma unidade semântica que
Kry’stallos – ‘ o que tem qualidade de cristal, vidro construído de três partes de sílica, duas
de óxido de chumbo e uma de potássio, o vidro muito límpido e puro’. Esta denominação
Mineral monoméleico, carbono puro, o mais duro e brilhante, pedra preciosa’. Haja vista a
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relativa abundância deste mineral, na região, é provável que esta denominação seja resultado
da existência do mineral no pequeno rio. Córrego do Ouro – do latim aurum-i, s.m ‘ metal
precioso, amarelo, denso, muito apreciado pelas suas propriedades específicas e suas
qualidades’ Assim como no topônimo anterior é possível que abundância do metal neste
acidente tenha sido a motivação para o topônimo. Córrego Ouro fino – origem idêntica ao
anterior. Fino – do latim finis, ‘ delgado, afilado, apurado, refinado’, adjetivo fino caracteriza
o ouro existente no córrego que talvez fosse pó ou pepitas muito pequenas. Córrego
lajeado+inh – diminutivo, o que contém laje. É possível que esta denominação se remeta à
aparência do leito ou das margens do córrego. Córrego da Lajinha – assim como o anterior,
ae derivado do grego petra, ‘ lugar ou rocha de onde se extrai pedra’. Neste caso há
possibilidade da existência de uma pedreira nas proximidades do acidente, o que deve ter
originado esta denominação. Córrego da Prata – do latim vulgar platta – ‘elemento químico
de número atômico 47, metálico branco, brilhante, denso’. Esta designação tem a ver com a
cor da água, que com o reflexo do sol dá a ilusão de ter a cor do metal. Córrego Terra do Sol
– do latim vulgar terra – território, região, solo. Sol – do latim sol – solis. Centro do sistema
planetário em torno do qual giram a Terra e demais planetas. Esta denominação exprime o
Varjão Comprido – Varjão – latim vargea, varj + ao – grande extensão de terra plana. Aqui
se percebe o tamanho do ambiente em que ocorre a denominação, pois além de ser uma
extensão grande de terra plana, seu comprimento deve ser maior do que o normal. Este
Neste caso a entidade geográfica foi particularizada pelo aumentativo do termo genérico
córrego em vez de receber a lexia diferencial que particulariza. Talvez o tamanho, maior do
que um córrego e menor que um rio, tenha sido a motivação que deu origem a toponimização,
Na taxe dos ERGOTOPÔNIMOS há: Córrego Avoadeira, avoar, voar (século XVI),
do latim volare. Designação comum aos peixes. Barquinho com motor de popa da região
grandes saltos, o que originou seu nome popular. A utilização dos barcos na região ou a
existência de tal tipo de peixes pode ter originado o topônimo. Córrego Avoadeira do Norte
movediça e que fecha sobre o cabo’. Este topônimo deve ter sua motivação em algum fato que
envolveu esse tipo de instrumento. Córrego do Capa – do latim tardio cappam, ‘ peça de
vestuário usada sobre toda a outra roupa como proteção’. Assim como o anterior, aqui a
motivação deve ter sido o uso de capa pelos peões boiadeiros. Córrego Carro Velho – carro
- do latim carrus, ‘ veículo de transporte terrestre’. ‘ Velho – remoto, antiquado, gasto pelo
uso’. Córrego Garrafa – do árabe garraf; vaso ordinariamente de vidro, com gargalo
melimellum. Do port. ‘ Marmelada, doce patoso de marmelo que passou às demais línguas
européias numa acepção mais ampla designando todo e qualquer doce pastoso de frutas’.
usada no garimpo. Segundo Éster de Viveiros (apud MIGUEZ, 1996, p. 97) o relator da
viagem do Marechal Rondon quando percorria o espigão entre o Rio das Mortes e o Rio
Barreiro diz: “... daí percorreram cinco léguas até o ribeirão Bateia’assim chamada pelo
Marechal Rondon porque nele houvera mineração de diamantes”, ou seja, Rondon encontrou
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vestígios efetivos de garimpagem antes de sua expedição chegar ao local, o que confirma as
versões das entradas e bandeiras na região. Portanto a motivação toponímica está clara.
Ribeirão Boqueirão – do latim busccam, ‘ cavidade na parte interior da face pela qual os
homens e outros animais ingerem os alimentos’. A aparência do ribeirão deve ter levado o
nomeador a designar o acidente desta forma. Ribeirão Paredão Grande - do latim vulgar
paretem de paries – eles, ‘ obra de alvenaria ou de outro material que forma os vedos
desmedido’. Esta denominação parece ser uma catacrese, pois atribui a uma elevação reta,
construída pela natureza o sentido de algo semelhante construído pelo homem. Ribeirão
Insula – do latim insula – ‘ pequena ilha’, a possível motivação é a existência de uma ilha no
ribeirão às margens do qual foi construído inicialmente o Presídio de Ínsua, o que não se sabe
Ribeirão Passa Vinte – do latim passare, atravessar, transpor, exceder. Do latim vigniti,
numeral. A motivação deste topônimo parece ser decorrente de algum fato acontecido nele.
Sabe-se que aqui foi implantado um presídio na época da guerra do Paraguai, mas apenas se
tem notícia de sua existência. O povoado homônimo da época, hoje é denominado General
Carneiro.
Classificados na taxe dos FITOTOPÔNIMOS estão: Ribeirão Pindaíba – do tupi –
Pinda-yba, a vara do anzol. Sendo a descrição do ambiente a motivação dos índios, este
acidente deveria possuir a forma da vara do anzol ou ter em suas margens o vegetal que
propicia a fabricação das mesmas. Ribeirão Taquaral – Esta lexia foi analisada no item
Córrego.
motivação deste topônimo parece decorrente da existência de uma ponte que foi destruída
pelo fogo.
Já para a taxe dos ZOOTOPÔNIMOS, temos: Ribeirão Galheiro – esta lexia foi
gorgulium, fragmento de rocha que contém ouro. Este topônimo deve espelhar a existência de
congregação salesiana, esta denominação pode ser atribuída a uma homenagem ao fundador
da congregação.
Araguaia já contém em si o significado de rio, ou seja, rio das araras mansas, adota como a
base desta pesquisa a obra de Teodoro Sampaio, mas achamos necessário fazer referência a
esta nova interpretação, que difere da seguida pelo insigne toponimista. Conforme se pode
da família dos psitacídeos, que habitam a região do rio. Rio das Garças – conforme foi
culturas européia e indígena, pois retrata a maneira de ver, ou melhor, descreve o ambiente, o
que era a principal característica para nomear um acidente pelas diversas tribos que habitaram
mortis; s.f, fim da vida, falecimento, termo destruição.A denominação Mortes2 é resultado de
uma lenda que diz que no inicio do século XVII, partiu de Cuiabá um grupo de aventureiros
Em determinado ponto desse rio havia belíssimas cachoeiras e nesse ponto fincaram
que ali se estabeleceram. A discórdia provocada pela cobiça originou uma disputa violenta e a
sofreram ataque das tribos indígenas e os sobreviventes acabaram sendo vítimas dos índios,
A história também conta que às margens deste rio, índios da tribo Xavante
salesianos que estavam em missão de catequese. Parece que também o coronel inglês Fawcet
foi assassinado junto com sua comitiva às margens do rio. Portanto, a motivação toponímica
2
O Rio das Mortes nasce na serra de São Vicente, Cuiabá, Mato Grosso, onde é chamado de Manso pelo aspecto
sereno de suas águas.
Há apenas um exemplo de FITOTOPÔNIMOS: Rio Pindaíba – esta lexia foi
analisada no item córrego. Pela semântica tupi esta denominação pode ser justificada pela
abundância da espécie vegetal de onde se fazem as varas para os anzóis ou pela forma do rio.
Pode ser também motivada pela forma do rio, que, na visão indígena, pode parecer uma vara.
latim currens – entis, part de currere, ‘que corre’. A motivação que justifica essa
religiosidade está patente neste topônimo, pois ele se repete em diversos outros acidentes, não
com influência do latim e mudança de gênero, s.f, ‘ caverna ou gruta, geralmente formada
por blocos de pedra, cova’, podemos dizer que é própria do colonizador europeu. Enquanto
acidente físico esta lexia aparece nas seguintes taxes: ETNOTOPÔNIMO Furnas do Mineiro
e um adjetivo ligado à lexia geral pela preposição de e o artigo o percebe-se que a motivação
4.1.5 - O acidente LAGOA – do latim lacuna de lacus, s.f, ‘ porção de água, estagnada,
cercada por terra está ligado às lexias diferenciais correspondentes às seguintes taxes:
negra na região. Lagoa das Éguas – do latim equa-ae ‘ fêmea do cavalo’. Pode-se atribuir
esta denominação a algum incidente ocorrido com esse animal, nessa lagoa. Lagoa dos
Veados – do latim venatus, ‘ mamífero da família dos artiodactilos’. Assim como no córrego
cristãos novos, que no tempo de Pombal tiveram de renunciar aos nomes judeus para
pantanal 1813. Região inundada por águas estagnadas. A lexia diferencial descreve o
aspecto físico onde se situa o acidente. Pode-se deduzir que houve a junção de duas
colonizador.
latim vulgar cova. Coveiro 1813. Cova+ eir – profissão de quem faz covas. Pode-se deduzir a
existência de alguém que fazia covas, nas proximidades da lagoa, ou a existência de várias
Mato Grosso do Sul lixeira é a denominação de cajueiro bravo, a casca e a folha desta árvore
servem para lixar. Esta denominação parece ser motivada pela existência de árvores deste
Há ainda ocorrências que não se enquadram em nenhuma das taxes propostas por Dick (l990).
Assim temos: Lagoa Escondida – do castelhano sconduda. ‘ Que se escondem’. Embora
ainda não haja uma taxe para tal topônimo, parece que ele se relaciona com a localização
geográfica ou com a vegetação ou acidentes que não permitem a sua fácil localização.
4.1.6 - O acidente MORRO está ligado à taxe dos: ZOOTOPÔNIMOS: Morro Quero-quero
- [T. onom.] s.m. Brás. Ave caradriiforme, da família dos caradriídeos, do gênero
Belnopterus, Vive nas várzeas, praias marítimas, me onrgens de rios, lagoas, brejos
item córrego
grande dimensão vertical’. Esta designação descreve o aspecto físico do acidente, o que
designação foi analisada no item Furnas. Percebe-se que o topônimo teve como motivação a
taxionomia adotada para base da análise.Temos Cachoeira DNER – Esta sigla significa
por haver um acampamento do referido órgão público nas imediações da cachoeira, ou porque
4.1.9 - Para o acidente SERRA temos: HIDROTOPÔNIMOS: Serra Córrego Fundo – estas
lexias foram analisadas no item córrego. Aqui a motivação está ligada a outro acidente, ou
seja, essa serra deve ser atravessada pelo córrego, ou ser a localização de sua nascente. Há,
derivado do grego rhogkiao - ‘respirar ruidosamente durante o sono’. Este topônimo tem sua
origem nos barulhos parecidos com roncos que muitos dizem ouvir quando estão na serra.
Além disso, o acidente tem sua história marcada por aventuras, lendas e mistérios, dentre eles
a expedição do Coronel Fawcet que buscava uma entrada para a Atlântida, fato que ainda atrai
desconhecida, ‘ instrumento que serve para cortar’. O aumentativo é usado para designar
instrumento bem maior que as facas, e que servem para abrir caminho pelas matas. É difícil
inferir algo sobre o topônimo, mas é possível que tenha ocorrido um incidente que envolvesse
um facão.
Quanto à taxe dos SOCIOTOPÔNIMOS, temos: Serra Fazenda Duas Pontes – este
físico para o acidente humano, que revela a proximidade este acidente em relação ao outro.
analisado no item córrego e parece referir-se, assim como o outro, à existência de muitas
taquaras.
do Brasil que autorizou o fracionamento dos bilhetes da loteria. Pela semântica do topônimo
é difícil perceber qual teria sido a motivação. A hipótese é que alguma moça ou senhora teve
4.1.11 - Sobre o acidente VALE temos: ANIMOTOPÔNIMOS – Vale dos Sonhos - do latim
vista o misticismo que envolve a região do Roncador, que trouxe vários pesquisadores à
região, inclusive Fawcet, é possível que esta denominação seja motivada pelo fato de ter sido
esotéricos acreditam ter pertencido à civilização atlante que se situava, antes da submersão,
naquele lugar.
Outros acham que é o início de um túnel que liga a Serra do Roncador aos Andes, ou
melhor, os índios Xavantes aos índios dos Andes, descendentes dos Incas. Chegam até a
sugerir que o nome Xavante significa chave dos Andes, guardiãs dos Incas. MIGUEZ (1996 p.
275).
61
4.2.1 -Iniciamos a análise destes acidentes pelo acidente CIDADE, por ser o mais importante.
pelos cursos d’água e depositados na foz dos rios’. Do – contração da preposição de+o, no
caso indica que pertence e traz implícita a lexia rio. Garças – do pré-romano e adaptado ao
latim lusitano ‘gartia’ que designa aves cicoformes, da família dos ardeídos que são
Neste caso, o município e sua sede são denominados pelo nome do curso da água que
corta o seu território. Morfologicamente é composto por dois substantivos, uma preposição e
um artigo masculino singular. Este tipo de topônimo, segundo a taxionomia de Dick (1997) é
elemento formador, ou seja, Barra, termo genérico que engloba simultaneamente a categoria
denominação.
É interessante notar que foi o acidente Rio que originou o nome do município e da
cidade, pois esta se localiza na foz ou barra do Rio das Garças e só passou a ter essa
denominação em 1948, enquanto que há notícias do Rio das Garças desde a chegada das
bandeiras.
O local que originou a cidade teve como primeira denominação, Pedra da Barra
Cuiabana. Esta denominação se deve ao fato da existência de uma pedra encontrada nesse
local na qual existia a seguinte inscrição ‘ SS. ARRAYA 1871’ que, segundo a lenda, era o
marco do lugar onde Simeão da Silva Arraya, ao regressar da guerra do Paraguai juntamente
com outros soldados, escondeu uma garrafa com diamantes, que nunca foi encontrada.
vieram outras, como Registro do Araguaia, Santo Antônio do Amarante, Barra do Garças de
Mato Grosso e, por último, apenas Barra do Garças. Como é tradição na organização
administrativa Brasil, no município em análise existe apenas uma cidade, sede do município.
4.2.2 - No que concerne ao acidente FAZENDA - do latim facenda por facienda; propriedade
HIDROTOPÔNIMOS Fazenda Água Azul; Fazenda Água Bonita; Fazenda Água Limpa;
Fazenda Água Quente; Fazenda Córrego Fundo; Fazenda Córrego do Meio; Fazenda
Córrego Bateia: Fazenda Córrego dos Cavalos; Fazenda Cabeceira do Ouro Fino;
Fazenda Lagoa Bonita; Fazenda Rio Bonito; Fazenda Rio Claro; Fazenda Rio Pindaíba.
Estes topônimos tiveram como motivação as denominações dos acidentes físicos que
‘paz, tranqüilidade, porção mais ou menos considerável de água que, no mar ou num rio,
penetra em recorte curvo do litoral ou da margem e forma uma espécie de pequena enseada
tranqüila’.
Neste caso a motivação pode ser devida à existência de enseada tranqüila ou mesmo
Fazenda Furnas; Fazenda Campo Alegre; Fazenda Boqueirão; Fazenda Cova Funda;
As etimologias destas lexias já foram analisadas nos itens córrego e vale. O que se
verifica é que o meio físico, ou melhor, as denominações dadas aos acidentes físicos se
transferem para os humanos, o que parece revelar que, para muitos proprietários dessas
fazendas, é mais importante localizá-las no espaço, pois essa localização pode favorecer os
interesses dos mesmos. Fazenda Bocaína – Boca – do latim buccam, ‘depressão numa
serra. Aqui a forma do terreno foi à motivação que deu origem à denominação. Podemos
afirmar que aqui se fundem duas cosmovisões diferentes: a o índio, descrição do ambiente, e a
bonito, que acha que o campo tem. Fazenda Campo Formoso – Assim como no anterior esta
denominação descreve o ambiente em que está situado o acidente humano, assim como a
acidente humano de outros, cuja denominação se inicia por campo. Fazenda Monte Alegre –
do latim mons, montis, ‘ elevação considerável de terreno acima do solo’ que a rodeia. A
motivação deste topônimo parece estar ligada à existência de uma elevação que por motivos
especiais devia trazer sentimento de alegria ao seu denominador. Fazenda Morrinho - Assim
como no anterior, a existência de uma elevação menor deve ter originado a denominação.
Fazenda Planalto – de plano+alto. Como o município está localizado numa região com
vários planaltos. Esta denominação pode ser atribuída à localização do acidente. Fazenda
Pontal – ponte – do latim – ‘extremidade. Esta denominação pode ter sido motivada pela
motivou o topônimo do acidente humano. Fazenda Vale do Ipê – Neste caso, assim como no
anterior, a motivação deve ter sido a localização do acidente humano, além da existência de
acidente como também o desejo do eldorado. Fazenda Vale Rico – Assim como os
anteriores, este topônimo demonstra tanto a possível riqueza material já existente no lugar
como a que é possível produzir nele. Fazenda Vale Verde – Além da localização geográfica,
Fazenda da Divisa – Assim como o córrego, este acidente deve estar localizado na divisa de
anteriormente, no item rio. Fazenda Jandaia – [do tupi ñ’ndai]. s.f. Bras. Designação
comum às espécies das aves psitaciformes da família dos psitacídeos. Mais uma vez a visão
indígena está presente neste topônimo. Fazenda Beija-Flor – [beija+flor], S.m, Bras.
rápido, e se alimentam de néctar de flores. Esta denominação parece ser motivada pela
existência, em quantidade considerável deste tipo de ave, designado também pela beleza de
seu vôo. Fazenda Jataí – do tupi – yata’i – Árvore da família das leguminosas (Hymenaea
jaty), de cabeça e tórax pretos, abdome escuro. Nidifica em árvores ocas, nos interstícios de
pedras, em rochas e muros. É possível que nome da abelha seja motivada pela árvore, ou
dilacera’. Este topônimo parece indicar a existência de animais dessa espécie na área onde foi
analisada no item córrego. Há, porém, um acréscimo a fazer. O seu proprietário, autor
que quando ele e seu sócio compraram 1296 hectares na região, resolveram dar o nome de
gameleira, porém não explica a razão de tal nomeação. Depreende-se que deve ter sido pela
existência das árvores do mesmo nome ou pela denominação do córrego que corta a fazenda.
Fazenda Bacuri – Esta lexia já foi analisada no item córregos. Fazenda Bacurizal – Híbrido
onde há muitas árvores de Bacuri existência de lexia para denominar esse tipo de vegetal
levou à manutenção da lexia indígena mais o sufixo al. Fazenda Buriti – já foi examinada no
item córrego. Fazenda Buriti alegre – Híbrido – tupi+alegre. Estes topônimos já foram
analisados no item córrego. Fazenda Tambori – Ta-mbo-ry – ‘tronco que faz mamar; tronco
escorrente’. Fazenda Taquaral – Híbrido. Taquara+al – ‘tronco ou haste furada’. Esta lexia
já foi analisada no item córrego. Fazenda Cambaúva – esta lexia já foi analisada no item
Jacarandá – do tupi iakará na. Nome comum a diversas plantas das famílias das
leguminosas e das bignoniáceas que formam excelente madeira para móveis. Assim como em
outros casos, o nome deve ter sido atribuído em virtude da abundância desse tipo de árvore na
que outrora habitava o litoral brasileiro e hoje é bastante raro. Possivelmente o denominador
gaúcho de origem incerta, habitante da zona rural do Rio Grande do Sul e por extensão de
todo o estado Rio Grandense. Fazenda Paraguaia – do tupi Paraguay, natural do Paraguai.
Este topônimo remete ao sentimento que seu denominador expressa em relação ao Paraguai,
Fazenda Akegaua – esta variação não consta em nenhum dicionário consultado. Porém
Akegawa é de origem japonesa. Pode-se deduzir que por ignorância do idioma japonês,
alguém quis homenagear a família Akegawa e o fez, mas a escrita foi deformada.
amena que se situa entre o inverno o verão’. É tida como renovadora da vida, da esperança e
de juventude.
Irmãos – Possivelmente esta denominação teve como origem o fato de seus proprietários
serem irmãos. Fazenda Duas Barras - Estas lexias já foram analisadas em outros itens. Há
córregos que deságuam num mesmo riacho. Fazenda Duas Cachoeiras – Este topônimo
parece ter motivação idêntica às primeiras. Fazenda Duas Pontes – estas lexias já foram
analisadas no item córregos. Fazenda Três Marcos – Assim como as anteriores, esta
tupã – ‘deus’, ‘ gênio do trovão e do raio’. Esta denominação parece motivada por crenças
religiosas não européias. Tanto pode ser uma homenagem aos índios através de seu Deus
Camilo (do); Fazenda Daniella; Fazenda Jerônimo; Fazenda Juliana; Fazenda João
Firmino; Fazenda Luciana; Fazenda Montana; Fazenda Otacílio José dos Santos;
Fazenda Macalé; Fazenda Marta Rocha; Fazenda Marina; Fazenda Pereira; Fazenda
Pompeu; Fazenda Salgorino; Fazenda Sanarda; Fazenda Valadão que retratam a vontade
caso que merece atenção especial: Fazenda Pabreulândia – Esta denominação é a junção do
nome Paulo Abreu e o sufixo lândia de origem inglesa e significa “terra de origem”. Segundo
Miguez (1996, p.263) Paulo Abreu, então senador da República, em 30 de janeiro de 1970
organizou a Pabreulândia Cia Agropastoril do Brasil Central S/A. Note-se que para o senador,
nascido pobre, que começou a trabalhar com 15 anos como caixeiro-viajante, ver o seu nome
nas empresas que criou talvez lhe fizesse bem, pois o sentimento de autoconfiança é próprio
do ser humano, pois segundo Dick (1990, p.05) “[...] nos tempos históricos, sabe-se que os
lugares tomavam os nomes de seus possuidores, numa valorização do indivíduo sobre a terra e
o solo”.
denominador que pode estar prestando homenagem a alguém de sua família ou convívio. E
colocar uma marca, no caso, o nome significa delimitar o espaço, para mostrar quem é o
proprietário. Porém no caso de Marta Rocha pode-se verificar que o denominador é admirador
da Miss Brasil de 1954, e que ficou em segundo lugar no concurso de Miss Universo no
mesmo ano, porém sua beleza continua sendo reverenciada até hoje.
Areado; Fazenda Barreirinho; Fazenda Barro Preto; Fazenda Brejão; Fazenda Gorgulho;
denominação parece ser uma homenagem à Seresta Chão de Estrelas. Fazenda Ouro Fino –
Esta lexia já foi analisada no item córrego. Fazenda Ouro Verde – Neste caso a referência à
produtividade do solo está patente no substantivo ouro e no adjetivo verde, pos demonstra que
através da agricultura e com menor esforço humano se pode obter riquezas tão valorosas
quanto o ouro; Fazenda Pedra Branca; Fazenda Rochedo. Nestas denominações estão
presentes os elementos naturais: pedra e rocha, o que nos leva a deduzir que a existência
denominador, mas também, a religiosidade, especialmente dos católicos que expressam seus
Cristo Rei; Fazenda Cristo Redentor; Fazenda Rosário; Fazenda Santo Reis.
Santa a padroeira do Brasil, a atribuição de seu nome ao acidente revela respeito e veneração
de seu proprietário à santa. Fazenda Nossa Senhora da Guia; Fazenda Santa Adélia;
Fazenda Santa Alice; Fazenda Santa Cândida; Fazenda Santa Clara; Fazenda Santa
Elisa; Fazenda Santa Eugênia; Fazenda Santa Gabriela; Fazenda Santa Maria; Fazenda
Santa Rosa; Fazenda Santa Tereza; Fazenda Santa Helena; Fazenda Santa Luzia;
Fazenda Santa Maria; Fazenda Santa Adelina; Fazenda Santo Antonio; Fazenda São
Bento; Fazenda São Benedito; Fazenda São Domingos; Fazenda São Jerônimo; Fazenda
São João; Fazenda São Joaquim; Fazenda São José; Fazenda São Judas; Fazenda São
Luiz; Fazenda São Manoel; Fazenda São Marcos; Fazenda São Miguel; Fazenda São
Sebastião.
acidentes humanos, demonstra a fé com que a maioria das famílias que mudou de outros
estados para este, que na época das grandes migrações tinha como lema ‘estado esperança’, se
entregou à proteção dos mesmos, para conseguir vencer longe de seu torrão natal.
69
recolhe o gado’. Talvez tenha havido, ou haja, um pequeno curral na fazenda, o que levou a
essa denominação. Fazenda Recanto - do latim cantus. ‘Lugar retirado ou oculto’. Nesta
tranqüilo.
território brasileiro. Este topônimo é, sem sombra de dúvida, uma homenagem aos inúmeros
grupos de homens que se aventuraram pelo Brasil para alcançarem seus sonhos, que
denominação demonstra o afeto de seu denominador para sua pátria. Fazenda Paranavaí –
do tupi paraná – uay – rio Paranaguá, topônimo do Paraná. Esta lexia demonstra o afeto que
o migrante teve com sua terra natal ao nomear o acidente humano, repetindo o nome da
cidade. Fazenda Samoa - Esta denominação deriva de outro topônimo, ilhas Samoa,
pode indicar a existência natural de um descendente de tal ilha, que deve ser o dono da
fazenda. Fazenda Terra do Sol – Este topônimo composto descreve o ambiente físico do
lugar, bem como sugere uma vida melhor. Fazenda Vera Cruz – Primeira denominação da
terra brasileira. Parece ser uma homenagem àqueles que aqui chegaram e a denominaram.
Fazenda Panorama – pan+orama – cena, cenário, horizonte, paisagem. Este topônimo reflete
constelação era orientadora dos navegantes, antes dos satélites, e ao mesmo tempo símbolo
do Hemisfério Sul, o que parece ser um motivo forte para esta denominação, numa mesma
região onde ainda há necessidade de orientação. Fazenda Estrela do Vale – do latim Stella, ‘
denominação comum aos astros luminosos que mantêm praticamente as mesmas posições
relativas na esfera celeste e que apresentam cintilação’. Sendo estrela astro luminoso, esta
denominação mostra que seu denominador espera ou esperava que esta fazenda fosse a mais
luminosa, próspera, do vale. Fazenda Sol Vermelho – Sendo o Sol um dos fatores
do latim fortis. Esta denominação pode ter duas interpretações. A primeira diz respeito à
existência de uma edificação muito bem protegida, a segunda pode ser atribuída às condições
físicas e psicológicas de seus denominadores. Fazenda Mocambo – Esta lexia foi analisada
região, guia’. Esta denominação parece indicar que seu denominador foi um dos pioneiros,
por isso é conhecedor do lugar que pôde, como tal, servir de guia para os que vieram depois.
Fazenda Pousada das Garças – Conforme a designação indica, neste lugar as garças devem
Esta lexia foi analisada no item córrego. Fazenda Bateia – Lexia analisada no item córrego.
incitar a montaria; Prata – elemento, metal de transição. Neste topônimo podemos observar
a influência da literatura de cowboy americano, cujo desejo era ter esporas de prata, símbolo
tanto pode ser indígena como do colonizador que pode ter desejado homenagear os
item córrego.
– O desejo de melhorar a situação está expresso neste topônimo formado por adjetivo
+substantivo. Fazenda Boa Vista – Este topônimo descreve o ambiente físico percebido pelo
denominador não indígena. Fazenda Bom Jardim – O substantivo jardim, ‘ local onde se
cultivam plantas que florescem’, adjetivado por bom, também demonstra a vontade de seu
denominador de colher ‘flores’ aqui no sentido conotativo do termo, para si e sua família.
Fazenda Chalon – Saudação dos judeus (Shallon) que significa “tudo de bom”. Assim ao
escolher esta lexia para nomear sua propriedade, o denominador expressa seus desejos, de
‘favorável’, possibilidades de ser famosa por sua produção. Fazenda Formosa – ‘Forma ou
aparência agradável’. Esta lexia deve ser o desejo do denominador: a beleza de sua
fracasso. ‘Bens materiais. Aqui também está presente o desejo do denominador. Fazenda
Maravilha – Esta lexia foi analisada no item córrego. Fazenda Marupiara - Do tupi
Marupi’ara, diz –se ‘ de ou pessoa que tem sorte na caça ou na pesca, pessoa que se sente
feliz, que foi favorecida pela sorte’. Este topônimo sintetiza a esperança de seu denominador.
Parece que a escolha do topônimo, embora seja indígena, não foi usada pelos índios e sim por
brancos que a desejam. Fazenda Sonho Alegre – Este topônimo expressa as esperanças e as
número expressivo de combatentes. Esta denominação pode ser atribuída à patente obtida por
seu proprietário. Fazenda Dr. Ivan – Este topônimo parece homenagear o portador desse
título, ou perenizar a existência do proprietário, caso este seja seu nome. Fazenda Princesa
do Vale – O título de princesa atribuído à fazenda, mostra que esta é uma das mais
importantes da região. Fazenda Senhor Neguinho – do latim Senior, negro do latim niger,
nigro+inho. Neste topônimo há, aparente, uma contradição, os negros eram escravos e não
senhores e como tal não tinham o direito de usar esse tratamento. Porém como essa
denominação foi atribuída por volta de 1976 (Miguez, 1976, p. 230) a contradição não
apresenta tanta força. O proprietário da fazenda Manoel Borges, conhecido por Manoel Preto,
Manuel Negro por sua tez escura, viu sua fazenda denominada por Senhor Neguinho. Este
diminutivo parece ser carinhoso, pois ele defendia a distribuição de terra para quem nela
ocorrência parece revelar um pacto.Talvez seja uma nova sociedade ou uma promessa feita ao
Criador. Fazenda Nova Aurora – Sendo a aurora o começo do dia e, portanto, da esperança
este topônimo revela os anseios do denominador. Fazenda Nova Esperança – pode ser a
Fazenda Nova França – Há, neste caso, uma alusão específica à França, que durante o
Século das Luzes foi o símbolo da liberdade. Possivelmente o denominador quisesse, além de
homenagear o país, aludir à liberdade. Fazenda Nova Lima; Fazenda Nova Maravilha;
proprietários fizeram a outros acidentes que tanto podem ser cidades ou até mesmo
propriedades particulares.
73
4.2. 3 - RETIRO
Devido à grande extensão das áreas ocupadas pelas fazendas em Mato Grosso,
existem construções, longe da sede, que são denominadas de retiro, cuja finalidade é dar
abrigo aos trabalhadores, possibilitando um descanso mais longo do que aquele que teriam se
fossem para a sede. Assim ocorrem as seguintes taxes ligadas ao acidente RETIRO –Origem
latim âncora, derivado do grego agkyra, peça que agüenta a embarcação no fundeadouro.
Fazenda Duas Pontes – Esta lexia já analisada no item córrego. Retiro Fazenda Lajeado –
Lexia analisada no item córrego. Retiro Fazenda Madeira – do latim matéria – tronco de
árvores. Devido à grande quantidade de florestas da região, esta denominação deve ter sido
motivada por esse fato. Retiro Fazenda Nossa Senhora Aparecida. Retiro Pabreulândia –
Esta lexia já foi analisada no item fazendas. Retiro Fazenda Paraná – Esta lexia foi
analisada no córrego. Retiro Florestal da Fazenda Pau Brasil – Esta denominação pode
estar relacionada à existência de plantação dessa espécie ou vegetal, que foi responsável pelo
nome do país. Retiro Fazenda Pitomba – Esta lexia já foi analisada no item córregos. Retiro
Fazenda Santa Catarina – Esta lexia foi analisada no item fazendas. Retiro Fazenda São
Domingos – Analisada no item córrego. Retiro Fazenda Córrego – Esta lexia foi analisada
Quanto aos FITOTOPÔNIMOS, temos Retiro Taquaral – Esta lexia já foi analisada
no item córregos. Retiro Palmito – Esta lexia já foi analisada no item córregos.
Só existe uma ocorrência de ETNOTOPÔNIMO: Retiro Paulistinha – que se refere a o
4.2.4 - ESTÂNCIA
semelhante à da fazenda, mas talvez a origem de seu denominador tenha levado à escolha
desta lexia que, além de designar o tipo de acidente, se incorporou ao próprio nome.
4.2.5 - Quanto ao acidente PORTO – do latim portus-us.' lugar da costa ou em um rio, lagoa
etc. que, por oferecer às embarcações certo abrigo, lhes permite fundear e estabelecer
contato com a terra. A esta lexia está ligada apenas uma lexia diferencial, a qual não se
região em estudo, esta lexia denomina também região habitada por índios. Assim temos:
HÁGIOTOPÔNIMO: Colônia São Marcos – Sendo uma reserva indígena, este topônimo
reforça a denominação da igreja católica sobre o índio. Esta reserva é de Xavantes, mas não é
Monte da Arraia. Este é um dos poucos topônimos que ainda preservam a língua do povo que
ocupava a região.
4.2.7 - Há acidentes humanos que embora tenham características de fazendas, onde são
criados vários tipos de gado e também se dedicam à agricultura, não são denominados de
fazenda e têm os nomes das empresas que os possuem. Como exemplo temos a lexia
AGROPASTORIL, que é composta por dois morfemas lexicais – agro e pastoril e a lexia
agropecuária composta por agro +pecuária e do latim pecuaria-ae, relativo a gados. A origem
75
da primeira é grega, agros que passou para agri no latim e que significa campo e pastoril do
brasileiro.
desta denominação é evidente a homenagem que seu proprietário faz à cidade ou município
em se localiza o acidente.
[]
CONCLUSÃO
Toponimização, 1, 0,22%.
predominam sobre os de natureza física. Além, disso, o corpus levantado demonstrou que as
Este fenômeno pode ser devido à mobilidade dos tupis, como também à presença dos
mesmos nas expedições que adentraram ao território do Centro Oeste. Além disso, o caráter
predatório das bandeiras que buscavam os indígenas para escravizar e a falta de respeito e
desconhecimento das línguas indígenas apagou, para sempre, as denominações atribuídas aos
77
acidentes físicos, substituindo-as por outras denominações que podiam ser na língua do
substituíram os topônimos das línguas autóctones por outros de sua própria língua,
associativos como base de sua denominação toponímica como, por exemplo, Pindaíba,
taxe dos Hidrotopônimos, por exemplo, vários acidentes pelas suas características – Córrego
Água Limpa, Córrego Água Azul; Fitotopônimos: Córrego Cambaúva, Córrego Buriti,
que, embora os nomes dados pelos indígenas, na sua maioria, se tenham perdido, a forma de
colonizador não tinha em seu plano de expressão, nenhum elemento capaz de representar o
é interessante verificar que na nomeação do acidente córrego, num total de 133, há apenas
dois Hagiotopônimos o que parece refletir a falta de tempo daqueles que se embrenhavam
pelo sertão de se dedicar à religião. Assim as denominações que revelam essa faceta da cultura
Já no item Rios, essa taxe aparece apenas uma vez – São Marcos – levando a inferir
a existência de missionários que devem ter mudado a primeira denominação do acidente, que
devia ser na língua xavante, nomeando-o, segundo sua cultura religiosa, inclusive transpondo
a mesma denominação para outro tipo de acidente, no caso humano, Reserva Indígena São
sofrido pelos indígenas, não só quanto à sua língua, mas também enquanto seres humanos.
físicos se baseia na descrição do ambiente em que se localiza, por exemplo, Córrego Grota
As ocorrências dos topônimos das taxes Hagio e Hiero são de apenas 12,53 % do
total dos acidentes físicos. Nota-se que, no caso dos Fitotopônimos, a lexia Buriti aparece
várias vezes. Esse tipo de vegetal é formador das matas ciliares que acompanham as baixadas
ecossistema existente. Denominar esses acidentes geográficos com essa lexia é, de certa
denominação dos acidentes físicos que estão por perto ou cortam seus limites, por exemplo,
Fazenda do Rio Pindaíba, num evidente desejo de seus proprietários, no caso das fazendas
79
cerca de cinqüenta anos, enquanto a maioria dos acidentes físicos foi denominada há muito
em que os nomes dados pelos primitivos habitantes, foram substituídos pelos dos invasores,
ocorrências das denominações dos acidentes humanos fazendas. Em conversas informais com
dois proprietários dessas fazendas Santa Elisa e Santo Antônio foi obtida a informação sobre a
motivação de tais denominações: a primeira foi homenagem à mãe do atual proprietário a sua
protetora, enquanto que a motivação da segunda está ligada à promessa feita pelo proprietário
origem, ou de outras propriedades. Este tipo de ocorrência surge quando existe a necessidade
Face aos dados apresentados pode-se afirmar que as línguas indígenas regionais estão
Sendo estes mais recentes pode-se inferir que a toponímia da região sofreu perdas
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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FERREIRA, J.C.V. Mato Grosso e seus municípios. Cuiabá: Secretaria de estado da Cultura,
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HOUAISS, A., Villar, M.S. Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva,
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Mapa do Brasil. Base Cartográfica de Mato Grosso. Escala 1:100. 000. Cuiabá:
INTERMAT: fls.: 281, 282, 283, 284, 297, 298, 299, 300, 301, 302, 303, 316, 317, 318, 319,
320, 330, 331, 332, 1976.
SAPIR, E. Língua e Ambiente. Lingüística como ciência. Ensaios. Trad. Joaquim Mattoso
Câmara Jr. Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica, 1969.
SAMPAIO, T. O Tupi na geografia nacional. 5. ed. São Paulo: Editora Nacional, 1987.
SANTOS, Milton. Pensando o espaço do homem. 4.ed. São Paulo: Hucitec, 1997.
______. A natureza do espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. 3.ed. São Paulo:
Hucitec, 1999.
VARJÃO, V. Barra do Garças: migalhas de sua história. Brasília: Senado Federal, Centro
Gráfico, 1985.
ANEXO A
ANEXO D
Figura 2
60 Animotopônimo
Antropotopônimo
Astrotopônimo
50 Axiotopônimo
Cardinotopônimo
Corotopônimo
Cromotopônimo
40 Cronotopônimo
Dimensiotopônimo
Percentagem
Dirrematotopônimo
Ecotopônimo
30 Ergotopônimo
Etnotopônimo
Fitotopônimo
20 Geomorfotopônimo
Hagiotopônimo
Hidrotopônimo
Hierotopônimo
10 Historiotopônimo
Hodotopônimo
Litotopônimo
0 Metereotopônimo
Mitotopônimo
Classificação Morfotopônimo
Numerotopônimo
Poliotopônimo
SC
Sociotopônimo
Somatotopônimo
Toponimização
Zootopônimo
ANEXO E
Fichas lexicográficos-toponímicas
Ficha lexicográfico-toponímica
Etimologia: Rio – [do latim rivu (riu no latim vulgar).] S.m: Araguaia – do tupi Ará-guaya,
Entrada Lexical: “... Curso d’água natural, de extensão mais ou menos considerável, que desloca de
um nível mais elevado para outro mais baixo...”; “os papagaios mansos”.
Estrutura Morfológica:
Histórico:
Informações Enciclopédicas:
Contexto:
Fonte: SAMPAIO, T. O tupi na geografia nacional. 5.ed. São Paulo: Editora Nacional, 1987. .
CUNHA, A G. Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa, 2ª ed. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1977.,
Pesquisador: Florisvaldo F. dos Santos – R evisor:Prof ªDrª Maria Vicentina de P.A Dick
Data da Coleta:
99
Ficha lexicográfico-toponímica
Histórico: “A denominação mortes é resultado de uma lenda.... Como ficaram em número reduzido,
sofreram ataque das tribos indígenas e os sobreviventes acabaram sendo vítimas dos índios..."
Informações Enciclopédicas:
Contexto:
Fonte: CUNHA, A G. Dicionário Etimológico Nova Fronteira, 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1977. SAMPAIO, T. O tupi na geografia nacional. 5.ed. São Paulo: Editora Nacional,
1987
Pesquisador: Florisvaldo .F dos Santos - Revisor: Prof ªDrª Maria Vicentina de P.A Dick
Data da Coleta:
Ficha lexicográfico-toponímica
Orientadora: Profª.Drª. Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick (DLCV-DL/USP)
Entrada Lexical: Complexo demográfico formado social e economicamente por uma concentração
populacional não agrícola; Pedaço ou desembocadura de rio, bancos ou coroas de detritos carregados
pelos cursos d’água e depositados na foz dos rios; Designa aves cicoformes, da família dos ardeídos
que são aquáticas.
Histórico:
Informações Enciclopédicas:
Contexto:
Fonte: CUNHA, A G. Dicionário Etimológico Nova Fronteira, 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1977.
Pesquisador: Florisvaldo . dos Santos Revisor: Profª Drª Maria Vicentina de P. A . Dick
Data da Coleta: