Mappa de Portugal Antigo e Moderno

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KAIS.KÖN.

HOFBIBLIOTHEK

68.201 - B

ALT
63
1
.
РА

4.

{
1
E 多
MAPPA

D E

: PORTUGAL

ANTIGO , E MODERNO

PELO PADRE

JOAO BAUTISTA

DE CASTRO ,

Beneficiado na Santa Bafilica Patriarcal de


Lisboa .

TOMO TERCEIRO .

PAR TE V.
Neſta ſegunda ediçaõ reviſto , e augmentado pelo ſeu meſmo Author ,
e recopila em Taboas Topograficas as Povoações principaes da
Extremadura , com a deſcripcaó exacta da Cidade deLisboa ,
c feu Termo , antes e depois do terremoto ; a que ſe ajun ,
ta o Roteiro terreſte do meſmo Reino , com as ders
rotas por trayeſſia .

LISBO A ,
9
Na Officina Patriarcal de Franciſco Luiz Ameno.

M. DCC . LXIII .
Com as licenças neceſarias , e Privilegio Real.

ES201 B.
~
Della

Libreria

Bellis o mi. -
ADVERTENCIA .

Eſte terceiro Tomo diſtribuo

as preciſas noticias , que já .


N
dey a ler na quinta Parte do

Mappa , mas com alguns retoques , pof


to que poucos ; porque a inconſtancia

continua , em que nos deixou o terre

moto paſſado , tem feito produzir a ca


da paſſo tranſmutações differentes , don

de ſerá deſculpavel , ſe olhando para o

eſtado actual de algumas couſas obſer


varem aqui os Leitores ſemblante di
verſo .

Nao pertendo tambem meter aos


curioſos na eſperança da continuaçao

da Obra : A vida , e o Author della ,

ſao os que verdadeiramente podem ſe .


gurar o deſempenho : farey por naõ def.

truir , nem deſmerecer ao menos com

a ocioſidade o habito da applicaçao ,

adquirido por tantos annos ; e unido ao


eſpecial affecto que conſervo à Patria .

Na pag . 416. do primeiro tomo ſe

enimende o lugar da ſepultura do Senhor

Infante D. Antonio , o qual eſtá fepul


tado na Igreja de S. Vicente de Fóra.

LI
LICENÇ A S.

Do Santo Officio.

Odem - ſe reimprimir os cinco tomos de


P para
ſe dar licença que corrað , lem a qual nao correráó.
Lisboa , 23 de Abril de 1762 .
Trigoſo . Lima .

Do Ordinario.

Ode -ſe reimprimir os tomos de que trata a peti


PO çaó , e depois tornem para ſe dar licença para
correr. Lisboa , 23 de Abril de 1762 .
D. J. Arcebiſpo de Lacedemonia .

Do Deſembargo do Paço .
1

Ue ſe poſlao reimprimir , e depois de impreſſos


tornaráó conferidos para as licenças de correr ..
Q
Lisboa , 24 de Abril de 1762 .

Com quatro Rubricas.

Odem correr . Lisboa , 1o de Mayo de 1763 .


Podem Carvalho.
Trigoſo. Carvalho. Mello.

Odem correr . Lisboa , 16 de Mayo de 1763 .


Pod Cofta.

Ue poſlao correr , e caixao o primeiro e ſegundo


Q como em quinhentos reis cada hum , e o tercei
ro em ſeis coftões. Lisboa , 16 de Mayo de 1763 .
Com tres Rubricas .

MAP.
Μ Α Ρ Ρ Α

DE

PORTUGAL

CAPITULO I.

Explicaçaõ das Taboas Topograficas, em que


ſe comprehendem as principaes Povoações
da Provincia da Eſtremadura.

1 AS quatro precedentes Partes do


noffo Mappa temos dado huma
informaçao generica , e methodi
ca de todo o Reino de Portugal ;
agora parece nao ſo juſto , mas
util para a Hiſtoria do meſmo
Reino , penetrarmos o interior de
ſeu Continente , examinando , e deſcrevendo com
alguma miudeza as Povoações mais notaveis , de que
7
elle ſe compoem .
2 Para iſo começamos pela Provincia da Eſtre
madura , naó fo por ſer a capital do Reino , mas
Tom.III . Parc.V. А por
2
Mappa de Portugal.

por vermos nella a diſtincta vantagem , que logra ,


além de outras , em ſer o aſſento Regio , onde reli
de a Mageftade do ſeu Soberano com toda a pom
pa , e grandeza da ſua Corte.
3 Das Povoações mais infignes, iſto he , Cida
des, e Villas , de que conſta etta Provincia , deſe
nhámos primeiro que tudo as Taboas Topograficas ,
para que em breve eſpaço , c a huma viſta fe viffe
com facilidade o mais eſſencial de cada huma por
eſta forma.
4 Na primeira columna , que ſerve como de
indice das outras , ſe affinað os pontos preciſos de
cada Povoaçab , e eſtas vao collocadas por ordem
alfabetica nas cabeceiras das outras columnas , e por
1
iſſo diz o ſeu primeiro titulo : Povoações principaes
da Eſtremadura .
s Comarca. Efte he o ſegundo titulo da primei .
ra columna , que aponta a Povoaçaõ cabeça de
Comarca , a que eſtá ſubordinada civilmente a dita
terra . V. g . Abiul eſtá ſujeita à Comarca , ou ju
riſdiçao do Corregedor de Thomar ; porém quando
a tal Villa he a propria cabeça de Comarca , como
v . g . Abrantes , enrao ſe denota a ſua ilençao com
eſte final. *
6 Dieceſe. Indica eſte titulo o dominio Eccleſia
aſtico , a quem deve obediencia a dita Povoaçao ,
V. g . Abiul eſtá no territorio ſubordinado ao Biſpo
de Coimbra . Eſcolhemos a palavra Dieceſe , por ſer
tranſcendente , e propria a explicar a ordinaria ju
riſdiçaó Ecclefiaftica , aſſim Epiſcopal , como Me
tropolitana , e Patriarcal ; mas ſe a dita Povoaçað
he onde reſide a Igreja Cathedral , ſe diſtingue com
efta nota . +
4
7 Altura do Polo. Moſtra com os numeros , que

aponta , os gráos , e minutos de latitude , e longi


tude Geografica , ifto he , a diſtancia , que as tacs
Povoações tem da Equinocial para o Polo , e eſta
ſe indica nos primeiros numeros ; e os que eſtab por
baig
Explicaç. das Taboas Topogr. 3
baixo immediatamente na ſegunda regra moſtraó
tambem os gráos , e minutos , que diftao as Povoa
ções de Leite a Oeſte , ou quanto ſe afaſtao do pri
meiro Meridiano . He de advertir , que para deter
minarmos a fituaçao dos taes lugares , nos valemos
da Carta Geografica de Joao Bautiſta Hommanu
impreſſa no anno de 1736 , por ſer , como já temos
dito em outra parte , a que melhor ſe ajuſta às com
putações mais exactas , e tambem para aſſim ſeguir
mos hum calculo igual ; pois , como ſabem os dou .
tos , faó diverfiflimos os fyftemas dos Geografos na
arrumaçao das terras.
8 Diſtancia de Lisboa . Manifeſta as legoas , que
difta a tal Povoaçao da Corte , a qual fizemos cena
tro de todas as mais terras , conformando - nos com
o noſſo Roteiro , e orientando- as , para ſe faber em
que parte eſta ſituadas.
2 Foral. Declara quem deu foral ao dito Lugar ,
ou quem reformou o antigo , ifto he , quem lhe im
poz, ou reformou as primeiras leys municipaes, tri
butos , ou privilegios. Para iſto examinámos com
diligencia os grandes cinco Tomos dos Foraes , que
exiftem no Archivo authentico chamado Torre do
Tombo , feitos pelo feu Guarda mór Fernaõ de Pina
em tempo do Senhor Rey D. Manoel , os quaes
com urbanidade , e franqueza nos fez ver o ſeu
Guarda mór Joaó , Couceiro de Abreu logo nos
principios , que emprendemos eſte trabalho .
10 Paroquias. Eſte titulo moſtra as Paroquias ,
que ha no territorio da Povoaçao ; com adverten
cia , que o primeiro numero indica as que ha dentro
da Villa , é o ſegundo numero correſpondente , e
dentro da meſma columna declara as que ha no ſeu
Termo , v . g . Abiul tem huma Freguczia dentro da
Villa , e duas no Termo.
II Conventos , e Moſteiros. Neftes dous titulos
ſeparados ſe affinað os Conventos de Religioſos , e
ou
Moſteiros de Religioſas, que exiſtem ou dentro ,
A ii no
4 Mappa de Portugal.

no Termo da Povoaçað . Fazemos differença de Con


vento a Moſteiro para mayor clareza , e nitto imita
mos ao Padre Chroniſta Fr. Manoel da Eſperança ,
que na 1. part. da Hiſtoria Serafica num . 12. das De
clarações Proemiaes affim o obſerva.
I2 Ermidas. Expoem as Igrejas , que ha na Po
voaçao , ou no ſeu Termo , com a meſma expreſſao
dos dous numeros reſpectivos.
13 Fogos. Neſte ponto ſe aſſina o numero das fa
milias de cada Povoaçao ; e por nao ſer facil a ave
riguaçao exacta de todas , as demarcamos ordina
riamente com o numero redondo .
14. Donatario. Moſtra quem he o ſenhor da ter
ra , ou a quem pertence o dominio della .
15 Feira. Diz em que tempo ha mercado pu .
blico livre , ou penſionado nas caes Povoações.
16 Eftes parecem ſer os pontos mais preciſos ,
entendemos ſe devia ) demarcar em as abbrevia
que
das Taboas do noſſo Mappa , reſervando porém ſem
pre o mais , que lhe pertence para os outros Capi
tulos, que ſe haó de ſeguir , onde diremos também
o mais effencial de cada Villa . E porque , ſegundo
o noſſo methodo , devia ſeguirſe primeiramente a
deſcripçao de Abiul , todavia deve preferir a todas
as mais Povoações a Cidade de Lisboa , como capi
tal nao fó da Provincia , mas do Reino todo .
17 A meſma preferencia devia ſeguir a Cidade
de Leiria , ſe acaſo as memorias, que pedimos , nos
chegaſſem a tempo de as podermos coordenar neſte
Tomo ; porém a pouca applicaçaó , e diligencia ,
que até agora temos experimentado em quem ſe of
fereceo a communicarnolas , nos obrigará a collocal
la no lugar natural da ordem progreſſiva alfabetica ,
e aproveitarnos do que a nola unica diligencia , e
trabalho tem adquirido , deſejando em tudo confor
marnos com a verdade , pondo , e applicando para
eſſe effeito todo o cuidado , que entendemos ſer pre
ciſo para ſemelhante empreza. Paſſemos à projecçao
das Taboas, TA ,
TABO AS

TOPOGRAFICAS

D AS

PRINCIPAES POVOAÇÕES ,
que comprehende a Provincia

D A

ESTREMADURA .
6 Mappa de Portugal.

Povoaç. princ.da Abiul. Abrantes.


1|
Extremadura.

Comarca . Thomar .

Dieceſe. Coimbra . Guarda.

Altura do Polo. 39 54 39 24
9 SI IO 22

Dif . de Lisboa . 25. para o Nort.23.para oNord.

Foral.
EIRey D. Ma . ElRey D. Af
noel reformou fonſo Henriques
o ſeu Foral a lhe deu Foral, e
14 de Julho de ElRey D. Ma
ISIS . noel o reformou
no primeiro de
Junho de 15io .

Paroquias. 1. 2. 4 . 14

Conventos . 2.

Moſteiros. 2.

Ermidas. I. 9. 10 .
13 :

Fogos. so . 370 . 1000 . 1900 .

Donatario.
Foy do Duque He cabeça de
de Aveiro , hoje Marquezado.
he da Coroa .

Feiras. No 1. Domin- Em 24 de Feve


go de Agoſto. reiro ſeis dias ..

Aguas
Taboas Topograficas.
7

Aguas bellas. Aguda .


Aguda. | Alanquer .

Thomar. Thomar :

Coimbra . Coimbra . Lisboa .

39 37 39 8
IO : 9 9 28

20.para o Nord . 23.para o Nort . 7. emeya Nort .

ElRey D. Joao A Infanta Dona


I. lhe deu Foral Sancha lhe deu
no anno 1 390,0 Foral , que con
ElRey D. Ma firmou D. Ma
noel o reformou noel no anno de
no anno 1513 1510 .

I. 1. s .. 13 .

2. 5.

1.

1. 4. 1. 6. 21 .

30 . ISO . 20 . I 20 . goo . 1 roo .

De Duarte So. Do Senhor In- He das Sereniſ.


dré . fante D.Pedro . fimas Rainhas .

Em 27 de Agoſ- Em 28 de Out .
to franca . e a 13 de Dez.
no Term.da Vil .

Pes
8
Mappa de Portugal.

Povoas.princ.da Alcacer do Sal. | Alcanede.

Comarca .. Setubal Santarem .

Dieceſe. Evora . Lisboa.

Altura do Polo . 38 19 39 24
9 so 9. 35

Diff. de Lisboa . 14. para Leſte. 16. para oNort.

Foral.
ElRey D. Af- ElRey D. Af
fonſo II . a man- fonſo I. a man: 1
dou povoar no dou povoar no
anno de 1217 anno 1163, e El
Rey D. Manoel
lhe deu Foral no
anno de 1514 .

Paroquias. 9. I 8.

Conventos .

Moſteiros.

Ermidas. II . 17 18 .

Fogos. 630 . 800 300 . 800.

Donatario , Do Meſtrado de Do Meſtrado de


Santiago . Avís .
1
!
Feiras ,
NaDominga do
Bom Paſtor tres
dias franca .

Al.
Taboas Topograficas. 9

Alcobaça . Alcoentre
. Alcoucbete
.

Leiria . Santarem . Setubal.

Lisboa . Lisboa . Lisboa .

39 42 39 IO 38 45
9 17 19 10 9 30

18. para o Nort . 11. para oNorr. 3. para o Sueſte.

ElRey D. Af EIRcy D. Ma- ElRey D. Ma


fonſo I.a fundou noel lhe refor- noel lhe refor
no ann . de 1148 , mou o Foral an- mou o Foral no
e EIRey D.Ma - tigo no anno de anno de isis .
noel lhe refor - 1513 .
mou o Foral no
anno de 1513

1. I. 1. 1. I. 1.

1. 1.

3• 2. 4. 3. 3.

420 . 130 . 150 . 60 . 280 . 90 .

Do D. Abbade Do Conde de HedoMeſtrado


de Alcobaça . Vimieiro . de Santiago.

Em zo de Agor
to , e em 30 de
Novembro .

Tom.III . Parc.V. B Po
l
10 Mappa de Portuga .

Povoaç . princ.da Aldea Gallega da


EAremadura . | aldea Gallega . Merciana .

Comarca . Setubal . Alanquer .

Dieceſe. Lisboa . Lisboa .

Altura do Polo . 38 41 39
9 21 9 IO

Diff. de Lisboa . 3. para o Sueſte. 2. para o Norte.

Foral. ElRey D. Ma- EIRcy D. Ma


noel lhe deu Fonoel lhe refor .
ral no anno de mou o Foral no
1514 anno de 1513

Paroquias. 1. 1. 1. 1.

Conventos. 1. 1. 1.

Moſteiros.

Ermidas. 2. 7.
- 3. 1 33 .

Fogos. 450 . 200 . 130 . 200 .

Hedo Meſtrado He das Sereniſ


Donatario.
de Santiago . fimas Rainhas .

Feiras. A 25 de Março,
eno Doming.da
SS . Trindade.

Als
Taboas Topograficas. IL

Alfeizirao. Albandra . Alhos-Vedros.

Leiria . Torres Vedras. Setubal.

Lisboa . Lisboa. Lisboa .

39 28 38 SE 38 . 5.37
37
9 11 II 9 22

17. para oNorts: para o Nord. 3. para o Sueſte.

EIRey D. Ma D.Soeiro I. Bir ElRey D. Ma


noel he refor- po de Lisboa lhe noel lhe refor
mou o ſeu fo deu Foral no an - mou o ſeu Fo
ral no anno de no de 1203 . ral no anno de
1513 IS14

2.

1.

4. 1. 3.

60 , 100. 400 . soo . 200 . 100 ,

Do D. Abbade He dosEminen- HedoMeſtrado


de Alcobaça . tiflimos Patriar- de Santiago.
cas de Lisboa .

Em dia de San Emis deAgoſ


to Amaro tres to franca.
dias.

Bii Po
12
Mappa de Portugal.

Povoaç. princ.da
Efremadura. Alzubarrota. Almada.

Comarca . Leiria . Setubal .

Dieceſe . Leiria. Lisboa.

Altura do Polo . 39 30 38 44
9 20 9 13

Dift. de Lisboa. 118. para o Nort. meya para o Sul.

Foral.
El Rey D. Ma . ElRey D. San
noel lhe refor - cho I. lhe deu
mou o ſeu Fo - Foral no anno
ral no anno de de 1187 .
1514 2
.

Paroquias. 2. 4.
1
.

Conventos . 3.

Moſteiros.

Ermidas. 5. 4: 16 .

Fogos. 400 . 700 . 800 .

Donatario. Do D. Abbade He da Coroa .


de Alcobaça .

Feiras .
Taboas Topograficas. 13

Alváres.
Almeirim . Alpedriz. 1

Santarem . Leiria . Thomar.

Lisboa. Leiria . Coimbra .

39 10 39 35 39 56
9 45 9 20 10 21

14.para oNord . 15. para o Nort . 17. para o Nord .

ElRey D. Joao ElRey D.Ma . ElRey D. Ma


1. a fundou no noel lhe refor noel lhe refor
anno de 1411 . mou o ſeu Foral mou o ſeu Fo
no anno ‫کار‬.. ral no anno de
1514

1. I. 1.
3
.

4. 3. 9.

300 . 200. 40 . 260 .

He da Coroa. He da Ordem 1
Militar de Avis .

Po
14 Mappa de Portugal.

Povoaç: princ.da Alvaro . Alverca .

Comarca . Thomar. Torres Vedras .

Dieceſe . Nullius Dioeceſis. Lisboa .

Altura do Polo . 39 38 38 SS
10 8 9 10

Dif . de Lisboa . 132.para oNord . 4. para o Norte .

Foral. EIRey D. Ma
noel lhe refor
mou o Foral no
anno de 1914.

Paroquias. 1.

Conventos . 2.

Moſteiros.

Ermidas. 6. 13 . 3.

Fogos . 90. 370 . 350 . 100 ,

Donatario. das
de Marialva . Capell. delRey
D. Affonſo IV .

Feiras. Emis de Julho


tres dias franca .
Taboas Topograficas. 15

Alvorninba. Amendoa. 1. Aréga.

Leiria . Thomar. Thomar .

Lisboa . Guarda. Coimbra .

39 30 39 35 39 54
9 22 10 IS IO so

13. para o Nort . 20.para oNord . 27.para o Nord .

ElRey D. Ma El Rey D , Ma.


noel lhe refor : noel lhe refor
mou o ſeu Fo . mou o ſeu Fo .
ral no anno de ral no anno de
IS13 1913

1. 1. I.

5. 13. 3: 2. 3.

roo . 200. 140 , 60 . 230 . 200 .

Do D. Abbade He da Coroa . He doDuque de


de Alcobaça . Cadaval.

Pog
16 Mappa de Portugal.

Povoaç. princ.da
Arruda. Aſinceira.
Efremadura,

Comarca . Torres Vedras. Thomar.

Dieceſe. Lisboa . Lisboa :

Altura do Polo . 39 3 39 34
9 12 IO

Dif . de Lisboa . 6. para o Norte . 21.para o Nord .

Foral. ElRey D. Ma- ElRey D.Diniz


noel lhe refor - lhe deu Foralno
mou o Foral no anno de 1315 , e
anno de 1917 Filippe Iſ . o re
formou no anno
de 1591 .

Paroquias. 1. ' I. 1 .

Conventos. 1.

Moſteiros.

Ermidas. 2. 9. 1.

Fogos. 260 . so. Iro.

Donatario. Hedo Meſtrado He do Conde de


de Santiago . Atalaya .

Feiras . Em 24 de Junho
tres dias franca .
Taboas Topograficas
. 17

Atalaya , Atouguia. Aveiras debaixo.

Thomar . Leiria . Santarem .

Lisboa . Lisboa , Lisboa .

39 3.1 39 I2 39 Ź
10 9 19 9 31

20.para oNord . 10.paraNoroeft | . para o Nord .

ElRey D.Diniz Guilherme La EIRey D. Ma .


lhe deu Foralno corni a povoou noel lhe refor
*

anno de 1315 no ann.de 1165 , mou o ſeu Fo


e ElRey D.San.ral.
cho l . lhe deu
Foral .

1. 1.

1
6
.
.
4

3. 3. 2.

100 . I 20 . 200 . 2
350. 250 .

He do Conde de Foy do Conde He do Conde de


Atalaya , hoje deAtouguia,ho Aveiras .
Marq. de Tanc . je he da Coroa .

A 20 de Janeiro Em 8 de Setem
tres dias franca . bro no Lugar
das Virtudes .

Tom.III . Part . V. с Po
18
Mappa de Portugal.

Povoas princada| Aveiras de cima. Avelar .

Comarca . Santarem . Ourem .

Dieceſe. Lisboa . Coimbra .

Altura do Polo . 39 8
9 32

Dif . de Lisboa. 9. para o Nord . 25.para o Nord .

Foral, EIRcy D. Ma .
noel reformou o
ſeu Foral no ano
no de 1913 .

Paroquias. 1 I. I.

Conventos .

Mofleiros.
.
1

2
.

Ermidas.

Fogos. 100 . ro . so . 200 .

Donatario. He das Comen - He da Caſa do


dadeiras de San Infantado .
tos de Lisboa .

Feiras,

Azam
Taboas Topograficas. 19

Azambuja. | Azambujeira. / Azeitað limite.

Saptarem . Santarem . Setubal .

Lisboa Lisboa Lisboa .

39 5 39 18 38 30
9 22 9 21 9 18

10. para oNorr. 15. para o Nort. 7. para o Suefte.

EIRey D. Ma- ElRey D. Joao ElRey D. Pe.


noel lhe refor- IV . a fez Villa dro I. lhe con
mou o ſeu Fono anno.de 1654 firmou ſeus pri.
ral no anno de vilegios .
IS13

1. 1. 2.

1.
2
.

4. 3. 14 .

200 40. LIQ . 200 . 100 .


700 .

De D. Antonio He do Conde de Foy da Caſa de


Rolim deMou - Soure. Aveiro , hoje he
ra . da Coroa .

No ultimo Do
mingo de Outu
bro .

D ii Po
20
Mappa de Portugal.

Povoaç. princ.da
Batalba . | Barreiro. 1
Eſtremadura . 1

Comarca . Leiria . Serubal.

Dieceſe. Leiria . Lisboa .

Altura do Polo. 39 34 38 36
9 31 9 I2

Dit. de Lisboa . 19. para oNort . 2. para o Sul .

Foral. ElRey D. Ma .
noel lhe deu Fo
ral no anno de
1504

Paroquias. 1. I.

Conventos . 1. I.

Moſteiros.

Ermidas. 9. 3.

Fogos. 200 . 300 . 300 .

Donatario . Foy da Caſa de


Aveiro , hoje he
da Coroa .

Feiras , Emis deAgoſt.


oito dias franca.

Bek
Taboas Topografica .

Bellas.
| Cabrella | Cadaval.

Torres Vedras. Setubal, Torres. Vedras .

Lisboa. Evora . Lisboa .

38 ro 38 32 32 13
9 9 12

1. emeya Nort , 12. para Sueſte. ( 12. para o Nort.

OVenerav.Rey ElRey D. Fer


D. Affonſo 1. nando a fez Vil
lhe deu Foral ,ela ng anno de
D. Manoel a fez 1371 .
Villa no anno de
1517

1 . 1. 8.

2. 7 3. 4. 17.

100 . 300 . 300 . I 20 . 900 .

He do Conde de He do Meſtrado He cabeça de


Pombeiro . de Santiago. Ducado .

Em 8 de De
hizo
zembro ,

A Pos
32 Mappa de Portugal.
:

Povoaç. princ.da
Caldas. C,amora Correa .
Eftremadura. C
4
Comarca . Alanquer. Setubal.

Dieceſe. Lisboa . Lisboa .

Altura do Polo 39 26 38 so
9 II 9 30

Diff. de Lisboa . 14. para oNort. 7. para o Leſte.

Foral. A Rainha Dona EIRey D. Ma


Leonor a man - noel lhe deu Fo
dou povoar no ral no anno de
anno de 1488 . IS1o .
I.

Paroquias.

Conventos.

Moſteiros.

Ermidas.

Fogos. 300 . 160 .

Donatario . He das Sereniſ. Foy da Caſa de


fimas Rainhas. Aveiro , hoje he
da Coroa .

Feiras ) A 14 de Agoſto
tres dias franca.

Ca.
Taboas Topograficas. 23

Canba .
1 Caſcaes. | Caſtanheira.

Scrubal. Torres Vedras. Torres Vedras.

Lisboa. Lisboa , Lisboa.

38 43 38 49 38
8 54 9 30

9. para o Leſte.s . para o Oefte . 17. para o Nord .

O Venerav.Rey EIRey D. Ma.


D. Affonſo I. noel lhe deu Fo
lhe deu Foral . ral no anno de
IS10 .

1. 1 2. 4. I.

2. 1.

I.

2. 13 .. 9. 2.

200 . ISO . 900 . 800 . soo .

Hedo Meſtrado He cabeça de He da Caſa do


de Santiago . Marquezado. Infantado ,

Pos
24 Mappa de Portugal.

Povoaç . princ.da
Cella .
Efremadura. Santa Catharina .

Comarca..? Leiria . Leiria,

Dieceſe. Lisboa . Lisboa.

Altura do Polo . 39. 24 39 26


19 9 II

Dif . de Lisboa . 16. para oNort. 19. para oNort ,

Foral. Dom Fr. Joao ElRey D. Ma .


Martins, Geral noel lhe deu Fo
de Alcobaça . ral, e a fez Villa .

Paroquias. .1 1. 3. I.

Conventos .

Moſteiros. ,

Ermidas. -3 . 7 2. 3.

Fogos. 180 . 390 130 . 8o .

Donatarie. Do D. Abbade Do D. Abbade


de Alcobaça . de Alcobaça.

Feiras . A 25 de No.
vembro 2. dias
franca .

Ce .
Taboas Topograficas. 25

Cezimbra .
Chaõ do Couce. Chamuſca.

Setubal . Thomar . Alanquer.

Lisboa . Coimbra . Lisboa .

38 27 39. SS 38 16
6 IO 0 9

8. para o Sul . 24. para o Nord . 17.para o Nord .

ElRey D. San . ElRey D , Se .


chol. a mandou baſtiao lhe deu
povoar no anno Foral no anno
de i 200 . de 15or , e a fez
Villa .
2
.

2. .

2 . I. s

roo . 780 . 30 . 60 630 .

Foy da Caſa de He da Caſa do He das Serenif


Aveiro , hoje he Infantado. fimas Rainhas .
da Coroa .

A 13 de Feve
reiro tres dias .

Tom.III . Part.V. D Po
26 Mappa de Portugal.

Povoaç. princ.da
Efremadura . Chileiros. | Cintra.

Comarca . Torres . Vedras . Alanquer.

Dieceſe. Lisboa . Lisboa .

Altura do Pole . 38 56 38 54
6 8

Dift. de Lisboa . 4 para Noroeſt .


14 s.para Noroeft.

Foral. ElRey D. Ma- ElRey D. Ma


noel lhe refor noel lhedeu Fo
mou o Foral an - ral no anno de
tigo no anno de 1919.
1516 .

Paroquias. 4. 0 .

Conventos .
3:
Moſteiros.
.
3

Ermidas ... 2. s. 16 .

Fogos . 100 . 5oo . 2000 ,

Donatario . He da Caſa do He das Sereniſ


Infantado . fimas Rainhas.

Feiras .

Cai
Taboas Topograficas. 27 !

Coina . Collares . Cós.


1 . 1

Setubal. Torres - Vedras. Leiria .

Lisboa . Lisboa . Lisboa .

38 38 ‫گگ‬ 39.11.30
9. 21 : 8 46 9 20

3. emeya Sueft. 6.para Noroeſt. 19. para o Nort.

EIRey D. Ma ElRey D.Diniz Dom Fr. Pedro


noel lhe deu Fo-lhe deu Foral , e Gonçalves,Ge
ral no anno de D. Manoel o re- raldeAlcobaça .
formou no anno
IŞIo .
de 1516 .

1 I

1.

2. 3. 6 . 2 . 7.

170 . JOO. zgo . 100 . 150 .

He das Comen . He da Coroa. Do D. Abbade


dadeiras de San . de Alcobaça .
tos .

Dii Р ..
28
Mappa de Portugal.

Povoaç. princ. da
Dornes . Ega .
Eftremadura.

Comarca . Thomar. Leiria ,

Dieceſe. Coimbra. Coimbra .

Altura do Polo , 39 45 39
10 II 9 46

Dift. de Lisboa. 26.para o Nord . 30. para o Nort.

Foral, i ElRey D. Ma EIRey D. Ma


noel lhe deu Fo- noel lhe confir
ral no anno de mou o Foral no
1513 anno de 1914 .

Paroquias. 1. 2. 1. 1.

Conventos .

Moſteiros. :]

Ermidas. ‫گ‬. 16 . 2 . 12 .

Fogos. 130 . 280. 100 . 140 .

Donatario . He do Meſtrado He do Meſtrado


de Chrifto . de Chrifto .

Feiras, A 3 de Feverei
ron e a il de
Novembro .

Ema
Taboas Topograficas. 29

Enxara dos Cal Ericeira . Erra .


valleiros. |

Torres Vedras. Torres Vedras . Santarem .

Lisboa Lisboa . Lisboa.

38 56 39 3 39
IO 8 49 10 IO

5. para oNorte .7.para Noroeft. 14.para oLefte.

ElRey D. Ma- ElRey D. Ma- ElRey D. Má


noel lhe refor noel lhe refor - noel lhe deu Fo
mou o feu Formou o ſeu Fooral no anno de
ral em 20 de No- Tral em 30 de A. 1914 .
vembr.de 1519. goſto de 1513 .
I.

I 1. 1.

I.

2. 4.

70 . 80 , 250 . 200 .

He dos Viſcond He Cabeça de He do Conde de


de Villa - Nova Condado . Atalaya .
de Cerveira .

PO
30 Mappa de Portugal.

Povoaç. princ.da Evora de Alco


Ferreira .
Eſtremadura. baça ..

Comarca . Leiria . Thomar .

Dieceſe. Lisboa Coimbra .

Altura do Polo. 39 25 39 33
9 22 Іо 20

Diſt. de Lisboa . 19. para o Nort. 28. para o Nord .

Foral. D.Fr.Martinho
II . Geral de Al
cobaça:

Paroquias. 1. 1.

Conventos.

Mofleiros.

Ermidas.
3. 93

Fogos. 250 . 18 . 1.70 .

Donatario .. Do D. Abbade He doMeſtrado


de Alcobaça. de Chrifto .

Feiras.

Fi
Taboas Topograficas. 3 !

Figueiró dos Vic


nbos . vil Golegã . | Grandola .

Thomar. Santarem . Setubal.

Coimbra . Lisboa . Evora .

39 55 39 25 10
38
IQ LO 9 8.8 9 40

28. para o Nord . 18.para oNord . 16. para o Sul.

EIRey D. San . ElRey D. Joao


cho I. a fez Vil III . lhe deu Fo
la no anno de ral no, anno de
1187 1543

I. 1. 1.

1. 1.

1.

‫ک‬. 4. 3. S.

goo . 600 . 250 . sro .

He do Conde de He da Coroa. Hedo Duque de


Redondo . Cadaval .

Em 27 de Julho Em ii de No
tres dias franca. vembro 3 . dias

Po
32 Mappa de Portugal.

Povoaç . princ.da
. | Lamarofa. Lauradio

Comarca . Santarem . Setubal .

Dieceſe. Lisboa . Lisboa .

3
Altura do Polo . 39 I 3 8 36
IO O 9 I2

Diff. de Lisboa . is.para oNord .. 2. para o Sul .

Foral.

r
.

Paroquias. 1.

Conventos . 1.

Moſteiros.

Ermidas. 3.

Fogos. so . 140 .

Donatario. He de Manoel He cabeça de


Telles de Me Condado .
nezes .

Feiras.

Lei
Taboas Topograficas
. 33

Lisboa Cidade,
Leiria Cidade . e Corte 1 Lourinhã .

Torres -Vedras .

+ Lisboa .

39 47 38 48
9 36 IS

21. para o Nort . 10. para o Nort .

ElRey D. San ElRey D. Ma. ElRey D. Ma


cho 1. lhe deu noellhedeu Fo- noel lhe deu Fo
Foralno ann . deral em 7 de Aral no anno de
195 , e D. Joao goſto de 15oo . 1512
III . a fez Cida
de no anno de
1945

2. 24 . 41 . 37 . 2.
3
.

40 . is . I.

1. 24 . 8.

10 . 84 . 136 . 152 . ‫ر‬.

1070. 8000 . 400 Uooo. 200 . 450 ,

He da Coroa . He do Conde de
Monſanto .

Todas as terças Em 16 deAgor.


feiras da ſemana . to .

Tom.III . Part.V. E Po
34 Mappa de Portugal.

Maçãs de Ca.
Maçao.
Efremadura,da
. minbo.

Comarca . Thomar. Thomar .

Dieceſe. Guarda . Coimbra , 1

Altura do Polo. 39 27 39 46
IO 25 IO I2

Dift. de Lisboa . 27.para o Nord . 26.para o Nord .

Foral ,

Paroquias. 1. 1.

Conventos.

Moſteiros.

Ermidas, I.

Fogos. 450. 40 .

Donatario , He doMeſtrado He da Coroa .


de Chrifto .

Feiras ,

Ma .
Taboas Topograficas. 35

Maçãs de Dona
Marià . | Mafra . I S. Martinho.

Ourem . Torres Vedras. Leiria .

Coimbra . Lisboa . Lisboa .

39 46 39 3 39 25
IO 13 s 9 IO

27. para oNord. 6.para Noroeft. 17.e meyaNort.

El Rey D. Diniz D. Fr. Eftevao


The deu Foral no Martins, Geral
anno de 1304 , e de Alcobaça .
D. Manoel o re
formou no anno
de 1513

$
1. 1. 1. I.

1.

2. 3. 1.

350 . 400 . 200 . 100 . 60 .


40 .

He da Coroa . He dosViſcond D. D. Abbade


de Villa- Nova de Alcobaça.
de Cerveira .

Em 30 de No.
vembro .

Eii Por
36 Mappa de Portugal.

Povoaç . princ.da
Mayorga. Moita .
Efremadura . | 1

Comarca . Leiria . Setubal .

Dieceſe. Lisboa . Lisboa .

Altura do Polo , 39 38 39
24
9 25 9 21

Dift. de Lisboa . 18.para o Nort . 3. para o Sul.

Foral.
ElRey D. Ma- ElRey D. Pe
noellhe deu Fo - dro II.a fez Vil
ral no anno de la .
IF13
I.

Paroquias. 1.

Conventos.

Moſteiros.
.
5

Ermidas.
3. 4.

Fogos. 140 . so . 170 .

Donatario . Do D. Abbade He do Conde de


de Alcobaça . Alvor.

Feiras,

Mons
Taboas Topograficas. 37

Montargil.
Mugem . Obidos.

Santarem . Santarem . Alanquer .

Lisboa . Lisboa . Lisboa .


58

38 39 39 20
IO 9 43 9 18

IS.para oNord . ( 12.para o Nord . 13. para o Nort .

EIRey D.Diniz El Rey D.Diniz


The deu Foral no lhe deu Foral no
anno de 1315 anno de 1304 .

I. 1. 4. 16 .

2.
.
ro

320 . 100 . 200 . 1000. 2800 .

Era de D. Joaó He doDuque de He Cabeça de


Rolim de Mou - Cadaval. Condado .
ra . Partou para
hum filho ſegú.
do do Conde de Em 13 de Se
Val de Reys . tembro tres dias
franca .

Po •
al
38 Mappa de Portug .

Povoaç. princ.da
Oeiras. Ourem .
Eſtremadura. 1

Comarca .

1
Dieceſe. Lisboa. Leiria .

Altura do Polo. 38 so 39 42
9 so

Dift. de Lisboa . 3.para o Poente . 22. para o Nord.

Foral, ElRey D. Jo- ElRey D. Pe.


ſeph I. a fez Vil. droll.lhe refor
la no anno del mou o ſeu Fo .
17 ... ral no anno de
1695

Paroquias. I. 1 . 1. 4.

Conventos . 1. 1.

Mofleiros.

Ermidas. 20 . ro .
3.

Fogos. roo . 900 . 2000 .

Donatario. He Cabeça de He da Sereniffi


Condado . ma Caſa de Bra
gança .

Feiras.

Pal
Taboas Topograficas.
39

Palmella . | Pampilhoſa. Payo de Pelle.

Secubal . Thomar . Thomar .

Lisboa . Guarda. Nullius Diæcefis .

38 13 40 39 25
21
40 IO
s
F. para o Suefte . 34.para o Nord . 20.para o Nord .

EIRey D. Ma
noel lhe refor
mou o ſeu Fo
ral no anno de
IS19 .
2
.

2. 1. 1.
2
.

1.

S. 3. 1. 1. 2.
900 . 300 . 400 . 40 . 100 .
He do Meſtrado
He da Coroa. He do Meſtrado
de Santiago .
de Chrifto .

Em 8 de De .
zembro franca .

Pos
40 Mappa de Portugal .

Povoaç. princ.da Pederneira . Pedrogaõ grande.


1

Comarca . Leiria . Thomar .

Lisboa . Coimbra .
Dieceſe .

Altura de Polo . 39 36 40
10 25
9

Dift. de Lisboa. 18. para oNort. 33. para o Nord .

Foral. ElRey D. Ma- D.Pedro Affon


noel lhe refor - ro , filho de D.
mou o ſeu Foo Affonſo I. The
ral no anno dedeu Foral , que
confirmou El .
IS13
Rey D. Affonſo
III.

1. 1. 1. 4.
Paroquias.

Conventos. I.

Moſteiros.
.
3

Ermidas. 3. 7. 3 .

250 . 400 . 420 . 680 .


Fogos.

Do D. Abbade Hedo Conde de


Donatario.
de Alcobaça . Redondo . ‫܂܂‬

Feiras .

Pe
Taboas Topograficas. 41

Peniche Pias.
1 1 .

Leiria. Thomar . Leiria .

Lisboa . Nullius Diæcefis. Coimbra .

39 16 39 38 39 fo
9 10 I 9 ro

12. ao Nornord . 24.para o Nord . 28. para o Nort .

El Rey D. Ma
noel lhe refor
mou o ſeu Fo
ral .

3. 1. 2. 1. 2 .

I.

6. 2. 30 . 3. 30 .

900 . 130 660 . 800. 600 .

Foy do Conde Hedo Meſtrado HedoMeſtrado


de Atouguia ,ho de Chriſto . de Chrifto .
je he da Coroa .

Tom . III . Part . V. F Po


42 Mappa de Portugal.

Povoaç. princ.da
Efremadura. | Ponte de Sor. | Porto de Mós.

Comarca . Thomar. Ourem.

Dieceſe. Portalegre. Leiria .

Altura do Polo. 39 9 39 30
IO 25 9 31

Dift. de Lisboa . 23.para o Nord . 19.para o Nort .

Foral. EIRey D. Ma.


noellhe deu Fo
ral no anno de
IS14
.
3

Paroquias. 6.
1

Conventos .

Moſteiros.

Ermidas, 2. 2. 27 .

Fogos. 160 . I 20 ; 900 . 1400 .

He da Sereniffi
Donatario.
ma Caſa de Bra
gança .

Feiras . A 4 de Outu- Dia do Eſpir .S.


bro . A 7 de Agoſto .
A 13 de Dezéb .

Po
Tabods Topograficas. 43

Póvos ."
Pouſa - Flores. Punhete.

Torres Vedras. Ourem . Thomar .

Lisboa . Leiria. Nullius Dioeceſis.

38 58 39 25
20 IO 10

7. para o Nortes 26. para o Nord . 27.para o Nord .

EIRey D. San EIRey D.Scba .


cho I. pelos an (tiao a fez Villa .
nos de 1194

1. 2 I.

3. 4.

300. 300 . 350 . *100 .

He da Caſa do He da Caſa do
Infaotado . Infantado .

A s de Agoſto .

Fü Po
44 Mappa de Portugal.

Povoaç . princ. da
Efremadura. Pulſos. | Redinha .

Comarca ., Thomar . Leiria .

Dieceſe. Coimbra . Coimbra.

Altura do Polo . 39 ro 39
9 ro 2 ro

Diff. de Lisboa . 25.para o Nord . 28. para o Nort .

Foral. D. Galdim Paes


lhe deu o ſeu Fo
ral .

Paroquias. 1. I.

Conventos.

Moſteiros.
1
.

Ermidas. 6. 2

Fogos. 150 . 40 . 400 . 160 .

Donatario. He da Coroa. Hedo Meſtrado


de Chriſto. +

Feiras,

SA
Taboas Topograficas. 45

Salvaterra de
Salir do Mato. Salir do Porto . | Magos.

Leiria . Alanquer . Santarem .

Lisboa Lisboa , Lisboa .

39 22 39 25 30 O
9 IO 2 :9 9 40

18. para oNorr. 12.para o Nort . 17. para o Leſte:

D.Fr.Martinho ElRey D. Af | ElRey D. Ma


III. Geral de fonſoHenriques noellhe deu Fo- 1
Alcobaça . lhe deu Foral. ral no anno de
IS17

1. I.

3. 3. 2 . 3.

ITO. " .60 70. 3 300 .

Do D. Abbade Hc da Coroa .
de Alcobaça .

Pea
46 Mappa de Portugal.

Povoaç.princ.dal Santarem . | Sardoal.


Efremadura.

Comarca . Thomar .

Lisboa . Guarda.
Dieceſe.

Altura do Polo. 39 19 39 25
9 40 10 23

Diff. de Lisboa . 14.pár


14.páraa oNord . 24.para oNord.

Foral. ElRey D. AF
fonſo III.refor
mou o ſeu Fo .
ral no anno de
1254

Paroquias. 13 : 33 . I. 4

Conventos. 13 2. 1.

2. 2.
Moſteiros.

20 . 3o . "5 . 9.
Ermidas.

2160. 800o . 600 . 200 .


Fogos.

Donatario. He da Coroa . He'do Marquez


de Fontes.

Feiras. EmDomingoda A 28 de Outu


Paſcoela , e a 11 bro .
de Outubro . H

Sec
Taboas Topogroficas. 47

Sobral de Monte Sovereira For


Setubal.
Agraço . mofa.

Torres Vedras . Thomar.

Lisboa. Lisboa. Guarda .

38 28 39 44
18 IO 31

6. para o Sul. 16. para o Norte . ( 28.para oNord ,

El Rey D. Sar D. Gil Sanches


cho 1. lhe deu o lhe deu Foral no
Foral. anno de 1213
.

4. 1. 1.

9.

2. 1

3.

3000 . 100 . 420. 300 .

He do Meſtrado He do Conde de
de Santiago Sarzedas .

A 25 de Julho .

Pos
48 Mappa de Portugal.

Povoaç. princ. da Soure. Tancos .


Eſtremadura. 1

Comarca . Leiria . Thomar .

1
Dieceſe. Coimbra. Lisboa.

Altura do Polo . 40 o 39 27
39 42 10 27

Diff. de Lisboa . 29. para oNort. 19.para o Nord .

Foral. ElRey D. Ma- EIRey D. Ma


noel lhe deu Fo - noel lhe deu Fo
ral no anno deral no anno de
IS13

1. 1. 1.
Paroquias.

Conventos.

Moſteiros.

Ermidas. S. 3.

Fogos. 600 , 400 . 400 .

Donatarie. He cabeça de He do Conde de


Condado. Atalaya , hoje
citulo de Mar
quezado.
Feiras . Em dia de S.
Martinho .

Thos
Taboas Topograficas. 49

Thomar. Torres-Novas Torres-Vedras.

Santarem .

Nullius Didcefis. Lisboa . Lisboa :

39 40 39 32 39 10
10 5.2 9 3

22.para oNord . 19.para o Nord . 7. para o Norte .

ElRey D. Ma- ElRey D. San . ElRey D. Ma


noel lhe refor- cho 1. lhe deu noel lhe refor
mou o ſeu Fo- Foral . mou o ſeu Fo.
o
ral no ann de ral no anno de
IS10 . IS10 .

2. 12 . 4. 7. 4. 19 .
3
.

1. 2. 2.

1. 1.

15. 5o . 8. 4. 7.

I 100 . 2700. 1200 . 1000 . 600 . 2800 .

HedoMeſtrado Foy do Duque He da Coroa.


de Chrifto . de Aveiro , hoje
he da Coroa.

Em 20 de Ou . A 12 de Março .
tubro.

Tom.III . Part.V. G Po
3
50 Mappa de Portugal.

Povoaç. princ.da Villa - Franca


Turquel. de Xira .
Efremadura.

Comarca . Leiria . Torres Vedras .

Dieceſe. Lisboa. Lisboa .

Altura do Polo. 39 27 38
9 21 9 20

Dift. de Lisboa. 16. para o Nort. 6. para o Nord.

Foral. ElRey D. Af EIRey D. Ma .


fonſo Henriques noel lhe refor
lhe deu Foral . mou o Foral no
anno de 1510.

Paroquias. I, I.

Conventos.

Moſteiros.

Ermidas . 2. 7.

Fogos. 200 . 950 .

Donatario . D. D. Abbade
de Alcobaça .

Feiras . No 1. Domin
go de Outubro
3 dias franca .

Vils
Taboas Topograficas. 51

Ulme.
Villa de Rey . | Villa Verde.

Thomar. Torres -Vedras . Alanquer .

Guarda. Lisboa : Lisboa .

39 32 39 12 39 14
10 21 20 9 9

27.para o Nord. 9. para o Norte . 16.para o Nord .

ElRey D.Diniz ElRey D. Ma . ElRey D. Se


lhe deu Foralno noel lhe refor - baſtiao lhe deu
anno 1285. mou o ſeu Foral Foral no annode
no anno 1513 1561 .
.
1

2. 1.

1.

3. 3. 2.

460 . 280 . 350 . I 20 .

He doMeſtrado He Cabeça de He das Sereniſ


de Chrifto . Condado . fimas Rainhas .

G ii CAS
52 Mappa de Portugal.

CAPITULO II,

Da Cidade de Lisboa.

Endo Lisboa a Corte , e Cidade principaliſ


S fima de Portugal , que já de ſéculos anterio
res comperia com as mais nobres Povoações da Eu
ropa , ( 1 ) e que em attençao à ditola mageftade de
ſeu ſítio , o Imperador Júlio Ceſar a condecorara
com o glorioſo nome de Felicitas Julia. ( 2) Tendo
ultimamente chegado em noſſos dias ao auge da
mayor grandeza , quiz a adverſidade dos tempos ,
ou permittio a inexcrutavel providencia do Aliilli
mo , que ficaſſe ſua magnificencia desfigurada com
o formidavel flagello do terremoto , e vehementiſli
mo incendio , acontecido no dia faral do primeiro
de Novembro de 1755 pelas nove horas , c tres quar
tos da manhã , pouco mais , ou menos .
2 Foy aquelle dia taó infauſto , que para lem
brança funefta dos vindouros deve ficar aſſinalado
com pedra negra , como faziaó os antigos ; e que
ſem embargo de o ter conſagrado a Igreja para o
feftivo culto de todos os Santos , nað foy battante
para que elles interpozeſſem as ſuas multiplicadas
rogativas diante de Deos , a fim de obviar tamanha
ruina , e deſtroço ; porque parece nað foy aquelle
dia o tempo opportuno , em que os Santosſó rogao
o digno ao Omnipotente , como diſſe o Profeta . ( 3 )
3 Nao

[ 1] Luiz Vartomano , lib q.cap.4. das ſuas Naveg : cões Marin Sie
cul. de reb. Hifpan. lib.2. Vafzus Chron Hiſpan.c 20. Mecin Grandez.
de Heſpinh.liv. 2 c.57 Serra Apparat. Synonim p.111S. Barezzo Ba
rezzi Propiin. Hift. Geograf. p . 378. Far ſobre a cft 57. do cant 3. de
Cam . ( 2] Plin .lib.4 . c.22 . Gruter. Infcript. p. 292,4261. Brito Mo
march , Lufir. liv.4.c.20. [ 3 ] Pfalm .31. vers. 6.
Da Cidade de Lisboa. 53

3 Nao obſtante com tudo a laſtimoſa decaden :


cia , a que ſe reduziraŭ as ſuas fábricas , e edificios ,
de que a ſeu tempo faremos mençaõ com grande
magoa nofla , convem referir primeiro pelas memo
rias, que ainda conſervamos, o eftado florente , em
que ſe achava a Cidade , cuja vaſta extenſaõ no pa
recer de alguns , ( 1 ) valendo tanto como o reſtan
te do mais Reino , obriga- nos a notar em pontos
diflinctos as ſuas mais confideraveis prerogativas.

$. I.

Sitio , Clima , e Origem .

Stá Lisboa fundada nas margens do rio Te.


3 , a
parte onde o mar Oceano entrando pela barra den .
tro Leſte - Oelte , .conftirûe em eſpecie de agrada
vel bahia huma enſeada immenſamente eſpaçoſa.
Nella ſe forma o mais famoſo porto entre os melho
res domundo , nað ſó pelo ſeguro abrigo , que.com
as montanhas circumvilinhas ſobranceiras ao rio dá
ao innumeravel genero de embarcações miudas , e
groffas , que nelle ſurgem ; mas por ſervir de fre
quente , e importante eſcala ao commercio das na
ções , e ter ſido aquelle notavel centro donde ſe ti :
rarað linhas de gloriotas conquiſtas para toda a cir:
cumferencia do Univerſo. A falta-ſe da Equinocial,
para o Norte 38. gr . e 48. min . E do primeiro Me
ridiano 9. gr . e 15. min . ( 2)
4 He muito deſigual , e quebrado o ſeu terre
no , '

[ i ] Gil Gonçalv. de Avila no Theatr. de las grandez. de Madrid ,


p.soc . Borero oasRelaç. unig.part. 1. liv . 1. pag. 15. Davity Deſar da
Europ.tom 1.p.188. [ 2 ) Seguimos eſte calculo , por entendermos que
be o mais exacto , nað ignorando o que diz o Padre Ricciolo , lib. 7 .
C.19 . fer ta ora a divertidade de opiniões, que tem havido ſobre a la .
titude de Lisboa , que nao ſe atrevia a aſſinalla ; porém com bons fuos
damcntus ſempre elegco , e ſeguio a que espomos ,
54 Mappa de Portugal.

no , por ſer compoſto de montes , e valles į o que


obrigou a Cadaval Gravio darlhe o attributo de
Acròpolis, que quer dizer montuofa. ( 1 ) Eſta irre
gular fituaçao embaraça o poderte ver perfeitamen
te de parte alguma o corpo todo da Cidade ; po
rém olhando do alto de algum dos ſete montes , em
3
que eſtá edificada , baſta a agradavel viſta da mari
nha para compenſar todo o deſcommodo.
S Prolonga- ſe pela parte Boreal do río deſde o
Convento de Belem até o de Xabregas , em que ha
duas legoas de extendida , e povoada praya ;
eſta face ainda he mais deleitavel aos olhos a ſua for
moſa perſpectiva , a qual produz com a nova erec
çaõ de palacios , e jardins melhor figura , e ſem .
blante , que no tempo antigo . ( 2) Pelo certao oc
cupa de fundo o eſpaço de meya legoa , e fórma
pela banda oppoſta a ſemelhança de hum imperfei
to ſemicirculo , ou arco tortuoſo .
6 Em todo eſte ambito ſe hia Lisboa engroſan
do com canto exceſſo , que os ſeus ſete montes pa
rece , que gemendo ao pezo da grande povoaçao ,
a obrigarað paſſar aos campos , e arrebaldes viſi
nhos , nos quaes vemos fabricarſe continuamente de
novo bairros inteiros com eſpaçoſas , e nobililli
mas caſas ; emendando - ſe ao meſmo tempo , quan
to he poſſivel , a deſigualdade do terreno , e eſtrei
teza das ruas , que ſe via nas primitivas fabricas da
Cidade .
7 In

[ 1 ] Grav. apud Poyares no Diccionar. Geografic. p . 252. [ 2 ] Da -


miaó de Gocs , que no ann . de 1542 fez huma Deſcripçao Latina de
Lisboa , diz , que quem olhaſſe da Villa de Almada para eſta Cidade,
ſe lhe repreſentaria a figura de huma bexiga , ou buxo de peixe. Siquis
ex oppido Almada re &tis , immotiſque oculis urbis fitum , figuratumque
vellit contemplari, illam certè veram vefica piſcis effigiem referre compe
riet. Porém ifto era em tempo , que a Cidade ſó ſe extendia deſde as
portas da Cruz até Santos o velho , como ſe poderá obſervar nas plans
tas antigas de Lisboa, que traz Jorge Braunio no tom. 1. Civit. Orb,
terrar, impreſſas no anno de 1572 , e tambem Abrahao Ortelio.
Da Cidade de Lisboa . 55

7 Inclula -ſe a mais antiga fituaçao della deſde o


monte do Caſtello , com tudo o que corre entre as
portas do Sol , e Ferro até à Ribeira com os ſubur
bios do Oriente , e Occidente . ( 1 ) Pouco a pouco
ſc foy alargando , em forma que no anno de isoo já
a ſua grandeza podia competir com as melhores Ci
dades do mundo ; ( 2) e no anno de 1550 pareceo
taó exceſſiva a ſua vantagem , que excitou ao Ar
cebiſpo D. Fernando de Vaſconcellos mandar fazer
huma Deſcripçao pelo ſeu. Guarda- Roupa Chrifto.
vaó Rodrigues de Oliveira, ( 3 ) para que ſe ville o
augmento da Cidade , e com cudo ſegundo conſta
da meſma Relaçao nao tinha Lisboa naquelle tem
po mais que tres mil e cem paſſos de comprido , e
mil e quinhentos de largo .
8 Aſſim foy nobremente creſcendo o territorio
até o tempo delRey D. Sebaſtiao o qual pela in
feliz jornada de Africa , deixando Lisboa deſerta ,
começou etta capital a experimentar huma notavel
deterioridade ; e ſobrevindo -lhe baſtantes oppreſa
sões , e calamidades (4) com o defábrigo , e remota
aſſiſtencia de alheyo Soberano , ſe vio fenſivelmente
opprimida a ſua opulencia , e grandeza . ( 5 ) Porém
allim como o Reino felizmente reſuſcitou na reſti
tuiçao de Reys proprios , aſſim em Lisboa renaſcco
o eſplendor antigo , e neſte augmento hia continu
ando florente com a cultura de edificios inſignes , e
com a excellencia de ſua populoſa excenſað , a qual
ha

( 1 ) Brand. Monarq . Lufitan. lib. 1o. cap. 26. [ 2] Goes na Olyffipo .


[ 3 ] Supporto que eſta obra inticulada : Summario de algumas couſas
aflim Ecclefiafticas, como Seculares, que ha na Cidade de Li:boa , ſahio
impreſſa no anno de 1551 na Officina de Germaó Galharde em nome
de Chriſtovao Rodrigues de O.iveira , Guarda Roupa do fobredito
Arcebiſpo : com tudo o Biſpo de Targa D. Fr. Thomé de Faria na
Decad. i.liv.9.c.6 . , attribué a ſua compoſiçao ao propr'o Arre viſpo
D. Fernando ( 4 ) Luiz de Torres nos Succeſſos dePortug part 1 C 2 .
e 6. ( s ) Sever. de Faria diſcurſ. 1. Sobre o muito que imporia para a
conſervacao, e augmento da Monarquia Portugueza afitir Sha Magelas
de com ſua Corte em Lisboa
56 Mappa de Portugal.

havia ſubido àquelle ponto , que tinha premeditado,


hum noflo Poeta . ( 1 )
9 O clima he o melhor de toda Heſpanba , tem
peradiſſimo , de ares puros , e ſaudaveis ; pois ordi
nariamente em todas as eſtações do anno ſe moſtrað
os Aftros benevolos ao ſeu terreno : parece que ſe
vive aqui em huma continuada Primavera . (2 ) Efta
celeſtial clemencia quer Luiz Mendes de Vaſconcel
los , (3 ) que ſeja communicada por influxos do ſi .
gno de Arics ; ſe bem o Doutor Manoel Bocarro
( 4 ) aſſenta fixamente , que o ſigno de Libra he o
que predomina mais directo neſta Cidade , ſobre a
qual eſtá perpendicular em rigor Geometrico , ſe
gundo a computaçao de Tico Brahe .
10 A ſua primeva , e originaria fundaçað he
muito controverſa , e entre os varios pareceres , em
que ſe dividem os Geografos , e Hiſtoriadores , nað
ha hum , que em tað remota antiguidade poſſa aquie
tar o animo inteiramente . Recolheremos todavia em
curto eſpaço quanto ſe encontra ſemeado ſobre o
aſſumpto. O primeiro parecer affirma , que Ulyſe
fes famoſo Capitao Grego , depois de conquiſtar
Troya , e reduzilla a cinzas , vicra fundar na ultima
cofta de Heſpanha a Cidade de Lisboa , a quem de
ra o nome de Ulyffea. Affirmaó que fora Eſtrabo

- '[ 1 ] Gabr. Pereir. no Poema de Lisboa Edificada , cant.10.eft 137.


Aqui, famoſo Alcides Lufitano,
Vereis hum mundo numa ſó Cidade ,
A quem de prata , e d'ouro o Tejo ufano
Banha em final de eterna mageſtade.

[ 2] Neufville, Hiſtoir. gener, de Portug. tom . 1. p. 35. Pivati, Nuovo


Dizionar. ſcientific. c curioſ. tom.6 . p.244. Brand. na Monarch . Lufit.
tom.3. liv . 10.cap. 26. Sever. de Far. Diſcurſ. 1. Politic . p . 18. v. Maccd .
Flor. de Heſp.cap.1 . [3 ] Vaſconcel.no Sitio deLisboa , p. 105. , a quem
fegue Oliveir. Grandez. de Lisb. fol. 136. Marinh . de Azevedo , Fundaçao
de Lish.liv.1 c . 26. [+ ] Bocarro , Annotaç.Aſtrolog.ao 1. Anacephal.da
Monarq. Port. eft. 67.
Da Cidade de Lisboa. 57

o Author deſta opinlao , ( 1) o qual por fé de Polli


donio , Artemidoro , e Aſclepiades Mirliano , pre
tende moſtrar por infallivel a navegação de Ulyf
ſes a eſtas partes , ſegundo varios monumentos nau
ticos , que exiſtiao ſuſpenſos em hum Templo , que
à Deola Minerva havia alli erecto aquelle Capitao
Grego . ( 2) A eſta decantada ſentença ſe aggregarað
outros muitos Eſcritores. ( 3 )
II
Porém contra iſto militað algumas razões
urgentes, é indiſpenſaveis à evidencia da verdade ;
porque do contexto de Eſtrabo nao ſe infere a ver
dadeira ſituaçao local de Lisboa , que vemos funda
da à borda do Tejo.; antes claramente falla o Au
Tom . III. Part.y. H thor

[ 1 ] Dehirc Abdera , Phænicum ipfa etiam edificium . Superiora regioni


ni : montane loca , Ulyxeam oftentant , in qua eft Minerve templum , ut
autor eſt Poſſidonius , d. Artemidorus , Aſclepiades Myrleanus : qui in
Turdetania litterarum Ludimagiſter extitit ... Is monumenta quadam de
Ulyxis errore in Minerva templo effe commemorat. Parmas ſuspenſas.
Apluftria : roftraque navalia . Strabo liv, 3. da impreffaó de Roma no
anno de 1470. [ 2] O Capitao Luiz Marinho no liv. 2. c.19. da Funda
çaó de Lisboa , diz, que eſte Templo fora fundado no Caſtello de Liſ
boa junto da torre , que chamaó de Ulyſſes. O Padre Antonio Vieira na
Palavra do Pregad. empenb.p.246 . , diz , que o dito ſumptuoſo Tema
plo fora o que hoje ſe vê mudado , ou convertido no infigne Conven ,
to de Chelas; porém cada hum falla ao ſeu arbitrio fem exhibir docu
mento ſolido, que acredite o ſeu dito ; e em ſemelhantes materias ſó
teſtemunho antigo dá authoridade. [ 3 ] Solin . cap . 26. Marin Sicul.
lib. 2. de reb. Hiſp C3 S. Ifidor. de Origin. lib . 25 cap.1 . Nebriſ.de reb .
Hiſp . ad Lector.Vafæus Chron. Hiſp.c.10. Luc. Tudenſ. Chron.mund .
ætat.3.Luiz Nun, in Hifp.c.35. Franc Tarapb. de reb Hiſp. tratando de
Gorgoris. Carrilho Ann: 1 . Chronol . ad an.2820. Garibai tom . 1. liv.4.
cap.29. Fr. Juan de la Puente Conveniencia de las dos Monarquias tom . 1 .
1.3.C.4.5.4 . Salazar de Mendoz. Origen de lasDignid. ſeglar. de Caſtila
1.1 c.2. Rodrig. Mend . Poblacion gener. de Eſp. pag. mihi 146. Monçon .
Eſpejo de Princip l.1 c 90. Colmenar. Hiftor. deSegovia c.2.5.1 . Quin
tana Hiſtor. deMadrid 1 1. c.4. Goes na Olifipo. Brico Monarch. Lufit,
liv.1.0.22 . Oliv . Grandez. de Lisboa trat. 2.c, 2. Eſtaço Antiguid. de
Port.c 7. Marinho liy 2. cap . 16. da Fundaçao de Lisboa. Duarte Nun.
Orig da ling. Port. p 9 Cam.c. 3. eft. 57. Moufinho de Quevedo no Affo
African.cant. 3. eft.42. Gabr. Pereir. na Ulyfféa cant. 7. 62.46 . Macedo
na Ulyffipo p . 182.
58 Mappa de Portugal.

thor da regiao , e montanhas de Granada , onde fiz


túa Abdéra , que hoje querem huns ſeja Almeria ,
outros Adra : e perſuadirnos , que viſto nao ſe achar
a Çidade de Ulyſſea no lugar onde a colloca Extra
bo e nella o Templo de Minerva , ſeja a noſſa
Lisboa a meſma de que falla aquelle antiquiſſimo
Geografo , he argumento muito violento como
pretende provar Gaſpar Eftaco , a quem ſegue o
Capitað Luiz Marinho de Azevedo .
I2
Além de que affirma Paulo Merula , Coſmo
grafo inſigne , ( i ) que nað paſſara .Ulyffes do eſ.
treito de Gibraltar ; e ſobre tudo affevera o grande
Herodoto , Pay, e Principe da Hiſtoria Grega, ( 2)
ſerem os Focenſés os primeiros Gregos , que uſarao
largas navegações , e que impellidos da violencia
dos ventos vieraó por acaſo inveſtigar as ultimas
coſtas do Oceano Achlantico ; fendo eſte primei
ro acceſſo , ou arribada quaſi ſeis ſeculos poſterior
às ruinas de Troya . ( 3 ) Donde ſó por eſte funda
mento bem ſe podia convencer de fabuloſa a Co
lonia , ou Fundaçao de Lisboa , attribuida a Ulyfa
fes.
13 Ehe certo , que das ſuas occidentaes pere
grinações já como fantaſticas , deſconfiarao , e du
vidaraó muito Aulo Gelio , Seneca , Cornelio To
cito , (4 ) e poſitivamente , quanto à fundaçaó de
Lisboa, nos deſenganao os illuſtres Filologos Chrif
tovao Collero , Juſto Lipfio , Gerardo Joao Voffio ,
Lourenço Valla , Mariana , D. Joao de Ferreras ,
e os

[ 1 ] Urbis nomen ab Ulyje ( qulod ex Myrliani verbis conatur facere Stra


bo ) derivare , abfurdiſſimum ; quum is extra fretum Herculeum nunquam
navigarit. Paul. Me ul part 2. Coſmograph .lib.2.cap 26. [ 2] Hi Pho
cenfes primi Græcorum longinquis navigationibus ufi funt. Adriam fimul ,
do Tyrrhenum , Iberiam , atque Tartefum oftenderunt. Herodot. na Clio
lib . 1. , ſegundo a verſaó deHenrique Eftefano , e Friderico Sylburgio.
[3] Vide Petav . tom . 2.de Doctrin. tempor . p.291 . [ 4] A. Gel. Noct.
A &tic. lib. 14. cap.6 . Seneca ep. 88. Tacit. de morib . & popul. German
nor,
Da Cidade de Lisboa . 59

e os erudítos Geografos Samuel Bochart , Chriſto


vað Cellario , e outros. ( 1 )
14 Reconhece a ſegunda opiniao ainda mayor
antiguidade a Lisboa ; porqu
porque lhe dá por fundador
a Eliſa , filho de Javan , e biſneto do Patriarca Noé ,
confirmando alguns o credito deſte partido com a
vulgar tradiçaó , que ainda entre nós permanece , de
chamarmos aos campos viſinhos de Lisboa , por ons
de corre o Tejo Lizirias , nome derivado com facil
corrupçaõ de Eliſa. ( 2) He o corifeo deſta ſentença
Joao Goropio Becano , Medico Brabantino , de agu
do , e fingular engenho , que na ſua Hermathèna ,ou
eſtatua de Mercurio , e Minerva ( 3 ) foy o primeiro
que deſcobrio taó glorioſos principios a eſta inclyta
Cidade , por cujo invento pretende jactanciolamen
te o meſmo Author , e he juſto , que os Lisbonenſes
lhe ſejamos agradecidos. Seguem -no baſtantes. (4 ).
ніі .

[ 1 ] Colero Specileg.ad Corncl. Tacit. pag. mihi 595. 1. 2. Juft.Lipf.


nas Notas que fez a Tacito allegado nota 14. Voffio tom . s . lib. 1. de
Origin. Idolatr. c 33. Æque vanum de Oliſipone condita ab Ulyſe. Valla
tract. de reb . à Ferdinand. Aragon,rege geſtis lib. 1. p . 1008. na Colleca,
çaó de Roberto Bello Marian. Hiſtor .de Eſp . tom . 1. lib . 1. cap .12 , fin.
Ferreir. part. 1. Synopf. Hiftor. p.60 . Bochart. Geograph facr. tom . 2 .
lib. 1. cap .35. Jam qua ad Tagum eft , Luſitania hodiemetropolis , oliſip
po , fruftra ab Ulyſſe deducitur , cum fit Pheniciim alis ubbo , id eft ,
amenus finus.Cellar. Geogr . antiq. lib. 2.C. 1.9.8 . Sed nugæ ( unt , qua
de Ulyſe conditore adferuntur. Colnjenar. Delices de Portug. tom . 4.
p . 748. [ 2 ] D. Fr. Manoel na Cart. 62. da centur. 3. ( 31 Lisbonam igi
tur non ab Ulyfe vel di&tam , vel conditam fuiſſe exiſtimo , fed multo ef
fe antiquiorem ... Nobis è facra Hiſtoria liquet Elifafratrem Tarſis fuif
Je; quo fit ut credam , Tarſeſium quidem prius Tarteſum condidiſe, at
gue inde Eliſam partim fratris vicinia , partim locorum clementia alle
&um ad oftium Tagi urbem ſtatuiſſe , de nomine ſuo Elis - moa vocafe
ſe , unde Elisbon , ac deinde Lisbon fuerit nuncupata , duplici digamma
in Beta commiltatio. Quis non videt quanto hæc nomenclatura propius ac
cedat ad Urbis nomen , quod hactenus fibi fervavit , licet Græci ambitia.
ſe illud conati ſint ad Uly ſipolin detorquere? Joan. Gorop in Hermachen .
lib 9.p.229., e na Hiſpanica'lib.4. P.53 . [4] Covarruv. Theſor. de la len
gủa Caſtellan.verbo Lisbona. Brand. Monarq.Lufit. lib.so.cap.26. Cunha
Hiftor. Ecclef.de Lisb. part. 1.cap 2 $ 7. Sever . de Far. Not.de Pore.diſcos:
9.2 . Salgad. de Araujo Mart. Luſ.p.83. Fonſ. Evor. glor.n.9 .
60 Mappa de Portugal
.

15 Sem duvida he deſculpavel o aſſenſo , que os


noſſos Eſcritores tributaó a etta illuftre ſentença ,
ou já pelo reſpeito , e decoro , que nos communica
tad nobre , e antigo Fundador , ou pela difficulda.
de , que ha em conhecermos quanto nos liſongea o
amor da patria ; porém a fallar ſeriamente a verda
de , e examinando imparcial a força da dita opiniao ,
nella nao ſe encontra mais que huma engenhoſa vio- ·
lencia , ou conjectura , e como lhe chama em caſo
identico o inſigne Eſcriturario Bento Pereira ( 1 )
adevinhaçao dos cap . 10. do Geneſis , e 27. de Eze .
chiel, em que le firma ( 2 ) corroborada unicamente
com a fingular etymologia de huma raiz Hollande
za , ſegundo pretende o meſmo Goropio , que por
intereſſe de vangloria ſe quiz fazer celebre na inven
çao de opiniões extravagantes , como dizem Juſto
Lipſio , Scaligero , e llaac Bullart. ( 3 )
16 Abraçando as duas precedentes opiniões, de
termina a terceira coordenallas em melhor chrono
logia , affirmando que Lisboa fora primeiramente
edificada por Eliſa aos 278 annos depois do Dilu
vio ; e que paſſados 900 annos viera Ulyſſes amplial
la . He eſta ſentença muito plauſivel pela qualidade
dos Authores , que a approva ) , e ſeguem. ( 4 )
17 Suſtenta , e qualifica a quarta opiniao , que
Lisboa fora fem duvida fundada por Gregos , ou
fofiem huns , ou outros os quaes como coftuma
vaõ impor os nomes às ſuas novas colonias deduzi .
dos ,

[ 1 ] Pereir .in G : neſ.c. 10. lib. 15. [ 2 ] Pined. de reh. Salom . lib.4 .
cap. 14. p. 208 Pinto in Ezech . c 27. Bochart. Geogr ſacr. tit . 2 lib. z .
c.4 . Kircher de Arca Noe p. 223. [ 3] J. Lipſ cent 3.epiſt.44 Scalig.
apud Card Bona in notitia Author , que vem no fim da Divina Pfalmo
dia . Bullart Academie des Sciences tom.2 . p.177 . [4] Marinh. de Aze
ved. Fundaç. de Lisboa liv.2.cap. 10. Vieira Palavra de Deos empenha-
da p . 245. Joao Salgado Marte Lufitan, certam . 1. art. 4. Cardoſ. Agiol.
Luſit.aa 13 de Junho. Carv. Corograf. Port tom . 3.trat. 8. cap.2 . Santa
Maria Ceo aberto liv . I. cap. 5. Soar. Memor. delRey D. Joao I liv. 3 .
n . 1203. Garcez Ferr. ſobre o cant, 8. de Gam, eft. 3. n.9 . Lima Geogr.
Hiftor. tom. 2. cap: 12:
Da Cidade de Lisboa . 61

dos , e indicativos da mayor fertilidade, em que os


firios ſe fingulariſavao , vendo diſcorrer pelas ribei
ras do Tejo grande numero de velozes ginetes , e
fecundiflimas egoas , lhe chamarao Olis bippon , co
mo ſe lê em Ptolomeu , iſto he , Olios equile , ou equo
rum , fegundo vertem Joao Noviamago nas Taboas
do meſmo Ptolomeu , e Nono Pinciano nas Caſti .
gações de Pomponio Mela ; (1 ) donde os Roma
nos conformando -ſe com a alluſao , ou etymologia
dos Gregos , deduzirao depois o nome Oliſpo , que
deraó a eſta Cidade , conforme encende Lourenço
Valla , ( 2 ) e parece o quiz dizer tambem Plinio ,
( 3) a quem ſegue Paulo Merula , ( 4 ) e o noſſo Ju
riſconſulto Joao de Barros na Deſcripçao do Minho .
18 Omituindo outras opinióes menos recebidas ,
ou extrahidas de monumentos fabuloſos , ( ) con
cluimos dizendo : que a averiguaçao deſte ponto he
fummamente ardua , e que nao permitte, deciſao
abſoluta pelo remoto da ſua antiguidade , em que
nao ha documento ſolido, que o determine > (6 )
conſtituindo sem duvida eſta meſma incerteza huma
das vencraveis excellencias , que condecorao Lir
boa ; pois ninguem poderá dizer della rectamente
quando nað foy ; nem taó pouco affirmar quando
começou a fer.
S. II .

( 1 ) Noviomag . in lib. 2. Prolom , cabul 1. Geogr. Non. Pincian . in


lib 3. Pompon. Mel. cap 1. [ 2 ] In Portugallia Oliſippona. Quod nomen
ab iis corrumpitur , qui velut ab Ulysſe Ulyxbonam dicunt , nefcientes Ulyf
fis illius viri nomen , fed fic à Larinis effe corruptum ; praterea ITlyfjem
illuc non navigaſſe: poſtremo hanc vocem , ſi Græcam originem ſectari li..
bét , ab equis ductam . L. Valla fupra allegado. [3 ] A tago in ora Oliſip
po : equorum à Favonio vento conceptu nobilis. Plin.l.4.c.24 . da impref de
Veneza do an. de 1469 na Officina de Joao Spira . [4] Oliſippo enim mro
quidem judicio , qulaſi olis ippon ; quo innilitur totum illum Hiſpania tra .
& um , tanquam equorum quoddam fuiffe ftabulum ,ob incredibilem equs
7ļlm iis in locis facunditatem . Merula ſupra allegad. [ s] Vide Barreir.T
Corograf. p. 153. Mariab.de Azevedo liv.2.0.12 . [6 ]Oliſiponem igitur
quis primum condiderit, in tanta ſeculorum vetuftate , procerto nos affire.
mare non audemus. Goes in Deſcript. Oliſip,
62 Mappa de Portugal.

. II.

Nações varias , que a dominarað .

1 que occuparao I
O a
Lisbo , confo rme a noſſa Geografia, fo
raó os povos a quem Plinio chama Turdulos anti
gos , ( 1) donde ſe propagarað os Turdulos moder
nos da Andaluzia , c Turdecanos do Algarve. Era
eſta gente a mais bem entendida , e valeroſa de toda
Heſpanha , e derao provas baſtantes do ſeu valor em
varios recontros , que tiveraõ com os Celtas , Bar
baros da Arrabida , e Sarrios da Beira.
2
Nao menos experimentaraó a ſua boa politi
ca os Fenices , os Gregos , e particularmente os
Carthaginezes , de quem ha memorias mais verda
deiras . Confederaraó - fe eftes com os noſſos eftrei
tiſſimamente , ſervindo -lhes a noſa amiſade , rique
zas , e outros bens com que a natureza dotou Life
boa , para que nao contentes com os intereffes do
commercio , deixallem de ſe levantar com a terra ,
e ſubjugalla a ſeu imperio .
3 As meſmas qualidades de paiz taó fertil , tao
ameno tað benigno , ſerviraõ de incentivo em
grande parte a ambiçaõ dos Romanos , cujo poder
prevalecendo contra os Carthaginezes triunfou das
ſuas armas ; e introduzindo - ſe abſolutos na Luſita
nia , fizerað ſua a Cidade de Lisboa entre as mais
Povoações , que ſujeitara6 , cuftando - lhe codavia
nað pouca perda de ſeus exercitos , derrotados pela '
noſſa gente . ( 2) Aqui poderamos fazer mençao de
muitos ſucceſſos memoravcis dos Lisbonenſes anti
gos ,

[ 1 ] Plin . lib .4. cap. 21. Monarq Lufitan , liv.10 .C.26. Vide o noſſo
Mappa tom i part 2. cap 1.8.49 . [ 2 ] Livio lib. 35. cap. 1.lib.36.C.46,
lib.39. C.31 . Orofio lib.5. cap.4 . Moral . Pineda , coltios apud Fr. Bern.
de B ito na Monarq. Luſitan . liv. 2. C. 27.28. Reſend, de Antiq . Lufitan ,
lib.1. &< 3 •
Da Cidade de Lisboa . 63

gos, principalmente dos celebres , e valeroſos Ca


pitães Ceſaron , Cancheno , Viriato , e outros , ſe efte
fora o noſſo principal aſſumpto , contentando - nos ,
por nos conformar com o fyftema, que ſeguimos ,
referir o ſufficiente .
4 Concluida finalmente a famoſa batalha de
Munda contra os filhos de Pompeyo , ſe vio a noſ
fa Provincia pacificada com a preſença do Impera
dor Julio Ceſar , a quem Lisboa , já naquelle tema
po de grande nome, pela conducta benefica do Im
perador , lhe deu homenagem . Tanto eſtimou Ce
far eſte lance de obediencia , que para premio da
Cidade , e expreifao do ſeu goſto , ou para melhor
perpetuar ſua fama mandou que dalli por diante
Lisboa ſe denominaffe Felicitas Julia , ifto he , Fe
licidade de Julio Ceſar , e que ſeus Cidadãos gozal
ſem o foro municipal , que conſiſtia em poderem
militar nas Legióes Romanas , gozando alli das hon
ras que mereceſfem : e que pelos Magiſtrados ob
tidos nas ſuas patrias tinhao ingreſſo para os de Ro
ma , podendo pedillos , e participallos, e juntamen
te governarſe pelas ſuas leys particulares , e gozarem
de outras muitas prerogativas. ( 1 )
Além de varios Authores , que referem ter
dado Julio Ceſar a Lisboa o honorifico tiulo de Feli
citas Julia , e o privativo de municipio , ( 2) ſe acha
elle acreditado em varias Inſcripçócs aqui deſcober
tas , que ſe podem ver em D. Rodrigo da Cunha .
(3 ) Nós accreſcentaremos mais huma que ſe mani
feitou no anno de 1749 , extrahindo - ſe dos alicerſes
de humas caſas fronteiras à eſquina da Paroquial
Igreja da Magdalena no principio da traveffa , que
vay para as Pedras Negras. Por nao ſe perder eſta
memoria , perſuadimos, que ſe collocaffe eſta bem
conſervada , e moldurada lapida , com outras mais
Inf.

[ 1 ] Panvin. lib. 2. de Imper. Rom . [ 2 ] Apud Brito naMonarq .Luq .


Gt.liv.4.cap.20. [3 ] Cunha Hiftor. Ecclel. de Lisboa part. 1. cap. 4:
64 Mapp
a de Portugal.
Inſcripções Romanas ', que alli ſe deſcobriraó , na
face collateral da parede dasditas caſas reedificadas ,
comprid
e tem a em oque agora reparamos quafi doze palmos

perfeito rectangulo. Diz a Inſcripgao gravada na


pedra deſta forma :

L. Caecilio L. F. Celeri Recto


Quaeft. Provinc. Baet .
Trib . Pleb. Präetori
Fel. Iul. Oliſipo.

6 He o ſentido deſta Inſcripcao : Que a Cidade


de Lisboa , ou Felicidade Julia , chamada em outro tem
po Oliſipo , dedicara aquella memoria a Lucio Cecilio , fi
Ibo de Lucio Geler Reptilimo Queſtor da Provincia Beti
ca , Tribuno da Plebe , é Pretor. De cujo monumen
to fe infere , que Lisboa conſervava o dictado de
Felicitas. Julia em tempo do Imperador Domiciano ,
em cujo Imperio veyo governar na Betica o ſobre
dito Pretor Cecilio Celer , que foy perto dos annos
88 de Chriſto , ſegundo a Chronologia do P. M.Fr.
Hçorique Flores na bem trabalhada , e erudira obra
de Heſpanba Sagrada. ( 1 ) Delte Pretor ſe lembra
Marcial , ( 2 ) louvando muito o ſeu governo : o mo
tivo porém que houve para os noſſos Lisbonenſes
lhe dedicarem aquella memoria , ignoramos . De
outras Inſcripções Romanas , que confirmao iſto ,
tratao largamente os Authores que allegamos. ( 3 )
Advertindo , que até o anno 245 de Chriſto ha me
moria de permanecer ainda Lisboa com o meſmo
titulo , ſegundo conſta da Inſcripcao , que trau Gru
téro , pag . 273. dedicada ao Imperador Filippe.
7 Foy

[ 1 ] Flor. Heſpanha ſagrad. tom . 1. cap. 16.p.237. [ 2 ] Mart. lib. 70


epigr.51 .
Ille meas gentes, a Celtas rexit Iberos ,
Nec fuit in noſtro certior orbe fides.
[3 ] B ito na Monarq. Luſit liv ,5. Luiz Marinho nas Antiguidad de
Lisb , liv . 3.Reſend .de Antiquit. Cunha nos Biſpos de Lisboa,
Da Cidade de Lisboa . 65

7 Foy proſeguindo o dominio Romano em nof


ſas terras até o anno de 409 , em cujo tempo ſucce
dendo a invaſaó dos Alanos , Vandalos , e Suevos
em todo este Continente , ( 1 ) ſe vio arruinada a Mo
narquia Imperial . Os barbaros Septentrionaes diro
cordes , e divididos em bandos , cauſavao mutuas :
hoſtilidades nas Provincias : determinarao forteal .
las, e cahio a ſorte da Luſitania aosAlanos , ſegundo
refere Idacio no ſeu Chronicon ſobre o apno de 411 .
8 Pouco tempo durou a reſidencia dos orgulho
ſos Alanos neſta Provincia , e Cidade ; porque vin
do os Godos com ſeu Rey Theodorico, os derrotou ,
e ſubmetteo a ſeu imperio. Succederaó logo varias
alterações , e com ellas ſentio Lisboa os eſtragos ,
e os roubos , que lhe fulminarað os Suevos , capi
taneados por Maldras, que com final de paz a inva
diraó fraudulentos, conforme expreſa o meſmo Ida
cio ſobre os annos de 457. Durou efte governo em
varios Reys Godos até expirar o ſeu dominio em
D. Rodrigo com a cruel entrada dos Sarracenos.
e Apoderados os Arabes de Heſpanha pelos an
nos de 714 , padeceo Lisboa a ſua conquiſta nos de
716 , entregando - ſe todavia por capitulações ao ini
migo Abdalariz , a quem ſe ſujeitou com a liberda
de de Religiao ; até que pafrados 38. annos , o Rey
Arabe Abderraman com poderoſo exercito a con
quiſtou , e debaixo deſte cativeiro ſopportaraó os
Lisbonenſes rigoroſos effeitos de hum jugo tyran
no . (2 ) Por eite meyo tempo he crivel, que os
Mouros corrompeſlem o nome antigo da Cidade
chamando - a Liſibo, por nao terem no ſeu idioma uſo
da letra P. Depois diſſerað Liſiboa , e ultimamente
Lisboa , que hoje permanece . ( 3 )
Tom.III . Part.V. I 10 Co

[ 1 ] Petav . Doctrin. tempor. tom.2 . pag.mihi 440. [ 2] Brito na Mo


narq. Luft. liv.7.cap. 6. [ 3 ] Barreir na Corografia , p.6z. Herbelot na
Bibliot. Oriental , diz , que os Arabes pronunciao Lisboa delta forte: Afa
chbounah ; e que ha nella huma rua , ou bairro chamado Harat al M4.
grourin , que quer dizer : Rua dos atrevidos.
66 Mappa de Por:ugal.

10 Começavaj - ſe já a ouvir os vitorioſos cla


mores , e felices progreſſos da reſtauraçaõ de Hero
panha, quando no anno de 798 D. Affonſo o Caſto,
já Rey acclamado de Galliza , e Aſturias com o loc
corro de Carlos Magno , invadindo Portugal , cer
cou eſtreitamente Lisboa ; e vencendo.a por afſal
to , poz tudo a ſaque , e em miſeravel fuga ao Ca
pitao Mugabit , que a governava . (1 ) Logrou po
rém a Cidade pouco tempo a pacifica reſidencia dos
Chriftkos ; porque no anno de 811 a tornaraó a
uſurpar os Mouros pelo Rey de Cordova Aliantan ,
pofto que à cuſta de huma dilatada reſiſtencia ;
neſta ſujeiçao barbara permaneceo até o anno de
951 , em que ElRey de Leao D. Ordonho III . a
veyo recobrar à força de rigido combate . ( 2 )
II Correraõ alguns annos , e devia outra vez
facudirſe da obediencia dos Chriſtãos ; porque conf
ta da Hiftoria dos Godos , ( 3 ) que a 6 de Mayo de
1093 a conquiſtara ElRey D. Affonſo VI . de Caſo
tella , e ficarað ſendo os Mouros ſeus tributarios .
Foy continuando na meſma ſujeiçao até o noſſo
Conde D. Henrique , a quem ſeu ſogro D. Affonſo
VI . havia dado em dote todas as terras conquiſtadas
em Portugal ; mas porque o numero da guarniçao
Chriſtá foy muito menor do que era preciſo para
manter firme o preſidio , ſuccedeo rebelarem - ſe os
infieis contra o Conde ; e aſſim ſe tornou a perder
Lisboa , e reduzirfe totalmente ao aſpero ſenhorio
dos Arabes . Vamos referindo eſtes varios conflictos
na fé do noſſo diligentiſlimo Chroniſta Brandao , nao
ignorando haver Author , (4 ) que ſe inclina , a que
Lisboa nao fora tirada aos Mouros deſde o ſeu pri
meiro dominio , ſenaŭ pelo ſanto Rey D. Affonſo
Henriques .
12 Em

[ 0 ] Monarq . Lufit. liv.7.c.11. Huerta Anales deGaliza tom.2.8 304.


[2] Sampiro apud Monarq. Lufit 110.7 . cap . 22. [ 3 ] Ibid. liy .8. cap.6.
141 Souſa na Hiftor. Gencal, tom . 1. pag. 59.
Da Cidade de Lisboa . 67

12 Em fim chegou o anno de 1147, e com el


le a occaſiao feliz de ſer Lisboa ultimamente reſga.
tada por eſte gloriofiffimo Principe , de cujo gran
de eſpirito , e valor ſempre a fama publicara mara ..
vilhoſos effeitos. Era ardua a empreza , e ſe fazia
difficultoſa a conquiſta , por fer a Cidade huma das
mais formidaveis Praças da Eſtremadura , fortaleci.
da com robuſtas muralhas , e guarnecida com hum
innumeravel preſidio de Mouros s motivos que já
no anno de 1140 havia) fruſtrado ao meſmo Heroe
ſemelhante projecto.
13 Agora porém auxiliado com o poder de hu .
ma famoſa expediçaõ de duzentas náos , que das
partes do Norte havia fåhido para a conquiſta da
Terra ſanta , e compellida de huma furioſa tempeſ
cade , viera demandar o abrigo das noſſas Coſtas ,
determinou ElRey D. Affonſo pôr em ultima exe
cuçao os ſeus ſantos deſignios.
14 Será juſto darmos aqui noticia deſta armada ,
c de algumas circunſtancias noraveis ſuccedidas no
cerco de Lisboa , valendo - nos para ifto com eſpe
cialidade de hum documento coetaneo , e authenti
co até agora incognito aos noſſos Eſcritores. He
huma Carta Latina, que Arnulfo , peſſoa diſtincta ,
que vinha na dita armada , eſcreveo no anno de 1147
ao Biſpo de Terona em França , chamado Milon,
dando- lhe conca da dita expediçao , e ſeu progreſ
ſo , a qual Carta extrahida dos manuſcritos das infi
gnes Bibliothecas Aquicinerenſe , e Gemblacenle
Abbadias de França , deſcobrimos no tom . I. Vete
rum monumentorum , a pag . 800. da Collecçao de Mar
tene , e Durand , Monges Benedictinos de S. Mau
ro , impreſſa em Pariz no anno de 1724. Diz aſſim
conforme a noſſa verſao , deixando outras antece
dencias da dita Carca .
IS „ Na ſegunda feira depois do Eſpirito San
to entrando pela barra do rio Douro , arribamos
ao Porto , onde achamos o Bispo daquella Cida
1 ii de ,
68 Mappa de Portugal.

, de , que com antecipada ordem delRey eſperava


» alvoraçado a noſſa vinda. Alli nos demoramos on
my ze dias aguardando i pelo Conde Arnoldo de Ar
,, deſcob ', e o Condeſtavel , que fe haviaó fepara
do de nós por cauſa da tempeſtade , e em codo
jo eſte tempo experimentamos no bom commodo
s's dos viveres com outras delicias , e refeſcos do paiz
a benevolencia do Rey . ( 1 )
1:16 . , Chegados o Conde , e o Condeſtavel , fo
,, mos continuando a noſſa viagem , e ao ſegundo
dia da jornada entrando pela foz do Tejo na Vi.
w gilia dos Apoftolos S. Pedro , e S. Paulo , démos
fundo em Lisboa , cuja Cidade , conforme a tra
diçao das Hiſtorias dos Sarracenos , foy cdificada
» por Ulyſſes depois da deſtruiçaõ de Troya ; e eſ
tá ella fundada com admiravel extructura de mu .
» ros, e torres ſobre hum monte inſuperavel às for .
» ças humanas . ( 2 )
17 9 ) Am que pozemos pés em terra armámos
barracas ; e ajudados do favor Divino em o prię .
meiro de Julho , tomamos os arrebaldes da Cida
de . Depois de varios aſſaltos contra as muralhas ,
s nað ſem grande prejuizo de parte a parte , gaſtá
» mos em preparar maquinas até o primeiro de A.
goſto . ( 3)
18 , Jun

(0 ) , Secunda feria ad Portugallim per alveum fuminis , qui Do


,, rius dicitur , applicuimus , ubi Epiſcopum civitatis ejuſdem adven .
tum noftrum cum magno gaudio juxta præceptum Regis præfto
lantem reperimus. Ubi per dies XI, adventum Comicis Arnoldi de
Ardeſcot , ncc non Chriftiani Conſtabularii , qui à nobis prædi
tempeſtate diviſi erant expectantes , æquam venditionem tam
yin : , quàm cæterarum deliciarum ex benevolencia Regis habuimus.
[ 2 ] „ Exinde Comite Arnoldo , fimulque Stabulario receptis , Davi
gantes , fecunda die apud Ulixisbonam in Vigilia Apoftolorum Pe
tri, & Pauli appulimus. Quæ civitas , ficut tradunt hiftoriæ Sarraa
52 horum , ab Ulyxe poft excidium Troiæ condita , mirabili ſtru .
ctura tam murorum , quàm turrium ſuper montem humanis vi
»; tibus inſuperabilis, fundata eft. ( 3 ) , Circa quam figentes tento
» ria Kalendis Julii ſuburbana ejus Divina virtute adjuti , cepimus. »
Post
Da Cidade de Lisboa . 69

18: ,, Junto da praya fabricámos duas fumptuo ,


» fas torres , huma para a parte do Oriente , onde
3 fe cinbaó aquartelado os Flamengos , outra na
s parte Occidental, onde eſtava alojados os Ins
glezes , e fizemos tambem varias pontes para nos
sy facilitar a entrada da Cidade por cima dos ſeus
19 muros . ( 1 ) ingyayari sa
19 No dia da Invençao do Protomartyr San .
aó fe começarao r ia
9 to Eſtev a imove para a bater
was maquinas, e as náos ; porém rebatidas naó ſó
‫ وو‬do vento contrario , mas dos inftrumentos belli
» cos , com que nos ſacudiaõ , nos retiramos com
» algum damno ; e no tempo que os noſſos pugna-,
va com os Sarracenos , defendendo os Ingle
zes com menos vigilancia a ſua corre , nao a po
‫ زو‬deraõ livrar do improviſo incendio , que a abra :
9 20u . (2 )
20 ,, Logo com certa maquina começamos a
„ romper a muralha ; o que vendo os Mouros >
» lançando por cima della fogo oleoginoſo , a redu
„ zirao a cinzas , experimentando-ſe entao de par
te a parte innumeravel mortandade , que, cauſa
vao os arremeços das ſertas , e os tiros de outras
armas offenſivas. Quebrantados algum tanto os
re
„ noſſos com a derrota da maquina , e da gente ,
applicaraó a fazer novos reparos , e engenhoſos
‫ رز‬-ar

„ Poft hæc affultus varios circa muros non fine magno poſtrorum ,
& illorum detrimento facicntes , uſque ad Kalendas Auguſti in ma
» chinis faciendis tempus protraximus. [ " } ... Siquidem duas curses,
» juxta littus, unam in Orientali parte , ubi Flandrigenæ confederant ,
» , alteram in Occidentali , ubi Angli caftra locaverant , magno fumptu
„ conftruximus. Pontes etiam quatuor in navibus , fex per quos no-,
bis aditus ſuper Urbis muros paterent , conſtruximus. [ 2 ] „ Hæc
in Inventione B. Stephani Procomartyris admoventes , vento con
» , trario repulli , nccnon & magnellis quodammodo læſi caves retra
» ximus. Deinde nobis ex noſtra parte pugnantibus cum Saracenis
» Anglici minus cautè fuam turrim cuftodicntes , hanc ex improviſo
» igne fuccenfam extinguere non potuerunt.
70 Mappa de Portugal.

artificios , eſperando ſempre da miſericordia de


Deos. ( 1 )
21 Padeciao nefta occafia o os Sarracenos den
si tro da Cidade os effeitos de falta de viveres ;
» porque fuppofto , que alguns fe achavao com
abundancia de mantimentos, ſe fecharaó com el.
les de modo , que muitos dos mileraveis paizanos
morriaó à fome , outros ſem horror algum traga
vao cães , e gatos . A mayor parte deites miſera
veis le paſſavao aos Chriltāos pedindo , que os
‫ وز‬bautizaſſem . Tacs houve , que desfalecidos ſobre
39 os muros já com as mãos cortadas , eraó apedre
jados pelos proprios . Outros muitos fucceffos
proſperos , e advertos nos aconteceraó , ſegundo
» permittem os varios movinientos da guerra , os
quaes deixamos de referir por evitar prolixida
de . ( 2 )
22 Era dia da Natividade de Maria Santilli
» ma , quando certo Italiano , natural de Piſa , ho
95 mem de grande induſtria , começou a edificar hu
ma altiffima torre de madeira no meſmo ſitio ,
, onde ſe tinha queimado a dos Inglezes , para cu .
» jo complemento concorrendo difpendio Regio ,
diligencia do Exercito , fe gaſtou todo o mea
,, do de Outubro . Com igual actividade outro En
" ge

Interim nos quadam machina murum efodere coepimus.


;; Quod videntes Saraceni, igoe oleo admixto , eandem machinam in
favillam redegerunt ; præterca mortes innumeras tam magnellis,
» quam ſagittis , noftris inferentes , ipfi quoque à noftris puniti ſunt.
Noftri de fractura machinarum , & fuorum contritione aliquantis
perfraéti, in miſericordia Dei ſperantes , ingenia , & machinas
99 reparare coeperunt. ( 2) . Incerca Saraceni Civitatis, qui alimentis
abundabant , ſuis concivibus egentibus alimenta adeo ſubtrahebant ,
9) ut quamplurimi corum fame morerentur : quidam autem eorum :
95 canes , & cattos non abhorrebant devorare. Horum pars plurima
Chriſtianis ſe obtulit , & Baptiſmi Sacramenta fufcepit. Quidam
autem illorum , truacatis manibus ad murum remiſli , à fuis con
civibas lapidati funt. Multa nobis adverſa , feu proſpera fecundum
» quod varius eventus eſt belli , acciderunt , quæ propter prolixita ,
tem vitandam filentio tranfivimus.
Da Cidade de Lisboa. 71

»j genheiro fez grandes cavas por debaixo dos mu .


i , ros , cuja operaçao mal ſoffrendo os Mouros , fa
zendo occultamente huma fahida , pelejaraó com
os noſſos ſobre a cava a peito deſcoberro deſde
as dez horas da manhã até a tarde em o dia feſti
„ vo do Arcanjo S. Miguel . ( 1 ) -
23 Porém os notíos amparados com alguns
frecheiros , que lhes refiftiaó , de tal forte entu
jn pirao as paffagens , que ao recolher ſe os Mouros
9 , apenas eſcapou algum delles fem golpe, ou feri
i , da ; e continuando em abrir , c fundar a mina de
» dia , e de noite , a acabaraõ de encher de madei.
į , ros no dia proprio , em que ElRey jantamente
je com os Inglezes vinha encoſtar aos muros a ſua
torre. Pondo - ſe entaá fogo à mina em a noite de
S. Gallo Abbade , ardendo a fachina , rebentou
hum lanço da muralha , cahindo della quanto oco
» cupava o eſpaço de duzentos pés . ( 2)
24 Ao eſtrondo da ruina , acordando os noſ.
„ , fos , pegarað em armas , e acomettendo com gran
des alaridos a brecha , eſperavao que fugiſſem os
„ que vigiavao , e guarneciaó os muros į porém
fe po
» acodindo os Arabes em grande numero ,
„ zeraó em defeza na parte , em que a eminencia
de

[1 ] „ Tandem quidam Pifanus natione vir magnæ induftriæ circa


Nativitatem S. Mariæ turrim ligneam miræ alticudinis in ea parte ,
, qua prius Anglorum turris deſtructa fuerat , coaptavit , & opus lau
dabile tam ex regio fumptu , quam ex totius exercitus labore circa
jj niedium Octobris conſumavit. Similiter quidam fab muro Civi.
„, tatis ingentescavationes fuo ingenio , & multorum auxilio fecit ,
quod Saraceni moleftè ferentes in feſto S. Michaelis circa horam
s tertiam latenter exeuntes , nobiſcum ufque ad vefperam fuper fo:
si peam pugnam continuabanc. [ 2 ] Nos autem , Sagitariis eis oppo:
,. fitis, vias per quas redire fperabant, adeo vallavimus , ut vel nul .
lus , vel vix aliquis eorum fine plaga evaderet. Hinc poftri die , no.
» Etuque laborantes, opus fubterraneum lignis levigatis impletum
cadem die confumaverunt , qua Rex cum Anglicis muris turrem
, fuam applicabar. Siquidem in ipfa nocte SanctiGalli Abbatis , ignę
follæ impofito , lignifque ardentibus, corruit murus (patio ducen
» torum pedum .
72 Mappa de Portugal.

99 de hum monte fazia difficil a entrada , continue


ando codavia o combate deſde a meya noite até
à hora nona do outro dia , em que finalmente os
noſſos fatigados, e baſtantemente feridos , forao
» deſamparando a peleja a tempo , que a torre ſe
hia apropinquando , de que o povo barbaro an .
dava pelas ruas tumultuoſamente vesado . ( 1 )
25 ,, Chegou a torre guarnecida de bellicofos
ſoldados a ſobreenceitar com a muralha , quando
dado final, ſe vio ao meſmo tempo inveſtir con
tra os Mouros com maravilhoſo affalco o Excr
cico da noſſa parte , e os Lorenezes na corcadu
, ra dos muros . A foldadeſca delRey , que peleja.
» va na fortaleza da torre atormentada com as del
» cargas dos Sarracenos , ſe moſtrou entao com me
,, nos alento , de tal forma, que os Mouros , que
9 ſahirað fóra dos muros , queimariao fem duvida
» a torre , ſe alguns dos noſſos, que por acaſo ti
in nhaó alli vindo , os nað embaraçaſem . ( 2 )
26 Como a noticia deſte perigo chegarſe aos
ouvidos do noſſo Exercito , ſe deſpedirao prome
» ptamente os melhores batalhões delle para defen
der a torre , per ſe nað fruſtar na perda della a
„ noffa eſperança. Vendo entao os Sarracenos o
» gran

[ 0 ] „ Noftri de tanta ruina ſomno expergefa & i , fumptis armis


cum magno clamore afiliebant , ſperantes vigiles cuſtodes muro
rum fugiffe. Ad ruinam autem cum veniſſent , mons'aditu diffici
lis ſuperiminebat, & turba Saracenorum parata ftabat in defenfio
» ne. Nihilominus autem noftri aſſiliebant , nec à pugna media no
cte inchoata uſque ad diei horam nonam ceffabant. Tandem va
,, riis percuffionibus attriti , pugnæ fe fubtrahebant , quouſque com
municatio curris admoveretur, & fic Saracenorum populus hinc
,, inde vexaretur. [ 2 ] „ Et ecce turris viris bellicofis impleta muro
ſuperiminebat. Eadem hora exercitus noftræ partis , Lotharingis
ad fracturam murorum inditio pugnantibus , Saracenos mirabili
aſſulou impetebant . Interim milites Regis , qui in arce curris pu.
gnabant , magnellis Saracenorum territi , minus viriliter pugna
bant , uſque adeo , quod Saraceni cxeuntes , turrim concremar
ſent , fiquidam de noftris, qui caſu ad cos yenerant , non obftitif,
ſet.
Da Cidade de Lisboa. 73

5 grande valor, com que os Lorenezes , e Flamen


so gos ſubirao para a fortaleza da torre , ficarao tao
» preoccupados de medo , que arremeçando os al
mfanges aos pés , moſtravao as mãos deſarmadas
sy por final da paz que pediaó . ( 1 ); ' * '
*. 271) » Com effeito o -Alcaide mór, ou o Gover.
nador do Caſtello diſpondo-ſe a partido com os
u em que recebeſſemos todas as al.
9 noflos , pacteo
fayas precioſas de ouro , e prata que poſſuíaó , a
y que ElRey tomalle poſſe da Cidade , e ſeus mo .
3, radores com coda a mais terra , que lhe pertene
sy ce ; e aſſim fe concluío eſta victoria mais divi .
na , que humana com a perda de duzencos mil e
y quinhentos Mouros em dia das Onze mil Vir
5 gens. ( 2 ) ! ise
> 28 Toda eſta relaçao he hum documento , e
fingular anedocto , que moſtra grande authoridade ,
nao fó por fer authentica , mas pelo arreglado , e
conforme que ſe acha com as noſſas Historias , é
outros Eſcritores veridicos , e coecaneos. No dia da
chegada da armada a Lisboa concorda com o livro
intitulado ; Fortalitium Fidei , que allega o noſſo
Chroniſta Frey Antonio Brandao ', ( 3) e com o que
eſcreveo o Abbade Dodechino . ( 4 ) Emo numero
das náos , de que conſtava a armada , combina com
Tom.III. Part. V. K ,

[ 1 ] „ Hæc periculi fama cum ad noſtras veniſſet aures , meliores


»exercitus noſtræ partis ad defendendam turrim , ne noftra fpes in
, ea adnullaretur , craoliniflimus. Vidences autem Saraceni Lotha-.
„ ringos, & Flamingos tanco fervore in arcem curris waſcendentes ,
» tanta formidine territi ſunt , ut arma ſubmitterent, & dextras fie
w : bi in fignum pacis dari peterent. [ 2] , Unde factum eft , ut Al
» chaida princeps eorum hoc pacto nobiſcum conveniret : ut noſter
» sexercitus omuem fupelectiiem eorum cum auro , & argento acci
si peret , Rex autem Civitatem cum nudis Saracenis , & tota terra
», obtineret : Conſummata eſt autem hæc divina non humina victo-,
» ria in ducentis millibus & quingentis viris Saracenorum in feſto
undecim millium Virginum . (3 ) Fortal. Fidei apud Brand. Monarq.
Luật.. liv. 10. cap . 31. [4] Dodechin . apud Marinb. de Azeved. liv.4.
C. 23
74 Mappa de Portugal.

o que diſfe Auberto Miréo , e o meſmo Dodechi,


no . ( 1) No appo da tomada de Lisboa coincide com
a Hiſtoria dos Godos , que tranſcreve o meſmo Bran ,
dao e com outros muitos Eſcritores. ( 2 ). No dia
da victoria convem com o que cantou Soeiro Go .
fuino , Poeta nobiliflimo , e muito chegado àquel
les tempos. (3) Finalmente em tudo mais que ex
preſſa efta Carta, ſe qualifica de legitima a ſua nar
raçao , e de fummamente veneravel a ſua authori
dade .
29. Paſſado algum tempo , ſegundo refere Ro
dolfo de Dicero , ( 4) emprenderao os Mouros recu
perar outra vez Lisboa com ſuas induſtrias. Entra ,
rað pela barra dentro infinitas galeras comboyando
huma náo de mayor vulto chamada Dromund , em
que vinha huma tal maquina com que intentavao en
trar armados dentro da Cidade. Inſpirou Dcos no
animo de hum noſſo valeroſo ſoldado que lançan
do -ſe às ondas deu hum furo na náo , e fazendo - a
ir ao fundo , varou com a maquina em terra , e a
ſuſpendeo ſobre os muros . Pela manhã foy viſta dos
Sarracenos , que envergonhados , e raivoſos de.ve
rem defvanecida a ſua idea , fugirao , mas atrevida.
mente vingativos foraó cativando quantos Cbriftãos
encontravao pelas prayas.
30 Deſtruida a Mouriſma começou o Imperio
Lu

[ 1 ] Miræus Rer.Belgicar.Chron. ad an. 1149. Belge eodem zelo mo.


ri , cum in Lufitaniam appuliffent, Oliſiponem Saracenis eripuerunt , en
Alphonſo Portugallia Regi tradiderunt. Dodechinus, de Robersus deMon.
de referunt ducentasfere naves Flandricas , do Anglicas buic expeditioni
interfuiffe. [ 2] Brand. na Monarg . Luf . tom . 3. fin. Document.i . Duara
te Galv. Chron. delRey D. Aff. Henriq cap. 30. p.42 . Cunh . Hiſtor.
Ecclef. de Lisb. part. 1. cap.33.0 4. Faria e Souſa Europ. Portug. tom.2.
Po 1. cap. 4. 0. 15. Cardoſ. Agiolog. Luf. tom . 3. p.674. Mariana Hiftor .
gener. de Efp. tom. 1. liv. 10. cap . 19. [ 3 ] Gofuino apud Brand. allegae
do , e Cunha nos Bilp. de Lisboa part. 2. cap. 25. n.5. [4] Rudolfo de
Dicero no liv . intitulad. Imagines Hiſtoriarum p .614 , o qual vem no li
vro Hiſtorie Anglicana Scriptores antiqui, impreſſo em Londres no ang
no de 1652 .
Da Cidade de Lisboa . 75

Luſitano , e continuando pelo eſpaço de mais de


quatrocentos annos até à morte do Cardeal Rey
D. Henrique , ſe vio entao alterado , e interrom
pido pelo poder de Filippe II. Rey de Heſpa
nha , que no anno de 1580 fe fez ſenhor do Reino ,
decidindo à força de armas na ponte de Alcanta
ra o direito à Coroa , que por juſtiça lhe nao to
cava .
31 Deſta forte permaneceo fefrenta annos o do
minio Heſpanhol até Filippe IV . , cujo governo fas
zendo - ſe aſperiſlimo por via de Miniftros ſeveros ,
que manejavao os negocios de Portugal , deſpertou
a alguns Cavalheiros , é Prelados do Reino , para
que ſe refolveflem a comprar a todo o riſco a liber.
dade da patria .
32 Para executarem huma acçaó tað juſta , eſco
Theraó o primeiro dia de Dezembro do anno 1640 ;
fempre memoravel em todos os ſeculos , e nelle ac .
clamaraó em Lisboa por legitimo , e verdadeiro Rey
dos Portuguezes ao Sereniſſimo Senhor D. Joao IV .
Duque Vill. de Bragança , a quem direitamente
competia o throno , e a Coroa . Neſta Sereniſſima
Caſa , e deſcendencia continúa o Imperio Luſita
no e hoje no Fideliſlimo Rey , e Senhor D. Jo
feph I. felizmente reinante , e o XXV . na dignida
de Real deſde a glorioſa eftirpe do fanto Rey D,
Affonſo Henriques.

: $. III .

Fortificaçao antiga , e moderna .

MI Fortificaçao que defende efta Cidade ſe tem


A
reedificado , e augmentado por varias ve
zes , ſegundo requer ou a damnificaçaõ dos tem
pos , ou o mayor numero de ſeus habitadores. Der
de o inclyto D. Affonſo Henriques até ElRey D.
Fernando 7 confiftia unicamente , como já diſle :
K ii . mos ;
76 Mappa de Portugal .
mos , ( 1 ) na antiga fortaleza do Caſtello , com tudo
o que corria deſde as portas do Sol até à Ribeira
donde fubiao as muralhas a fechar outra vez no mer
mo Caſtello . ( 2 ) Ficando tudo mais que era do di
to Caſtello até S. Vicente , e da porta do Ferro até
as portas de Santa Catharina , e tudo o que toma do
Caſtello até às portas da Mouraria , e de Santo Ano '
tao , em arrebaldes . ( 3 )
2 Todo eſte pequeno recinto guarneciaó para
boa ſerventia doze portas com os nomes ſeguintes.
I. Porta do Ferro. Chamava - ſe o arco da Confo

laçao , e eſtava junto da Igreja de Santo Antonio .


11. Porta do Mar antiga , hoje chamado poſtigo
da rua das Canaſtras , que fica fronteiro à porta tra
veſſa da Igreja da Miſericordia .
III . Porta do Mar. Defronte do Cáes de Santa
rem , a que chamao o arco de Jeſus. Por eſta porta
foy invadida a Cidade pelo exercito .Alemañ , que
auxiliou a ElRey D. Affonſo Henriques.
IV . Poſtigo do Conde de Linhares . Ficava onde
hoje eſtá a porta principal do palacio do Conde de
Coculim para a banda do mar.
V. Porta do Chafariz delRey. Ficava no ſitio da
parede do meſmo chafariz .
VI . Porta de Alfama. Eſtá defronte da porta
principal da Igreja de S. Pedro .
VII . Porta do Sol. Fica junto da Igreja de S.
Braz . No adro deſta Igreja ſe vê ainda em cima de
huma ſepultura huma grande bala de pedra , que
foy atirada aos noſſos pelos Mouros com os ſeus ca
nhões pedreiros , de que uſavao na ultima defenſa
defta Cidade .
VIII . Porta de Alfofa. Eſtá no fim da calçada
de S. Criſpim da parte de cima .
IX . Porta de S. Jorge. He por onde ſe entra pa
ra

[ 1] Mappa de Portug. tom . 2. part 4.0.3 S 3. num . 17. [ 2 ] Galo.


Chron. delRey D. Affouf. Henriq. cap . 30. Monarq. Lufit, liv, 10.6,26 .
[ 3 ] Oliveira Grandezas de Lisboa , pag. 45 ,
Da Cidade de Lisboa . 77

ra o Caſtello , e reſidia o corpo da guarda antes da


terremoto .
X. Porta de D. Fradiqué. Era huma porta no
Caſtello , que hoje ſc acha tapada de pedra , e cal ,
e nella fé abrio bum cano para extracçao das aguas
do Hoſpital dos Soldados.
XỊ. Porta do Muniz . Eſta porta fica dentro do
Caſtello , e no fim da rua direita da Paroquial de
Santa Cruz . Chama- ſe do Muniz em memoria do
illuſtre Capitao Martim Muniz , que para facilitar
aos noſſos a entrada deſta porta , quando conquiſta
vamos a Cidade aos Mouros , ſe deixou cahir atra
velando.fe nella ; por cima do qual paſarao os Chri
ftãos contra toda a violencia dos Arabcs . Para eter
na lembrança deſta acçao ſe mandou collocar fobre
a meſma porta huma cabeça de pedra , que ainda
hoje dura . ( 1 ) O Conde de Caſtel-Melhor Joao
Rodrigues de Vaſconcellos e Souſa ſeu decimoquar
to neto no anno de 1656. The mandou no meſmo
lugar abrir huma Inſcripçao , que refere rudo. ( 2 )
XII . Porta da Traição. Fica para a parte da mu
ralha , em que eſtá a porta do Muniz , e por hum
dos ſeus poitigos ha ſerventia , que vem dar ao ca
minho da cofta do Caſtello .. ? .
3 Depois de paſſarem dous feculos , governan
do ElRey D. Fernando , e vendo a neceſidade, que
padecia Lisboa de fortificaçao , damnificada pelos
prejuizos , que pouco antes lhe haviaó feito os Caf
telhanos , por conſelho de Joao Annes, de Almada ,
Védor da Fazenda , à mandou cercar de novos mu.
ros , e altas torres no anno, de 1373 , ordenando ,
que para mayor expediçao , e adiantamento da obra
trabalhaffem da parte do mar os moradores de Al
ma

[ 1 ] Brand. Monarq . Luſ. liv 10. cap. 28. e Franciſco Botelho deMo
racs no Poema Alphonſo , liv. 12. eft. 20.daprimeira impreffaó , dá a en .
tender , que esta porta era a chamada do Sol: c na impreſſão de Sala
manca liv . 10. eſt. u .chama- lhe a porta do Norte. [2 ] Vide Demonſtr.
Hiſtor. de Fr. Apollinario da Conceiçao , p. 190.
78 Mappa de Portugal.

mada , Cezimbra , Palmella , Setubal, Coina , Bea


navente e toda a mais gente de Riba - Tejo : e da
parte da terra , os de Cintra , Caſcaes, Torres Ve
dras , Mafra , Alanquer , Arruda , Atouguia , Lou
rinbá , Chileiros, Póvos , Villa -Franca , e Aldea
Gallega . ( 1 )
44 Com tanta diligencia ſe operou neſta reedifi
cação , que ſe concluío no anno de 1375 a nova cer
ca , ou muros novos dando -ſe de terreno à nova
planta ſete mil paſſos de circumferencia , e accreſ
centando - ſe nas muralhas de mais as portas ſeguin .
ies .
I. Porta de S. Lourenço. Ficava no cimo da cal
çada da Roſa , e junto onde hoje exiſte o palacio
do Viſconde de Villa - Nova da Cerveira. Efta por
ta ſe demolio no anno de 1700 .
II . Porta da Mouraria. Exiſte ainda hoje junto
ao palacio do Marquez de Alegrete.
Ul. Porta da rua da Palma . Permanece na mer
ma rua , que lhe dá o nome.
IV . Porta da rua da Pella. He onde chamao o
arco da Graça , pelo qual ſe vay para o Collegio
de Santo Antaó .
V.Porta de Santa Anna . Ficava para baixo da
Paroquial de Nosſa Senhora da Pena , e no ſitio on
de ſe vê hoje huma Ermidinha chegada ao mu
ro das Religioſas Commendadeiras de S. Bento de
Avís .
VI . Porta de Santo Antao . Exiſte junto da Igre
ja de S. Luiz dos Francezes . Por ella ſe faz tranſito
para a praça do Rocio . Ainda nos lembramos ver
aqui collocadas nas ſuas couceiras as portas com que
fe fechava , chapeadas de ferro , as quaes no anno
de 1727 ſe tiraraó para dar mayor deſafogo à publi
ca , e mageftoſa entrada , que fez em 6 de Janeiro
de

[ 1 ] Duart. Nun. Chronic. delRey D.Fernand.p 238. Oliveir. Gran


dezas de Lisboa pag . 45. Cunha nos Biſpos de Lisboa part. 2. cap. 103 .
num.4 .
Da Cidade de Lisboa. 79

de 1728 o Marquez de los Balbazes , Embaixador


extraordinario de Heſpanha.
VII. Porta das eſtrivarias del Rey. Ficava entre a
Inquiſiçao , e as cafas do Duque de Cadaval , fazen
do frontaria para o Rocio .
VIII . Porta do Condeſtavel , ou poſtigo do Car
no . Chama -ſe hoje Poftigo de S. Roque , por conſer
var em cima do arco huma Imagem do Santo . Jun.
to delle , para a parte da Igreja de S. Roque , ex ,
iftia ainda hum alto torreaó , que com o terremoto
paſſado delabon , e entupio a paſſagem para o pala
cio do Marquez de Niza , onde afliitia o Eminentiſ
fimo Cardeal Patriarca , em que morreraó dous ſeus
gentis - homens .
IX . Porta , ou poſtigo da Irindade. Ficava junto
deſte Convento na traveſſa por onde ſe ſahe para a
rua larga de S. Roque .
X. Porta de Santa Catharina. Exiſtia junto da
Igreja do Loreto , e atraveſſava o largo da rua até
enteſtar com as cavalharices delRey , que agora ſe
arruinaraó com o terremoto . Derrubou - ſe eita por
ta no anno de 1702 .
XI . Porta do Duque de Bragança. Eſtava no fi
tio onde ſe fez o palacio do Marquez de Valença ,
que tambem ſe conſumio com o terremoto , e incen
dio ,
• XII . Porta de Catequefarás. Chama-ſe hoje Pofa
tigo do Corpo Santo e eſtava junto da Ermida de
Noſſa Senhora da Graça .
XIII . Porta dos Cubertos. Por ella ſe fazia tran
ſito para a praça da Corte -Real , ou para o largo
do Corpo Santo .
XIV. Poſligo do Carvao. Chamou -ſe arco do Er
pinho , e ſe entrava por elle da Tanoaria para a Fun
diçaõ . Com o magnifico edificio do theatro Regio
ſe demolio no anno de 1754 , e no ſeguinte com o
terremoto , e incendio , que o arruinou , ſe acabou
de confundir o ficio de todo .
XV .
80 Mappa de Portugal.
XV . ' Porta da Oura , chamado o arco do Ouro .
Ficava fronteira ao arco debaixo de Palacio , e fa .
zia paſſagem da Tanoaria para o largo da Patriarcal .
Tambem ſe demolio com a erecçao do edificio do
theatro Regio .
XVI . Porta dos Armazens. Ficava por baixo do
novo quarto de Palacio , e por ella ſe fazia paſla
gem do Real theatro para o largo do Relogio .
XVII . Porta do arco dasPazes. Era por onde ſe
hia do largo das tendas da Capella para o Terreiro
do Paço . Depois do terremoto , eem Agoſto do an
no de 1757 , ſe mandou demolir com baſtante para
te do Palacio .
XVIII . Porta da Moeda . Exiſtia por baixo do
quarto , que ultimamente occupou a Screniflima Rai
nha Dona Maria Anna de Auſtria , e olhava para o
Terreiro do Paço . Hoje ſe acha tambem confundis
da .
xix . Porta , ou arco dos Pregos. Fazia frente pa
ra o Terreiro do Paço , e lhe correſpondia da parte
do mar o Forte chamado do meſmo Terreiro . Are
ruinou -ſe totalmente com o fogo.
XX . Porta dos Barrete's. Chamava - ſe antes do
a - fe
terremoto , e incendio , Arco do Açougue . Hoje
eſtá o ſeu ſitio perturbadiſlimo.
XXI . Porta da Ribeira. Ficava junto à eſcada
de pedra , que eſtava entre o Veropezo , e a traveſ
ſa do Açougue. Mandou - a demolir o Senado no an
no de 1619.
XXII . Porta da Portagem . Confinava com a pa
rede da rua do Principe.
XXIII . Porta nova do Mar. Era da parte da Ri
beira chegada à caſa chamada dos Bicos .
XXIV . Porta da Fudiaria , eu do Roſario. He
por donde ſe vinha da Paroquial de S. Pedro fahir à
Ribeira. .!.
XXV . Poſtigo de Alfama , a que alguns chama
das Alcaçarias . Fica defronte do campo da lā .
XXVI ,
Da Cidade de Lisboa. 81

XXVI. Porta do Chafariz de dentro. Fica - lhe


fronteiro da parte do mar o chatariz da praya .
XXVII . Porta , ou poſtigo da polvora. Era a ul.
tima da banda da marinha , contigua à antiga cadêą
das galés , junto à Ermida de Noſſa Senhora do Ro
ſario .
XXVIII . Porta da Cruz. Eftá fronteira à Igre
ja do Paraiſo. Damiao de Goes na Deſcripçao de
Lisboa chama a eſta a primeira porta da Cidade .
XXIX . Poſtigo do Arcebiſpo. Ficava antes de che
gar ao Convento de S. Vicente de Fóra .
XXX . Porta de S. Vicente . Ficava no ſitio onde
ſe vê hoje o paſſadiço para a cerca do Convento .
XXXI. Poſtigo de Noſſa Senhora da Graça . Exiſ
tia hum pouco affaſtado do Convento Graciano , c
fe mandou demolir no anno de 1700 .
XXXII . Poſtigo do caracol da Graça . Tambem ſe
derrubou no meſmo anno , e exiſtia no cimo da de
clividade do monte , que vem dar às Ollarias.
XXXIII . Porta de Santo André. Eſta era a ulti.
ma porta aberta na cortina da muralha , que hia fe
char no Caftello .
44. No anno de 1050 , reinando o Senhor Rey
D. Joao IV . , ſe traçou nova fortificaçao a Lisboa ,
recommendando - ſe a execuçao da nova planta , em
que trabalharaó os inſignes Engenheiros Mr. Le
garte Francez , Joao Gilot Hollandez , e Joao Core
mander Jeſuita , natural de Brulellas , à diligencia ,
e actividade do Marquez de Marialva D. Antonio
Luiz de Menezes : ( i ) eſte a fez erigir com trinta
Tom.III . Part .V. L e

( 1 ) Omnem Tagi ripam , qua Ulyfiponem alluit , perpetuo militari ſe


pimento circumdedit, des maritima loca urbi vicina , munimentis fibi in
vicem opit ulantibus ita complexus eft , ut nullibi fine hoftium pernicie
fieri poffit in terram excenfio. Opus quoque immenſi o laboris, do mo
liminis aggreffus eft , Joanne Rege ei dante negotium , ut Urbem Ulys
fiponenſem propugnaculis cingeret , quorum inchoata multa , dos multa ab
ſoluta non fine ftupore cernuntur. Aleixo Collotes de Jantillet Horæ fucy
cefliya , pag . 150 .
82 Mappa de Portugal.

e dous baluartes , e grande extenſaõ de muralhas


que deſcrevemos notom . 2. part.4 .defte Mappa , cap.3.
S. 3. n . 19 .
Ś Começada , e creſcida a obra , pareceo dema
fiadamente grande o recinto , que ſe havia tomado ,
e aſſim ficou ſuſpenſa , e imperfeita , mas ſempre
moſtrando a mageftade , e grandeza da idéa : e ſem
embargo, que depois ſe intentou remediar alguns
defeitos da dica fortificaçao , mandando -ſe para eſſe
fim chamar a eſta Corte ao noſſo Engenheiro Ma
noel Mexia , efte achando mayores difficuldades no
remedio , nao quiz alterar a fortificaçao executada .
6 Joao Gilot achando- ſe em Lisboa no anno de
1052 , querendo cingir em menor circumferencia
o exceſſo da dita fortificaçao , apreſentou ao Frin
cipe D. Theodoſio , que governava as armas , hu
ma nova planta , que conſervamos , cujo deſenho
era começar o reducto pela lombada , que fica hum
pouco fóra do ſitio de S. Joao de Deos , e pela quin
ta de Filippe Jacome até Noſſa Senhora da Eirel
la , onde ſe juntava com a ladeira , que vem do Sa.
cramento dahi atraveſſando a quinta de Franciſ
co Soares , e ſeguindo aquelles oiteiros, paſſava pe
la cerca do Noviciado da Companhia , deſcia à rua
de S. Jofeph , donde ſubia ao oiteiro dos Capuchos,
e rodeando a quinta do Ramires , caminhava por li
nha recta ao pé do oiteiro , que eſtá junto a Noſſa
Senhora do Monte , e dahi correndo direito ao mar ,
acabava hum pouco mais para dentro de Santa Apol
lonia ; aſſentando neſta traça ametade dos baluartes ,
que moſtrava o primeiro deſenho.
7 Efta planta nao ſe poz em operaçao ; e ſup
poſto que a primeira incompletamente erecta , e já
hoje em muita parte deſtruida , e turbada , pareceo
entao demaſiadamente grande', o tempo foy mof
trando que o ſeu ambito nað era improprio ao aug ,
mento da povoaçab . Agora porém que vemos , nao
fem laſtima noffa , huma grande parte da Cidade ar
rui.
Da Cidade de Lisboa. 83

ruinada , e os ſeus arrebaldes , e baldios occupados


com calas , e barracas , que tudo tem confundido ,
c ſe eſpera nova planta para a ſua renovaçao , he
juſto que tambem ſe intente o fortificalla de novo ,
para ficar nað ſó regular , quanto for poſſivel , mas
forte , e inexpugnavel.
8 He bem verdade , que ſendo o territorio , c
a fituaçao de Lisboa forte por naturcza , naó necef
fita ſer muito fortificada por arte ; nem tem o re .
ceyo , como já ponderarao Luiz Mendes de Var.
concellos , e Severim de Faria , ( 1 ) de poder ſer
acomettida improviſamente ; ,, porque conſiderada
„ pela marinha , della à foz do rio Tejo ha cres le
„ goas ; e voltando ſobre o ſeu terreno , quaſi tu
» do he coſta brava , tendo muito poucos , e ruins
ſurgidouros , e faceis de defender ; ſendo o que
lhe fica mais perto o de Caſcaes , que eſtá cinco
legoas deſta Cidade, e he praça bem preſidiada. E
ſe o inimigo deſembarcar em Peniche , quando a
noſſa negligencia o deixar fazer , a pouco cuſ
,, to ſe poderá desbaratar pela aſpereza do cami
, nho , e pelo difficultoſo paſſo da cabeça de Mon
» tachique.
9 Pela barra dentro quaſi que he impoſſivel a
invafao , por cauſa dos cachopos , torres de S.
» Juliaó , e mais fortes , e fortalezas , que por alli
ha : e a fahida ainda he muito mais trabalhoſa ;
,, porque ſó com eſpeciaes ventos , e marés ſe exe
» cuta ; e nenhum General ſerá tað imprudente ,
), que ſe meta com huma Armada dentro de hum
» porto , onde a retirada lhe 'nab ſeja 'ſegura , e
» prompta .
10 Naó tem Lisboa menos ſegurança por
» terra ; porque pelo Alentejo he difficil vir a ella
exercito algum , ſe ſe quizer impedir ; porque
L ii fa

[ 1 ] Luiz Mendes de Vaſconcel. no Sitio de Lisboa , p. 220. Sever


de Far. nos Diſcurſ. var. Polit. diſc. 1. p.15.1
84
Ma de Por
pp tug
a al
fahindo das terras cultivadas , ſe dá na charneca , a
» , qual pelo mais breve caminho tem onze legoas ,
onde ſó com o fogo que nella ſe pegue , ſe póde
> embaraçar , e deftruir as tropas ; e quando ifto
ſe naó faça , e o exercito chegar ao rio , nao p
pooo 1
92 derá vadeallo tao facilmente. H
II Vindo pela Beira o inimigo , ou ba de vir
dar a Sacavem , onde o ſeu rio he tað fundo co •
» mo o de Lisboa, ou ha de vir por Vialonga, que
he a eſtrada mais livre que pode ter ; mas defen
dendo nós a paſſagem do Lumiar , e as mais da
, quelles montes , que correndo para Noſſa Senho
» ra da Luz , e Sacavem , fazem por beneficio da
, natureza hum muro fortiflimo a eſta Cidade , nao
» , poderá ſerexpugnada lem muito trabalho , e pe
3 , rigo. De forte que
, ſendo Lisboa por ſi taõ de
fenſavel, lhe baftará qualquer fortificaçao para fi
car ſegurifſima.

S. IV .

Multidaõ de ſeus Habitadores.

I Aő he muito facil formar calculo certo ao


grande numero dos moradores, que habi ,.
tao , e compoem efta nobiliſſima Cidade ; porque
fó a multidao dos eſtrangeiros proteſtantes , que
francamente aqui aſſiſtem para o commercio , e nao
ſe aliſtao no rol annual dos Parocos , difficulta mui ,
to eſta diligencia : todavia por não defraudarmos
totalmente aos deſejoſos de huma das principaes no
ticias defte affumpto , referiremos ao menos por
curioſidade chronologicamente os exames , e averi.
guações , que em varios tempos fe fizeraó fobre el
ta computacao .
2. No anno de 1828 Henrique da Mota , Efcri .
vað da Camera delRey D. Joao III . tirando por
ordem do meſmo Senhor huma Relaçaó exacta do
pos
Da Cidade de Lisboa . 85

povo , que havia em Lisboa , e ſeus arrebaldes , achou


o ſeguinte. ( 1 )

Fogos na Cidade, e arrebaldes 14U014


No Termo 40034
A ſaber :
Viuvas 40305
Clerigos moradores U720
Bairro dos Eſcolares de Alfama 1U734
Alcaçova com a cerca velha U127
Povoaçao dos muros a dentro , e Ribeira 8U025
Arrebaldes , Catequefarás até Alcantara US54
Villa - Nova de Andrade
U408
Santo AntaŌ com hortas U200
Mouraria , e povoaçao de S. Lazaro U745
Porta da Cruz , e Enxobregas Uo80
Quintas nos limites de Santa Juſta , Mar
tyres , e Santo Eftevao U150

Somma 18U048

3 No anno de 1551 Chriſtovao Rodrigues de


Oliveira , Guarda -Roupa do Arcebiſpo D. Fernan
do de Vaſconcellos no Tratado , ou Summario , que
fez por ordem do meſmo Arcebiſpo de algumas cou
fas aſſim Ecclefiafticas, como Seculares , que havia
na Cidade de Lisboa , achou ter , além da Corte ( 2)
Vilinhos 18Uooo
Almas 100 Uooo
Eſcravos ‫ورواو‬

4 No anno de 1992 em huma Relaçaó m . f. que


vim os , feita com muita miudeza , das grandezas de
Lisboa , diz , que havia na Cidade duzentos e trin
ta e cinco officios , em que ſe occupao
Ho

( 1 ) Refere Cunba na Hiſtor, m. f. dos Arcebifp, de Lisboa , ſendo


que Gaſpar Barreiros na Corografia, pag.54. aſlina menor numero .
( 2) Rodr. de Oliy. Summar. pag. 118. da impreſſao moderna.
86 Mappå de Portugal.
Homens 39U000
Mulheres iTU , oo
Havia mais Orfãos 3Uo0o
Meninos de Eſcola 4U00o
Mulheres ſolteiras SUooo
1
. No anno de 1561 Gaſpar Barreiros , Conego
da Sé de Evora , diz , que no ſeu tempo era julga
da commummentc Lisboa por huma povoaçao de
trinta mil viſinhos , ſendo que elle a computava por
dezaſete mil . ' ( 1 )
6 No anno de 1600 Joao Botero Beneſe , Ab
bade de S. Miguel nas ſuas noticioſas Relações Uni
verfaes , ( 2 ) achou ter Lisboa vinte mil caſas, e po
vo infinito .
7 No anno de 1608 Luiz Mendes de Vaſconcel
los diz , que no ſeu juizo era incomprehenſivel o
numero da gente , que entao vivia em Lisboa ; pois
ſó em bum pequeno bairro della , chamado a Lapa ,
havia cinco mil caſas. ( 3 )
8 No anno de 1620 Fr. Nicolao de Oliveira ,
Religioſo Trinitario , no livro , que compoz das Gran
dezas de Lisboa , lhe aſſina vinte e fete mil viſinhos
e cento e onze mil peſſoas. (4)
9 No meſmo anno D. Franciſco de Herrera e
Maldonado na vida , que eſcreveo do Veneravel
Bernardino de Obregon , diz , que por computo
certiffimo ſe achavao na povoaçao de Lisboa cento
e quinze mil fogos. ( 5 )
IO No anno de 1623 Gil Gonçalves de Avila
no Theatro das Grandezas de Madrid , affirma que nun
ca ſe pode ajuſtar o numero dos habitadores de Lif
boa ; porém que os mais curioſos lhe numeravao
quinhentas mil peſſoas. (6 )
11 No

[ 1 ] Barreir. Corograf p.54. [ 2] Botero Relazioni Univerſali part. . ,


lib. 1. pag .16. [ 3 ] Vaſconcel. Sitio de Lisboa pag . 162. [4] Oi,cir .
Grandezas de Lisboa pag. [ s ] Herrer . Vida do Ven . Obregon p. 141
[ 6 ] Avila Theatr . de Madrid , pag. 502 ,
Da Cidade de Lisboa .
87
II No anno de 1624 Manoel Severim de Faria ,
Chantre de Evora , nos Diſcurſos Politicos ( 1 ) diz ,
que o numero da gente em Lisboa era tað grande
que ſe tinha no ſeu tempo pelo mayor povo da Eu
ropa .
I 2 No anno de 1642 o Illuſtriſſimo D. Rodri
go da Cunha , Arcebiſpo de Lisboa , na Hiſtoria Ec
clefiaftica defta Cidade , lhe aſſinou cincoenta mil vi
finhos. ( 2)

13 No anno de 1645 Rodrigo Mendes da Silva


na Poblacion general de Eſpaña ( 3 ) lhe attribuío mais
de cincoenta mil vilinhos.
14 No anno de 1052 o Capitao Luiz Marinho
de Azevedo , eſpecial indagador das grandezas de
Lisboa , eſcreve , que teria eſta Cidade no ſeu tem
po vinte oito mil e duzentos viſinhos ; porém que
os mais curioſos reputavaó comprehender oitocen
tas mil peſſoas. (4 )
IS No anno de 1660 Pedro Davity na Defcri
pçað geral da Europa lhe aſſinou mais de cento e vin
te mil habitadores. ( 5 )
16 No anno de 1668 Monſ. de Ivigné no Dic
cionario Theo logico -Hiforico , nao lhe aſſinou mais que
o numero de vinte mil caſas , trasladando o que dir
ſe Damiao de Goes. (6)
17 No anno de 1704 pelas Relações dos Paro
cos mandadas ao Arcebiſpo D. Joað de Souſa , que
nós vimos , numerava entao Lisboa , excepto os eſ
trangeiros , noventa mil fogos .
18 No anno de 1707 D. Joao Alvares de Col
menares eſcrevendo as Delicias de Portugal, deu a
Lisboa o numero de trinta mil caſas. ( 7 )
19 No meſmo anno o Padre Antonio Maria Bo .
nuc .

( 1 ) Sever. Diſcurſ 1. pag. 15. v. [2 ] Cunh . Catalog. dos Biſp. de


Lisb.part 1. cap . s . 0.1 . [3 Silv.
) Deſcripcion de Portug.c.2. [4 ] Ma
rinb. de Azeved. Antiguid de Lisb. part. 1. liv. I. c. 29. [ s] Davity
tom . I. p. 185. [ 6 ] Ivignè Di& ion . Thcol. yerb. Lisboa . [7] Col
menar, Delic. de Port. tom . 4.2.749 :
88 Mappa de Portugal.

nucci no Sermaõ das Exequias do Sereniſſimo Rey


D. Pedro II . prégado em Roma , a pag . 10,0 14
diz , que em Lisboa ſe contava naquelle tempo mais
de quinbentas mil peſſoas.
20 No anno de 1712 o Padre Antonio Carva
lho da Coſta na Corografia Portugueza , conforme a
ſomma extrahida dos fogos , que elle allina às Fre
guezias , reſulta mais de vinte mil fogos. ( 1 )
21 No anno de 1716 o Papa Clemente XI . em
Conſiſtorio de 7 de Dezembro , declarou pela atcer
taçaó , que lhe foy de Lisboa , que ſó a parte Oc
cidental della continha quaſi trezentos mil habitado
res. ( 2 )
22
No anno de 1730 a Defcripçaõ de Lisboa , eſ
crita em Francez , e impreſſa em Amſterdaó , lhe
deu o numero de duzentas e cincoenta mil almas .
(3)
23 No anno de 1736 o Padre D. Luiz Caerano
de Lima , ſem embargó que no tom . 2. da Geografia
Hiſtorica ſe exima prudentemente de aſſinar numero
certo de habitadores em Lisboa , com tudo das Re
Jações que tranſcreve , lhe deu ſó na parte Occi
dental dezanove mil quatrocentos e vinte dous fo
gos . (4)
24 No anno de 1739 Antonio de Oliveira Frei
re na Deſcripçao Corografica de Portugal lhe attribuío
oitocentas mil peſſoas . ( 5 )
25 No anno de 1754 mandando - ſe a Roma hu
ma atteſtaçao dos habitadores que continha Lisboa
para le paſſarem as Bullas ao ſegundo Patriarca o
Eminentiffimo Cardeal Manoel , le lhe aſſinou mais
de ſeiſcentos mil habitantes conforme o calculo mo
derno .
26 De todas eſtas computações ſe deduz quanto
ſe

[ ] Carv. da Coſta Corograf. Portug. tom . 3. tratad. 8. [ 2 ] Ex


Cod. Titul. S.Patr. Ecclef. Lisb. tom .1. pag. 118. [ 3 ] Deſcription de
la Ville de Lisbonne pag .8. [4] Lima Geograf. Hift. tom . 2. p . 6+7
[5] Oliveir, Freire Deſc. Corogr. de Port. pag . 106,
Da Cidade de Lisboa , 89

ſe tem alterado com os tempos o populoſo da Ci


dade , na qual ſe nað póde fixar numero abſoluta
mente certo de habitadores ; e muito menos depois
que no tragico terremoto , e incendio geral de Liſ
boa pereceo tao grande 'multidao laſtimoſamente.
Huns dizem ( 1 ) que forao quinze mil os mortos :
outros ( 2 ) vinte quatro mil : outros ( 3 ) ſetenta mil .
Perda foy eſta , que nað ſe poderá calcular tað facil
mente .
27 Verdade feja , que ainda que a mayor parte
dos moradores , que por alciſſimo deſtino eſcaparaó
do triſte golpe daquelle dia , deſampararaó a Cida
de ; os ſeus campos , e contornos para onde ſe refu «
giaraó , ſe virao ampliados de forte , que como ſe
Lisboa tivera a qualidade de Hydra , ou a natureza
da Fenix , por cada bairro que ſe extinguio , creſce
rað muitos ; por cada caſa , e rua que ſe abrazou , re
nalcerað muliiplicadas : caſas , e ruas no campo do
Curral ; caſas , e ruas no campo de Santa Clara ; ca
ſas , e ruas na Cocovia , em Campolide , em Belem ,
no ſitio do Raco ; e cudo cheyo , e povoado com
baſtante numero de gente .

28 De maneira , que Lisboa neſte particular pa


rece que nao fentio diminuiçao alguma , pois cada
dia ſe acha infinitamente mais fornecida , e augmen
tada em povo ; e com a capacidade de poder po
voar , e loccorrer todos os annos da meſma forte as
ſuas Conquiſtas em todas as quatro partes do mun
do ; ſem que todavia , como até agora experimentá
mos , ſe dê a conhecer a falta dos que ſe auſentað ,
ſenaó nos olhos dos que ficao .
Tom.III . Part . V. M $ . V.

[ 1 ] P. Anton Pereir, no Comment, de Terræmot. & incend. Olifia


pon. pag. 9. [ 2 ] Pedegache Nova, c fiel Relaç do Terremoto pag. 20.
[ 3 ] Joſeph de Oliv . Troyao na ſua Cart. Relator. deſte ſucceſſo p.11 .
90 Mappa de Portugal.

$. V.

Novo plano regular da Cidade.

1 Econhecida e obſervada a
Lisboa com o grande terremoto , e incen
dio do primeiro de Novembro de 1755 , foy pre
ciſo intentarſe a ſua renovacao . Havia differentes
modos para eſta ſe executar . Primeiro , reftituindo - a
promptiſſimamente ao ſeu antigo eſtado , levantan
do as caſas nas ſuas meſmas alturas , e diſpondo as
ruas como eſtavaõ ; ſervindo os proprios deſtroços ,
e ruinas para a erecçao dos edificios , e evitando
delta ſorte o trabalho , e deſpeza dos deſentulhos.
2 Porém neſte projecto lhe faltava a attençao
20 melhoramento de huma Cidade , que ſe pertendia
edificar de novo em occafiao opportuna , conſer
vando - lhe outra vez as ruas eſtreitas , que as faz de
aborrecivel uſo ; e as caſas nas meſmas alturas , cau
ſando o horror , que ſe tem concebido aos terremo
tos .
3. O ſegundo modo era , levantar os edificios na
fuas antigas alturas , e mudar as ruas eſtreiras em
ruas largas. Aflim ficaria melhor a ferventia do pu
blico , e ſe conſervava na altura das caſas abundan,
tes commodos para os habitadores , e a Cidade fica
ria mais formola do que d'antes era , melhorando - ſe
alguns edificios mayores arruinados . Porém neſta
idea ſe encontra o defeito de fe nao acautelar con
tra o flagello dos terremotos nas alturas dos edifi
cios .
4 O terceiro modo era , diminuindo as alturas a
dous pavimentos ſobre o terreo , e mudando as ruas
eltreitas em largas į acautelando -ſe por eſte modo
contra ſemelhantes aſſaltos , diminuindo as alturas
dos edificios, por ſe temerem nos mais altos as rui
nas mais certas ; como pelo contrario nas ruas mais
lar
Da Cidade de Lisboa . 91

largas mayor facilidade para ſe eſcapar dos deſtro .


ços, que nas eſtreitas ſervem de grande impedimento
ao retiro . Mas tem contra fi cite arbitrio os cla
mores dos donos dos edificios extinctos , e outros
diminutos de rendimento pela diminuiçaõ dos inqui
linos ; entre cujos clamores ſeriaõ muito diftinctos
os dos Morgados , Ecclefiafticos , e Irmandades, co
mo tambem cinha contra ſi a accomodaçao dos der
entulhos ; e mais que tudo a graviſſima deſpeza com
que ſe havia de ſubſtituir a diminuiçao dos edifi
cios extinctos.
ſ o quarto modo era , arrazando toda a Cida
de baixa , levantando - a com os entulhos ; fuaviſan
do aſſim as ſubidas para as partes altas , e fazendo
deſcenſo para o mar com melhor , e ſuave corren
teza das aguas ; formando novas ruas com liberdade
competente allim na largura , como na altura dos
P edificios. Mas elta idéa , poſto que vencia ao tercei
ro modo em evitar o embaraço dos deſentulhos , o
em dar melhor ferventia à Cidade , ſempre ficava
com o grave pezo de dar a cada hum a juſta com
penſaçao do que lhe pertencia.
O quinto modo podia ſer deſprezar Lisboa ar
ruinada , e formar outra de novo deſde Alcantara
até Pedrouços ; com permiflaó porém de que os do
nos das caſas de Lisboa arruinada as podeſſem le
vantar como quizeſſem . )
Facilitava - ſe eſte modo
mais que codos , porque nao tinha que vencer dif
ficuldades de deſentulhos , e ſuas acomodações : of
ferecia campo docil, e livre das eminencias de Lif
boa antiga , ſem neceſidade de averiguar o eſtado
das caſas que ſe deviaõ conſervar , ou derribar , nem
ouvir clamores dos donos das que inteiramente le
deſprezaſem . Com elte arbitrio ſe edificaria com
mais goſto , pelas melhoras , e avanços , que geral
mence ſe reconhecem no terreno , e prayas do ſitio
de Belem , e ſuas viſinhanças, livrando aos habita
dores do horror que conceberaõ na deſtruiçao da
M ji Ci
92 Mappa de Portugal.

Cidade arruinada ; e com incomparavel brevidade,


e boa organiſaçaõ de ruas , e de edificios , ſe forma.
ria huma Lisboa nova , ſem que os dominances dos
edificios de Lisboa deſtruida tiveſſem de que ſe
queixar , pois ſe lhe nað fazia violencia alguma ,
nem ſe lhes impedia a reedificaçao dos ſeus edificios
para ſe valerem delles à ſua vontade .
7 Eſtas erao as idéas que pareciao attendiveis ;
porém com mais madura ponderaçao determinou
Sua Mageftade por Decreto de 3 de Dezembro de
1955 , que da Cidade arruinadá foſſem prompra
mente feus edificios demolidos , e ſe alinhaſſem as
ruas com rectidaó , e largura competente à com
modidade dos ſeus habitantes : e que nos outros
bairros , cujos edificios ficaraó no eſtado de admittir
concerto , ſe melhoraſſem as ruas quanto foſſe poffi
vel: e para que em ſemelhante obra tað neceffaria
ao bem commum nao houveſſe prejuizo nos parti
culares , eſtabeleceo varias providencias por dous
Decretos , hum de 12 de Mayo de 1758 , e outro
de is de Junho de 1759.
8 E porque nas ruas rectamente alinhadas po
deffem os proprietarios dos terrenos edificar as ſuas
propriedades com a certeza da qualidade dos habi
tantes , e dos artifices, eſtabeleceo por Decreto de
Is de Novembro de 1760 a diſtribuiçao das ruas
feguintes , que jazem entre as praças do Commer
cio , e a do Rocio .
Rua nova d'ElRey. Nella fe devem arruar os
Mercadores da claſſe da Capella , applicando -ſe as
logens , que delles ſobejarem para as vendas dos ou
tros Mercadores de louça da India , de chá , e das
mais fazendas do ſeu trafico .
Rua Auguſta. Neſta rua te devem alojar os Mer
eadores de lä , e ſeda , applicandoſe -lhes onde naó
chegarem as logens as mais que neceſſarias forem na
gua de Santa Juſta.
Rua Aurea . Nella ſe.accommodarsó os Ourives
do
Da Cidade de Lisboa. 93

do ouro , alojando - ſe nas accommodações que del


les fobejarem os Relojeiros , e Volanteiros.
Rua bella da Rainha . Nella ſe accommodaráő os
Ourives da prata , e nas logens que ſobejarem , ſe
alojaráð os Livreiros que antes viviao na ſua vili
nhança .
Rua nova da Princeza . Nella fe accommodaráð
os Mercadores de fancaria ; deftinando - ſe os fobe
jos della , ſe os houver , às logens de Quincalhe
ria .
Rua dos Douradores. Eſta rua , que ſerá immediata
à rua bella da Rainha , cortando ao naſcente della ,
ſe diſtribuirá para os Douradores , Batefolhas , La
toeiros de lima , ficando livres as logens , que nella
tobejarem , para tendas , tavernas , e outros miſte
res .
Rua dos Corrieiros. Eſta rua , que ficará entre a
rua bella da Rainha , e a rua Auguſta , teráð nella
arruamento os officios de Corrieiro , Selleiro , e Tor
neiro .
Rua dos Sapateiros. Neſta rua , que mediará entre
a rua Auguſta , e rua Aurea , ſe devem arruar a hum
lado della os Sapateiros , e o outro lado ſe deixará
livre para outros milteres do povo .
Rua de S. Julia7. Aflim ſe denominará a primei
ra das ſeis traveſſas , que cortað as fobreditas, ruas ,
principiando da banda do Naſcente , e nella ſe devem
accommodar os Algibebes.
Rua da Conceição. Aflim ſe denominará a ſegun
da das referidas ſeis traveſſas , e nella ſe accommo
daráó os Mercadores de logens de retroz .
Rua de S. Nicoláo. Aflim ſe denominará a ter
ceira das ditas traveſſas , e nella ſe accommodaráh as
log ens de Quincalheria , que couberem .
Rua da Victoria . Afim ſe denominará a quarta
das referidas traveſſas , e nella ſe accommodará ó as
logens, que reſtarem dos referidos Mercadores de
Quincalheria.
Rua
94 .
Mappa de Portugal

Rua da Afumpçað. Allim ſe denominará a quina


ta das ſobreditas craveſſas , e nella ſe arruará ó os Ce
rigueiros aſſim de chapeos , como de agulha .
Rua de Santa Jufta. Aflim ſe denominará a ſex ,
ta , e ulcima das referidas traveſſas , e nella ſe alo .
jaráð os mercadores de lā , e ſeda , que nao tiverem
baſtante accommodaçao na rua Augufta.
9 Determinada com eſta formalidade a diftri
buiçaõ das principaes ruas , ſe principiou a renova .
çao da Cidade pelo edificio publico de hum mageſ.
toſo Arſenal , e a Bolſa do Negocio com a accom •
modaçao dos Tribunaes ; largando Sua Mageltade
o ſeu Palacio antigo do terreiro do Paço , aſſim co
mo os Senhores Reys ſeus anteceffores haviao lar
gado os em que habitavao , que ſe achað hoje ſer
vindo de outros uſos.
IO E para Palacio da ſua reſidencia eſcolheo a
elevaçao do terreno ſuperior ao Tejo , e à Cidade
de Lisboa , que jaz entre o largo de S. Joao dos
Bem caſados , e o caminho que vay do Senhor Jeſus
da Boa Morte para o Rato , com as demarcações
que ſe aſſinao no Decreto que para eſte effeito pal
fou a 2 de Julho de 1759. Ficando eſte ſitio ſendo
cabeça , e parte principal da Corte , e Cidade de
Lisboa , que por eſte novo plano ficará mais exten
fa , regular , e decoroſa .

$. VI .

Catalogo dos ſeus Prelados .

Uerer enlaçar huma ſerie direita dos Prela


' Q2 dos fuperiores , que governaraó a Santa
ta Igreja de Lisboa deſde os primitivos
tempos da Chriſtandade aqui eſtabelecida , he ma
teria ſummamente eſcura , difficil , e embaraçada ;.
e aſſim evitando o metermo- nos em tað eſpeſlas tre
vas , reduzimos eitas memorias com a poſſivel cla .
re
Da Cidade de Lisboa . 95

reza , e brevidade a tres claſſes : Biſpos , Arcebiſ


pos , Patriarcas .

BISPO S.

2 o Illuftriffimo D. Rodrigo da Cu
P
nha deduzir a origem da Cadeira Pontificia
na Santa Igreja Lisbonenſe deſde a promulgaçao do
Evangelho , e quer que S. Manſos , Difcipulo do
Senhor , enviado pelos Apoftolos a Heſpanha , foſſe
o ſeu primeiro Biſpo regionario ; ( 1 ) e ſem embar
go que de algum modo milita pela parte de D. Ro
drigo o Breviario Eborenſe reconhecido pelo in
figne André de Reſende , e a tradiçao immemorial
daquella Dieceſe , nað obſtante a aſſeveraçao con
traria de Papebroquio , e ſeus eruditos continuado
res Antuerpienſes , que negaó abfolutamente a vin
da de S. Manlos a Heſpanha , ( 2 ) com tudo fað tao
debeis os fundamentos , em que ſe eſtriba D. Ro
drigo , que nos deixa ainda muito pouco ſeguros,
e fatisfeitos na baze Pontificia da noſſa Igreja .
3. A meſma debilidade padecem as memorias
Epiſcopaes do Anonymo Diſcipulo de Santiago mayor :
de Filippe Filoteo , que dizem ſer mandado por S.
Clemente Papa no anno de 92 : de S. Pedro 1. pelos
annos de 166 : de Pedro II. no anno de 213 : de Jor
ge no anno de 200 : de Pedro III. pelos annos de
297 , em cujo tempo ſuccedeo o glorioſo martyrio
dos tres Santos irmãos Veriſlimo , Maxima , e Ju
lia : de S. Gens , ou Genefo , que floreceo no tempo
de Diocleciano: de Januario pelos annos de 300 : de
Potamio ( 3 ) pelos annos de 350 : de Antonio no anno
de

[ 1 ] Cunba Hiſtor. Ecclef dos Biſp. de Lisb . part 1. cap.9 . Reſende ng


Hiftor. de Evora cap.9 . [2] Papebroch. tom . 5. Acta Sanctor. a 21 de
Mayo pag.35 . , 65 de Agoſto pag.11. [ 3 ] Padilha Hiſtor. Ecclef.c.si.
cent.4 . ſeguindo a Morales liv . 10.c. 37. dz, que Potamio fora o pri
meiro Biſpo de Lisboa ; porém Luiz Marinho liv. 3.c. 34 das Antigui
da .
96 Mappa de Portugal..

de 373 : de Neobridio pelos annos de 430 : de Julie


no anno de 461 : de Azulano em quali o meſmo tem
po : de Joao pelos annos de rooi de Eolo pelos an
nos de 5 36 : de Neſtoriano pelos annos de 578 ; por
que todos , ou quaſi todos eſtes Prelados , que o fo
bredito D. Rodrigo, coutros Eſcritores conftituem
neſta Cathedral , lao duvidoſos : pelo que ſeparando
nós o verdadeiro do incerto , começamos a ſerie dos
Biſpos de Lisboa por

I.

Paulo .

Deſde antes do anno 589 .

4 E eſte o primeiro Paſtor Ecclefiaftico , que


H encontramos com teſtemunho authentico
regendo a Dieceſe Lisbonenſe . Verdade ſeja, que
nao podemos duvidar da anterior exiſtencia de ou
tros Prelados della , nað fó por vermos a honra da
/ ſua Cadeira Epiſcopal eſtabelecida já no tempo do
Concilio de Eliberi , celebrado no principio do quar
to feculo ; mas porque o martyrio com que muitos
Varões fantos illuftrarað efta Cidade em tempo do
Gentiliſmo , he prova de eſtar nos Fieis radicada a
Religiao Evangelica , animada , e perſuadida pelo
exemplo dos ſeus Prelados : ( 1 ) porém as turbulen
tas ,

dades , defende fortemente, que Potamio nað fora Prelado deſta Igreja.
Sem embargo , que de Potamio , como Biſpo de Lisboa , ſe faz men
çao no famoſo Libello , que os PresbyterosMarcellino ,e Fauſtino , Lu.
ciferianos , eſcrevcrað aos Imperadores Valentiniano , Theodofio , e
Arcadio , que vem no tom . 5. Biblioth . Patr.pag mihi 652. Porém os
Padres Antuerpienſes affirmaó ſer eſte Libello mendaciſſimo: o meſmo
dizem Tilemont rom . 7. , c outros apud Florez tom 10. da Eſpaña fa
grada , etom.13 . pag.147. [ 1 ] Efte Concilio foy celebrado ou no ann.
de 300, ou 301 , como parece a Tillemont tom . 5.tit. de S. Eulalia : c
ſuppoſto que D. Fernando de Mendonça na ediçao , e commentarios
que
Da Cidade de Lisboa . 97

tas , e vivas perſeguições dos primeiros feculos , e


accidentes particulares , privarao a pofteridade da
ſua noticia .
Ś Conſta pois a exiſtencia de Paulo pela ſubſcri
pçao , que delle vemos no Concilio Ill . de Tole
do , celebrado no anno de 589 à inſtancia delRey
Recaredo contra a perfidia Arriana , onde no lugar
decimo oitavo das firmas dos Prelados , que alli
concorreraó , ſe lê : Paulus Oliſiponenfis Ecclefiæ Epif
copus ſubſcripje , ( 1 ) inferindo -le daqui fer elle hum
dos luffraganeos antigos naquelle tempo de Meri
da , pois que precedia a quarenta e quatro Biſpos
da quella Santa Aſſemblea,

II .

Goma , ou Gomarelo .

Deſde o anno de 610 .

6 Om certeza ſe nað póde dizer fe eſte Biſpo


foy immediato ſucceſſor de Paulo , como
quer D. Rodrigo da Cunha , ( 2 ) e bem duvida Luiz
Marinho de Azevedo. ( 3) A memoria que temos
delle he acharſe na confirmaçaõ do Decreto del Rey
Gundemaro em favor da Igreja de Toledo , confor
Tom .III. Part.V. N me

que lhe fez , naó expreffa mais que dezanove Biſpos, que ſe congre.
garaó , ſemi nomear o de Lisboa ; com tudo como conſta de outros
Codices , que forao quarenta etres Biſpos, e entre os mencionados por
Mendoca vem expreſſo o deOxonoba , ſendo Cidade do Algarve mais
retirada, e menos illuſtre que Lisboa , ba fundamento para dizermos ,
que falta a ſubſcripgao do noflo Prelado : quanto mais , que na Carta
68. de Cypriano, ſegundo affirma o P. M. Flores na Eſpaña ſagrada
tom . 4. pag . 82. ſe faz memoria do Biſpado Lisbonenſe. [ 1 ] Confore
mc o tom . 13. pag . 129. dos Concilios da Collecçao Regia Pariſienſe ;
- impreſſa no anno de 1644. Veja - ſe a Monarq. Luſitan liv. 6 c. 19. OP.
Flores no tom . 6. pag . 147. 0 colloca no lugar decimo fetimo. [ 2 ] Cur
nha part.i.cap.22 . da Hit . Ecclel. de Lisboa. [3 ] Mar, de Azev. liv.4 .
cap.6.
98 Mappa de Portugal.

me o Synodo , que alli fez celebrar no anno de 610 ,


onde firmou no lugar duodecimo . Ainda perſevera a
memoria deſte Prelado até o anno de 614 , no qual
celebrando - ſe o Concilio de Tarragona , ſe vê alli
aſſinado Fructuoſo como Procurador do noſſo Biſa
po , como advertio Loayſa , e Padilha . ( 1 )

III .

Viarico , Ubarico , ou Dialico .

Deſde o anno de 633 .

Om toda eſta variedade ſe lê o nome deſte


- noſſo Prelado nos Codigos dos Concilios de
Toledo
, a que affiftio . No IV . Toledano , cele
brado pelos annos de Chrifto 633 , aſſinou no lugar
quadrageſimo quinto dos Biſpos concurrentes , nef
ta fórma: Viaricus Oliſiponenfis Ecclefiæ Epiſcopus ſub
Scripſi. No Concilio V. celebrado no anno de 636 ,
ſubſcreveo no lugar decimo terceiro , e ſe vê aſſina
do Ubaricus. No Concilio VI . , que ſe congregou
no anno de 638 , vemos no lugar trigefimo quarto
ao meſmo Prelado com o nome Dialico. ( 2 ) Entre
efte Biſpo , e Gomarelo adverte Luiz Marinho
que bem podia ter havido outros Biſpos , pois ſe
paſſarað vinte annos de interpolaçao ; mas nað ha
memoria alguma delles que ſeja veridica . Ambro
fio de Morales , a quem ſegue Frey Bernardo de
Brito , e Marinho de Azevedo , fazem dous difte
rentes Biſpos de hum fó , porque feparaó Viarico
de Ubarico . ( 3 )
IV ,

( 1 ) Padilha Hiftor. Ecclef.part. 2. cent. 7. cap.5. [ 2] Tom . 4 . Con


cilior.:p.522 . Cunha nos Biſp .de Lisb. part.1 . c.23.Monarq . Lur. liy.6.
' c. 22. [ 3 ] Moral. liv. 12. c. 25. Brit. na Monarq.1.6.5.21. Marinh, liv.4 .
06.
Da Cidade de Lisboa.
99

IV .

Neufridio , ou Neufredo.

Deſde o anno de 646 .

8
O cilio VII. de Toledo , celebrado no anno
de 646 , onde achamos ſubſcrevendo em ſeu lugar
ao Abbade Criſpino como Procurador do noilo Bila
po , e aſſinou no lugar trigefimo. ( 1 ) Devia Neu
fridio ſucceder immediatamente a Viarico pelo pou
co tempo intermedio , que ſe paſſou entre hum C
outro Concilio . Paſſados poucos annos , ifto he , no
de 653 , aconteceo o glorioſo martyrio de Santa Iria
Datural de Thomar .

V.

Ceſario , ou Ceſar.

Deſde o anno de 656 .

9 Nres de Ceſario conjectura D. Rodrigo da


A Cunha , ( 2 ) que houvera outro Biſpo cha
mado Vicente e que affiftira por ſeu Procurador
Servando ao Concilio VIII . Toledano ; porém o
fundamento de D. Rodrigo he frivolo . O mais cer
to he , que a Neufredo ſuccedeo Cerario , coen
contramos aſſinado no lugar undecimo do Concilio
X. Nacional , celebrado em Toledo em tempo de
Receſvintho , Rey Godo , pelos annos de Chrifto
oso no dia primeiro de Dezembro. ( 3 )
Nji VI .

[ 1 ] Conſta do tom . 14. Concilior. pag. 667. Flores tom. 6. da Eſp


fagr. p. 184. poem no lugar ſegundo a Criſpino , que affiftio conio
Vigario de Neufredo. [ 2 ] Cunha nos Biſpos de Lisboa part. 1. cap. 26.
[3] Tom . 15. Concilior. p.413 .
100
Mappa de Portugal.

VI .

Theodorico .

Deſde o anno de 666.

10 Cha- ſe o nome, e dignidade de Theodo


A rico expreſſo no Concilio de Merida , que
fe celebrou pelos annos de 666 , e nelle ſubſcreveo
em quinto lugar , neſta fórma : Theodoricus in Chriſti
nomine Sancta Olifiponenfis Ecclefiæ Epifcopus subſcrip
fin ( 1 )
VII .

Ara .

Deſde o anno de 683 .

II Ao ſe pode affirmar certamente ſe eſte


N Prelado foy immediato ſucceſſor de Theo
dorico. Sabe- ſe que foy affiftir ao Concilio Nacio
nal , e XIII. de Toledo , congregado pelo Rey Er
vigio a 4 de Novembro de 683, e nelle ſubſcreveo
em ultimo lugar. ( 2)

VIII .

Landerico .

Deſde o anno de 688 .

Rovavel he que ſuccedeſſe eſte Biſpo im


PRmcdiatamente a Ara pelo pouco tempo
que ſe paffou entre hum , e outro .Encontra- ſe o
ſeu nome nas Actas do Concilio Toledano XV . , e
no

[ 4 ] Tom . 15. Concilior. p.474 . [ 2 ] Tom . 17. Concil. p.41.6 Fo.

1
Da Cidade de Lisboa. 101

no lugar quinquagefimo fexto . No Concilio XVI . ,


tambem Toledano , firmou no lugar quinquagefimo
quarto . He de parecer Luiz Marinho , que a Lan
derico fuccedera outro Prelado chamado Harderie
co ; ( 1 ) mas deſejaramos , que allegaffe documen
to , que reforçaſſé o ſeu voto .
13 Com a cntrada dos Mouros , que foy pelos
annos 714 , em cujo tempo governavaainda a noſſa
Igreja o Biſpo Landerico , ſegundo parece a D. Ro
drigo da Cunha , ceffaraó as memorias dos ſeus Pre
łados , e ſua Dieceſe , a qual ſem duvida naquelles
laſtimoſos tempos padecco grande interrupçao na
fua liberdade , poſto que nao ſe extinguio o Chriſ
tianiſmo ; pois conſta que ſe conſervou na Igreja
dos Santos Veriſſimo , Maxima, e Julia , no monte
de S. Gens , e na Igreja de S. Felix em Chelas . ( 2)
Reſtaurada finalmente eſta Cidade do poder dosAra
bes , ſe foy continuando em paz a ſerie Pontificia
de ſeus Prelados , ſendo delles o primeiro , que ſe
feguio a occupar a Cadeira Epiſcopal

IX .

D. Gilberto .

Deſde o anno de 1147 .

Anto que o inclyto Rey D. Affonſo I. re


14 T cuperou Lisboa , conftituio em primeiro
Prelado da ſua Igreja a D. Gilberto , Ecclefiaftico
benemerito , e Inglez de nacaó , que tinha vindo na
armada eſtrangeira , e cooperou para a conquiſta da
Cidade . Foy logo D. Gilberto ſagrado pelo Arce
biſpo de Braga D. Joao Peculiar , em cujas mãos
fcz juramento de obediencia, ficando deſde entao a
Igre

[ 1 ] Mar. de Azev, liv.4 . cap. 1o. [2] Cunha nos Biſpos de Lisboa
part. I. cap. 32 .
102 Mappa de Portugal.

Igreja de Lisboa fuffraganea a Braga , tendo ſido


antecedentemente ſujeita a Merida . ( 1 )
Eſtabeleceo o novo Biſpo no anno de noso
o Cabido da Sé com o numero de Dignidades , e
Prebendas neceſſarias ; e na meſma Cathedral orde .
nou , que ſe rezaſſe , e celebraffe pelo Breviario , e
Miſial da Anglicana Igreja de Salisbury , Cidade
da Provincia de Viltonia, a que os Inglezes chamao
Wiltshire , e conſequentemente introduzio efta Li
turgia em toda a ſua Dieceſe , cujo rito le obſervou
até o anno de 1536 , em que o Arcebiſpo Infante
D. Affonſo o fez abolir com a introducçao do Ro
mano . (2 )
16 No anno ſeguinte de 1151 achamos memo
ria do grande eſpirito deite Prelado , pois com zelo
Apoftolico fez perſuadir a muitos de leus nacionaes
vieffem continuar em Heſpanha a expugnaçao dos
infieis. ( 3 ) E depois de ordenar as tres Paroquias de
S. Vicente , dos Martyres, e de Santa Juſta , cheyo
de merecimentos , e dias , completou o ultimo pra
zo da vida aos 27 de Abril de 1166. Foy ſepultado
na ſua Sé na Capella mór da parte direita em tu
mulo alto , que paſſados tempos ſe demolio pelo em
baraço , que fazia aos Officios Divinos .
X.

[ 1 ] Garibay com.4.1. 34 C.12. Brand. Monarq, Lufit.liv.10.cap.30.


[ 2] Cunha nos Biſpos de Lisb. part.2.c.1 . Pereir . na Chronic. do Carmo
tom . 2. part. I. 8. 141.; e na Diſſertaç. Apologet. n. 105. [ 3 ] Gilbertils.
Epifcopus Oliſiponis prædicans in Angliam plurimos ſolicitavit in Hiſpaa
niam proficiſci Ifpalim obfeffuros, con expugnaturos . Confta da Historia
intitulada Regum Anglicorum , eſcrita por Simeao Dunelmente , e con
tinuada por Joao Prior de Haguſtalde,
Da Cidade de Lisboa. 103

X.

D. Alvaro .

Deſde o anno de 1166 .

17 C vida tinha nomeado por Coadjutor ,eme ſeu


futuro fucceffor a D. Alvaro , que entaó era Mer.
tre- Eſcola da Sé , tanto que D. Gilberto faleceo
começou elle a exercer logo a ſua Dignidade ; por
io que lha embaraçarao os Conegos com alguns
vãos pretextos , quę o Papa Alexandre III . decidio
no anno de 1168 a favor de D. Alvaro .
18 Huma das grandes provas , que confirmao a
viriude defte Prelado , he entrar elle neſte anno a
continuar o ſeu governo tao eſquecido das oppofi
ções paſſadas , que a ſua primeira acçað foy convi .
dar com generoſidade, e clemencia aos meſmos Co
negos ſeus emulos dando - lhes faculdade para dir .
porem das rendas das ſuas Prebendas , ( devia ter
Breve para iſſo ) que ſe venceſſem em hum anno de
pois de ſeus obitos. ( 1 )
19 Conſtituío quatro Paroquias , a ſaber : S.
Jorge , Santa Cruz , S. Bartholomeu , e S. Marti
nho . Aconteceo no ſeu tempo a trasladaçao do er
timavel theſouro do corpo gloriolo de S. Vicente
Martyr , o qual do Promontorio do Algarve , onde
havia annos eſtivera occulto o mandou transferir
ElRey D. Affonſo Henriques para Lisboa , collo
cando - ſe na Cathedral com grande ſolemnidade em
is de Setembro de 1173. Deſde entao concedeo o
meſmo Rey a eſta Cidade o poder tomar por bra .
zaó de Armas a inſignia de huma Náo com a ima
gem do Santo , e dous corvos na popa , e proa para
per

[ 1 ] Cunha no Catal . dos Biſpos de Lisboa part. 2. c. 7


104 Mappa de Portugal.

perpetuo teſtemunho , de que aſſim fora o corpo do


Santo milagroſamente conduzido a Lisboa . ( 1 ) Fa
leceo finalmente eſte Prelado a 11 de Setembro de
1185 , e foy ſepultado na Sé em a Capella de San
tiago chamada vulgarmente da Pombinha. Adver .
timos , que Fr. Antonio de Yepes no tom . 5. da
Chronica geral de S. Bento , pag. 16. col. 1. , faz
mençao por eſte tempo de hum Biſpo Lisbonenfe
chamado Antonio , e julgamos ſerá equivocaçao naſ
cida da letra inicial de Alvaro .

XI .

D. Soeiro I.

Deſde o anno de 1185 .

20
,
ſublimado à dignidade Prelaticia D. Soei
ro , o qual havia ſido eleito ainda em vida de ſeu an
teceffor. Era elle peſſoa de grandes merecimentos ,
e por iflo muito eſtimado delRey D. Sancho I. , que
a ſeu reſpeito concedeo baſtantes privilegios a eſta
Cidade , e à ſua Cathedral . Nella eſtabeleceo D.
Soeiro ás Quartenarias , para que foſſem em mayor
numero os Miniſtros da Igreja. Do anno 1199 por
diante ficou eſte Biſpado Lisbonenſe ſuffraganeo a
Compoſtella por compoſiçao , que fez o Papa In
nocencio III , com os Arcebiſpos de Braga , e Sari
tiago . ( 2 ) Terminou D. Soeiro ſeus dias em 28 de
Se

[ 1 ] Brand. na Monarq . Lufitan. liv . 11. cap . 24. Cunha no Catal.


dos Biſp. de Lisb. part. 2. cap.8. Flores na Heſp.fagrad. tom . 8. pag. 188 .
Donde Moulinho de Quevedo go Affonſo Africano cant. 3. eſt.41. can .
tou
Por Armas fuas huma Náo pregoa ,
Que dous corvos diſcorrem popa a proa .
[2 ] Cunha na Hiftor. de Braga part. 2. cap. 18. n. 8. e ao Catalog. dos
Biſp. de Lisb, part.2. cap:7.8.5:
Da Cidade de Lisboa . 105

Setembro de 1209 , conforme D. Rodrigo , ou no


de 1210 , ſegundo o Chroniſta Brandao . (1 )

XII .

D. Soeiro Viegas II .

Deſde o anno de 1210 .

21 Oy eſte Prelado nað fó illuſtre no ſangue ,


mas infigne no eſplendor da prudencia ,,
por cujas prendas era muito do agrado delRey D.
Sancho I .; e de ſeu filho D. Affonſo II . , o qual
tanto que ſubio ao throno , e começou a contender
com ſuas irmás ſobre as terras , que lhes havia dei
xado EIRey ſeu pay , de cujo litigio ſe queixarað
ellas ao Papa Innocencio Ill . , ElRey para infor
mar ao Pontifice da ſua cauſa , enviou a Roma o
Biſpo D. Soeiro , o qual com a rara capacidade , de
que era dotado , ſoube compor a negociaçao admi
ravelmente .
22 Neſta jornada teve a fortuna de tratar com
familiaridade a S. Boaventura , a quem informou de
muitas acções prodigiofas do nofto gloriofiflimo pa
tricio Santo Antonio , que ſervirao muito para The
compor a vida , como o Santo Doutor confeffa no
ſeu Prologo . A meſma amiſade contrahio com os
bemaventurados Patriarcas S. Domingos , e S. Fran
ciſco , de que reſultou a vinda , e entrada de taó
exemplares Religiões neſta Cidade .
23 As letras , e as virtudes , que guardavao ex
cellente harmonia em D. Soeiro , lhe naő embota
ráð o valeroſo eſpirito das armas contra os inimigos
da Fé na grande empreza de Alcacer do Sal , Pra
ça de robuftas forças naquelle tempo ; devendo - ſe
Tom.III . Part.V .. 0 à

[ 1 ] Cunha Catalog. dos Biſpos de Lisboa cap.19.0.10. Monarq.Lufit .


lip. 12. cap. 10.
106 Mappa de Portugal.

à actividade deſte Prelado o conquiſtarſe aos Mou .


ros em 21 de Outubro de 1219. ( 1 )
24 Com o novo reinado delRey D. Sancho II .
fe perverteo a fortuna de D. Soeiro ; porque pela
ambiçaõ dos validos delRey , foy elle experimen
tando algumas violencias , que os Miniſtros ſecula
res faziao aos Ecclefiafticos vendo -ſe obrigado ,
por conſervar a liberdade da ſua Igreja , retirarſe , e
peregrinar por terras eſtranhas , até que reftituido
à Patria com grandes honras'do Papa Gregorio IX . ,
faleceo a 9 deJaneiro de 1232. ( 2 ) Foy ſepultado na
Sé , e na Capella , que chamaó de Santo Amaro . Se
eſte Prelado renunciou o Biſpado , e tomou o habi
to Dominicano , he ponto que nao ſe pode averi
guar com facilidade, e aſſim o deixamos indeciſo . ( 3 )

XIII .

D. Payo .

Deſde o anno de 1232 .

Efte Prelado nao ha mais noticia , que ſer


25 D eleito em Biſpo de Lisboa depois da mor
te de D. Soeiro , e ter ſido Conego de Viſeu , e D.
Prior de Guimarães. Faleceo a 19 de Abril de 1233 .
O nofio Chroniſta Fr. Antonio Brandao , liv . Is .
cap . 8. diz , que entre os Biſpos D. Soeiro e D.
Ayres Vaſques nað encontrara memorias de outro
Prelado nas Eſcrituras , que lhe viera) à mab .
XIV.

[ 1] Seguimos agora eſta epoca , perſuadidos do que affirma D. Ro.


drigo da Cunha nos Biſpos de Lisboa part. 2. cap. 25. , explicando os
verſos deGoſuino , Poeta coetanco de D. Soeiro. [2 ] Brand, na Moç
narq. Luſit. liv . 13 cap . 10. Cunha nos Biſp.de Lisb. part. 2. C. 32. Cara
dof. no Agiol. Lufit. a 29 de Janeir. Ann .Hiſtor.tom . 3.a 10 de Setemb,
[ 3 ] Vide Cunha no Catal, dos Biſp. de Lisb. part, 2.c. 2.pertot,
Da Cidade de Lisboa. 107

XIV .

D. Joaó I.

Deſde o anno de 1240 .

26
:
Confta ſomente , que depois da ſua exal
taçað ſe auſentara para Roma , por ſe livrar dos diſ .
turbios daquelles tempos , e que lá morrera no an
no de 1241 , em cujo anno a 20 de Outubro já o
Cabido governava em Sede vacante , como conſta
da licença , que paſſou para ſe fundar neſta Cidade
o Convento de S. Domingos . (1) Equivocou -ſe D.
Rodrigo da Cunha , parecendo -lhe que eſte Biſpo
fora Ď . Joao Soares Alað , ſenhor da herdade do
Hoſpital de S. Utropio , exiftente na Freguezia de
S. Bartholomeu ; (2) porque o tal D. Joao Soares
Alaó foy Biſpo de Silves no Algarve deſde o anno
de 1297. ( 3 )
XV .

D. Ayres Vaz , ou Vaſques.

Deſde o anno de 1244 .

27 N terra chamada de Lima de pays nobiliſ


simos , e da illuſtre familia dos Soares de Alberga.
ria . Ignora-ſe o anno em que foy exaltado à Cadei
ra Epiſcopal; ſabe- ſe que a primeira acçao ſua fo
ra fundar em Santarem a Collegiada de Santa Ma
ria de Marvilla em 25 de Novembro de 1244. No
O ji an

( 1 ) Souſa Chroo.de S. Doming. part. 1. p . 162. [ 2 ] Cunha Hiſtor,


Eccleſ. de Lisb. part. 2. C. 41. n . 8. [31 Conſta da 5. part. da Monarq.
Lufit, liv . 17. cap. 42. e cap .61. , edo Catalogo dos Biſpos do Algarve ,
que vem no fim das ſuas Condituições , num . 16 ..
108
Mappa de Portugal.

anno ſeguinte ſe achou no Concilio , que Innocen.


cio IV . fez celebrar em Leao de França , e alli na
preſença do meſmo Pontifice , e de todos os vene
randos Padres alli congregados , fez huma elegante
Oraçao por parte delRey D. Sancho II . , ( 1 ) a quem
ſeus emulos queriaó privar do Reino para enthro .
nizarem a feu irmao D. Affonſo .
28 No anno de 1248 já reftituido ao Reino fez
Conſtituições para o bom regimen da Igreja , e poz
novos limites às Paroquias da ſua Dicceſe. Nas guer
ras e conquiſtas do Algarve acompanhou ſempre
a ElRey D. Affonſo II. Sagrou a Igreja de Alco
baça em 29 de Setembro de 1252. ( 2) Afliftio nas
Cortes, que no anno de 1254 fé celebraraó em Lei .
ria. Expirou finalmente no Convento de S. Vicen .
te de Fóra , donde dizem tinha ſido Religioſo , a 6
de Outubro de 1258 , tendo governado eſta Diece
fe quinze annos , e foy ſepultado na Igreja do meſ
mo Convento .
XVI .

D. Mattheus .

Deſde o anno de 1259.

29 Uito memoravel ſe fez o Biſpo D. Mat


MY theus entre os Prelados Lisbonenſes.
Fora elle Meſtre - Eſcola de Lisboa , grandemente
eſtimado delRey D. Affonſo III . , e nao menos dos
Pontifices Alexandre IV . , e Urbano IV . , a quem
ſer

(1 ) Refere eſta Oraçaó por extenſo em Portuguez o Arcebiſpo D.


Rodrigo da Cunba na Hiſtoria dos Biſpos de Lisboa , part. 2. cap. 45.
do num . 5. por diante , a qual traduzida com elrgancia na lingua La
tina vimos em hum m s. do infigne D. Manoel Caetano de Souſa, que
tivemos na noſſa maó , e tratava dos Biſpos de Lisboa. [ 2] Fr Ber- ·
Dard , de Brito na Chron de Ciſter liv. 3 c.22, diz , que a Igreja de Ale
cobaça fora fagrada no ann . 1222 pelo Biſpo D. Alvaro , couſa que D.
Rodrigo da Cunha reproya nos Biſp. de Lisb . part. 2. C. 46.n. 3:
Da Cidade de Lisboa . 109

ſervio em muitas negociações parando a Roma de


pois de eleito , e donde veyo ſagrado. Tanto que
chegou à Patria cuidou muito no governo da ſua
Igreja , e reforma dos costumes , celebrando tres
vezes Synodo , e publicando no ultimo , que foy no
anno de 1271 , Conftituições novas , com que aca
lhou alguns abulos introduzidos neſta Dieceſe.
30 Foy o primeiro que no anno de 1264 fez ce
lebrar em Lisboa com grande pompa a fetta do
Corpo de Deos , que Urbano IV . inftituira . ( 1 )
Erigio de novo a Paroquia de S. Joao Bautiſta , e
S. Mattheus no Lumiar , Termo de Lisboa . Paſ
ſou ſegunda vez a Roma no anno de 1272 a nego
cios delRey D. Affonſo 111. , nað fe cſquecendo en
tre elles do que pertencia ao bom governo , e au.
gmento da ſua Igreja . Reſtituido porém a ella pe
Jos annos de 1280 , continuou em fazer acções di.
gnas de hum bom Paftor ; até que cheyo de mere
cimentos acabou ſeus dias a 19 de Setembro de
1282. Foy ſepultado na Capella de S. Nicoláo da
ſua Cathedral.
XVII .

D. Eftevaó Annes de Vaſconcellos.

Deſde o anno de 1284.

31 Ra D. Eftevao filho de D. Joao Pires de


E Vaſconcellos, deſcendente do grande Mar
tim Moniz , que fez famoſo o ſeu nome, e valor na
tomada do Caſtello de Lisboa . Obreve a dignidade
Epiſcopal em competencia de D. Domingos Jare
do , que lhe ſuccedeo ; e ſupporto que governou
quali cinco annos , e affilio a hum Concilio , que
fez celebrar em Braga D. Tello no anno de 1286,0
Pa.

[ 1 ] Veja -ſe a Hiſtor. Critic. da Prociſlaó de Corpus feita pelo Dous


cor Ignacio Bartofa,
110 Mappa de Portugal.

Papa Nicoláo IV . veyo a approvar a eleiçaõ de D.


Domingos. O certo he que o governo defte Prela
do fog eltando elle ſempre auſente , e alim veyo a
morrer no anno de 1290. ( 1 )

XVIII .

D. Domingos Jardo .

Deſde o anno de 1289 .

32 F de
ta fortuna , que naſcimento . O pobre lu
gar de Jarda , que fica na Freguezia de Bellas, lhe
foy patria , e appellido . A propenſao que tinha ao
eſtudo das letras o levou à Univerſidade de Pariz ,
donde inſtruido 9 e já perfeito literato voltou ao
Reino ; e a ſua crudiçao o introduzio no agrado
delRey D. Affonſo III. , que o fez ſeu Capellao , e
do ſeu Conſelho. ElRey D. Diniz lhe deu o em
prego de Chanceller mór , e com outras mercês o
elevou a Biſpo de Evora no anno de 1283 , até que
o Pontifice Nicoláo IV . o transferio para o de Lif
boa em 7 de Outubro de 1289 .
33 Entre as acções mais louvaveis da ſua vida
foy a fundaçao do Hoſpital de S. Paulo , que hoje
he o Convento de Santo Eloy de Conegos Secula
res de S. Joao Evangeliſta com o intuito , além do
ſerviço de Deos , de ſe cultivarem nelle as letras
de que havia falca no Reino ; donde diz o Chroniſ.
ta mór Fr. Franciſco Branda6 , ( 2 ) que os princi
paes talentos, que teve Portugal em letras naquel
le tempo , ſe devem a eſte gazalhado do Biſpo D.
Domingos . Cheyo finalmente de annos , e enfermi
da

[ 3 ] Vide Cunha na Hiſtor. dos Arcebiſp. de Braga part. 2. cap . 39


n . 3. e nos Biſpos de Lisboa part . 2. cap . 65. Alcobaça Illuſtrada p . 331 .
€ 487. [ 2 ] Brand . Monarq. Lufit. liv . 16.cap.49 . Cunha nos Biſpos de
Lisboa part . 2. cap . 69 .
Da Cidade de Lisboa . TII

dades diſpoz da abundancia de ſeus bens em hum


prudentiſſimo teftamento ; e chamado ao deſcanço
eterno , terminou ſeus dias em Lisboa a 16 de De
zembro de 1293. Jaz na Capella do Sacramento do
Convento de Santo Eloy .

XIX .

D. Joao Martins de Suilhães .

Deſde o anno de 1294 .

Or ſangue , virtude , e letras fe fez digno


34 P e
elle da familia dos Porto - Carreiros , ampliflima em
Portugal naquello tempo . Principiou logo o gover
no da ſua Dicceſe com a fundação do Moſteiro de
Santa Clara de Lisboa ; e no anno ſeguinte iſentou
o novamente erecto em Odivellas da juriſdiçao dos
Biſpos. Alcançou del Rey D. Diniz muitos privile
gios para a ſua Cathedral , e acompanhou ao mer
mo Rey na jornada , que fez a Aragao no anno de
1304 , inſtituindo antes diſſo o Morgado de Sui
lhães. No anno de 1307 fez Synodo Dieceſano , em
que ordenou novas Conſtituições para atalhar mui
tos abuſos, e reformar o Ecclefiaftico.
35 Foy aſiſtir a alguns Concilios Provinciaes ,
que os Arcebiſpos de Compoſtella , como Metro
politanos de Lisboa , celebraraó nos annos de 1306 ,
e 1310. Por morte do Arcebiſpo de Braga D. Mar
tim Pires foy D. Joao promovido àquella Prima
cial ; até que rematando a carreira da vida , aca
bou na paz do Senhor no primeiro de Mayo de
1325.

XX ,
UT 2
Mappa de Portugal.

XX .

D. Fr. Eftevao II .

Deſde o anno de 1312 .

36 Oy D. Eftevao Religioſo de S. Franciſco ;


e paſſando a Avinhao , onde reſidia o Pa
pa Clemente V. com varios negocios delRey D.
Diniz , o Pontifice o nomeou Biſpo do Porto , fa
zendo -o juntamente adminiſtrador dos bens que os
Templarios poſſuiao neſte Reino. Com a meſma
adminiſtraçao o elevou o fobredito Pontifice a Bif
po de Lisboa por Bulla de 8 de Outubro de 1312 .
(1)
37 Trocada a fortuna com deſgoſtos , que teve
con ElRey , e deſavenças com o ſeu Cabido , vol
tou para Avinha ) ; e vendo o Papa que nað era fa
cil reſtituirſe eſte Prelado à ſua Igreja , ſegundo os
negocios andavað embaraçados , fuccedendo naquel
la occaſiaó vagar o Biſpado de Cuenca em Caftella
a velha , o proveo nelle , concorrendo tambem pa
ra iſſo a ſupplica do Infante D. Affonſo , de quem
D. Eftevað era muito parcial . Alli finalmente dei
xou de viver no anno de 1336 , e ſe mandou fepul
tar no Convento de Santa Cruz de Coimbra pa
ra o qual havia alcançado muitas graças Pontificias.
( 2)
XXI .

[ ! ] Affim o traz Vvadingo no tom . 3. dos Annaes , e concorda com


elle Brand. na Monarq. liv . 18. c.44 ; porém D. Rodrigo nos Biſpos
do Porto pag 2. cap . 15. diz que fora no anno dc 1316 [ 2] Brand.
Monarq.liv. 19.c. 32. Cunha Biſpos de Lisboa p. 2 , cap . 84.
Da Cidade de Lisboa. 113

XXI .

D. Gonçalo Pereira .

Deſde o anno de 1322 .

Ra D. Goncalo Pereira illuftre aſcendente


El Inc Gonçalo Pereira illuftre aſcendente
38 E do
Pereira . Criou - ſe no Paço delRey D. Diniz ; eftu
dou em Salamanca ; foy Deao da Sé do Porto ; e co
mo peſoa de brio , politica , e letras o elegeo El
Rey para varias negociações na Curia , que reſidia
naquelle tempo em Aviñhao . Lá foy eleito Biſpo
de Evora , que nao ſe efteicuou ; porém o Papa Joao
XXII. o nomeou Biſpo de Lisboa em 21 de Agor
to de 1322 , perſuadido das grandes prendas , que
nelle via .

· 39 Condecorado em tal dignidade veyo breve


mente para a ſua Igreja , onde no anno de 1324
celebrou hum Synodo , em que fez algumas Conſ
tituições , que parecerao onerofas aos ſubditos, que
no depois o meſmo Biſpo revogou por ſe conformar
com a vontade delRey . No anno de 1326 paſſou
para Arcebiſpo de Braga, que neceſitava de Prela
do de authoridade para atalhar as deſordens , que
entao alli ſe commerciao , e elle com effeito emba
raçou , e lhe poz remedio com muita prudencia.
40 Nav ſo deu o Biſpo D. Gonçalo Pereira baf
tantes provas das ſuas letras , e capacidade , mas
tambem do ſeu valor , e zelo da patria na defenſa
defte Reino , perſeguindo em varias acções bellico
fas aos Caftelhanos encao noſſos adverſarios , e acom
panhando a EIRey D. Affonſo IV . na batalha do
Salado em que ſahio vitorioſo. Foy arbitro de
muitas pazes entre Principes poderoſos , e in quic
tos , até que chego de merecimentos e deſempe
nhando o caracter de bom Prelado , e de Cavalhei ..
Tom .III. Parç . V. P ... ro ,
I14 Mappa de Portugal.

ro , finalizou os ſeus dias no anno de 1358. Jaz na


Sé ' de Braga . ( 1 )
XXII .

D. Joao Affonſo de Brito .

Deſde o anno de 1326 .

41 Ela transferencia , que fez para Braga D.


PGonçalo Pereira , foy eleito Biſpo de Liſ.
boa D. Joao Affonſo de Brito em 4 deMarço de
1326 , achando -ſe em Avinhaó , ſendo Deao de Evo
rá. Reſtituido a Lisboa , achou no agrado delRey D.
Affonſo IV . , e do Principe D. Pedro toda a efti
maçao , que mereciao as ſuas letras , nobreza , e
procedimento . Efte conceito o fez eſcolher para mi
niftrar as bençãos matrimoniaes na Sé ao melmo
Principe D. Pedro e à Senhora D. Conſtança ſua
conſorte , em cujo luzidiffimo acto fez o Biſpo ex
ceſſivos gaſtos , que ElRey depois lhe remunerou
grandioſamente. Cuidou ſempre muito na reforma
do Clero , e acabou em ſanta velhice a 25 de Julho
de 1341 .
XXIII .

D. Vaſco Martins .

Deſde o anno de 1342 .

D.Vafica foy ſobrinhodoBiſpo do


42 O Bilpoo Do.
primeira educaçao , na qual aproveitou tanto , que
veyo a ſucceder ao tio na Cadeira Epiſcopal ; e de
pois de ter governado aquella Dieceſe o eſpaço de
qua

[ 1 ] Cunha na Hiſtor. dos Arceb. de Brag.p.2.C.43. e nosBiſp. do Pora


to p.2.c. 18. e nos de Lisb. p . 2.c .87. Monarq. Luſit. liv . 19 C. ; 2 . 36 .
e 39. Fr. Raf. de Jeſus na 7. p . da Monarq. liv. 1o. cap.19.n.5.ajuſta bem
o anno em que eſte Prelado morreo , che o que ſeguimos.
Da Cidade de Lisboa. 115

quatorze annos , paflou para a de Lisboa em 26 de


Agoſto de 1342 , por evitar muitas duvidas , que
alli tivera com ElRey D. Affonſo IV . , e com a
Camera. Tanto que tomou poffe da Prelazia Lisbo
nenſe , começou logo a viſitar a ſua Diecele , dan
do juntamente principio ao livro , que o Cabido def
ta Cathedral chamava o livro da Roda , e propria
mente conſtava de toda a renda da Sé , cujo livro
depois de muitos annos andar uſurpado , o vieraó
reltiruir nað hamuitos tempos , e ſe conſervava no
Cartorio da Bafilica de Santa Maria . Governou er
te Prelado a noſſa Igreja pouco mais de dous an
nos ; e ſendo chamado pelo Senhor ao deſcanço eter
no , morreo em o anno de 1344 , c toy ſepultado na
Cathedral .
XXIV .

D. Eftevao Anes .

Deſde o anno de 1344 .

Chava - ſe D. Eftevao em Avinhaó , quan


43 A do ſabendo -ſe alli da morte de D. Var.
co , o Pontifice Clemente VI . o promovco na Ca
deira Epiſcopal em o fim do anno de 1344 , e ſem
vir nunca ao Reino , de Avinhao governou eſta
Igreja pelos ſeus Vigarios geraes o eſpaço de qua
tro annos , vindo a falecer ou no de 1348 , ou no
de 1349 .
XXV .

D. Theobaldo .

Deſde o anno de 1348 .

44
O para Biſpo de Lisboa por morte do ante
ceffor a D. Theobaldo Francez de naçao , o qual ,
P ii CO
116
Mappa de Portugal.

como naquelle tempo havia peſte em Portugal, naő


ſe reſolveo vir a eſte Reino , e de Avinhaó gover :
nou a ſua Igreja por Vigarios geraes. Nao ha no
ſeu governo acçao memoravel. Morreo em 28 de
Mayo de 1356 .
XXVI . -

D. Reginaldo.

Deſde o anno de 1356 .

45 T familiar do Papa Innocencio VI. , fale ,


condo D. Theobaldo , o elegeo o Pontifice Prelado
Lisbonenſe a 20 de Junho de 1356 , cuja Igreja go
vernou auſente por ſeu Vigario geral. Depois o
meſmo Pontifice o mudou para Biſpo de Autun , ou
Auguſtodonenſe em França , ( 1) onde faleceo , dei
xando todavia netta noſſa Igreja algumas memo
rias ſuas nos Anniverſarios , que eſtabeleceo .

XXVII .

D. Lourenço Rodrigues .

Deſde o anno de 1359 .

46 Ela mudança , que o Biſpo D. Reginaldo


PE fez da Igreja de Lisboa para a de Autun
em Agoſto de 1358 , foy logo no anno ſeguinte pro
movido neſta Cathedral D. Lourenço ; e tanto que
tomou poffe , cuidou primeiro que tudo , como vi
gilantiſſimo Paſtor , na reforma do Clero , para o
que

7 [ 1 ] D. Rodrigo da Cunha nosBiſp.de Lisb. part. 2.cap.97.9.4 . diz


que D.Reginaldo fora transferido para a Igreja de Avinhao , fundado
em huma conjectura ſua unicamente; porém nós fundamo - nos para di
zer que fora para Autun , porque aſſim o affirma Pulgar na Hiſtoria
Palentina , lib. 3. cap. 6.
Da Cidade de Lisboa. 117

que publicou Conſtituições ; que todos juraraū , c


as fazia cumprir com todo o rigor. Viſitava todos
os annos peltoalmente a ſua Dieceſe com grande
utilidade das ſuas ovelhas . Perderaõ ellas muito com

a ſua morte , que foy, em 19 de Junho de 1364 .

XXVIII .

D. Pedro Gomes Barroſo .

Deſde o anno de 1365 .

A varias opiniões ſobre a naturalidade


47 H deſte Prelado : huns o fazem filho de To
ledo , outros de Cuenca ; e até no appellido acha
mos differença , chamando -lhe huns D. Pedro Go
mes de Albernoz . ( 1 ) O certo he, que elle ſucce
deo na dignidade Epiſcopal a D. Lourenço no an
no de 1305 , e que a mayor parte do ſeu governo
foy eſtando em Avinhao , donde paſſou para o Bif
pado de Coimbra , e ultimamente veyo occupar o
de Sevilha , onde faleceo no anno de 1374 .

XXIX .

D. Fernando ,

Deſde o anno de 1370 .

48 D. Fernando immediato ſucceſſor de


F .
% Pedro ; e ſuppofto fora eleito em Avi
nhab , e de lá governou a mayor parte do tempo a
Igreja Lisbonenſe , conjecturamos , que ou morrera
em Lisboa , ou ſe mandara ſepultar neſta Cathedral .
Fundamo-nos para aſlim o dizer ; porque quando
o

[ 1 ] D. Man . Cact. de Souſa no Catal. dos Cardeacs Portuguczes , que


von no tom . s . da Colleçao Academica , pag.71 .
118 Mappa de Portugal.

o memoravel , e Fideliſſimo Rey D. Joao V. man


dou aperfeiçoar o pavimento da Capella mór da an
tiga Sé pelos annos de 1743 , bolindo -ſe em algu
mas fepulturas , ſe achou em huma campa , que eſ
tava à entrada do arco da parte da Epiftola , inr
culpida na meſma lapida huma figura de relevo com
habito Epiſcopal, e em roda humas letras Goticas
que diziaó : Jacet in Domino Reverendus in Chrifto
Pater Dominus Fernandus Epiſcopus Ulyxbonenſis : e nao
podia ſer outro , ſenaó eſte Prelado.

xxx .

D. Vaſco II .

Deſde o anno de 1371 .

Stando D. Vaſco cm Avinhao affiftindo ao


49 E Papa Gregorio XI . , eſte o fez Biſpo de
Lisboa , cuja Igreja governou ſó dous mezes pela

mudança ao Arcebiſpado de Braga , a que o meſmo


Pontifice. o elevou , e lá faleceo em 18 de Novem
bro de 1372 .
XXXI.

D. Agapito Colona .

Deſde o anno de 1371 .

a
so Braga fez o Papa D.Gregorio XI . eleiçao
para Biſpo de Lisboa a Agapito Colona , Romano
illuſtre , que entað era Biſpo de Brexa , Cidade de
·Veneza. Governou eſte Prelado nove annos a Santa
Igreja de Lisboa , e o mais do tempo auſente em
Avinhao. Depois renunciando o Biſpado foy cleito
Cardeal do ritulo de Santa Priſca , retendo codavia
o governo delta Cidade até a morte , que foy a 3 de
Ou
Da Cidade de Lisboa . 119

Outubro de 1380. Jaz em Roma na Igreja de Sant


ta Maria Mayor. ( 1 )

XXXII .

D. Joao de Aix .

Deſde o anno de 1381 .

SI Oy efte Prelado Francez de Nacaó . O Pa.


pa Urbano VI . o mudou para Arcebiſpo
de Aix na Provença ſua patria . Governou a noſſa
Dieceſe quaſi dous annos , mas ſempre auſente , an
dando neſte tempo as couſas Ecclefiafticas muito
cheyas de perturbações por via do ſciſma , que fi
nalizou com o Concilio Conſtancienſe , e com a elei,
çao do Papa Martinho V.

XXXIII .

D. Martinho.

Deſde o anno de 1381 .

52 C, amora , Prelado de merecimento , e de


virtude , o qual ſendo Biſpo de Silves no Algarve ,
foy eleito para Arcebiſpo de Braga pelo Cabido da
quella Primacial pela morte de D. Vaſco ; porém
eſta promoçao nao teve effeito , porque nao a quiz
approvar o Papa Gregorio XI . e o mandou refidir
na ſua Igreja de Silves , donde foy 'nomeado para
eſta de Lisboa por Clemente VII. em oppoſiçao
de Urbano VI., por cauſa do ſciſma , que entað ha
via na Igreja Catholica. ElRey D. Fernando , que
fe

[ 1 ] Ughel. Ital. facr. tom . 1. p.467 . 854. Ann. Hift. tom . 3. p. 12 $


Cunha Biſp . de Lisboa Po 29 C.103:
1 20 . Mappa de Portugal.

feguio. o partido de Clemente , admitrió ao Biſpo


D.Martinho , e por elle lhe mandou dar obedien
cia a Avinhaó com grande apparato , donde vol
tando para Lisboa mandou limitar as Paroquias do
feu Biſpado .
53 Falecendo . ElRey D. Fernando , Tuccedeo
no anno de 1383 a acclamaçao delRey D. Joao I. ,
Meſtre entao de Aviz, em cujo dia houve extraor
dinarios alvoroços neſta Cidade ; e porque o Biſpo
D. Martinho , ignorando os motivos daquella im
proviſa alteraçao , ettando nos paços da Cathedral ,
fe ſubio à torre para ver o que era , nao confentin
do que ſe repicaſſem os finos , como o povo que
ria ; eſtimulados, e cegos , entraraó por huma freſ
ta da torre , e della precipicarao ao Biſpo D. Mar
tinho tyrannamente , trazendo - o de raſtos até a pra
ça do Rocio , onde etteve o cadaver alguns dias.
fem lhe darem fepultura ; de cujo furioſo facrilegio
pediraó depois perda ) ao Papa Urbano VI . Acon
teceo eſte horrivel cataſtrofe a 6 de Dezembro de
1383. Porém a 22 do meſmo mez, e anno , nao ten
do ainda chegado a noticia a Avinhao , onde reſi
dia Clemente VII. , eſte havia elevado a D. Mar
tinho à eminencia de Cardeal . ( 1 )

XXXIV .

D. Joað Anes .

Deſde o anno de 1383 .

54
ja Aquenſe , fira na Provença , elegeo o
Papa Urbano VI. a D. Joao Anes , natural de Tho
mar , em Biſpo de Lisboa , que entao era Conego
da

[ 1 ] Cunha nos Biſpos de Lisboa part, 2.c. 107.Catalogo dos Biſpos


do Algarve n. 26. Severim Noticias de Portugal diſc. 8 Memor. dos
Cardeacs Portuguczes Ann. Hiftor. tom . 3. pag. 447. 4526.
Da Cidade de Lisboa . 121

da Sé , peſſoa de merecida eſtimaçaó por virtudes ,


e letras . Expedirab-ſe as Bullas em 25 de Feverei
ro de 1383 , e logo em Abril , e Setembro do mel
mo anno ordenou duas folemniffimas Prociſsões em
acçao de graças , pelos dous prodigios , que ſucce
deraó em Lisboa no apertado cerco das tropas Caf
telhanas , que as nollas Hiſtorias referem .
ss . Tanto que o Reino teve alguma quieraçao
depois da victoria de Aljubarrota em o anno de 1386 ,
começou o zeloſo Prelado com a reforma do Cle
ro , e augmento das Igrejas , as quaes viſitou com
grande utilidade de todas , recuperando para ellas
muita fazenda , que andava alienada. Tendo cum
prido onze annos em o Paſtoral officio com coda a ſa
tisfaçao das ſuas ovelhas , foy exaltado à nova digni
dade de Arcebiſpo de Lisboa , como logo veremos .

MAPPA CHRONOLOGICO
dos Biſpos de Lisboa .

Biſpos duvidoſos.
Ann.de Chrift. Ann.de Chrift.
S. Manſos 36 Potamio 356
Anonymo Antonio 373
Filippe Filoteo 92 Neobridio 430
S. Pedro I. 166 Julio 401
Pedro II . 213 Azulano
Jorge 266 Joao roo
Pedro III . 297 Eolo 536
S. Gens Neftoriano 578
Januario 300

Biſpos certos.

Paulo 589 Ceſario 656


Goma 610 | Theodorico 666
Viriaco 633 Ara 683
688
Neofridio 646 Landerico
Tom . III. Part.V. Q Bif
I 22 Mappa de Portugal.

Biſpos em tempo de Reys Portuguezes.


Apa.de Chriſt. Ann.de Chrift.
D. Gilberto 1147 | D. Joao Affonſo 1326
D. Alvaro 1167 | D. Vaſco Martins 1342
D. Soeiro I. 1186 D. Ettevao III . 1 344
D. Soeiro Viegas 1210 D. Theobaldo 1354
D. Payo 1233 D.Reginaldo 1356
D. Joao I. 1240 D. Lourenço Ro.
D. Ayres Vaſques 1244 drigues 1359
D. Mattheus 1259 D. Pedro Gomes 1365
D , Eltevao Anes 1284 D. Fernando 1370
D. Domingos Jardo 1289 D. Vaſco II . 1371
D. Joao Martins D. Agapito 1371
Suilhães 1294 D. Joao de Aix 1381
D. Eftevao II . 1311 D, Martinho 1383
D. Gonçalo Pereira 1322 D. Joab Anes 1393

AR CEBISPO S.

I Memoravel Rey D. Joaó I. querendo gra


O tificar generolamente aos naturaes deſta
Cidade o muito que haviaó cooperado para a ſua
exaltaçao ao throno , nað ſarisfeito ainda de lhes
dar ampliſſimos privilegios civís , determinou co
mo Principe religiofiflimo , e magnanimo , enchel
los tambem de honras Ecclefiafticas; por cujo mo .
tivo conftituio a ſua Igreja Cathedral ſenhora iſen
ta , ſem
dependencia de outro ſuperior mais que da
Sé Apoftolica.
2 Era até eſte tempo a Diecere de Lisboa ſuf
fraganea de Compoſtella deſde o anno de u99 , em
que o Arcebiſpo de Braga D. Martinho Pires a dei .
xou , e dimittio àquelle Prelado . ( 1 ) Para obter
eſte foro Metropolitico ', recorreo o zeloſo Rey ao
Papa Bonifacio IX . , e efte afſentindo benigno às
ſuas

6 ] Cunha Hiftor, Ecclef. de Braga part. 2.cap . 18 .


Da Cidade de Lisboa. 123

fuas fupplicas , mandou paſſar a Bulla da nova crec


çao em 10 de de Novembro de 1394 , ( 1) aſſinan
do -lhe por ſuffraganeos os Biſpos de Lamego , Guar
da , Silves , e Evora; poſto que eſte , que entað era
D. Joao Affonſo de Brito , logo no anno de 1396 ,
por Breve do meſmo Pontifice , fe eximio da obedi
encia do de Lisboa . Tem havido até agora os ſeguin
tes Arcebiſpos .
1.

D. Joao Anes .

Deſde o anno de 1394 .

3
po D. Joao Anes , ( a quem alguns errada
mence accreicentao o appellido de Eſcudeiro ) co
mo já nos onze annos antecedentes havia moſtrado
na ſua Prelazia , que obrigarao ao Rey , e ao Ponti
fice Bonifacio IX . a exaltallo à nova dignidade Ar
.chiepiſcopal. Foy continuando no governo deſta
Igreja com felicidade , nað obſtante algumas con
tradições , que teve com o Biſpo de Evora D. Mar
tinho ſobre a ſua ilençao , e com o do Porto D. Joao
Efteves ſobre a fundaçaõ da Igreja do Salvador.
4. Serenado tudo , veyo elle a concluir em paz
os ſeus dias a 3 de Mayo de 1402 com dezoito an .
nos , e dez mezes de Arcebiſpo. Sepultou -ſe na Ca
pella de S. Sebaſtia ) da fua Sé , por ſer parente do
Arcebiſpo de Braga D. Joao Martins de Suilhães,
que a fundara. Eitava a fepultura antigamente col .
locada ſobre quatro leões grandes de pedra , aos
Qii quaes ,

[ 1 ] Marian. liv . 18 cap. 13. Bzovio , Mirco , e outros , a quem legue


Cugbi nos Biſpos do Porto past.2.C. 23 .; os quaes dizem , que eſta crec
çaó fora do anno de 1290. Nós no tom . 2. part.3 deſte Mappa pag. 11 .
ſeguindo a Joſeph Soares da Silva , a pozemos noann.de 1393. O certo
he, que foy no anno ſeguinte, como ſe pode ver oa Bulla ,que vem no
com , 1. dasProvas da Hiftoria Genealogica da Caſa Real , pag. 364.
124 Mappa de Portugal.

quaes, por embaraçarem muito a Capella , mandou


tirar o Conego Pedro Lourenço de Tavora , e tranſ
ferir os oſſos para o tumulo onde agora eſtá dentro
da parede .
II .

D. Joao Eſteves de Azambuja , Cardeal .

Deſde o anno de 1402 .

T Oy eſte Prelado natural da Villa , que The


F deu o appellido , filho de Affonio Eſteves ,
Senhor de Salvaterra , e Repoſteiro mór . Antes de
ſer Ecclefiaftico militou valeroſamente nas guerras ,
que ElRey D. Joao I. teve com Caftella . (1 ) De
pois foy Conego de Coimbra , e de Evora , Prior
na Igreja de Monçao no Minho , e da de Alcaçova
em Santarem. ElRey D. Joao I. o fez ſeu Conſe
lheiro ; e pelo bom conceito , que fazia do ſeu ta
lento e capacidade , o mandou a Roma conſeguir
do Papa Bonifacio IX . diſpenſa para poder caſar ,
pois era profeſſo na Ordem equeftre de Aviz .
6 Pelos ſeus merecimentos o nomeou ElRey
Biſpo do Porto , onde elle creou de novo a digni
dade de Arcediago , a quem unio para ſempre a
Igreja de S. Thyrſo de Meinedo. Sagrou o Tem
plo de Noſſa Senhora da Oliveira em Guimarães ,
ſendo já Biſpo de Coimbra . Foy duas vezes por
Embaixador a Caſtella tratar a negociaçao das pa
zes , que ſe vieraó a concluir no anno de 1402. Por
eſte tempo foy promovido a Arcebiſpo de Lisboa ,
logo depois que faleceo D. Joaó Anes ; e conde
corado com elta dignidade paſſou à Italia para aſ
fiftir ao Concilio , que em Piſa ſe fez no anno de
1409 , a fim de ſe ſerenar o pernicioſo ſciſma, que
entao opprimia a Igreja Catholica . Depois paf
fou

[ ] Chronica delRey D. Joaó I. part. 1. cap . 162. e part. 2. cap. 19.


Da Cidade de Lisboa : 125

ſou a Jeruſalem a viſitar os ſantos Lugares.


7 Creſcerad tanto os merecimentos do Arce
biſpo D. Joað Eſteves , e era tanto o reſpeito , que
fe tinha às ſuas letras , é virtudes , que por attençao
a ellas no anno de 1411 lhe conterio o Papa Joao
XXIII . o Capello de Cardeal com o titulo de S.
Pedro ad Vincula c de Santa Eudoxia , ficando
lhe o Arcebiſpado em titulo de Commenda . Para
receber o Capello paſſou a Roma , e de lá acompa
nhou ao Pontifice até a Cidade de Conſtança em
Alemanha , onde ſe celebrou outro Concilio para
dar a deſejada paz à Igreja de Deos , que ſe via af
Alicta, e dividida com o governo de tres Pontifices.
8 Obſervando entao o noſſo Cardeal Arcebir
po , que as couſas ſe encaminhavao a ficar Joao
XXIII . fóra do Pontificado , ſe auſentou criſte de
Conſtança , paſſando a Bruges , Cidade de Flan
des , para dahi fazer caminho para Portugal; porém
adoecendo gravemente , faleceo a 23 de Janeiro de
1415 » cxcedendo na morte a fama que tivera na
vida , porque acabou como fanto , vivendo virtuo
ſo . Seus offos forao trasladados ao Moſteiro do Sal .
vador deſta Cidade , que elle havia edificado , e do.
tado . ( 1 )
III .

D. Diogo Alvares .

Deſde o anno de 1414 .

Endo Grao Prior de Guimarães , foy D. Dio


SEO go elevado a Biſpo de Evora no anno de
1406 , em cujo governo ſuccedeo aquelle raro caſo
de

[ 1 ] Faria e Souſa no Epitome part. 4.c. 6. Severim Noticias de Por


tug. diſc. 8. Memor . dos Cardcacs Portug. Cunha nos Biſpos do Porto
part.2.C 23. , coa Addicaó a eſte capitulo , que vem a pag. 447. Ano.
Hiftor. tom . I. pag . 143. Faſtos da Luſitania tom , 1. pag.299. Alguns
o fazem Biſpo do Algarve, mas nao confta.
126 Mappa de Portugal.

de hum excommungado , que refere o Padre Fon


feca na Evora glorioſa pag. 285. Vivendo ainda o Car
deal Arcebilpo D. Joao Efteves de Azambuja , toy
D. Diogo eleito em Arcebiſpo de Lisboa por Joao
XXIII . no anno de 1414. Porém nab obftante a
nomeaçao Pontificia , deſcuidando - ſe o novo Arce
biſpo da expediçao das Bullas , lhe nao quiz o Ca
bido dar poffe , por cujo motivo padeceo muitas
contradições . É vendo El Rey D. Joao I. a reniten
cia , com que o Arcebiſpo eſtava , elcreveo no an
no de 1422 ao Cabido da Sé , para que lhe naõ obe
deceſſem , e governaſſem o Arcebiſpado no eſpiri
cual , e temporal. Na meſma conformidade elcre
veo tambem o Infante D. Pedro aos Priores , Mi
niſtros , e Guardiães dos Conventos de Lisboa , e a
4
todos os Grandes do Reino , que obedeceſſem ao
Cabido .
ſe va I
IO Vendo -ſe o Arcebiſpo neſte aperto ,
leo da authoridade do Pontifice Martinho V. , que
chegou a eſcrever a ElRey D. Joao , e ao Infante
D. Duarte ſeu filho primogenito , para que fizeſſem
deGftir ao Deab , e Cabido das duvidas com que lhe
impedia ) a adminiſtraçaó pacifica da ſua Igreja . Cu
ja ſupplica ſendo pouco attendida delRey , e do
Principe , o Arcebiſpo ſe recolheo a Evora , onde
com deſgoſtos acabou a vida em 5 de Mayo de 1424 .
Jaz ſem inſcripçaõ na clauſtra da meſma Sé , e na
Capella , que alli fez erigir o Conego Fernaő Afo
fonſo Cicioſo .
IV .

D. Pedro de Noronha .

Deſde o anno de 1424 .

II Ra D. Pedro de Noronha natural do Rei


E no das Aſturias, filho de D. Affonſo , Con
de de Gijon , neto por baſtardia dos Reys Henri
que
Da Cidade de Lisboa . 127

que H. de Caftella e de D. Fernando de Portu


gal . ( 1 ) Vindo a eſte Reino , e tendo vinte e tres
annos de idade , no de 1419 lhe concedeo Martinho
V. a adminiſtraçaó do Biſpado de Evora em 11 de
Janeiro a inſtancias delRey D. Joað I.; e pela mor.
te do Arcebiſpo D. Diogo Alvares o elevou o mer
mo Pontifice a Metropolitano de Lisboa contra a
poftulaçao , que o Cabido deſta Cathedral fazia pa:
ra a peſſoa de D. Fernando , Chancre de Coimbra .
I2 Promovido D. Pedro em Arcebiſpo no anno
de 1424 , tendo nao mais que vinte e oito annos de
idade , começou a tratarſe com grande pompa , c
luzimento de Principe , occupando - ſe em exercicios
improprios ao ſeu caracter , e em divertimentos
alheyos da ſua paftoral obrigaçao , a qual incumbia
à vigilancia dos ſeus Vigarios Geraes , que forao
Chriſtovao Anes , Affonlo Anes Chantre , e Joao de
Elvas Prior de Aveiras . Com eſtes deſcuidos fez
padecer a liberdade Ecclefiaftica dos ſeus ſubditos
com as vexações do poder fecular , de que Marti
nho V. o reprehendeo , e ſe remediou com o Con
cilio Provincial, que celebrou em Braga o Arcebiſ .
po D. Fernando a 22 de Dezembro de 1426 .
13 No anno de 1428 paſſou o noſſo Arcebiſpo
a Araga ) por Embaixador delRey D. Joao I. ro
bre o negocio do caſamento do Infante D. Duarte
com a Infanta D. Leonor , cuja negociaçao com
pletou com beneplacito de todos . ( 2) Pela morte
delRey D. Duarte , que deixou por Governadora
do Rcino a Rainha D. Leonor ſua mulher , a cuja
determinaçao le oppozerað os Tres Eftados do Rei
no , quiz o Arcebiſpo D. Pedro ſuſtentar o partido
da Rainha viuva com grande tenacidade , fazendo
ſe forte no ſeu Palacio , que era junto dos Paços
do Caſtello ; e porque os Vereadores da Cidade fúr
pei

( 1 ) Gafpar Barreir. do Teu Nobiliario. Fonſeca na Evora gloriofa


pag . 285. n . 506. [ 2 ] Zurita lib. 13. cap.45. Ruy de Pina Chron. de
Infante D. Pedro cap. 28.6 34.
128 Mappa de Portugal.

peitara) , que o Arcebiſpo ſe queria apoderar do


Caſtello pela porta que chamao do Moniz , a Cao
mera lhe mandou derrubar certos cubellos , de que
o Arcebiſpo tomou grande ſentimento , e ſe fahio
de Lisboa para Alhandra .
14 Forao - ſe augmentando as turbulencias de
maneira , que a Camera da Cidade formou capitulos
contra o Arcebiſpo cheyos de ludibrios , e os re
meteo ao Papa , para que o privafle da dignidade .
Vendo -ſe o Arcebiſpo injuriado , e perſeguido , fe
auſentou para Caſtella , e logo o Infante D. Pedro
lhe mandou ſequeſtrar as rendas. Neſta auſencia fi .
cou o Cabido governando como em Sé vacante ;
porém trabalhando os apaixonados do Arcebiſpo ,
para que elle tornaſſe para o Reino , intervindo tam
bem niſſo a Santidade de Urbano VI . , lhe toy con
cedida licença do Infante D. Pedro , entah Regen
te , no anno de 1442 .
is Vindo o Arcebiſpo outra vez para Lisboa ,
erigio no anno de 1445 em Collegiada a Igreja de
Santa Maria da Villa de Ourem ; c eſta he a ulti
ma acçao , que ſabemos deſte Prelado , o qual fale
ceo a 12 de Agoſto de 1452 em Lisboa , e eſtá ſe
pultado no meyo da Capella do Santiflimo Sacra
mento da antiga Sé.

V.

D. Luiz Coutinho.

Deſde o anno de 1453 .

16 Uy liberal ſe moſtrou o Padre Antonio


MU Carvalho da Coſta para com a Igreja
Metropolitana de Lisboa ; porque no Catalogo dos
ſeus Prelados , que expende no tom . 3. da Corografia
Portugueza , pag . 345. , numera antes de D. Luiz
Coutinho a D. Válco de Menezes , e a D. Fernan
do
Da Cidade de Lisboa . Į 29

do de Caſtro , os quaes ſao duvidoſos ; porque o


Arcebiſpo D. Pedro de Noronha morreo em 12 de
Agoſto de 1452 , como conſta da ſua inſcripcaó ſe
pulchral , e logo em 23 de Setembro do meſmo an
no , conſta que dera Ordens com licença do Cabi
do Sede vacante na Capella de S. Bartholomeu da Sé
o Biſpo de Tagaſte D. Joao ; e as tornou a dar com
a meſma licença em 14 de Junho do anno ſeguinte ,
em que já o Arcebiſpo D. Luiz Coutinho era fale
cido , como ſe moſtra da Bulla de Nicolao V. , pal
ſada a ſeu ſucceſſor D. Jayme em 30 de Abril de
1453 .
17. De ſorte , que o governo de D. Luiz Cou .
tinho nao podia alargarſe mais que de Setembro de
1452 até o principio de Abril de 1453 , em que vað
quando muito ſete mezes de Prelazia , em cujo li
mitado eſpaço nao pode caber o governo de mais
dous Prelados .
18 Foy em fim D. Luiz Coutinho filho de Gon
calo Vaz Courinho , ſegundo Marichal do Reino
Alcaide mór de Trancoſo , e de Lamego ; e de D.
Leonor Gonçalves de Azevedo . Teve primeiramen
te o Biſpado de Viſeu pelos annos de 1443 ; e len
do Embaixador delRey em Roma, ſe achou na elei
çao do Anti- Papa Felix IV . , e por elle foy creado
Anti- Cardeal no mez de Abril de 1443. Foy tam
bem Biſpo de Coimbra no anno de 1444 , e acom
panhou até Alemanha a Imperatriz D. Leonor , fi
lha delRey D. Duarte , que ſe deſpoſou com o
Imperador Federico III . Nao conſta onde mor
reo , nem quando .

5
1
R

Tom.III . Part.V. VI .
0
130 Mappa de Portugal.

VI .

D. Jayme , Cardeal.

Deſde o anno de 1453 .

-19 Oy D. Jayme filho do Infante D. Pedro ,


F e neto delRey D. Joao I. de boa memo
ria . Sendo de quatorze annos , ficou prizioneiro na
batalha da Alfarrobeira , aonde tinha ido acompa
nhar a ſeu pay , que alli perdeo infelizmente a vi
da . Eſcapando da prizao , paſſou a Flandes , e foy
buſcar o abrigo de ſua tia a Infanta D. Iſabel, Con
deſſa daquelles Eſtados , e mulher de Filippe III .
Eita Senhora o mandou a Roma , ſendo entaó Pon
tifice Nicolao V. , que affeiçoado das Reaes perfei
ções , que concorria ) nette Principe , o fez admi.
niitrador perpetuo da Igreja Lisbonenſe em 30 de
Abril de 1453, a qual ſe achava vaga por morte de
D. Luiz Coutinho .
20 Naó conſtituío logo o Pontifice a D. Jayme
Arcebiſpo , por nað ter ainda competente idade ,
pois contava ſó vinte annos . Todavia defta forte
começou a governar por lcus Vigarios Geraes : tal
foy Luiz Anes , que em ſeu nome affiftio nas Cor
tes , que ſe celebraraó em Lisboa por ElRey D.
Affonſo V. pelos annos de 1455 , e 1456. Subindo
ao Summo Pontificado Calliſto III . , antepondo os
merecimentos aos annos do noſſo Arcebiſpo Ingo
na primeira creaçao de Cardeaes , que fez em 18 de
Setembro de 1486 , lhe deu o Capello com titulo
de Santa Maria in Porticu , promovendo - o depois ao
de Santo Euſtachio .
21 Feito Cardeal conſeguio do Papa a Bulla da
Cruzada para eſte Reino , mandando - a no anno de
1457 a ElRey D. Affonſo V. ſeu primo pelo Bif
po de Silves D. Fr. Alvaro Paes , que ſe achava em
Ro
Da Cidade de Lisboa . 131

Roma , a quem o Pontifice fez ſeu Legado , e o


Cardeal ſeu Governador , ou Commiſſario Ge : al no
Arcebiſpado de Lisboa .
22 Succedendo no anno ſeguinte de 1458 a mor
te do Papa Calliſto III . , e ſeguindo - ſe logo na Ca
deira Pontificia Pio II. , quiz eite levar ávante a
empreza de ſeu anteceffor em fazer guerra aos Tur
cos. Para eſte effeito publicou hum Concilio em
Mantua , para onde partindo de Roma no principio
do anno de 1459 com o Collegio dos Cardeaes , o
nofo adoecendo em Florença de hum mal , que ſó
tinha o remedio no perigo da caftidade, quiz antes
D. Jayme perder a vida na flor dos annos , que
manchar o candido arminho da ſua pureza . Eſpirou
finalmente a 21 de Abril de 1459 com grande fau
dade de codos . Jaz ſeu corpo em Florença no Con
vento de S. Miniato de Religioſos Benedictinos . ( 1 )

VII .

D. Affonſo Nogueira.
1
Deſde o anno de 1459 .

23 Ra D. Affonſo Nogueira filho de Affonſo


E Anes Nogueira , Alcaide mór de Lisboa .
Nos ſeus primeiros annos abraçou a nova Reforma
da Congregaçao de S. Joao Evangelifta , que inſti
tuío nelle Reino o Veneravel Mettre Joao , e foy
hum dos ſeus primeiros companheiros. Levado da
devoçaó , e deſejo de communicar com os primei
ros fundadores da Congregaçao de S. Jorge em Al
ga , paſſou a Veneza e de la trouxe para os de
Portugal a capa azul , continuando a viver aqui tao
exemplarmente , que o Papa Nicoláo V. obrigado
R ji da

[ 11 Zurita liv . 16.c. 39 Bzovio tom . 15.ad an . 1427.0 5. Bozins de


Sign. Ecclef. lib. 11. figo.48 c.7 e outros apud Cardof. no Agiolog.
Luſit. tom . 2. p. 585. Nun. Deſcr. de Portug. cap.87. p . 134.
132 Mappa de Portugal
.

da ſua fama o fez Biſpo de Coimbra na mudança de


D. Luiz Coutinho , e por morte do Cardeal D. Jay
me o transferio Pio II . para Arcebiſpo de Lisboa
aos 17 de Setembro de 1459 , como conſta da Bul.
la .(1)
24 Padece equivocaçaó o Padre Antonio Car
valho da Coſta na ſua Corografia tom . 3. pag. 340 .
onde diz , que D. Affonſo Nogueira fora tambem
Biſpo do Porto , dignidade que nao occupou . Cor
rendo o anno de 1463 , celebrou Pontifical o noſſo
Arcebiſpo , e lançou a primeira pedra na Caſa nova
de Noſſa Senhora da Luz , junto ao Lugar de Car
nide , com alliſtencia delRey D. Affonſo V., e de
toda a Corte . No anno de 1464 , padecendo Lisboa
huma grande epidemia , por fugir della ſe recolheo
o Arcebiſpo D. Affonſo à Villa de Alanquer ; e no
mez de Outubro dette anno quiz a Divina Provi.
dencia , que elle faleceffe do meſmo mal. Foy tra
zido ſeu corpo para a Igreja Paroquial de S. Louren
ço deſta cidade , onde jaz na Capella de Santa Vio
étoria como Inſtituidor do Morgado dos Noguei.
ras , que hoje poſſue o Excellentillimo Viſconde de
Villa-Nova de Cerveira .
25 Outra equivocaçað encontramos no Biſpo
de Targa D. Fr. Thomé de Faria , o qual naquel
las fuas famoſas Decadas deſte Reino , que deixou
manuſcritas > e imperfeitas , eſcreve na primeira
Decad . liv . I. cap . 2. , que ElRey D. Affonſo V.
elegera para Arcebiſpo de Lisboa a hum certo Du
arte , grande Letrado , e Confeſſor da Rainha D.
Iſabel > o qual exercera admiravelmente ella digni
dade ; e porque tinha ſido em Pariz companheiro de
Franciſco Barboſa , inſigne Juriſta , o fizera ſeu Vi
gario Geral . ( 2) Noticia he eſta , que nao ſe póde
ve

[ 1 ] Exta Buila exiſte no Cartorio do Senado da Camera de Lisboa


no liv.5 .dos Privileg. Apoſtol . fol. 55. [ 2] Quam digritatem mirificè
$xercuis , egregiamque viri indolem Rex introfpiciens humeris ejus regni
par ,
Da Cidade de Lisboa. 133

verificar nem pelos ſucceſſos , nem pela chrono ,


logia .
VIII .

D. Jorge da Coſta , Cardeal .

Deſde o anno de 1464 .

26 Aſceo D. Jorge da Coſta na Villa de Al


N pedrinha , Biſpado da Guarda , no anno
de 1406 de pays honrados. Teve principio a ſua boa
fortuna com a protecçao da Senhora Infanta D.
Catharina , filha delRey D. Duarte ; o qual a ro
gos da meſma Infanta , e perſuadido das ſuas diftin
Etas prendas , o nomeou Biſpo de Evora , e por mor
te de D. Affonſo Nogueira o fez transferir para
Arcebiſpo de Lisboa em 26 de Novembro de 1404 ,
ſendo Summo Pontifice Paulo II .
27 A primeira acçao executada neſta Metropo
li he a erecçaõ da Capella de Nofia Senhora da Ar
ſumpçaó , é S. Luiz, que mandou fabricar com
grande diſpendio no Convento de Santo Eloy para
jazigo da fobredica Infanta. No anno de 1469 foy
por Embaixador a Caſtella ſobre negocios de caſa .
mentos Regios , que nað tiverao effeito ; e no de
1471 acompanhou a ElRey D. Affonſo V. na jor
nada , e conquiſta de Tangere , e Arzilla , achan
do -ſe ſempre inſeparavel o noſſo Arcebiſpo do lado
del Rey , o qual ſe valeo muito em todas as ſuas
emprezas da prudencia do ſeu conſelho .
28
Paſſando ElRey ,a França , ficou o Arcebiſ
po no Reino por primeiro Miniftro , e principal
Conſelheiro do Principe ; e neſte emprego ſe nað
deſcuidou das obrigações da ſua Prelazia , antes poz
em nova praxe limitar as Paroquias da Cidade , as
quaes

pondus impoſuit. Haud oblitus Eduardus antiqui fodalitii cum Franciſco


Barboſa eundem pro Pontificalibus muniis Epifcopum Targenfem creari
fecit in ſuum Coadjutorem . Sao as palavras do Author.
134 Mappa de Portugal.

quacs viſtou todas peſſoalmente , e tambem algu


mas Villas do Arcebiſpado , unindo ao Convento
de S. Bento de Xabregas as Igrejas de S. Leonardo
de Atouguia , e a de S. Miguel de Cintra .
29 A inſtancias delRey D. Affonſo V. lhe con
cedeo Xiſto IV . o Capello de Cardeal em 18 de
Dezembro de 1476 com o titulo dos Santos Pedro,
e Marcellino ; e voltando de França ElRey D. Af
fonſo por Novembro do anno de 1477 , recebeo D.
Jorge na primeira Oitava do Natal as honras da no
va dignidade na Igreja do Convento de Santo Eloy ,
eſtando preſente ElRey , e toda a Corte .
30 Como o Principe D. Joað lhe naó era muis
to affeiçoado , porque invejava os extraordinarios
favores , que lhe fazia teu pay , reſolveo prudente
mente o Arcebiſpo paſſar a Roma, e o Pontifice o
recebeo com ſummo agrado , correndo ſempre tao
profperos os tempos ao Cardeal Arcebiſpo , que pa
reciao poucas as dignidades , com que os Summos
Pontifices Innocencio VIII. , Alexandre VI. , Pio
III . , e Julio II . o enriqueccraó nos vinte e oito an
nos , que aſſiſtio naquella Curia .
31 Foraő fem duvida as honras , e as dignida
des a que ſubio o noſſo Arcebifpo as mayores da
Igreja Catholica depois da Suprema ,, para a qual
tambem teve muitos votos em tres eleições diffe
rentes . Eraó as ſuas virtudes , que o elevaraó a er
tado taõ eminente , Gngulariffimas , até que fazendo
pauſa ao progreſſo da vida , a terminou em Roma
em 19 de Agoſto de 1508 com cento e dous annos
de idade . Jaz na Igreja de Noſa Senhora do Popu
lo da Ordem dos Eremitas de Santo Agoſtinho em
hum nobiliffimo depoſito : (1)
32 No

[ 1 ] Cunha nos Biſpos do Porto part. 2. cap.33. Severim de Faria nas


Notic, de Portug.diſc. 8. $ 11 . Duarte Nun. Deſcripç. dePort. p 134.v.
Cardoſo Agiolog .Luſit. tom . 2. pag . 16. Lima Geogr. Hiſtor. tom, 1 .
pag . 372. Franc. de Santa Maria Ann. Hiſtor. tom . 2. pag. 550. Fonſeca
Eyora gloriofa n. 512.
Da Cidade de Lisboa. 135

32 No capitulo 33 do livro , que eſcreveo D.


Franciſco Herrera e Maldonado da vida do ſervo
de Deos Bernardino de Obregon , ſe acha a noticia
de outro Arcebiſpo de Lisboa chamado D. Miguel
de Menezes governando eſta Igreja pelos annos de
1497 , porém julgamos ſer apocrifo ; porque o Ar
cebiſpo D. Jorge começou o ſeu governo no anno
de 1464 , e renunciou no de isoo em ſeu irmao D.
Martinho da Coſta ; quanto mais que nao ha Au
thor algum , que te lembre de ſemelhante Prelado.

IX .

D. Martinho da Coſta .

Deſde o anno de 15or .

33 Chando - ſe D. Martinho em Roma na com


A panhia de ſeu irmao o Cardeal D. Jorge ,
eſte por cauſa de huma doença grave renunciou
nelle o Arcebiſpado de Lisboa em 28 de Junho de
150o com faculdade delRey D. Manoel . Pouco de
pois da nomeaçao partio D. Martinho para o Rei
no , e aqui no anno de 1502 bautizou ao Principe
D. Joao , que depois foy Rey , e terceiro no no
me , em a Capella de S. Miguel dos Paços do Car
tello , chamados da Alcaçova.
34 Na fome que todo o Reino padeceo no an
no de 1903 , mandou vir eſte Prelado muito trigo
de fóra por ſua conta , e elle por ſua propria maó
o repartia já cozido aos pobres, e o mandava dar
pelas caſas das gentes mais neceſſitadas , exercitando
neſta occaſiao memoraveis actos de caridade. Em
18 de Julho de 1509 benzeo a Igreja do Real Mof
teiro da Madre de Deos, a qual hoje ferve de Capi .
tulo dentro da clauſura .
39 Contava D. Martinho oitenta e fete annos
de idade , quando acompanhou até Saboya a Senhora
ID :
136 Mappa de Portugal.

nfanta D. Brites , que ſe foy deſpoſar com o Du


que Carlos . Recolhendo -ſe a Portugal, adoeceo no
nar , e naó podendo continuar a viagem até Lir
boa, deſembarcou em Gibraltar , onde faleceo em
28 de Novembro de 1921. Dizem alguns , que de
paixao por lhe embaraçar em Roma ElRey D.
Manoel a nominata de Cardeal , que Leaó X. de
terminava conferirlhe. De Gibraltar o trasladou ſeu
ſobrinho Chriftovao da Coſta no anno de 1558 , e
o fez ſepultar na Sé de Lisboa entre os Arcebilpos
D. Fernando , e D. Jorge. ( 1 )

X.

D. Affonſo , Infante , e Cardeal .

Deſde o anno de 1523 .

36
o Infante D. Affonſo , filho terceiro do
Senhor Rey D. Manoel , e da Sereniſſima Rainha
D. Maria lua ſegunda mulher . Ainda nao contava
oito annos , quando o Papa Leao X. no anno de
IS16 o admittio ao numero , e Collegio dos Car
deaes com o titulo de Biſpo Targitano , Diacono
Cardeal de Santa Luzia ; e ſuppoſto que eſte indul
to foy concedido com a reſerva de fe lhe nao dar o
barrete , ſenaõ quando o Infante tiveſſe dezoito an
nos , todavia fempre foy tratado com a reſpectiva
honra de Cardeal .
37 Por morte do Arcebiſpo D. Martinho lhe
concedeo Adriano VI . a adminiſtraçao dos frutos
defte Arcebiſpado , declarando -o já deſde entaó por
Arcebiſpo , contando elle de idade quatorze annos
ſomente ; e quando chegou o dia 17 de Setembro
do

[ 1 ] Far. Europ. Portug. part. 2. p.547 . Ann. Hiſtor, tom . 2. p . 552 ,


Lima Geograf,Hiſtor, tom . I. p.377 ;
Da Cidade de Lisboä. 137

do anno de 1523 , eſcreveo o Infante ao Cabido de


Lisboa , dizendo - lhe , que eſtava provido no Arce
biſpado pelo Papa Adriano VI . a ſupplicas delRey
D. Joao III . feu irmao , e que aſſim fazia ſeu Pro
curador ao Deao Fernao Gonçalves para tomar a
poſſe. Tanto que entrou em dezoito annos de ida
de recebeo com toda a pompa em Almeirim o Ca.
pello de Cardeal aos 27 de Junho de 1926 , e no de
1535 , aliftindo D. Affonſo em Evora ſua ordinaria
reſidencia , cuja Igreja , e a de Viſeu tambem go
vernava , partio para Lisboa a tratar da ſua fagra
çao , por lhe haver chegado o Pallio em 22 de No
vembro do dito anno .

38 Cuidou ſempre muito eſte Prelado em exer


cer com obras dignas o officio de bom Paſtor. Mui
tas vezes bautizava por ſuas proprias mãos as crian
ças , e levava o Santiffimo Viatico aos enfermos , e
de melhor vontade aos mais pobres , a quem dei
xava ſufficientes eſmolas ; e dizia , que eſtas obriga
ções primeiro erað fuas, que dos outros Parocos , e
por iſſo devia primeiro que os outros cumprir com
ellas . Nos Domingos , e dias Santos enſinava a Dou
trina Chriftā às ſuas ovelhas com muita affabilida .
de , eſtabelecendo taó util exercicio por todas as
Freguerias da ſua Dieceſe , e impondo eſta obriga
çaó aos Parocos ; aos quaes em Synodo , que fez
celebrar na Sé em o anno de 1536 à 25 de Agoſs
10 , tambem ordenou tiveſſem livros para afrentar
os nomes das peſſoas bautizadas , e dos Padrinhos ,
couſa que antes do feu governo ſe nao praticava , e
a cujo exemplo o fez eltabelecer em toda a Igreja
Catholica o ſagrado Concilio Tridentino .
39 Rezando - ſe até o ſeu tempo na Sé , e em to
do eſte Arcebiſpado pelo Breviario da Igreja de Sa
lisbury de Inglaterra , que havia introduzido o Bif
po D. Gilberto , elle em ſeu lugar mandou , que ſe
admittiſſe o Romano , de que uſamos . O Pontifice
Paulo III. approvou eſta introducçao por Bulla
Tom.III. Part.V.: S de
138 Mappa de Portugal.

de 9 de Dezembro de 1538 , dirigida ao Cabido da


Igreja Lisbonenfe . Era nos Pontificaes mageſtoſo ,
e nos Ritos Eccleſiaſticos muito verſado , e perito ;
e como inclinado ao eſtudo das letras , amava , e fa
vorecia aos homens doutos , e applicados.
40 Sendo o tratamento da ſua caſa regido com
grande eſplendor , que pouco ſe differençava da Ca
la Real , era igualmente modeftiffima , e exemplar
toda a ſúa familia. Teve muitas dignidades , porque
foy Adminiſtrador dos Biſpados de Viſeu , Evora ,
e Guarda ; D. Abbade de Alcobaça , Commenda
tario do Convento de Santa Cruz de Coimbra , e de
S. Joaó de Tarouca : teve a Purpura Cardinalicia
com os titulos de Santa Luzia in feptcm foliis, de S.
Braz , e de S. Joab , e S. Paulo . Finalmente cheyo
de honras , merecimentos , c virtudes , mas nao de
annos , terminou nos trinta e hum de vida aos 21 de
Abril de 1540 , deixando com eterna ſaudade huma
feliz , e perpetua memoria . Jaz no Convento de Be
lem em ſepultura propria . ( 1)
41 Pertende o Biſpo de Targa D. Fr. Thomé de
Faria na Decada 1. liv. 9. cap. s . introduzir neſta
Igreja Metropolitana por Arcebiſpo a D. Miguel
da Silva , que depois foy Cardeal , e deſnaturaliſado
do Reino por ElRey D. Joaó III. ; porém clara
mente ſe moſtra ſer apocrifo ; porque o Cardeal Ar
cebiſpo D. Affonſo falecco em 21 de Abril de 1940 ,
e o Arcebiſpo D. Fernando The ſuccedeo por elei
çao do Papa Paulo III . em 29 de Setembro do meſ
mo anno , que ſab cinco mezes de intervallo , nos
quaes nao he veroſimil, que ElRey nomeaſſe dous
Arcebiſpos de Lisboa .
XI .

[ 1 ] Goes Chron. delRey D. Manoel part, 2. C. 42. Cardoſ.Agiol. Luq


fitan . tom .2. p. 666. Fr. Manoel dos Sant. Alcob, illuftr. P.331.2350
Severim de Faria Prompt. Eſpirit. p. 32.v. e nas Notic. de Port. difc. 8.
$. 12. e outros apud Barboſ, na Bibl. Lufit. tom. 1. pag. 21 ,
Da Cidade de Lisboa ,
139

XI .

D. Fernando de Vaſconcellos e Menezes .

Deſde o anno de 1540 .

Ste veneravel Prelado naíceo em Lisboa ,


-42 E filho ſegundo de D. Affonſo de Vaſcon
cellos , primeiro Conde de Penella . Profeſſou o Info
tituto de Santo Agoſtinho no Real Convento de S.
Vicente , donde foy Prior e pela fama dos ſeus
merecimentos o elevou ElRey D. Manoel a Biſpo
de Lamego , que Leaó X. approvou em Novem .
bro de 1513. Como era dotado de maduro confe
lho , e prudencia , ElRey D. Manoel o conſultava
Ha mayor importancia dos negocios , fazendo - o ſeu
Capellao mór , que continuou a exercer no gover
no delRey D. Joao III .
43 Morto o Sereniſſimo Infante Cardeal D. Af.
fonſo , lhe conferio Paulo III. a dignidade Archie
piſcopal de Lisboa em 16 de Setembro de 1540 , de
que tomou poffe em 8. de Novembro do meſmo
anno por ſeu Procurador o Deſembargador , e Prior
de Meixedo Diogo Gonçalves . No anno de 1543
foy conduzir a Caſtella a Princeza D. Maria , filha
delRey D. Joao III . , que ſe deſpoſou com o Prin
cipe D. Filippe , filho do Imperador Carlos V. , na
qual jornada , e funçao fez grandes gaſtos para em
tudo ſer luzida. Voltando a Lisboa cheyo de hon
ras , ſe - oppoz com zelo , a que ElRey D. Joao. III .
nao levaſſe avante a diviſao , que queria fazer de al
guns Biſpados, a qual todavia nao pode embaraçar:
44. Quando ElRey D. Joao II1 . tomou o col
lar do Tuſao de ouro na Capella dos Paſſos de Al
meirim em 6 de Junho de 1940 , o noſſo Arcebiſpo
lhe deu o juramento . No anno ſeguinte de 1547 fez
o livro das rendas , ou o Cenſual do Arcebiſpado ,
Sii obra
140 Mappa de Portugal.

obra de grande utilidade o qual conſtava das ren


das , que o Arcebiſpo tinha : das propriedades, que
pertenciaõ à Meſa Archiepiſcopal , e do que ſe pa
gava de foro de cada huma : das Igrejas do Arce
Ďiſpado , e o que pagavaõ de viſitaçaõ : do que ſe
pagava de confirmaçao de codos os Beneficios, que
o Arcebiſpo confirmava : das Igrejas , que ao Ar
cebiſpo pagavao luctuoſa por falecimento dos Rei
tores , e quanto ſe pagava de cada huma : de quem
era a apreſentaçao , e collaçao das Igrejas do Arce
biſpado : do Regimento do que le havia pagar na
Chancellaria , e do Regimento do Eſcrivað da Ca
mera ; cujo Cenſual vimos , e ſe conſervava no in
figne Cartorio da antiga Metropoli de Lisboa , que
infelizmente conſumio o incendio de Novembro de
1755
45 Acontecendo em Dezembro de 1552 o facri
legio , que hum hercge Inglez commetteo na Ca
pella Real, arrebatando das mãos do Sacerdote , que
eſtava dizendo Miffa , a Hoftia conſagrada , o vigi
Jante Arcebiſpo com a dor delte lamentavel caſo
mandou fixar huma Paſtoral , em que exhortava aos
Fieis para huma verdadeira penitencia , ordenando
huma Prociſſao em deſaggravo do Santiflimo delde
a Sé até à Igreja de S. Domingos , em que elle foy
deſcalço , e o mais do Clero com exemplar humil
dade , e compuncao .
46 Em todas as ſuas acções moftrou bem o ze
lo da patria , e o augmento , que deſejava à ſua Ca
thedral, onde para mayor culto , e decencia dos Di
vinos Officios mandou fazer as cadeiras do coro de
baixo , e de cima , o Altar mór , as grades de bron
ze , e o Altar de S. Vicente : e no anno de 1554
fundou em Santo Antonio do Tojal a Igreja , pa
lacio , e jardim . Teve com o Cardeal D. Henrique
contradições e deſgoſtos , de que ſe queixou ao
Papa Paulo IV . juſtamente ; porque foy eſte Pre
lado fabib ; generoſo , e ſingular cortezao , affavel
ра
Da Cidade de Lisboa . 141

para os pretendentes , e caritativo para os pobres ,


muito douro , e muito verdadeiro , è viſto nas anti :
guidades , e materias de eſtado ; e fuppofio que os
dous erudítos Barboſas lhe accreſcentao tambem o
caracter de Inquiſidor geral , nao vimos até agora do
cumento ſolido , que verifique nelle etta dignidade ;
e ſe la teve , nao chegou a tomar poſſe. Contando em
fim oitenta e tres annos de vida , faleceo fantamen
te em Lisboa aos 7 de Janeiro de 1964 , e foy ſe
pultado na Capellá mór da Sé . ( 1 )

XII .

D. Henrique , Cardeal , e Rey .

Deſde o anno de 1564 .

Cardeal Infante D. Henrique alliſtia em


47 Evora , donde era Arcebiſpo quando fa
leceo ElRey D. Joao 111. ſeu irmao ; e como a
Rainha viuva D. Catharina ficou governando o Rei
no na menoridade delRey D. Sebaſtiao ſeu neto ,
que contava pouco mais de tres annos , lhe foy pre
ciſo , para que a Sereniſſima Rainba podeſſe ſuſter
o pezo do regimen Monarquico , deixar a reſiden
cia daquella Metropoli , e vir aſliftir na Corte de
Lisboa .
48 Para eſte effeito renunciou o Arcebiſpado
em D.Joao de Mello , Biſpo do Algarve , e paſſou
para a Metropolitana de Lisboa por Bulla de Pio
IV . pela vacatura de D. Fernando. Nos annos ,
que governou elta Dieceſe , o reconheceraõ as fuas
ovelhas ſempre zeloſo Paſtor ; e como amante das
letras , e feu agmento fundou o Seminario de Santa
Ca

[ 1 ] Barboſ. Bibliot. Luſit. tom. 2. pag. 63. e ſeu irmaó nos Faſtos da
Lufitan.com . 1. pag . 102. Vide Souſa Hiſtor. Geneal tom 1. pag. 127.
Gil Gonçalv. de Avila Hiſtor. de Salam , liy. 3. cap.23. Lima Geograf.
Hiftor. tom . 1. pag. 367.
142 Mappa de Portugal.

Catharina, eſtabelecendo -lhe rendas para ſua fubfif


tencia em 30 de Novembro de 1566 .
49 No meſmo anno celebrou na Cathedral Igre
ja o primeiro Concilio Provincial , que começou
na Dominga da Sexageſima aos 13 das Kalendas de
Marco , preſidindo de huma parte o Cardeal Ar,
cebiſpo com aſſiſtencia do Biſpo de Leiria D. Galo
par do Caſal , e D. Gaſpar Cano Biſpo de S. Tho
mé , e D. Jorge de Lemos do Funchal , e D. Joao
de Portugal Biſpo da Guarda , e D. André de No
ronha de Portalegre , todos ſeus fuffraganeos : afliſ
tirao mais D. Pedro , Biſpo de Hiponia ; D. Julia )
de Alva , Biſpo de Miranda ; D. Jeronymo Perei
ra de Salé ; D. Belchior Belliago de Féz , todos
Biſpos Provinciaes , e muitos Procuradores da Pro
vincia , Clero , e Religioſos.
ro Da outra parte preſidio ElRey D. Sebaſtiao
com ſua avó a Sereniſſima Rainha D. Catharina , e
a Sereniſſima Princeza D. Maria ſua tia , e o Se
nhor D. Duarte , Condeſtavel do Reino , filho do
Infante D. Duarte , e grande numero deFidalgos,
e Grandes do Reino , Magiſtrado , e Nobreza . Fi
zerao -ſe as outras ſeſsões do Concilio , que forað
mais cinco , todas no mez de Dezembro do dito an
no ; as quaes depois verteo elegantemente na lingua
Latina o erudíto André de Reſende , e ſe conſervao
na livraria da Excellentiflima Condefa do Redondo
D. Margarida , eſcritas em excellentes caracteres.
si Foy tab grande o deſejo , que eſte Sereniffi .
mó Prelado teve da ſalvacao das almas , que man
dou executar neſta Diecere todos os Decretos do
Concilio Tridentino , que tratao da reforma dos
coſtumes , para cujo fim os fez traduzir em Portu
guez , c imprimir. Alcançou tambem do Vigario
de Chriſto hum Jubileo annual para todos os Fieis,
que ſe confeſſaflem , e commungafſem nas quatro
feitas principaes do anno , o qual já tinha conſegui
do para a Metropoli de Braga , e depois alcançou
para a de Evora . 52 Di.
Da Cidade de Lisboa .
143

52 Dimicindo finalmente a Prelazia Lisbonenſe


em 1569 , havendo entregada o governo Ecclefiafti
co a D. Jorge de Almeida , e o Monarquico a El.
Rey D. Šebaltiao com ſolemne apparato nos Paços
da Ribeira , voltou para Evora , onde falecendo a
6 de Agosto de 1974 o ſeu Arcebiſpo D. Joað de
Mello , foy ſegunda vez confirmado naquella Me
tropolitica dignidade , a qual illuſtrou com as mer
mas exemplares virtudes .
53 Porém fuccedendo em Africa a deſtruicao
do noſſo exercito , e a perda tragica delRey D. Se .
baſtiao , foy o Cardeal acclamado Rey defta Mo.
narquia em 28 de Agoſto de 1578 na Igreja do Hor.
pital Real de Lisboa , pela devoçaõ de ter ſido nel
la conſagrado em Arcebiſpo de Braga pelo Cardeal
Infante ſeu irmao na Dominica in Albis de 1539 .
Empregado no governo do Reino , como os der,
goſtos foraó creſcendo , e acribulando os ſeus mui
tos annos , veyo a falecer em Almeirim a 30 de Ja
neiro de 1980. Jaz ſepultado no Convento de Be
lem . ( 1 )
XIII .

D. Jorge de Almeida .

Deſde o anno de 1570 .

54
de Almeida , filho quinto de D. Lopo de
Almeida, e neto de D. Diogo Fernandes de Almei.
da , Prior do Crato , e Monteiro mór delRey D.
Joab II . pela renuncia , que fizera o Cardeal Infan
te , tomou poſle deſta Igreja no anno de 1570 por
Bulla de Pio V. O povo eftimou geralmente eſte
Prelado pela boa fama, que já tinha adquirido a ſua
virtude ; e para acreditar mais o ſeu Paftoral officio ,
con

[ 1 ] Vide Barboſa na Bibliot. Lufit. pag. 439. tom . 2,


144 Mappa de Portugal.
convocou no anno de 1974 hum Concilio Dieceſa
no , que foy o ſegundo , onde eſtabeleceo pruden
tes Conſtituições .
55 O Papa Gregorio XIII . o crcou Inquiſidor
geral defte Reino à inſtancia do Cardeal D. Hen
rique; e elle com todo o esforço fe oppoz a ElRey
D. Sebaſtiao na ſua temeraria jornada de Africa ;
mas vendo que o nao podia diſſuadir , recorreo a
Deos com preces publicas , mandando expor o San
ciflimo em todo o Arcebiſpado para applacar a ira
de Deos , que naquelles tempos ameaçava o Reino
com as deſordens do governo Secular.
• 56
so Auſentando- ſe ElRey para Africa , ficou o
Arcebiſpo governando em companhia de outros qua
tro Fidalgos ; e com a triſte noticia da perda del
Rey na lamentavel bacalha de Alcacer , e depois
com a morte do Cardeal Rey D. Henrique , foy
ſempre o Arcebiſpo D. Jorge em quem ſe conſer
vou firme o zelo da patria , até ſe ver ſujeito ao do
minio eſtranho delRey Filippe de Caſtella , o qual
tomando poffe defte Reino, deixou em Lisboa em
ſeu lugar por Governador no anno de 1583 a ſeu
ſobrinho o Cardeal Alberto , Archiduque de Auf
tria , com quem tendo o Arcebiſpo hum deſgoſto
por cauſa do provimento de huns Beneficios de
Torres- Novas , veyo a falecer em breves dias à 25
de Março de 158s com grande sentimento de todos;
porque foy eſte hum Prelado de grande authorida
de , prudencia , e letras: Jaz na Capella mór da an
tiga Sé à mao eſquerda do Arcebiſpo D. Marti
nho. ( 1 )
XIV .

[ 1 ] Souſa Hiſtor. Geneal. tom.s. pag. 654. Lima Geograf. Hiftor.


tom . 1 .pag . 369.
Da Cidade de Lisboa . 145

XIV .

D. Miguel de Caſtro .

Deſde o anno de 1586 .

57 Aſcco D. Miguel de Caſtro na Cidade de


N Evora pelos annos de 1536 , e forað ſeus
pays D. Diogo de Caſtro chamado o Magro , Mor
domo mór da Princeza D. Joanna , mulher do Prin
cipe D. Joao ; e de D. Leonor de Ataide , filha do
grande Nuno Fernandes de Ataide , Alcaide mór de
Alvor , e Senhor de Penacova . Sendo Prior da Igre
ja de S. Chriftovaó foy preſentado para Biſpo de
Viſeu , de que comou poſle no anno dc 1579. O
Papa Xiſto V. no anno de 1986 o promoveo para
dicebiſpo de Lisboa , de que tomou poſle a 2 de
Julho do meſmo anno.
58 Entregando ElRey Filippe o governo de
Portugal.ao Archiduque Alberto , lhe deu por ad
junto ao noſlo Arcebiſpo , o qual na auſencia que
o dito Archiduque fez a Flandes pelos annos de
1593 , ficou continuando o governo Ariſtocratico
de Portugal juntamente com os Condes de Porta
legre , Santa Cruz , Sabugal , e Miguel de Moura ,
Eſcrivao da Puridade. Na grande occurrencia de
negocios a que aſliftia ſe naõ deſcuidou o noflo Ara
cebiſpo das obrigações Paſtoraes; e aſſim fez ſe con
cluiffe a Igreja , e torre de Santo Antonio do To .
jal , e na Sé edificou huma Capella com ſeis Capel
lães perpecuos , dotando-lhe precioſos ornamentos .
59 Com zelo da pureza da Religiao paſſou a
Válhadolid , onde enrao reſidia a Corte dos Reys
de Heſpanha, para embaraçar o requerimento do per
dað geral , que pretendia a gente da naçaõ Hebrea.
No anno de rois lhe recabio todo o governo do
Reino com titulo de Vice -Rey , cuja authoridade
Tom.III . Part . V. T con
146 Mappa de Portugal.

conſelho , e virtudes eraó ſufficientes à expediçao


dos mayores negocios . Com decreto delRey orde
nou no ango de 1618 , que na Sé trouxeſſem ſomen
te os Conegos capello nas murças , e que foſſem for
radas de carmezim e as dos meyos Conegos , e
Quartanarios forradas de negro ſem capello .
60 Sendo eſte Prelado de vida inculpavel , pa
rece que a ſua nimia bondade e tolerancia derao
azos à grande relaxacaó , e deſenvoltura de ſeus do
meſticos , de que ſe originarað baſtantes eſcandalos ,
e murmurações. Falecco com boa opiniaó em o
primeiro de Julho de 1625 , e jaz na ſepultura , que
elle mandou fazer à porta principal da Sé com ette
fincéro e humilde epitafio : D. Miguel de Caſtro ,
Arcebiſpo que foy de Lisboa , fe mandou enterrar nefle
lugar ; pede lhe lancem agua benta , e lhe rezem hum P.
N. e buma Ave Maria . ( 1 )

XV .

D. Affonſo Furtado de Mendoça .

Deſde o anno de 1627.

61 Om Affonſo Furtado de Mendoca foy fi


D lho de Jorge Furtado de Mendoca , der
cendente por varonia da Cala do Duque do Infanta
do , e de D. Mecia Henriques , filha de D. Pedro
de Souſa , e neta do primeiro Conde do Prado . De
pois de varias dignidades , a que o elevarað neſte
Reino os ſeus merecimentos , conſeguio a Mitra def
ta Metropoli por conceſlao de Urbano VIII , no an
no quarto do ſeu Pontificado ; ea 3 de Mayo de
1629 tomou poffe do Arcebiſpado.
62 O governo politico deſte Reino', a que El
Rey

· [ 1 ] Souſa na Hiſtoria Genealogica tom . 6.pag. 294. , e no Agiolo


gio Luſitano tom . 4. em o primeiro de Julho .
Da Cidade de Lisboa. 147

Rey Filippe III . o chamou para o exercitar com


o Conde de Baſto D. Diogo de Caſtro e com o
Conde de Portalegre D. Diogo da Silva , lhe op
primia muito o ſeu eſcrupulo na obrigaçaó , e cui
dado que devia applicar ao regimen das ſuas ope
Ihas ; porém a ſua vaſta capacidade , e inteireza de
juſtiça no manejo de ambas as expedições , acredi
tavao a grande esfera do ſeu talento .
63 Succedeo em Lisboa em a noite de 15 para
16 de Janeiro de 1630 o execrando facrilegio de ſe
roubar do Sacrario da Paroquial Igreja de Santa
Engracia a Pyxide com as lagradas Formas ; e efte
delicto penetrou de forte o ſentimento do vigilante
Prelado , que fuppofto ordenou para detaggravo do
Sacramento muitas , e muito grandes feſtas com
cudo deſta facrilega acçao teve origem a ſua morte ,
pois em breve tempo veyo a acabar a vida com hu
ma geral ſaudade das ſuas ovelhas em 2 de Junho de
1630. Mandou que o ſepultaſſem na Capella mór
da Cathedral junto aos degráos do Presbiterio da
parte do Evangelho .

XVI .

D. Joao Manoel .

Deſde o anno de 1633 .

Ela vacancia de D. Affopfo Furtado de Men


doça foy affumpto à Metropolitana de Liſ
boa D. Joao Manoel, illuftriffimo deſcendente del
Rey D. Duarte , e filho de D. Nuno Manoel , le
nhor da Caſa da Atalaya ; e de D. Joanna de Atai
de , filha do primeiro Conde da Caltanheira . Deſta
Igreja mandou comar poſſe a 13 de Mayo de 1633
pelo Biſpo de Targa D. Gaſpar do Rego , por ſe
achar entao affiftente em Madrid , aonde fora tra
tar negocios conſideraveis da Religiao , que ſe ori
Tii gi
148 Mappa de Portugal.

ginarao da grande Junta de varios Prelados do Rei


no , que ElRey Filippe II . mandou fazer no Con
vento de Thomar , ſendo naquelle tempo D. Joað
Manoel Biſpo de Coimbra .
05 O zelo com que D. Joao Manoel ſolicitava o
remedio para extinguir neſte Reino a gente da na
çað Hebrea ; o eſplendor da ſua Caſa , e familia
as acções de ſua vida bem compaſſadas , lhe gran
gearað tao boa opiniao que ElRey Filippe II . o
nomeou Vice- Rey de Portugal , em cujo governo
entrou a 12 de Mayo de 1633, e a is do dito mez ,
que foy dia do Eſpirito Santo , foy toda a Relacao
Metropolitana com ſeus Officiaes darlhe a obedien
cia . Neſte acto o Doutor Mattheus Peixoto Barre.
to , Conego Prebendado da Sé de Lisboa , Proviſor
do Arcebiſpado , lhe fez huma falla eloquente.
66 Vinte e tres dias logrou a poffe defta digni
dade Arcebiſpal, nos quaes naó foy viſitar a fua Sé
por cauſa da doença , que foy creſcendo de tal ma
neira , que ſendo - lhe levado da Sé com todo o Ca
bido o Santiſſimo Viatico ao Forte do Palacio Real,
em que eſtava, nao deu lugar a doença para lhe fer
tambem levada a ſanta Uncaó da meſma Sé , e a re
cebeo da Paroquia de S. Juliao . Faleceo a 4 de Ju
lho de 1633. às ſete horas de tarde . No dia ſeguin
te foy levado à ſepultura , que elegeo na Capella
mór , que tez à, ſua cufta no Convento de Jeſus del
ta Cidade . Nao foy acompanhado do Cabido , ar
ſim por elle o nao pedir no ſeu teſtamento , como
por ſe eſcuſarem competencias com os Fidalgos Au
licos, que queriao levar o eſquife , e com os Ca
pellães da Capella Real , que le perſuadiao compe
iirlhes o officio da encommendaçaó , por ſer Vice
Rcy o Prelado , e falecer em Palacio . ( 1 )
XVII .

(1 ) Souſa Hiſtoria Genealog. tom . 11. pag. 539. D. Franc. Manoel.


Epanaf...
Da Cidade de Lisboa. 149

por XVII.

D. Rodrigo da Cunha.

Defde o anno de 1636 .

67 Oy
tre ; porque foy filho de D. Pedro da Cu
nba , fenhor da Taboa , e Conſelheiro de Estado ;
e de D. Maria da Silva , filha de Ruy Pereira da Sil
va , Alcaide mór de Silves . As grandes virtudes , e
letras grangeara ) a D. Rodrigo os mayores empre
gos da Republica Ecclefiaftica . Servio por Inquiſi
dor no Tribunal do Santo Officio de Lisboa oito
annos , e tendo. crinta e oito de idade foy nomeado
Biſpo de Portalegre. Daqui paſſou à Cadeira Epiſ
copal do Porto , e depois de a governar nove an
nos, foy promovido à Primacial de Braga , da qual
ſe transferio à Metropolitana de Lisboa , de que to
mou poſſe em o primeiro de Mayo de 1636 , fazen
do ſua entrada publica deſde a Igreja de S. Luiz
nas portas de Santo Antao até à Sé Cathedral com
a pompa , e apparato que ordena o Ceremonial Ro
mano .
68 Tantas repetidas promoções ſao os melho
res elogios da grande esfera , e capacidade deſte
Prelado. Todas as Igrejas anhelavað efte Paſtor
em cujo zelo , e piedade ſe promettiao ſaudaveis
abrigos. Logo que tomou pofſe deſta Cathedral
convocou Synodo Dieceſano , havendo mais de ſef
ſenta annos, que ſe nao fazia , e nelle ordenou Conſ
tituições muito convenientes ao governo do Arce
biſpado, pelas quacs ſe governa ainda hoje o Patri
arcado.
-69 O amor conſtante da patria o fez tað defin
tereffado , e repugnante às promeſſas dos Miniſtros
Caftelhanos , que na Junta que ſe celebrou em Ma
drid
150 Mappa de Portugal.
drid no anno de 1638 com os Grandes daquelle Rei .
no para ſe unir em ſua Provincia o de Portugal ,
foy o voto do noſo Arcebiſpo alli convocado o
mais efficaz naoppoſiçao ; originando - ſe depois que
de lá voltou no anno ſeguinte aquelles nobres pen
ſamentos de liberdade , que com tanta actividade
ſoube influir nos corações dos Fidalgos Portugue
zes para acclamarem Rey o Sereniſlimo Duque de
Bragança D. Joao IV .
70 Em toda a parte foy venerado o talento do
Arcebiſpo D. Rodrigo . Ás vigilias dos ſeus estu .
dos , que publicou em varios volumes , fað eftima
das pelos ſabios . As letras unidas ao exercicio das
virtudes lhe fazem perpetuar a ſua memoria. Foy
douto , ſobrio , pio recto , modeftiffimo , zeloſo
da patria , eſmoler , e ſem faufto : morreo pobre no
primeiro de Janeiro de 1643 , deixando por legado
às quatro Sés , de que fora Prelado , repartidos os
ſeus Pontificaes. Jaz ſepultado na Baſilica de Santa
Maria à entrada da porta traveſſa chamada vulgar
mente do ferro , para onde ſe trasladarao ſuas cinzas
no anno de 1702 por ordem de ſeu ſobrinho D. Pe
dro Alvares da Cunha , Trinchante mór de Sua Ma
geftade. ( 1 )
XVIII .

D. Antonio de Mendoça .

Deſde o anno de 1669 .

71 Ntes de D. Antonio de Mendoça , que


era filho do Conde de Val de Reys , foy
nomeado em Arcebiſpo de Lisboa D. Manoel da
Cunha , Commiſſario da Bulla da Cruzada , Biſpo
de Elvas , e Capellad mór delRey D. Joaó IV.;
mas

[ 1 ] Leitaó Trat. Analit. pag.443. Souſ. Hiſtor. Geneal. tom. 1. no


Apparat. num . 82. , ctom. 11.pag.816. Barbof. Bibl. Luſitan. tom. z .
pag . 641.
Da Cidade de Lisboa. 151

mas como nao chegou a tomar poffe , por falecer a


30 de Novembro de 1658 , o nao collocamos nel
te Catalogo . Eraó os merecimentos de D. Antonio
de Mendoça taó plauſiveis , que fizeraõ lembrar ao
Soberano as muitas dignidades a que o elevou ; por
que foy Miniſtro da Meſa da Conſciencia onde
fubio ao gráo de Preſidente. Foy Deputado da Jun
ta dos Tres Eſtados , Commifario da Cruzada , no
meado Biſpo de Lamego , e Arcebiſpo de Braga ;
até que o Principe regente D. Pedro , attendendo
ao relevante de ſeus meritos , o nomeou Arcebiſpo
de Lisboa , de cuja Igreja tomou poffe em 27 de
Outubro de 1669 por ſeu Procurador o Doutor EF
tevañ Brioſo de Figueiredo .
72 Elevado à Cadeira Metropolitana defta Die
ceſe , fe applicou nas vigilias de Paſtor ao bem er.
piritual de ſuas ovelhas , obviando a eſcandaloſa vi
da de humas , e remediando a neceſſidade de outras ;
e ſobre tudo attendendo às iſenções , e liberdade de
ſuas regalias ; ſuſtentando por eſſe reſpeito rigoro
ſos litigios com o Capellaó mór D. Luiz de Sou
la , que lhe veyo a ſucceder na dignidade , e de
quem D. Antonio de Mendoça triunfou com juſti
ça. Faleceo a 14 de Fevereiro de 1675 , e foy ſe
pultado na ſua Cathedral. ( 1 )

XIX .

D. Luiz de Souſa , Cardeal.

Deſde o anno de 1676 .

Avia naſcido D. Luiz de Souſa na Cida


73 H dei de do Porto , filho Tegundo dosCondes
de Miranda. Paffou na ſua infancia a Madrid com
fua

(1 ) Chronica dos Coneg .Regr.liz . 10. cap. 15.9.15 . Barbof. Faftos


da Luſitan. tom . 1. pag.536 .
152 Mappa de Portugal.

ſua máy a Condella D. Leonor de Mendoça , filha


do primeiro Conde de Penaguiao , e lá ſe criou no
Paço com a nobre indole , e exercicio de Menino
da Rainha ; e voltando para eſte Reino , como a
natureza o dotara de hum genio muito agradavel,
entrou a poſſuir a eſtimaçaõ do Principe Ď . Theo
dofio ; e a inſinuações dette paſſou a Roma no an .
no de 1651, onde ſe graduou Doutor Canoniſta ; e
depois de ver , e obſervar os coſtumes de varias gen
tes da Europa , ſe reſtituío ao Reino em 26 de Se
cembro de 1656 .
74 Como o Papa Alexandre VII . lhe havia fei
to mercê da Cadeira de Deao na Sé do Porto , foy
a exercer a ſua dignidade , e juntamente o governo
daquella Relaçao civil por mercê del Rey D. Af
fonfo VI . Foy creſcendo a fama dos merecimentos ,
e talento de D. Luiz de Souſa , de que inteirado El
Rey D. Pedro II . o conftituio feu Capellað mór
no anno de 1669 , e o Papa Clemente X. o fez Bif
po de Bona , em cujo emprego deu baftantes pro
vas de quanto zelava a ſua juriſdiçao , e privilegios.
Por morte de D. Antonio de Mendoça foy eleito
Arcebiſpo de Lisboa , de que tomou poſle a 22 de
Janeiro de 1676 .
75 Será memoravel na poſteridade o governo
defte Prelado pelas ſuas acções acompanhadas todas
de grande acerto , e cheyas de piedade , c magoi
ficencia . Cuidou primeiro que tudo na reforma dos
coſtumes ; e intentando abolir as profanas repreſen
tações dos theatros , ideou o melhor remedio , al
cançando do Papa Innocencio XI , no anno de 1682
o Jubileo do Lauſperenne para todas as Igrejas de
Lisboa , diſtribuido alternativamente pelo circulo
do anno . Com o meſmo zelo da Religiao cooperou
muito para a converſaú dos Geotios , dando ſempre
utilillimas providencias na Junta das Miſsões , de que
foy Preſidente .
76 Parece que tinha o Ceo deftinado para gloria
da
Da Cidade de Lisboa.
153
da ſua pia generoſidade , que no ſeu fauſto governo
ſe deſcobriſſem as veneraveis Reliquias do inclyto
Martyr S. Vicente até alli occultas deſde o tempo
do Senhor Rey D. Manoel , que mandando - as re
colher em huma caixa de pedra, e colocalla em hu
ma caſa da Cathedral no vao da parede do Altar
do meſmo Santo , deixaraó ficar os artifices a porta
da dita caſa incognitá com pedras ſemelhantes à meſ
ma parede : e pelo incidente de bolirem nefta para
certa obra no anno de 1692 , ſe achou a caſa , e a
caixa das Reliquias ; e entao fazendo extrahir o ze
fofo Prelado com grande jubilo o eſtimavel theſou
ro , o collocou em hum precioſo cofre de prata no
anno de 1693 , o qual exiſtindo expoſto à publica
veneraçao dos Fieis em huma bem polida Capella ,
que mandou fabricar de finiſſimos marmores , e arti
ficioſos embutidos junto do Altar mór da melma Sé
à parte da Epiftola , devorou tudo infauftamente o
tragico incendio de Novembro de 1755.
77 Condecorado ultimamente com a Purpura de
Cardeal pelo Papa " Ionocencio XII. no anno de
1697 , continuou no exercicio de obras dignas da
ſua grande idéa. Aperfeiçoou o Palacio Archiepiſ
copal : reedificou o Templo , e Convento de Santa
Catharina de Ribamar de Religioſos Arrabidos :
edificou no Dominicano Convento da Batalha o
fumptuoſo: mauſoléo para depoſito das cinzas do
Conde ſeu pay : erigio na Cartuxa de Laveiras hum
novo dormitorio , de que nao ſe acabou mais que
hum lanço : eſtabeleceo renda para fuftentaçao per
petua de hum Monge no deſerto de Bulaco ; e fo
bre tudo conſervando ſempre hum eſpecial amor
aos livros , ajuntou a mais copiofa , ſelecta, e bem
ornada livraria , que até os ſeus tempos ſe tinha vif
to , e que os fabios grandemente celebrao . Mor
reo finalmente em 4 de Janeiro de 1902 , e jaz na
Capella de Noſſa Senhora da Piedade da Terra fol
ta , que eſtá na clauſtra da Baſilica de Santa Maria
Tom .III. Part.V. U em
154 Mappa de Portugal.

em ſepultura raza com a breve inſcripcao : Sub


tuum præfidinm . ( 1 )

XX .

D. Joao de Souſa .

Deſde o anno de 1703 .

78 Nobreza do ſangue do Illuftriffimo Dom


A Joao de Souſa he bem notoria , e venc ,
rada como deſcendente da eſclarecida familia , e ca.
fa dos Senhores de Gouvea de Riba - Tamega, che,
fes do ramo Real dos Soulas Condes do Redondo .
Naſceo eſte veneravel Prelado em Lisboa no anno
de 1647 ; e educando - ſe com a doutrina , e exem
plo do grande meſtre das virtudes , que naquelle
tempo florecia D. Diogo de Souſa, Arcebiſpo de
Evora , teu tio , foy delle hum digno imitador.
1 79 Aſſociado ao Collegio Pontificio de S. Pedro
na Univerſidade de Coimbra , nella ſe doutorou nos
ſagrados Canones . Teve o Arcediagado de Santa
Chriſtina , dignidade na Primacial de Braga. Servio
o Tribunal do Santo Officio em Lisboa alguns an
nos no lugar de Deputado , e de Sumilher de Core
tina delRey D. Pedro II ., por cuja ordem lhe foy
offerecido o Priorado mór de Palmella , que nao
aceitou . Foy nomeado Biſpo de Miranda , que tam
bem naó admitrio . Paſſou na armada , que foy a
Turim conduzir o Duque de Saboya no anno de
1682 por ſeu Sumilher de Cortina , donde voltando
ao Reino foy nomeado Biſpo do Porto pela renun
cia , que daquelle Biſpado tinha feito D. Fernando
Cor

( 1) Manoel de Souſa Moreira no Theatro Genealogico da Caſa de


Souſa. Cardoſ. Agiol. Lufit. tom . 3. p. 283. Papebroch . naDedicat. do
tom. 5. A&. Sanctor Bluteau na Dedicat. da 2 , part. das Primic. Evang.
Souſa Hiftor. Geneal. tom . 12 pag. 537. Diogo Barboſ. Biblioth. Lufit.
tom . 3. pag. 152. Ignacio Barboſ. Faſtos da Lufitan . tom . I. pag. 61 .
Da Cidade de Lisboa.
155
Correa de Lacerda ; e nelle o confirmou Innocen.
cio XI. no anno de 1684. Daqui foy promovido pa
ra Arcebiſpo de Braga, e ultimamente para a Me
tropolitana de Lisboa no anno de 1703.
79 Em todas eſtas Diceſes obrou acções de hum
bom Paſtor , fazendo- ſe diſtinguir entre todas nos
immenſos actos de caridade , que uſava com os po
bres de cal fórma , que foy chamado o Santo Joao
Eſmoler do leu feculo , pois chegou a dar até a pro
pria cama em que pobremento dormia . Contao -ſe
delle prodigios em abono detta , e de outras virtu
des , as quaes chegando aos ouvidos do Summo Pon
tifice Innocencio XII . , lhe eſcreveo huma Carta
em forma de Breve com grandes elogios , onde con
cluindo lhe recommenda a perſeverança das virtudes
na imicaçaõ de fi proprio , dizendo : Reliquum eft ,
ut tui fimilis elle pergas.
80 Tao grandes meritos forao bem perſuaſivos
diante dos Sereniſſimos Reys D. Pedro II . , e D.
Joao V. para a nomina de Cardeal , que nao teve
cffeito ; porque primeiro que a Purpura Cardinali
cia chegou D. Joao de Souſa a veſtir a funebre mor
talha em 29 de Setembro de 1710 , dia em que fan
tamente faleceo hum dos mais exemplares Prelados
deſta Dieceſe. Jaz no cemiterio dos pobres na anti
ga Cathedral ſem epitafio , em humilde ſepultura ,
como havia decerminado . ( 1 )

PATRIAR
P T CA S.

I Uerendo o Fideliſſimo Rey D. Joao V.


promover , e exaltar com ardentiſſimo ze
lo o mayor culto de Deos , e o eſplendor
da ſua Igreja , impetrou ' do Summo Pontifice Cle
mente XI. a Bulia Aurea , que começa : In ſupremo
U ii Apos

L ! Souſa Hiſtoria Genealogic, tom . 12. pag. 850. Fonſeca Evora


glorioſa num.597 . Carvalho Corografia Portug. tom . 3 P. 349. Anno
Hiftorico tom , 3. pag . 107 ,
156 Mappa de Portugal.
Apoſtolatûs folio , expedida aos 7 de Novembro de
1716 , pela qual fez erigir na Collegial inſigne da
Real Capella humaCathedral Metropolitana , e Pa
triarcal , dividindo para eſte effeito a Cidade de
Lisboa , e ſeu Arcebiſpado em duas Metropolis
com territorios diſtinctos , ficando os que perten
ciao à linha diviſoria da parte do Naſcente ſujci
tos ao Prelado de Lisboa Oriental , e os que olha
vao para o Poente ao Patriarca de Lisboa Occiden
tal , a quem tambem unio a dignidade de Capellað
mór , e o privilegio de poder andar veſtido em ha .
bito purpureo .
2 Feita a diviſao , nomeou ElRey em primeiro
Patriarca , ao Illuftriffimo D. Thomas de Almeida
entao Biſpo do Porto : e para que a ſua juriſdiçao
Metropolitica Patriarcalfoffe omnimoda , tornou a
unir as duas Cidades , e Metropolis em huma ſó
por Bulla do Papa Benedicto XIV . , paſſada a 13
de Dezembro de 1740 , e começa : Salvatoris noftri
abrogando , e extinguindo a antiquiſſima Sé de Lil
boa Oriental , incorporando , e eſtabelecendo huma
quem conſtituío por ſuffra
ſó Igreja Patriarcal , aa quem
ganeos os Biſpados de Leiria , Lamego , Guarda ,
Portalegre e os Ultramarinos do Funchal , An:
gra , Maranhao , e Grao Pará .

I.

D. Thomas de Almeida , Cardeal .

Deſde o anno de 1717 .

A grande , e illuſtriſima Caſa dos Condes


3 D de Avintes , e Arcos naſceo D. Thomas
de Almeida em Lisboa aos 11 de Setembro de 1670 ..
Logo nos ſeus primeiros annos teve para as ſcien
cias huma inclinaçað tao dominante , que contri
buío muito para ſe fazer diftincto entre os mais
appli
Do Cidade de Lisboa . 157

applicados ſeus contemporaneos. Doutorado na Uni


verſidade de Coimbra na faculdade dos ſagrados Ca
nones , tendo alli fido Porcioniſta do Real Collegio
de S : Paulo , paſſou para Deputado da Inquiſiçaõ de
Lisboa a 21 de Junho de 1695 , e daqui para De
ſembargador do Porto , qualificando primeiro no
ſupremo Tribunal do Deſembargo do Paço a ſua
ſciencia com o rigoroſo exame de jure aperto.
- 4 Do Porto veyo para a Caſa da Supplicaçao
de Lisboa , e neſta Corte , e ſeus Tribunaes, deſde
o miniſterio de Paroco da Igreja de S. Lourenço ,
em que foy Prior, exerceo as mais honrofas occu
pações ; pois foy Procurador da Fazenda , e Eſtado
da Rainha , Deputado daMeſa da Conſciencia , Juiz
do Fiſco Real , Chanceller mór do Reino , Secre
tario das Mercês , Expediente , c Eitado , Prove
dor das Obras do Paço , cujos ſublimes empregos
cumprio inteiramente com acerto , benevolencia , e
zelo .
5 Tao ſublimes merecimentos ſe faziao dignos
de hum premio tambem ſublime. Aſſim foy eleva .
do à dignidade Epiſcopal de Lamego por Bulla de
Clemente XI . de 6 de Dezembro de 1706 , e na
quella Dieceſe deu bem a conhecer o caracter de
ſeu generoſo coraçao . Deſte paſtoral governo paf
fou para o do Porto em 17 de Outubro de 1709 ,
onde no anno ſeguinte fez celebrar hum Synodo
Dieceſano para o bom regimen dos ſeus ſubditos,
os quaes em todo o tempo que tiveraõ a felicidade
de o conhecer Paſtor , experimentaraó juntamente
nelle huma prudente vigilancia , e bum amor cari
tativo de pay .

6. Conhecendo o Fideliſſimo Rey D. Joan V. as


relevantes prendas de D. Thomás de Almeida , o
elegeo para a nova dignidade de Patriarca de Lif
boa ... que o Papa Clemente XI . confirmou pela
Conitituiçaõ Romani Pontificis de 7 de Dezembro de
1716 , em virtude da qual mandou elle tomar pof
ſe
158 Mappa de Portugal.

ſe em 9 de Janeiro de 1717 por ſeu eſpecial Procu


rador o Illuftriffimo D. Joseph Dionyfio Carneiro ;
e a 13 de Fevereiro do meſmo anno fez ſua entrada
publica folcmniſfima, e com huma pompa nunca até
alli viſta de igual eſplendor , e luzimento deſde as
portas de Santo Antað até a Igreja Patriarcal . Con
tituido em tao alta dignidade , e accumulado de
honras , e mercês, que a generoſidade incompara .
vel delRey lhe tributou , deu principio ao exerci
cio da ſua Prelatura no primeiro de Março do ro
bredito anno , indo perfoalmente viſitar a mayor
parte do ſeu Patriarcado , conferindo no meimo
tempo o Sacramento da Confirmaçaõ a muitas mil
peſſoas, e diſtribuindo com maó larga pelos pobres
innumeraveis eſmolas .
7. Querer numerar as funções differentes , e co
pioſas , que exerceo como proprias da ſua dignida
de em todo o progreſſo dos crinta e ſete annos que
a occupou , ſeria fazer huma narraçaõ immenſamen
te dilatada . Balta dizer , que adminiſtrou o Bautif
mo a muitos Sereniſſimos Infantes de Portugal , e
Grandes do Reino : benzeo muitos Templos , fi .
nos, e imagens : conferio todos os gráos das Orden's
a innumeraveis pefioas, que ſe deſtinavaő ao eſtado
Ecclefiaftico : fagrou hum numero muito creſcido
de Biſpos, e Arcebiſpos : fez , e celebrou infinitos
Pontificaes : e finalmente em todas as diverfiflimas
funções ordinarias , e extraordinarias , que incanſa
velmente executou , e a que alliſtio , fez brilhar ſem
pre com a ſua reſpectiva , mas agradavel preſença ',
hum fummo deſembaraço , intelligencia , gravida
de ,
e luzimento com geral acclamaçao de todos.
Bem ſe via , que para eſtabelecer tao alta dignidade
fó era proprio o ſublime eſpirito de hum tal Pre
lado .
8 Havia elle já como Patriarca poſſuido as hon
ras da Purpura Cardinalicia; porém o Papa Clemen
te XII . venerando muito as grandes virtudes de
D.
Da Cidade de Lisboa . 159

D. Thomas , o affociou ao ſagrado Collegio , cre


ando - o Cardeal no Conſiſtorio de 20 de Dezembro
de 1737 por nomina delRey , que ſempre ſe lem
brou de o exaltar a mayores venerações . Como era
dotado de hum animo heroicamente generoſo , fo
raó muitas as occaſiões , em que o manifeftou.
9 Tal foy o magnifico Palacio , e delicioſo Jar
dim , que fez edificar em o fitio de Santo Antonio
do Tojal : os dous chafarizes publicos , e perennes
de excellente agua conduzida de longe para aquelle
lugar por aqueductos reforçados : a reedificaçao , e
augmento do Palacio , e Quinta Archiepiſcopal de
Marvilla , com a ſoberba , e utiliſſima calçada do
novo caminho pela parte da inarinha : a nobiliffima
fonte de agua falutifera encaminbada para a Villa
de Alhandra, até enrao deſtituida de tao preciſo ele
mento... :: 9 .
* 10. Eſta meſma generoſidade , e grandeza de
animo ſeguio na edificaçao dos Templos para aug .
mentar o culto Divino . Diſpendeo groffiſlimo ca,
bedal no Moſteiro , e'fundaçao da Igreja das Re
ligioſas. Trinas de Campolide : na dos Clerigos da
Milfaó em Rilhafolles : na erecçao da pova Paro
quia de Sanţa Iſabel , à qual para effeito de ſe con
cluir a Igreja deu toda a ſua preciofiffima copa de
prata , que constava de mais de mil e quinhentos
marcos de pezo , mandando fabricar para ſeu uſo
outra de metal mais humilde. Em fim lao tao co
pioſos os argumentos de generoſidade , clemencia ,
juſtiça , religiao , caridade , e outras meritorias vir
tudes , que reſplandeciao neſte Eminentiffimo Pre
lado,, que a meſma abundancia das ſuas louvaveis
acções nos faz pobre de palavras para as expreſſar
devidamente . Morreo aos 27 de Fevereiro de 1754
com toda a firmeza de hum homem Chriftab , He
róe , e jufto. Jaz ſeu corpo em ſepultura raza ao pé
da Capella mór no meyo do cruzeiro da Igreja de
S. Roque de Lisboa .
II .
11
160 Mappa de Portugal.

II .

D. Joſeph Manoel , Cardeal .

Deſde o anno de 1754 .

Aſceo eſte Eminentiffimo Prelado em Lir .


' N boa aos 25 de Dezembro de 1686 nono
filho de D. Luiz Manoel de Tavora , IV . Conde
da Atalaya . Deftinando- te à vida Eccleſiaſtica , foy
Porcioniſta no Collegio Pontificio de S. Pedro , don
de veyo para Deao da infigne Collegiada de S. Tho
mé na Capella Real . A lua grande integridade de
animo o fez lepibrar ao Fideliſimo Rey D. Joao V.
para Deputado da Junta dos Tres Estados ; e com
a erecção da Santa Igreja Patriarcal foy Principal
Decano da ſacroſanta Igreja de Lisboa , e creado
Cardeal pela Santidade de Benedicto XIV . no anno
de 1747
2 Por fallecimento do Eminentiffimo D. Tho .
más de Almeida foy eleito pelo Fideliffimo Rey D.
Joſeph I. em ſegundo Patriarca aos 9 de Março de
1754 , e a 2 de Junho do meſmo anno mandou to
mar poſle da ſua Igreja pelo Principal D. Joaó de
Mello com grande acclamaçaõ dos ſeus ſubditos ,
eſperando todos da rectidao da ſua juſtiça huma rc
forma dos coſtumes , que a relaxaçao tem viciado.
3 Como o nobre coraçao de tað egregio Prela
do eſtava ſempre no exercicio da paciencia chrifta
com a tolerancia de repetidas moleſtias ; ellas lhes
ſubminiftraraó no animo huma grande difpofiçaõ , é
alento em o geral fracaſſo do terremoto , e incendio
de Lisboa ſuccedido no ſegundo anno de feu Ponei
ficado . Conftantemente ſoffreo nao ſo os deſcom
modos' proprios naquella fubita ruina ; í mas ſentio
muito mais os trabalhos , o deſamparo e a defor .
dem em que ſe vio o rebanho das ſuas ovelhas diſ
per
e
id
ad boa 1
Da Cs de Lis . 16
a d a u d e n
e r fas t t
ç eanou
ſ l i m
o ſ tro a r o vi
p , eiana . A o m u n p s
erm om que mand
o
rig
ir are
te deats e s c
p o e Alt em
i t t m
mu par do ca , dando tambem faculdade
a todos os Sacerdotes para exercerem naquelle aper
to o miniſterio de Confeffores ; porque ao afflicto ,
e deſanimado povo em occaſiao tao penoſa lhes nað
faltaſſe o poſſivel conforto eſpiritual, já do Sacrifi
çio da Milla , já da abſolviçao das culpas. Atenua
do finalmente das muitas moleſtias que padecia quc
rendo buſcarlhes algum alivio com a mudança de
ares, paſſou para o ſeu palacio da Atalaya., mas lá
o cſperava a morte que elle havia tempo premedita
va , e preparado com o Santo Viatico , faleceo a 9
de Julho de 1758 da huma hora para as duas da tar
de .
III. U

D. Franciſco Saldanha, Cardeal.

Deſde o anno de 1759. N.

O illuſtré tronco dos Senhores de Affequins,


D. e Condes da Ponte , naſceo eſte Eminen.
tiffimo Prelado em Lisboa a 20 de Mayo de 1723 ,
? CD .
Anna de Menezes filha dos Condes de Santiago . A
Providencia Divina o dotou de hum genio tao do
cil , e ſuave , que affeiçoando -ſe ao exercicio das
letras , e fazendo nella diſtinctos progreſſos , paſſou
a ſer Porcioniſta no Collegio Real de Coimbra , on
de fez os ſeus actos com eſplendor, e applauſo dos
Meſtres.
2. Na promoça, dos Prelados da Santa Igreja
Patriarcaļ foy elle hum dos que lembrarao promp
tamente à vigilancia do Senhor Rey D. Joao V.
de cuja dignidade tomou pofíe em 15 de Janeiro de
1743. Da qual paltou para a de Principal em 23 de
Agoſto de 1755. E depois no anno ſeguinte foy
Tom.III. Part.V. x ele
162 . Mappa de Portugal.

elevado a ſublime dignidade Cardinalicia pelo Papa


Benedicto XIV .
3 Como a grande capacidade deſte Principe Ec
clefiaftico faz attender na ſua peſſoa , e virtudes me .
recimentos ſuperiores a todos os cargos , o elegeo
a meſma Santidade de Benedicto XIV . para Vifita
dor , é Reformador Geral Apoftolico da Religiao
da Companhia de Jeſus neſtes Reinos de Portugal,
e ſeus Dominios pela Bulla In ſpecula ſupreme digni
tatis , paſſada em o primeiro de Abril de 1758 em
Santa Maria Mayor : a cuja incumbencia deu exer
cicio em o primeiro de Junho do diro anno na Igre
ja de S. Roque com grande benignidade , e pruden
cia .
4 Nao fatisfeita a generoſidade do Fideliſſimo
Rey D. Joſeph I. de honrar a peſſoa do Senhor D.
Franciſco , lhe conſeguio do Papa Benedicto XIV . a
Bulla de Patriarca III . de Lisboa , em cuja digni
dade toy eleito a 25 de Julho de 1758 , por morte do
Eminentiſſimo D. Joſeph Manoel . Della mandou
tomar poſſe o novo Prelado a 12 de Julho de 1759
pelo Principal D. Fernando dos Condes de Santia
go , fazendo-se a funçao com grande acompanha
mento da Corte pelas onze horas da manhã : eas
de Agotto do meſmo anno le tez na Capella do ſeu
Palacio da Junqueira a ceremonia da ſagraça6 ; dan
do elle veſpera da Natividade da Senhora 7 do Se
tembro ſeguinte a ſua entrada , à qual alliftirao as
Pefloas Reaes , e coda a Corte com pompa , e luzi
mento eſpecial.
Eu bem quizera elogiar as grandes virtudes
deſte Prelado Eminentiffimo , mas os eftreitos limi
tes a que me cingi , me nao permittem incluir o
immenſo no abbreviado ; fó digo que no progreſſo
de ſua exemplar vida , que a Deos pedimos feja di,
latada , todas as ſuas acções ſublimes o conſtituiráð
immortal na memoria dos homens

MAP
Da Cidade de Lisboa. 163

MAPPA CHRONOLOGICO
dos Arcebiſpos , e Patriarcas de Lisboa .
Ann . da ereccao.
1 D. Joao Anes 1394
2. D. Joao Etteves de Azambuja , Cardeal : 1402
3 D. Diogo Alvares 1414
4 D. Pedro de Noronha : 1424
D. Luiz Coutinho 1453
$
6 D. Jayme, Cardeal 1453
7 D. Affonſo Nogueira 1459
8 D. Jorge da Coita , Cardeal 1404
9 D. Martinho da Coſta 150D
10 D. Affonſo , Infante , e Cardcal 1523
IT D. Fernando de Vaſconcellos, e Menezes 1540
12 D. Henrique , Infante , 'Cardeal , e Rey 1964
13 D. Jorge de Almeida 1570
14 D. Miguel de Caſtro 1586
15 D. Affonſo Furtado de Mendoça 1927
16 D. Joao Manoel 1633
17 D. Rodrigo da Cunha 1636
18 D. Antonio de Mendoça 1669
19 D. Luiz de Souſa , Cardeal 1676
20 D. Joao de Souſa 1703
PA TRIAR CA S.

I D. Thomás de Almeida , Cardeal to .1717


-2 D. Joſeph Manoel , Cardeal 1754
3 D. Franciſco Saldanha , Cardeal 1759

S. VI .

Da Capella Real , e Santa Igreja Patriarcal


de Lisboa .

I Endo ſempre os Soberanos Reys Portuguezes


tao pios , e religioſos , huma das couſas , em
que pozerað mayor cuidado , foy no governo, e or
X ii dem
164 Mappa de Portugal.

dem da fua Capella , a qual deſde o principio do


Reino riveraó com grande mageftade , culto , e
concerto ,
2 O coſtume de ter Capella Real foy introdu
zido em Heſpanha pelos Reys Suevos , ( 1 ) dos
quaes ſe lê no Concilio de Lugo , celebrado no an
no de 569 , reinando ElRey Theodomiro , que ti
nhao : por Capellães móres aos Biſpos de Dume
junto a Braga , cujas ovelhas , e ſubditos eraõ ſó a
familia do Paço , e criados delRey , como bem ad
verte Fr. Bernardo de Brito contra Garcia de Loya
za . ( 2 ) Fazia ) os taes Biſpos Pontificaes na Capel
la , que devia ſer de grande mageftade , pois entre
os Condes do Paço era nomeado o Conde dos Sa
crarios , que todos entendem fer o Theſoureiro mór
da Capella Real .
13 Efte antiquiflimo monumento de Religiao , e
pio coſtume , deduzido alim dos Reys Suevos ,
achamos conitanţemente imitado , e obſervado pe
los noſſos Monarcas , pois detde o primitivo reina
do do fanto Rey D. Affonſo Henriques ſe vê ere
Eto o officio de Capellaó mór ' na peſſoa do Arce
biſpo de Braga D. Payo Mendes , conforme a doa
çað do meſmo Rey feita aos 6 das Kalendas de Ju
nho de 1146 , que exiſte no Cartorio da Sé daquel
la Primacial , onde entre outras couſas diz : Inſuper
ា2 dono tibi, axe concedo in Curia mea totum illud , quod
ad Clericale oficium pertinet , ſcilicet , Capellaniam , Scri
baniam , & cetera omnia , quæ ad Pontificis curam per
tinent ut in manu tua in manu fuccefforum tuorum ,
qui me dilexerunt , totum meum confilium committo . E
do meſmo tempo conſta ſer erecta em Capella Real
a Igreja de Noſſa Senhora da Oliveira em Guima
rães ,

[ 1 ] Turtureti no liv . Capilla Real de Madrid apud Carafa de Capel


la Regis atriufque Siciliæ cap. 1. n . 7. [ 2 ] Monarq. Lufit. part. 2. liv.6.
cap 14. Veja-ſe tambem a Cardoſo no Agiolog. Lufit.com . 1. pag.399. 1
co Author do Santuar. Maiian , tom.7 . p. 152
Da Cidade de Lisboa . 165

rães, ( i ) e com a propria dignidade enobrecidas a


de Santa Cruz em Coimbra , a de Santa Maria de
Alcaçova em Santarem , e à ſua imitaçaõ as Paro
quiaes de S. Bartholomeu , e S. Martinho em Lila
boa , e a Igreja de Noſſa Senhora da Eſcada juato
a S. Domingos. ( 2 )
4
4. Continuou eſte culco diftincto até o tempo
delRey D. Diniz , que no anno de 1299 , queren
do neita materia levar ventagem a ſeus anteceſſo,
res , foy o primeiro que com a Rainha Santa Ilabel
fua eſpoſa inſtituío dentro do ſeu Palacio , que era
Ao Cattello de Lisboa , Capella Real com a invos
caçaó de S. Miguel , eftabelecendo - lhe Miffa per
petua , e ordenando tambem ſe rezaffem nella as
Horas Canonicas , ſegundo o eſtylo Romano , con
ſentindo niſſo o Biſpo da Cathedral de Lisboa , que
entaó era D. Joao Martins de Soalhães ; o qual para
fados dous annos , no de 1301 juntamente com o
beneplacito do ſeu Cabido , por gratificar os bene
ficios, que do dito Rey haviao recebido , ſe obri
gou por huma eſcritura publica a manter dous Ca
pellães com ſeus Moulinhos , iſto he , Acolytos ,
nao fó na ſobredita Capella Real de Lisboa , mas
tambem na de Torres Vedras , que alli inſtituira a
Rainha D. Brites , mãy do dito Rey D. Diniz ,
como tudo conſta de duas certidões , que vimos
extrabidas da Torre do Tombo , e aſſinadas pelo ſeu
Guarda mór Joao Couceiro de Abreu . ( 3 )
s Governando ElRey D. Duarte , e vendo que
na dira Capella de Lisboa le nað cantava como de
via fer , mandou em 18 de Março de 1437 , que ſe
obſervaſie a inſtituiçao delRey D. Diniz , accrer
centando para eſſe effeito o ordenado ao Capellao
mór em duzentas e dez mil livras cada anno , e no
me

[1 ] Eſtaç. nasAntiguid. de Portug . cap.25. num.6. [ 2] Souf . Hift.


Geneal da Caſa Real Portug. tom . 1. [ 3 ] Veja- ſe tambem Brandao na
Monarq. Luſit. part.s.liy , 17 , cap. 48. elix , 18. cap . 2.
166 Mappa de Portugal.

meando logo na tal dignidade a Affonſo Vicente ,


criado do Infante D. Henrique ſeu irmao .
6 Seguio -ſe no governo feu filho ElRey D. Af
fonſo V., que herdando o meſmo zelo da Religiao ,
quiz augmentar o eſplendor da ſua Capella , erigin
do mayor numero de Capellães , e Cantores para
rezarem nella folemnemente as Horas Canonicas ;
c ſem embargo , que o Chronifta mór Frey Fran
ciſco Brandao ( 1 ) diga que para iſto mandara viro
ſobredito Rey huma copia do Ceremonial , que os
Reys de Inglaterra praticavao na ſua Capella , por
onde ſe regulaffem os ſeus Capelláes , conſta toda
via do Breve de Eugenio IV . , ( 2 ) paſſado em Flo
rença no anno de 1439 , que eſta graça fora conce
dida, para que na Capella Real deſte Reino ſe ce
lebraſſem os Officios Divinos ſomente pelo rito Ro
mano .
? 7 Todo eſte louvavel intento le vio executado
em tempo delRey D. Joaó 11. , o qual , como diz
Reſende , ( 3 ) ordenou no anno de 1495 , que hou
veſſe na ſua Capella todos os dias Horas Canonicas ,
applicando - lhe para iſſo rendas 9 e diſtribuições co
mo em Sé Cathedral , e alcançando do Papa Xiſto
IV . grandes iſenções, e privilegios para os Miniſ
tros , que ſervillem , e fe occupaſſem nella .
8 Depois quando o venturoſo Rey D. Manoel
mandou edificar no terreiro do Paço o magnifico
Palacio chamado da Ribeira , mudando - ſe do Cal
tello , collocou alli a ſua Capella Real , dedican
do- a ao Apoſtolo S. Thomé, Protector da India , e
foy o ſeu primeiro aſſento no lugar do Tribunal da
Me

[ 1 ] Brand. Monarq. Lufitan . pag. 441. [21 Cum itaque in dicendis


Horis Canonicis morem . Romana Ecclefia in Capella tila obſervari ſpecia
li devotione defideres... Horas Canonicas per Capellanos, de Cantores tuos
pro tempore exiſtentes, necnon Miſſas , bo officia hujuſmodidicere va
leant , nec teneantur , ſi voluerint , ad morem , vel ordinem alium ſuper
his obfervandum . Vide Souf. no tom . 5. das Proy . [ 3 ] Reſende Chro:
nic, cap . 57. 4190 :
Da Cidade de Lisboa. 167

Meſa da Conſciencia , onde eſteve até o anno de


1981 , como conftava da memoria inſcripta em hu
ma lapida embebida na parede por cima do aſiento
do Preſidente , que dizia :

D. 0. M.
Sub bonore D. Thoma Apoſtoli
Hic Rex Emmanuel Capellam Regiam
Dicavit , & translata fuit anno
1581 .
Locum profanari vetat Religio.

E he de faber , que o antigo portico da dita Capel.


la , que eſtava à mao eſquerda de quem hia para o
terreiro do Paço por baixo da fala dos Porteiros da
Cana , fe acabou de deſmanchar em 2 de Abril de
1751 , abrindo - ſe no lugar do ſeu pavilhao duas ja
nellas para a nova Secretaria de Eſtado dos nego
cios do Reino . Conſeguio ElRey D. Manoel mui
tos privilegios do Papa Leao X. , com que exaltou
a dignidade de Capellao mór , os quaes refere Cabe
do , e D. Antonio Caetano de Souſa. ( 1 )
9 ElRey D. Joao Ill . , por ſer naturalmente
inclinado às couſas da Igreja , ſe eſmerou muito
mais na authoridade da ſua Capella , enriquecendo a
de precioſos ornamentos , e accreſcentando mayor
copia de Muficos. Obreve tambem no anno de 1522
do Pontifice Adriano VI . o indulto de ſe poder re
zar nella todos os Sabbados do anno o Officio de
Nosſa Senhora ', e nas terças feiras o do Archanjo
S. Miguel , nað ſendo dias claſicos , ou duples.
( 2)
10 A ordem da liturgia , que por cfte tempo
praticavao os Reys na alliſtencia da Capella Real,
era eſta : Havia huma cortina , dentro da qual eſta
va ElRey aſſentado em cadeira , e detrás delle os
In

[ 1] Cabed , de Patron . Regio cap. 43. Souf. Hiftor. General.com 2.


das Provas p . 245. & ſeq. [ 2] O meſmo Souf, ibid. p.758 .
168 Mappa de Portugal.

Infantes em outras cadeiras mais baixas , e hum pou :


co affaſtadas. Os filhos dos Infantes tinhao em lu .
gar de cadeiras almofadas e ſó quando ElRey our
via Milla em tribuna , ſe aſentavaó em cadeiras ra
zas com alcatifas pequenas , affaſtadas hum pouco
da del Rey . Havia máis hum pagem do livro chega.
do à cortina , e ſervia de ter as Horas ', por onde
EIRey rezava. ras
II Da parte de fóra da cortina eſtava o aſſento
dos Duques, e depois o banco dos Condes ; e o dos
Biſpos ficava defronte del Rey , e acima da cortina
o aſſento dos Embaixadores . Havia cinco modos de
cortina , e erao : Cortina cerrada , quando ElRey ef
tava com os Principes ; Cortina alçada ; quando eſ
tava com a Rainha ; Cortina , quando estava em al
gum Coro de Religioſos ; Cortina , quando eſtava
em tribuna ; e Cortina , quando eſtava em janellas .
A ' porta da Capella o Arcebiſpo , ou Biſpo
mais antigo dava agua benta a ElRey , ao Princi
pé , e Intantes; porém nos Pontificaes, que cahiao
em Domingo , o Biſpo , que fazia o Pontifical, lha
dava na cortina ; e quando nao havia Biſpo na Cas
pella , fazia eſte officio nos Domingos o Diacono na
cortina , e nas Miffas rezadas o Hebdomadario. Nao 3
ſe começava a Miſſa até EIRey nao fazer final ao
Deaő , é elle ( fendo Pontifical ) o fazia ao Biſpo ,
e fendo a Milla cantada , ao Meſtre da Capella , e
nas rezadas ao Thefoureiro mór.
13. Principiada a Miſa, dizia o Capellao mór a
Confiffaó , Gloria , e Credo. com ElRey dentro na
cortina ; e havendo ElRey de rezar o Officio Divi
no , o fazia com elle o Capellao mór , e em ſua au
ſencia o Deao . O Evangelho , incenſo , e paz , que
os Reys tomavao na cortina , levava o Arcebiſpo ,
ou Biſpo , que prefidia no banco , acompanhado do
Theſoureiro , e Meſtre das Ceremonias , e o Portei
ro da Capella ; e nos Pontificaes , quando nao havia
Bifpo , o Hebdomario . Os que davao agua benta ,
in.
Da Cidade de Lisboa. 169

incenſo , e paz , faziaó reverencia aos Reys , ePrin


cipes ſomente , aos quaes em ſeu lugar incenſavao
tres vezes , e elles faziao inclinacao ao Altar ; aos
Infantes porém ſe incenſava duas yezes , eſtando fó
ra das cadeiras.
14 Muitas vezes vinhað fallar a ElRey , eſtan
do na cortina , Religioſos , Fidalgos , e Senhores ,
dando para iſſo ordem o Deao ao Porteiro , o qual
tinha cuidado de haver ſilencio na Capella , e dava
os lugares aos Biſpos , e Condes ; e quando ElRey
ouvia Milfa em alguma Tribuna, Camera , ou Co
ro , eſtava ſempre à porta . Tudo que era da jurif
diçao da Capella deſpachava El Rey com o Capel
lað mór , Deab , e Eſmoler .
IS Nas quatro Paſcoas do anno , c nas Miffas
novas dos ſeus Capellács hiao os Reys, à offerta ,
fahindo fóra da cortina , acompanhados dos Infan
tes , e Senhores , levando ElRey a Rainha à maó di
reita até o Altar , onde o ſeu Eſmoler eſtava de joe
lhos com a offerta juato do Subdiacono , que tinha
o prato nas mãos para a receber . Aqui ſobre huma
alcatifa grande tinhaó o Repofteiro mór delRey , e
o Védor da Rainha cada hum ſua almofada na mao ,
a qual punhao aos Reys , e de joclhos offertava pri
meiro a Rainha , dando- lhe ElRey niſto o primei
ro lugar , e depois EIRey , lançando -lhe o Eſmoler
a offerta no prato , e com iſto ſe tornavao os Reys
com a meſma ordem , fazendo -lhes oś Fidalgos
Grandes fuas cortezias , que ſó neſtes dias ſe permit
tia ; porque aos Reys de Portugal ninguem fazia
mezura , ſenaõ os Senhores , que elles mandavao
cubrir .
16 Quando ElRey eſtava em parte , que nao
bia à offerta, mandava por fi ao ſeu Eſmoler ; porém
no dia de Ręys offerecia ſempre.ElRey com a ſua
propria mao a offerta , para o que fahia da cortina,
e poſto de joelhos diante do Biſpo ſobre a almofaa
da , ( que já tinha poſto na alcatifa o Repoſteiro
Tom . III . Part . V. Y mor )
170 Mappa de Portugal.
mór tomava o Ermoler da mao do Eſcrivao da
Eſmolaria huma falva grande , em que hiao trinta 1.
cruzados de ouro , e huma quantidade de incenſo ,
e myrrha , e a apreſentava a ElRey , o qual toma
va com ſuas mãos cada couſa deſtas , e a offerecia
no prato , que tinha o Subdiacono . A cinza , ea
palma de dia de Ramos davá a ElRey o Biſpo , que
a benzia ; e a véla de Noſſa Senhora das Candeas ,
e da Paſcoa tomava dentro da cortina da mao do
Mordomo mór , que lhe dava o Biſpo Capellað mór.
17 Os tres dias , que o Santiſſimo Sacramento
eſtava deſencerrado até dia de Paſcoa , dormia ) os
Reys deſte Reino junto ao Altar ſem ſe deſpirem , e
jejuavað eftes tres dias a pao , e agua ; e na manhã
de Paſcoa ' mandavaó fazer huma folemne Prociſſao ,
em que hiao os Reys , Principes , é Infántes com
todas as Damas, e Cortezãos , precedendo adiante
os Porteiros das maſlas , e todo o genero de inftru
mentos muſicos , que na Corte havia. Acompanha
vaó a ElRey nefta Prociſſaó o Mordomo mór
Porteiro mór , Védor da Caſa , e Meſtre- Sala com
os Cavalleiros do babito de Chriſto. Ordinariamen
te levava EIRey huma das varas do Pallio , e as ou
tras os Commendadores mais antigos ; porém ElRey
D. Sebaſtiao uſou em lugar delles dos Condes , e
Conſelheiros de Eſtado , e elle hia ſempre veſtido
com o ſeu habito branco de Cavalleiro..
: 18 Quando eſta Prociſſão paſſava pelo terreiro
do Paço , ſe chegava bem à terra as mais das náos ,
e navios , que naquella paragem eſtavað , .c diſpara
vao toda a artilharia , e muitas invenções de fogo
feſtivo . A todos os Fidalgos , que hia ) na Prociſe
faó , mandava ElRey duas vélas , e ao povo ſe re
partiao em numero de fete , ou oito mil. Chegan
do à fala grande , ſe recolhiao ElRey , Rainha , e
Infantes a commungar em ſeus Oratorios. ElRey
ouvindo Miffa rezada de feu Confeffor , commun
gava da ſua mao : tinhao -lhe a toalha dous Biſpos,
Da Cidade de Lisboa . 171

e dous Capellães Fidalgos duas tochas . Depois da


Communhao : fe recolhia algum eſpaço , e logo ſe
retirava à fua Camera , donde cornava a ſeu tempo
para ouvir a Miſſa ,do dia com a Rainha , Princi
pe , e Infantes , Damas , e mais Corte , veidos to
dos de festa.
19 Dia do Corpo de Deos hia ElRey à Sé acom
panhar a Prociſſao . Sabia do Paço com a Rainha ,
İnfantes , Damas, e coda a mais Corte , levando o
Mordomo mór, é Porteiro mór ſuas canas ao hom .
bro , eo Copeiro mór o eſtoque. Os outros Portei
ros hiao com maſſas de prata , os Reys de Armas
com as opas ricas , e o Apreſentador das Tavaas da
Rainha com ellas ao hombro . A peavao ſe todos na
Sé , onde ouviao Miſia cantada por huma Dignida,
de da Igreja , mas officiada pela Capella. Depois
fe ordenava a Prociſta ) , e por concerto , que fez o
Arcebiſpo D. Fernando de Vaſconcellos e Mene
zes, que tambem era Capellaó mór , bum anno le
yava o Cabido a mao direira , e o outro a Capella
Real. ElRey kia detraz dos Commendadores da
Ordem de Chriſto , poſto no meyo , eo Commen :
dador mór da parte direita . ( 1) Nos ultimos annos
delRey D. João , porque no podia cornar com a
Prociſſaa à Sé , ordenou que ſe desfizeſſe em S. Dos
mingos , ficando o Senhor encerrado no Sacrario da
Capella mór , edaqui teve principio eſte coſtume ,
que durou muitos tempos depois.
29. Entrando nefte Reino os poderofilſimos Reys
de Caftella , nao confentirao todavia , que fe dimi
as Yifti nuiffc

[ 1] Tirámos a'niemoria delta Liturgia de alguns mannfcritos , que


vimos do infigne Chantre de Evora Manoel Severim de Faria , dos quaes
tambem teve noticia o truditiffimo , e Excellentiſfimo Principal D.
Franciſco de Almeida , pois faz menció delta Concordata nas Notas ao
primeiro tomo do Codex Titulor. Ş. L. E pag. $ 9 . Veja-ſe tambem a
Relaça da folemniffima Prociffaó , que fe fez em Lisboa no anno de
1588 do recebimento das Reliquias, que ſe collocarao na Igreja de
S. Roque , pag. 11 .
172 Mappa de Portugal.

nuiffe o decoro , e eſplendor da Capella Real , an .


res ſabendo Filippe II. , que nao havia nella eſtatus
tos ſobre a forma do ſeu governo , miniſtrando-ſe
fúmente as couſas por tradiçaõ , le coſtume, man
dou fazer novo Regimento em 2 de Janeiro de 1992 ,
fendo Capellað mór D. Jorge de Ataiden's
-9120 Conftava elle de vinte capitulos , dos quacs
daremos hum breviffimo extracto , por fer ette o
primeiro Regimento da Capella Real , de que tem
moś memoria . No primeiro trata do Capellaố mór
fuas qualidades , obrigações , e regalias. No ſeguna
do do Deaó , que deve ſucceder em Capellaó mór.
No terceiro do Biſpo dos Pontificaes , que nao. te
nha obrigação Paſtoral , para eſtar liberto , e fazer
os Pontificaes na Capella. No quarto dos Prégado .
Tes. No quinto do Auditor do Capella ) mór , e Juiz
ordinario dos Capelláes , e mais Miniftros da Capel
Ja . No ſexto do Thefoureiro da Capella , o qual
diz ; que ſerá Capellaó de authoridade , e terá as
chaves do Sacrario , e do thelouro .
3:22 No fetimo trata do numero dos Capellães ,
e ordena que além do Capellaó mór , Deaó , e The
foureiro haja trinta Capellães , vinte e ſeis para re
zarem no Coro , e os quatro para confeſſarem : aqui
manda tambem que todos tragao lobas , e ſobrepel
lizes , ſalvo os que forem Freires das Ordens de
Chriſto , e S. Bento de Aviz , que traraó mantos
brancos de ſeu habito fobre as lobas ; e os Freires
do hábito de Santiago nað traraó mantos , ſenað fo
brepellizes , conforme a ſua Regra , e todos junta
mente rezaráó na Capella as Horas Canonicas Ros
manas.
23 No oitavo trata do provimento dos Capel
laes , que quer ſejao todos filhados. No nono do
Meftre das Ceremonias , que ordena ſejaó dous ef
colhidos de entre os Capellães. No decimo dos
Cantores, Tangedores , e Porteiros . Diz que haja
hum Meftre de Capella , e vinte e quatro Cantores ,
ſeis
Da Cidade de Lisboa . 173

feis de cada voz , dous baixões , e huma cornera , os


quaes Cantores ferað: tambem filhados : que haja
dous Tangedores de orgaó , quatro Porteiros da Ca
pella , e que nenhum deſtes Miniſtros poderá ó , en
irar nella , nem ir nas Prociſsões com eſpadas, nem
com ſombreiros , nem capas de capello , fenao com
maateos , ou farregailos compridos , que pelo me
nos paffcm de meya perna , com barretes , carapu
ças , ou gorras .
24 Trata no capitulo undecimo dos Moços da
Capella , e ordena que haja dezoito , de bom naſci
mento , vida , e coſtumes : que tragao roupas com
pridas , que pelo menos lhe dem quatro dedos, abai
xo dos joelhos, e na Capella tragað lobas com man
gas até os pés , e os que a tiverem , a trarað tozada
por todas as partes ; e tanto que algum delles ca
far , ſerá logo riſcado , e paſſará a outro foro . No
duodecimo falla dos Moços da Eſtante e diz quc
haja quatro. No decimo terceiro trata do Varredor
da Capella. No decimo quarto da diſtribuiçao : alli
ſe vê que o gaſto todo da Capella naquelle tempo
niontava em hum conto quinhentos ſetenta e dous
mil quatrocentos oitenta e dous reis , o qual por pa
recer pouco a ElRey , o accreſcentou, e dotou em
dous contos de reis ...
25 No capitulo decimo quinto trata da eleiçao
dos Officiaes da diſtribuiçao . No decimo fexto tra
ta das offertas , e diz como em dia de Reys dava o
Eſmoler mór doze mil reis , e cinco arrateis de in
cenſo , e hum demyrrha; e em dia , que algum Ca
pellao dizia Miſla nova , lhe dava o meſmo Esmo
jer ſeis mil reis para elle , e mais vinte e quatro mil
reis para repartir pelos outros Capellães : que em
dia da adoracao da Cruz em Sexta feira fanta dava
a dito Elmoler doze mil reis ; e nos dias do nafci
mento dos Reys , Rainha , e Principes dava tantos
cruzados , quantos erað os annos de ſuas idades .
26 No decimo ſetimo expoem os ordenados
que :
174 Mappa de Portugal.

que percebiao cada anno os Miniſtros da Capella ,


com a diſtribuiçaõ ſeguinte ; advertindo , que o
Meſtre da Capella além do ſeu ordenado tinha cin
co moyos de trigo , e todos os mais Miniftros ,
quando eſtavao doentes , tinha ) Medico , Cirur
giao , e Botica , ſegundo nefte meſmo capitulo faz
expreffa: mençao o Regimento.
5 E

Ao Capellao mór 600 Uooo


1 Ao Deao 400 Uooo
1 Ao Biſpo dos Pontificaes 200 Uooo
4 A cada hum dos Prégadores So ooo
i Ao Auditor da Capella 20Uooo
IfAo Promotor da Juſtiça IoUooo
1 Ao Theſoureiro da Capella 100 Uooo
30 A cadà Capellað 400000
3 A cada Mettre de Ceremonias 12Uooo
í Ao Meſtre da Capella 80 Uooo
241 A cada Cantor SoU000
2 A cada Organiſta SoUooo
41 AA cada Porteiro 40Uooo
18 A 20U000

No capitulo decimo oitavo trata de como ſe haõ de


multar as faltas. No decimo nono do Recebedor ,
e no vigefimo das deſpezas miudas .
27 O meſmo Capellao mór D. Jorge de Ataide
em 31 de Agoſto de 1608 fez huma conſulta la El
Rey para haver de ſe reformarem algumas coulas da
Capella ; e El Rey ordenou , que os trinta Capellães
do Regimento ſe reduziſlem a vinte e quatro , e que
dettes foffem cres Letrados , c Confeffores , aos quaes
fe accreſcentaſſe mais dez mil reis de congrua , e
tres moyos de cevada com a obrigaçao de terem
mula . Tambem reformou o numero dos Cantores ,
mandando que houvelle quatro Tiples , cinco Con
tralcos , cinco Tenores , e tres Contrabaixos.
1 28 Nao
Da Cidade de Lisboa .
175

28 Nað foy menor a eſtimação , e cuidado no


augmento da Capella Real , que teve ElRey D. Fi.
lippe III . , pois conhecendo a authoridade dos Ca
pelláes Regios , mandou ao Arcebiſpo D. Miguel
de Caftro , que entao o era deſta Cidade , e hum
dos - cinco Governadores defte Reino , que folie fa
zer o Pontifical nas Excquias delRey Filippe H.,
e que nao levaſſe as Dignidades da Sé para lhe afliſ
tirem , por quanto era ſervido que os Capellães da
ſua Real Capella o fizeſſem . ( 1 )
29 Depois no anno de 1610 ſe renovou com gran
de magnificencia a meſma Capella , e'o ſeu pateo
por direcçao do Marquez de Caſtello Rodrigo , len:
do Vice.Rey deite Reino , àà cuſt
cuſta dos quatrocentos
a dos
mil cruzados , que a Cidade de Lisboa promettera a
ElRey D. Filippe 11I . E no anno de 1019 , tendo
o Marquez de Alanquer , Vice -Rey de Portugal
certeza de que o dito Rey Filippe Ill . vinha a eſta
Cidade , mandou logo , entre outras muitas couſas ,
concertar os Paços de Lisboa ; e porque a Capella
Real ficava em baixo , e dava grande deſcommodo
a ElRey , a fez edificar de novo no andar de cima ,
( 2) poſto que incomparavelmente muito mais enno .
brecida , e augmentada pelo Fideliſſimo Rey D.
Joao V.
30. Com a feliz Acclamaçao do Senhor Rey D.
João IV . adquirio a Capella Real novo luttre, e adi
antamento. Foy ſempre nos Sereniſſimos Duques de
Bragança muito diſtincta a ſobrenatural ſympathia
para as couſas Ecclefiafticas , celte Principe , que
nos foberbos Palacios de Villa - Viçoſa tinha ſubido
a huma alta reputaçao o eſplendor da ſua Capella ,
illur .

[ il Conſta de buma Carta , ou Aviſo regiſtado na Secretaria de Ef


tado. Anno de 1599. [ 2 ] Afim conſta da Hiſtoria annual de Portugal
m.f. deManoelSeverim de Faria. O Author do Santuario Marian. tom. 1 .
pag. 297. diz , que depois da Acclamaçao delRey D. Joað IV. eſtivera
à Capella Real na Sala dos Tudeſcos, em quanto ſe nao fabricava a noi
va Capella.
176 Mappa de Portugal
illuſtrando - a com ampliſſimos privilegios , e graças
Pontificias , ( 1 ) continuou a meſma magnificencia
na de Lisboa , diſpondo nova ordem de liturgia pa
ra os dias , e feſtas ſolemnes , em que aſiſtia publi
camente aos divinos Officios com pompa Regia na C
1
fórma ſeguinte . ( 2 )
31 Tanto que o Capellað mór dava recado em
como tudo eſtava prompto para ElRey poder ir ,
fahia Sua Mageſtade do ſeu apoſento acompanhado
dos Titulos , Officiaes da Cala , e mais Fidalgos ,
que alli ſe achavaó , e eraõ aviſados antecedentemen
te pelo Porteiro mór . Os Titulos hiaó da parte di
reita , e eſquerda por ſuas precedencias diſtancia de +
tres , ou quatro paſos diante delRey , e diante del
le o Mordomo mór com a lua inſignia na maó , que
ainda nað ſendo Titulo , hia neſte lugar , excepto
ſe acompanhavaā Infantes , diante dos quaes paſſava
o Mordomo mór . Depois dos Titulos hiaó os tres
Officiaes da Cana , Porteiro mór no meyo , o Vea
dor da banda direita , e o Meſtre - Sala da cſquerda ;
€ havendo dous Veadores , o que nao era de ſemana
hia tambem da parte direita , mas no meyo como
Porteiro mór . Os demais Officiaes da Caſa , e Mo
ços Fidalgos hiao diante deſtes ſem precedencia 9
mais adiante os outros Fidalgos , que alli ſe acha,
vao . Os Officiaes da Caſa eraõ Mordomo mór , Por
teiro mór , Camareiro mór , Eſtribeiro mór , Guar
da mór , Repofteiro mór , Copeiro mór , Veador ,
Mettrc - Sala , Trinchantes , Capitães da Guarda ,
Capella ) mór , Sumilheres da Cortina , Apoſenta
dor mór , Monteiro mór , Armador mór , Efmoler
mór .
32 Detraz de Sua Mageftade hiao os Cardeaes ,
e depois delles os Embaixadores , e logo os- Arce
biſpos , e Biſpos, e Capellao mór com elles , ſe era
Biſpo ; enao o ſendo , hia com os meſmos Officiaes
da

[ b ] Refere Souſa no tom.4. das Proy, pag.738 . [ 2] Ibidem .


Da Cidade de Lisboa . 177

da Caſa ; advertindo , que ſe ElRey devava cauda ,


Įhe hią pegando nella deſcuberto o Camareiro mór
mais junto à Peloa . Nekta fórma baixava Sua Masi
gettade à Capella 3o e à porta , que eſtava no fim da
eſcada , que delcia da galaria da banda de fóra , por
huma, e outra parte ettavao as guardas tem duas alas
governadas por feus Capitães , o Tenentes. O Cor
regedor do Grime da Corte , e Cala bia diante de:
todos , levando com ſigo o Meirinha da Corte ..'
33. Antes delRey chegar à porta da Capella , o
Arcebiſpo Jou Biſpo mais antigo , que alli ſe acha
va , ſe adiantaya para dar agua benta a Sua Mageſ
tade , q nao havendo Biſpo , o fazia o Capellað mór ;
ainda que nao foſſe Biſpo. Tanto que El Rey entra
va pa cortina , lhe chegava o Repoſteiro mór a ca.:
deira , ou alorofada e o meſmo fazia aos Infantes ,
filhos legitimos delRey , e na aulencia do Repo {tei
ro mór tocava ao Veador da Caſa eſta ceremonias
e logo que Sua Mageftade ſe aſſentava , fahiao -co
dos ,i que o acompanharao , para os ſeus lugares.
34. Os Cardeaes tinhao ſeus lugares da parte do
Evangelho mais chegados ao Altar em cadeiras de
eſpaldas one logo abaixo" em banco cuberto de: rás
os Arcebiſpos , e Biſpos por ſuas antiguidades , co
meçando a precedencia do Alcar, Q Capella ó mór ,
ſendo Bitpo , ſe ſentava em huma cadeira raža , que
eſtava , da cortina para cima , entre ellas , e os de.
gráosis que ſubiao para a parte do Evangelho ; e
quando Sua Mageftade nað hin à Capella , ſe ſen
taya no banco dos Bilpos , precedendo a todos , ains
da que foſſe mais moderno por Dieceſano da Cala
Real ; e nao ſendo Biſpo , eſtava em pé abaixo da
cortina com os Sumilheres , nem fazia funçað algus
ma na Capella ſem ſobrepelliz. 4 : 3
35 Os Embaixadores ſe aſentavao 'da grade pa
ra dentro em cadeiras razas de veludo com almofa
das do meſmo defronte da cortina delRey , alguma.
couſa mais para baixo , e diante de cada hum ſe pus
Tom.IlI. Part. V. Z nba

I
178 Mappa de Portugalai

nha hom banquinho cuberto .com hum panno de


veludo. Os Duques da meſma grade para dentro
junto à cortina delRey em cadeiras razas de veludo
com ſuas almofadas do meſmo , e huma alcatifa de
baixo das cadeiras nað muido larga , em que punhao
os joelhos . Da grade para fóra em primeiro lugar
ſe punha o aflento do Mordomo mór , ainda que nao
foffe Titulo , por preeminencia do officio , fondo
que entao era a cadeira raza de couro preto . De
pois delle ſe ſeguiao os affentos dos Marquezes , que
eraó cadeiras razas de veludo com almofadas do
meſmo , e logo abaixo o dos Condes, que era hum
banco cuberto com eſpaldeira de rás.
36 O Sumilher da ſemana ſe punha ao canto da
cortina da banda debaixo , e os tres Officiaes da Ca
na , Porteiro mór , Veador , e Meſtre. Sala em pé.
com ſuas inſignias da grade para dentro em fileira
defronte da cortina delRey ,alguma couſa por ci
ma do lugar dos Embaixadores. Dentro da cortina
ſe aſſentava Sua Mageftade em cadeira de eſpaldas ,
e logo abaixo o Principe , e os Infantes em cadei
ras iguaes, e em igual fileira ; e os filhos dos Infan
tes mais abaixo em almofadas , duas a cada hum em
lugar de cadeiras. O abrir da cortina tocava ao Su
milher da lemana . ;
37. Depois de ElRey eſtar na cortina , hia logo
o Capellao mór ao Aſperges , no dia , que ſe devia fa
zer : e fazendo primeiro ſua inclinaçaõ a 'ElRey ,
lhe deitava agua benta , e do meſmo lugar , fazendo
a meſma inclinaçað , a deitava à Rainha , c logo ao
Principe , e Infantes , os quaes , quando Iha deita
vaó , a vinhao buſcar hum paſſo fóra da cadeira , e
ſeus filhos dous , a quem o Capellao mór , ſendo
Biſpo , nao fazia inclinaçao ; e nao fendo Biſpo',
deitava agua benta o Prelado máis antigo. ' )
C
38 Começada a Miſa, hia o Capellad 'mór di í
zer a Confiliaó , Gloria , e Credo com ElRey den Ĉ
tro da cortina , e fe havia de rezar o Officio Divi .
no
Da Cidade de Lisboa . 179

no , o rezava tambem com elle , e em fua auſencia


tocava ao Deao da Capella. Trazia o meſmo Ca
pellañ mor o Evangelho , o incenfo , e o Porta.Paz
para ElRey beijar , e o Principe, e os Infantes ; ad
vertindo
que EIRey , e o Principe ficavao aſfénca
dos , e os Infantes hiao beijar , fazendo mezuras &
Sua Mageftade à ida , e vinda .
39 Quando ElRéy hia à offerta, eſtava preſtes
hum Repofteiro com huma almofada de veludo , c
beijando.a ., a dava ao Repofteiro mór , e elle to
mando- a em ambas as mãos , e beijando- a , a punha
aos pés do Celebrante , que eſtava no ultimo de
gráo do Altar ; e fe a Rainha eſtava prefente , lhe
punha o ſeu Veador outra almofada na meſma fór
ma. Alli hia ElRey com a Rainha , e o Celebrance
the dava a Imagem a beijar , e lhe deitavá a ben
cad ; e ſe era Biſpo , lhe dava tambem o anel a bei.
jar ; e o Eſmoler , que eſtava diante do Subdiacono ,
lançava a offerta no praco , e logo ſe tornava ElRey
à cortina ; e quando fahia , tambem fahiao o Prin
cipe , e Infantes , e eſtavaó em pé fóra da cortina
até que Sua Mageftade volcava , e quando paſſava ,
lhe faziao mezura , e ſe tornavaõ a ſeus lugares. Se
a offerta era no dia da Cruz, ou de Milla nova ,
hiaó primeiro offerecer os Prelados por ſuas antigui
dades , e toda a Capella depois delles ; e entao El
Rey , Principe , Infantes , Embaixadores , Duques ,
Marquezes , Condes , é Fidalgos. Em dia de Reys
fe fazia a offerta da meſma forte , ſó com a differen
ça , que o Eſmoler dava a offerta ao Principe , e el
te a ElRey , que a lançava por ſua mao no prato .
40 Em dia de Noſſa Senhora das Candeas hiao
primeiro tomar as vélas os Prelados , e Capella , c
depois ElRey . Dava as vélas quem fazia o Officio ,
e depois que ElRey vinha do Alcar , a entregava ao
Capellað mór , e efte a dava a hum Moço Fidalgo ;
e quando queria fahir a Prociſſao , cornava efts à
dalla acceza ao Capellao mor , o qual a entregava a
Z ii EL
189 Mappa de Portugal

ElRey: A véla , que ſe dava a Sua Mageftade , era


de humà vara , e duas terças de comprido , e tinha
cinco arrates de pezo : a da Rainha era quaſi , ou
pouco menos , da meſma grandeza , e pezoli a dos
Infantes de vara e meya , ce de tres arrates (e meyo
de pezo : a dos Embaixadores , e Duques de vara és
terça , c de tres arraces : a dos Arcebiſpos, e Mar-,
quezes de vara e feſma , e de dous arrates e meyo :
a dos Biſpos , e Condes de huma vara , e de dous
arrates : a dos do Conſelho de huma, vara menos
huma ferma , e de arrarel e meyo , e aſſim à propor .
çaõ a das outras peſſoas.
41. Na Procitao da melma feſtividade bia Sua
Mageſtade atraz do Biſpo com os Commendadores
ornados com os ſeus mantos ; e havendo alguns Pre
lados , biao atraz dos Capellaes , diante do Cele
brante . Em dia de Cinza hia ElRey tomalla ao :Al
tar mór na meſma forma , em que hia às offertas ;
e depois que o Biſpo a daya às peſſoas Reaes , para
o que lhe tiravao a mitra , a tornava a pôr para dar.
a cinza aos Embaixadores, Duques , Marquezes , e
Condes , eſtando em pé , e depois fe fentava , ca,
dava aos Officiaes da Caſa , Fidalgos , e mais gente .
42. No dia de Paſcoa dava o Mordomo mór a
véla a ElRey para ir na Prociſſao , na qual como
hia o Sacramento , e Sua Mageftade com manto ,
nao lhe levava o Camareiro mór a cauda , mas El
Rey, a punha ſobre as guarnições da eſpada. Os
Commendadores hiao com ſeus mantos do Pallio pa
Ja traz , e Sua Mageſtade no fim de todos , ſeguindo
ſe junto a elle de huma , e outra parte as Dignida
des da Ordem de Chriſto , e depois as de Santiago ,
e Aviz . Neſte dia de Paſcoa commungava Sua Ma
geſtade com todos os Commendadores, e Cavallei
ros das Ordens ; ao dizer da Confiffào ſe inclinava
ElRey hum pouco , punha - lhe o Repoſteiro mór a
almofada , mas Sua Mageftade ſempre lha mandava
tirar : ſuſtentavao -lhe a toalha dous Sumilheres ; e
da
Da Cidade de Lisboa . 181

dava- lhe a Communha ) quem dizia a Miffa , e o la


vatorio o Capellaó mór ; e feelte dizia a Miſa , da.
va - lhe o lavatorio o Deao . Depois hiao commun
gar os Commendadores por fuas antiguidades .
43 Com eſta formalidade afliftia o Senhor Rey
D. Joao IV . às funções Ecclefiafticas na ſua Cao
pella , cuja liturgia praticaraó depois ſeus fucceffo
res com pouca diſcrepancia , nao fe eſquecendo já
mais de augmentar nella o mayor culto de Deos tan
to no formal , como no material : c como o Sere
niffimo Rey D. Pedro II , herdou de ſeu memora
vel Pay o meſmo eſpirito de Religiao , nao foy nels
le menor a grandeza de ſeu zelo , nem deſigual o
ardor de promover o decoro da ſua Igreja . Encre
outros monumentos , que qualificaó o deſvélo da
quelle Rcal animo , foy a fabrica do Thelouro das
Capella Real , que mandou fazer , e exiſtia no ſitio
da Calcetaria junto da Caſa da Moeda, como coni->
ta de huma inſcripçao aberta em letras de bronze:
em huma pedra primoroſamente lavrada , a qual info:
Gripçað foy compoſta pelo Conde da Ericeira D.
Luiz de Menezes ; e porque nao ſe perca de todo
a ſua memoria ,, a copiamos aqui.

Sacram æqué ſupelleftilem


Regii Sacelli
Hæc domus condit ,
Ac vere Regiam Conditoris munificentiam ,
Pietatem , Religionem aperit ,
Auguftifimi videlicet Principis Petri ,
Cujus aufpiciis , & expenfis
Erecta , compta , ditata eft.
Anno ab alerta orbis ſaluto
M. DG . LXxxir.
A.vindicata Lufitana libertate XLIII.

Todo eſte edificio ultimamente ſe demolio no mezi


de Abril de 1751 , quando o Fideliſlimo Rey D.
Joſeph I. fez doaçao das caſas , e fitio da.Calcetaria :
ao ,

>
182 Mappa de Portugal.

ao Reverendo Collegio dos Excellentiflimos Princia


paes da Santa Igreja Patriarcal , para nelle fazerem o
Tribunal da Congregaçao da adminiftraçao da fa
zenda , e theſouro dadica Igreja.
44 Chegou finalmente o tempo , e o governo
do ſempre memoravel , magnanimo , e Fideliffimo
Rey D. Joao V. , em que eitava decretado do Ceo
para a Capella Real a mayor oftentaçao da ſua gran .
deza . Aquelle grandioſo eſpirito igualmente Regio ,
e Religioſo , que deſde o feu principio lhe inſpirou
Deos para exaltar as glorias da ſua Igreja , le vio
nelle taõ conftantemente continuado até os ultimos
alentos da ſua vida , que bem podemos dizer a aca
bara , levando atravcfados no peito os ſagrados de.
fignios , e incomprehenſiveis idéas da mageſtade no
augmento inſaciavel da Religiau , e ſeu culto .
45 Ainda nao tinha completos tres annos de go
verno , quando em 24 de Janeiro de 1709 manifef
tou logo o ſeu liberal genio em accreſcentar a con
fignaçao à ſua Capella Real , conftituindo - lhe mais
hum conto e ſeiſcentos mil reis todos os annos de
congrua nos rendimentos da Alfandega defta Cida..
de. No meſmo anno ampliou por Breve de Clemen
tc XI . a Dignidade , regalias , e juriſdições do ſeu
Capellao mór.
46 Nað ſatisfeita a ſua idéa , fez erigir na ſua
Real Capella por Conſtituiçao do meſmo Summo
Pontifice Clemente XI . em o primeiro de Março
de 1710 huma inſigne Collegiada com o titulo de S.
Thomé Apoftolo , condecorada com grandes pre
rogativas , e honras , inſtituindo-lhe feis Dignida
des , dezoito Conegos , e doze Beneficiados além
de outros Miniſtros , ſubordinados todos ao Capel
lao mór , como ſeu proprio Ordinario e lhes eſta
beleceo para congrua ſuſtentaçao doze contos qui
nhentos e cincoenta mil quinhentos e ſeſlenta reis ;
de forma que ao Deao competia quatrocentos mil
reis de congrua , a cada hum dos cinco Dignidades
tre
Da Cidade de Lisboa. 183

trezentos mil reis , a cada hum dos dezoito Cone .


gos trezentos mil reis , a cada hum dos doze Benefi
ciados cento e cincoenta mil reis , e a cada hum dos
Manſionarios oitenta mil reis , e aſſim tomaraó pof
fe aos 16 de Mayo de 1710. ( 1 )
47 Conſtituida deſta forma a inGgne Collegia
da de S. Thomé na Capella Real , paſſou o meſmo
Soberano a condecorar os ſeus Miniftros com hum
habito choral diftincto do antigo , ordenando que os
Conegos pudeſſem trazer ſobre o roquete capa ma
gna roxa com capello forrado de pelles brancas de
arminho em tempo de Inverno , iſto he, deſde Ver
peras de todos os Santos até Sabbado de Alleluia ,
e no Verao uſariao das meſmas capas forradas de ſe
da encarnada ; e os Beneficiados trariao tambem ca
pa magna roxa com capello forrado de pelles cin
zentas no tempo de Inverno , e no Verað andaria o
com a meſma capà, e capello forrado de ſeda roxa
( 2 ) accreſcentando mais a cada Conego cem mil
reis e a cada hum dos Beneficiados cincoenta mil
reis .
48 Toda eſta abundancia degraças , e honras ,
com que o magnanimo Rey D. Joao V. engrande
ceo a lua Real Capella , ainda le nao proporciona
va com o dilatado do ſeu pio , c Regio coraçao ; e
aflim obtendo da Santidade de Clemente XI . a Bul
la Aurea , que começa : In ſupremo Apoftolatus folio ,
expedida em 7 de Novembro de 1716 , fez exaltar
a ſua inſigne Collegiada em Cathedral , Metropoli
tana , e Patriarcal com a invocaçao de Nolla Seo
nhora da Aſſumpçao , dividindo para eſte effeito ef
ta

[ 1 ] Consta di Bulla Apoſtolatus minifterio de Clemente XI , expe.


dida no primeiro de Março do anno de 1910 ', que vem no tom . r.
Codex Titulor. S L E. pag.11 . [ 2 ] Conſta do Indulto de Clem . XI.
Romanum decet Pontificem , paſlado a 30 de Janeiro de 1916. O mef
mo concedeo lonoc. XIII. pela Bulla Ad regimen univ . Ecclefi , cujo
privilegio de andarem os Beneficiados da Santa Igreja Patriarcal em :
babito Prelaticio ſe nað poz em pratica,
184 Mappa de Portugal.

e ſeu Arcebiſpado em duas partes , co


mo temos dito , eſtabelecendo na parte Occidental
hum Patriarca , a quem unio a Dignidade de Capela
lað mór com diftincta juriſdiçao da Metropolita
na , o qual como Patriarca ficou fuperior a todos
os Arcebiſpos , e Biſpos do Reino e ainda ao de
Braga .
49. Para mayor decoro , e magnificencia da ſua
dignidade lhe alcançou a regalia de poder andar ver
tido em habito purpureo à maneira do Arcebiſpo
Salisburgenſe Primaz de Alemanha, e outros muitos
privilegios, e preeminencias , unindo - lhe tambein
as honras , e tratamento de Cardeal ? que lhe mana
dou dar por Decreto de 17 de Fevereiro de 1717. E
porque eſta honra Cardinalicia lhe foſſe propria , e
fixa , fez com que o Papa Clemente XII nao ró o
elevaſſe àquella Dignidade , como o elevou por Bul .
la de 27 de Dezembro de 1737 , que começa : In
ter præcipuas Apoftolici miniſterii; mas pela meſma ef
tab leceo para ſempre , que a peſſoa , que foſſe pre
conizado Patriarca de Lisboa , foſſe logo creado
Cardeal no Conſiſtorio immediatamente ſeguinte.
so A ellas exuberantes prerogativas , realçando,
ſempre ElRey.com exceſſo a ſua inexplicavel gran .
deza , conſignou do Patrimonio Real , e do rendi
mento dos quintos das Minas geraes para ſuſtenta
çaó magnifica do Patriarça , e ſeus ſucceſſores , em
perpetua doaçao todos os annos duzentos e vinte
marcos de ouro , que montao mais de cincoenta mil
cruzados , e o grande rendimento da Liziria da Foz
de Almonda , para que ſem prejuizo dos pobres po
deffe luzir com eſplendor em tað alta Dignidade.
(1 ) E proſeguindo na ampliaçao da nova Cache :
dral , creou novas Dignidades , e Conegos para for
marem hum reſpeitoſo Cabido , enchendo -os de
gran

[ 1 ] Conſta da Carta de Doaçao delRcy do primeiro de Abril de


1719 , que vem no tom .1. do Codex Titulor, S. L. E.pag.288,e 292.
Da Cidade de Lisboa . 18 5

grandes authoridades , e honras , ( 1 ) além das que


o Papa Clemente XI , lhes outorgou pela Coniti
ruiçao Gregis Dominici , de 3 de Janeiro de 1718 .
SI Continuou a exercitar novas grandezas, que
já pareciaó impoffiveis à imaginaçao , e fomente
fondaveis , e factiveis à dilatada esfera da ſua idéa .
Tornou a unir as duas Cidades em huma ſó , e por
Conſtituiçaõ do Papa Benedicto XIV , paſſada em
13 de Dezembro de 1740 , e principia : Salvatoris
noftri , fez abrogar , e extinguir a antiquiffima Sć
de Lisboa Oriental , incorporando , e eftabelecendo
huma ſó Igreja Patriarcal com omnimoda juriſdiçao
Metropolitica ; e para que as ſuas Dignidades fe
diftinguiſſem mais eſpecificamente , erigio hum ex
cellentiſlimo Collegio de vinte e quatro Excellen
tiflimos Principaes com habito Cardinalicio , e fe
tenta e dous Prelados , ou Miniſtros de habito Pre
laticio , divididos em varias jerarquias , a ſaber ,
Prelados Presbyteros com infignias Epiſcopaes , e
exercicio de Pontifical , Protonotarios , Subdiaconos,
e Acolytos. Vinte meritiffimos Conegos , doze Re
verendos Beneficiados de ſetecentos mil reis, trinta
é dous Reverendos Beneficiados , trinta e dous Re
verendos Clerigos Beneficiados , e outros mais Mi
niftros da Igreja Patriarcal , condecorando a todos
com grandes privilegios.
52 A toda eſta pompa ſumptuofiffima accref
centou com generoſidade incomparavel preciofiffi
mos ornamentos , joyas de inextimavel valor , arma
ções primoroſas, peças de ouro , e prata innumera
veis , com que dotou , e enriqueceo a Santa Igreja
Patriarcal para ſe celebrarem nella todas as ſuas fun
ções com magnifico apparato ; e para que nao ſó as
obras , mas as vozes chegaſſem ao Ceo com pura ,
c ſuave harmonia , ſem miſtura de finfonias profa
Tom.III . Part. V. Аа nas ,

· [ 1 ] Consta do Alvará de 24 de Dezembro de 1716. Ex Codic.com ,


pag. 169.
186 Mappa de Portugal.
nas , mandou vir de varias Provincias de Italia os
melhores Muſicos com groſſos eſtipendios , de que
formou hum Coro eſpecial , e grave dos mais fele
Etos Cantores . Fez tambem guarnecer a torre da
Igreja de muitos , e harmonioſos finos. Conſtava el
la de dous andares de fineiras : o primeiro tinha dous
em cada lado , em que havia oico Ginos : no ſegun
do andar havia quatro fineiras ; porém o fino gran.
de tomava todo o vaó do meyo , de ſorte que le via
por todas as quatro partes , e ſe ſuſtinba em madei
ras , que nao tocavaó nas paredes da torre . O pri.
meiro ſino peza oitocentas arrobas , e toca nas fer
tas da primeira clafle e nas exequias das Peſſoas
Reaes , Patriarcas , Cardeaes , e Principaes : o fe
gundo peza cento cincoenta e duas arrobas ; toca
nas ſegundas claſſes , e dobra aos Fidalgos titulares ,
Monſenhores , e Conegos: o terceiro tem cento e
dez arrobas , e toca nas exequias dos Beneficiados:
o quarto oitenta e ſete arrobas , e toca pelos Ca
pellães : o quinto tem ſetenta e ſete arrobas , e co
ca pelos Sacriſtas : o ſexto trinta e cinco arrobas :
o ſetimo vinte e nove arrobas : o oitavo vinte e cin
co : o nono vinte e duas : a garrida duas . Havia ou
tra torre chamada do Relogio ſeparada da Igreja
Patriarcal , cujos finos tocavaó nos dias ſeguintes:
Dia de Reys , S. Vicente Sabbado de Alleluya ,
Domingo de Paſcoa, Sabbado , e Domingo do. Er
pirito Santo , Corpo de Deos ſó à Prociflaó , Con
ceicao , e Natal.
53. Era tenue para eſte grande Monarca toda a
profuſao , que ſe empregava no culco da Igreja ,
para cujo ornato mandou tambem fazer , e conduzir
de todas as partes do mundo os adornos , adereços ,
e alfayas mais precioſas. ( 1 ) . Entre ellas faó dignos
de eſpecial memoria os nove riquiſſimos caſtiçaes , e
ma

( 1 ) Qui facras Orientalium Chriftianorum fupelle &tiles, doo Ecleſias


ticos codices ad Regii fui facelli ornatum undique conquiſivit, Affema,
nus in Bibliothcc ,Mediccæ Catalogo , pag. 81,
Da Cidade de Lisboa . 187

maravilhoſa Cruz de exquiſita , e nova invençað >


que a ſua heroica piedade mandou fabricar a Flo
rença , e a Roma no anno de 1732 pelo deſenho , e
artificio do famoſo Antonio Arrighi Romano , cu
ja primoroſa , e incomparavel arquitectura excedeo
a importancia de trezentos mil cruzados . Toda a
maquina de prata excellentemente dourada , que
fórmava a grande Cruz , ſe levantava na altura de
dezaſete palmos deſde a planta do pé de figura qua
drangular , que tinha tres palmos e meyo de dia
metro ,
54 Era eſta obra no ſeu genero unica , e fingu
lar ,
e que mereceo as attenções , e elogios do Sa
cro Collegio Pontificio , Principes , e Nobreza Ro
mana a primeira vez , que lhes foy manifefta. Com
meſma admiraçao foy applaudida de todos os Ca
valheiros Toſcanos e Corte Florentina , e verda
deiramente a obra , a idéa , e a materia vencia o
mais encarecido louvor . Viao - ſe diſtribuidos com
admiravel ſimetria pelas bazes , e balauſtes affim da
Cruz , como dos caftiçaes muitos fymbolos , jero
glyficos, e genios , Querubins , e eſtaruas , humas
de vulto , outras de meyo relevo com differentes ac
ções, que alludiaó com propriedade aos myfterios
de Chrifto , e de Maria Santiſima : outros caracte
rizavaó a magnificencia da Santa Igreja Patriarcal ,
outros o imperio da Mageftade Portugueza no Rei
no , e ſuas Conquiſtas ; porém tudo guarnecido com
muitos , e polidos feſtões da meſma prata dourada ,
com muitas tarjas , e quartellas de perfeitiffimo la
pislazuli , com muitos engraçados eſmaltes , e em
butidos de epigrafes , de pedras , e diamantes pre
ciofiflimos.
Efta Cruz , e eſtes caſtiçaes , como tað ſin
gulares , eſtavaó deſtinados para ornar a banqueta
do Altar da Capella mór defta Santa Igreja ſomente
nas funções Regias de Cafamentos , Bautiſmos , e
Acclamações de noſſos Principes , ou em outros
• Аа іі quaef
188 Mappa de Portugal.

quaeſquer dias , que o Rey determinaſſe ; porque


para as outras feſtividades reſervava o cheſouro der
ta Igreja proporcionadamente outros ternos de car
tiçaes , e Cruzes tambem magnificos , e de preço ,
e artificio eftimavel , conſtituindo -ſe deſta forma
ainda na opiniaó dos meſmos eſtrangeiros huma Re
gia Capella , ou Igreja Patriarcal a mais mageſtofa ,
rica , e egregia , que ſe venerava em todo o mundo
Chriftao . ( 1) Porém tudo laſtimoſamente pereceo
com o incendio do primeiro de Novembro de 1755 .
56 Parte deſta inimitavel generoſidade ſe con
firma com as pingues congruas , e ordenados , que
eſtabeleceo para o diſpendio , e Miniſtros da dita
Igreja , importando o ſeu dote até 18 de Julho de
1747 hum milhao e dezoico mil cruzados entre o
antigo , e moderno ; e parecendo impoſſível , que
eſta generoſa grandeza podeſſe ainda creſcer no au
guſto coraçao delRey , ſabemos que em quanto Vi
veo , foraó fempre as ſuas acções para com a Igre
ja continuados padrões de ouro , que juntamente
erigio à eternidade do ſeu auguſtiſſimo , c immortal
nome. Para que ſe veja com diſtinçaó o que perce
bem por anno todos os Miniſtros da Santa Igreja
Patriarcal , e outras deſpezas , que nella ſe fazem ,
expomos por curioſidade o Mappa leguinte , calcu
lado ſegundo a folha da primeira mezada do anno
de 1754 , donde o extrahimos , ſendo preciſo adver
tir , que de entao até o preſente fe tem admittido
mais Muſicos Italianos , e Capellães Cantores tam
bem com ordenados muito pingues , ſem embargo
que em muitas partes tambem fe diminuio o diſpen
dio com a ruina que tem padecido o groſſo da lua
Fabrica . Cal

☆ [ 1] Ex quibus ominibus patet , Capellam Regiam , fere Ecclefiam Pa ,


triarchalem Olifiponenſem ob fummam , ac ferè fingularem Joannis V. Re
gis munificenciam , de pietatem nulli in toto Chriſtiano orbe Ecclefia , vel
Miniftrorum copia, dignitate , do opibus., vel facrarum rerum cultu ,
do Splendore , vel denique privilegiis , juribuſque concedere, Carafa de
Capella Regis utriuſque Sicilia , pag . 448 ,
Da Cidade de Lisboa . 189

Calculo de todo o rendimento da Reverenda Fabrica da


Santa Igreja Patriarcal até o anno de 1747 .
Renda chamada dote antigo 30 :005UF00
Rendimento das Terças dos Biſpa
dos , e mais Beneficios 94 : 982U5121
Rendimento das Igrejas , Caſas ,
e producto das Lizirias 31:474U717
Rendimento dos juros diftratados ,
comprados , & c. 290 :843U880

Somma total 407 : 306669

Congrua dos Excellentiſimos , e Reverendifimos


Principaes da Santa Igreja Lisbonenſe.

Cada hum dos 24. Excellentiffimos


e Reverendiflimos Principaes res
cebe em 10 mezes do anno a so
moedas por mez 2 :400U000
Recebe mais nos dous mezes para .
inteirar o anno 753U200
Recebe mais do accreſcimo incer .
to das rendas 1:500Uooo

Congrua total de cada hum 4 :653U200


Além difto recebe cada hum dos
cinco Excellentiffimos Principaes
Primarios cada anno 100Uooo
E o Excellentiſlimo Principal De...
cano 200 Uooo

Congrua , e ordenados , que os Miniſtros ; e Manſionarios


da Sacrofanta Igreja Patriarcal de Lisboa rea .
cebem cada anno .
Num ,
72A cada Illuftrif. e Rever. Monſ. 1 :600 Uooo
1 :000Uooo
20 | A cada Reverendo Conego
12 A
190 Mappa de Portugal .

12 A cada Reverendo Beneficiado 700 Uooo


32 A cada Reverendo Beneficiado Fooooo
32 A cada Rever . Clerigo Beneficiado 250Uooo
2 A cada Mettre de Ceremonias 110Uooo
3 A cada Meſtre de Ceremonias 100Uooo
A cada Meſtre de Cerem . da Bafil.
71 A cada Acolyto da Capella mór SoUooo

Capellães Cantores.
17 | A cada hum ISOUooo
1 A hum 280 Uooo
2 A cada hum 260 Uooo
I A hum 250Uooo
I ! A hum 170Uooo
3 A cada hum 1 20 Uooo
4 A cada hum 100Uooo
i A hum P. Theſoureiro do theſour. 150Uooo
I A outro 130 Uooo
2 ! A cada Theroureiro da Sacriſtia ILOU.oo
il Ao Theſoureiro da cera 140 Uooo
20 A cada Sacrifta 740400

Capellães, que dizem as Miſas das Capllas antigas.

1 Pelo Senhor Rey D. Manoel 44U640


I Pela Rainha Dona Maria
meſma
eſmola

1 Por ElRcy D. Joab III .


1 Pelo Cardeal D. Henrique
Da.

1 Pelo Principe D. Joao


1 Pela Princeza Dona Joanna
1 Por ElRey D. Joao IV .
i Pela Rainha Dona Catharina
1 Pela Rainha Dona Anna de Auſtria -
Por ElRey D. Sebaſtiao isson
2 Pelos Anjos
UAS. Sebaſtiao
3 Por tençao
i Pelas Almas 54U800
Can
Da Cidade de Lisboa . 191

Cantores Italianos , e Portuguezes.

IT A hum 892U800
6 A cada hum 720Uooo
I A hum 660 Uooo
16 A cada hum 600Uooo
3 ! A cada hum 540Uooo
17 A cada hum 480U00Q
1 A hum
444U0oo
3 A cada bum 3040000
2 A cada hum 300 Uooo
3 A cada hum 240Uooo
3 A cada hum 192U000
3 A cada hum 18oUdoo
A hum 160Uooo
SA cada hum IgoUooo
I A hum 100 Uooo
A hum 840000
3 A cada hum dos Cantores antigos 100U000
I A hum S4Uooo
4 A cada Organiſta 130 Uooo
1 | Ao Compolitor da ſolfa Italiana f 18oUooo

Oficiaes ſeculares.

1 Ao Porteiro do Excel . Collegio I20Uooo


2 A cada Cuftodio dos A polent. 40 Uooo
4 A cada Cuftodio da Baſilica 60Uooo
12 A cada Mafleiro 30 Uooo
4 A cada Curſor 20 Uooo
61 A cada Varredor 44U640
2. A cada Faquino 74U400
Ao Ourives 6400ooo
Ao Armador 9.15 2400000
1 A outro Armador 172 Uooo
1 A Capelleira U480

2. Aos.
192 Mappa de Portugal.

2 Aos Sineiros 100 Uooo


Com varios repiques zooU000
i Affinador dos orgãos 20 Uooo
Elcritor, Miniator , e Eſtampador 600 Uooo

Varias deſpezas.

12 ] A cada Confeffor roUooo


42 A cada huma das Religiões , que
coſtumaó vir pregar 24Uooo
Com cera 6 : 200 Uooo
Com a pintura da cera 210Uooo
Com Prociſsões , bancos , e lim
peza da Igreja Uooo
2 :000
Com a limpeza , e concerto da
prata 250Uooo
Lavagem , e encreſpad . da roupa 392 Uooo
Concertos de roupa branca I 20 Uooo

Azeite para 45 alampadas soo Uooo


Vinho para as Miffas ISOUooo
Hoftias 24U000
Incenſo 24 Uooo
Carvao 20 Uoop
Palmas 600Uooo
Folhinhas de reza 480000
Trezena de Santo Antonio 70 UoOo
Pannos verdes , e encarnados 60Uoop
Com armações da Igreja cinco
vezes no anno , por cada vez
26 U00o ; e quando ſe arma a
eſcada , ſe dá mais 6 U00o ; e
pela arm . do pateo 100U000
importa tudo cada anno 236Uooo
Com o Seminario 1 :800 Uooo
Com deſpezas incertas 1.800Uooo

57 Fal
Da Cidade de Lisboa. 193

57 Faltava ao material da Igreja a fagrada fa


brica de hum edificio competente , que mereceſſe
no magnifico o nome de Baſílica , e Templo Regio
Patriarcal. Preoccupado o zelo delRey com eſte fan
tiſſimo penſamento , mandou chamar à ſua Real
preſença em 7 de Fevereiro de 1719 alguns Fidal
gos , Miniſtros, e Medicos pelo que tocava à elei
çao de hum ſitio ſaudavel, e Arquitectos, que diri
giflem a projecçao da grande obra , que intentava.
58 Havia s . Magettade examinado do mar ,
dos lugares mais eminentes os ſitios , que podiao en
trar em queftao em toda a agradavel perſpectiva da
ſua grande Cidade , tendo mandado tirar huma plan
ta exacta de Lisboa , e reduzindo toda a duvida à
queſtao de haver de edificarſe a Igreja Patriarcal ,
e novo Palacio no lugar , em que hoje eſtavao , ou
no ſitio chamado Buenos Aires na parte da Cidade
eminence à ribeira de Alcantara .
se OsMedicos affentaraó uniformemente , que
o lítio , em que eſtava hoje o Palacio e , a Santa
Igreja , nað era o que a arte , que profeſſavaó , de
via eſcolher por favoravel à faude , porque o mon
te do Caſtello , e os edificios alios da Cidade The
embaraçavao o Norte , e os ventos mais benignos :
que todos os outros participavao de vapores impu
ros , e efte damno ſe accreſcentava com o das aguas
detidas , e das meſmas prayas , e marezia de que
reſultava a humidade , e quentura nociva à ſaude ,
e que ainda, que o nao julgavao peftilente , reco
nheciao em Buenos Aires todas as vantagens , que a
Filoſofia natural, e a Medicina procuravam no caſo
propoſto .
60 Os mais votos ſe dividirao ; porque os Mar
quezes de Abrantes , e Minas , o Conde de Alu
mar , o Padre D. Manoel Caetano de Souſa , Monſ.
Berger ſe inclinavao a edificar no terreiro do Paço .
O Marquez de Alegrete , os Condes de Aveiras ,
Unha ) , Ericeira , Valladares , S. Lourenço , e
Tom.IIl . Part. v . Bb Fe
194 Mappa de Portugal
.

Federico foraó de parecer , que fe preferiſfe Bue


nos Aires , e D. Filippe Ibarra , principal Arquite
cto Siciliano , nao declarou o ſeu voto. Com eſta
diverſidade de pareceres ficou indeciſo o projecto ,
contentando- ſe ElRey de que ſuppoſto à maneira
de David nað edificará na ſua Corte fumptuoſo Tem
plo a Deos , como'emprendera , deixava ao menos
as riquezas , para que ſeu filho imitando a Salama
o edificafie.
61 Deſta forte aproveitando - ſe do antigo Tem
plo da ſua Real Capella , e vendo que Deos aceita
va em toda a parte as adorações , e os holocauſtos ,
melhorando , e accreſcentando em algumas partes a
fabrica do edificio quanto foy poſſivel , intentou a
fagraçao da Igreja com o novo titulo de Salvador
do Mundo , é Noſſa Senhora da Aſſumpçao . Para
iſſo decretou o dia 13 de Novembro de 1746 , em
que o Eminentiffimo , e Reverendiſſimo Cardeal Pa
triarca D. Thomás de Almeida com todas as cere
monias , que manda o Pontifical Romano , e com
maravilhoſo , e grave deſembaraço ſagrou a Igreja ,
e o Altar mór da Sacrofanta Igreja Patriarcal , on
de collocou as Reliquias dos Apoſtolos S. Pedro , e
S. Paulo , Santiago Mayor , e S. Thomé .
62 Na ſegunda feira ſeguinte , que ſe contavao
14 do dito mez , e anno , o Arcebiſpo de Lacede
monia D.Jofeph Dantas Barboſa fagrou o Altar do
Santiflimo Sacramento dedicado à Santiſfima Trin
dade , e collocou nelle as Reliquias dos Apoftolos
Santo André , e Santiago Menor.
63 Na terça feira lagrou o Altar dedicado à Sa
grada Familia o Biſpo , que tinha ſido do Rio de
Janeiro D. Fr. Joao da Cruz , da Ordem dos Car
melicas Deſcalços , e lhe collocou as Reliquias dos
Apoftolos S. Filippe , e S. Bartholomeu .
64. Na quarta feira o Alcar dedicado a S. Tho
mé, e mais Apoftolos ſagrou o Biſpo de S. Thome
D. Fr. Luiz das Chagas", da Ordem dos Eremitas
Dets
Da Cidade de Lisboa. 195

Deſcalços de Santo Agoſtinho , le lhe collocou as


Reliquias de S. Mattheus Evangelifta , e S. Barna
bé.Apoſtolo .
... os Na quinta feira os Altares dedicados o pri
meiro aos Apoftolos, S. Pedro , e S. Paulo , Procel
do , e Martiniano ; c o ſegundo 2os Santos Martyres
Vicente , e Sebaſtiað , e S. Roque , ſagrou o Biſpo
de Angola D. Fr. Manoel de Santa Ignez , da Or
dem dos Carmelitas Descalços , e collocou no pri
meiro as Reliquias de S. Braz , e S. Januario Mar
tyres , e no ſegundo as de S. Lourenço , e S. Sebaf
ciao Martyrcs. :)
66. Na fexta feira os Altares dedicados o pri
meiro a Santo Antonio , e o ſegundo a S. Carlos, c
e S ,Filippe Neri, ſagrou o Biſpo do Maranhao D.
Fr. Franciſco de Santiago , da Provincia de S. Fran
ciſco da Cidade ., ee collocou ; no primeiro as Reli
quias de S. Ganuto e Santo Thomas de Cantuaria
Martyr , e no ſegundo as de Santo Eftevao Proto ,
martyr , e S. Venancio Martyr .
4.67 No ſabbado os Altares dedicados o primeiro
a Santa Iſabel , S. Bento , S. Bernardo , s . Franciſ
co ; S. Domingos , Santa Tereſat, Santa Sancha ,
Santa Joanna ; e o ſegundo a S. Franciſco Xavier ,
S. Franciſco de Borja , é Santo Ignacio , ſagrou o
Biſpo de Malaca D. Fr. Miguel de Bulhões ,da Or
dem de S. Domingos , e collocou no primeiro as
Reliquias de S.Wenceslao, e S. Hermenegildo Mar
tyres , e no ſegundo as de Sanco Euſtaquio , e S. Pe
dro Martyres .
**: 68 No Domingo finalmente , que ſe contavao
* 120 de Novembro do fobredito anno , o Altar dedi
cado a Noſſa Senhora da Piedade ſagrou o Biſpo de
Coimbra D. Miguel da Annunciaçao , da Congre
gaçao dos : Conegos Regrantes de Santa Cruz de
Coimbra , se dhe collocou as Reliquias dos Santos
Innocentes , e S. Vito Martyres,
1.60 Copo o Fidelišimo Rey D. Joao V. era tab
Bb ii zes
196 Mappa de Portugal.

zelofo , è pontual na obſervancia da liturgia , ou fer


viço Divino , quiz que na fua Real Capella ſe exe
cutafſem todas as funções Ecclefiafticas com a ma
yor exacçao , decoro , e refpeito . Naquellas , em
que elle publicamente affittia , chamadas Capellas
Patriarcaes , que juntamente vem a ſer funções da
Capella Real, ſe faziao por hum de tres modos : gu
celebrando o Patriarca , ou affiſtindo ſomente , ou
nao affiſtindo , e de qualquer modo , occorrendo os
dias determinados de Capella , ſempre Sua Magef
tade deſcia a ella , uſando fe diverſas formalidades
nas ceremonias , conforme os dias ; e porque o rito
he hoje o meſmo , diremos brevemente o que cons
duz , e pertence a cada funçao ...
2.70 Sempre que Sua Mageftade deſce à Capel
la , he recebido por todas as Jerarquias dos feus Mi
niftros à porta della ; e achando-ſe preſente o Pa
triarca , The pertence como Capellañ mór , lançar
agua benta a todas as peſſoas Reaes ; e quando nao
eſtá preſente o Patriarca , faz eſta acçao ou o Deab ,
ou outro , que ſeja o mais antigo dos Principaes.
Logo que entra na Capella , ou le ręcolhe della pa .
ja o Paço , váy fazer oraçao ao Altar do Sacramen
.to , acompanhando- o ſempre a Corte , e todas as
Ordens de Prelatura , os Principaes , e ainda o Par
triarca .
71 Em dia de Reys celebra a Mida o Deao ; e
eſtando eſte impedido ", o Principal ſeu immediato .
O Patriarca ſó coftuma affiftir , e neſte caſo , aca
bado o Evangelho , vay o Subdiacono da Mića dar
a beijar o Texto ao Patriarca , e logo deſcendo com
o livro ao plano , troca aquelle com outro livro
tambem dos Evangelhos , que immediatamente vay
offerecer aberto a ElRey para ofcular o Texto , e
ſucceſſivamente faz o meſmo aos Senhores infantes.
20:72 . Ao Offertorio - entrao ' na Quadratura o Re
pofteiro mór , ' o Guarda -Tapeçaria para lhe dar a
almofada delRey , chum Moçó da Tapeçaria com
ella
Da Cidade de Lisboa . 197

ella debaixo do braço . O Eſmoler mór feguido de


tres. Moços da Camara fem eſpada com as offertas
em pracos , e vaſos dourados , e fazendo todos as de
vidas reverencias ,, te aviſinhao ao throno do Patris
arca . Ao meſmo tempo chegao tambem ao de El
Rey o Mordomo mór , o Capitao da Guarda Real ,
e os Camariſtas de todas as peſſoas Reaes . Entao ſe
levanta ElRey , e ſeguido dos Senhores Infantes
deſce ao plano , ajoelha ao Altar , reverencea ao Pa
criarca , ( o qual para lhe correſponder ſe levanta ,
masetorna- ſe logo a aſſentar ) e ajoelhando ſobre a
almofada , que já tem poſto o Repoſteiro mór , re
cebe do Eſmoler mór, que tambem eſtá de joelhos ,
os tres vaſos deſcubertos , e os offerece ao Patriar
ca ; o que feito , ſe retira ao ſeu chrono , e todos os
mais fazem o meſmo .
73. Acabada a incenfaçaõ do Altar , vem o Diaco
no da Milla , depois de ser incenſado ao Celebran ,
te , diante do Patriarca, e entrega o thuribulo ao
Principal Presbytero alliſtence , o qual acabando de
incenſar o Patriarca , continúa a incenſar a ElRey ,
e mais Peffoas Reacs. Depois incenſa o Diacono aos
Principaes do throno Patriarcal , aos da Quadratu .
ra , aos Prelados micrados afliktentes , e nao affiften
tes., Profonotarios , a Corte de ElRey , e depois
della aos mais Prelados Subdiaconos, e Acolytos,
. 7461 O meſmo fobredito Presbytero aſiſtente de
pois doy Agnus Dei svay ao Altar receber a Paz do
Celebrante , ea vem dar ao Batriarca , a ElRey , le
aos Senhores Infantes , e ſe recolhe ao ſeu lugar da
Quadratura , onde o eſtá eſperando o Presbytero af
Gitente do Celebrante , o qual recebe delle a Paz
para a communicar aos mais Principaes , e Prolados
mitrados ; e depois de a ter dado a eltes , a commu
nica ao Meſtre de Ceremonias , e eſte a vay dar aos
Protonotarios , à Corte delRey , e às mais Ordens de
Prelaturas, os
" ToQuando o Patriarca nað aNiſte be a primeir
ra
198 Mappa de Portugal .

Ta Dignidade dos Principaes .o que dá o livro dos


Evangelhos a EIRcy para o oſcular , e tambem he
o que o incenſa , e lhe dá a Paz . As offertas no cal
caſo lao recebidas pelo Gelebrante apud Altare , ef
tando em pé com as coſtas para a Cruz , e fem mi
tra ; e EIRey ajoelha no primeiro degráo ſobre al
mofada pofta pelo Repofteiro mór. Quando El Rey
nað afliite , he o Eſmoler mór o que dá eftas offer
tas ao Patriarca ; e ſe tambem eſte nao eftá preſen
te , as recebe do meſmo Eſmoler mór o Celebrante ,
eſtando ainda no Altar ſentado no faldiftorio , e cu
berto de mitra . 1
76 No dia das Candeas naó celebra o Patriarca ,
mas faz a bençao , e diſtribuiçaõ das vélas , e ElRey
vay receber a fua ao throno do Patriarca , depois os
Senhores Infantes , os Principaes , os Prelados mi
wados , Penitencieiros , ( por eſtarem paramenta
dos ) Protonotarios , a Corte delRey , os Subdiaco
nos Patriarcaes , e todos os mais pela ſua ordem cof
tumada ; porém quando o Patriarca nao faz eſta ac
çao , vay Sua Mageftade ao Altar receber a véla da
mao do Celebrante , o qual lha dá eſtando em pé ,
e fem mitra ; e ou aſſiſta', ou nað aflifta o Patriar
ca , ſempre ElRey acompanha a Prociſlao , ſeguin
do - o a ſua Corte , Iſto meſmo ſe obferva em Do
mingo de Ramos .
77 Em quarta feira de Cinza faz o Patriarca a
bençaó , e impofiçaõ da cinza , e afliſte à Miſa Et
Rey com os Senhores Infantes , que vaó recebella
depois dos Principaes ; e quando o Patriarca nao af
fifte , vað ao Altar recebella da mao do Celebran
te .
78 Na manhã de Quinta feira Santa defce Sua
Mageftade muito cedo particularmente com os Se
nhores Infantes à Capella do Sacramento para rece
ber da maõ do Cura a Communhàő por defóbriga
çao Paſcal ; mas volta logo para cima a eſperar o
tempo de deſcet publicamente paia aftfftir à Milla
fo
Da Cidade de Lisboi . 1.99

folemne , no fim da qual acompanha Sua Magel


tade a Procitao do Sacramento até o Sepulcro com
cirio que lhe dá acezo o Mordomo mór : o que feia
to com o coſtumado cortejo , ſe recolhe ao Paço ,
onde immediatamente com as coſtumadas ceremo .
nias lava os pés a treze Pobres , dando - lhe hum er
plendido jantar , que conſta de varias iguarias expor
tas em meza magnifica ; e a meſma funçao faz a Rai
nha no ſeu quarto .
79 Nos dias em que coſtuma celebrar o Patriar
ca he hum dos Principaes da Ordem Diaconal o
Diacono da Miſa , e a elle coca o incenſar'a El.
Rey , e por iſſo depois que ao Offertorio incenſa
o Patriarca , vay diante de ElRey , eo incenſa com
tres ductos , e da meſma forte aos Senhores Infan
tes. Volta para o Altar , e incenſa ao Deao , que
ferve de Presbytero affiftente daMiffa , e ſubſequen
temente aos dous . Principaes Diaconos affiftentes do
Patriarca . Depois deſce à Quadratura a incenfar os
Principaes , e torna ao Altar e incenſa os Prela
dos mitrados affiftentes canto de huma parte , como :
da outra , e logo larga o thuribulo a hum Subdiaco
no Parriarcal ,e eite o incenſa com dous ductos , e
pala a incenſar com hum aos Prelados mitrados nað
aſſiſtentes , aos Penitencieiros , Protonorarios, Cor
te de ElRey , e às mais ordens de Prelatura . Ao
tempo da Paz vay o Deao para o lado da Epiftola ,
e recebendo - a do Patriarca , a vay dar a ElRey , ee
aos Senhores Infantes , Deice à Quadratura , e de
pois de a ter communicado aos tres cabeças das Ora
dens das Principaes , torna ao Presbyterio , onde faz
o meſmo ao primeiro Prelado mitrado affiſtente de
cada parte : ultimamente a communica a hum Sub
diacono Patriarcal , que a vay diſtribuir a todos os
mais com a meſma preferencia, que diffemos do in
cenſo .
80 Em fexta feira fan ta nao coſtuma celebrar o
Patriarca , mas ſó afiftir. O throno delRey nao tem
nefer
200 Mappa de Portugal.

neſſe dia eſpaldar , nem docel , nem cubertura os


degráos : as cadeiras , e almofadas faó de cor roxa ,
e fem ouro . EIRey , e Suas Altezas vao adorar a
Cruz depois dos Principaes , c'nefle meſmo tempo ,
o Eſmoler mór lança no prato a coftumada offerta ,
ou elmola...
81 No dia do Corpo de Deos deſce ElRey à
Capella com manto da Ordem de Chriſto para pe
gar na vara do Pallio , o que faz à porta della , re
cebendo - a da maó do Mordomo mór . A ' fahida do
pateo larga a vara , e acompanha a Prociffaó atraz
do Sacramento , e ao recolherſe torna a pegar na
vara do Pallio à entrada do paceo , e a leva até os
cancellos do Altar mór. No dia oitavo de tarde
que he a ſolemnidade do Corpo de Deos da Caſa ,
vem ElRey aflittir à Prociflað , e pega na vara do
Pallio à ſahida da porta da Capella , e a leva até o
fim da Prociffaó . Em dia da Conceicao da Senho
ra aſliite tambem ElRey à Miffa , ou a celébre o
Patriarca , ou algum dos Principaes, e ao Offertorio
vay offerecer o tributo do Reino com aquella for
malidade , que em outras occaſiões referimos acima.
82 Com eſta magnificencia , e rito concorre El
Rey às funções na ſua Real Capella , e Igreja Pa-,
triarcal , onde todas as ceremonias Eccleſiaſticas
cocantes ao culto Divino ſe executao com huma
pompofa exacçao , e admiravel reſpeito , applaudi
do até dos meſmos eſtrangeiros , os quaes confeſſao
eltar fincopada neſta Igreja , com emulaçað virtuo
fa , a gravidade , o eſplendor , e o decoro da meſma
Capella Pontificia de Roma.
83 Neſta conformidade ſe achava a liturgia na
Santa Igreja Patriarcal de Lisboa , quando impen
ſadamente ſobrevindo o tragico accidente do terre
moto em o primeiro de Novembro , ſeus Miniftros,
que eſtavaó acabando de rezar Terça para ſe comes
çar a Miffa , ſe virao fummamente perplexos , acto
nicos , e afflictos.
84 Ders
Da Cidade de Lisbon. 201

84 Deſampararaó com preſteza o Coro , que era


po meyo da Igreja , procurando cada hum em con .
fufa deſordem cícapar de tað proxima ruina , ameae
çada por hum violento 9 e continuado tremor , que
fazia horroroſamente abalar todo o edificio . Taes
houve naquelle ſubitaneo conflicto , que ſofregos
do ſeu damno , achando as paſſagens entupidas com
o túmulto da gente , querendo fugir à morte , pre
tenderao anticipalla , lançando -ſe inconſideradamen
te das janellas ao patco chamado da Capella , onde
poſto que livraraó a vida , ficarað todavia eſtropea
dos .
85 Nova conſternaçao occupou naquelle tranſe
o animo dos Excellentiſſimos Principaes ; porque
achando - ſe em ſeus cubiculos quaſi promptos para
entrarem à Capella mór , nao podiao buſcar o def
vio opportuno , por ſe acharem fechadas as portas
dos corredores. Conſtrangidos da neceſſidade , pre
feriao ao conſelho proprio o alheyo , mas com hu
ma conttancia chriitā pedia ) a Deos miſericordia ;'
até que abrindo - ſe huma porta cuidou cada qual ef
capar do perigo por onde o quiz favorecer o ſeu
deſtino ; menos o do Excellentiffimo Principal D.
Franciſco de Noronha , filho dos Marquezes de An
geja , que dirigindo apreſadamente os pafios pelo
corredor , que hia dar à ſala dos Tudeſcos , alli ex
perimentou na flor da idade o cruel incidente da
morte intempeftiva ; porque deſabando de improvi
fo a varanda ſobranceira ao Corpo da Guarda , cahio
ſubmergido entre as ruinas ; fervindo - lhe de morta
Tha a meſma purpura , que era a ſegunda vez com
que ſe ornara , por haver ſido modernamente exal
tado deſde a nobiliffima jerarquia dos Conegos ao
facro Collegio dos Principaes.
· 86 Ao terremoto ſuccedco o incendio , que de
yorou irreparavelmente toda a grande opulencia da
quelle Templo : Nefta confuſao , e deſamparo , der
rubadas as pedras do Santuario , e diſperſos os ſeus
á ww Tom.Ill . Part.V. Сс Mi.
202 Mappa de Portugal.

Miniſtros , faltou por alguns dias a harmonia nos


miniſterios , por ſe nað haver aſſinalado lugar com
modo , e conveniente ao ſeu exercicio .
87 Soube o Eminentiſſimo Prelado , que a Er-,
mida de S. Joaquim , e Santa Anna , contigua ao pa
lacio do Marquez de Abrantes em o firio de Alcan
tara , havia ficado iſenta de ruinas , e alli ordenou
fe collocaſſe interinamente a Bafilica Patriarcal , on
de ſe deu principio aos Officios Divinos com as pri
meiras Veſperas da Conceiçaõ da Senhora , allittin.
do igualmente divididos por turmas , ſegundo a pol
fibilidade dos Miniftros, Principaes , Monſenho
res , Conegos , Beneficiados , e Capellães Canto
res .
88 Aſim ſe foy continuando até dia de S. Tho- ,
mé , em o qual eſtando - ſe rezando Matinas ſuccedeo
hum grande tremor , que metendo em ſulto a todos
pela experiencia da tragedia recentemente paſſada ,
os obrigou a fahir com impeto para a rua : e ſem
embargo de nao cauſar o tremor alguma ruina à di
ta Ermida , ſe reſolveo erigir promptamente hum ,
Altar dentro no jardim do meſmo Marquez , onde
ſe foraó concluir os Officios Divinos no meſmo dia ,
e ſe continuaraó nos dous ſeguiores. Depois com tam
boado , e lonas ſe formou huma barraca em o terre
no mais plano do jardim , na qual deſde 24 de De
zembro le começou a officiar , ſervindo de Sacriftia
a da meſma Ermida .
89 Como para a grandeza de tað Regia Metro
poli era preciſo hum terreno mais amplo , e deſafo
gado , lembrou à vigilancia do Eminentiflimo Pa
triarca , e Excellentiſſimos Principacs aproveitarſe,
do grande edificio , que no filio da Cotovia havia
principiado o Conde de Tarouca , o qual tendo tre
zentos e vinte e ſeis palmos em quadro , era de huma
àrea capaciſſima para comprehender náo ſó a Igre
ja , mas todas as ſuas officinas adjacentes .
→ 90 Eſcolhido o ſitio , ſe começou a projecçao .
da
Da Cidade de Lisboa. 203

da nova fabrica , 'edificando - ſe as paredes interiores


de frontal ; e naquella parte que havia de ſervir pan
ra caſa de paramentos de Sua Eminencia , por ſe ha
ver acabado mais promptamente , le levantou hum
Alcar , no qual feita a ceremonia da bençaó por
Monſenhor Perim em 16 de Junho de 1756 , em.cu
jo dia ſe principiarað alli os Oficios Divinos , e con
tinuaraó até 8 de Junho de 1757 , no qual conclui
da a nova Igreja , e a ceremonia da bençao por Mon
ſenhor Bernardes , Preſidente da turma, diſſe no ſen
Alcar mór a primeira Miffa rezada por Monſenhor
Guimarães.
91 Conſta eſta nova Igreja Patriarcal de tres
naves ; a primeira de quarenta palmos de largo , e
cada huma das duas de dezoito . Tem de comprido
cento ſerenta e hum palmos até a Capella mór, ecf
ta onde eſtá a Quadratura dos Principaes , 'tem de
Jargo cincoenta palmos , e noventa de comprido . O
1 feu Cruzeiro , que he fummamente alegre , fórma a
figura , ou zimborio oitavado com oitenta palmos
de largura. Nelle ha duas Capellas , que proporcio
nao a Cruz da Igreja , cada huma com quarenta pal
mos de largo , e refienta e cinco de fundo . Serve a
da parte do Evangelho para depoſito do Santillimo ,
e a da Epiſtola he dedicada á fagrada, e devota Ima
gem de Noſſa Senhora da Piedade. No meyo da
Igreja ha mais duas Capellas fundas ; huma quc fi
ca para a parte da Epiftola , e tem quarenta palmos
de largo , e noventa e hum de comprido , e ſerve de
Baſilica ; e a que lhe correſponde tem trinta e ſeis
de largo , e ſefienta e cinco de comprido. Conſta
mais a Igreja de quatro Capellas pequenas de cada
lado , que ao todo fazem treze Alcares , além do
que eſtá na Sacriſtia ; e outro na Capella interior
dos Monſenhores..
92 Fizeraó - ſe cambem vinte e quatro cubiculos
para os Excellentiſſimos Principaes; caſas de para .
mentos para o Eminentiſſimo Patriarca , caſas de fa
Сс іі bri
204 Mappa de Portugal.

brica , da Congregaçað , de theſouro , de armarios ,


e para outras officinas preciſas. Fizerað. ſe tres co
retos para Muſica ; huma tribuna para as Magefta
des , outra para as Damas ; e ſobre o portico , ou
atrio da Igreja , que conſta de trinta e ſeis palmos
de largo , e noventa de comprido , há outra tribu
na , que occupa o meſmo eſpaço , a qual ſerve pa
ra verem della as Mageſtades as funções da Igreja ,
e a Prociſfaó de Corpus Chriſti . Em o angulo da
parte do Naſcente , e dentro do recinto , ha de fi
car a torré , que conſtará de duas ordens de finei
ras , e no alco dellas , para firmeza da meſma torre ,
o fino grande , que eſcapou da ruina ſó com a perda
de huma aza .
93 Reduzida a eſte eſtado o mais commodo
que foy poſſivel, na occaſiao preſente a magnificen
cia da Santa Igreja Patriarcal , obſerva com tudo
exactamente a formalidade da fua liturgia do meſmo
modo , que antes do terremoto ; excepto a forma da
reſidencia nos Miniſtros da Bafilica ; porque atten
dendo à ſua poſſibilidade , permittio o Eminentiffi
mo Prelado , como conſentimento Regio , ſe divi :
diffem por turmas na conjunctura preſente.

$. VII .

Igrejas Paroquiaes dentro da Cidade.

I Uma das partes integrantes , que contri


HE bue nao pouco a ennobrecer a Hiſtoria
Ecclefiaftica de qualquer Dioceſe , he a noticia das
ſuas Igrejas Paroquiaes ; por cuja cauſa exhibimos
agora por ordem alfabetica , ſegundo o noſſo efty
lo a ſerie de todas as que exiſtem dentro cm Lil
boa , com a mais verdadeira , e antiga inſtituiçao ,
que podemos indagar de cadá huma ...
2 Deſte modo reproduzimos naó ſó as memorias
do eſtado , em que ſe achayao antes que o commum
ins
Da Cidade de Lisboa . 205

infortunio do terremoto fizefíe conſumir muitos dos


ſcus documentos ; mas accreſcentamos a circunf .
tancia das que padecerao ruina , e perda em tao
grande fatalidade , mencionando tambem o eſtado ,
que actualmente conſervao , com os mais Templos
adjacentes dentro dos ſeus limites.

5 I..

Noſa Senbora da Ajuda.

3 Onliderada preſentemente a vaſta extenſao


de Lisboa , já eſta Freguezia nað he repu
tada ſuburbana , mas antes ſe julga , incluſa dentro
dos limites da Cidade , por cuja cauſa na folemniſ
fima Pracifſao do Corpo de Deos ſe manda concor
rer , e emparelhar a ſua Cruz com as outras da Cor
te , nao obſtante afaſtarſe do centro , e coraçao del
la huma legoa para o Poente na eminencia de hum
ficio aprafivel .
4 Nao ha no Cartorio deſta Igreja noticia da
ſua primeira origem , porque os mais antigos livros
dos affentos dos bautizados diſcorrem deſde o anno
de 1592 , e já no de 1587 havia nella Irmandades ,
como bem ſe collige de huns paineis de azulejo , que
ainda permanecem nas paredes da Igreja , onde ſe
declara ſerem feitos no dito anno , e pertencerem
bum à Irmandade de S. Vicente , outro à do Santo
Nome de Jeſus , outro à da Senhora da Ajuda ; e a
meſma inferencia de antiguidade ſe pode fazer por
algumas antigas ſepulturas , que aqui ſe conſerva ) .
S: No. alpendre da Igreja , defronte da porta
principal , eſtá hum monumento de pedra aptiquil
limo metido no vao da parede com ſuas columnas ,
e por detraz da dita ſepultura fórma hum painel de
marmore , em que ſe ve gravado hum elmo , e hu .
ma eſpada com as letras aberras na meſma Japida ,
que dizem: Já.fuy home , hoje.Jaa terra . 3
6 Quan
206 Mappa de Portugal.

6 Quando em 20 de Agoſto de 1663. ſe tiraraó


deſta Igreja as campas de pedra para ſe porem ou
tras de caboas , o Padre Clemente de Seixas , Ca
pella de Noſſa Senhora , teve a curioſidade louva
vel de copiar em hum livro de quarto , que ſe con
ſerva ainda no Cartorio , os letreiros , que eſtavao
eſculpidos nas dicas campas, onde entre outros te lê
hum de huma ſepultura , que eftava no alpendre
deſta Igreja , e dizia : Sepultura de Capita7 Bartbolo
meu Ferraz de Andrade , Coronel que foy no Reino de
Infantaria do eſclarecido Rey D. Joao III., e de Iſabel
de Oliveira ſua mulher , e de ſeus deſcendentes, é berdej
ros. ISSO .
S7 Em humas memorias m . ſ. que vimos do Dea
ſembargador Franciſco Monteiro Leiria , extrahidas
do Cartorio do Senado de Lisboa , donde era Verea
dor , encontrámos huma celebre petiçaõ feita ao Ca
bido de Lisboa aos 8 de Março de 1950 , que de
clara , e ſerve muito ao intento , che do tcor ſeguin
te : Diz Bartholomeu Ferraz de Andrade , Coronel nef
tes Reinos de Portugal, que elle tinha vivido neſte muna
do mais do que eſperava viver , no qual tempo que alim
viveo , correo grande parte delle trabalhando por ganbar
bonra , e fama de ſuas obras , por ficar delle memoria aos
que delle deſcendeſem : e como quer que ſempre foy ajuda
do do Senhor Deos , e da Virgem Maria fua Madre ;
queria ordenar a caſa, e morada donde havia morar pa
ra ſempre , & c. O deſpacho do Cabido foy : Que
havendo reſpeito à ſua muita nobreza , e virtude lhe
dá o jazigo dos alpendres de Noſſa Senhora da Aju
da .
8 Do referido ſe collige bem a antiguidade da
Igreja ; porém quanto à dignidade Paroquial, ſup :
pomos que ſeria erecta pouco depois do anno de
I551 ; porque neſte tempo , em que imprimio Chri
tovao Rodrigues de Oliveira o Summario das cou
ſas de Lisboa , ainda lhe nað dava o titulo de Paro
quia , mas ſó de Ermida annexa à Sé.
DO
Da Cidade de Lisboa . 207

O Paroco teve o titulo de Cura , hoje logra


o predicamento de Reitor , e o aprelenta como Do->
natario o Eminentiffimo Cardeal Patriarca. Tem de
rendimento certo hum moyo de trigo , hum quarto
de vinho , .e cinco mil reis em dinheiro cada anno .
O incerto he o chamado pé de Altar , que unido
tudo renderá quatrocentos mil reis . Satisfaz- ſe o
rendimento cerco por ordem dos Reverendos Coo
negos Camararios da Baſilica de Santa Maria , que
ſao os Fabricanos deſta Igreja , por perceberem par- ,
te dos dizimos da Freguezia.
10 Ha na Igreja cinco . Capellanias : huma da
Irmandade de Noſſa Senhora da Ajuda em Domin
gos , e dias Santos com a congrua de trinta mil
reis : outra da meſma Irmandade inſtituida por D
mingos da Coſta Belem de Miffa quotidiana com
feffenta mil reis. As tres faó da Irmandade das Al
mas , de eſmola cada huma de reflenta mil reis . Tem
mais a Irmandade do Santiffimo , e quaſi extinctas a
do Menino Jeſus , e a de Santo Antonio .
1 Comprehendem - ſe nefta Freguezia os ſitios
de Alcantara , a quem fertiliza a ſua ribeira , Alco
lena, Santo Amaro , Noſſa Senhora da Ajuda , Be
lem , chamado antigamente o Surgidouro de Raſtel
lo , Bom -Succeſſo , Cazellas , Junqueira , Monſan
to , Oliveiras , Pedrouços , Pimenteira . É como ha
notavel diſtancia de huns a outros , rem efta Paro-
quia diſtribuido , e deſtinado com piedoſa providen
cia tres Depoſitos , ou Sacrarios , para ſe adminiſa .
trarem os Sacramentos aos freguezes mais commo
da , e promptamente. Hum eſtá na Igreja Ma
triz , outro no Real Convento de Belem , outro no
Moſteiro das Flamengas de Alcantarà ; de cujos
Sacrarios ſe tem já ſacramentado algumas peſſoas
Reaes , como forao o Senhor Rey D. Pedro II. no
anno de 1706 , a Senhora Infanta D. Maria Anna
em 27 de Julho de 1752 a Sereniflima Rainha D.
. ‫ܕ‬
Maria Anna de Auſtria em 24 de Julho de 1754 , c
ul.
208
Mappa de Portugal."

ultimamente o Sereniflimo Infante D. Antonio , que


em 20 de Outubro de 1757 faleceo na quinta da
Tapada com grande ſaudade de todos.
12 Como pelo terremoto paſſado nao padecerle
eftà Igreja ruina alguma, e Sua Mageftade Fideliſ
fima deſejafſe ter junto à fua Real Peffoa a conſo
laçao eſpiritual dos Officios Divinos ; mandou que
por Miniſtros da Santa Igreja Patriarcal ſe déffe
principio à elles neſta Paroquial de Noſſa Senhora
da Ajuda em Veſpera da Conceicao da Virgem , do
meſmo anno de 1755 .
: 13 No dia ſeguinte deſceo ElRey à Igreja com
toda a Corte , afliitindo a Rainha , Princeza , e In
fantas no Coro alco da mefma Igreja como em tri
buna . Succedeo na manhã deſte meſmo dia ao tem
po da Miffa hum tremor da terra , que fez aſſuſtar
grandemence a todos os circunſtantes , de que pro.
cedeo mandar ElRey , que ſe abbrevialle a conſtruc
çao da ſumptuoſa Barraca , ou Caſa de campo Re
gia de madeira , a qual ſe andava fazendo junto def
ta Paroquia para habicaçao interina das Mageftades,
14 Concluido com toda a diligencia eſte novo ,
e eſpaçoſo apofenco , ſe transferirao para elle as Ma
geſtades Fideliſſimas, e mais Peſſoas Reaes deſde as
magnificas tendas de campanha , que havia) manda
do armar por occaſia) do grande terremoto doipri
meiro de Novembro em huma das ſuas quincas de
Belem , onde refidiao . A primeira funçað , que ſe
celebrou neſta nova , e Regia morada , forao as pria,
meiras Veſperas do Natal do meſmo anno de 1755 ,
aſli {tindo ElRey na tribuna da Capella , que ſe fez
da parte da Epiſtola.
is Transferio - ſe tambem para eſta nova Capel
la Real o Sacramento da Paroquia , donde o admi
niſtra o Reitor della aos ſeus freguezes , nao ſendo
Pelloa Real a que communga . Todos os mais actos
Paroquiaes ſe celebrao na Igreja de Noſſa Senhora i
da Ajuda ; e ſuppoſto que na Regia Barraca ſe vê
tam ,
Da Cidade de Lisboa. 209

tambem a fonte Bautiſmal , ella nao ſerve mais que


para as funções dos Sabbados de Alleluya , Pente
coſte , e bautiſmos de filhos de Criados .
16 Havia aqui Coro todos os dias ordinariamen
te rezado pelos Capellães , e cantado nos dias ſo
lemnes , Domingos , e dias Santos ; celebrando -ſe a
liturgia pelos Miniſtros da Patriarcal : ſendo que os
que Sua Mageftade nomeou para off ciarem alli quo
tidianamente , forao quatorze Capellães , nove Muſi
COS , hum Meſtre de Ceremonias para affiftir ſómen
te às Miffas , e Vefperas ſolemnes ; quatro Moços
de Capella , chum Theſoureiro , que tambem fer
ve de Alcareiro . Mandou - ſe fazer mais huma tor
re de madeira totalmente ſeparada da Paroquia , na
qual ſe collocaraó quatro finos , que o Arcebiſpo de
Lacedemonia ſagrou , e lhe aſſiſtiraó Conegos da
Baſilica , fazendo -ſe eſta funçao dentro da meſma
Barraca , affiſtindo Sua Mageftade na tribuna.
17 Sempre que ElRey tem de aſiſtir publica
mente na Igreja com a Corte ( que he em todos
aquelles meſmos dias, em que o coſtumava fazer na
Patriarcal ) o vem ſervir hum Principal em habito
ordinario de murzeta , e manteleta. A'entrada da
porta lhe lança agua benta , e affifte à toda a fun
çao , tendo o ſeu lugar em banco de eſpalda , cu
berto de raz , fituado da parte da Epiftola bem de
fronte do throno Real . Adminiſtra tambem a Sua
Mageſtade o livro dos Evangelhos para o beijar ,
depois de ſer cantado pelo Diacono : elle o incenfa ,
e no tempo da Paz , a vay receber do Celebranté
da Miſa , e a communica por amplexo a Sua , Ma
geftade , e Altezas .
18 Nos dias das Candeas , e Palmas , depois que
o Principal dá a véla , ou Palma ao Celcbrante , lo
go immediatamente ſe retira ao ſeu lugar ; porque ,
primeiro que elle , a vað receber ElRey , e mais Pel
ſoas Reaes : porém no dia de Cinza exercita Sua

Mageftade o acto de humildade , indo recebella de


Tom.III . Part.V. Dd pois
210
Mappa de Portugal.

pois do Principal: e pela meſma razañ e'm ſexta fei


ra fanta depois do Principal adorar a Cruz , unido
juntamente com o Celebrante , entao he que S. Ma
geftade , e Altezas a vað adorar . Toda esta forma
lidade, que em a nova Regia Capella fe pratica rela
pectiva às funções liturgicas , he para fupprir deſte
modo na occaſia ) preſente o pio intuito do magna
nimo Fundador , em quanto outra vez materialmen
te ſe nao incorpora ao Palacio Regio a Metropoli
Patriarcal , como fora ſupplicada , e concedida pee
los Summos Pontifices,
19 Dentro dos limites deſta Paroquia exiſtem
os Templos ſeguintes.

Convento

Noſa Senhora de Belem . De Religioſos de S. Je


ronymo . He edificio nobiliffimo , e mageftofo , on
de , como bem diz Manoel de Faria , ( 1 ) ſe vê
acompanhada a grandeza de curioſidade , de arte a
arquitectura , e de preço a materia . Fundou - o juns
to do mar , nao muito diſtante da foz do Tejo , El.
Rey D , Manoel no anno de 1499 , que ElRey D.
Joao III. ſeu filho ampliou com igual magnificen
cia , conforme expreſſao os Difticos Latinos com
poſtos pelo Meſtre André de Refende , que eſtao
gravados em pedra por cima da portaria do Conven
to , e dizem :

Vaſta, mole facrum Divinæ in litore Matri


Rex poſuit Regum Maximus Emmanuel.
Auxit opus beres Regni , & pietatis uterque
Structura certant , religione pares ..

Nero

[ 1 ] Faria ſobre a eſtanc. 87. do cant. 4. de Cam . Veja-ſe tambem


a Damiao de Goes na Chron . delRey D. Manoel part.1. cap 53 e part 4.
cap.85. Carvalho na Corografia Portug. tom . 3.p. 665. Colmenares nas
Delicias de Portug. tom . 4.p.766 , ca 2.part. da noſſa Recreaçao Pro
veitoſa P:416.
Da Cidade de Lisboa . 211

Neſta grande Igreja eſtao depoſitados os corpos de


muitas Peſſoas Reaes , que declaraó as inſcripções
dos ſeus tumulos. Havia reſistido fortemente efte
Soberbo edificio ao terremoto geral do primeiro de
Novembro de 1755 ; mas como ficou abalado , e
The nao applicarao reparos conveniences para ſua
mayor ſegurança , no mez de Dezembro do ſeguin
te anno cahio a abobeda da Igreja , e ſe arruinarað
muitas das ſuas partes. Defronte deſta fagrada , e
Real fabrica , dentro da agua , fez edificar o meſmo
Rey D. Manoel da parte do Norte huma torre de
eſtructura quadrada , e magnifica , munida com duas
batarias alta , e baixa para defender naó fó o Con
vento , mas a entrada do porto de Lisboa. Nova
mente ſe vê aqui nas margens do Tejo hum formo
fo , c eſpaçolo caes , que no anno de 1753 mandou
fazer o Fideliffimo Rey D. Joſeph I. para commo
do melhor do deſembarque , e para adorno da Caſa
Regia de campo , que alli ha.

Moſteiros,

Noſa Senhora do Bom - Succello. De Religioſas Do


minicas Irlandezas junto a Pedrouços. Teve princi
pio a ſua fundacao no anno de 1626 , e fe clau
furou no de 1639 , para cujo diſpendio concorreo a
Condeſſa de Atalaya D. Iria de Brito com o fim de
fer para Religioſas de S. Jeronymo , que depois pe
-lo patrocinio da Rainha D. Luiza de Guſmað e
diligencia do ſeu Confeffor Fr. Domingos do Roſa
rio Dominico , veyo a ſervir para as Religioſas Ir
landezas. Sao ſujeitas immediacanrente ao Geral de
S. Domingos , c por commillao ao Reitor do Col
legio de Noſſa Senhora do Roſario dos Irlandezes ,
- ſituadosao Corpo Santo . A pequena ruina , que lhe
fez o terremoto , fe acha reparada . "
5 Calvario. De Religioſas Obfervantes Franciſca
nas , que fundou no anno de 1617 defronte do Pa
Dd it
212 Mappa de Portugal.
Jacio de Alcantara D. Violante de Noronha , mu
lher de Manoel Telles de Menezes . Totalmente fi
cou eſte Moſteiro arruinado , e abatido , perecendo
nas fuas ruinas vinte e duas Religioſas, quatro Re
colhidas , e ſeis Serventes . As poucas que eſcaparaó ,
forað algumas para o Moſteiro que lhe fica defron
te , chamado das Flamengas , e outras para as cafas
1
de ſeus parentes .
Noſa Senbora da Quietaçao. De Religioſas Deſcal
ças da primitiva Regra de Santa Clara , chamadas
vulgarmente Flamengas'; porque as Fundadoras fu
gindo da perſeguiçao dos Calviniſtas dos Paizes bai
xos de Alemanha , vierað refugiarſe a eſte Reino
pelos annos de 1982 , em tempo que governava El
Rey Filippe II ., o qual mandando -as recolher pri
meiramente no Mofteiro da Madre de Deos , e de
pois na Ermida de Noſſa Senhora da Gloria , paſſa
raó ultimamente para eſte Moſteiro de Alcantara no
anno de 1986 , em cujo tempo ſe tinha acabado de
edificar por diſpendio do meſmo Rey . Nao teve el
te Moſteiro ruina conſideravel , ea que padeceo , fe
acha reparada .
Ermidas.

Noſſa Senhora dos Afflictos , & Santo Chriflo. Na


quinta do Principal D. Lazaro Leitað , ſituada na
Junqueira . Padeceo muito pouco pelo terremoto.
Santo Amaro. Na eminencia de hum monte de ex
cellente viſta . Sobe - ſe por huma bem lançada eſca
da de pedraria com eſpaçoſos taboleiros. A conſtruc
çao da Igreja moſtra antiguidade , e della faz men
çað Chriſtovao Rodrigues de Oliveira , que eſcro
veo no anno de 1551. Foy huma das que eſcaparað
felizmente ao terrivel deſtroço do terremoto . De
fronte deſta Igreja , para a parte da marinha , cxiſ
te hum palacio dos Excellentiſſimos Saldanhas , no
qual havia hum eſpaçoſo jardim em terrapleno taó
miſtico da praya , que as aguas da viſinha ribeira lhe
eſtao.
Da Cidade de Lisboa. 213

eſtao pelas marés batendo nos muros. Compunhan


ſe , além da excellente horta , de copados arvoredos
frutiferos , e ſilveſtres quaſi ſempre frondoſos. To
da eſta viçoſa , e verdu formoſura , fe vio laftimola
mente po dia do terremoto desfeita , e desfigurada's
porque embravecidas , e aleeradas as aguas do mar
viſinho , rompendo o freyo das prayas ao primeiro
eſtremecimento da terra , avançaraó , desfizeraó , e
falmourarao tudo em breves minutos ; introduzindo
lhe dentro palmoſamente com a refaca das ondas
grandiſſimos maſtros de navio.
Nola Senbora da Annunciaçao. Na delicioſa quin
ta , e palacio de Diogo de Mendoca Corte Real.
Tambem ficou intacta .
Santo Antonio. Na quinta de Antonio Joſeph Din
niz de Ayala no fitio de Oliveiras . x , !
Noſſa Senhora da Conceiçao . Na quinta do Duque
de Cadaval no lugar de Pedrouços. 100
* Noſſa Senhora da Conceiçao. No Lugar de Belem
na traveffa da Horta , inftituida pelo Padre Joſeph
da Silva de Carvalho , Clerigo Secular, e tio do ad
miniſtrador actual Jofeph da Silva Pinto . E
Nofa Senhora da Conceiçaõ . Na Fabrica da Polvo
ra . Nah padeceo ruina confideravel.
Noſa Senbora da Conceiçao. Na quinta que foy do
elegante , e erudito D. Franciſco Manoel de Mello
na ribeira de Alcantara . Ficou iſenta de ruina. 11. -
Noſſa Senhora da Graça . Na quinta de Joleph da .
Cunha de Araujo no Lugar de Cazellas.
S. Joaquim , e Santa Anna. Na quinta do Mar
quez de Abrantes em Alcantara . £ fta Ermida , que
nao padeceo com o terremoto o minimo abalo... ou
suina , eſtá edificada ſegundo o goſto moderno da
Arquitectura , Condta. de tres Aliares ornados com
excellentes pinturas do noſſo infigne Lisbonenſe
Franciſco Vieira . Tem muitos , e preciolos paramen
los ſummamente aſſeados , e taes que puderað bara
tantemente ſupprir a indigencia , em que ſe vio a .
Sans
214 Mappa de Portugal.

Santa Igreja Patriarcal logo no principio da ſua def


truiçao , e incendio ; porque eſtabelecendo -ſe aqui ,
como já diſſemos , por benigno conſentimento dos
Excellentiffimos Marquezes leus Padroeiros , acha
rað os Miniſtros da Santa Igreja commodo , e aga
zalho taó amplo , que os noſſos mayores elogios nað
faó baſtantes para engrandecer a nobreza de animo
e piedade com quc alli fomos recebidos.
S. Joao Bautiſta. Nas caſas de Joao Jorge na Jun
queira. Ficou ſem damno , e ſempre nella ſe cele
brou .

Noſa Senhora da Nazareth. Na quinta de Gerva


fio do Couto na Pimenteira .
Noſa Senhora do Populo. Na quinta que foy do De
ſembargador Joſeph Fiuza Correa em Alcantara.
Nao teve ruina .
Noſa Senbora do Livramento , e S. Jofeph. Efta
Igreja ſe começou aerigir em Belem no ſitio que fi
ca entre a quinta do meyo , ea quinta de cima, on
de eſtá o Real Palacio , lugar em que a Mageftade
Fideliſſima de D. Joſeph I. em a funeftiffima noite
de 3 de Setembro de 1758 eſcapou milagroſamente
de dous execrandos tiros de bacamarte , com que
The queriao tirar a ſua vida eſtimadiflima varios fo
cios conjurados para caó horrivel inſulto . Agrade
cido a caó elpecial favor de Maria Santiſſima, e ſeu
catto Eſpoſo S. Joſeph , quiz Sua Mageftade que fi
calle tao efficaz patrocinio perpetuamente memora
vel na erecçaõ defte Templo ; cuja primeira pedra
que era de marmorc branco , e de palmo e meyo em
quadro , tinha em as duas faces oppoſtas as Inſcrip
ções ſeguintes.

JOSEPHUS 1.
LUSITANIE REX
Fideliffimus
Deipare Liberatricis
Protectione
III.
Da Cidade de Lisboa . 215

III. Nonas Septembris Anni MDCCLVIII.


Hic inter denſos globos plumbeos
Sofpes evadens
Conjuratorum infidias
In eum '
Geming fcloporum diſploſione
· Irruentium
" I? Templum hoc
In perpetuum tanti beneficii
Monumentum
Ædificari fecit.
-
Da outra parte dizia allim :

Hujus Templi in bonorem


3
Dei , & Beatifimæ Virginis Marie
Liberatricis , ac ipfius Sponfi.
Sancti Jofeph dicandi : 1
Lapidem bunc primum
ii In fundamentum
" Ab ipfo Rege delatum
Benedixit , ac impoſuit
Emūs D. Franciſcus I.
S. R. E. Cardinalis de Saldanha :
?: Patriarcha Lisbonen .
Summo Pontifice Clemente XIII.
Die Ill. Septembris.
Anno Domini M. DCC. LX .
Poft terræmotum V.
1
Eſta pedra fundamental, que eſtava em huma
padiola ſobre huma credencia foy levada ſolemne
mente por El Rey affiftido do Senhor Infante D. Pe
dro , o Senhor D. Joað , eo Marquez de Angeja :
e depois que o Patriarca lançou ſobre ella a bençao
com toda a ceremonia conforme o Pontifical Ro ..
mano , tornou ElRey , e os mais Senhores a camis
nhac
216 Mappa de Portugal.

nhar com ella proceſſionalmente alliftido de toda a


Corte , e Collegio dos Pțincipaes , e Capella Real ;
e chegando até o lugar do aliceríe , nelle ſe collo
cou a pedra ; e alli lançou o Eſmoler mór doze Me
dalhas ſeis de ouro , e ſeis de prata de varios lotes .
As mayores que eraõ de ouro pezava cada huma
52Uooo reis; as do lote mediano 39Uooo reis ; e as
do ultimo lore 26 Uooo . feu feitio tambem era
de tres qualidades , porque humas tinhao de huma
parte em perfil o retrato de Sua Mageftade , e ao
redor eſta letra : Jofepb I. Portugalliæ Rex , e no re
verſo : B. V. Mariæ Liberatrici , & S. Joſeph Prote
Etori ſuo accepti beneficii monumentum poſuit an . Domini
MDCCLX. Outras tinhao as imagens de Noſſa Se
nhora do Livramento , e S. Joſeph , e por baixo ef
ta letra : A periculis cunétis libera nos : e no reverſo
em relevo : o frontiſpicio que ha de ter à nova Igre
ja , e ao redor : Accepti beneficii hoc pofuit monumen
tum , e em baixo : An . Dñi MDCCLX . As outras ti
nhaõ de huma parte as Armas Reacs , e em circu
lo : Joſephus Portugalliæ , & Algarbiorum Rex anno re
gni ſui X. No reverſo a planta da nova Igreja , e em
roda a ſeguinte letra : In honorem B.V. M. Libera
tricis , & S. Jofeph fundavit Betblem anno Domini
MDCCLX .
19 Conſtava eſta Fregueria , antes do terremo
to , de ſeiſcentos fogos. Preſentemente ſe tem aug
mentado o ſeu numero , pelo muito povo , que pa
ra eſte ſitio concorreo , onde ſe tem edificado innu
meraveis barracas, em o terreno baldio . As ſuas ruas
faó as ſeguintes.
Ruas , é Travelas.
Em Alcantara rua Direita , rua da Cruz , e da
Tapada : , travella das Fontainhas , dos Fornos , das
Pedreiras , do Principe , do Quebracoftas. Em Be
lem , rua Direita , traveſſa das Brazias , ou de Ma.
noel de Faria , do Ferreiro , da Horta , do Guarda
mór , da Praça , do Serralheiro.
Fre ,
Da Cidade de Lisboa .
217

Freguezias confinantes.

A de Santos , Santa Iſabel , Senhora do Amparo


em Bemfica , S , Romaó de Carnexide .

II.

Santo Andrés

-20 Sta Freguezia he das antigas da Cidade , e


E foy do Padroado Real; porém ElRey D.
Diniz em o primeiro de Agoſto de 1286 fez doaçao
delle a Aires Martins , e a ſua mulher Maria Eite
ves , attendendo nað ſó aos merecimentos do dito
Aires Martins, que foy Eſcrivao da Puridade , e ſeu
Vice- Chanceller , mas às fupplicas do Biſpo de Liſ
boa D. Joao Martins de Soalhães , que era ſeu par
ticular amigo . ( 1)
21 Paffados alguns annos , vendo os Padroeiros ,
que era muito tenue a renda , que a Igreja cinha , e
nao menos a falta de Miniftros para o culto Divi
no , doara ) à meſma Igreja o direito do Padroado ,
e juntamente as fazendas , que pofluhiaó na Azoya ,
Freguczia de Santa Iria ', para que houveſſem mais
dous Capellães , ou Raçoeiros , que com o Reitor
rezaſſem em Coro as Horas Canonicas , e viveſſem
em Communidade, determinando , que aſſim que
vagaſſe algum Beneficio , o podeſſe apreſentar logo
o Reitor com o beneplacito dos mais Raçoeiros :
falccendo o Reitor , os ditos Raçoeiros elegeſſem de
entre fi hum delles no efpaço de ſeis dias immedia
tos ao ſeu fallecimento ; e nao concordando na elei
çao dentro do dito tempo , ficaria devoluta ao Rei
tor do Convento de Santo Eloy deſta Cidade para
o nomear dentro de outros ſeis dias ; e nao o fazen
do , poderia entao o Prelado mayor, ou o ſeu Vi
Tom . III. Part.V. Ec ga

[ 1 ] Brandao na Monarquia part. s.liv. 16. cap.61 ,


218 Mappa de Portugal.

gario geral eleger Prior , com tanto que foſſe fema.


pre hum dos taes Raçoeiros. ( 1 )
22 Eſta formalidade de eleiçaó ainda hoje je
pratica , e della ha exemplos antigos , e modernos.
No anno de 1439 vagando o Priorado detta Igreja ,
e elegendo os Beneficiados Prior , como era coſtu
me , le oppoz o Procurador da Coroa delRey D. AF
fonſo V. , pretendendo e allegando , que ao Rey
tocava a apreſentaçao , por ſer Igreja do ſeu Pa
droado ; e correndo litigio , obtiverað os Beneficia
dos ſentença a ſeu favor , que ſe guarda no Cartorio
da Igreja , e ſe confirmou por oucra reſoluçao da ſa
grada Rota em o primeiro de Fevereiro de 1602 , a
inſtancias do Doutor Ambrofio Cardoſo , Prior deſ
ta Paroquia.
23 O rendimento deſte Priorado , e Reitoria ,
tirando a terça do Prelado , le regula huns annos por
outros em quatrocentos até quinhentos mil reis ; ad
vertindo , que eſta renda he attendendo a dous Be
neficios, que por Bulla de Alexandre VI . ſe anne.
xaraó ao Priorado deſde o anno de 1496. Ha neita
Igreja cinco Beneficios, de que he Donatario o meſ ,
mo Prior , e rende cada hum cem mil reis . Antiga
mente nað ſó dava o Prior os Beneficios, mas tam
bem collava nelles aos Beneficiados na preſença de
hum Notario Apoftolico , de cujos actos ha no ſeu
Cartorio baſtantes documentos. A negligencia , ou
diffimulaçao de algum Prior deixou perder esta re
galia , em que ſe introduzirao depois os Prelados
deſta Dieceſe .

24 Achab -ſe inſtituidas neſta Igreja cinco Ca


pellanías : a primeira, de que he Capellao , e Admi
niſtrador o Prior , inftituío Aires Martins , e ſua
mulher Maria Eſteves , Padroeiros , com o titulo de
Santo Ambrofio , e com Milla quotidiana , que ho
je ſe acha na eſmola de coſtao , mas tem caſas de re,
fi

[ 1 ] Santuar. Marian. tom . 7. pag. 73.,


Da Cidade de Lisboa . 219

fidencia . Junto ao Altar deſta Capella eſtað fepul


tados a dita Inſtituidora , e ſeus filhos; e da inſcri
pçao da meſma fepultura conſta , que ſeu marido , ee
Padroeiro Aires Martins, indo viſitar os lugares fan
tos de Jeruſalem , morrera no caminho .
* . 25. A ſegunda Capella inſtituío o Beneficiado ,
que foy deſta Igreja , Marcinho Domingues na Ca
pella de Noſſa Senhora da Vida com a eſmola ordi,
naria de ſeis vintens . Saó ſeus Adminiſtradores e
Donatarios o Prior , e Beneficiados . A terceira inf
titulo na meſma Capella hum Prior , que foy deſta
Igreja chamado Bartholomeu Vaz de Lemos , com
obrigaçao de Miffa cantada em todos os Sabbados :
anda a adminiſtraçao della na caſa , e morgado de
Joao Pedro de Noronha Soares .
26 Inſtituío a quarta Capella Antonio Alvares
-Malheiros com Miña quotidiana na Capella de Nof
fa Senhora da Conceição , de eſmola de trinta e cin
co mil reis , que hoje ſe acha reduzida a meyo an
nal de Millas e he feu Adminiſtrador Jeronymo
Leite Malheiro Pacheco . A quinta he a do Senhor
Jeſus da Pobreza , e Almas , erecta ha pouco tem
po por huma nova Irmandade, que fabricou eſta
Capella no vaő , que ſervia de porta traveſſa da Igre
ja , e tem hum Capellaó , que lhe diz Miſſa todos
os Domingos , e dias Santos do anno , a quem ſe dá
( cincoenta mil reis .
27 A Padroeira inſtituío mais neſta Igreja ſete
Mercieiras que hoje ſe achaó reduzidas a quatro
por Bulla de Xiſto V. deſde o anno de 1986. Tem
caſas em que vivem , e cada huma cincoenta e dous
alqueires de trigo cada anno ; duzentos e cincoenta
reis em dinheiro cada mez , dez toftões para manto ,
trezentos reis para capatos , dous toitões para o jan
tar da Paſcoa , e outros dous para o do Natal e
hum pote de azeite . Prove eſtas merciarias o Prior
em mulheres donzellas honeftas , e recolhidas , ou
viuvas de bom procedimento , preferindo ſempre as
Ee ii que
220 Mappa de Portugal.

que tiverem tido bens de ſeu , e ſe acharem reduzi


das a pobreza . Diſpoz mais a Padroeira , que no fim
de Laudes, e Vefperas ſe lhe rezaſſe no Coro hum
Reſponſo ; e em dia da Commemoraçao dos De
funtos ſe diſtribuiſſe pelos pobres , e neceſſitados
hum ſaco de paā , a que tudo le tem dado cumpri
mento ..
28. Com o lamentavel ſucceſſo do terremoto
paſſado cahio todo o corpo da Igreja até a porta ,
a qual ficando com as ruinas entulhada , a gente que
eſtava dentro eſcapou toda felizmente , retirando - ſe
pela ſerventia , que tem o Prior para as caſas da ſua
rcfidencia. Ficou todavia livre a Capella mór , o
Cruzeiro , a Sacriftia , e as duas Capellas de Santo
Ambrofio , e a da Senhora da Vida , que he Ima
gem milagroſa , e de muita devoçað , a qual paſla
dos tres dias foy tirada a todo o riſco por cercos de
votos , que a forao collocar em hum Altar da Igre
ja do Menino Deos, que eſtá perto , para onde foy.
tambem conduzido o Divinillimo Sacramento . Alli
efteve até que o Prior mandando fazer à ſua cufta ,
e dos Beneficiados huma decente accommodaçao de
madeira dentro da meſma Igreja Paroquial , e na
parte que nao teve ruina , fez reſtituir outra vez o
Sacramento , e a Imagem da Senhora immaculada ,
collocando -a no Altar mór, e deu principio aos Di
vinos Officios em dia da Conceicao da Virgem , no
meſmo anno , com huma folemne Milla cantada em
acçao de graças. Neſte eſtado ſe acha a Igreja , e
ſe vao continuando nella os Officios Eccleſiaſticos
çom o decoro poſſivel.
29. Tem dentro do ſeu territorio o

Convento .

Noſſa Senhora da Graça . De Religioſos Eremitas


de Santo Agoſtinho , Templo de humà nobre , e
mageftoſa fabrica , elevada ſobre a eminencia de
hum
Da Cidade de Lisboa . 22T

hu'm fitio chamado em outro tempo Almofala , ' que


ultimamente reedificara o Veneravel Fr. Luiz de
Montoya no anno de 1556. O Author da Corogra
fia Portugueza no tom . 3. pag. 357. , largamente o del
creve . Entre todas as ſuas partes mais memoraveis ,
ſerá ſempre digna de acrençao a ſingular tribuna',
com o ſeu preciofiflimo cofre , depoſito do Santiſ
fimo Sacramento . Prenda compoſta de muitas dae
divas para as quaes concorreraó o Arcebiſpo de
Goa D. Fr. Aleixo de Menezes , o de Hiponia D.
Fr. Antonio Botado , e Filippa de Vilhena , mu:
lher do grande Vice -Rey da India Affonſo de Al
buquerque. Igual apreço ſe deve fazer da Capella
do Senhor dos Paſſos , cuja Imagem de Chriſto com
a Cruz às coſtas,he da mayor veneraçaó , e reſpei
to que tem eſta Corte , e talvez o Reino . Merece
tambem eſpecialmemoria a primoroſa Sacriftia , na
qual ſe fazia admiravel o mais rico , e decente depo
lito dos Vaſos , e Reliquias ſagradas, para cujo diſ
pendio , e ornato contribuío muito o precioſo mo
vel de Mendo de Foyos Pereira , Secretario de Ef
tado delRey D. Pedro II. Nao menos he attendi
vel a excellente Bibliotheca , onde fe numera huma
grande , e eſcolhida collecçao de volumes de todas
as faculdades , e bellas letras , impreſſos , e manu
fcriptos.
30 Padeceo muito eſte edificio com o grande
terremoto , eſpecialmente a Igreja. Apontaremos
em fumma as partes mais conſideraveis da ſua ruina .
Sendo o Coro della hum dos melhores da Corte , e
eſtando os Religioſos nelle cantando Terça para ſe
entrar à Miſſa Conventual , ao ſegundo Plalmo co
meçou a abalarſe tudo com hum vehementiflimo tre
mor : fabirao os Religioſos a toda a preffa , quando
de improviſo cahio o recto e logo o plano com
tanta violencia , que a Imagem de hum Crucifixo ,
collocada junto às grades do dito Coro , ſe fez em
pedaços , e ſe lhe foy achar a cabeça na Capella
mór ,,
222 Mappa de Portugal.

mór , que he huma grande diſtancia. Aqui fe der


truío totalmente nao ſó todo o ornaro do Coro ,
mas tres admiraveis orgãos , que nelle eftavao , fa .
zendo - ſe mais ſenſivel a perda do mayor , por ſer an
rigo , e por ter humas vozes ſuaviflimas , a que tal
vez nao igualaffe outro algum da Cidade.
** 31. Depois do Coro cahio a Capella mór , mas
ficou livre toda a ſua grande tribuna, e nella o San
tiflimo Sacramenco , que eſtava recluſo no precio
fo , e fingular cofre. Logó cahio o tecto do cruzei
to , e o da Igreja com ſeus alțiflimos gigantes , ex
ceptuando hum , que com admiração de todos ficou
fuitido em humapequena parte da tua baze , dando
niſto a inferirſe , que o movimento do terremoto
fora provavelmente o de pulſacaó . Deve aqui no
tarfe , que fendo as paredes meſtras da Igreja fabri
cadas fem alicerſes , conforme a fanta idea do Ve
neravel Montoya , que nas Cruzes que mandou dif
tribuir , e collocar pela ultima cimalha , dizia elta
va toda a firmeza daquella maquina , foy couſa pro
digioſa, que nenhuma dellas teve agora ruina , fi
cando firmes como dantes ; excepto a parede do 1
frontiſpicio , que fem embargo de fer mais forte ,
por ſer feita poſteriormente ao Veneravel Padre , fé
arruinou .
32 Quaſi todas as Capellas do corpo da Igreja
padecerao igual ruina com mais , ou menos damno .
As duas collateraes do cruzeiro ficarao totalmente
deſtruidas ; porém as ſuas fagradas Imagens com fe
licidade ſe deſcobriraó , e recuperaraó . Eraõ ellas
a ſempre veneravel do Senhor dos Pallos, que fican
do dentro da ſua tribuna opprimida com o pezo da
parede , que ſobre ella cahio , toy extrahida pela
nobre, e pia diligencia de alguns Grandes da Cor
te , ſuggeridos do empenho, e devoçao do noſſo
Monarca Fideliſſimo . A outra Imagem era a pro
digioſa da Senhora da Graça , cujo corpo ſendo cu
berto de prata primoroſamente lavrada em tempo,
Da Cidade de Lisboa. 223

e por obſequio da Infanta D. Maria , filha do Sea


nhor Rey D. Manoel , ſe achou todo desfeito ; po
rém a cabeça , e as mãos ſem macula conſideravel :
devendo -ſe à piedade do Illuſtriſſimo Monſenhor Jon
feph Franciſco de Mendoca , que muito ſe preza
de ſer ſeu afilhado a nova refórma do corpo da
Senhora , que hoje ſe vệ. caprichoſamente citofa- ,
do .
33. Eſtas duas Imagens ſe achao já expoſtas à
publica veneraçao dos Fieis ; participando tambem
do meſmo culto, a Imagem veneranda , e prodigioſa
do Santo Chriſto crucificado , que ao Veneravel Pas
dre Montoya yierað offerecer dous mancebos quaſi
myfterioſamente, Etta deſcoberta de entre as ruinas
ſem lezao reputavel, por diligencia do Excellentiſ
fimo Biſpo do Porto D. Fr. Antonio de Souſa , fe
collocou em huma bem ornada Capella , que elle lhe
mandou edificar no antecoro , que de preſente tem
o Convento , e depois de trasladou para a Capella do
Sacramento .
34 A nobilillima Sacriftia com o ſeu notavel
Santuario tambem ſe arruinou , cahindo nao fó o
tecto , mas a parede , que a dividia da Capella mór ;
e com eſta o Altar , em que ſe conſervavaó as mais
precioſas Reliquias . Deſtas ſe acharao muitas em
ſeus lugares : taes forao ſeis corpos de prata dos San
tos Apoſtolos , a de Santo , Agoſtinho , Santa Mo,
nica , os Santos Lenhos, a cabeça de Santa Chrifti
na , e outras nos ſeus cofres também de prata : en ,
tre eſtas fe achou ſem damno algum a cana de hum
braço do glorioſo Martyr S. Vicente , que agora ſe
faz mais eitimavel , por ſer a unica Reliquia nota
vel, que exiſte do corpo do Santo , depois que no
grande incendio , de que participou a Baſilica de
Santa Maria , ſe reduzio laſtimoſamente a cinzas o
tumulo , e o cofre em que ſe achava depoſirado .
Confervad os Religioſos eſta Reliquia de tempo an,
riquiſſimo , e como teſtemunho certo , e inyaria .
vel
224 Mappa de Portugal.

vel da antiguidade do ſeu Convento. ( 1)


31 Appareceo tambem debaixo daquellas ruinas
a grande, e precioſa Cruz , donativo que fez a eſte
Convento o Illuftriffimo D. Fr. Aleixo de Mene
zes ; e fem'embargo de ſe achar com baſtantes que
bras, é muicas de ſuas pedras preciofas , facudidas
della com impulſo da ruiná , quafi codas ſe deſcobri
raó , excepto hum diamante de mayor grandeza , e
algumas outras pedras mais miudas , que nao appa
receraó. Acha- ſe todavia tað rico , e veneravel info
trumento da Redempçað humana já concertado , c
reſtituido à ſua antiga fórma. Os ornamentos , e
mais prata da Sacriſtia tudo ſe ſalvou , ainda que el
ta pela mayor parte baſtantemente damnificada ;
porém aquelles le preſervaraó de todo o riſco , por
cauſa dos fortiflimos caixões , em que ſe guardavaó .
O que ſe faz ſenlivel he deſtruirſe totalmente a ma
ravilhoſa pedra , que eſtava no meyo da Sacriſtia ,
onde ſe collocavao os Calices ; porque nao fó era
eftimavel pelo precioſo da materia , mas pelo ex
quiſito debuxo de ſeus marchecados , e cmbutidos :
os Calices porém fuppoſto ficarem codos amaſſados ,
já ſe achaõ reftituidos à fua antiga fórma, e doura
dos de novo .
36 O clauſtro grande , ſendo todo fabricado de
cantaria , padeceo grandiſſimo abalo em ſuas abobe
das , e cahio quaſi toda a cimalha real , e os balauſ
tres com ſeu corrimao , que formavao as varandas
por cima della. A formoſa caſa da Livraria com ſuas
eltantes de grande cuſto , e o dormitorio do Novi
cia

[ 1 ] Fundaó -ſe na memoria da Trasladaçao do invicto Martyr , feita


por Eſtevao , Chantre da meſma Sé , e coetano , a qual ſe tranſcreve no
Appendix da 3 p. da Monarq . Lufit. Eſcritur. 25. , onde ſe lem eſtas pae
lavras: Currunt igitur pranominati Regulares aliquid de Reliquiis pres
tiofi Martyris petituri .' Donde fe infere, que os taes Religiofos eraố
Eremitas de S. Agoſtinho ; pois que entre elles ſe acha de tempo im
memorial huma cal Reliquia do Santo Martyr , que elles pediraŭ com
taoca efficacia, e justiça ; e he cripel ſer eſta a que ſe lhes deu entao
Da Cidade de Lisboa. 225

ciado , que ficava por baixo , tudo ſe arruinou ; po


rém o incanſavel zelo , e deſvélo do Excellentiſſimo
Biſpo do Porto , Provincial que entao era , acodin
do prompto ao deſentulho , fez com que os livros
nað padeceffem damno conſideravel, e lhe deſtinou
a caia da livraria velha , que fica por cima do Capi
tulo , para ſua mais ſegura reſidencia , mandando
reedificar tambem o dormitorio do Noviciado : fez
examinar por Arquitectos a torre dos finos ; mas
por eſtarem todas as ſuas pedras gateadas de ferro
deſenganaraó os Meſtres que tinha ) a ſegurança pre
ciſa , poſto que o ſentimento , que fizerao as ſuas
obras mortas ,
c adjacentes , cauſaſſc fufto ao prin
cipio .
37. Em todo eſte lamentavel cataſtrofe ficarað
comprehendidos dous Religioſos , que eſtavao no
Confeſſionario , o Padre M. Fr, Marcos de Santo
Antonio , eo Definidor Fr. Alberto de Brito , Ven .
do em fim os Religioſos , que as ſuas forças naó po
diao chegar ao reparo , e reedificaçaõ de taó mag
e
nifico edificio ; porque conſtando , que ſemelhant
obra cuſtara ao Veneravel Padre Fr. Luiz de Mon
toya , em tempo que tudo era mais barato , fefſenta
mil cruzados , e agora ſeriaó preciſos mais de ſeiſ
centos , tomaraó a reſoluçao de formar Igreja na
caſa grande entre o clauſtro , e portaria , a qual tem
adornado com cinco Alcares , e ſua quadratura , em
1
que celebrao os Officios Divinos com toda a decen
cia .
Ermida .

O Senhor dos Palos. Na calçada , que vay para a


Graça , a qual adminiſtra a Irmandade do Santiflimo
da Freguezia .
38 Conſtava eſta Freguczia antes do terremoto
de cento , e quarenta fogos , e numerava fetenta mo
radas de caſas , em que habitavaó quinhentas e cin
coenta peſſoas. Depois do terremoto achao - ſe du
Tom.III . Part .V. FE zen .
226 Mappa de Portugal.
zentos e treze fogos , e ſetecentas cincoenta c fetc
peſſoas. Efte augmento he cauſado de algumas pro
priedades de caſas , que de novo ſe fizeraó junto ao
ſequeiro chamado daGraça . Diſtribuem - ſe pelas ſe
guintes
Ruas , e Becos.
Adro da Igreja , rua Direita , rua dos Cegos , be
co dos Froes, beco da Lage , calçada do Convento
da Graça .
Freguezias confinantes .
Santa Marinha , S. Thomé.

III .

Noſſa Senhora dos Anjos.

E eſta Freguezia filial da de Santa Juſta ,


39 H ,
que o Cardeal Arcebiſpo D. Henrique
deſannexou della , por ſer grande o ſeu deftricto ,
eſtabelecendo - a na Ermida de Noſſa Senhora dos
Anjos , que depois ſe ampliou com o dinheiro pro
duzido de cinco por cento dos alugueres das caſas
exiſtentes na meſma Paroquia em tempo delRey Fi .
lippe IV . O Paroco tendo fomente titulo de Cura ,
o Eminentiffimo Cardeal Patriarca D. Thomas de
Almeida o collou em o predicamento de Reitor
cuja Reitoria lhe renderá letecentos e cincoenta
mil reis .
40 Neſta Igreja ha huma Collegiada de onze
Capellães com feffenta e quatro mil reis de congrua
annual cada hum , e he ſeu Donatario , e Adminiſ
trador D. Franciſco Innocencio de Souſa Coutinho ,
Ha mais a Irmandade do Santiflimo.com dous Ca
pellães., a das Almas com quatorze , a de Noſſa Se
nhora da Conceiçaõ com hum : a Confraria dos An
jos com hum , e a de S. Joao Bautiſta com outro . "',
41 Por cauſa do terremoto ficou eſta Igreja ar
muinada , e aſſim o Paroco, transferio o Sacramento
pa .
Da Cidade de Lisboa. 227

para a Ermida do Deſembargador Alexandre Metello


no Campo do Curral , onde exiftio por alguns annos .
A meſma deſtruiçaõ experimentarao muitas proprie
dades de todo eſte territorio ; das quaes humas já ef
taó reparadas , outras jazem na meſma ruina . Den
tro dos limites deſta Paroquia deſde as portas do Pa
ço da Rainha, ou Bemporta até Arroyos , e dentro
do Olival de Noſſa Senhora do Monte fe fizerao de
novo varios abarracamentos fabricados huns de ma
deira , e tabique , outros de pedra , e cal , para ha
bitaçao de muita gente , que para alli veyo fugindo
ao incendio , e dettroço do interior da Cidade.
42 Eſta edificados na circumferencia deſta Fre
guezia os ſeguintes

Conventos.

Noſſa Senbora do Defterro. De Religiofos Bernar


dos , fundado no anno de 1501 , ſegundo conſta de
huma inlcripçao aberta em pedra , que ſe vê collo
cada no clauftro velho , a qual tranſcreve o Author
do Santuario Mariano em o tomo I. pag . 289. Ordina
riamente aſliftem aqui poucos Religiofos. No anno
de 1750 forað levados a occupar efte Convento os
doentes do Hoſpital Real , que em ro de Agoſto do
dito anno ſe vio reduzido a cinzas com hum deplo.
ravel incendio . Fizerað fe as accommodações pre
cilas para todos à cufta da Fazenda Real, com que
a grande picdade do Fideliffimo Rey D. Jofeph I.
mandou benigno ſoccorrer o ſeu deſamparo. Aqui
eſtiverao até o anno de 1751, em que voltaraó pao
ra a enfermaria de S. Camillo , que foy a que los
mente eſcapou no ſobredito Hoſpital , e os Reli
gioſos fe reſtituirað outra vez ao ſeu Convento , que
em todo eſte tempo havia ) eſtado hoſpedados nos
Paços chamados do Arcebiſpo a Santa Maria . Ex
perimentou eſte edificio com o terremoto a ruina
da Igreja , cujas abobedas totalmente ſe abateraó .
Ff ii
228 Mappa de Portugal.

O Convento poſto que em partes arruinado , ainda


ſe habita pelos Religioſos.
43 Noſa Senhora de Penba de França . De Reli
giolos Eremitas de Santo Agoſtinho . Éta edificado
efte Convento na eminencia de hum monte entre os
mais altos da Cidade e no fitio chamado antiga
mence Cabeça de Alperche , donde com agradavel perf
pectiva ſe moſtra aos olhos hum dos mais formofos
paineis , que a natureza pode pintar ; porque olhar
do do alco para o fundo da campina dilatada , eſtao
ſe vendo em todos os ſeus arredores copioſos arvo
redos, quintas agradaveis , hortas amenas , e terras
lavradías; e ao longe monres, e ſerras , que dalli ſe
aviſtao na diſtancia de mais de oito legoas...
44. Deve o ſeu principio ao zelo de hum Anto
nio Simões , official de Dourador , que no primeiro
de Agoſto de 1603 , fazendo doaçao aos Religioſos
da Igreja da Senhora de Penha de França , que já
exiſtia deſde o anno de 1997 , elles com elmolas fo
rao fazendo o Convento , e o chegaraó a concluir
com os bens de Antonio Cavide, inſigne bemfeitor
da Ordem , e devotiflimo da Senhora. Depois no
anno de 1754 ſe renovou a Igreja primorofamente
tambem à cuſta de eſmolas dos Fieis . - O Senado de
Lisboa por voto que fez em occafiaõ de huma gran
de peſte , que em outro tempo opprimira efta Ci .
dade , coſtuma ir de madrugada em prociſlaó todos
os annos a eſta Igreja em dia de Noſſa Senhora das
Neves . ( 1 )
45 Achava - ſe cabalmente perfeito eſte fagrado
edificio , e com a permanencia de cento e cincoen
ta e dous annos deſde a ſua primeira fundaçao , quan
do ſuccedendo o fatal dia de todos os Santos , pa
decco a ſua Igreja hum deſtroço horrivel com o trc
mendo terremoto. Cahio primeiramente o Coro ; e
foy

[ 1.] Santuar. Marian. tom . 1. pag. 149. Corograf. Portug. tom . 36


R28.421. Souſa no Agiolog. Luſitan . tom . 4. pag . 436 .
Da Cidade de Lisboa. 229

foy alta providencia de Deos , que ſendo tempo de


re congregarem nelle osReligioſos para rezar , man
daſſe o Prelado ſuſpender naquella hora o toquc do
fino , em quanto ſe demoravaó alguma couſa mais
na Igreja com a expediçao das confiſsões dos Fieis ,
que em grande numero havia o alli concorrido . A
verdade do fucceffo fez ver depois , que aquella ſuf
penſao de minutos ao ingreſſo do Coro , mais pare
ceo cautela cheya de vaticinio , que de acaſo , para
que naquelle lugar ninguem pereceffe.
46. Outra differença de forte experimentara os
que ſe achavao dentro da Igreja , porque cahindo
as ſuas abobedas de improvilo , ficaraó todos ſepul
tados debaixo dellas . Conjectura - ſe , que ſeriaó mais
de trezentos os mortos : o certo he , que pelo nu
mero dasſagradas Fórmas , que ſe achou menos nas
Pyxides do Sacrario , ſe calculou depois terem com.
mungado naquelle dia oitocentas peſſoas . Aqui aca
bou entre ellas , ajudando à Mifla , o Irmao Leigo
Fr. André de Penha de França , natural de Chaves ,
de idade mais de ſerenta annos , e Religioſo em quem
reſplandecia hum conglebado de muitas virtudes .
Acompanhou - o no meimo fim o Irmaó Donato Jo
ſeph de Macedo . Igual ſaudade deixou o Padre Fr.
Joſeph de S. Joaquim , o qual dous mezes antes ten
do dito a ſua primeira Miffa nova , e naquelle dia
havendo - a acabado de dizer , ſe achava dando graças
a Deos na ſua cella , que abatendo - ſe com elle , o
ſepultou .
47 Cahindo a Capella mór , e a ſua tribuna , fi
cou a Imagem da veneranda , c milagroſa Senhora
de Penha de França debaixo das ſuas ruinas ; e aco
dindo logo os Religioſos com muita gente no Do
mingo ſeguinte para diligenciarem a lua extracçao ;
ſe ſingularizou entre todos naquella empreza o gen
til deſembaraço de hum valeroſo Sargento chamado
Antonio Dias Panao , para o qual eſtava guardada a
gloria de ſalvar daquellas ruinas o ſagrado vulta da
Scs
230 Mappa de Portugal:

Senhora . Com incanſavel diligencia deſcobrio elle


a Imagem , e recebendo - a logo com fervoroſa de
voçað em ſeus braços , entoando louvores ao Ceo ,
com immenſo povo que o ſeguia , a foy transferir ,
e collocar ſobre o cirado de huma quinta proxima ao
adro da Igreja para ſer vifta de todos . Alli efteve a
prodigioſa Senhora quaſi hum mez affiftida dos Re
ligioſas, e de hum extraordinario concurſo do po
vo , que a todas as horas com perpetuos rogos , e
inceſſantes lagrimas pediaó a Deos pelos mereci
mentos de tað ſoberana Virgem a ſuſpenſao daquel
le flagello .
48 ° Como os Religioſos nunca ſe apartarao do
Convento , e ficarao na ſua cerca adminiftrando o
remcdio eſpiritual a muita gente , forao proſeguin
do na tarde da tegunda feira o deſenculho das rui
nas ; entre as quaes deſcobrindo o cofre do Sacra
mento , que ſe achou intacto , o levarað para a Er
mida da Senhora do Monteagudo , que fica pou
co diſtante , com huma devota prociſtað. Logo na
terça feira , continuando a empreza , deſcobrirao fe
lizmente vivo , de entre as ruinas , hum homem cha
mado Filippe Neri , meſtre Pedreiro , que como
eſtava ainda eſcrito no livro da vida , foy reſpeitado
em todo aquelle tempo da ſua ſepultura dos proprios
inſtrumentos, que a outros ſervirao de morte .
49 Na caſa chamada de Profundis , dentro do
Convento , levantarað os Religioſos hum Altar , on
de collocaraó o Sacrario . Depois com a poſſivel de .
cencia fizeraó huma barraca de madeira , em que
defpenderaõ quatrocentos mil reis , tudo de eſmo ,
s , e expozeraó a veneranda Imagem da Senhora .
Porém concorrendo cada vez mais à piedade , e des
vocaó , erigirao huma nova Igreja de tabique , e de
pedra , e cal , que tem importado doze mil cruza
dos , onde a Senhora he venerada , como ſempre ,
pelos Fieis com hum culto , e fervor extraordina
rio ,
Nora
Da Cidade de Lisboa. 231

Noſſa Senhora da Conceiçao. Hoſpicio de Religio


fos Capuchos da Provincia da Conceiçao da Beira ,
e Minho , reedificado no anno de 1738 na eſtrada
da Carreira dos Cavallos pela devoçaó , e diſpendio
do Sereniffimo Infante D. Franciſco ; e ultimamen
te o Sereniſſimo Senhor Infante D. Pedro o mandou
reedificar de novo no anno de 1755 em todas as ſuas
officinas , dormitorios , e cellas com generoſidade
verdadeiramente Regia. Com o terremoto padeceo
pequeno damno ; porém os Religioſos para ſe livra
rem de todo o ſufto , rezaraó alguns tempos na pora
taria , é mandara o renovar na parede do Alcar mór
hum pedaço de abobeda , que unicamente padecera.
Noſa Senhora da Nazaretb . Collegio , e Novicia
do que foy dos Padres Jeſuitas , que le deſtinavao
para as Miſsões da India , foy fundado no ſitio de
Arroyos em o anno de 1705. Foy pequena a ruina
que o terremoto cauſou a eſte edificio , que já ſe
acha reſtaurada .
Ermidas..

Santo Antonio . Na quinta dos Cypreftes , que he


de Franciſco Monteiro de Souſa .
Santo Antonio. Na quinta de Luiz Alvares de An
drade , acima de Arroyos.
Santa Barbara . Na quinta que foy do Deſembar,
gador Luiz Borges de Carvalho , é hoje he de D.
Igriez Rola de Moura . Nao teve com o terremoto
deſtroço algum , antes ficou tao intacta , que le abri
gou nella a Parroquia de S. Jorge.
Noſa Senhora da Conceiçao. Nas caſas de D. Chrif
tovao Manoel de Vilhena a Arroyos. Tambem nao
padeceo ruina confidcravel.
: Noſa Senhora da Conceiçao. Na quinta do Pina. -
Noſa Senbora da Conceiçao. No campo Real da
Bempofta. Foy erecta pela Sereniffima Infanta de
Portugal, e Rainha de Grað Bretanha a Senhora D.
Catharina , eſtabelecendo neſta Igreja , c Capella
Real
232 Mappa de Portugal.

Real humà Collegiada com doze Capellães canto


res obrigados 20 Coro todos os dias , e com a con
grua de oitenta mil reis cada hum . He hoje ſeu Do
natario , e Adminiſtrador o Sereniflimo Senhor In
fance D.Pedro , por ter conſeguido por ſentença a
grande Caſa do Infantado , o qual em 11 de Dezem
bro de 1758 accreſcentou mais oito Capellães com
cem mil reis cada hum de congrua , hum Thclou
reiro , hum Moço de Capella , cinco Cantores , hum
Organitta , e hum Maceiro , e fez reduzir a Igreja
a forma magnifica , e competente a huma Regia
Collegiada.
S. Gonçalo. Ao poço dos Mouros , de que he Ad
miniſtrador Jeronymo Pereira Coutinho.
Jeſus, Maria , Joſepb. No Paço da Bempoſta , de
que he Adminiſtrador Joao da Silva Furtado . Com
o terremoto ficou arruinada baſtantemençe.
S. Joao Bautiſta . Na quinta da Cruz de Almada .
S. Joao Bautiſta . Na quinta que hoje he do De
ſembargador Joao Marques Bacalháo .
Noſa Senhora do Monte. Foy edificada no anno de
1243 por huma D. Suſana. Os Religioſos Eremitas
de Santo Agoſtinho logo nos principios da ſua intro
ducçao netta Cidade habitaraó aqui, e foy eſte o
ſegundo Convento , que tiverao com o titulo de
Eremitorio de S.Gens . Por juſtos motivos o defam
pararaó , mas ſempre ficara ó conſervando a ſua ad .
miniſtracao , e he governada por hum Capellaó ,
Religioſo do meſmo Convento eleito em Capi
tulo .
go Debaixo do alpendre deſta Igreja , em hum
angulo delle , permanece ainda a cadeira de S. Gens ,
que o Illuſtriſlimo D. Rodrigo da Cunha conjectu
ra cer ſido Biſpo de Lisboa. Efteve ella na primeira
habiraçao deites Religioſos Eremicas na raiz do mon
te , na qual dizem ſe ſentava aquelle ſanto Prelado
para pregar ao povo : foy tansferida para o Gtio on
de agora ſe acha : e he mayor a ſua veneraçað , de
pois
Da Cidade de Lisbon.
233

pois que a Sereniffima Rainha D. Maria Anna de


Auſtria lhe mandou pôr grades de ferro à roda na
occafia quando veyo aquino anno de 1723 tentar
fe nella para ſer bem ſuccedida nos ſeus Reaes par
cos , ſegundo a inveterada fé, que as matronas Lif.
bonenſes tem com a intercefaõ deſte Santo , expe
rimentando quando eſtao proximas ao parto , o ſe
rem bem ſuccedidas , ſe aflim o exccutað .
i SI Totalmente ſe arruinou eſta Ermida com o
terremoto , fallecendo debaixo de ſuas ruinas o Er
mitao Donato da Ordem , que tinha naquelle inſtans
te acabado de commungar , e ſe achou depois de
joelhos com os braços em cruz. A fagrada Imagem
da Senhora , que he perfeitiſlima , e titular da Igre
ja , ſe achou debaixo das ruinas fem leſaó conſide
ravel , e logo o Padre Capellao regente , com ad 1
jutorio de muitos devotos, lhe fez edificar huma
Capella de madeira no meſmo fitio , e territorio da
Ermida , onde .com a poſſivel decencia foy por al
gum tempo venerada , e com fervor le ' foy cuidan
do na reedificaçao do Templo arruinado para onde
depois ſe trasladou .
Noſa Senhora do Monteagudo. Exiſte no caminho
de Penha de França. Foy edificada por Lourenço
Pires de Carvalho , Commiſſario da Bulla da Cru
zada , no anno de 1693 , e he hoje feu Adminiſtra
dor o Conde de Soure. Ficou intacta , e firme aos
impulſos do terremoto.
Noſa Senhora da Nazareth. Nas Olarias .
Noſa Senhora do Populó. No Palacio de D. Fran
ciſco Innocencio de Souſa Coutinho em Arroyos .
Noſa Senhora dos Remedios. Na quinta de Manoel
de Oliveira .
* Santa Roſa. Em Arroyos no Palacio do Senhor de
Murça. Nao ſentio ruina alguma y Antes para eſta
Ermida fe: foraðirefugiar algumas: Paroquias .La
I S. Vicente Ferrer. Ao forno do tijolo . Tambem
nao padeceo ruina .
Tom.III. Part .V. Gg 52 Conf
234 Mappa de Portugal
.

52 Conſtava eſta Freguezia antes do terremoto


de dous mil cenro e quarenta fogos ; agora numera
em todo o ſeu deſtricto, e babitantes em caſas , dous
mil cento e dezaſete fogos : e diſperſos nao ſó nos
dous abarracamentos , que acima diffemos dentro
nos limites da Freguezia , mas tambem nas outras
alheyas , que conforme a Paſtoral do Eminentiffimo
Cardeal Patriarca ; fe reputaó como proprias , dut
zentos noventa e tres fogos ; que todos juntos vem
a fazer o numero de dous mil quatrocentos e dez fos
gos , até o anno de 1757. Conſta das feguintes
o Ruas. fi
vs Arroyos , Santa Barbara , Bempofta grande , e
pequena , Bombarda Calçadas de Alvalade , de
Santo André , do Conde de Pombeiro , do Monte ,
Caracol da Penha , Carreira dos Cavallos , Carrei.
rinha , Cruz dos quatro caminhos , Cruz dos Sigad
nos , Eſtrada de Sacavem , Fontainha ,Graça , Monº
teagudo , Olarias , Penha de França , Poço de Mou
ros, Rol , Rua Nova , Sol , Terreirinho , Travef
fa do Monte .
Becos,
1
Almocreves, Cativos , Joao do Monte , Jordao
Imaginario .
Freguezias confinantes.
Santo André, Santa Engracia , S. Lourenço , Se
nhora dos Olivaes , Senhora da Pena , S. Sebaſtia5
da Pedreira , Senhora do Soccorro .

IV .

S. Bartholomeu .

F3
brir deſta Paroquia , he a que conſta de
buma efcritura feita pelo Biſpo de Lisboa D. Alva
ro no anno de 1168 , na qual ſe faz já mençao da
Igreja de S. Bartholomeu , como bem adverte D.
ì, } : Ro
Da Cidade de Lisboa . 235

Rodrigo da Cunha. ( 1) Foy Capella Real delRey


D. Diniz , quando vivia no palacio fronteiro da
Igreja , para a qualtinha paſſadiço , e - tribuna e
querendo o Biſpo D.Domingos Jardo fundar o Hof
pical de S. Paulo , hoje Convento de Santo Eloy ,
no deſtricto deſta Freguezia , ElRey D. Diniz no
anno de 1286 lhe fez mercê do Padroado della para
applicar ao Hoſpital as ſuas rendas. (2 )
54 : De forte , que o Reitor de Santo Eloy , em
quem recahio o Padroado por transferencia do Biſ .
po , he o que hoje apreſenta a dicą Igreja , que ren,
derá , huns annos por outros , ſeifcentos mil reis.
Reedificou - fe o antigo edificio por diligencia do
Prior Manoel da Silva e Moura pelos annos de 1707 ,
pouco mais , ou menos . ( 3 ) .
SSS Ha aqui tres Beneficios , que apreſenta , e
colla o Reitor do ſobredito Convento , e renderá
cadarhum , entre frutos, anniverſarios , e pé de Al
far , noventa mil reis. Hamais tres Capellanias : hu
ma que inftituío Joao da Fonſeca com obrigaçao de
Mifta quotidiana , e de rezar no Coro : outra que
ordenou Maria de Alcaçoya , mulher de Antao da
Fonſeca : outra de Frapciſco de Matos , que codas
pelo ſeu tenue rendimento ſe nao fatisfazem , e vao
para os legados nao cumpridos. Houve aqui tam
bem outra Capella , que inſtituió o Biſpo do Algar
ve Joao Soares Alao 110 anno de 1308 , de que ſe
lembra o Author dasMonarquia Lufitana , liv. 18.
c . 30. Ha mais na Igreja duas Confrarias , huma
das Almas com a protecçao de S. Miguel : outra de
Santo Antonio dos Pobres , além da do Santiſſimo
Sacramento .
56 Nao lhe reſultou a eſta Igreja pequeno pre
juizo com o terremoto , e incendio memoravel
porque hum lhe derrubou o tecto , e frontariais ; e .
Gg ii OU

[ 1] Cunha Hiftor. Ecclef de Lisboa part.2.cap.7. [2 ] Ibid.cap.69.


Monarq. Lufit. liy. 16. cap.54 [ 3 ] Santuar.Marian. tom . 7.p. 136
236 Mappa de Portugal

outro The deſtruío as melhores tres Capellas , que


tinha : devorou a mayor parte da ſua prata , e dos
ſeus ornamentos , e tirou a vida a quarenta e cinco
peſſoas detta Paroquia ; , ſalvando- ſe todavia ſem le
faó alguma 08 ornatos , e mais fabrica pertencentes
a milagrofa Imagem da Senhora da Graça . Vendo .
fe neite deſamparo , e confternaçao o Paroco detta
Igreja , como os ſeus freguezes le chao ido abara
racar em mayor numero para o Campo de Santa Cla .
ra, quinta do Alcaide Fidalgo , Cardal , e Cruz dos
quatro caminhos , determinou crigir humabarraca .
decente , poſto que pobre , no Cardal da Graça , aonde
exiſtio , fem faltar à adminiftraçao dos Sacramentos.
57 Ha no ſeu deſtricto os Templos ſeguintes

100 !, Convente. Bu , 2
,
Santo Eloy. De Concgos Seculares de S. Joað Evana
gelifta. Foy fundado pelo Biſpo D. Domingos Jara
do no anno de 1286 com o titulo de Hoſpital de S.
Paulo . Por morte do Biſpo ficou ſeu fobrinho Af
fonfo Annes com o governo do dito Hospital, e
com o titulo de Provedor , até que indo em deca
dencia a ſua adminiſtraçao , recorrendo ao Papa Eu
genio IV . o Infante D. Pedro , que governava efte
Reino pela minoridade de D. Affonſo V. , o deu a
eſta nobiliflima Congregaçao , do qual tomou pofa
fe D. Affonlo Nogueira em 24 de Abril de 1442!
Foraó os Conegos deſta vencravel Congregaçao os
que inftituirao a primeira Irmandade do Santiffimo
Sacramento , que houve em Lisboa. ( 1)
58 Com o grande , e inſolito abalo do terremo .
to , padeceo efta Igreja notavel deſtroço. Cahiraó
lhe immediatamente as duas torres , huma chamada
a torre velha , onde eſtavao os finos , e'o relogio ;

( 1 ) Santa Maria no Ceo Aberto na Terra liv. 1, p.299.eliy.2.p.4372


Şantuar. Marian, tom . 1. p, 188 .
Da Cidade de Lisboa .
237

e a outra chamada a corre nova , que ainda nað ti


nha finos , e exiſtia por cima da porta da Igreja .
Logo lhe cahio o tecto , e as ſuas paredes até as ci
malhas das Capellas , ficando os dous' arcos da Cas
pella mór , 0 e do Coro em pé. Ao meſmo tempo
cahio tambem o te &to da Sacriftia , e huma parede ,
que ficava para a banda do parco , e corria igual
com a parede fronteira da Capella mor, que toda ſe
abateo .
0591 Neſte eſtrago conjectura fem que acabara
a vida mais de noventa peſſoas ; e da Communida
de pereceraó o Reitor , e Vice-Reitory o Procura
dor geral , mais dous Padres , hum Coriſta , e hum
Leigo .
60 O Convento ſó teve de ruina com o terre
moto , cahir ametade da parede do frontiſpicio pa
ra a parte do Limoeiro : o mais refiftio firme ; po
rém ſobrevindo o fogo , 'ardeo todo o dormitorio ,
e livraria , que estava nas varandas do clauftro , fi
cando todavia illeſas do incendio a caſa do Carto
rio , que também eftava no meſmo clauftro , e a
Igreja , e a Sacritia : mas nao ſe poderao livrar da
actividade das chammas os celeiros , adegas , refei
torio , e botica , que eſtavað por , baixo do dormis
torio .
is Ot Reſolveraõ os Padres neſte deſamparo hirem
no meſmo dia buſcar o abrigo de outro ſeu Con
vento , que tem em o ſitio de Xabregas junto à ma
rinha ; e paſlado algum tempo , o novo Reitor , que
elegera) , chamado Joſeph da Cruz Ortigao , man
dou fazer no clauſtro delte Convento arruinado hu
ma barraca por modo de hofpicio , c no andar de
1 cima nove ccllas . Fez mais huma Capellinha com
+ hum fó Altar para ſe dizer Mila , e outras accom
modações , e officinas , em que actualmente allifte
com dous Padres , e tres Leigos .

Se
238 Mappa de Portugal.
Seminario ,
Santa Catharina. De Collegiaes feculares, eſtabe
lecido pelo Cardeal D. Heorique, ſendo Arcebiſpo
de Lisboa . Eraó governados por hum Reitor Jelui
ta , e Vice-Reitor Clerigo ſecular , que os acompa
phava ao Collegio de Santo Antað , onde hiao apren
der as faculdades , que alli fe en Ginavao. Tambem
padecço muito com o terremoto , e incendio ,
cando em deploravel eſtado.
62. Conſtava efta Freguezia antes do terremoto
de cento e quarenta fogos , e de quinhentas peſſoas ::
preſentemente acha- ſe com cincoenta e hum fogos ,
e cento e ſetenta peſſoas , porque ſe arruinarað
deſtruira ) com o fogo mais de noventa e ſete mora .
das de caſas. As ruas eſtaó quali deſertas, e faó as
ſeguintes,
Ruas .
Amargura , Chao da Feira , Jeruſalem , Lage ,
Paliadico , Portas de Alfofa , Seminario , Torre ,
Traveſſa do Chao da Feira .
Freguezias confinantes,
Santa Cruz do Cattello , S. Mamede , Santa Ma.
ria , Santiago . *** 943
V.

Santa Catharina .

63 Oy fundada eſta Igreja na eminencia de


F hum monte , chamado antigamente do
Pico , ou Belver , em 27 de Mayo de 1557 pela de
voçao del Rey D. Joao III. , e da Rainha D. Catha
rina ſua mulher , intervindo o Padre Fr. Miguel de
Valença da Ordem de S. Jeronymo... Deu a Rainha
para a ſua fabrica a mayor parte do guſto , e a dor
fou de muitos , e precioſos orgamentos. ( 1 ). Depois

[ 1 ] Brand . Monarq. Lulit.liv. 18. cap. 46. Cardoſo Aziolog. Lufit.


tom . 2. pag.715 :
Da Cidade de Lisboa . 239

a inſtancias da meſma Rainha foy erecta em Paro


quia com beneplacito do Cabido da Sé Metropoli
tana por eſcritura feita em 9 de Outubro de 1959 ,
deſmembrando - ſe do territorio , que pertencia à Pa
roquia dos Martyres , e começou a exercer as ſuas
regalias deſde o primeiro de Janeiro de 1960. ( 1 )
64 _Aflim a foy poſſuindo a dira Rainha no ſeu
Real Padroado , conſervando porém ſempre na fua
adminiſtraçaó a Confraria antiga dos Livreiros
( por ſerem miniſtros da ſabedoria , de que eſta San
ta he Protectora ) os quaes ſe tinhao mudado para
eſta nova Igreja , da Ermida de Santa Catharina de
Ribamar , onde tiverað o ſeu primeiro eftabeleci
mento , defde o anno de 1460 ; até que a ſupplicas
do Livreiro da Caſa Real , fez a Rainha mercê do
Padroado ao dito Officio , incorporado em Irman ,
dade no anno de 1567 , com a obrigaçao de ſervir
ſempre de Juiz hum Fidalgo da primeira grandeza ,
como até o preſente ſe obſerva.
os O Paroco tem predicamento de Cura, que
a Mera da ſobredita Irmandade como Donataria ,
provê annualmente , e tambem tres Coadjutores , e
hum Thcloureiro , que fao os Miniſtros deſta Igre
ja , aos quaes confirma o Prelado deſta Dieceſe. Ao
Cura renderá a Paroquia ſeiſcentos mil reis , fó do
que ſe chama pé de Altar , porque nao tem dizi
mos , e a cada hum dos Coadjutores cento e ſeffcn .
tå mil reis ,' e o meſmo ao Theſoureiro.
66 Tem eſta Igreja cinco Irmandades ; a do
Santiſſimo , a das Almas , Santa Catharina , S. Jo
feph , S. Sebaſtiao. Conta dezanove Capellas , a ſa
ber : quatro da Irmandade do Santiſſimo , das quaes
huma he de ſeffenta mil reis , e as tres de cincoen .
ta : dez da Irmandade das Almas , todas de quaren-
ta e oito mil reis : huma no Altar de Noſſa Senhora
( 9. da

[ 1] Bayad Portug. Cuidad. liv.4 . cap.20. Fr. Apollin. Demonftrag.


Hiftor. pag. 212.
240 Mappa de Portugal.

da Nazareth com ſua Confraria , e Capellao com


cincoenra mil reis : huma no Altar do Santo Chrif
to de elmola quotidiana de cento e vince reis , a qual
adminiſtra Bernardo de Almada , Provedor da Caſa
da India : duas que adminiſtra a Irmandade da Con .
gregaçao da Doutrina , e cada huma de cem mil
reis, mas com obrigaçao de acompanhar o Santiſſi
mo ; e huma que adminiſtra a Irmandade de Santa
Catharina com a congrua de cincoenta mil reis .
67 Experimentou cíta Paroquia baſtante ruina
com o terremoto ; pois naó ſó deſtruío o ſeu im .
pulſo a Igreja Paroquial , e a dos Religioſos de Je
fus da Ordem Terceira , mas os palacios do Conde
de S. Lourenço , da Condeſſa do Rio grande de
D. Joſeph de Lancaſtro , de D. Joſeph de Menezes ,
de D. Antonio Alvares da Cunha , e mais duzentas
e quarenta e nove propriedades de caſas de varios
ſenhorios, e moradores ; das quacs vinte e duas to
talmente conſumio o incendio ſubſequentemente ao
terremoto .
68 Neſte doloroſo eſtado paſſou logo o Paroco
a eltabelecer a Freguezia na Ermida do Eſpirito
Santo do Recolhimento dos Cardaes ; e porque eſta
nao tinha commodidade opportuna para ſe recolhe
rem nella as inſignias da Irmandade do Santiflimo ,
foy abrigarſe tambem na Barraca dos Religioſos
Terceiros, donde fahia o Santiſſimo por Viatico aos
enfermos ; conſervando juntamente na dita Ermida
o Sacramento para as Communhões quotidianas dos
freguezes , e mais povo . Aqui permaneceo até 23
de Novembro de 1757 , em cujo dia ſe transferio
para a antiga Igreja Paroquial , que ſe acha fuffi
cientemente reedificada . e onde ſe fez em acçao
de graças hum triduo feſtivo com toda a ſolemnie
dade . r.,
69 No ſeu deſtricto exiſtem os Conventos fe .
guintes.

Conne
Da Cidade de Lisboa. 240

Conventos.**

Noſa Senhora de Jeſus. De Religioſos da Tercei


ra Ordem de S. Franciſco . Teve origem em huma
Ermida , em que habitava hum Ermitaó no fitio dos
Cardacs', e della tomarao poffe os Religioſos no an
no de 1595 , onde fizerao Hofpicio . Depois no an
no de 1015 a 30 de Julho fe lançou a primeira pe
dra no edificio novo , em que ' fe difle a primeira
Miffa å 24 de Fevereiro de 1623. ( 1 ) He Templo
grandioſo com eſpaçoſa área. Fabricou -lhe a Capel
la mór o Arcebiſpo de Lisboa D. Joao Manoel no
anno de 1633 , por cujo principio ficaraó fondo Pau
droeiros della os Condes de Atalaya, hoje Marque
zes de Tancos. A Capella dos Terceiros Seculares
he attendivel : fórma quaſi huma Igreja feparada
com ſete Altares perfeitamente adornados. ?
70 Todo eſto ſagrado Templo ficou ſujeito à
lattimofa ruina , que lhe occaſionaraó'os violentos
impulſos do terremoto. Cahio primeiramente a pa
rede do oculo , que ficava ao Norte por cima da
Capella mór , e arruinando o ſeu tecto , quee era de
cantaria almofadada, deſpedaçou nao fó todo o'réta
bulo de talha dourada , e todo o Altar mór , mas a
preciofa Capella do Santiſſimo , que lhe ficava con
tigua. Os arcos de pedra , que fuftentavao o tecto
da Igreja , e dividiaó o Cruzeiro , é o Coro , fe
desfizerab , c levarað com ſigo parte do ornato do
meſmo Coro , e offenderaó outras partes da Igreja ,
acabando de le arruinar tudo em a noite de 20 de
Janeiro de 1756 , em que cahio o tecto da Igreja ,
c ſe perdeo o Coro , que conforme os Arquitectos
Tom.III . Part . V. Hh de

[ 1] Alim o refere Fr. Appolinar. da Conceiçao no Clauſtro Frana


ciſcan. pag. 66 ; porém Jorge Cardoſo no Agiolog. tom . 1. pag. 87 .
diz , que os Religioſos tomaraó pofſe a 4 de Outubro de 1599 , a quem
ſegue D. Luiz de Lima na Geogr. Hiftor. tom . 2. p.151 , e o Author
do Sancuar. Marian , tom .I. p . 308. , etom . 7. p. 109;
242 Mappa de Portugal.

de bom goſto , era o mais formoſo , e regular , que


havia na Corte .
71 Arruinou - ſe tambem a caſa do Refeitorio
magnifica , o Dormitorio da parte do Sul e o do
Cardal , que fica ao Norte ; o lanço do Clauſtro
immediato à Igreja , e a Enfermaria com as ſuas of
ficinas. As ſagradas Imagens , que ſe veneravao neſa
te Templo , e com elle participarao dos ſeus deſtro
ços, achao ſe todavia pela mayor parte já remedia
das , e expoſtas à publica veneraçao por diligencia
de varios devotos . Dentro da Igreja morrerao vin
te e huma peſſoas, a ſaber : dous homens > e deza
nove mulheres. Dos Religioſos foy fó o P. Préga
dor Fr. Manoel da Madre de Deos com oitenta e
cinco annos de idade , e ſeſſenta e dous de profeſſo
o que pereceo dentro do Convento , porque nos el
tragos da rua Nova ficou ſepultado Fr. Manoel de
S. Jeronymo Farco , Commiſſario da Corte .
72 Vendo - ſe os Religioſos em tanta oppreſlao ,
e deſarranjo ,forað refugiarſe na Capella de S. Fran
ciſco , que eſtá na ſua cerca , onde no dia ſeguinte
2 de Novembro celebraraó , e officiaraó , transfe
rindo para a dita Capella o diviniſſimo Sacramento ,
que ficou fem perigo algum no feu Sacrario . Nel
te lugar ſe conſervaraó muitos Religioſos em cor
po de communidade , reparados com pobre abrigo
das inclemencias do tempo . Daqui fahia ) a adminiſ
trar os Sacramentos aos moribundos , e a buſcar os
mortos para lhes dardecente ſepultura. Daqui foc
corriao as neceſidades do proximo , exercitando
compaſſivos muitos actos de caridade com o attenua
do povo , que em turbas ſe havia acolhido àquelle
lugar.
73 Continuava o deſcommodo , e apertava o ri
gor do tempo ; e aſſim foy preciſo ao P. Commiſ
fario Vifitador , e Provincial mandar levantar 2. en
tre outras , huma decente barraca , onde ſe princi
piaraó a celebrar os .Officios Divinos com ſolemni
da
Da Cidade de Lisboa. 243

dade , canto , e orgao na veſpera da Natividade de


Chriſto de 1755 , e ſe continuarao até que novamen
te le reftituirao à Igreja , que ſe acha nobremente
reedificada . Muito deve a Communidade ao zelo
dos RR . PP . Fr. Manoel da Conceiçao Poyares,
Ex- Definidor , e Miniſtro local da Caſa, e ao Com
miffario Provincial , e Vifitador ; porque hum man
dando deſentulhar a Igreja , e reſgatar dos eſtragos
das ruinas muitas excellentes pinturas , e traſtes ef
timaveis , por nao perecerem de todo ; e o outro
mandando restaurar varias porções do Convento , o
tem feito capaz , quanto he poſſivel , de habitarem
nelle os Religioſos.
74 A grandioſa Capella dos Terceiros , cujo te
cto era de abobeda , cahio ao primeiro tremor , mas
a tempo que todos os que eſtavao dentro haviao fu
gido para o pateo do Hoſpital , de ſorte que nao
perigou ninguem ; deſpedaçando a abobeda o que
continha a Capella , e ficando tambem deftruida a
caſa do Deſpacho : porém cudo ſe acha reſtaurado
excellentemente pelo zelo , e diſpendio dos Irmãos
Terceiros.
Santiſimo Sacramento, De Religioſos Pauliſtas da
Congregaçao da Serra de Offa. Deve eſte Conven
to a ſua erecçao ao grande zelo do P. M. Jubilado
Fr. Diogo da Ponte , que com o patrocinio delRey
D. Joao IV . lhe deu principio no anno de 1647
com huma grandeza , e magnificencia notavel . Com
o terremoto participou de algumas ruinas ; porque
cahiraó as pyramides das duas torres , e varanda ;
abrio a abobeda da Igreja pelo meyo quaſi hum
palmo ; cahirao até o meyo as paredes das ulcimas
duas cellas , que olhao para o Norte , e Occiden
te , e padecerao ſeu de troço as paredes do novo dor
mitorio : porém nao chegou o infortunio a tirar a
vida neſte lugar , mais que a huma mulher , que
morreo da ferida de huma pedra , que lhe cabio ef
tando dentro do Cruzeiro .
Hh ii 75 Obris
244 Mappa de Portugal.

7 Obrigou eſta fatalidade aos Religioſos irem


aquartelarle na cerca em barracas , que a prompta
providencia dos Prelados mandou fazer , e com ef
pecialidade huma para ſe celebrarem nella os Offi
cios Divinos , em quanto a Igreja ſe naó punha ex
pedita : neſta diligencia ſe trabalhou com efficacia.
O Templo ficou com a vantagem de melhorar no
eſplendor, deſafogo , e claridade ; porque ſobre as
parcdes antigas da Igreja ſe accreſcentaraó na altu
ra mais feis palmos , para ſe plantar ſobre ellas vi
gamento , e formar o tecto de eftugue. O Conven
to porém ſe acha inteiramente nao ſó reparado ,
mas habitado , e abaſtecido com o grande reforço
de groſſas linhas de ferro , que ſe introduzirao por
entre as paredes quafi em todas as cellas , e dormi
torios.
Recolhimentos.

Nofa Senhora do Carmo. He adminiſtrado pelo Con


de de S.Lourenço . Teve grande ruina , e as Reco
lhidas foraõ quali todas para o palacio , que foy do
Conde de Sabugoſa na viſinhança de Santo Amaro ,
o qual hoje poſſue o dito Conde de S. Lourenço.
Eſpirito Santo. Foy fundado no anno de 1671 por
D. Maria Borges , mulher nobre , para nelle vive
rem retiradas do mundo algumas mulheres graves.
Deſde o anno de 1680 , que o adminiſtraó os Reli
gioſos de Jeſus da Terceira Ordem de S. Franciſco .
Padeceo pequena ruina com o terremoto , ea que
teve , ſe acha recuperada .
76 Conſtava eſta Paroquia antes do terremoto
de mil oitocentos e ſerenta e quatro fogos ; peſſoas
de communha) oito mil duzentas e cincoenta e cin
co . Acha -ſe pretentemente com mil quatrocentos e
ſefſenta e cinco fogos : e oito mil e vinte peſſoas de
communhao e cento e quarenta menores diftri
buidas pelas ſeguintes ruas ; a mayor parte deſercas .

Ruas,
Da Cidade de Lisboa. 245

Ruas.
Adro da Igreja , Almada , Arrochela , Bica gran
de , e pequena , Cabral, Caldeira, Calçada do Com
bro , Čardaes , Caſas cabidas , Conde , Convertidas,
Cruz , Cruz de páo , Direita, Era , Eſperança ,
Ferreiros , Frontaria de S. Bento , Gaivotas ,' Igre
ja , Joao Braz , Lambaz , Marcos Marreiros , Par
reiras , Paz , Peaes de S. Bento , Pedro Dias , Por
tugueza., rua Nova de S. Bento , Secretario , Sol ,
Teireirinho da Cruz , Valle , Valle das Chagas.
Becos , « Travelas.
· Arcipreſte , Carraſco , Benedicto , Bento da Sil
va , Esfolabodes, Judeo , Larangeiro , Marçal, Paf ,
coa , Queimada , Roſa , Rua Freſca , Siqueira.
Freguezias confinantes.
Encarnaçaó , Santa Iſabel, Mercês , S. Paulo ,
Santos .
VI.

Chagas de Jeſus.

77 S ritorio determinado , por ſer ſómente pro .


pria para os homens maritimos da carreira da India ,
e mais Conquiſtas ; com tudo como tem pia Bautiſ
mal , e goza das regalias Paroquiaes , a incluimos
em o numero das Freguezias da Cidade.
78 Teve o ſeu principio de huma Irmandade
das Chagas , que no Convento da Santiſſima Trin
dade deſta Corte infticuira Fr. Diogo de Lisboa ,
Miniſtro do meſmo Convento ; e por diſcordia , que
houve entre a Irmandade , e os Religioſos , ſe ſepa,
sou delles , pedindo licença ao Pontifice Paulo III.
para erigirem à ſua cuſta huma Igreja , que tivele
todas as inſignias de Paroquia , e faculdade para no
mearem Capellaó , e ter hum Hoſpital , em que ſe
curaſſem os feridos , e enfermos das Armadas ; al
legando para iſſo os ſerviços , que os da dita Irman ,
da ,
gal.
246 Mappa de Portu
tes , tinhaó feito
dade , como homens navegan à
a d a s r a os Infieis,
Igrej nas Arma cont
79 Conccdeo - lhes bénignamente Paulo III. O
que pediaó , e pondo elles em execuçaõ a faculdade
Pontificia , deraó ordem a fabricar a Igreja no al
to de hum dos montes deſta Cidade para a parte do
Occidente , onde ſe diſſe a primeira Mila em dia
de Santo André do anno de 1542. O meſmo Ponti .
fice a annexou à Igreja Lateranenfe de Roma com
varios privilegios , que Urbano VIII . confirmou
em 23 de Outubro de 1623 , depois de varias duvi
das , que a Irmandade teve com o Ordinario : ſendo
que a Bulla do Papa declara , que no que toca à
iſençaã do Ordinario quer feguarde a forma do Con
cilio Tridentino ; e em quanto ao Cura adminiſtrar
os Sacramentos aos individuos deſta Irmandade , de
via fer primeiramente approvado pelo Prelado Die
ceſano . ( 1 )
80 He a dita Irmandade Padroeira , e Adminiſ
tradora de todos os bens pertencentes a eſta Igre
ja , na qual tem Cura , hum Theſoureiro , e tres
Capellães , cujo rendimento he incerto ; pois ſe ex
trahe de todos os que embarcao nas náos de EIRey ,
que fazem ?viagem para a India ', e Braſil ; e tam

bem das eſmolas , que daó aos Fieis à milagroſa


Imagem da Senhora com o titulo da Piedade , que
ſe venerava em hum Altar por debaixo da Capella
mór. ( 2 )
81 Ficou eſta Igreja nað ſó arruinada com o
terremoto , mas deſtruida totalmente com o fogo ,
que pelas duas horas da tarde daquelle fatal dia do
primeiro de Novembro a devorou : nella perderaó
a vida cres mulheres , chum Religioſo Xabregano ,
e ficarao outras algumas peſſoas eſtropeadas. Perdeo
a

( 1 ) Fr. Joao Figueira Carpi in Chr. Ord.San &t. Trinit ad an. 1493 ,
e Fr Pedro de Alcuna in Chron. p. 1. l. 2.p.210. , dizem , que o Con
ſervador Apoſtolico deſta graça fao os Biſpos do Algarve. [ 2] Fr.Agors
ciabo d : Santa Maria no Santuario Mariano tom . 1.p.324
Da Cidade de Lisboa. 247

a Igreja os ſeus ornamentos , e a mayor parte da ſua


prata ; e nas ruinas da Capella mór fícarao as ſagra
das Pyxides , com o Sacramento , poſto que dentro
do Sacrario ; e as venerandas Imagens da Senhora da
Piedade , do Senhor morto , de S. Joao Evangeliſ.
ta , e Santa Maria Magdalena , que todas eſcaparaó
do incendio .
82 Socegado daquelle lufto por alguns dias , re
correo o cuidadoſo Paroco defta Igreja à diligen
cia de extrahir daquella miſeravel ruina ao diviniffi
mo Sacramento , o qual achando- ſe intacto , e as de
mais Imagens da Capella mor , forao conduzidas par
ra o Oratorio da quinta de Bento Gonçalves Forte ,
chamada a quinta nova a ſete Rios , onde eſtivera )
até 20 de Junho de 1756 , em que diſpoſta , e erecta
huma nova Ermida de madeira , e frontal em o ſitio
dos Cardaes na Cotovia , ſe eſtabeleceo alli a Paro .
quia , onde prefentemente ſe acha ; nað ſe tendo
feito mais reparo na antiga , que deſentulharſe , e
demolirſe algumas paredes , que ameaçavaó eminens
te ruina .
VII .

S. Chriſtovao.

;
83 D porque para euunapublicar o verdadeiro , e
hiſtorico fummario de todas as Freguezias deſta
Corte , ſegundo o actual eſtado , em que ſe achavao
antes do terremoto , me vali de ordem ſuperior pa.
ra os Reverendos Parocos me participarem as in
formações veridicas", e competentes , o que elles
executaraó com acerco , e pontualidade.
84. Porém ſendo repetidas as diligencias , que ſe
fizerao , para que o R. Doutor Joaquim Salcer de
Mendoca , Prior deſta Igreja , me communicaffe as
noticias da dica Paroquia , le achou ſempre nelle hu
ma cal repugnancia , que me reſolvi procurallo sm
II
248 Mappa de Portugal.

ii de Mayo de 1755 , dizendo - lhe , que a impreſo


faó deſte como tinha chegado aos termos de parar
por falta das noticias ſupplicadas . A iſto me reipon
deo ſevero ( tem mais informaçao da minha empre
za ) que nao as dava , por quanto femelhantes obras
crao inureis ; pois nellas ſe comettia ) muitos erros ,
por nao ſerem eſcritas , e authenticadas com docu
mencos originaes .
85 Deita ſua repoſta diſcreta , e prudente ſó ti
rey o deſengano , e a republica literaria pode ter
bém fundada expectaçaó , de que o meſmo R. Prior
a illuſtrará com as memorias historicas da mencio
nada Freguezia , as quaes fó elle poderá compor com
aquelle acerto , e formalidade , que ſe admira nas
fuas ſentenças , e acordáns ; por ſer hum Miniſtro
muito eſpecialiſlimo da Curia Patriarcal , e ſer a ſua
inteircza unicamente comparada , com a urbaniſlima
attençao , e exacta pontualidade com que ouve as
partes , e deſpacha os pretendentes.

VIII.

Noſſa Senhora da Conceiçao.

86 Eve origem efta Paroquia em tempo do


1
T
Cardeal Arcebiſpo D. Henrique , o qual
em 16 de Janeiro de 1968 a erigio , e incorporou na
Igreja da Real Collegiada da Conceiçaõ dos Freires
da Ordem de Chriſto , tirando o compuco dos ſeus
fog's parte da Fregueria de S. Juliaó , e parte da
Magdalena. Alli fe conſervou até o anno de 1682
no qual por controverſias , que houve entre o Cu
ra , e os Beneficiados da Collegiada , por Decreto
de EiRey D. Pedro II . , e Paitoral do Arcebiſpo
D. Luiz , ſe mudou para a Ermida de Noſſa Senhos
ra da Victoria , fica na Caldeiraria , Fregueria de S.
Nicoláo , onde permaneceo até o anno de 1699 .
87 Havia -ſe dado principio na Rua Nova , chas
2 mas
Da Cidade de Lisbori. 249

mada dos Ferros , a huma ſumptuoſa Igreja deſde


is de Junho de 1698 com o titulo de Nofra Senho
ſa da Conceiçao , e com tanta diligencia , e fervor
ſë crabalhou na fabrica , que logo no ſeguinte anno
de 1699 ſe diffe nella a primeira Miſla a 23 de Agoſ
to. Ordenou entao o Cardeal Arcebiſpo D. Luiz
de Souſa , que para ella ſe transferiſſe o Santiſſimo
Sacramento da Ermida de Noſſa Senhora da Victo
ria , onde eſtava. Allim fe fez com huma folemniſ
fima Prociffaó em 13 de Setembro de 1699 , levan
1
do o meſmo Cardeal Arcebiſpo a ſagrada Cuſtodia
com o Santiſſimo , acompanhando- o os Conegos da
Cathedral, e todo o Clero da Cidade .
88 Eſtabelecida a Paroquia em a nova Igreja ,
fe acabou eſta de concluir , e aperfeiçoar no anno de
1730. O Paroco até o anno de 1754 teve o predi
camento de Cura amovivel ; porém o Eminentiffi
mo Cardeal Patriarca D. Thomaz de Almeida , con- ,
ferindo a dita Igreja
como Prelado Donatario em o
ſeu Gentil-homem Ecclefiaftico Braz Joſeph Re
bello Leite , o collou com o titulo de Reitor , c
lhe rende trezentos e cincoenta mil reis . Ao Cura
com a ſua Capella , e mais beneſſes , renderá cento
e quarenta mil reis. Tem hum Theſoureiro , que
apreſenta a Meſa do Santiſſimo , ſem recorrer ao
Prelado, e leva a terça parte das offertas por coſtu
me aflim introduzido .
89 Ha neſta Igreja doze Capelláes com obriga
çao de Coro , cujas Capellas ſe leva6 por concur
fo , e faó providos nellas, os que tem melhor voz ,
e ſciencia de Cantochaó , Adminiſtra eſtas Capellas
a Meſa do Santiſſimo , que dá a cada Capellao oiten ,
ta mil reis , excepto hum , que tem cem . Ha mais
hum Ajudante do Coro 'com trinta mil reis , e be
neſſes da Igreja . A Irmandade do Santiſſimo tem
nove Capelláes com diverſa congrua ; porque qua
tro ter ſeſſenta mil reis cada hum ; tres recebe ca
da hum cincoenta mil reis ; hum cincoenta e cinco ;
Tom.III. Part.V. Ii e
250 Mappa de Portugal.

e outro trinta mil reis , e meyo annual de Millas de


elmola de cento e cincoenta reis cada huma . A Ire
mandade das Almas tem quinze Capellães com cin
coenta mil reis cada hum . Tem mais tres Irmanda
des , huma de Santa Anna , outra de Noſſa Senhora
do Roſario erecta no anno de 1715 , com hum Ca
pellañ de oitenta mil reis , ( 1 ) é outra de Noſſa Se
nhora Mãy dos Homens com ſeu Capellao de feſ
fenta mil reis.
90 Neſte eſtado ſe conſervava efta Paroquia ,
quando ſuccedendo o grande terremoto , o Coro ſe
abateo , e a frontaria da Igreja algum tanto ſe abrio
pelo meyo de entre as duas torres , ficando tudo o
mais em pé , com a perda porém de ſetenta e ſeis
peſſoas , que alli morrerab . " Havia o Cura Joſeph
Frazao pouco antes ſahido com o Santiſſimo debai
xo do Pallio , como he coſtume , para dar o ſagra
do Viatico a hum enfermo , que habitava na rua da.
Tinturaria ; e ſupportando com grande ſuito a vio
lencia daquelle fatal fenómeno , vendo- ſe expoſto
ao urgente riſco da vida no meyo de ruas eſtreitas,
cujos edificios ameaçavao manifeſtas ruinas com os
amiudados tremores da terra , nao podendo voltar
para a ſua Igreja com o receyo do perigo, ſe con
duzio como pode para o terreiro do Paço.
91 Alli mal accommodado , mas com a aſliften .
cia de vinte e cinco Irmãos do Santiſimo, que ſem
pre o acompanharao zelofos , facramentou mais de
quatrocentas peſſoas , que já em turbas deſordena
das, e em triftes clamores tinhao vindo buſcar o
deſafogo daquella praça para evitar os eſtragos , em
que viao perecer os amigos , e os parentes. Infor
mado porém , que ſobre a primeira afflicçao pade
ciao os moradores a violencia do fogo , que já ſem
haver quem o atalhafle , hia abrazando toda a Fre
guc

[ 1 ] Vid. Liverzani Theſaur. Reſol, facr. Congrég: Concil, tom. I.


pag.400 ,

!
Da Cidade de Lisboa. 251

gueria , determinou procurar o abrigo da Igreja dos


Conegos Seculares de S. Joao Evangelifta , chama
da vulgarmente o Beato Antonio , que fica na dir
tancia de meya legua pela marinha acima , onde com
o Senhor ſacramentado ſe recolheo , feria quafi dez
horas da noite , levando apoz li huma grande mul
tidaó de homens , mulheres, e meninos, em mayor
numero de tres mil almas ; que como gente arran
cada das ſuas caſas , e deſpedaçada dos ſeus bens ,
com vozes , e lagrimas hiao lamentando a ſua per
da ; mas ſempre loyvando , je ſeguindo aquelle ſu
premo Senhor , e Omnipotente , que ſem reſiſten
cia póde fundar e desfazer os Reinos , e as Cida
des , eſperando ſó nelle o remedio de tanto deſar
ranjo .
92 Pallados dez dias , ordenou o Arcebiſpo Vi
gario Geral , que viſto ficar livre de ruina a Ermi
da de Santa Roſa de Lima , contigua ao palacio do
Senhor de Murça Luiz Guedes de Miranda , fitua
da às Fontainhas , ſe transferile para ella a Fregue
zia , onde eſteve até 4 de Abril de 1756 , em cujo
dia paſſou a eſtabelecerſe no terreiro do Paço em
huma barraca de frontal , que conſta de tres Alta
res , com a porta para o Naſcente ; e aqui actual
mente existe com o deſcommodo , que a eſtreiteza
da habitaçao occaſiona , e a ſua indigencia permit
te ; tendo ſó a conſolaçaõ de livrar do incendio os
livros dos bautizados , recebimentos , confiflaó , c
defuntos , com os mais , que pertenciao a eſta Fre
guezia , excepto o dos bautizados, que corriso def
de Março de 1754 até o dia do terremoto , que ſe
queimarao na Şacriſtia.
93 Nao ſeria prodigio , mas paręceo mais que
pura caſualidade, o queagora referimos. Obſervou
ſe , que ficando totalmente deftruidas no ambito
delta Paroquia as mais propriedades , ſó cſcapallem
à vehemencia do terremoto , e voracidade das cham
mas aquellas que da Tinturaria , onde como temos
Ii ii di.
252 Mappa de Portugal
.
dito , ſe havia recolhido o Santiſſimo Sacramento ao
primeiro eftremecimento da terra ; as quaes deſam
paradas de ſeus inquilinos , a Providencia as defen
deo deſorte no mejo de tanto incendio , que até hu
mas innocentes aves , ficando alli recluſas, e ſolita
rias pelo eſpaço de cinco dias , teſtemunhando tao
laſtimoſo eſpectaculo , ſe ſalvaraó depois illezas com
>
admiraçao univerſal.
94 Dentro do deftricto deſta Paroquia exiſte a
ſeguinte
Collegiada.

Noſſa Senhora da Conceiçaõ. Dos Freires da Ordem


de Chrifto . A primeira fabrica da Igreja tinha ſido
Synagoga dos Judeos , aos quaes em certos dias da
ſemana lhes hia prégar o Veneravel Fr. Miguel de
Contreras Religioſo Trinitario . Depois ElRey D.
Manoel a mandou purificar , e conſagrar em Tem
plo , mudando para aqui os Freires da Ordem de
Chriſto , em troco da Ermida de Noſſa Senhora do
Reftello , que era da dita Ordem em o fitio de
Belem , onde o meſmo Rey havia fundado o ſump
tuofiffimo Convento , que alli fe vê . ( 1 ) Dotou er
ta Igrejao meſmo Rey com rendas para ſua fubfif
tencia . Deu- lhe Regimento em 29 de Janeiro de
1504 , que approvou Julio II . , eximindo - a , e às
pefloas della do poder dos Ordinarios, ſujeitando - os
pleno jure a ElRey , como Adminiſtrador da Ordem
de Chrifto .
95 Forao os Miniſtros deſta Igreja accreſcenta
dos em diverſos tempos , e ultimamente pelo Senhor
Rey D. Joao V. por conſulta da Meſa da Conſci .
encia em 28 de Mayo de 1733 , na qual ſe manda
dar ao Vigario cento e ſeſſenta mil reis , e moyo e
meyo de trigo ; ao Theſoureiro oitenta mil reis , e
meyo

[ 1 ] Goes Chron. delRey D. Manoel part. 4. cap . 85. Santuar. Marian


com . 1. p. 120. SáMemor, Hiſtor. part. 2 , num , 338.
Da Cidade de Lisbon . 253

meyo moyo de trigo ; a cada Beneficiado centro e


feis mil reis, e hum moyo de trigo ; aos Moços do
Coro vinte e cinco mil reis a cada hum ; e além
deftes ordenados repartem entre ſi outras certas dir
tribuições. Supporto nao padecer muito efte . Tem
plo com o terremoto , com tudo o incendio o abra
zou de fórma , que delle ſe nao vê mais que o ef
queleto.com toda a pedraria eftalada , ſendo que a
torre nað cahio , nem deſmentio da nivelaçao . El
Rey no ſitio da Capella mór mandou erigir huma
barraca para os Freires rezarem , e o corpo da Igre
ja ſe mandou demollir por cauſa do novo Plano re
gular da Cidade .
96 Numerava eſta Freguezia antes do terremo
to oitocentos e cincoenta fogos , e tres mil . e qua
trocentas peſſoas. Preſentemente ſe acha com oiten
ta e quatro fogos , e quatrocentas e trinta e oito al
mas . Os doze Capellães cantores ſe reduzirao a cin
. co . Os oito da Irmandade do Santiſfimo ſe recopi
, lara a quatro ; . e os quinze da Irmandade das Al .
mas a dous . Aquellas ruas , e traveſſas, por onde ſe
diſtribuiao os moradores eſtao hoje tao confuſas ,
e alteradas , que nao ſe diſtinguem nellas,mais que
montes de pedras, e de caliça. Eraõ ellas as ſeguin
tes .
Ruas .
Adro da Conceiçao , Corrieiria em parte , Gibi
taria , S. Joao , Largo dos Carmelitas , Largo do
poço da Fotea , Latoeiros, Mataporcos , Mercado
Tintu
res , Parco da Roſa , Rua nova em parte ,
raria .
Becos , e Traveſſas.
Chamica , Coveiro , Feijao , Lavacabeças , Me
na , Ourinol, Paſteleiro , Sardinha , Seguros , Tin
tes, Traveſſa da Conceiçao , e da Corriciria.
Freguezias confinantes.
S. Julia) , Santa Maria Magdalena, S. Nicoláo ..

IX .
254 Mappa de Portugal

IX .

Santa Cruz do Caſtello.

E provavel , que o inclyto, e fanto Rey


97 H D. Affonſo Henriques fundaſſe eita Igre
ja , logo depois que tomou Lisboa aos Mouros.
Della fe faz mençao naquella eſcritura do Biſpo D.
Alvaro , que reterimos acima na Paroquia de S. Bar
tholomeu , em cuja antiguidade tambem eſta deve
coincidir . Tem o Paroco predicamento de Prior,
que apreſenta por concurſo o Prelado , e rende leil
centos e quarenta mil reis . Conſta de cinco benefi
cios , que dá o Papa , e rende cada hum cento e ſeo
tenta mil reis . Hum delles tem dous apreſtimos , ou
" pensões , com as quaes chega a render duzentos e
-Terenta mil reis. Apreſentao neſta Igreja o Viſcon
de de Villa Nova da Cerveira , eo Conde de Villa
Nova , duas Capellas , cada huma de quarenta mil
reis. A Confraria das Almas tem ſó dous Capellães ,
com cincoenta mil reis cada hum .
98 Pelo terremoto ſe arruinou a Igreja ; mas o
Paroco teve a providencia de mandar fazer no meſ .
mo adro huma Ermida de madeira , com todos os
commodos neceſarios a huma Freguezia , onde ar
fifte ainda exercendo as obrigações Paroquiaes . Os
edificios de todo eſte elevado terreno padecerao
( tambem grandiſſima derrota : mais de quarenta e ſeis
moradas de caſas fe arruinaraó , e entre ellas o the
fouro da tapeſſaria , e roupas ; as caſas do Conde de
Santiago ; o Paço Real, que hoje era dos Alcaides
móres de Lisboa , a Torre do Tombo , os quarteis
dos quatro Regimentos de Infantaria da guarniçao
da Corte , as torres chamadas de Ulyfes , e algumas
porções de muralhas , com as caſas dos Tenentes do
Caſtello , que eſtas ſe acabaraó de conſumir com o
fogo ; perecendo laſtimoſamente neſta Paroquia cin
coenta e cinco peſſoas.
99 Achao ,
Da Cidade de Lisboa . 255
99 Achao - fe preſentemente já reedificadas mui
tas moradas de caſas de varios moradores ; e ſuppor
to que os Regimentos dos Soldados , que neſte Cafe
tello ſe aquartelavao , paſſarað para varios ſitios da
Cidade , onde ſe achao abarracados , ainda nos quare
teis deftruidos ſe accomodaõ mais de trezentos ho

mens . Contém efta Paroquia dentro do ſeu deftri.


do .
Hoſpital.

Noſſa Senhora da Conceiçao. De Religiolos Hoſpi


talarios de S. Joao de Deos. Foy fundado no anno
de 1673 , governando ElRey D. Pedro II, como
Principe Regente. Curavao - ſe aqui os Soldados en
fermos , e os Religioſos lhe affiftiao com toda a cas
ridade. Com o terremoto , e incendio geral ſe def
truio tudo, e os Religioſos paffaraó para o ſeu Con
vento de S. Joao de Deos à Pampulha .

Recolhimento .

Noſa Senhora da Encarnaçao. Para amparo , e abri


go de algumas orfans nobres , e peſſoas honradas eri
giraó alguns Religioſos , e homens de negocio der
ta Corte hum Recolhimento , que ſuſtentavaó. Ven
do ElRey D. Joab III . o bom fim , a que ſe dirigia
acçao tao pia , tomou efte Recolhimento debaixo
da ſua protecçaó no anno de 1943 , dotando- o com
rendas certas , e annuaes para ſultentaçao de vinte e
huma orfans honradas , filhas de Miniſtros , e ainda
Fidalgas , cujos pays houveſſem fallecido em forvi
ço da Coroa : ordenando , que de tres em tres an
nos ſe enviaffem para a India , e Braſil algumas das
ditas orfans com carta para os Vice-Reys , eGover
nadores as cazarem com a decencia poffivél, prefe
rindo -as nos provimentos de officios para ſeus do
tes ; e tiverao na India tanta eſtimaçao eſtas orfans ,
que huma chamada D. Maria foy Rainha da Maldi
in vaj ,
256 Mappa de Portugal.
va ; porque o Rey daquellas Ilhas cazou com ella
em Goa no anno de 1548 , ( 1 ) e ſoube ella muito
bem reconhecer a criação, que teve no Recolhi
mento , pois mandou para a Igreja delle hum fron
tal, e huma caſulla , que para memoria ainda ſe con
fervava no anno de 1731 .
100 A primeira habitaçaõ das orfans foy junto
ao Hoſpital Real em humas caſas contiguas à Ro
da , ou beco dos engeitados , na Biteſga , e por oc
caſiao de hum contagio , que houve na Corte , as
niandou , mudar daquelle fitio ElRey D. Sebaſtiao
para humas caſas junto do Caſtello . O bom trato ,
recolhimento , e honra , com que vivia) eſtas or :
fans , lhes fez adquirir tal nome , que muitas don-.
zellas, e ainda viuvas , com as qualidades do Eſta
tuto , procurava ) recolherſe como Porcioniſtas ner
te . Recolhimento .; e aſſim crelceo tanto o numero ,
que já nao cabiao ; por cuja cauſa no anno de 1983
paſſaraó para as caſas do Duque de Aveiro , que era o
onde ſe fez o Hoſpital dos Soldados. No tempo de
EIRey D. Joao IV . paſſaraó para as caſas , em que
eſtavaõ antes do terremoto , ie tinhao lido de D.
Fradique Manoel , e a ſuperioridade do tal Reco
Jhimento , que tinha ſua Igreja com Sacrario е
Capellao , he da adminiſtraçao da Meſa da Coníci
encia . Desfez tudo o terremoto , eo incendio ; pal
farao as Recolhidas para diverſas partes até ſe repa
rarem as ruinas , e poderem reſtituirſe ao antigo do
micilio .
Ermidas.

O Eſpirito Santo . Dizem , que eſta Ermida fora


fundada em tempo de ElRey D. Manoel , pelos na
vegantes da carreira da India , logo nos principios
do ſeu deſcobrimento . Tambem ſe arruinou com
o terremoto .
S.

[ u ] Santa Maria no Ceo aberto liv. 4. cap. 28. pag. 10. 15. e 1019.
Da Cidade de Lisboa. 257

S. Miguel. Vulgarmente chamada à Ermida de


Santa Barbara. ( 1 ) Padeceo a meſma ruina .
IOI Dentro do Caſtello , e limites deſta Fregue
zia exiſtia o Archivo Real , ou Cartorio de todo o
Reino , chamado Torre do Tombo , onde ſe conſerva ) ,
e guardaó as Doações , Leys , Privilegios , e tudo
que coſtumaó os Reys mandar paſſar pela Chancel.
laria do Reino , para memoria dos vindouros . Do
Prologo do livro 8. da Efremadura , que eſtá no mefe
mo Archivo , mandado fazer por ElRey D.Manoel ,
conſta que os Senhores Reýs ſeus antecellores has
viaó já conſtituido eſte Cartorio em huma das tor
res de Lisboa , conforme ſe inferę das palavras ſe
guintes : Por tanto bordenarom ,noſſos anteceffores neeſta:
noſa muy nobre , e ſempre leal Cidade de Lisboa buma
torre , em que para ſempre efteveele ho tombo , e a me
moria de todas eſtas couſas ,a qual aly bordenada , e ſa
bida for avida por couſa de tanta eſtima , e prudencia ,
nom ſoomente em noſos regnos , mas em outras partes ,
que alguns Reys , Duques , Marquezes , Condes , e Pre
lados dos Regnos de Caftella , e de França , e de outros
Senhorios , mandarom poer na dita torre em guarda , e
fieldade ſeus teſtamentos , eſcaĵmbos , permudaçõens, e ou
tros contrautos ,, e ally eſcrituras outras que memorias de
ſuas couſas contem & c.
102 Porém ElRey D. Joað III, devia mandar
fazer no anno de 1540 a caſa nefte Caſtello de S.
Jorge , para ſe collocar o Cartorio com melhor dir
pofigao ; porque aſſim o dava a entender a Inſcrip
çao Latina, que eſtava ſobre a porta, pela qual ſe en
trava para a primeira caſa dos armarios , indo da pri- ,
meira caſa da Torre , onde ſe eſcrevia , e dizia aſlım :

Sempiterne memorie facrum .


$
Joannes III. Rex Portugalliæ , & Algarbiorum , Mau
ritanicus , Lybicus, Etiopicus , Arabicus, Perſicus , In
Tom.III . Part.V. Kk

[ ! ] Vide o noſſo Mappa de Portug. Tom. 2. part . 3. pag. 230 .


258 Mappa de Portugal.

dicus , cujus celf animi virtus , pia mentis religio , fum


ma prudentia , ac mirabilis Divini cultus obſervantia ,
inter omnes ætatis fuæ Principes ſumma cum laude incre
dibilis pacis arte floruere , Bibliothecam banc in commu
nem Reipublicae utilitatem , ac perpetuum maiorum ſuo
rum Regum , æternique nominis fui monumentum fieri ,
ordinarique curavit. Ann . Domini MDXXXX . ætatis
fuæ XXXVIII.& Regni XVIII.
Regnante Petro II. D. Antonio Alvares da Cunha
Regii Archivi Cuſtode Maximo , & Petro Semmedo Ef
taço ipfiusmet Archivi à ſecretis hæc infcriptio inftaurata
fuit. Ann. Domine MDCLXXXVII.
103 Na parede fronteira ſe achava em hum qua
dro pintado hum folho com a declaraçað no letrei
ro ſeguinte.

No anno de MCCCXXI. junto a Montalvað no


Tejo ſe tomou bum Solbo da grandeza , que repre
ſenta eſta pintura , e pefou pelos peros de Santarem
XVII. arrobas e meya , de que ha juſtificaçað nef
te Arquivo , que nelle mandou lançar D. Diniz , a
quemſe preſentou , como conſta da meſma juſtificaçao.

104 Efta juftificaçaó , e inftrumento legal fe


guarda na gaveta das Extravagances , como diz o
noffo Chroniſta mór Fr. Franciſco Brandaó no li
vro 19. da Monarquia Luſitana cap. 24. , e accreſcen
ta , que o tal Solho tinha tao grande boca , que met
tendo -lhe por ella hum rapoſo , que os caçadores ti
nhað morto , o lançava fóra com o ſopro ', e reſpi
raçaó. De comprido tinha dezafete palmos, e ſere
de groflo , e da cabeça pelo eſpinhaço até à cauda
lhe contavao trinta eſcamas como conchas grandes.
IOS O Guarda mór actual defte Archivo Ma
noel da Maya , Meſtre de Campo General , e Enge
nheiro mór do Reino , peſſoa de hum muito diftin
eto zelo da patria , havia reformado efte Cartorio
com louvavel fadiga ; porém ſuccedendo a funefta
tragedia do eſpantofo terremoto , e arruinando , è
der
Da Cidade de Lisboa. 259

deſtruindo o alto edificio , em que eſtava o Carto


rio , ſe pozerao os ſeus livros , e papeisem grande
confuſao ; mas oefte apertado caſo foy Manoel da
Maya o reſtaurador do Real Archivo da Torre do
Tombo , pois nao lò o livrou das primeiras ruinas ,
mas do ſegundo , e mayor fuſto ; porque faltando
lhe dezanove livros da Chancellaria do Senhor Rey
D. Affonſo V. , eſtes fe toraõ deſcobrir em 28 de
Dezembro de 1755 com grave perigo de vidas , on
de parecia impoſſível, que o terremoto os podere
ter lançado ; devendo - ſe à providencia , e activida
de do dito Guarda mór a boa arrecadaçao do Archi
NO .; pois prompta , e interinamente o mandou re
colher em huna caſa de madeira com ſeu celhado ,
que fez erigir com parte dos deſtroços do meſmo
cdificio na Praça de armas do dito Caſtello .
106 E porque o ' edificio antigo ſe achava dela
truido , aberto , e proftrado , fez com que em 26,
e 27 de Agofto de 1757 , por Decreto de ElRey ſe
mudaffe todo o Cartorio da Torre do Tombo para
dous quartos das caſas chamadas dos Biſpos conti
guas ao Convento de S. Benco da Saude , e com fer
ventia para a rua , ou calçada publica da Eftrella
que
medeia entre o dito Convento , e o das Religic
ſas Francezinhas do Crucifixo. Conſta efta accom
modaçao de primeiro , e ſegundo pavimento alto ,
baixo , ambos fechados de excellences abobedas ſem
o receyodo perigo de fogo: deftinando-ſe o quarto
alto para recolher os livros das Chancellarias em cas
fasſeparadas , ficando outras para ſe guardarem aquel
les livros , e documentos , que na antiga Torre er
Lavaó na caſa chamada da Coroa ; e o quarto baixo
fica para nelle eſcreverem os Officiacs defte expedie
ente .
107 Conſtava efta Freguezia antes do terremo
to de trezentos e vinte e dous fogos, c agora te acha
com duzentos e cincoenta e hum diftribuidos pelas
ſeguintes
Kk ii Ruas,
260 Mappa de Portugal.
Ruas.
Caftellejo da parte de fóra , Cozinhas, Crafta , EC
pirito Santo , Flores , Hoſpital , largo de Santa Bar
bara , largo da Igreja , c do Recolhimento , Mou
raria , Praça de Armas , Rua Direita da Igreja para
as portas do Caſtello , Rua Direita para o Reco,
lhimento , Rua Nova da Madeira .
Becos.
Do Forno , Hoſpital , Penozinhos .
Freguezias,confinantes .
S. Bartholomeu , Santiago , S. Thomé .

X.

.
Noſa Senhora da Encarnaçao.

108 Uerendo o Cabido da antiga Cathedral de


Lisboa inſtituir huma nova Paroquia , e
deſmembrar porçao do territorio , que
comprehendia a Freguezia dos Martyres por ſer
muito extenſo , ſe contratou com os Italianos , pa
ra que a admitciffem na ſua Igreja , fazendo -ſe def
te contrato , hum inftrumento publico em 2 de Ja
neiro de 1551. Algumas memorias conftituem efte
ajuſte no anno de 1960 ; outras no de 1604 , outras
pouco depois do anno 1523. O certo he , que no
anno de isso já exiftia na Igreja do Loreto eſtá
Paroquia , como conſta da Relaçao de Chriſtov að
Rodrigues de Oliveira .
** 109 Acontecco em 29 de Março de 1651 ode
ploravel incendio , que reduzio a cinzas toda aquel
la ſumptuoſa Igreja ; e paſſando a Freguezia para a
Ermida de Noſſa Senhora do Alecrim , como conſ
ta da Eſcritura , que os Italianos fizeraó com o De
ſembargador Anconio Moniz de Carvalho , e ſua
mulher D. Iſabel Soares de Albergaria , Padroeiros
da dita Ermida , em 7 de Mayo de 165.1 ; alli ſe
conſervou até o ango de 1676 , em que reedificada
a
Da Cidade de Lisboa . 261

a dita Igreja do Loreto , fe reftituio outra vez para


ella . ( 1 )
110 Efte regreſſo fe fez com grande folemnida
de em 7 de Setembro de 1676. Sahio a Prociffa o
da fobredita Ermida , e diſcorrendo pelas principacs
ruas do bairro Alto acompanhada de todas a's Reli
giões da Corte , que levavao andores com os ſeus
Patriarcas , era conduzido o Santiffimo pelo Nuncio
D. Marcello Durazzo , Arcebiſpo de Calcedonia ,
que no dia ſeguinte celebrou pontificalmente , com
a alliſtencia de EiRey, No ſegundo dia fez Pontifi
cal D. Fr. Chriftovao de Moura , Proviſor do Ar
cebiſpado de Lisboa; e no terceiro dia celebrou o
Arcediago de Bago D. Joao Maſcarenhas, aſliftin do
todos os Concgos em corpo de Cabido.
III Alguns annos depois pertenderaó os Italia,
AOS conſeguir o direito do Padroado deſta Fregue
zia , ſobre o qual tiveraõ litigio com o Reverendo
Cabido , e durou até o anno de 1679', ' no qual ſe
ordenou ao Paroco Manoel Ferreira Lobato 3 cons
fumiſſe na Milla , que celebraffe na Igreja do Lo
reto , todas as Fórmas , que eſtiveſſem no Sacrario
e acabada ella , ſe paſſaſſe para a Ermida de Noſſa
Senhora do Alecrim , onde havia no meſmo dia ce
lebrado outro Sacerdote , e conſagrado Fórmas , pa
ra dalli por diante ſe adminiſtrar o Santiſſimo Sacra,
mento aos Freguezes na dita Ermida .
II2 Determinara a Condeffa de Pontevel D. El
vira de Vilhena , viuva do primeiro Conde de Pons
tee

( 1 ) Perſuadem - ſe alguns , que a primeira transferencia, que eſta


Freguezia fizera depois de ſe queimar a Igreja do Loreto , fora para o
Convento da Sanciffima Trindade , e aflim o affirma huma Relaçao ;
Additamento , que modernamente ſe fez ao Summario de Chriftovao
Rodrigues de Oliveira , accreſcentando mais , que eſtivera tambem no
Recolhimento das Convertidas ; porém além de ſer iſto muito duvido
fo , como já ponderou Fr. Apollinario da Conceiçao na Demonſtraçao
Hiſtorica num . 262., verifica -ſe o contrario pela Eſcritura que alles
gamos , a qual to acha nas. Notas do Tabelliao Thcodoro da Cola e
Souſa ,
262 Mappa de Portugal.
tevel Nuno da Cunha de A raide , edificar à ſua cur.
ta hum Templo a Noſſa Senhora da Encarnaçaó , e
elegendo o ficio fronteiro à Igreja do Loreto , deu
principio à obra em 4 de Junho de 1698 , deitando
no fundamento do edificio a primeira pedra com
acto ſolemne o Cardeal Arcebiſpo D. Luiz de Sou
fas e concluindo - ſe a fabrica no anno de 1708 , fez
o Cabido celebrar nella a primeira Miſſa em 9 de
Setembro , cedendo o Padroado da meſma Igreja na
dita Condella fundadora em ſua vida ſomente a
qual a dotou com tanta liberalidade , e com o ver
dadeiro fim do culto de Deos , que por fugir à mi
nima vangloria , naố quiz ter o goſto de entrar na
Igreja fenao depois de morta , que foy em 30 de
Dezembro de 1718 , onde jaz na ſua Capella mór.
(1)
113 Concluido tað mageſtoſo Templo , ſe paſe
fou para elle o Santiſſimo Sacramento da Ermida de
Noria Senhora do Alecrim em 8 de Setembro de
1708 , fazendo -ſe para eſta transferencia huma Pro
ciſlao ſolemniſſima, compoſta de muitos andores , e
figuras a cavallo ricamente veſtidas , e de hum car
To triunfante de ſoberba fabrica , e continuaraó as
feftas na ſobredica Igreja nova por oito dias ſucceſ
fivos com grande , e geral applauſo. ( 2 )
114 Tem o Paroco predicamento de Cura ; mas
tem tres Coadjutores com a meſma obrigaçao , c
hum Thefoureiro , e todos apreſentados annualmen
te pelo Eminentiſſimo Patriarca , a quem pertence
in folidum o Padroado deſta Igreja , a qual rende ao
Cura trezentos , e cincoenta mil reis ; e a cada hum
dos Coadjutores cento e dezaſeis mil reis .; e toda
eſta renda de procedida do que chamaó pé de Altar .
IS Nao ha aqui Beneficiados , mas tema Igre
ja doze Capelláes de Coro , a ſaber: quatro que inf
ti

[ 1] Souſa Hiſtor. Geneal. tom . 12. part. 2. pag. 975. [2] Ango
Hiftor. tom . 3.pag 36.
Da Cidade de Lisboa: 263

tituio a Condeffa fundadora com eſmola de cem


mil reis cada hum , c meyo annual de Miffas livres ,
com obrigaçao de acompanharem ó Santiſſimo,
quando fahir fóra : a Meſa do Santiſſimo he qué ad
miniſtra eſtas Capellas : outros quatro Capellaes do
Coro inftituio D. Antonia Franciſca de Mendoca g
viuva de Joao Rebello de Campos , com a congrua
de duzentos mil reis , e huma Miffa livre cada ſema
na , e com a meſma obrigaçao .
116 Os outros quatro Capellães tem Capellas
na meſma Igreja , de que a Meſa do Santiſſimo he
adminiſtradora , huma das quaes inftituio o fobredi
to Joao Rebello de Campos , com a congrua de oi
tenta mil reis ' , e huma Mifla livre cada femana ;
outra Capella inftituio Luiz Salinas de Oliveira com
cento e dez mil reis de congrua , e Mifſa livre ; as
outras duas faó inſtituidas pela Meſa do Santiſſimo
com a meſma obrigaçao de Coro , e de acompa
nhar o ſagrado Viatico , quando ſahir fóra aos enfer
mos .
117 Ha mais as Capellas ſeguintes. Duas que
inftituio Eftevaó da Silva com ſetenta e cinco mil
reis cada huma ; duas que inftituio Maria Nunes da
Silva com oitenta mil reis ; huma que inftituio o
Padre Manoel de Souſa Caldeira com fefrenta mil
reis ; huma que inftituio Maria Barboſa com cinco
enta mil reis ; outra que inftituio Marcos da Silva
com ſeſſenta mil reis ; quatro de Nicolao Pereira
com oitenta mil reis , e com a obrigação dos Capel
láes confeſſarem na Igreja , e acompanharem o San
tiffimo. De todas eſtas Capellas he adminiſtradora a
Meſa do Santiflimo Sacramento . Havia mais nefta ;
Igreja feis Irmandades : a do Santiffimo , a das Al
mas , com ſeis Capellães ; cada hum com cincoenta
· mil reis e Miſſa livre cada ſemana ; a de S. Joao
Bautifta , a de S. Vicente Ferrer , a de Noffă se
nhora dos Prazeres , e a de Santo Antonio , que to
das tinhaó ſeus Capellács .
u8 Tal.
264 Mappa de Portugal

118 Tal era o eſtado deſta Paroquia até o tema


po , em que ſuccedendo o eſpantolo , e nunca viſto
terremoto , padecco a Igreja a dettruiçao do ſeu
Coro , e a ruina de duas pyramides da torre , que
deſabando ſobre o adro , tirarao a vida a huma mu
lher , e a dous Padres da meſma Igreja , o Padre
Pedro Ivo , eo Padre Manoel Pinto . Depois ſo
brevindo o fogo , eſte conſumio tudo de forte , que
apenas ſe ſalvou o Cartorio , menos os tres livros
que actualmente ſerviaó para os aſſentos dos bauti
zados , recebimentos , e obicos , que ſe queima
rаб .
119 Cuidou logo o Paroco , em mudar o Sacra
mento para a Igreja fronteira do Loreto , donde em
o meſmo dia ſe transferio para a Paroquial de Santa
Iſabel; e porque haviao concorrido para alli os fa
grados Vazos de outros Templos , fez o Reveren
do Coadjutor Vicente Ferreira Rolim erigir dentro
do ambito das chamadas obras do Conde de Tarou
ca , huma decente barraca , em que collocou o San
tiſſimo para melhor expediçao dos actos paroquiaes :
daqui ſe paſſou para a parte de fóra , e levantou al.
tar contiguo à parede do meſmo edificios para me
Thor cominodidade do povo . Porém como aquelle
fitio era ſummamente deſabrido , e nao havia repa
ros opportunos para refiftir à inclemencia do tem
po , convidado da piedade de Jorge Rodrigues Mers
tre das Reaes Obras , que no fitio do Pombal havia
feito huma barraca de madeira mais commoda
transferio para ella o Santiſſimo, no mez de Fevereis
ro ſeguinte , e alli eſteve até veſpera de Ramos do
meſmo anno de 1756 , em cujo dia ſe mudou para a
Igreja do Convento de S. Roque , onde exiſte na
Capella do meſmo Santo , que fica no corpo da
Igreja da parte da Epiftola.
I 20 No deſtricto deſta Freguczia ſe achaó eres
ctas os ſeguintes

Con
Da Cidade de Lisboa . 265

Conventos .

S. Pedro de Alcantara. De Religioſos Arrabidos ,


cuja Igreja foy fundada pelo primeiro Marquez de
Marialva D. Antonio Luiz de Menezes em 12 de
Agoſto de 1680. No adro della fez edificar o Ine
quiſidor Geral D. Fr. Veriflimo de Alencaſtre , hu
ma Capella dedicada aos Santos Martyres Portu
guezes , Veriſſimo, Maxima , e Julia , estabelecen
do renda para quatro Capellães Clerigos ſeculares,
com oitenta mil reis cada hum , dos quaes he hoje
Donatario , e adminiſtrador o Conde de Villa No
va . Defronte da Igreja deſte Convento , e no gran
de terrapleno , que alli fe ampliou , ſe erigio hum
publico Chafariz de cantaria com cinco bicas de ex
cellente agua , conduzida por canos deſde o Chafa
riz de Campolide , e começou a correr no dia 8 de
Setembro de 1754 :

4 " 121 Eſta Igreja , e Convento padeceo grande


ruina em o dia do terremoto , porque tudo que fe
diz Convento da fundaçao , principiando do fron
tiſpicio da Igreja , dormitorios, portaria , Sacrif
ria ,
caſa de Capitulo , menos o clauftro , refeito
rio de profundis , e cozinha , tudo ſe proſtrou , e
deſtruio com todos os livros , e couſas pertencen
tes ao Coro , e com a perda de baſtantes peſſoas.
Achab - ſe prefentemente accommodados os Religio
fos em varias cellas , e caſas do meſmo Convento da
reedificaçao moderna; e a Igreja no ſitio onde era
a portaria do carro debaixo de huma grande abobe
da , accreſcentando - ſe huma barraca em hum pateo ,
que faz Capella , Coro , e Sacriftia ; e aqui ſe fa
zem os actos da Communidade , e funções Eccle
fiafticas , em quanto ſe nao conclue a reedificaçao
fundamental.

S. Roque . Caſa profefla que foy dos Religioſos da


Companhia de Jelus , os quaes no anno de 1955 fe
eſtabelecera ) neſte sitio por ordem de ElRey D ,
Tom.III . Part.V , LI Joao
266 „Mappa de Portugal.

Joao III . , tomando poſſe de huma Ermida de S.


Roque aqui edificada defde o anno de 1506. Reedi
ficou - ſe depois no anno de 1567. ( 1 ) Teve princi
pio neſta Igreja em o ultimo de Dezembro de 1718 ,
a inſtancias do Eminentiffimo Cardeal Patriarca D.
Thomás de Almeida , o folemne , e piiſlimo acto de
acçao de graças a Dcos, que ſe costumava fazer to
dos os annos nefte meſmo dia com magnificencia ,
onde concorriao , é aſliftiaó publicamente as peſſoas
Reaes com todos os Grandes da Corte , e ſe canta
va o Te Deum a dous córos pelos melhores Muficos ,
e inſtrumentos alternando alguns verſos devotiffi
mamente todos os Ettudantes do Collegio de Santo
Antaó , e o mais concurſo do povo . Depois do ter
remoto ceffou neſta Igreja o dito acto ; porque ſe
coſtuma fazer na Capella Regia do novo Palacio ,
junto a Noſſa Senhora da Ajuda, tambem com gran
de pompa , e alliſtencia das Peſſoas Reaes.
: 123 Em 13 de Janeiro de 1751 foy a primeira
Yez , que ſe patenteou neſta Igreja de S. Roque a
precioſa , e ſingular Capella de S. Joao Bautiſta ,
onde fe admirao hụns excellentes quadros de obra
Moſaica a qual o ſempre memoravel , e Fideliſſi
mo Rey D. Joao V. mandou aqui collocar , tendo
ſe fabricado em Roma pelos melhores Artifices , da
mais fina , e precioſa pedraria , c ornada com os
mais primoroſos ornamentos , em cuja fabrica ma,
ravilhoſa , dizem que ſe diſpendera a importancia
de dous milhões. O Magello do terremoto arruinou
parte do frontiſpicio da Igreja , e a torre ; mas tudo
le acha reparado ,
Hoſpital.

Noſa Senhora da Conceiçaõ. Dos Clerigos Pobres.


Foy inftituido em 12 de Dezembro de 1651 pelo
Te

[ + ] Telles Chron. da Companhia part: 2. liv. 4. C, 25. Santuar . Maj


rian. tom . 7. pag . 124.1
Da Cidade de Lisbon. 287

Tenente General da Artilharia Ruy Correa Lucas ,


e ſua mulher D. Milicia da Silveira , para treze Cle
rigos Pobres , que nao fejað naturaes de Lisboa , è
coſtumað vir a elta Cidade a ſeus negocios. A Igrex
ja ſe começou a edificar em 18 de Abril de 1722 :
tem ſido adminiſtrado eſte Hoſpicio em diverſos
tempos por Henrique Henriques de Miranda , Jo
ſeph Galvao de Lacerda , Rodrigo de Oliveira Za
galo , cultimamente o he por Franciſco Carneiro
de Araujo , ſubordinado porém ao Provedor dos Re
fiduos , e à Mefa da Conſciencia. Pelo terremoto
padeceo ſua ruina ; mas eſta fe reparou deſorte, que
a parede , e frontaria da rua ficou melhorada no ſeu
proſpecto.
Collegio.
C
Dos Gathecumenos. Para ſerem catequizados , c info
truidos na doutrina Chrifta , e na crença da Fé Ca
tholica os Turcos , e quaeſquer Infieis , que vem a
eſta Cidade , inſtituio o Cardeal Rey D. Henrique
efte Collegio no anno de 1979 , a inſtancias do Padre
Pedro da Fonſeca Jeſuica. (1 ) Eſtá na rua dos Ca
Jefates. Tem Regimento , que ſe lhe fez no anno
de 1608 , que faz executar hum Reitor Clerigo fe
cular , é hum Provedor com titulo de Superinten
dente , que depois de o haver ſido vinte e cinco an
nos o Bilpo de Targa D. Fr. Jeronymo de Gouvea ,
a Meſa da Conſciencia encarregou depois eſta ſuper
intendencia a hum dos ſeus Depurado's.

Recolhimento .

Noſa Senhora da Natividade. Das Convertidas . He


caſa pia , que inftituirao os Padres da Companhia de
Jeſus no anno de 1986 , para mulheres governadas
por huma Regeiſte , e dirigidas pelos mefmos. Par
LI ii dres.

[ 1 ] Telles Chron. da Comp. tom. 2. pag. 183 ,


.268 Mappa de Portugali

dres . (2) Fezlhe o terremoto


gravillimo prejuizo ,
deforma que as obrigou a paſſarem para o ſitio da
Fonte Santa , onde eſtiveraó abarracadas até paſſa
rem para o ſitio do Rego.

L'in Ermida .

5
Noſſa Senhora do Alecrim . Foy fundada no anno de
1641. Acha - ſe arruinada , e totalmente deſtruida
com o terremoto , e incendio .
124 Conſtava efta Fregueria de dous mil e le
tenta e dous fógos ; e de nove mil quinhentos e vin,
ic tres habitadores. Hoje numera unicamente qua
tro mil peſſoas. As ruas defta Paroquia como ex
perimentaraó os terriveis effeitos do incendio depois
do terremoto , acha ) -ſe pela mayor parte deſertas,
e erao as ſeguintes.
Ruas.
" Atalaya , Barroca , Caletates , Chagas , Conde ,
Flores , Gaveas , Hoſpital das Chagas, largo de S.
Roque , Lima , Loreto , Metade , Moinho de ven
to , Mouros , Norte , Parreiras , Roſa das Parti
lhas , S. Roque , Sequciro das Chagas , Teixeira ,
1 Trombeta .
Traveſas.
Agua de Flor , Ataide , Boahora , Braz da Coſta ,
Cara , Eſpera , Eſtrella , Fieis de Deos , Guarda
mór , Horta fecca , e pequena , S. Pedro de Alcan
tara , Poço da Cidade , Queimada , Salgadeiras .
Freguezias confinantes.
Santa Catharina , S. Jofeph , Martyres , Mercês ,
Sacramento .
XI .

( 1) Franco Imagem da Virtude tom ,1. liv. 2 pag. 397:


Da Cidade de Lisboa .
269

XI .
**
Santa Engracia.

125
Sereniſſima Infanta D.Maria , por ſe achar
moradora no ſirio do Campo de Santa Clara , e vi
finha ao Convento da meſmaSanta , fez deſannexar
da Paroquia de Santo Eftevao por Breve de 30 de
Agoſto de 1568. do Papa Pio V. , e conſentimento
do Arcebiſpo eleito D. Jorge de Almeida em 2 de
Dezembro de 1569 , huma grande porçao dos mo
radores, que ficavao extra muros delta Cidade , eri
gindo de novo hum Prior , Cura e Beneficiados ,
que ſe denominara ) da Paroquia de Santa Engracia ,
cuja Igreja ſe edificou por finta dos ditos freguczes
deſannexados.
1 26 Dividio entao o Arcebiſpo a renda deſta
Igreja em nove partes , das quaes forao quatro para
o Réicor de Santo Eftevao , tres para o de Santa
Engracia , e as duas para dous Coadjutores de am
bas as Paroquias. De oito Beneficiados , que havia
na Igreja de Santo Eſteva ) , ſeparou tres para a no
va Igreja de conſentimento delles , os quaes haviao
de rezar nella , em Coro , e dizer as Miffas canta
das dos anniverſarios e Capellas , que tinhao cm
Santo Eſtevaõ , e as de ſemana , que lá lhe perten
cia ) . ( 1 )
127 Preſentemente conſta de hum Paroco , o qual
tem predicamento de Prior apreſentado pelo Patri.
arca , e lhe rende quinhentos mil reis : tem mais
hum Beneficiado Coadjutor , com a congrua de cen
to e oitenta mil reis . Na Igreja ha a Irmandade do
Santiflimo com dous Capellaes ; a do Senhor da Via
Sa

lo ? Conſta de humas memor. m . f. dos Arceb. de Lisboa extrahi


das do Carcorio do Senado deſta cidade , que tivemos na noſſa inao,
e tambem do liy. 21 , p. 146.4244, da Chancellaria delRey Filippe II.
270 Mappa de Portugal.

Sacra, e Almas com quatro ; a Confraria de Noſſa


Senhora da eſperança , e a de Santo Antonio .
128 Em a noite tempeſtuoſa de is de Janeiro
de 1630 te arrombou a porra do Sacrario deſta Pa
roquial Igreja , e delle uſurparaó as fagradas Fór
mas . Caulou grande horror , e ſentimento efte atre
vido facrilegio : fizerao -ſe exactas diligencias para
fe deſcobrir o perfido executor : achou fe hum si
mao Pires Solis , que por indicios foy condemnado ,
inda que aceleradamente a ſer queimado vivo , cor
tadas primeiro as mãos . ( 1 ) Deite execrando roubo
permittio a Providencia do Altiſſimo , que ſe origi
naſle para ſua mayor gloria accidental a ereccao
de huma illuftriflima Irmandade da melhor Fidal
guia da Corce , que com o numero de cem peſſoas ,
co nome reverente de Eſcravos do Sanciffimo Sa
cramento o fervem , e feſtejao todos os annos por
tres dias ſucceſſivos , aſſiſtindo ElRey , e a Capella
Patriarcal no primeiro , e ultimo delles.
129 Deſde entao determinou a Fidalguia de Lil
boa fazer huma nova Igreja no meſmo ſitio , tranca
ferindo -ſe a Paroquia para a Ermida da Senhora do
Paraiſo ; e porque o ambito deſta Ermida nað he
capaz de comprehender a multidao da Nobreza , e
pompa , que concorre naquelle triduo , ſe fazia a fcr.
ta no grande Templo de S. Vicente de Fóra , e de
pois do terremoto ſe faz na Real Capella de Noſſa
Senhora da Ajuda , em quanto ſe nao conclue o in .
ſigne edificio da nova Igreja , que depois de pade
cer fatal ruina eſtando quafi acabada, ſe edificou
pela meſma Nobreza outra de mais elegante fabrica
no anno de 1682 , cuja primeira pedra fundamental
lançou nos ſeus alicerſes com toda a ceremonia o
Sephor Rey D. Pedro II . , a qual continha a ſeguin
te inſcripcao :
Cùm

[ 1 ] Brico de Leinos no Akcedario Milit. p.84 . Cardoſ. Agiol. Lufit :


tom . 2. p . 690. Anno Hiſtor, toni, 1. a. 15 de Janeiro,
Da Cidade de Lisboa . 27 1

Cum ineunte trigefimo fupra millefimum féstcentefi


mum ſalutis anno. ex D. Engratiæ Æde quidam re
farius homo per tenebras, procellos & noflis San & tilli
muu2 Corpus Domini furatus elet , Nobilitas Luf
tana in tanti ſacrilegii expiationem centumvirale
ſodalitium conſtituit , & eodem in loco magnificum
Templum propriis fumptibus confiruere decrevit , ut
ubi impia manus ſacroſanctam Euchariftiam teme
rare fuerat aufa , ibi à piis animis æternum colen ,
da foret. At opere jam perfectioni proximo fortè co
lapſo , iterum Nobilitas Lufitana impellente , ac
magnificè adjuvante Sereniſſimo Petro Portugallia
Principe, & Moderatore, aliud Templum , ſed ele
gantioris ſtructuræ , erigere ftatuit , cujus primum
fundamentorum lapidem idem Serenifimus Princeps
pro infita Lufitanis Regibus pietate propria manu
jecit. Ann. Dñi M. DC . LXXXII.

Efte mageſtoſo Templo , que he de figura orbicular ,


ainda ſe nao terminou de todo ; porque chegando
até à cimalha real , houve entre os Arquitectos re

3 ceyo de que ſobrepondo -lhe as abobedas, padeceffem


as ſuas paredes outro laflimoſo fracaſſo ; e aſlim el
tá ha annos em profundo eſquecimento aguardando
mayor opportunidade de tempo à ſua final perfeiçao ,
130 Nem efte edificio , nem a Igreja Paroquial
padeceraó com o terremoto ruina alguma ; ſó a ex
perimentaraó os edificios grandes , e ordinarios do
feu territorio , dos quaes huns ſe achað já reedifica ..
dos , outros ainda jazem nas meſmas ruinas. Como
o temor , e defamparo dos freguezes foy urgente ,
dos quaes morreraõ trinta , relolverao -ſe os que fi
carað vivos occupar os terrenos baldios com barra
cas , e rendas de campanha no Campo de Santa Cla
ra , no largo da portaria do carro da Graça , e feu
Cardal, na Cruz dos quatro caminhos", no Olival:
de Penha de França , para onde concorrerao no
principio do laſtimoſo deſaſtre,
131 Com
272 Mappa de Portugal.
131 Comprehende dentro dos ſeus limites os res
guintes
Conventos.

Santa Maria de Jeſus de Xabregas. De Religioſos


Franciſcanos da Santa Provincia dos Algarves . Foy
fundado por D. Guiomar de Caſtro , mulher de D.
Alvaro Gonçalves de Ataide , primeiro Conde de
Atouguia , no anno de 1455 , por doaçao , que deſ
te fitio lhe fez ElRey D. Affonſo V. No anno de
1400 em 17 de Abril tomara ) os Religioſos poffe
com hum acto ſolemniſſimo , a que aſſiſtio o meſmo
Rey , e muita Nobreza . OsReligioſos fundadores ,
que no anno antecedente tinhao vindo da Ilha Tera
ceira , forað nove , dous Sacerdotes , e ſete Leigos ,
e o Prelado ſe chamava Fr. Pedro da Zarça , Frade
Leigo , porque naquelle tempo precediao as virtu
des às letras. Alitem neſte Convento mais de cem
Frades ordinariamente ', e nelle eſtá ſepultado Fr.
André Cidade , pay do Santo Patriarca da holpita
lidade S. Joao de Deos , que tomando aqui o Serafi
co habico , em ſó dous annos , que viveo na Reli
giaó , mereceo acabar com opiniao de Santo em It
de Março de 1920. He muito celebrada na Igreja
deſte Convento huma prodigioſa Imagem de Nor
ſa Senhora com o titulo de Mãy dos Homens , que
fcz collocar aqui o devotiſſimo 2 e Religiofiflimo
Padre Fr. Joao de Noſſa Senhora , Miſſionario , e
Varað verdadeiramente Apoftolico dos noſſos tem
pos .
132 Na geral deſtruiçaõ do terremoto padeceo
eſte Convento huma total ruina , allim na Igreja ,
como nos ſeus Dormitorios , e clauſtros , mas com
a felicidade de que nao morreo ninguem , e ſó ca
hio a frontaria do dormitorio grande da parte do
adro ; porque o mais ſe demolio para ſe reedificar
de novo , como ſe vay fazendo , principiando a obra
pelo dormitorio chamado dos Pregadores. Vinte
dias
Da Cidade de Lisboa. 273

dias eſteve a Communidade pofta na cerca ao rigor


que forman
do tempo , e com limitado reparo , até que
do dentro em huma caſa terrea , que ſervia de ce
leiro , huma pobre Igreja com quatro Altares , alli
celebraraó os Officios Divinos até à Feſta dos Reys
do anno de 1757 , em cujo dia ſe mudarao para ou.
tra caſa , que ſervia de enfermaria , onde erigirao
noya Igreja com ſete Altares , Coro , e orgaó para
, e
madeira .
Noſa Senhora dos Anjos . De Religioſos Barbadi
nhos Miſſionarios Italianos , de que já fallamos no
tom . 2.part. 3. cap . 3.9 . 9. defte noſſo Mappa. Foy
o dos bem livrados no terremoto .

Collegio .

: S. Franciſco Xavier. Foy de Religioſos Jefuitas ,


fundado por Jorge Fernandes de Villa Nova no an
no de 1679 , que deixou hum riquiſſimo legado , pa
sa ſe enſinarem publicamente aos meninos as pri
meiras letras , e rudimentos da Grammatica Lati
aa . Teve pequena ruina com o terremoto geral .

Mofteiros.

Madre de Deose De Religioſas Franciſcanas Def


calças da primeira Regra de Santa Clara . Foy fun
dado pela Rainha D. Leonor em 23 de Junho de
15092 e melhorado no edificio , e Igreja por El
Rcy D. Joao IJI. Venera- ſe aqui hum precioſo ex
emplar do Santo Sudario de Chriſto muito femen
lhante ao original , que eſtá em Turim chum
grande theſouro de notaveis reliquias. A devotifli
ma Imagem da Máy de Deos , que , na Igreja defte
Moſteiro ſe venera em ſua Capella da parte do Evan
gelho , he da mayor perfeigao , e reſpeito , que ſe
Tom.III . Part.V.1 : .. On nimi Mm : ..con
274 Mappa de Portugal.
conhece em todo o Reino . (1 ) Merece tambem
honroſa memoria a Sacriftia defte Templo , pelo
primor , aceyo , e bom gosto , com que eftá ornada
por diligencia , c direcçao do devoto Padre Jofeph
Pacheco da Cunha Clerigo ſecular .
133 Grande ruina experimentou a Igreja defte
Molteiro , a qual quaſi milagroſamente ſe fufteve
aos impetuoſos abalos , com que a accommetteo a
terremoto paſado. Levarao asReligioſas toda a for
ça delle no Coro , donde huma ſó Tahio mal ferida
na cabeça , que logo melhorou . Apearaó -ſe meyas
paredes da Capella mór , a parede do Coro correſ
pondente à Igreja , e algumas officinas do interior
da Clauſura , que tudo ſe acha quafi reparado com
mað larga pela magnificencia da Mageftade Fideliſ
fjma de ElRey D. Joſeph I.
Santos o Novo. De Religioſas Commendadeiras da
Ordem de Santiago . Foy fundado por ElRcy D.
Joao II . em huma Ermida da invocaçao de Noſſa
Senhora do Paraiſo , ſituada entre o Convento de
Xabregas , e o Moſteiro de Santa Clara , e para el
le mandou o dito Rey mudar as Religiofas , que le
conſervavao no antigo Moſteiro de Santos o velho ,
que hoje he Igreja Paroquial . Fez - ſe efta crasladas
çaó em s de Setembro de 1490 ( 2 ) trazendo - ſe com
religioſa pompa , e ſolemnidade os corpos dos San
tos Martyres Veriſſimo, Maxima, e Julia , acom
panhando as ſagradas Reliquias , e as Religioſas o
Cabido da Cathedral com toda a Clerefia , e Reli
giões . He eſte Moſteiro de grande authoridade ;
porque ſe tratao as Religioſas como Senhoras , que
fao ; e a ſua Commendadeira ſempre he huma Se
nhora de conhecida nobreza , e qualidade , que pre
ſen

[ 1 ] Fr. Jeron. de Belém Chron. Serafic. part. 3. liv. 13. cap 8. p.27 .
( 2 ) Aſlim o eſcreve Fr. Jeron. Roman , na Hiſt. da Ord . Equeſtre de
Santiag., Garcia de Reſende na Chron. de ElRey D. Joaó II . cap. 111
Porém D.Rodrigo da Cunba nos Biſpos de Lisboa part. 1 , cap. 1 &s
A. 8. , diz que a trapslagao fora no anno 14752
Da Cidade de Lisboa . 275

fentemente he D. Maria Roſa de Portugal deſde o


anno de 1743 , em que foy nomeada depois da mor
te de ſeu marido o Conde de Pombeiro D. Pedro
de Caftello - Branco da Cunha. Com o terremoto fi
cou eſte grande edificio arruinado por dentro , e in
capaz de habitarem nelle as Religioſas , as quaes
mandarað fazer na ſua Cerca.varias barracas , onde
permanecem ainda.
134 Santa Clara. De Religioſas Seraficas obſer
vantes da Provincia chamada de Portugal. Foy fun
dada a Igreja no anno de 1294 por huma D. Ignez ,
viuva de D. Vivaldo, nacional de Genova , mas Ci
dadao honrado de Lisboa , poſto que já no anno de
1292 exiſtiao aqui Religioſas. (1 ) Delte Moſteiro
ampliffimo , exceptuando o dormitorio chamado da
bençao , e o dos corredores , duas varandas, e algu
mas Capellas , tudo mais , que em dormitorios , e
cafas particulares recolhia mais de ſeiſcentas mulhe
res entre Religioſas educandas , recolhidas , e cria
das , ficou ou de todo abatido , ou irreparavelmen ,
te arruinado com o terremoto . O ſeu famoſo Tem .
plo , que era hằm monte de ouro , e na grandeza
excedia a todos os dos mais Moſteiros da Corte , fi
cou totalmente proftrado , excepto a tribuna ,, e
coſtas da Capella mor , fepultando mais de quatro
ccntas peſſoas , que eſtavaó affitindo aos Officios
Divinos. O Coro de cima, que era hum Paraiſo na
terra , tambem ſe abaceo , e ſervio de ſepulturacom
ſuas ruinas a quali todas as Rcligiofas , que foraó
cincoenta e ſeis , além de oito educandas , huma no
viça , quatorze recolhidas , quarenta e tres criadas ,
e nove eſcravas, que por todas fazem cento e trinta
chuma peſſoas dentro do Moiteiro , que pereceraó
pefta tragica fatalidade.
Santa Apollonia. De Religioſas da primeira Regra ,
Mm ii de

( 1 ) Monarq. Lulit. liy . 17.cap. 19. Corograf. Portug.tom . 3.P.379


Fr. Apollin. Clauſtro Franciſc. P.133 ,
276 Mappa de Portugal.

de Santa Clara . Deu principio a eſte Moſteiro hus


ma Beata de habito fechado , que profefTava a Re
gra de S. Franciſco , e lhe chamavao Iſabel da Ma
dre de Deos , a qual tinha vindo de Villa Viçoſa
com a familia da Sereniſſima Caſa de Bragança . Foy
muito venerada da Rainha D. Luiza , que a intitu
lava a ſua Capuchinha . Recolheo - ſe eſta ſerva de
Deos em huma Ermida de Santa Apollonia , que era
dos Confeiteiros , com o intuito de tratar da Capel
la da Santa , e como era muito eftimada da Caſa
Real, a levou comligo a Senhora D. Catharina pa
ra Inglaterra no anno de 1662 , donde voltando de
pois no anno de 1693 , tornou para a dita Ermida ;
e com outras mais companheiras , eſpecialmente hu
ma que chamavao Luiza da Affumpção , deu prin
cipio ao Recolhimento por direcçao do P. Fr. Ama
ro da Eſperança Commiſſario dos Terceiros de S.
Franciſco da Cidade.
135.. Muito deveo eſte Recolhimento na ſua ori
gem à Caſa Real ; porque as melhores peças , e or
namentos de valor , Imagens de Santos , e ſeus ri
cos veſtidos lhos deu a Sereniffima Rainha D. Lui
za , e até o veſtido , com que ſe recebeo a Senhora
Rainha da Gram - Bretanha na Sé de Lisboa , lho
mandou dar para veſtidos de Santos. Vivendo pois
eſtas fervas de Deos com grande exemplo , e edifi
caçao , houve por bem o Papa Clemente XI. tranſ
formar o Recolhimento em Moſteiro , cujas Reco
lhidas em 6 de Fevereiro de 1718 profeffaraó com
grande folemnidade , e com obediencia ao Ordina
rio Dieceſano . Ficou pouco arruinado eſte Moſtei
ro; porém as Religioſas ſe abarracarao no Forte a
elle contiguo , e a piedade de certo Devoto 'o tem
mandado reedificar todo à fundamentis, com prom
ta , e liberal grandeza .
Recolhimento .

Noſa Senhora dos Anjos. Foy inſtituido pelo Ex


celo
Da Cidade de Lisboa . 277

cellentiffimo Principal D. Lazaro Leitað no anno de


1747 para recolhimento de Viuvas nobres , e le em
tabeleceo no meſmo Hoſpicio , que es Religioſos
Barbadinhos Italianos- largaraó.

Ermidas.

Santa Anna
Senhora da Conceiçao. No Valle de Chellas.
Senhora da Conceiçao, e Santo Antonio no Caes dos
Soldados .
S. Joao Bautiſta
Madre de Deos. Na travcffa do Carcaó .
Şenhora do Paraiſo. Eſta Ermida ferve de Paro .
1 quia , e della eſcrevem D. Rodrigo da Cunha nos
Biſpos de Lisboa pag . 260.0 Author da Corogra
fia Portugueza tom . 3. pag . 366. é o do Sançuario
Mariano tom.7. pag.68 .
S. Pedro de Alcantara. Junto a Santa Apollonia.
Senhora do Roſario da Reſtauraçao. Ao Grilo . Foy
fundada efta Ermida por D. Gafta Coutinho Fi
dalgo da Caſa de Sua Mageftade , e do ſeu Confe
lho , inſtituindo - a por cabeça de Morgado na quin
ta chamada do Grilo , cujos Capellães, que faó qua
tro , provê o adminiftrador , mas com approvaçaó ,
e beneplacito do Geral dos Loyos , e de dous Cone
gos , que para ifto clege a Communidade , e fem ſeu
conſentimento nao ſe pode remover algum dos di
tos Capellães , como diz Santa Maria na Chronica
intitulada Ceo aberto na terra liv . 2. pag . 493 .
Senbora do Rosario . Em Villa Gallega.
136 Conftava efta Freguezia antes do terremo
to de mil trezentos e trinta fogos : preſentemente
conſta de mil duzentos e dez ; em cujo numero ' fen
te a diminuiçao de cento e vinte. Experimenta ' mais
a decadencia na qualidade de ſeus habitadores , que
os mais opulentos deſertaraó , por ficarem diftantes
os tribunacs ; vindo occupar as caſas os Hereges
☺ Pro
278 Mappa de Portugal.

proteſtantes , que já paſſaó de quatorze fogos, por


ſe acharem agora mais proximas as Alfandeg . Dife
tribuem - ſe osmoradores pelas ſeguintes
Ruas.
Santa Apollonia , Bica do C ,apato , Caes , Cal
çada dos Barbadinhos , Calçada do Forte , do Grin
lo , Cruz , Cruz da pedra , e dos quatro caminhos ,
Penha , Piedade ,
Galé, Graça , Grilo , Paraiſo , Penha
Xabregas.
Becos, ¢ Traveſas.
Arcipreſte , Calçada de Santa Clara, e da Cruz ,
Campo de Santa Clara , Caſcaes , Conde de Avin
tes , Era , Flores , Freiras , Lages , Meyo , Mou
ros , Paraiſo, Poſtigo do Arcebiſpo , de's . Vicen
Rapoto , Santos , Valle de Chellas , Valle eſcu
te , Rap
10 , Veronica , Vibre , Zagallo . ,,
Freguezias confinantes.
Senhora dos Anjos , Santo Eſtevao , Scnbora dos
Olivaes , S. Vicente .

XII .
1 )

Santo Eſtevao.

Memoria mais fidedigna , que encontra


137 A mos da antiguidade deſta Paroquia , he
do anno de 1.295 , no qual a 18 de Mayo paſſou El
Rey D. Diniz Proviſa ) para ſer collado nella em
Prior o Meſtre Joao , Fylico da Rainha D. Brites ;
e foy elle o ultimo que obteve eſta Igreja , eitando
ainda no Padroado Real ' ; porque a 8 de Julho do
meſmo anno fez o dito Rey mercê delle ao Biſpo
: Joao 1
tinuar em ſeus fucceffores , ( 1 ) e defta ſorte fe in
corporou na Mitra , cujos Prelados ſao preſente
mente ſeus Donatarios.
138 0

[ 1 ] Cunha Catalog. dos Biſp. de Lisb. part. 2. cap.77:


Da Cidade de Lisboa. 279

138 : O Paroco tem predicamento de Prior , que


he provido por concurſo , e ſe eſtima a ſua renda
em quatrocentos mil reis ; fendo que deftes ha de
dar a quarta parte a hum Coadjutor. Ha aqui oito
Beneficios , que apreſenta alternativamente a Sé A.
poltolica , e o Prelado Dieceſano , e rende cada hum
cincoenta mil reis . As Irmandades , que ſe acha) aqui
eſtabelecidas , faố : a do Santiſſimo , que apreſenta
huma meya Capella : a da Via -Sacra , que apreſen
ta tres Capellas , para o que tem propriedades vins
culadas : a da Conceiçao , e Máy dos Homens : a de
Noſſa Senhora da Atalaya , Imagem antiga , e mi
lagroſa , e que tem huma Irmandade dos mareantes ,
e peſcadores com ſeu Capellao,
: 139 Aos infolitos abalos do terremoto cahio nel
ta Igreja huma Imagem de pedra do Santo Patrono
Protomartyr , que eſtava no frontiſpicio , e arrui
nou o Coro com a ſua queda , mas já ſe acha seedia
ficado : apeou -ſe parte da torre , que ameaçava rui
na ; e com o temor de outra mayor, paſſou a Paro
quia para a Ermida de Noſſa Senhora do Roſario no
largo do ſitio das Galés . Nao conſta que morreſſe
na Igreja peſſoa alguma neſſe dia ; porém pelo def
trito da Freguezia , ſegundo o aſſento do livro dos
obitos , nao chegaraó a quarenta : contém no ſeu
territorio as ſeguintes

Ermidas:

&
A's portas da Ribeira
Senhor Jeſus da Boa nova . A's
junto da Galé. He adminiſtrada por huma Irmanda
de Secular com o titulo da Via Sacra . Tem para ſeu
eſtabelecimento duzentos mil reis em huma proprie
dade myftica à dita Ermida , a qual com o terres.
moto nao padeceo deſtroço .
Noſa Senhora dos Remedios. Junto ao Chafariz de :
dentro. Tem de rendimento oito mil cruzados , e hc
adminiſtrada pela Irmande do Eſpirito Santo , que
le
280 Mappa de Portugal.

ſe compoem ' dos navegantes , e peſcadores de Alfa .


ma , com feu Juiz conſervador , que he o Correge
dor do Crime da Corte. Tem tambem feu hoſpital
para ſe curarem nelle os Irmãos pobres. ( 1 ) Ficou
arruinada com o terremoto , porém acha- ſe inteira.
mente reedificada.
140 Conítava elta Paroquia antes do terremoto
de mil cento e vinte e nove fogos , e quatro mil tre.
zentas e vinte cinco peſſoas de communhañ : : pre
fentemente numera oitocentos e ſetenta e oito fo
gos ; e tres mil quatrocentas peſſoas de communhàő .
Điftribuem - ſe pelas ſeguintes
Ruas.
Portas da Cruz , (2) Rua direita , dos Remedios ,
do Vigario .
Freguezias 'confinantes.
Santa Engracia , s . Miguel , Salvador , S. Vi
cente .
XIII .

S. Joað da Praça.

14? A que já no anno de 1317 achamos , que


o Biſpo de Lisboa D. Fr. Eſtevao II . collara nella
em 28 de Setembro ao Prior , a quem ElRey D.
Diniz havia feito mercê como Padroeiro da dita
Igreja. ( 3 ) A meſma mercê fez depois ElRey D.
Affonſo IV . a hum Capellao da Capella Real , co
mo conſta do livro dos Padroados , que eſtá na Tor
re

(11 Santuar. Marian. tom . 1. p . 2.31. [ 2 ] Neſte ſitio fundou ElRey


D Diniz no anno de.1290 a primeira Univerfidadeque houve em Pors
tugal, como diz o Chroniſta Brandao na Monarquia Luftana part si
liv . 16.cap .82 accreſceatando , que pode eſte Reino venerar eſta Por.
ta como ſolar das boas letras , e primeira habicaçao da ſciencia , e que,
parece naó quer Deos teabi Portugal, neabuma boa dita , que nao
ſeja apadrinhada de ſua Cruz ſagrada. [ 3 ] Cunha Hiſtor. Ecclef. de
Lisb. part, 2. c . 84. n. 7 ,
Da Cidade de Lisboa. 281

re do Tombo na caſa da Coroa fol. 14. verf. col . 1 .


O Senhor Rey D. Pedro II . fez mercê deſte Pa
droado a D. Pedro Joſeph de Noronha , primeiro
Marquez de Angeja.
142 Rendia eſta Igreja ao Prior antes do terre
moto quatrocentos mil reis , e cada hum dos quatro
Beneficios , que ha aqui , renderá pouco mais , ou
menos cem mil reis. Sobre a apreſentação deſtes Be
ncficios litiga o Procurador da Coroa com os Bene
ficiados , fem embargo de que ſe moſtraó muitas
apreſentações feitas pelos Priores. Ha neſta Igreja
as Irmandades , e Capellanías ſeguintes . A do Sana
tiſſimo com huma Capella de oitenta mil reis : a das
Alm s com dez Capellães de cincoenta mil reis : a
de S. Joao Bautiſta : a de Noſſa Senhora da Encar
naçao, a qual ſó conita de Cortadores , c apreſenta
dous Capellães com reflenta mil reis cada hum . Além
deſtas eſtabeleceo aqui huma Capella a Santa Catha
rina hum Jofeph Rodrigues de Figueiredo , que cons
corria com tudo que era preciſo .
: 143. Com o geral fracaſſo do terremoto e in .
cendio , ſe arruinou , e queimou , ficando em de
plo : avel eſtado ; à viſta do qual determinou a Meſa
com o Paroco ſe collocaffe o Santiffimo em huma
Ermida exiſtente na traveſſa da Veronica , em quan
to le cuidava em melhor accommodaçao ; o que de
pois ſe fez , erigindo huma decente Ermida no Caes
de Santarem , onde exiſte. Numera trezentos fogos
diſtribuidos pelas ſeguintes
Ruas .
Adro da Igreja , Santo Antonio na Ribeira , Ar
co do Chafariz , e do Conde de Coculim , eo de
Jeſus , Armazens , Atafonas , Barað , Caes de San
tarem , largo da Botica , Marichal, Pafteleiro , Rua
direita de S. Joao da Praça da parte eſquerda , Tem
te lá , Varandas do Conde de Villa- Flor .
Becos.
Santo Antonio , Igreja, Joao Seco ,Pardieiro ,Silva."
Nn . Fres
Tom.III, Part.Y.
282 Mappa de Portugal.

Freguezias confinantes.

S. Jorge , Santa Maria , S. Pedro.

XIV.

S. Forge.

144 Oincide a antiguidade deſta Fregueria


C com a de S. Bartholomeu . ElRey D.
Diniz a annexou à cadeira do Meſtre - Eſcola da Sé ,
que nunca a apreſentou , e ſempre andou em con
curſos, e renuncias até o preſente. O Paroco tem
predicamento de Prior , cuja renda era eſtimada em
ſeiſcentos mil reis. Ha na Igreja quatro Beneficios ,
que ſervidos chegavaó a duzentos mil reis cada hum ,
e eſtes tem hum apreſtimo na Chamuſca , em que
nao entra o Prior , o qual rende a cada hum vinte
moedas. Saõ eſtes Beneficios da apreſentaçao do
Prelado , e tambem de renuncia .
145. As Capellas , que havia na Igreja , erao a
do Santiffimo , inſtituida por Franciſco de Lima ,
que a Meſa apreſenta com ſeſſenta mil reis de cons
grua para o Capellaó : duas das Almas com cinco ,
enta mil reis cada huma :mais huma do Menino Je
fus , que era dos Cegos . Defronte deſta Igreja hou
ve antigamente hum Collegio , que o Doutor Dio
go Affonſo Manga ancha mandou fundar no anno
de 1447 , para dez Collegiaes pobres. ( 1 )
146 Ficou tambem deftruida com o terremoto ,
e fogo , por cuja cauſa ſe transferio para a Ermida
de Santa Barbara , para diante do Campo do Cur
ral , e depois ſe tornou a eſtabelecer do modo poffi
vel na meſma Freguezia . Conſtava de cincoença e
oito fogos , e das ruas ſeguintes preſentemente de
ſertas.
Ruas.

[ 1 ] Leitzo Ferreira Noticias Chronologic. num . 764.,


D. Cidade de Lisboa. 283

Ruas .
Parte da rua direita , que vay do largo da Igreja
para o Limoeiro da banda direita Parte do beco
do Bogio , Parte do beco do Alecrim do meſmo la
do da Igreja.
Freguezias confinantes.
S. Joao da Praça , Santa Maria , S. Martinho .

XV .

$
S. Jofeph .

147 O cebiſpo de Lisboa deſmembrou do ter .


ritorio da Freguezia de Santa Juſta , por ſer dilata
do , a porçao que deu a eſta de S. Jofeph a 20 de
Novembro de 1967 , erigindo a Paroquial na Ermi
da da meſma invocaçao , que os Pedreiros, e Care
pinteiros haviað fundado à ſua cufta com licença do
Arcebiſpo D. Fernando de 6 de Julho de 1545 fóra
dos muros antigos de Lisboa , paſſando as portas de
Santo Antañ mil e quatrocentos paſſos andantes .
• 148 Ha pouco mais de cem annos , que a mayor
parte delta Freguezia eraó matos cerrados com al
gumas hortas, olivaes , e quintas ; hoje está ſumma.
mente povoado o ſeu deſtricto , que entre as Paro
quias da Cidade he hum dos mais apraziveis , pois
obſervado da Corovia faz hum proſpecto agradavel
todo o ſeu terreno .
149 Tem o Paroco predicamento de Vigario ,
poſto que o Cardeal Arcebiſpo no Alvará da fun
daçao da Freguezia , que vimos , lhe dá fomente o
titulo de Cura . He Igreja da Mitra , e rende mais
de ſeiſcentos mil reis . Tem hum Coadjutor, que a
Irmandade de S. Jofeph apreſenta , e o Prelado ap
prova , levando por iſſo a quarta parte de codos os
beneſſes , e emolumentos da Igreja , como expref
famente o declara o meſmo Alvará . Conſta mais de
Nn ii hum
284 Mappa de Portugal.

hum Cura , a quem o Vigario dá trinta mil reis , o


e
de hum Theſoureiro , que apreſenta o Prelado
coftuma render perto de cem mil reis .
ISO Na Igreja ha as Irmandades , e Capellas
ſeguintes. A de S. Joſeph erecta pelos Pedreiros, e
Carpinteiros no anno de 1532 ' , como conſta da inſ
cripçaó , que eſtá no frontiſpicio da meſma Igreja ,
que logo tranſcreveremos. Eſta Irmandade tem a
adminiſtraçao da Capella mór , e a da Senhora da
Fé com fece Capelláes , a quem dao quarenta e oi
to mil reis a cada hum . Ha mais a Irmandade do
Santiſſimo baſtantemente opulenta , e foy erecta no
anno de 1571 , como conſta do ſeu Compromiſſo ,
e adminiftrava , e pagava a doze Capelláes de Miſ
fa quotidiana , cujos inſtituidores ſao os ſeguintes.
151 O Conde da Caſtanheira Simao Correa, da
Silva inftituio duas de ſetenta mil reis cada huma .
D. Marianna da Maya huma de oitenta mil reis .
Joſeph de Moraes , e ſua mulher Iſabel Martins ou
tra de ſeffenta mil reis . Franciſco Ribeiro da Fon .
feca tres de ferenta mil reis . Barbara de Carriao duas
de cem mil reis . Tem mais tres Capellães ; que dis
zem as Miſſas pelos Irmãos , e outras delegados , que
deixaraó Affonſo Gonçalves , o Padre Belchior do
Rego Belliago , Joao de Carriao , Franciſco Pires ,
e outros . Dá tambem eſta Irmandade do Sanciflimo
hum dote de oitenta mil reis cada anno , que deixou
o P. Manoel Pereira .
152 Ha mais huma Capella , que inſtituio Ma
noel Galvaó de ſeſſenta mil reis , e ha mais outras
de ſeſſenta e cinco mil reis inftituidas pelo Sargento
mór de batalha Antonio de Sá , de Almeida. A Ir
mande das Almas tem doze Capellães com quarenta
e quatro mil reis cada hum , cuja congrua ſahe to
da das eſmolas , que ſe tirao quotidianamente dos
fieis com a bacia .
153 Com o terremoto paſſado padeceo eſta Igre
ja pequena ruina , ficando ſomente o ſeu frontiſpi
cio
Da Cidade de Lisboa . 285

eio algum tanto eſquartejado , por cujo motivo a


Irmandade do Santiſſimo mandou fazer no campo da
borta por detraz do palacio de Marco Antonio hus
ma barraca de madeira , ' para onde ſe mudou o Sa
cramento , e ſe faziao as funções Paroquiaes . Aqui
eſteve a Freguezia até 22 de Julho de 1717 , em
cujo dia ſe reftituio por ordem de Sua Eminencia
para a ſua antiga Igreja, a qual os Pedreiros , e Car
pinteiros reformarao e melhoraraó , quanto à ar
quitectura da frontaria , onde fizeraõ eſculpir eftes
dous padrões. O primeiro , que fica da banda do ,
Evangelho , diz :
In . 2. 0 .
Por cauſa do lamentavel terremoto do primeiro de
Novembro de 1755 ſe arruinou a frontaria deſta
Igreja . A Irmande do Senhor S. Joſeph', como Pa
droeira da meſma, a mandou levantar no eſtado em
que ſe acha no anno de 1757.

Ultra non commovebitur , lib . 1 , Par . 17.9.


>
Debaixo deſte padrað eftao gravadas na meſma pea
dra com primor os inſtrumentos do officio de Pe.
dreiro , nos quaes ſe lem eſtas letras : Hic eft Faber .
Marc. 6. 3. Jofeph faber lapidarius. Calmet . As le
tras In . a . o. que eſtaó no principio , querem dizer,
In anatbema oblivionis : iſto he , para memoria per
petua da gratidao : cuja cpigrafe he tirada do cap . ,,
16. de Judith. v . 23.
154 O ſegundo padrað eſtá da parte da Epifto
la , e diz :

M. S.
Na era de 1937 ſe principiou a Confraria do Se
nhor S. Jofeph , que for a primeira deſte Reino : e
na era de 1846 a 7 de Abril fe tirou S. Jofeph de
Santa Juſta para eſta caſa .

Poſſederunt filii Joſeph. Joſué . 16.4:


De
286 Mappa de Portugal.

Debaixo deſta inſcripçao ſe vem inſculpidas as féra


ramentas do officio de Carpinteiro muito bem aber
tas , e ſobre a ſerra ſe lê Jofeph faber lignarius. Verſ .
Hebraica .
ISS Comprehende efta Paroquia dentro dos ſeus
limites os Templos ſeguintes.

Convento .

Corpus Chriſti. De Religioſos Carmelitas Deſcal


ços , erecto no anno de 1756 no principio da tra
yella fronteira ao palacio de D. Diniz de Almeida.

Hofpicies.

Brunos. He dos Religioſos da Cartuxa de Lavei


ras , e eſtá na eſtrada do Salitre , na rua da Palmeira.
Foy principiado em huma horta , que lhes deu o
Biſpo Capellaõ mór D. Jorge de Ataide no anno de
1609 , para dote de duas cellas, que eſtabeleceo no
dito Convento. Tem ſua Capellinha , onde diz Miſ
fa o Procurador , quando vem à Cidade . A ruina
que padeceo com o terremoto , ſe acha recuperada . '
Garmelitas Calçados. Da Provincia do Maranhao.
Eftá na rua direita de Santa Marcha , e foy fundado
no anno de 1745 .
Dominicos. Na Igreja de Santa Joanna. Foy fun
dado em 25 de Novembro de 1699 , em huma quin
ta de D. Alvaro de Caſtro , fica a diante de Santa
Martha , e á deixou em teftamento para fe eſtabe
lecer hum Collegio de Miſſionarios da India . Pelo
terremoto nað padecco ruina alguma ; e aſſim como
aqui afliſtiao poucos Religioſos , e as da Annuncia
da ſe conG deraſſem na urgencia de abandonaremo
feu Moſteiro , mudaraó ſe para a cerca de Santa Jo .
anna , accommodando -ſe em varias barracas , que
mandaraó erigir . Depois com animo de perſiſtirem
nelce Gicio , cem concorrido a grandeza de ElRey
com
Da Cidade de Lisboa . 287

com o diſpendio de duzentos mil cruzados , para


lhes fazer hum Moſteiro ampliffimo , que ainda nao
eſtá completo ,
Mercenarios. Efte Hoſpicio foy fundado na rua do
Paſſadiço no anno de 1747 , e nas terras do Deſem
bargador Antonio de Macedo , que as deu para o
tal edificio , ſendo Procurador Geral o Padre Fr.
André Pinto da Silva . A pequena ruina , que pade .
cco , ſe acha remediada .

Moſteiros.

Noſſa Senhora da Annunciada . De Religioſas Do.


minicas. Foy primeiramente habitado de Religioſos
de Santa Antað no anno de 1400 , Trocaraó efte
Convento no anno de 1939 com o das Freiras da
Annunciada , que ElRey D. Manoel havia fundado
no anno de 1519 ao pé do Caſtello , junto à Mou
raria ; e aflim as Religioſas trouxeraó comſigo a in
vocaçao da Annunciada para o Convento dos Fras
des de Santo Antaó , e os Frades levarao o nome do
Santo para o Moſteiro , que ainda hoje conſerva o
de Santo Antao o Velho . Com o terremoto ſe arrui.
nou baſtantemente nao ſó o Moſteiro , mas a Igre
ja , ficando neſta toda a ſua abobeda aberta pelo
meyo até o arco da Capella mór , e perecendo ner
te ettrago dez Religioſas ; entre as quaes merece el
pecial memoria a Madre Soror Caetana da Encarna
çao , filha do II . Marquez de Tavora , de vida ex
cmplariſlima, e virtuoſa : nao menor lembrança dei
xarao da ſua virtude as Madres Soror Joſefa Tereſa ,
Şoror Anna Felicia , e Soror Luiza Victoria , filha
dos Barões da Ilha grande , e de vida inculpavel.
Preoccupadas as mais Religioſas do grande temor ,
que tambem a violencia do fogo já proximo as amea
çava , reſolverao ſahiſſe toda a Communidade para ,
huma horta alli contigua chamada do Cardador , on
de eſtiverao até Quarta feira ao jantar , em cujo dia
fe
288 Mappa de Portugal.

le paſſaraó para o Convento de Santa Joanna , ono


de fe contervaõ ainda em huma grande accommo
daçaó , que ElRey lhes mandou fazer generofa
mente .
* 156 Defronte deſte Moſteiro exiſtia o palacio
dos Condes da Ericeira , 'hoje Marquezes do Louri
cal , fundado por Fernando Alvares de Andrade do
Conſelho de ElRey D. Joað III . no anno de 1533 .
Depois ſe accreſcentaraó dous novos quartos , que
tudo comprehendia cento e vinte caſas , dez pateos ,
jardins , e hortas , e lograva mais de duzentas pintu
ras, muitas dellas de Ticiano , Corregio , Rubens ;
e ſobre tudo huma excellente livraria , que conti
nha dezoito mil volumes impreſſos : mil Collecções
de papeis varios , a Hiſtoria do Imperad Carlos
V. , eſcrita pela ſua propria maô , hum livro de
hervas , e plantàs illuminadas com as ſuas naturaes
cores, que foy de Mathias Corvino Rey de Hun
gria , Carcas de marcar dos primeiros deſcobridores
das noſſas Conquiſtas, e muitos volumes manufcri
tos em diverſas materias pelos Senhores da Caſa de
Ericeira . Tudo iſto devorou o incendio no meſmo
dia do grande terremoto , reduzindo a cinzas em
breves minutos taó precioſas, e irrecuperaveis al .
fayas .
Santa Martha . De Religiofas de S. Francifco.
Teve principio depois do anno de 1569 em hum
Recolhimento de donzellas orfans , que por agencia
do Padre Antonio de Monferrate da Companhia de
Jeſus , ElRey D. Sebaftiao eſtabeleceo para as fi
ihas dos ſeus criados , que haviao morrido da gran
de peſte fuccedida em Lisboa por aquelle tempo.
Transformou - ſe em Moſteiro no anno de 1580 , lan
çando - ſe a primeira pedra a 6 de Fevereiro ", e no
anno de 1583 ſe reduzio a clauſura a 'inftancias do
Padre Pedro da Fonſeca Jeſuita , que lhe fez Eſtatu
tos eſpeciaes em ordem à ſua confervacao. He ſu
jeito ao Ordinario . Alguma coufa padecco com o 3
ter
Da Cidade de Lisboa. 289

terremoto , que obrigou às Religioſas abarracarem


ſe na ſua cerca ; porém reparada a ruina , fe achao
já reftituidas às ſuas cellas. O grande palacio dos
Condes de Redondo contiguo a cfte Moſteiro , pa
ſa cuja Capella mór tem huma mageftoſa tribuna ,
onde tivemos a honra de celebrar a noſſa primeira
Miſſa em 7 de Novembro de 1733 , ficou izento 1
3
dos horroroſos abalos ' do terremoto ; antes lervirao .
: algumas das ſuas officinas de commodo , e abrigo
aos pobres doentes , e miſeraveis , a que os Senho
+ res deſta Caſa mandarao aſiſtir caritativamente por

i acçao propria da ſua innata piedade.


+
Ermidas.
5

Noſa Senhora do Bom Succeſo. Na Calçada do La


vre , que antigamente ſe chamava Calçada de Da
miao de Aguiar. Foy edificada no anno de 15.08 por
Joab Rodrigues Torres. A Imagem da Senhora di ,
zem , que apparecera ſobre o bocal de hum poço ,
que eſtá debaixo da meſma Capella. Permanece ain
da aqui huma Irmandade da Via - Sacra , que infti . 1
tuio o Veneravel Fr. Antonio das Chagas . Nað pa
1 deceo ruina alguma , e nella reſidio depois do terre
moto a Collegiada da Miſericordia .
Noſa Senhora da Gloria . Foy cdificada eſta Ermi
1
da por Fernao Paes , nobre Cidadao do Porto , no
-
anno de 1970. Depois a poſſuiraŭ os Condes da Cars
fanheira , e hoje D. Luiz de Portugal . Nefta Igre
ja eſtiverao hoſpedadas humas Religioſas Flamen ,
gas, que no anno de 1582 vieraó para eſte Reino
deſterradas, fugindo à hereſia Lutherana , em tem
+
po de ElRey. Filippe II. , e depois de quatro an
nos, ſe paſſaraó para o litio de Alcantara , onde ſe
3 editicou o Mosteiro de Noſſa Senhora , da Quieta
çao . Acha - ſe cita Ermida arruinada por cauſa do
terremoto.
S. Luiz Rey de França . Conſta que a Confraria de
Tom.III . Part . V. Oo $.
190 Mappa de Portugal.

9. Luiz da Naçao Francêta eſtivera -Ha Ermida de


Noſſa Senhora da Oliveira no anño de 1558. Co
meçou - ſe à fazer à nova Igreja de S. Luiz às por
tas de Santo Antao rio anno de 1963 , a qual le con
cluio , é juntamente hum Hoſpital para agazalhar ,
é curar os doentes pobres da ſua Nacao , no anno
de 1572 , ein eujó anna á 20 de Agotto lhes con
cedeo licença o Arcebilpo D. Jorge de Almeida pa
ra ſe dizer nella Mifa , a qual fe verificou a 25 dia
do Santo : e por ficarem izentos da Matriz, le con
trataraó com o Cura da Igreja de S. Jofeph , que
entaó era Nuno Cabral Camello , em ſeiſcentos reis
. :
thenticos , que vimos , que a 'Imagem do Santo , e
mais ornamentos eſtiverao na Ermida de Nolia Se
nhora da Victoria. Tem a dica Confraria , eo feu
Capellao muitos privilegios concedidos pelo Papa
Paulo IV . 'no anno de 1561. Fez a dità Irmandade
no anno de 1986 hum concerto corn Marcos Hei
tór , Cofinheiro mór na caldeiraria ; por efte lhe fa
Zer mercê de humas cafas fuas , firas defronte da di
ta Igreja , onde ' fe fez o adro , com obrigaçaó de
the mandarem dizer cada femana huma Miſa rezada
pela fua alma , e de fua mulher , com outras mais
clauſulas . A ruina , que teve com o terremoto , fe
acha 'recuperada .
Noſſa Senhora da Pureza. Na calçada de S. Ro
que. Foy fundada no anno de 1581 por Manoel de
Caltro Solicitador dos Orfãos , e ſua mulher Filip
pa Lourenço , e a dotaraó de cem mil reis para a
Fabrica . ' Agora a adminiftra o Conde de Castello
melhor , que comprou o direito aos herdeiros em
18 de Mayo de 1711. Naó padeceo ruina alguma ,
e nella 'exifte ' a Paroquia de S. Nicoláo .
157 Conſtava eſta Freguezia antes do terremo
'to de'mil'e cem fogos , -e de cinco milie feiicentas
peſſoas de communhao . Depois ſe tem augmentat
do', ' e povoado pelas terras da Cocovia , e algumas.
hor
Da Cidade de Lisboa . 291

hortas mais de ſeſſenta fogos , e ſe va continua


mente erigindo propriedades em grande numcro.
com ruas , a que ainda ſe nao ſabe os nomes , ſendo
as antigas as feguintes do
Ruas . .
: Calçada da Gloria , e do Lavre , Calçadioba de
Santo Antonio , ou de Rilkafolles , Caridade, Car
riao , Cazal das Moças , Ciſterna , ou Santa Barba
ra , Condes , Direita., Esperança , Fél, Horta dos
Ulmeiros , Largo de S. Luiz , Macedo , ou Oli
veirinha , Mecade , Palmeira , Palladico , Praga ,
Pretas , Rua Nova da Gloria , Salitre , Telhal 1 .;
i Becos e
Mancebia , Siqueiro , Tem tem .
Travelas. :
.Açougue , Cotovia , Deſpacho , Freiras , Mel
ro , Parreiras , Patagem , Som fanida , oniso !!
Freguezias confinantes. i postali
Senhora da Encarnacao , Santa Ifabel , Santa Juf
ta , Pena , S. Sebaſtiao da Pedreira .

XVI . 1.2

,** Santa Iſabel.' ?

158 Refcendo excelſivamente a povoaçao nos


C fuburbios da Cidade , e fitio de Campo
dide , determinou o Eminentiflimo Cardeal Patriar
a D. Thomaz de Almeida erigir huma nova Paro
quia , feparando parte dos moradores das Freguezias
de Santos , e S. Sebaſtiao da Pedreira , e parte da
de Santa Catharina , e S. Jofeph , e tlegendo para
efta creccao a Ermida de Santo Ambroſio , que exif
tia pouco acima do Moſteiro de Trinas no Gtia do
Rato , nella dinle Milla a 14 de Mayo de 1741 , col
locando no Sacrario o Sancidimo Sacramento com
grande folemnidade , ordenando que dalli por dians
te fe invoca e a Freguezia com o ciculo de Santa
vo ii Ila
292 Mappa de Portugal.
Iſabel Rainha de Portugal , e que os Freguezes do
territorio aflignado reconheceffem por ſeu Paroco
ao Reverendo Folisberto Locitao de Carvalho ', a
quem constituio no caracter de primeiro Reitor
della .
1 159 No anno ſeguinte de 1742 a 4 de Julho fez
o meſmo Emincntiſlimo Cardeal Patriarca fundar
huma nova Igreja para eſtabelecimento da Paroquia,
cuja primeira pedra lançou nos fundamentos do edi:
ficio , com rito folemne , o Excellentiſſimo Princi
pal Almeida ſeu ſobrinho. Subio a obra de cantaria
até a cimalha Real , mas deſcobrindo - ſe no deſenho
alguns exceſſos , em que nao ſe reparou no princi
pio tambem por falta de cabedacs , eſteve ſuf
penſa alguns annos : até que deſejoſo o magnanimo
Prelado de ver concluido hum Templo , que elle
havia principiado com goſto , entregou gencrofa :
mente em 27 de Outubro do anno dc 1753 à Irman
dade do Santiſſimo da dita Paroquia toda a ſua pre
cioſa copa de prata , com cuja importantiffima ef
mola fe foy continuando a obra da Igreja com fer
vor , emendando - ſe do primeiro riſco o que foy pof
fivel.
100 Rendia eſta Freguezia ao ſeu Reitor mais
de ſeiſcentos mil reis , e depois do terremoto , quali
que rende outro tanto . Aprefenta elle quatro Curas
para o ajudarem no miniſterio , e tem hum The
foureiro , que apreſenta o Prelado , e renderá mais
de cento e cincoenta mil reis . Ha na Igreja dezaſeis
Capellas a ſaber : buma do Santiſlimo , outra de
Noſſa Senhora da Arrabida , e quatorze das Almas ,
de cincoenta mil reis cada huma . Ha mnais huma Ir
mandade da Via - Sacra com o titulo do Senhor Jeſus
dos Afflictos .
161 Na laſtimoſa tragedia do terremoto foy ef
ta Paroquia a mais bem livrada ; porque nem a Igre
ja , que ainda nao eſtá acabada , nem a em que re
fide a Paroquia ſentirao ruina alguma ; nem confta ,
que
Da Cidade de Lisboa . 293

que em todo o deſtricto da Freguézia padeceffe al


guem . Só na rua da Cotovia derje as caſas de D. Ro
drigo até as obras do Conde de Tarouca , e bairro
do Pombal houve alguma derrota nos edificios ; po
rém tudo reparavel , e já habitado .
162. Exiftem no deitricto detta Freguezia os ſes
guintes Templos.

** aicis Conventos .

* S. Bento da Saude. De Monges Benedictinos. Foy


erecto no anno de 1508 pelo ſeu Geral Fr. Baltham
zar de Braga a expenfas da Religiao , como conita
dos ditticos latinos abertos em huma pedra , que ſe
lem por cima da portaria , que dá entrada para os
Clauſtros , que dizem :

Cui tantum ſacratur opus, cui nobile Templum


Hec Bene bis dielo dedicat Ordo Niger.
Qui parat expenfas Monachum ditiſſima pulchrum
Pauperies propriis fumptibus fecit opus. &c .

O vulgo cuida que fora fundado pelo Marquez de


Caſtello Rodrigo , o . qual ſó comou a Capella mór
à ſua conta , e para feu jazigo je cujo: contrato def
fizerað os Religiofos com os herdeiros do Marquez ,
dando - lhe eſte Convento dez mil cruzados no anno
de 1718 , ſendo entao Abbade o Padre Fr. Bartho
Jomeu de S. Jeronymo. He ette edificio magnifico
pela fituação do terreno , e pela grandeza de codas
as ſuas partes , que o compoem .
162 Do inſolito , e geral eſtrago do terremoto
ficou codo efte ſagrado edificio tao preſervado ainda
da menor roima , que eſteve em termos de ſe con
gregar no ſeu Templo a nobiliffima , e grande Com
munidade da Santa Igreja Patriarcal , para nelle ex
ercer as funções Ecclefiafticas ; e allim fe mandou
logo infinuar ao D.Abbade deſte Convento por car
ta do Secretario de Eftado o Excellentiflimo. Sebaf
tiao

1
294 Mappa de Portugal.

tiao Joſeph de Carvalho e Mello , cuja copia he a


feguinte.
103 Tendo a.iticomparavel piedade de ElRey Nofo
Senhor preferido a todos os grandes cuidados da conjun .
&tura preſente o de fe reſtabelecerem logo , e fem perda de
tempo as exercicios de Coro, e da Santa Igreja Patriar
gal, em que ſe devem perennemente dar a Deus as infini ,
tos louvores, que devemos à ſua Divina miſericordia , por
nos preſervar depois de buma tão grande calamidade as
Reaes Peſſoas de Suas Mageſtades com toda a Familia
Real , ea buma tão grande parte das peloas , que conſti
tuem todos os teftados deſte Reiro. E nao fe achando nens
na Corte , nem nos feus fuburbios outra Igreja com eſtado
de ſubſtituir com a brevidade , que he indiſpenſavel à Pan
Ariarcal, de que Deos foy ſervido privarnos , ſe nao for
o Templo delle Moſteiro , que a Divina clemencia preſer
vou dos eſtragos a que ſe reduzirao tantos outros : para
que de todo naõ cellem os ſeusſantos louvores , me manda
Sua Mageftade participar a V. Paternidade , que neſta
extremoja urgencia , deacordo com o Eminentiſſimo, e Ře
verendiſſimo Senhor Cardeal Patriarca , tem aſſentado , em
que neſſa Igreja de S. Bento da Saude , e em algumas das
scafas , e officinas miſticas a ella , que neceſſarias forem ,
ſe celebrem por ora , e em quanto o meſmo Senhor nao
der mais ampla providencia , que tem determinado, todos
o's Officios Divinos, que até o dia primeiro do corrente je
celebravao na Santa Igreja Patriarcal: eſperando que o
zelo do ſerviço de Deus , e de Sua Mageftade , quetanto
temire plandecido na Communidade a que V. Paternida
dc refide, neſta occafia7 o fará cooperar para o dito effei
70 , de forte que os exercicios da Cathedral le façao coma
pativeis.com os do Coro , que a mejma Communidade fre
quenta com tao exemplar obfervancia. . Deos guarde a Vi.
Paternidade. Paço de Belém a 17 de Novembro de 1755.
17164 Etta determinaçao naő teve effeito , por
que a Parriarcal foy para a Ermida de S. Joaquim ,
em Alcantara , como temos dito ; mas nao deixou
taó vatto edificio de dar commodo dentro do ſeu
am
Da Cidade de Lisbog . 291

ambito ao Archiyo, Real da Torre do Tombe , Cor


mo já diſſemos, e à Academia Militar, oy Alla de
Fortificaçao , que ſe estabeleceo em huma caſa ſi ,
tuada no portico da Igreja , para onde cein ſua prins
eipal ferventia oppoita à portaria conventusl do lor
10
bredito Convento , cujo exercicio teve principig
em Outubro de 1757...
Noffa Senhora da Estrella. Dos meſmos Monges
Benedictinos , fundado no anne de 1971 pelos ſeus
Reformadores. Serve de Collegio aos taes Religio ,
fos . Padecco fatal destroço eom o terremoto , por
rém toda a ſua grande ruina ſe acha quaſi remediada .
Nofa Senbora da Affumpçao. Noviciado que foy
dos Religioſos Jeſuitas no ficio da Cotopia , funda ,
do em 23 de Abril de 1603 por Fernao, Talles da
Silva , Governador da lodia , e ſua mulher D. Mar
ria de Noronha ... Experimentou ente Templo fey
dettroco , mas já ſe acha xeſtabelecido , e nelle fune
dado nobremente .0 . novo Collegio chamado dos
Nobres.
Senhor Jeſus da Baa Morte. Hospicio de Congre:
gados , que fundou o Irmao Antonio dos Sancos 09
anno dc01736 , e de quem já fallamos no , com 2 ..
paro. 3. deite noſſo Mappa cap . 3. S. XIX . Nao
padecco ruidaalguma como terremoto .

1
Mofleiro.

Noſſa Senhora dos Remedios. De Religioſas Trini


tarias , nofirio do Rato . Havia Mapool Gomes de
Elvas" Fidalgo da Caſa de Sua Mageftade em ſeu
teftamento , que fez em Lisboa a 29 de Junho de
1620 , inſtituido dous Morgados de ſeus bens , de
que hoje he Adminiſtrador Luiz Joſeph Correa de
Lacerda , Tenente Coronel do Regimento de Oli
venga , mandando que à cuſta dos ſeus bensſe fizer
ſe com amayor grandeza ihum Moſteiro da Ordem ,
c invocaçao da Santiſlima Trindade , paca o qual, ha
via
296 Mappa de Portugal.

via alcançado licença de ElRey , e que ſe fundare


em o fitio de Campolide , chamado hoje o Rato , e
que nelle entraria o quarenta Religioſas ſem dote ,
as quaes ſeriao apreſentadas pelos fucceffores , c Ada
miniſtradores dos referidos Morgados por elle inſti
tuidos ; como tambem dous Capellães ; para cujas
deſpezas , e ſuſtentaçao deixou tundo competente .
Determinou mais que na Capella mór fe faria jazi
go para os ditos Adminiſtradores ; e que o ſeu cor
po foffe depoſitado na Igreja de Nosa Senhora do
Carmo deſta Corte , para que quando eſtiveſſe aca
do Moſteiro foſſem para ella traslada
bada a Igreja
dos os ſeus offos. Depois que morreo o dico Manoel
Gomes de Elvas , ſe deu principio à fundaçao do
Moſteiro , e chegando - ſe a concluir , houve entre os
teftamenteiros algum deſcuido , até que o zelo 3
actividade do Patriarca D. Thomaz de Almeida , fa
zendo que em o mez de Junho de 1721 tiveſſe prin
cipio a clauſura do Moſteiro , nelle entrarað Řeli
gioſas com apreſentações do Adminiſtrador. E por
que ſe reconheceo que as rendas applicadas ao dote
do Moſteiro nao poderiaó ſubfiftir para a prompta
fuftentaçao das quarentas Religioſas, como: recom
mendava ſeu Inſtituidor , ſe reduzio ao numero de
trinta ; e mais ſeis Converſas para o miniſterio par
ticular do Moſteiro , em cujo numero ſe conſerva
preſentemente ſujeito à juriſdicçao do Ordinario . Os
oſſos do Inſtituidor até agora não ſe trasladaraó por
falta de noticias , que ha do lugar onde poſitivamen
te foy ſepultado ſeu corpo na Igreja do Carmo. A
pequena ruina que padeceo eſte Mosteiro , e Igreja
pelo terremoto , logo ſe remediou .

Hoſpicio.

Dos Miſſionarios do Varatojo. Na rua da Conceiçao


à Cotovja, por mercê del Rey Fideliffimo D. Joſeph
1. deſde o anno de 1760 .
Er
Da Cidade de Lisboa . 297

Ermidas .
1
Santo Ambroſio. Preſentemente ſerve de Paroquia.
Nao experimentou ruina alguma .
Santa Anna . Na ribeira de Alcantara .
Senhora da Conceiçao. Na Fonte Santa .
Senhora da Conceiçao. Na quinta chamada do Ins
ferno .

S. Joao dos Bem Caſadós. Edificou - a Antonio Si.,


mões , official de Dourador no anno de 1980.
Noſa Senhora Mãy dos Homens. Na quinta de Jos
ſeph Ribeiro Eſcrivao dos Armazens , fundada no
anno de 1755 . 1
. S. Pedro . Fundada por hum Pedro Marques no
anno dc 1621 .
Noſa Senhora da Piedade. Na quinta chamada do
Tenente Coronel . .
Noſa Senhora dos Prazeres. Na quinta dos Condés
da Ilna , junto à ribeira de Alcantara , com quem o
povo de Lisboa tem grande devoçaó .
IOS Depois do cerremoto ſe fundarað as Ermi
das , c Templos ſeguintes :
1
Santa Anna. Defronte da Igreja nova de Santa Iſa:
bel , fundada por D. Margarida.
Santo Antonio , é Noſſa Senhora da Conceição. Na
fua de S. Joað dos Bem - Cazados. Foy fundada no
anno de 1756 por D. Nuno , filho do Duque de Ca
daval .
Noſſa Senhora da Piedade das Chagas. Aos Cardaes
de que já fallámos,
A Santa Igreja Patriarcal. No fitio das obras do
Conde de Tarouca , de que tambem já fallámos . :
S. Franciſco de Borja . Reſidencia que foy dos Pro
curadores Jeſuitas da America , e Alia . Hoje ſerve
de Seminario da Patriarcal...
Senbor Jeſus dos Afflictos. Na rúa da Madre de
Deos .
Santo Antonio. Na rua para baixo do Pombal, on
de
Tom . III . Part.V. Pp
298 Mappa de Portugal.

de eſteve a Paroquia da Encarnaçao . Fabricou - le de


madeira pelo Meſtre de obras Jorge Rodrigues de
Carvalho , mas depois ſe extinguio .
Santo Antonio . Onde eſteve a Miſericordia na rua
de S. Bento. He de Antonio Rodrigues Gil .
Menino Jeſus. Em a rua chamada Campo de Ou
rique .
Noſa Senhora dos Milagres. Que fundou Manoel
de Jeſus na travella dos ladrões.
Convento de Noſſa Senhora do Monte do Carmo. No
fitio das Aguas livres.
Convento de S. Franciſco. Na quinta de D. Elena ,
hoje dos Padres da Congregaçao do Oratorio ao Ra
to . Eſtes dous Conventos nao torao de muita pre
ſiſtencia , porque ſe fizeraó para accommodaçað in
terina dos Religioſos , que andavað ſem abrigo por
cauſa do terremoto , e incendio lhes deſtruir os ſeus
Conventos , para os quaes ſe recolheraó depois de ſe
fazerem promptos .
166 Conſtava eſta Freguezia antes do terremo .
to de mil quatrocentos e ſeſſenta fógos , e'de cinco
mil ſeiſcentas e vinte e ſeis peſſoas de communha ) .
No anno de 1787. numerava dous mil quatrocentos
e quinze fógos : e onze mil ſeiſcentas e cincoenta e
cinco peffoas de communhaó. Todo eſte augmento
accreſceo a eſta Freguezia , pelos muitos edificios,
que no ſeu terreno baldio ſe tem edificado , e vay
continuando , de fórma, que ſerá a Paroquia mais
populoſa da Cidade , e como bem diz no ſeu Clamor
Fuftificado o Reitor da Conceiçao , Braz Joſeph Re ,
bello Leite , della ſe podem ſeparar ovelhas para ou
tras duas Paroquias ſufficientemente . As ruas que
tcm nome , faõ as ſeguintes.
Ruas.
Almas , Santa Anna , Santo Antonio , Arrabida
S. Bento , Boa Morte , Senhora do Cabo , Campo
lide , Campo de Ourique , Cardaes , Conceiçao ,
Cotovia , Eſtrella , Fabrica , Fonteſaata , Hortana
yia,
Da Cidade de Lisboa, 299

via , S. Joao dos Bemcaſados, Santa Iſabel, Largo


do Rato , Madre de Deos , Senhora dos Milagres ,
Monte Olivete , Norte , Penha de França , Pom
bal , Prazeres , Santa Quiteria , Raro , Ribeira de
Alcantara , Rua nova da Patriarcal , Salitre , Sol,
Traveſía dos cegos , Val de Pereiro.
Freguezias confinantes.
Ajuda , Bemfica , Santa Catharina , Encarnação ,
S. Joſeph , Mercês , Santos , S. Sebaſtiao da Pes
dreira .
XVII .

$ . Juliao .

167
E NeretasIgrejas Paroquiaes deLisboa gor

de huma muito antiga , e honroſa origem ; porque


ſegundo a memoria de alguns eſcritores ( 1) já no
anno de 1200 eſtava erecta em Paroquia , fendo nel
la bautizado o Papa Joao XXI . ou XXII . a quem
chamara ) Pedro Juliao . Nao conſegue menor hon
ra , e gloria em terem ſido aqui purificados com a
agua do Bautiſmo o Veneravel Padre Affonſo de
Caftro , que morreo Martyr nas Molucas , eo Vea
neravel Meftre Joao Vicente , fundador da illuſtriſ
fima Congregação dos Conegos Seculares de S. Joaa
Evangeliſta. (2 )
168 Rcinando ElRey D. Sancho II.dizem que
fora a antiga Igreja ſagrada pelo Biſpo D. Domina
gos Jardo no anno de 1241 , e que ElRey D. Diniz
fizera doação do Padroado della ao Cabido da Sés
Depois quando El Rey D. Manoel mandou edificar
à borda do Tejo o mageitoſo palacio , chamado Pa
ços da Ribeira , como exiſtente dentro dos limites
deſta Paroquia , a honrou com tanta eſpecialidade ,
Рp ii que

[ ] Agiolog. Lufit. tom . 3. p. 324. Monarq . Lufit. liv. 78. cap:43


da impreilio acereſcentada: [ 2 ] Idem Agiol. tom . 1 , no 1, de Janeiro .
Santa Maria no Ceo Aberto liy. 3. cap. 1;
300 Mappa de Portugal.

que nao ſó a mandou generoſamente reedificar , ( i )


mas ordenou , que quando foſſe preciſo aos enfer.
mos do Paço receber os Sacramentos , ſe adminiſ
traffe tudo deſta Freguezia , nað obftante haver Sa
crario na Capella Real de S. Thomé ; e para falvar
os privilegios do ſeu Capellaó mór , e poder livre
mente exercer eltas funções dentro de Palacio o
Prior de S. Juliao , lhe fez mercê de o condecorar
com o titulo de Capellao Regio . ( 2 )
169 Continuaraó os Auguftiffimos Reys Portu
guezes em promover o culto deſta Igreja de tal fór
ma , que ElRey D. Sebaftiao por ſeu Embaixador
Lourenço Pires de Tavora , alcançou do Papa Pio
IV . em 20 de Outubro de 1560 hum Breve , para
que a Confraria do Santiſſimo deſta Freguezia ſe an
nexaſſe à que exiſtia em Roma na Igreja do Con
vento da Minerva , e lograffe os meſmos privilegios ,
e indulgencias , que fað muitas , e.podeſſe commu
nicallas a outras Confrarias de Portugal, e ſuas Con
quiſtas, logrando por eſte reſpeito o titulo de Ara
chi- Confraria .
170 Nao ſatisfeita a devoçao deſte Soberano
Monarca , para mayor culto do Santiſſimo Sacra
mento deita Paroquia , lhe fez a mercê de vinte ar
robas de cera de quatro em quatro annos '; e eſta
grandioſa eſmola , que ſe havia extincto com a in
troducçao dos Reys Filippes , renovou o feliciſſimo
Rey D. Joab IV . , querendo juntamente ſer admit
tido por Confrade com o Principe D. Theodoſio ,
que no anno de 1644 , foy eleito Juiz da ſobredia
ta Archi-Confraria , ficando deſde entaó por eftylo
elegerſe para Juiz perpetuo della huma das Peſtoas
Reaes , as quaes coſtumava ) mandar pagar todos os
annos a eſta Paroquia oito mil reis pelas conhecen
ças , a que erao obrigados como ſeus Paroquianos ,
as

[ 1 ] Goes Chron. de ElRey D. Manoel part. 4. cap.85. Mariz Dia


log. 4. cap.19. [ 2 ] Almeid. nas Notas ao Codex Titulor, S.L. E, tom is
aum , 4. pag. 2 :
Da Cidade de Lisboa . 301

as peſſoas que vivia) no Paço ; cujo pagamento por


ſupplica do Prior , e Beneficiados , mandou o Se
nhor Rey D. Pedro II. por Decreto de 18 de Julho
de 1679, que ſe pagaffe na folha da Ucharia , co
mo de facto ſe pagava.
171' Conſtituida porém a Capella Real em Pa.
roquia propria de toda a Regia familia , por Breve
de Clemente XI , de 24 de Agoſto de 1709 , e eri
gindo - ſe nella huma nova Confraria do Santiſſimo
Sacramento , mandou ElRey D. Joao V. por De
creto de 27 de Março de 1710 , que as vinte arro
bas de cera , que ſe coftumavao dar à Irmandade do
Santiſlimo da Freguezia de S. Juliao , ' ficaſlem ap
plicadas para a Irmandade do Sanciſlimo da ſua Real
Capella ; retribuindo todavia. a falta defta mercê
com huma vantajoſa eſmola .
172 Confta etta Paroquia de hum Prior , que o
Eminentiflimo Patriarca apreſenta , cujo rendimen
to de frutos certos , e incertos importava cada an
no , pouco mais ou menos , em ſeiſcentos mil reis:
Tem feis Beneficiados de alternativa com o Pontifi
ce , e Prelado , e com obrigaçaõ de Coro de manhã ,
e tarde ; rende cada hum cento e cincoenta mil reis .
Tem mais dous Curas , que apreſenta o Prior , e
dous Theſoureiros , hum da Igreja com rendimento
pingue , e outro da Irmandade do Santiſſimo , que
ella apretenta , e juntamente he ſeu Capella ) .
1
173. A Archi-Gonfraria do Santiflimo fos opu
lenta, e ſe prezava de ter o movel mais precioſo , e
de ricos ornamentos para o culto Divino. ( 1 ) Pro
via , e adminiftrava vinte e tres Capellas de varios :
Inftituidores , a ſaber : tres de oitenta mil reis , qua
tro

[ ! ] Macedo nas Flores de Heſpanha cap. 9. excel . 9. Veja -ſe a Rela- s


çað da folemne Prociſſaó do Corpo de Deos , que eſta I mandade fez a .
2 de Setembro de 1982 , e ſe imprimio novamente naOfficina de Jo
ſeph Antonio da Silva no anno de 1731, e Jorge Cardoſo no Agiol '.
Lufit. tom . 3. P. 324. , que como filho deſta Paroquia eſcreve muitas ,
grandezas della .
302 Mappa de Portugal.

tro de rellenta , oito de cincoenta , duas de quarena


ta e ſeis , duas de quarenta , huma de trinta . Mais
duas Capellas de Miſſa quotidiana , que a meſma Irá
mandade inftituio com cincoenta mil reis cada hu
ma pelas almas dos ſeus Irmãos , e com Breve de
Benedicto XIV . para que os Altares deſta Igreja ,
onde as ditas Miſſas ſe differem , foſſem privilegia
dos pro interim . Inftituio neſta Igreja a Madre Soror
Maria Tereſa de S. Lourenço huma Capella , para
depois de ſua morte ſer adminiſtrada por eſta Ir•
mandade, com a eſmola de mil e duzentos reis cada
Mila.
174 Havia huma Sacriſtia da Irmandade do San
tiflimo , por cima da qual eſtava a caſa do Deſpa
cho , e outra em que ſe guardavað os ornamentos.
Tambem tinha dous Carneiros , ou Jazigos , para
depoſito dos defuntos , hum antigo nos degráos da
Capella mór , outro à porca da Igreja. No Altar
mór eftavao as Imagens de S. Julia) , e de Santa Ba
filiza , de cuja Irmandade he Juiz perpetuo'o Mar
quez de Abrantes. Ettavao mais outras duas Ima
gens de S. Pedro , e S. Paulo , que mandou fazer a
Irmandade dos Clerigos , que aqui eſtabelecerað o
Prior , e Beneficiados no anno de 1652 .
175. Das Capellas , que eſtavao da parte do E.
vangelho , era a primeira a dos Alemães com o ti.
tulo de S. Bartholomeu , quc tinha na Igreja a ſeti
ma parte , por ſer no principio Ermida de Santa
Barbara , cuja Imagem conſervavao no meſmo Ale
tar , que era dos Bombardeiros , e por concederem
eſtabelecerſe nella Freguezia , ficaraó conſervando a
dica fetima parte com grandes privilegios . Tinha
Sacriftia por baixo da Capella , e ſua porta , que era
a traveſſa da Igreja . Apreſentava cinco Capellães ,
o primeiro com obrigaçao de ſer Confeſſor , e lhe
rendia cem mil reis , e a cada hum dos quatro cin
coenta mil reis .
176 A ſegunda Capella era de S. Sebaftiao , que
cfta.
Da Cidade de Lisboa.
303
eſtava abaixo da porta traveſla , e ainda entrava na
Jita ſetima parte , e com Irmandade , que cra dos
Sapateiros de vaca , de que ſempre o Juiz havia de
ſer Alemaó . A terceira Capella era do Senhor Jeſus
Crucificado , Imagem vencravel , tinha Sacriftia
propria com Irmandade dos Mercadores , Sirguei
ros , e Veſtimenteiros , e ſeu Capellao , a quem da
vað refſenta mil reis .
177 Da parte da Epiftola eſtava a Capella de
Noſſa Senhora das Candeas e por cftar unida , e
incorporada ao Cabido de S. Joao Lateranenſe em
Roma , gozava dos ſeus privilegios. A ſua Irman
dade era dos Alfayates de medida , com dous Ca.
pellaes perpetuos de cincoenta mil reis . Seguia -ſe a
Capella de Santa Catharina dos Alfayates da Calce
taria com ſeu Capella) : a de Santa Anna , dos Ta
noeiros : a de Santo Eloy , dos Ourives do ouro ,
com ſeu Capella ) de ſeſſenta mil reis , e pelas Miſa
fas de Natal lhe davao huma moeda de ouro : a de
1 Santiago , que he dos Sombreireiros , com ſeu Ca
! pellao ; e todas eſtas Capellas com privilegio Real ,
para que nao poſla nenhum dos officios , que lhes
pertence , entrar na caſa dos Vinte quatro , ſem pri
meiro terem fervido eſtas Irmandades . A das Almas
apreſentava trinta e quatro Capellas , cujo rendi
mento , que era de cincoenta mil reis cada huma ,
fahia todo das eſmolas , que ſe pedia com a bacia .
A de Santo Antonio com ſeu Capellaó de cincoen
ta mil reis.
178 Acontecendo em o primeiro de Novembro
o tragico infortunio do terremoto , ſe arruinou a
Igreja , e veyo toda ao chao , perecendo em ſuas
ruinas algumas peffoas , e entre ellas alguns Miniſ:
tros Ecclefiafticos da meſma Igreja , cauſando fim
nao menos laſtimolo o incendio fucceſſivo ; porque
reduzio a cinzas toda a opulencia defte famoſo Tem .
plo , eſcapando unicamente do fogo , poſto que deo
baixo do entulho , a caſa do Deſpacho da Irmanda
de.
1

304 Mappå de Portugal


de de Nofa Senhora das Candeas , e a fabrica , e
Capella da Confraria de Santo Antonio . Nefta ur
gencia , e deſamparo tomou o Paroco a providente
reſoluçaõ de mandar erigir no terreiro do Paço hu
ma barraca de madeira , onde permaneceo exercitan
do as funções Paroquiaes até 8 de Janeiro de 1758 ,
em cujo dia ſe transferio para o antigo ſitio da Igre
ja , dentro de cujo ambito ſe edificou outra de fron
tal muito decente , que conſta de cinco Alcares , pa
ra a qual concorrerað , Prior , Beneficiados , e al
guns devotos com ſuas eſmolas ampliſſimas.
179 Dentro dos limites deſta Freguezia ſe com
prehende o ſeguinte

Convento ,

Noſa Senbora da Boa Hora. De Religioſas Agora


tinhos Deſcalços. Ettá fundado no fundo da rua no
va de : Almada , e no Gtio chamado em outro tempo
as Fangas da farinha. Houvera aqui antigamente
hum pateo de comedias contiguo ao palacio dos Se
nhores de Barbacena , e correndo o anno de 1633 ,
vindo refugiarſe a Lisboa os Religioſos Dominicos
Irlandezes , perſeguidos dos hereges de Inglaterra ,
Luiz de Caſtro do Rio lhes fez mercê daquelle ter
reno para nelle fundarem religioſa habitaçaõ , onde
eſtiverao até o anno de 1658 , no qual ſe paſſarað
para o ſitio do CorpoSanto , onde a Rainha D. Lui
za de Guſmao lhes havia fundado Convento mais
amplo. Devoluca a primeira habitaçao dos Domi
nicos Irlandezes , vierao occupalla os Congregados
do Oratorio de S. Filippe Neri em 16 de Julho de
1668 , e aqui permanecerao até o anno de 1674 ,
em cujo anno , . veſpera da Aſſumpçao da Senhora ,
com ſolemne prociliao ſe mudarao para a Igreja do
Eſpirito Santo chamado da Pedreira , que fica na
meſma rua hum pouco mais acima . Até que final
mente os Religiosos Agoſtinhos Deſcalços vieraő a
fer

)
Da Cidade de Lisboa. 305

ſer os ultimoshabitadores deſta Caſa , da qual toma -


raó poflc no meſmo a nno de 1674 por mercê da
Rainha D. Luiza , e conſentimento do Viſconde de
Barbacena Jorge Furra do de Mendoca , primeiro
Padroeiro deſte Convento . ( 1 ) Com o terremoto ,
e incendio ficou totalmente deſtruido , e os ſeus Re
ligioſos pafara ) para huma barraca de madeira , que
a providencia do ſeu Vigario Geral foz erigir no li
tio de Belem . Preſentemente ſe achao alguns Reli
gioſos occupando o antigo ſitio ', e da portaria do
carro fizera ) Igreja onde rczaó .

Ermida:

Senbora da Oliveira . Eſtava no adro deſta


Igreja Paroquial , e a mandarao fazer Pedro Eftes
ves , e ſua mulher Clara Giraldes naturaes de Gui
marães. (2) Paſſou ao dominio dos Lavapeixes da
ribeira , osquaes , como pobres , nað podendo reedifi
car a Ermida , que ſe havia arruinado , renunciaraó
todo o dominio , e poſſe della no Prior , e Benefi
e eſtes depois no anno de 1646
ciados de S. Juliao ;
venderað o chao da Ermida aos Confeiteiros por ſe
tenta mil reis , para a recdificarem como fizerao
e com o direito de poderem apreſentar Capellao , o
qual preſidiria em todas as funções , que fe fizeſſem
na dita Ermida , lem que a Igreja o encontraſſe em
couſa alguma ; para o que ſe obrigaraó os Confeia
teiros a darlhe como foro , ou cenſo cada anno feis
mil reis ; e das feſtas , que pertencem à Caſa , ſen
do com Veſperas, mil e duzentos reis , e ſendo ſó
Miffa , ſeis toſtões , entrando o Capellaó igualmente
com o dito Prior , e Beneficiados em todas as offer
tas das feſtas, que pertencem à dita Ermida . A alta
Tom.III . Part.V. Qa ders

[ 1 ] Santuar. Marian. tom . 1. p . 226. , etom . 7 p. 131. [ 2 ] Coro


graf. Portug. tom. 1. p. 86. Santuar, Marian, tom . 1. p.57: tom. 7 .
p . 148 .
306 Mappa de Portugal.
deſtruio , edesfez o incendio totalmente , perecen
do nella o ſeu Capellaó mór .
180 Conſtava eſta Freguezia antes do terremo
to de mil e leiſcentos fogos , e de peſſoas de com
munhao ſete mil e dezaſeis . Preſentemente numera
em varias partes da Cidade abarracadas sail ſerecen
tas , e dezanove peſſoas. As ruas , de que ſe compu
nha eſta Freguezia , poſto que ſe acha todas con
fuſas, e deftruidas , e nao para ſe ver , mas ſim pa
ra ſe chorar , crao as ſeguintes

. Ruas.

Adro da Igreja , Arco dos Barretes , Arco dos


Prégos , Baluarte , Bocanegra , Calçada de S. Fran
ciſco , ( 1 ) Calcetaria , Canal de Flandes , Confei
taria , ( 2) Corrilho , Crucifixo , Efteiras , Fangas
da Farinha , Ferraria , Fórnos , Louceiras , Mani
lhas , Mercadores , Ourives , Painel do Anjo , Pare
seirinha do Eſpirito Santo Parreirinha detraz da
Igreja , Palladico , Paſſarinhos , Porta traveſſa , Rua
nova do Almada , Rua nova dos Ferros , ( 3 ) Salva
geos , Tronco , Varandas do terreiro do Paço.

Be

[ 1 ] Efta Calçada ſe começou a reedificar por noyo , è nobre dele


nho em Março de 1754 , fundando -ſe de pedraria lavrada , e elevan
do-ſe deſde a boca da Calcetaria nivelada com a eſquina da Capella mór
da Patriarcal até o palacio , que foy do Conde da Ribeira aosMartyres .
O grande terremoto arruinou , e deftruio tudo antes de ſe concluir .
[2] Neſta rua exiſtia hum famoſo Nicho por modo de Oratorio, em
que eſtava collocada a Imagem de Maria Santiſſima com o titulo da
Oliveira , que floreceo em muitos milagres , mas o incendio conſu
mio tudo de forma , que ſe lhe naó diviſao os veſtigios da ſitua ..
gaó , conſervando -ſe todavia ainda a Imagein da Senhora em huma
barraca no terreiro do Paço por pia actividade de alguns devotos.
[ 3 ] Por baixo da Ermida de Noſſa Senhora da Oliveira , eſtava hum
chafariz com grande tanque , a que chamavaó dos Cavallos , por cau .
fa de dous, que alli havia debronze, como diz Duarte Nunes Chron .
de ElRey D. Fernando , pag . 205. Está rua , que era taó populo
fa , fe yo deſerta , e já confula , e extincta com o novo Plano da Cis
dade,
Da Cidade de Lisboa . 307

Becos.

Alemo , Gaſpar das náos , Jardim , Joao de Deos ,


Lages , Loureiro , Vidro .
Traveſas.
Da rua das Efteiras , da rua dos Ourives , do Tronco.
181. Com as Reaes obras delde o anno de 1714
fe havia ſupprimido muita parte deſta Freguczia,
extinguindoſe - lhe as ruas do arco do Ouro , Tanoa
ria , Largo da Patriarcal, Trabuqueta , Calçada an
tiga de S. Franciſco , Beco das Cruzes , Torrinha ,
e outras ; porém o fatal incendio de 1755 a fez re
duzir à ultima decadencia vendo - ſe deftituida de
Templo , de calas , de ruas , e de freguezes.
Freguezias confinantes.
Conceiçao , Magdalena , Martyres , S. Nicolaoi

XVIII .

Santa Juſta , e Rufina.

182 Uma das tres Freguerias primitivas ,que


formou , e inſtituio neſta Cidade o Bir
po D. Gilberto , logo que o inclyto D. Affonſo
Henriques a conquiſtou aos Mouros , foy a de San
ta Juſta ; ( I ) e ſegundo contta das noflas Hiſtorias
( 2) correndo o anno de 1173 , a primeira Igreja , pa
ra, onde foy conduzido o Sagrado corpo do invicto
Martyr S. Vicente , affim que chegou do Promon
eſta
torio Sacro do Algarve a eſte porto , foy para
de Santa Juſta , ( 3 ) para cuja lembrança permane
cia
Qq ii

[ 1 ] Cunha nos Biſp. deLisb part. 2. cap.2 .[2] Monarquia Luſit.


liv. I I. cap . 23. Galv. Chron . de ElRey D. Affonſ. Heariq. cap . 44
[3 ] He fama , que naquella occafiao vierað deſembarcar com a lagra
da Reliquia a eſta Igreja, onde chegava o mar com braço navegavels,
mas niſto parece nao convir de boa vontade o noſſo Chroniſta Fr. An.
tonio Brandao no lugar acima allegado; onde diz , que no valle, que
ficava entre o Caſtello , e a Igreja dosMartyres , houverg
a randes eſcar
efti
ramuças na tomada de Lisboa, o que nao podia fer , fe o terreno
velle cuberto de aguas .
308 Mappa de Portugal.

cia na porta principal da Igreja hum Nicho de peo


dra da parte do Evengelho com a Imagem do San
to . ( 1 )
183 Com deſconfiança ſe deve trazer à memo .
ria neſte lugar a eſpecial noticia , que nos offerece
Fr. Apollinario da Conceiçao na Demonſtraçaõ Hif
torica num . 204. , copiada de hum livro m . f. intitu
lado Antiguidades de Lisboa , compoſto por Antonio
Coelho Gaſco , o qual affirma , que naquelle tempo
o Deao da Sé chamado Roberto , com beneplacito
dos mais Conegos deſannexaraó de ſi huma Coneſia
para a darem a D. Moniz , que entao era o Prior
deſta Paroquia , cm gratificaçao de lhes naó querer
embaraçar a transferencia do veneravel Corpo de S.
Vicente para a Metropoli ; e que eſtando os Prio
res de Santa Juſta na poſle deſte decoroſo predica
mento mais de cento e oitenta annos , ſe levantara o
Cabido com a Coneſia , deſmembrando - a da pro
mefra , e direito antigo dos Priores conftituindo - a
Doutoral ; porém com tanta infelicidade , que os
Conegos nella providos dalli por diante morriso ſem
duvida de algum deſaſtre o que ſe obſervou em
muitos caſos fucceflivos até o ano de 1609 , inter
pretando tað infeliz derrota a ſer caftigo do Santo ;
como querendo fe conſervaffe neſta Paroquia a me
moria do ſeu primeiro depofico , com a diſtincta
honra do ſeu Prior. Mas como eſta noticia he fun .
dada no folitario teſtemunho de hum ſó Author , e
com algumas circunſtancias, que debilitaó o feu cre
dito , por iſſo dizemos , que ſe deve ler com deſcon
fiança .
184 Tem o Paroco deſta Igreja predicamento
de Prior , e nao de Vigario , que em Juizo conten
cioſo

( [ 1 ] Tandem adplicuiffe ( falla Reſende do corpo de S. Vicente ) oli,


Japoni, juxta fanum Divarum Jufte, doo. Rufina , quo loci porta IIrbis
* etiam nunc eft San &ti Vincentii adpellata. Eo enim uſque mare tunc erat ;
quod paulatim poftea propulfum amplianda Urbi locum reliquit. Belenz
de in epift, ad Kebedum pag. 164;
Da Cidade de Lisboa . 309

cioſo obteve por fentença no anno de 1752 o Prior


Alexandre Ferreira Freire contra os Beneficiados.
He Igreja de concurſo , e do Padroado Eccleſiafli
co , potto que antigamente foy do Padroado Real ,
que ElRey D. Diniz: transferio no anno de 1305.aos
Religioſos de S. Vicente de Fóra . ( 1 ) Eſtima- ſe o
feu rendimento em ſeiſcentos mil reis , e ha na Igre
0 ja oito Beneficios de duzentos mil reis cada hum ;
ſeis do quaes faõ do Padroado Ecclefiaftico com al .
ternativa com o Papa , dous do Padroado Real , por
ſe lhe annexarem no anno de 1550 os frutos de hu.
ma Commenda , e ſe unirem påra repartir pro rata
entre os Beneficiados toda a maça da terça benefi
cial , ficando das duas , que reſtao , huma para a
Coroa ,. e outra para a Mitra ..
185 Das Irmandades aqui eſtabelecidas , he an
tiquiſſima , c.exemplar a dos Clerigos chamados Ri
cos , nav ſó pelos muitos bens eſpirituaes de que
goza ; mas pelos muitos fóros , . e propriedades de
que foy, poſſuidora com o titulo da Santiſfima Trin ,
dade , à qual deu principio no anno de 1247 o Pa
dre Pedro Domingues eſtabelecendo - a na Sé. De
1 pois paſſou para a Paroquial de Santiago , e dahi pa
ra a da Magdalena donde veyo para Santa Juſta.
í
Aflim conſta do Prologo do ſeu Compromiffo ap
provado pelo Arcebiſpo D. Miguel de Caſtro a is
de Fevereiro de 1993. O Senhor Patriarca D. Tho
maz de Almeida confirmou o Additamento de va
rios Capitulos em 14 de Setembro de 1731 .
186 A Irmandade do Santiſſimo era muito rica ,
e copioſa. Della era Juiz perpetuo o Duque de Cac .
daval. Conſtava de outras Irmandades , como'a das
Almas , com quinze Capellães de cincoenta mil reis
cada hum , de Santa Juita , que he dos Oleiros , de
S. Marçal dos Paſteleiros , de Santa Cicilia dos Mu
ficos , e outras Confrarias, que todas faziao ſuas fer
tas com eſplendor. 187 Re

D ] Monarquia Lufitan, liv. 18. cap. 21 ,


310 Mappa de Portugal.

187 Reliftio fortemente efte Templo aos vio


lentos abalos do terremoto , de forma que nelle fe
cantou Miſſa conventual , e houve Sermaó no mer
mo dia de todos os Santos , e aſſim permaneceo er
tavel até à noite ; mas vendo o Prior no dia ſeguin
te ; que o incendio já implacavel acommetia por
quatro partes atrevidamente a Igreja , deu ordem
primeiro que tudo a pôr em ſalvo ó Santiſſimo Sa
cramento , e pegando nos dous vaſos fagrados , que
eſtavaõ no Sacrario , hum da ſua Paroquia , e o ou .
tro da de S. Nicolao , que alli fei havia recolhido já
pela ruina do ſeu Templo , ſe encaminhou proceſ
ſionalmente para a viſinha praça do Rocio .
188 Era eſpectaculo verdadeiramente laſtimoſo
vêr o enleyo , ' a confufa6 , e a ancia com que ho
mens , e mulheres vinhaó por fugir do fogo, e das
ruinas buſcar atropeladamente o valhacouco daquel
la Praça'; porém o que mais fazia mover a lagrimas,
era verſe huma piedoſa comitiva de peſſoas devotas
atraz do Sacramento , as quaes nað ſe lembrando de
ſalvarem as proprias alfayas das ſuas caſas , tomaraó
zeloſamente a ſeu cargo , livrarem ſobre ſeus hom
bros os ornamentos , e Imagens facras deſta Igreja ,
para que nao experimentaſſem o deſacato ſacrilego
de tamanho incendio .
189 Com prompta diligencia ſe erigio na dita
Praça hum tabernaculo , ou barraca , aindaque hu
milde , decente , defronte da Igreja do Hoſpital ,
em que ſe collocarao as ſagradas pyxides , e daqui
ſe deu o Viatico a innumeravel copia de Catholicos
feridos perigoſamente nas ruinas , que deſde o ter
reiro do Paço , e Ribeira , e mais partes eraõ con
duzidos por caridade à quelle cheatro tragico do Ro
cio. Aproveitaraó -ſe do meſmo tabernaculo para re
colherem nelle o Santiſſimo da Igreja do Hoſpital
Real , e do Holpicio , ou Enfermaria dos Religio
fos Arrabidos alli exiftente.

190 Dous mezes c meyo eſteve a Freguezia cm


bar
Da Cidade de Lisboa ,
311
barraca na ſobredita Praça , adminiſtrando -ſe nella
os Sacramentos , e fazendo - ſe todas as funções Paro
quiaes ; porém creſcendo a innundaçao das agoas do
inverno , ſe transferio o Sacramento para a Ermida
de S. Camillo , fita no palacio , que foy do Mar
quez de Caſcaes ao Borrarem , onde eſteve até ver
pera de Ramos do anno de 1757 , em cujo dia fe
mudou para a ſua antiga Igreja, dentro da qual ſe
fez huma accommodaçaó , que cuſtou mais de cin
co mil cruzados onde exiitio algum tempo , até
que ſe mandou deitar a baixo por cauſa do novo
Plano da Cidade.
191 No ambito deſta Paroquia ſe comprehen
dem os Templos ſeguintes.

Gonvento

S. Domingos. De Religioſos da Ordem dos Préga


dores. Foy primeiramente fundado por ElRey D.
Sancho 11. , o qual em Outubro de 1241 , lançou a
primeira pedra nos aliceffes. Depois no anno de 1249
lhe mandou fazer a Igreja ElRey D. Affonio III ,
e o dormitorio ElRey D. Manoel. A mayor parte
do Convento foy fabricado pela induſtria dos Prio
res delle , que ajudados de peſſoas particulares
devotas, forao mudando , e melhorando conforme a
neceſſidade dos tempos , e cabedal , com que ſe
achava ) . Aflim vimos no anno de 1724 , que por
actividade do Provincial Fr. Antonio do Sacramen
to ſe reduzio ao moderno todo o corpo da Igreja an
tiga , emmendando - ſe a deſigualdade das Capellas ,
pois as que ficavaõ cm a nave da parte do Evange
Iho , eraõ fundas , e eſcuras , e as da parte da Epiſto
la eitavao quaſi todas à face da parede , e com def
igualdade humas mais altas do que outras. Ultiwa
mente no anno de 1748 ſe fabricou a Capella mór
de excellente pedraria lavrada pelo deſenho , e rif
co do inſigne Joao Federico Ludovici , e conclui
da.
312 Mappa de Portugal.

da pelo celebre Belino de Padua , cuja obra cuſtou


mais de cem mil cruzados , para a qual havia con
corrido a generoſa piedade de ElRey D. Joao V. ,
com a eſmola de vinte e dous mil cruzados , além
de outros adjutorios preciſos , que mandou fazer
promptos dos ſeus Armazens Reaes.
192 Todo elte fagrado edificio padeceo muito
com o grande terremoto , pois ao primeiro impulſo
delle cahio o oculo do frontiſpicio da Igreja , que
macou baftante numero de gente , que vinha fugin
do para o adro . Cahio logo a tribuna da Capella da
Senhora do Roſario , e a de S. Domingos , a corre
do lino , fazendo precipicar tudo que achou por di
ante ; grandes porções das paredes dos dormitorios ,
e Capella do Noviciado , e da grande caſa da Li
vraria , e parte das paredes do dormitorio de cima ,
que olhava para o Rocio .
193 Nefte deploravel eſtado poz o terremoto
ao Convento , mas pegando no meſmo dia o fogo
de huma véla , que eſtava na tribuna da Capella da
Senhora da Defenſao , em huma cortina , daqui ſe
communicou o incendio à meſma tribuna , Igreja ,
e Convento , fazendo em cinzas tudo , que nao ef
tava debaixo de abobedas ; eſcapando fomente do
fogo o Noviciado , e o dormitorio junto a elle ; fena
do que eſte ficou tað arruinado com o terremoto ,
que foy preciſo fazer novos arcos na horta , e no
vas paredes, aſlim da parte do Hoſpital ,, como da
parte do Norte.
194 Conſumio o fogo na : Igreja codas as fagra
das Imagens ; fendo entre ellas de perda fenfivel a do
Senhor JeſusCrucificado , muito antiga , e de grande
veneraçao , a da Senhora do Roſario , e a formofif
fima das Virtudes ; falvaraó - ſe porém com grande
trabalho os cofres , em que eſtava o Santiſſimo Sa
cramento na Capella mór , que ficou illeza , e na
do Senhor do's Pallos ; eo Relicario , que com o
Sacramento envolto em hum Corporal estava em
cony
Da Cidade de Lisboa. 313
0 continuo lauſperene no lado da fobeçdica Imagem do
Senhor Jeſus.
1 IOS Com a meſma fatalidade fe abrazarao no Co
ro junto à Capella mór os excellentes quadros , com
que ſe ornavaó as paredes , e erao todos do punho
do noſſo inſigne Bento Coelho : todos os livros, que
0 ſervia) nelle dia no Coro , que erao de estampa em
pergaminho com huma bem lavrada eſtante de páo
ſanto , que tinha ſido da BaGlica de Santa Maria ,
ſendo ainda Cathedral . Queimaraó -ſe outros origi
1 naes de admiraveis pinturas, hum precioſo ornamen
to de vcludo bordado de ouro alto com as armas do
Santo .Officio , que ſervia para a feſta de ș . Pedro
Martyr , toda a armaçao da Igreja , que era de da
maſco carmefim com galões de ouro , huma eſtante
grande de prata , que ſervia no Coro nas feſtas mais
ſolemnes , e havia cultado dez mil cruzados , hum
throno mageftoſo de prata , que tinha quatro mil
marcos lavrada, e affentada em xaraó , para nelle ſe
expor em Quinta feira Santa o Santiflimo Sacramen
to em hum grande cofre de prata , que tinha dado
o Eminencillimo Cardeal da Cunha , todos os para
mentos ricos.da Irmandade dos Paſſos , que ſerviao
na ſua Prociſfaó , todas as alampadas de prata da
Igreja , que eraõ vinte , e entre eitas duas da Capel
la do Senhor dos Paſſos , que cinhao cuſtado perto
de dez mil cruzados : também devorou o fogo a Er
mida de Noſſa Senhora da Eſcada com todas as ſuas
veneraveis Imagens , a qual eſtava por cima da Igre
ja ſobre a nave da parte do Evangelho.
196 Entre as perdas , e prejuizos, que padeceo
eſte Convento , foy muito penoſo para todos a da
grande copia de livros , que o fogo conſumio , ſem
dcixar hum ſó nas ſuas duas famoſas Bibliothecas ,
Exiſtiaõ eltas no fim do dormitorio de cima , e conſ
tava a mayor de huma tormoſa caſa com ſeis janel
las para o Naſcente , e Poente , e tinha cento e dous
palmos e meyo de comprido , quarenta e ſete e meyo
Tom.III . Part,V. RE de
314 Mappa de Portugal.

de largo , e vinde é oito de altura. Para vencer , o


occupar eſta , corria por cima das primeiras eſtan
tes húma varanda , para onde ſe fubia por huma eſ .
cada occulta metida por entre a parede. Nas eftan .
tes debaixo , que eraõ quarenta e tres , ſe continhao
tres mil oitocentos e quarenta e cinco volumes ; e
nas de cima , que tinha quarenta e ſeis eſtantes , ſe
numeravao cinco mil novecentos e quarenta e tres
livros . Erað todos encadernados em paſta dourada ,
e de todas as faculdades diſtribuidos methodicamen .
te , franqueando- ſe a ſua liçao a todas as peſſoas de
fóra em qualquer hora do dia ; para o que além do
Bibliothecario mór , havia hum Leigo deſtinado à
facultar eſte miniſterio , com ſua tença eſtabelecida
pelo memoravel zelo do Religioſiſſimo Padre Frey
Manoel Guilherme .
197 Na outra caſa da livraria chamada pequena
contigua a eſta , ſe guardavao livros muito raros , e
particulares manuſcritos , e entre eſtes os originaes
dos Commentarios ſobre a fagrada Eſcritura do Pa.
dre Fr. Franciſco Foreiro , e do Padre Fr. Franciſ
co de Bovadilha : o original da Chronica do Padre
Fr. Luiz de Cacegas , que eſcreveo a Hiſtoria da
Provincia de Portugal : o original do Tratado do
Purgatorio do Padre Fr. Manoel Homem : as Por .
tillas do Doutor infeliz Antonio Homem : hum to.
mo de Sermões da propria letra do Veneravel Fr.
Joao de Vaſconcellos : os manuſcritos do Beneficia
do Franciſco Leitað Ferreira , Cura que foy da
Igreja do Loreto , e erao cento e quatro volumes
entre grandes , e pequenos cheyos de muitas noti
cias adquiridas pelo ſeu incanſavel eſtudo ; e outros
muitos mais , que fazia ) o computo de cinco mil e
quinhenlos volumes , os quaes unidos com os da ca
fa grande formavao o numero de quinze mil cento e
oitenta e oito corpos de livros .
198 Seguio a meſma infelicidade a famoſa Boti .
ca deſte Convento , ardendo com toda a ſua fabrica.
A
Da Cidade de Lisboa. 315

A Sacriſtia porém , fuppoſto padecer ſua ruina com


o terremoto , que lhe rachou em varias partes a
abobeda , com tudo o fogo lhe nao entrou dentro ,
ſem embargo de lhe queimar a porta ; porque in
trepidamente a defendeo da voracidade das cham
mas o Irmao converſo Fr. Diogo do Roſario , que
no eſtado ainda de fecular fervia nefte tempo na Sa
3
criſtia , ſalvando le por ſua intrepida actividade to
da a prata , e ricos ornamentos , que eſtavao nella
guardados: expondo-ſe elle a perder a vida entre as
lavaredas , nao fó para ſalvar a Sacriftia , mas para
recolher o frontal rico bordado de ouro , que eſtava
1
no Altar mór , em que já o fogo tinha pegado , e
toda a prata da banqueta do meſmo Altar ; execu
tando tudo com zelo grande , ſem ter quem o aju
daſſe , porque todos ſe havia) retirado do Convento
amedroncados . , "
" AM? !::.
199 Neſte eſtrago falecerað o Padre Preſentado
Fr. Manoel dos Santos excellente Prégador, que ef
tava para prégar naquelle dia , o Padre Fr. Joſeph
de Caſtellobranco , filho dos Condes de Pombeiro ,
eo Padre Fr. Antonio Joſeph Cefar organiſta , hum
official da botica , e dous criados do Convento , fi
cando muitos outros Religioſos mal tratados , e fe
ridos . Parte delles ſe forað
Ingo refugiar para o Con
vento de Santa Joanna , outros para o de S. Domin
gos de Bemfica , c outros para o de Santarem . O
Prior , que entao era Fr. Joao Franco , ficou com
alguns Religioſos no Rocio guardando o cartorio ,
e fepultando mortos no adro .
200 Quando o fogo deu lugar , ſe recolherao
eſtes poucos para o Convento , e pafados dous me
zes começaraó a tirar, o entulho , demolir as pare
des arruinadas , e no dormitorio , que cahc para o
Rocio , fizerað algumas accommodações : e quando
chegou o Triduo das quarenta Horas , em hum lan
ço do clauſtro fizerao Igreja , expozeraó o Santiffi
mo , e tiverao Sermões ; da meſma forte celebrarað
Rr ii OS
316 Mappa de Portugal.

os Officios da Semana Santa', e pela Paſcoa do Eſ


pirito Santo , ſervindo já de Igreja a caſa do Capi
tulo , nelle ſe fez a feſta das Jufticas com aſſiſtencia
do Regedor .
201 Demolindo as paredes do dormitorio de ci
ma , reformaraó os dormitorios de baixo , e o que
cahe para a parte do Hoſpital oeſtenderaõ pelo doré
mitorio , que era do Noviciado . Fizerao da parte
da adega caſa de Bocica com porta para o clauftro.
Fizeraõ huma caſa de livraria , que já tem guarne
cida com baſtantes livros facultativos , e de Hiſto
ria. Serve - lhe de Igreja a caſa do Capitulo , e hum
lanço do clauſtro : a caſa de Profundis de Refeito
rio , o antecoro de Aula de Theologia , e a cala da
portaria de Aula para os Collegiaes Clerigos do Col
legio de Noſſa Senhora da Eſcada ; e finalmente ſe
acha ) com accommodações para noventa Religioſos.

Hoſpicios.

Santo Antonio . De Religioſos Capuchos da Pro


vincia da Piedade , exiſtente no Palacio do Duque
do Cadaval , para a parte do Rocio , em que prin
cipiarañ a reſidir deſde o anno de 1640. Arruinou - ſe
com o terremoto .
S. Camillo de Lelis. De Clerigos Regulares Mi
niftros de enfermos , erecto no anno de 1754 na Er
mida de S. Mattheus , que ficou perdendo eſte ti
tulo com a introducçao dos ditos Religiofos , aos
quaes ſe unirao por Decreto Pontificio , e Regio os
Congregados da Tomina , para ‘alliſtirem a agonizar
os moribundos do Hoſpital Real , occupando para
eſte effeito parte do palacio , que foy do Marquez
de Caſcaes , cujas caſas mandou comprar o Fideliſ.
fimo Rey D. Joſeph I., para ſe incorporarem à en
fermaria , que eſcapou do incendio fuccedido em 10
de Agoſto de 1750 , que abrazou o dito Hoſpital .
Eſta Ermida de S. Mattheus foy titular do Morga
do
Da Cidade de Lisboa. 317
1 do e grande caſa de Monſanto . D. Luiz de Cal

iro ,Senhordella , alcançou do Papa Paulo III. hu


1 ma Bulla paſſada em Roma a 29 de Abril de 1941 ,
pela qual The concedeo faculdade para comprar a
Chriſtovao de Magalhães Eſcrivao da Camera de
Lisboa , hum eſpaçoſo predio , ſituado nas viſinhan
ças do Poço do Borratem , foreiro em vidas à Paro
quial de S. Nicolao , e unillo ao Morgado de ſua
1 caſa , e fazer no dito predio accommodaçao para tres
Capelláes , e vinte Mercieiros , que ſe occupava
na Ermida ſobredica de S. Mattheus . Hoje tudo ve
mos extincto . O terremoto arruinou alguma couſa
a Ermida ; porém eſtá reparado , e melhorado todo
odamno .
N. Senhora da Conceiçaõ . De Religioſos Arrabidos
junto ao Hoſpital Real, fundado no anno de 1542 .

Ermidas.

Noſa Senbora do Amparo. Exiſtia debaixo dos Ar


cos do Rocio , onde havia huma enfermaria para
peſſoas incuraveis , . que a Irmandade da Miſericor
dia adminiftrava . Conſumio tudo o incendio . De
pois por aviſo do Conde de Oeiras de 19 de Junho
de 1759 ſe cortou , e abrio por eſte meyo huma rua
de quarenca palmos de largo até a rua dos Canos ſe
parando o Convento de S. Domingos do Hoſpital
Real .
i Noſa Senhora da Eſcada . Era Igreja antiga , e que
confervava lua memoria deſde o Biſpo D. Gilberto ,
Eftava contigua ao adro do Convento de S. Do,
mingos , e com tribuna Regia para a ſua Igreja .
Tambem o terremoto , e incendio a arruinou , e con
fumio .
Noſa Senhora da Graça. Na chamada Hortinha do
Hoſpital. Padecco a meſma deſgraça.

Hos ;
318 Mapp
a gal
de Portu .

Hoſpital Real.

202 Efte Hoſpital intitulado de todos os San .


tos , foy fundado por ElRey D.Joao II. , que lana
çou a primeira pedra no edificio a is de Mayo de
1492. ElRey D. Manoel o acabou , é alcançou Bre
ve de Alexandre VI . no anno de 1So1 , que come
ça : Ferentes in defideriis cordis noftri , ut hoſpitalia ,
&c . , para incorporar nelle todos os mais Hoſpitaes ,
que ſe achavao diſperſos por differentes partes do
Reino , mandando fabricar juntamente todas as ca
fas , que faziao face para a praça do Rocio deſde a
rua da Biteſga , até o Convento de S. Domingos .
O grandioſo cdificio da Igreja padeceo hum fatal
incendio em 27 de Outubro de 1601 , e em 1o de
Agoſto de 1750 lhe ſuccedeo outro , que o reduzio
totalmente a cinzas ; ficando unicamente da Igreja
a admiravel fachada do ſeu portico , taboleiro , e ef.
cadas , e das enfermarias a de S. Camillo . (1 )
203 Fez - le mais fenſivel esta deſgraça , porque
havia bem pouco tempo , que ſe tinha concluido ina
teiramente a reedificaçao do dito Hoſpital em Tem
plo , enfermarias , e caſas do Rocio com grande dir
pendio , para o qual concorrera nao ſó a incompa
ravel piedade de El Rey D. Joao V., mas a grande
fomma de dinheiro , que ſe lhe applicou da ceſta
mencaria de hum Franciſco Pinheiro , por Bulla de
Benedicto XIV . , e aſſim ſe reduzio todo o Hoſpi
tal à enfermaria de S. Camillo , que para mayor
commodo dos doentes fe alargou para o palacio do
Marquez de Caſcaes.
204 Succedendo porém o eſpantolo incendio no
dia

( 0 ) Tratao do Hoſpital Real Chriſtovao Rodrigues de Oliveira no


feu Summario pag . 60. da impreſſao modern1. F. Nicol de Oliv. aas
Grandez. de Lisboa fol. 118. D. Franciſco de Herrera na Vida do Ven.
Obregon , pag 148. Coſta na Corograf.Port. tom . 3. pag. 395. Ana .
Hiftor.tom . 2. pag 86. Oliveira Freire Defcrips. Corograf. de Portug.
pag. 78.1
Da Cidade de Lisboa.
319
dia de todos os Santos , depois do memoravel terre
moto , experimentou efte Hoſpital a extrema deſ
truiçao . Os enfermos , que eſcaparað , forað trazi.
dos para baixo das cabanas do Rocio > onde eſtive .
raó quaſi tres ſemanas miſeravelmente expoſtos ao
rigor do tempo . Depois ſe paſſaraó para humas co
cheiras do Conde de Caſtello melhor , fronteiras ao
palacio do Conde de Povolide. Hoje achao -ſe reſti
tuidos ao meſmo Hoſpital , por ſe terem nelle feito
muitas enfermarias, por ordem , e deſpeza Real.
205 No territorio deſta Freguezia exiſte o Tri
bunal do Santo Officio nos Paços chamados dos EL
tàos , que mandou fazer o Infante D. Pedro , filho
de ElRey D. Joaó I. , quando governava elte Rei
no , deſtinando.o para ſe apozentarem nelle os Em
baixadores. ( 1 ) Sobre a palavra Eftàos ha varias in .
terpretações. O Padre Fonſeca ( 2 ) diz , que ſe cha
mou eſte palacio dos Eſtàos, por ſerem os ſeus ali
cerſes fundados ſobre eſtacas de pinho , a reſpeito
de ſer o ſolo de area todo inundado de agua. O P.
D. Rafael Bluteau ( 3 ) diz , que ſe deriva da pala
vra fallum , que na baixa latinidade queria dizer: lo
cus ubi quis.ftat ; ou do Francez Eftau , que vale o
meſmo , que corte de açougue , e poderia ſer que
no Rocio houveſſe antigamente açougue no lugar ,
onde ſe fizerað os taes paços. Joſeph Soares da Sila
va ( 4 ) diz , que Eftos ſe deriva da palavra France
za Eftau , que ſignifica huma tenda pequena porta
til , ou fixa , em que ſe moſtraó os generos, que ſe
vendem ; porque no pateo deite Palacio ſe vendiao
como na Capella , varias mercadorias .
206 Nenhum deſtes Authores alcançou a genui
na intelligencia da palavra Eſtàos , a qual parece ,
que ſó ſe entende pelo que ſe lê na Chronica de El
Rey

[1 ] Brand. Monarg. Lufit. liv, 10. cap. 26. Nun Chron . de ElRey D.
Jozól.cap. 101. ( 2 ) Fonſec. Evora Gloriof. n.92. [ 3 ] Blut, no Supe
piem . verb. Eqàos. [4 ] Silva Vida de ElRey D. Joao I..liy, 3 ,.cap : 72 .
Pag. 367 ,
320 Mappa de Portugal.

Rey D. Affonſo V. cap. 8. , compofta por Duarte


Nunes , onde diz : 39 No tempo das Cortes entre
outras liberdades , que o Infante em nome de El
» Rey concedeo ao povo de Lisboa , foy que na
in quella Cidade nao houveſſe apoſentadorias , e que
» , le fizeſſem os Eſtàos no Rocio em que EIRey
, podeſſe alojar a ſua Corte . : . Pelo qual benefi
cio quizerað os Cidadãos ordenar humà eltatua de
,, marmore ao Infante ſobre os meſmos Eftos , que
», elle mandou edificar ; e perguntando ao Infante ,
i com que fórma, e poftura queria , que ſe fabri.
5, caffe , elle com roſto triſton ho lho detendeo , &c .
Confirma- fe ifto com hum Alvará paſſado em Al
meirim a 13 de Outubro de 1449 , que ſe achava
no Cartorio da Sereniſſima Caſa de Bragança no ma
ÇO 94. n . 1. , que nos communicou o Excellentilli
mo Manoel da Maya, e dizia : Nós . ElRey faze
mos ſaber a bos Vereadores , Procurador e hos
» , mens bons da noſſa mui nobre , e mui leal Cida
de de Lisboa , que nas Cortes , que em eſſa Ci
dade fizemos , foi acordado ſegundo ſabees , que
is nos bairros dos Senhores acerca dos paaços que
», em jeſſa Cidade tiveſſem , foſſem feitos Eſtàos ,
» em que os ſeus podeſſem pouſar por ſeus dinheia
g ; ros, e por quanto o Conde de Ourem mei primo
hi tem ſeus paaços como ſabees , -porem vos man
,, damos , que logo mandees fazer os ditos Ellaos
99 no dito ſeu bairro o mais acerca dos ſeus paaços ,
w que bem poderdes em tal guiſa , que os ſeus abal
tadamente em elles poſſao pouzar , & c . Ficou
eſte palacio totalmente arruinado , e deſtruido com
o terremoto , co Tribunal mandou fazer no meyo
do Rocio huma accommodaçao interina de madeira
em quanto ſe reedificava o antigo , que já ſe acha
expedito pelo que toca ſomente ao Tribunal.
207. Conſtava eſta Paroquia antes do terremoto
de mil novecentos e quarenta fogns , e de oito mil
peſſoas de communhao : preſentemente numera duas
mil
Da Cidade de Lisboa. 321

mil novecentas e ſetenta e ſeis peſſoas , diſtribui


das pelas ſeguintes ruas ; das quaes conſumio total
mente o fogo as que vað aqui aſſinaladas com afte
riſcos.
Ruas.
Adro , Albardeiros , Alemos , Arcas * ,Arco de
Joao Correa , Arcos do Rocio , ( 1 ) Balthazar de
Faria , Barroca , Bitcſga * , Borratem , Calçada de
Santa Anna , Carreiros , Corredor * , Creſpa * , Cu
tellaria * Nolla Senhora da Eſcada , Fontainhas ,
Hoſpital Real e de S. Lazaro , ( 2 ) Inquiſiçao ,
Lagar do Cebo * , Magalhães, Mendanha Mer
tre Gonçalo * , Mouraria, Nuno Alvares , Pocinho
d'entre as hortas * , S. Pedro Martyr , Porta nova
Praça da palha * , Valverde * , Vinagres.
Becos.
Alemo > Bonete , Calçada de S. Chriſtovao , D.
Carlos , Comedia * , Craita * , Criſtaleiras * ,, Fari
Tom . III . Part . V. Ss nhas ,

( 1 ) Por baixo deſtes arcos , que eraó vinte e cinco de pedraria com
ſua abobeda , cujo folo parte percencia ao Senado, parte aos Religio
fos Dominicos , e que occupavaó o comprimento do Rocio deſde a
Biteſga até o adro de S. Domingos, exiſtia . quafi duzentas logeas por
tateis por huma , e outra parte, onde ſe vendia panno de linho , chi
tas, colchas, meyas, fitas , rendas , e outros muitos generos de feme ,
Ihance mercadoria , as quaes tendas'recolhiao todas as noites para arg
mazens certos homens de ganhar chamados mariolas , a quiem pagava
cada teadeiro por mez fete toſtóes , huns por outros, e viaba a im.
portar na roda do anno quatrocentos e vinte mil reis. Hoje fizeraő lo
gcas em que ſe venden varios generos. Elava a grande, e eſpaçoſa
praça do Rocio , que tem mais de quatrocentos paſſos de comprido ,
e duzentos de largo, cercada de nobres edificios , e do famoſo Tem
plo do Hoſpital Real com o ornato de hum viſtoſo chafariz : e pour
co antes do fatal terremoto ſe tinha feito nella o primeiro combate de
touros ( ainda que mal preſagiado pelo povo ) a 22 de Julho de 1955 ,
havendo já ſuccedido na meſma praça , e no anno dc 1647 outro ſeme
Jhante feſtejo , como ſe prova da Relaçaó , que imprimio Antonio
Barbofa Bacelar. Hoje porém ſe vê reduzida a hum proſpecto muito
différente. [ 2] Eſta rua , onde exiſte buma Ermida com hum Hoſpi ..
tal , naó e tá nos limites deſta Paroquia , mas ſim no territorio da
Freguezia de Noffa Senhora do Soccorro ; porém ficou pertencendo à
de Santa Juſta pela renda , que o Senado lhe paga,
3:22 Mappa de Portugal.

nhas , Ferro , Forno, Frades * , ( 1) Ligeiro , Me


zes , Pato , Povoas , Regedor , Reſende * , Tarou
са ..
Fregaezias confinantes.
S. Chriſtovao , S. Jofeph , S. Lourenço , S. Ni
colao , Senhora da Pena , Senhora do Soccorro .

XIX .

Noſa Senhora do Loreto .

208 ritorio , pois ſendo eſtabelecida para os .


individuos da naçao Italiana diſperſos , e reſidentes
por toda Lisboa , tranſcende o ſeu exercicio Paro .
quial por hum limite interminavel. Foy erecta a pri
meira Igreja em huma Ermida da invocaçao de San
to Antonio , que os Confrades Italianos ampliara
por conceſlao do Papa Leao X. , e de EIRey D.
Manoel pelos annos de 1517 , annexando - ſe depois
ao Cabido Lateranenſe por breve , que o dito Cabi
do lhe paſiou em 20 de Abril de 1918 , confirmado
pelo meſmo Pontifice Leaố X. , e por Clemente
VII . em 1923 , e ultimamente por Benedicto XIII,
em 6 de Abril de 1726 .
209 A primeira vez que ſe abrio eſta Igreja na
fua primeira edificaçao , foy em 8 de Janeiro de 1922 ,
reinando já EIRcy D. Joao HII . , que lhe concedeo
o uſo da muralha antiga da Cidade junto à qual eltá
edificada fóra das portas , que le chamaó de Santa
Catharina. E no anno de 1973 recorrerað os Italia .
nos a ElRey D. Sebaſtia ) , repreſentando - lhe , que
para a dita Igreja ficar perfeita , conforme a plan
ta , era neceffario derribarſe huma torre , que ſervia
de :

[ 1] Neſte beco exiſtia bum Hoſpicio dos Religioſos de Belem , o


qual devia ſer antigo ; pois Chriſtovao Rodrigues de Oliveira no ſeu
Summario , que imprimio no anno de 1551,faz memoria delle. O
fogo totalmente o convertco em montes de pedrase
Da Cidade de Lisboa.
323
de fortaleza da Cidade , a cujo requerimento defe
rio ElRey como pediao debaixo de certas condi
ções , a que os Italianos ſe obrigaraó por eſcritura
de 24 de Abril de 1977 .
210 Vendo - ſe os Confrades Italianos com a Igre
ja feira , e annexa ao Cabido Lateranenſe , determi
narað inftituilla Paroquia nacional iſenta. Queixou
ſe o Cabido Metropolitano de Lisboa ao Papa Pau
lo III . , o qual commetendo a cauſa ao Tribunal da
Rota , ſentenciou efte , que os tacs Confrades nao
podiaó inſtituir Paroquia no deſtricto da Fregueria
de Noſſa Senhora dos Martyres fem conſentimento
do Cabido de Lisboa , e que os privilegios Lateraa
nenſes nao - lhe podiao valer , ſenao em quanto a gra
ças eſpiricuaes. Paſſados porém cinco annos , movie
do a piedade o Cabido da Cathedral Lisbonenſe
permitrio , que na dita Igreja de Noſſa Senhora do
Loreto ſe erigiffe huma Paroquia , renunciando os
Italianos todos os privilegios preſentes, e futuros ,
que foffem contra a juriſdiçao Ordinaria , de cujo
contrato fe fez hum inſtrumento publico em 2 de
Janeiro de 1551 .
211 Succedeo queimarfe efta Igreja Quarta fei
ra da ſemana de Lazaro cm 29 de Março de 1651
com a perda de mais de quatroceptos mil cruzados,
podendo.ſe apenas falvar o cofre do Santiſimo Sa
cramento , que ſe transferio para a Ermida de Nor
fa Senhora do Alecrim , e a 17 de Abril do dico an
no em dia de Noffa Senhora dos Prazeres ſe come .
çou a deſentulhar a Igreja para a nova reedificaçao ,
cuja obra durou vinte e cinco annos , ficando hum
Templo acabado com todo o aſſeyo , e mageſtade
em fabrica , adorno, e pinturas .
212 Com eſte motivo alcançarao os ditos Ita
3
lianos em Agoito de 1664 hum monitorio do Car
deal Colona Arciprefte da facroſanta Bafilica Late
ranenſe , e Juiz ordinario privativo das ſuas cauſas ,
em que annularaó a mencionada tranſacca , ou com
Ss ii pon
324 Mappa de Portugal.

poſiçao entre o Cabido Metropolitano de Lisboa ,


celles Italianos , por ſer feita fem conſentimento do
Gabido Lateranenſe , ſobre cuja cauſa tinhaó os Ita
lianos obtido já huma ſentença na Legacia em 23 de
Novembro de 1662 , em que ſe julgou extincto o
fobredicto contrato com o incendio , e ruina da mer
ma Igreja , nao paſſando à novamente reedificada a
ſujeiçao , c obrigaçao , que tinha a primeira ao Ca
bido de Lisboa , por força do contrato.
14.213 Mas nao obſtante ifto , conſta que depois
da ſua reedificaçao fora eſta Igreja viſitada pelo Car
deal Arcebiſpo D. Luiz de Souſa em 25 de Agoſto
de 1677 , e ultimamente em 29 de Outubro de 1725
pelo Doutor Manoel Lopes Simões , Miniſtro en
taó da Curia Patriarcal , e depois Biſpo de Portale
gre , conforme a ordem do Eminentiflimo Cardeal
Patriarca D. Thomaz de Almeida ."
214 He adminiſtrada eſta Igreja por hum Pro
vedor, Eſcrivað , Theſoureiro , e mais votantes Ita
lianos, que ſe elegem annualmente na primeira Do
minga de Setembro. Apreſenta a Meſa hum Cura ,
que lhes adminiſtra os Sacramentos em qualquer Pa .
roquia , em que habitem ; e quando morrem , os vay
buſcar para a ſepultura com Eſtola , Cruz , e tum
ba propria da Naçao , ao qual dao ſufficiente orde
nado com caſas junco da Igreja , para morar elle , e
o Thefoureiro ,
215 Ha nalla dezaſeis Capellães com obrigaçao
de Coro , e Miſia quotidiana , dos quaes oito forao
inſtituidos por Franciſco André Carrega , negocian
te Genovez , que falleceo em 6 de Junho de 1676 ,
e eſtabeleceo renda para ſubſiſtencia de quatro eſtu
dantes ſervirem na Sacriſtia :: outros quatro Capel
Jáes inftituio Nicolao Micon , tambem contratador
Genovez ; que falleceo em 22 de Abril de 1675 .
Fora) eſtes dous Italianos os principaes motores da
reedificaçao da Igreja , cujos retratos originaes ſe
conſervavao nas paredes da Sacriſtia , na qual os
cors
Da Cidade de Lisboa . 325

corpos dos ſobreditos eſtao ſepultados.


216 Ceſar Gherli , que falleceo cm 28 de Mara
ço de 1697 , e ſeu irmao Joao Thomaz Gherli , fal
lecido em o primeiro de Janeiro de 1700 , ambos
teftamenteiros dos mencionados reedificadorcs , inf
tituirao mais tres Capellães , e Mathias Thomaz
Gherli , que morreo em 7 deMarço de 1705 inſti
tuio outro , que fazem os dezaſeis Capelláes do Co
ro , os quaes por terem diverſidade nos ordenados,
determinou a Meſa no anno de 1720 , ſendo entao
Provedor Thomaz Caetano Medici , e Theſoureiro
Pedro Franco Olivieri , que cada Capellao do Co
ro tiveſſe de ordenado cem mil reis , je que a hum
delles ſe lhe delle cento e vinte mil reis , com obri
gaçao de enſinar Grammatica aos eſtudantes da Sa
criftia , que tambem augmentarað ao numero de ſe
te com ordenado mais avantajado.
217 Tem elta Igreja mais oito Capellães de Mil
fa quotidiana , e de varios inſtituidoress huma de
oitenta mil reis , que inftituio o Deſembargador
Paulo Joſeph de Andrade ; outra de ſefrenta e quatro
mil reis , inſtituida por Joao André Cambiaro , pe
gociante Genovez . As outras foraó inftituidas , tres
por Antonio da Silva , que falleceo em 20 de De
zembro de 1679 com cincoenta mil reis a cada Ca
pellao , e com varias eſmolas para pobres , e viuvas
honeſtas ; duas que inſtituio ' o Doutor Clemente
Felix de cincoenta mil reis cada huma , e outra de
Mida quotidiana por vivos , e defuntos. Paga mais
a Meſa cem mil reis a hum Organiſta , e a hum Mer
tre de Capella , e Muſicos para Domingos , c dias
Santos differentes ordenados . Reſplandece tambem
aqui huma Irmandade de Clerigos com grande al
ſeyo , e grandeza em todas as ſuas funções.
218 Com o violento accidente do terremoto
proximo paſſado , nao foy eſta Igreja a que experi
mencou ruina conſideravel , ſem embargo de ſerem
grandes os abalos , a que reültio. Cairað ſómente al
gur
326 Mappa de Portugal.

gumas pyramides , e pedras da ſua famoſa torre , e


frontiſpicio ſem prejuizo de peſſoa alguma . Eſta
grande fortaleza animou gente innumeravel a bufa
carem o refugio deſte ſagrado aſylo , onde paſſaraó
o dia , e toda a noite do Sabbado primeiro de No
vembro , até o Domingo ſeguinte em clamores a
Dcos.
219 No
No meyo de tanta conſternaçað , e ſuſtos,
affiftiraó ſempre com eſtremada conſtancia , e valor
o Paroco deita Igreja Joao da Coſta Machado , e o
feu Theſoureiro o Beneficiado Clemente da Fonſe
ca , os quaes depois de fazerem o officio , e obriga
çað de bons Miniftros Eccleſiaſticos , confeſſando ,
é dando a Communbaó a hum grande numero de
peſſoas , vendo que no Domingo de tarde ſe vinha
aproximando o fogo , tiveraó o vigilante acordo de .
pôr em ſalvo os livros da Paroquia, e os vaſos fa
grados do Diviniſſimo Sacramento , que eſtavao nos
Sacrarios deſta Igreja . , dous que lhe pertenciao ,
dous do Convento de Noſſa Senhora da Boa -hora ,
hum da Freguezia do Santiſlimo Sacramento , e ou
tro da Paroquial da Encarnaçao , que todos ſe ci
nhao acolhido à ſombra deſte Templo , pegando o
Padre Cura em quatro , e o Padre Theſoureiro em
dous , com ſobrepelizes , e Eftolas tahirao no Do
mingo quaſi noite , e os forao collocar na Igreja da
Freguezia de Santa Iſabel , que fica mais de dous
mil paſſos diſtante , obrando em tudo quanto cor
reſpondia ao deſempenho do ſeu caracter , e fazen
do deſte modo memoravcl o ſeu eſpirito ', vigilan
cia , e zelo .
220 Porém a felicidade , que concedeo a eſte
lhe na
Templo o impulſo do terremoto , lhe naoo outorgou
o tritte infortunio do incendio '; porque communi
cando - ſe na ſegunda feira 3 de Novembro pelos te
Thados do palacio , que foy do Secretario de Guer
ra Joao Pereira da Cunha Ferraz , e hoje era da mer
ma Igreja , e a ella contiguo , nað fó a abrazou ,
mas
Da Cidade de Lisboa . 327
mas conſumio toda a prata , que nella havia , todas
as alampadas , e eſpecialmente a grande , que eſtava
no cruzeiro , que pezava onze arrobas , os muitos
c ricos ornamentos, os fingulares quadros de bellas
pinturas , que ornavao as Capellas , fazendo o mel
mo incendio eſtalar com a força das ſuas chammas as
primoroſas eſtatuas dos ſagrados Apoftolos , os jaſ
pes , e a pedraria das famofas columnas dos Altares ,
e de toda a Igreja .
221 Vio -ſe todavia, que a violencia do fogo ref
peitara o ſagrado vulto da Senhora do Loreto , ima .
gem de cedro , feita em Italia , a qual eſtando no
Altar mór , cahio para detrás delle , e alli fe preſer
you intacta, participando da meſma fortuna os ve
neraveis offos do Martyr S. Juftino , com outras Re
liquias , que ſe guardavao em huma caixa de madei
ra dourada no concavo do meſmo Altar . Tambem
a ambula dos Santos oleos eſcapou das chammas
queimando -ſe o armario , onde eſtava junto à pia
bautiſmal...
222 O que fez mayor admiraçao foy , commu
nicarſe o incendio à grande caſa do deſpacho da Ir
mandade dos Italianos , e devorar alli muita prata ,
e hum riquiſfimo ornamento inteiro de Ihama bran
ca recamado de ouro , e marizes , que poucos annos
antes ſe havia mandado fabricar a Genova : conſu
mir , e abrazar huma grande porta de angelim da ca
ſa do Cartorio , e thelouro da melma Igreja , e nao
entrar na caſa nem buma pequena faulha , ſalvando
fe prodigioſamente tudo quanto eſtava dentro della
porém calculando - ſe pelo groffo a perda , que o in
cendio caufou a eſta Igreja , ſe reputa em mais de
quinhentos mil cruzados.
223. Como a Sacriftia , e hum grande corredor
chamado Via- Sacra ficaraó ſem damno algum , de
terminarað os Italianos ſe fizeſſe nella a Igreja , e af
fim no vao do Altar , que havia na meſma Sacriftia
ſe abrio huma porta para a rua larga de S. Roque ,
6
328 pa ugal
Map de Port .

e na parede fronteira ſe fez o Altar mór , onde ſe


collocou o Sacrario , e a Imagem da Senhora , e no
concavo os ollos de S. Juſtino Martyr , no Altar
collateral da parte do Evangelho ſe collocou a Ima
gem do Santo Chriſto milagroſo , que ſe venerava
em hum dos pulpitos , é o tinha livrado do incen
dio o Padre Pedro Franciſco Caneva , Capella ) da
meſma Igreja , levando - o para ſua caſa ; no Altar
da parte da Epiftola ſe collocou a Imagem de Santo
Antonio , que tambem livrou hum devoto , levan
do - a ' para a Ermida da quinta do Deſembargador
Joſeph Simões Barboſa , no ſitio de Palma. A en
trada da'Igreja da parte eſquerda no vao de huma
porta ſe poz a pia de bautizar , e ſe fizerab grades
de madeira pintada à roda dos Altares . O corredor ,
ou via- facra , que fica detrás do Altar mór , fe di :
vidio , e na parte , que correſponde immediata ao
meſmo Altar ſe formou Coro , onde rezañ os Padres
Capellães .
224. Principiaraó a celebrarſe os Officios Divi
nos neſta Igreja nova no dia's de Junho de 1750 , e
ſe concinûa a rezar no Coro de manhã , e de tarde
pelos Capelláes , que ſendo antes dezaſeis, fað ago
ra quatorze , porque ſe fufpenderaó duas Capella
nias , por falta dos rendimentos hipothecados em
propriedades , que fe queimara ) , é havendo tam
bem na dita Igreja , como diſemos , oito Capella
nias de Milla quotidiana ſem obrigaçao de Coro ,
pela meſma 'cauſa ſe fuſpenderaõ tres, huma de cem
mil reis e as duas de cincoenta e tres cada huma .
Neſte eſtado ſe acha eſta Igreja , em cuja reedifica
çaõ ſe cuida ' com diligencia.

XX .
Da Cidade de Lisboa. + 329

XX .

S. Lourenço .

225 Memoria mais authentica da antiguida


A de deſta Paroquia , he hum Padrao de
pedra com letras antigas , que ſe acha neſta Igreja ,
do qual confta , que o Biſpo de Lisboa D. Mattheus
na era de 1309 , que correſponde aos annos de Chrif
to 1271 , erguera com ſuas mãosna dita Igreja hum
Altar à honra da Virgem Santa Victoria a rogos de
Vicente Martins Vigario de ElRey , e Alvaro de
Lisboa , que o edificara) . O certo he que deſde o
feu principio até agora, foy eſta Igreja fem contra
diçao alguma do Padroado dos Viſcondes de Villa
Noya da Cerveira , como adminiſtradores do mor
gado dos Nogueiras , e Capella de Santa Anna aqui
inftituida , como ſe pode ver em D. Rodrigo da
Cunha . ( 1 )
226 Rendia o Priorado quatrocentos mil reis , e
cada Beneficiado dos quatro , que aqui ha , e apre
ſenta o meſmo Padroeiro , rende. cem mil reis. As
Capellas , que ha neſta Igreja , tao as teguintes : tres
que apreſenta o os ſobreditos Padroeiros, como ad
miniſtradores do morgado de Santa Anna , e tem de
congrua quarenta mil reis cada. hum . Apreſentað
mais outra , que ſe acha reduzida a cento e noventa
e cinco Miſtas: apreſentavaó mais duas , que ſe achao
reduzidas a huma ló de duzentas e dezaſeis Miffas.
Ha outra Capella de Santa Vitoria , que adminiſtra
va D. Antonio da Silveira de lote de oitenta mil
reis , que nunca ſe fatisfez . Ha outra de Santa Ca
tharina com obrigaçaõ de Coro , que adminiſtra hu
ma D. Iſabel Joſefa, allikente em Tilheiras. Admi
niſtraộ os Priores outra Capella de oitenta mil reis
Tom.III. Part.V. ТЕ com

[ 1 ] Cunha nos Biſpos de Lisboa part. 2 , cap. 929

1
Mappa de Portugal
com obrigaçaõ de Coro . A Irmandade do Santiffimo
provê , e adminiſtra quatro , e a Irmandade das Al
mas tres de cincoenta mil reis cada huma .
227 Padeceo eſta Igreja com o terremoto bal
tantemente , porque ao ſeu abalo cahio o Coro , e
quafi metade do tecto da Igreja deſde a porta prin
cipal, deixando todavia illeza à Capella mór , e nao
perecendo neſta ruina peſſoa alguma. Serenado o
violento fracaſſo , ſe mudou logo o Sacramento pa
ra a Igreja do Menino Deus, e dentro da cerca do
Viſconde de Villa nova da Cerveira ſe erigio hum
Altar , em que ſe celebrarað os Officios Divinos
por alguns dias , em quanto por ordem do dito Vif
conde le reparou , e ornou com muita decencia hu
ma das falas do ſeu palacio , para onde veyo em pro
ciſao o Sacramento , e em que ainda ſe celebrao to
das as funções pertencentes ao culto Divino .
228. Dentro do deftricto deſta Paroquia eſtá

Moſteiro.

Noſa Senhora do Roſario. De Religioſas Dominis


cas. Foy fundado no anno de 1919 por Luiz de Brio
to , e ſua ſegunda mulher D. Joanna de Ataide , ſe
gundo conſta de huma inſcripçao ſepulchral , que
eſtá defronte da porta , e diz :

Aqui jaz o Senhor Luiz de Brito Nogueira , Se


nhor dos morgados de S. Lourenço de Lisboa , e se
nhor dos morgados de Santo Eſtevao em a Cidade de
Béja , o qual Senhor foy tao bom cavalleiro em ſeu
tempo , que o nað houve melhor ; e com elle jaz ſua
mulher D. Joanna de Ataide de Souſa , a qual com
ſeu conſentimento fez eſte Moſteiro , a que deixou
toda ſua fazenda , porque naố tinha filho , nem fi
lha , e elle dito Senhor deixou ſua terça., porque ti
nha filhos de outra mulher , que berdavao ſeus mor
gados. Era 1523
229 Pe .
Da Cidade de Lisboa. 331

229 Pela vehemencia do terremoto memoravel

torre da Igreja
cabio todo o tecto , e ficaraó as paredes
do Coro , da , e de alguns dormitorios com

fùas ruinas, as quaes facilmente ſe podem reparar ;


os muros do Convento da parte do Caſtello cahi
raó mas já ſe achao levantados. As peſſoas , que
morreraó neſte eſtrago , foraó huma Religioſa , hu
*ma ſecular , huma criada , c huma eſcrava. Com o
repentino temor deſte incidente, ſe virao obrigadas
' as Rcligioſas romper a clauſura , e parte dellas forað
como poderao para caſa de ſeus pays e parentes ,
outras ſe recolherað em huma barraca na quinta dos
Religiofos Dominicos a Arroyos. Hoje te achao
reftituidas ao leu Mofteiro mais de trinta e nove Re
ligioſas , além de leculares , e criadas .
230 Numerava eſta Freguezia antes do terre
moto cento e cincoenta fogos , e ſeiſcentas e cinco
enta peſſoas de communhao . Prefentemente conſta
de cento e quarenta e tres fógos, e quatrocentas e
bitenta c duas peffoas , diſtribuidas pelas ſeguintes
Ruas , é Becos.
Rua direita de S. Lourenço , Rua nova das Fari
nhas , Beco das Atafonas , da Cruz ', do Poço do
Borratem , da Rora .
Freguezias confinantes.
Senhora dos Anjos , S. Chriſtovao , Santa Juſta.

XXI .

S. Mamede .

231 Onforme eſcreve D.Rodrigo da Cunha ,


Conf(1 ) parece que ſe eſtabeleceo efta Paro .
quia em tempo do Biſpo D. Fr. Ettevao II . , pois
da vida defte Prelado confta , que achando -ſe em
Avinhaó em 16 de Mayo de 1312 , commetera a
Tt ii Mars

( 1 ) Cunha nos Biſpos de Lisbi part, 2.cap . 84


332 Mappa de Portugal.

Martim Mattheus , e a Pedro de Formaó a inftitui


çaó defta Igreja , que entao ſe fundava ; porém de
huma Eſcritura , que ſe achava no ſeu cartorio , a
qual vio , e examinou :Jorge Cardoſo ( 1 ) le infere ,
que eſta Freguezia já eltava erecta no anno de 1220 ,
em cujo anno inſtituio neſta Igreja Maria Pires ,
mulher de Pedro Martins de Bulbao irmao do noſ
fo gloriofiflimo patricio Santo Antonio , huma Mifa
ſa cantada em ſua vida todas as Sextas feiras a hon
ra da Santa Cruz , por quatro ſoldos de eſmola . Qua-
fi da meſma antiguidade era o nobre ſepulchro de
pedra , em que por tradiçaó conſtante jazia o pay
do Bemaventurado Santo Antonio , a qual ſepultu .
ra eſtava collocada debaixo de hum arco junto aos
degráos do adro deſta Igreja , ſegundo o antigo ufo
daquelles tempos ; e ficou da parte de dentro da Sa
criftia, que aqui ſe fez no anno de IGOS , conforme
ſe lembra o meſmo Jorge Cardoſo .
232 He eſta Igreja do Padroado Real , cujo
Priorado era de lotaçao de duzentos e cincoenta mil
reis , e cada Benificio dos quatro , que ha aqui e
apreſenta o Prior , he de trinta mil reis. Tem fere
Capellanias ; huma do Santiſſimo de ſerenta mil reis$ ;
duas das Almas de cincoenta mil reis ; hunia quc in
tituio a Condeſſa de Valladares de quarenta e oito
mil reis ; outra do Correyo mór de cincoenta mil
reis ; e outra de Joao Ribeiro , inſtituida na Capel
la do Senhor Jelus , com a congrua de trinta mil
reis .

233 Experimentou eſte Templo huma grande


derrota, porque o incendio geral nað ſó a reduzio
a cinzas , mas todas as ſuas alfayas , e livros , que lhe
pertenciao , em cujo fracaſſo morreriaó quarenta
peſſoas pouco mais , ou menos ; fazendo mais de .
ploravel perda a extinçað quaſi total de todas as pro
priedades dos ſeus limites Paroquiaes . Neſte deram
pa

( 1 ) Cardoſ, no Agiol. Lufit. tom . 3: Pag : 675:


Da Cidade de Lisboa. 33.3

paro ſe foy acolher o Paroco à Igreja de S. Chrifto ,


vað , daqui paſſou para a de S , Patricio na calçada
de S. Criſpim , onde exiſte ainda exercendo a ſua
obrigaçad nas poucas ovelhas , que lhe rettarað , era
perando augmento no rebanho , ſegundo a nova di
viſao das Paroquias , que medita o vigilante , e piil
ſimo Prelado .
234 Dentro do territorio deſta Freguezia ſe
comprehende o ſeguinte

Collegio.

S. Patricio . Foy fundado por Antonio Fernandes


Ximenes , que nelle inftituio huma cadeira de Theo
logia Moral , deixando rendas ſufficientes aos Reli
gioſos Carmelitas Deſcalços, para eſte ministerio
porém os Religiofos Jeſuitas lhe comprarað todo o
direito , que a elle tinha ) , e ſe'meteraõ de poſſe no
anno de 1605. Padeceo tambem com o terremoto ,
e incendio , e ſe acha reparado.

" Ermida.

i S. Criſpim , e S. Criſpiniano. Eftá junto das portas


da Alfofa , e he adminiſtrada por huma grande Ir
mandade , que ſe compoem do officio de Capatei
ro . Teye ruina , mas acha- ſe recuperada.
235: Conftaya elta Freguezia antes do terremor
to de trezentos fógos, e mil trezentas e ſerenta peſ
foas de communhao . Preſentemente ſe acha com do
ze fógos , e ſeſſenta Freguezes pouco mais , ou me
nos ; porque os mais que eſcaparaó , forað allistir
para outras Freguezias. As ruas erao as ſeguintes ,
todas pela mayor parte deſtruidas , e desbabitadas ,
n
nað ficando dellas maiseque os nomes , e as ruinas .
r m
...Ruas.
A

ſa , Calçada de S. Criſpim , Cofta , Coſta do Cal


tel .
334 Mappa de Portugal.

tello , Detraz da Igreja , Largo do Correyo , Lari


go do forno , Liſta , Muro do Correyo , Paſſadiço ,
Pedras negras , Rua direita , Sete Cotovelos, Tera
reirinho de Ximenes .
Becos .
Eſmeralda , Namorados .
Freguezias confinantes.
S. Chriſtovao , Santa Maria , Santa Maria Mag
dalena , S. Nicolao .

XXII .

Santa Maria.

236 Eve para fi


( 1 ) que eſta Igreja fora mandada edificar
pelo Imperador Conſtantino , ou por ſua Máy San
ta Elena , perſuadido da antiga conſtrucçao do edi
ficio fabricado interiormente com grande numero
de columnas , e varandas à maneira do inſigne Tem
plo de Santa Sofia em Conftantinopla erecto pelo
meſmo Imperador . Outros creraó , que tinha ſido a
Meſquita mayor dos Mouros, e que E ! Rey D. AF
fonfo Henriques, quando ultimamente lhes ganhou
Lisboa , a mandara purificar pelo Biſpo D. Gilber
to . ( 2 )
237 Porém de eſcrituras authenticas ſe moſtra ,
e de outros teſtemunhos authoritativos , (3 ) que
-aquel

[ 1 ] Leiçao nas Miſcellaneas pag . 56. Convém no meſmo o A. da


Corograf. Port. tom . 3. pag. 342. [ 2 ] Garibai tom.4 . lib. 34 cap. 12 .
Marinho Antiguid. de Lisb . liv.4.cap . 26. De la Clede Hiſtoir. de Pore
tug. tom . 2 liv. 6. p. 102. Cunha nos Biſp.de Lisb. part. 2. cap. 2. n.7 .
[ 3 ] Confta da memoria , que o Meſtre Eſtevab ,Chantre naquelle rem
po de Lisboa , fez da Trasladaçao , e milagres de S. Vicente, a qual fe
vê tranſcripta no tom . 3. da Monarg. Lufit. no Appendice do fim , El
critura 25. , onde fallando de ElRey D. Affonſo I. diz : Gaudet do inſu
per Eccleſiam , quam ipfe ad honorem Dei , des memoriam B. Virginis
Marie conftituit, & dicavit, manuque propria , fumptaque fundatam
Adi .
Da Cidade de Lisbor . 335

aquelle primeiro Monarca Portuguez fabricara eſte


Templo deſde os alicerſes para cabeça, e reſidencia
Metropolitica , dedicando - o ao culto de Maria Sana
tiſſima , onde logo eſtabeleceo , e collocou por Biſa
po a D. Gilberto , e eſte nomeou Conegos , orde
nando - lhes viveſſem em commum ; e em quanto ſe
nao fazia dormitorio junto à clauſtra da meſma Sé ,
Thes aflignou ElRey trinta moradas de caſas na rua ,
que ainda hoje chamavao dos Conegos . ( 1 )
238 Tinhaó já paſſado cento e noventa e ſete
annos , quando no anno de 1344 hum eſpantoſo ter
remoto arruinou a Capella mor , e eſteve em grande
perigo o Templo todo . Acodio logo El Rey D. Af
fonſo IV . ao ſeu remedio , mandando - a reedificar
com magnificencia , e liberalidade, elegendo a para
ſeu depofito , e da Rainha D. Brites Tua mulher
onde jazem em primoroſos mauſoléos ao lado do
Evangelho levantados do pavimento . Jazem mais
com elle a Infanta D. Brites , biſneta dos meſmos
Reys , e filha primogenita de ElRey D. Joað 1. (2 )
239. A Capella mór , que ainda hoje ſe vê , polo
to que taó desfigurada , naó he a meſma que fez
edificar ElRey D. Affonſo IV . , porque abrindo el
ta com hum grande terremoto ſuccedido em 24 de
Agoſto de 1356 , dia de S. Bartholomeu e aug
mentando -lhe depois muito mais perigo , e ruina 2
vio

edificavit, do beneficiis amplioribus, &c. Eta meſma Relaçað verteo


em Portuguez o Arcebiſpo D. Rodrigo da Cunha na 2. parte do Cata
logo dos Biſpos de Lisboa cap.9. Confirma-ſe mais o fobredito com o
livro velho chamado dos Obitos dameſma Sé, que a lega rge Car
doſo no tom . 3. do Agiologio Luſitano p. 674. , eo A. do Santuar.
Marian. tom . 7. pag. 27. , de que çambem faz inemoria Brandao na Mo
narquia Lufit. liv. 10.cap . 30. O meſmo ſegue Paes Viegas nos Princi.
pios de Portugal p. 181. [ 1 ] D.NicolChroo, dos ConcgosRegr.liv.s.
c . 8. Severim deFaria nosDiſc var , Diſcurſ. 4 p. 163. Adverte bem D.
U
Rodrigo da Cunha na Hiſtor. Ecclef. de Lisb.part. 2. cap. 2. n . 3. , que
neſte modo de viver houyera variedade conforme os Prelados , e mui.
tas vezes ſegundo o voto dos meſmos Conegos. [ 2] Cuoha nos Bif
pos de Lisb . part.2. cap. 88. Monarq. LuGt. part . 7. liy. 10. cap.5 ,
a ugal.
336 Mapp de Port

violencia de hum rayo , que ſobre ella cahio , tor


nou outra vez a fer reedificada por ElRey D. Joao
I. , o qual mandou entao collocar aqui os tumulos
dos ditos Reys , que ſegundo dá a entender Ruy de
Pina , ainda nao eſtavað alli até efte anno . ( 1 ) Tem
elles na face , que ſe deixa ainda ver eſculpidos al
guns martyrios do glorioſo S. Vicente , e por cima
tinha huma figura da Fama com buzina na mao , a
qual trombera fora defpojo da batalha do Salado
conforme os verſos , que ſe liao em tarja dourada .

Hec Tuba , quam Mauris Alphonſus nomine quartus,


Abſtulit , ut fama primus in orbe foret.
Dum refonat Regem , partumque à Rege triumphum ,
Alphonfum ad famam ſurgere , voce jubet.
240 correſpondencia deftes tumulos eſtava
Em
da parte da Epiftola o Altar do gloriofo Martyr S.
Vicente noſſo Padroeiro , cujo preciofilimo corpo
trasladado do Promontorio facro do Algarve ao por
to de Lisboa , foy collocado neſta Igreja em 15 de
Setembro de 1173. Com o tempo ſe deſvaneceo a
noticia do lugar poſitivo , até que paſſados annos fe
deſcobrio caſualmente em 13 de Janeiro de 1614 ;
Vendo Arcebiſpo D. Miguel de Caſtro , por cuja
cauſa ſe fizera ) na Sé grandioſas feſtas , que durarað
deſde 14 de Março até 16 de Setembro . ( 2 )
* 241 Conſtituida neſte grande Templo a Cathe
dral de Lisboa pelo Biſpo D. Gilberto no anno de
TISO com a formalidade , e numero de Conegos ,
Prebendas ; e tudo que pertencia ao Coro , forað
fempre os noſſos Soberanos Reys , Pontifices , e Pre
lados nað ſó conſervando , mas exaltando o ſeu cul
to com privilegios , rendas , e dignidades , em cujo
efta

( 1 ) Apud Monarq. Lufit. part. 7. liv.7 c.9 . e liv . 1o . cap 22. n . 3 :


[ 2] Aflim o diz D. Rodrigo da Cunha na Hiſtoria Ecclefiaftica de Liſ
boa part . 2. cap.16. n . 7 .; porém devia outra vez occultarſe o cofre ;
porque paſſados ſetenta e oito annos, no de 1692 ſe deſcobriraó , co
mo vimos na Vida do Arcebiſpo D. Luiz de Souſa pag. 231 ,
Da Cidade de Lisboa.
337
eſtado ſe conſervou até o reinado feliciflimo de El.
Rey D. Joao V., em o qual tempo , achando - ſe ef
ta Cathedral em Sé vacante pela morte do ſeu ulci
mo Arcebiſpo D. Joao de Souſa , ſe dividio o Arce
bilpado em duas Dieceſes por virtude da Bulla Au
rea de Clemente XI . de 7 de Novembro de 1716 ,
ficando eſta Sć com o titulo de Arcebiſpado Orien
tal , conſtituindo - ſe o ſeu Cabido de oito Dignida
des a ſaber Deao , Chantre , Arcediago de Lisboa,
Theſoureiro mór, Arcediago de Santarem , Mettre
Eſcola , Arcediago da terceira cadeira , Arcipreſte ,
vinte Conegos , quatro meyos Conegos , doze Quar
tanarios , dez Bachareis , e varios Capellaes.
242 Depois pela Bulla Salvatoris noftri de Bene
dicto XIV . , cxpedida aos 13 de Dezembro de 1740
fe abolio o titulo de Sé , e ſe condecorou com o no
me honorario de Santa Maria ; extinguindo - ſe jun
tamente nao ſó a dignidade Archiepiſcopal , que ſe
unio ao novo Patriarcado , e Metropoli de Lisboa
erecto na antiga Capella Real , mas ficarao ſuppri
midas , c extioctas para ſempre todas as ſuas Digni 1
dades , Canonicatos , meyas Prebendas , e Quarta
narias , removendo ElRey por virtude do melmo
Motu proprio a cada hum dosConegos , que actual
mente exiſtiao , de ſcus Canonicatos, e Prebendas ;
compenſando - lhes porém todo o prejuizo , que lhes
reſultava , em outras honras , e equivalentes do ſeu
Real theſouro ; como foraó aos Dignidades , e Co
negos o habito de Chrifto , e a cada hum dos meyos
Conegos o de Santiago ; e aos Quartanarios o de
Aviz , com tenças proporcionadas à ſua grandeza ;
expedindo hum Decreto ao Conſelho da Fazenda
cm 12 de Novembro de 1742 , para todos ſerem pa
gos por mezadas pelo Theſoureiro da caſa da Moe
da, e na ſua falta pela Theſouraria da Alfandega do
Tabaco. Os quaes. Conegos em Sabbado 17 de No
vembro de 1742 , foy o ultimo dia , que rezarað em
Coro , expirando entao o ſeu titulo , habito , e re
Tom.III . Part , V. Uu les
338 Mappa de Portugal.

fidencia totalmente . Exporemos em breve mappa


os ultimos Conegos q, ue exiſtia6 na Sé velha , com o
rendimento de ſeus Beneficios , e compenſaçao que
ſe lhes deu por virtude do tal Decreto .

Dignidades.

Eftevao de Barros Pereira .


Renda 1 :658U347
Compenſa 1 :790 U000
Accreſcimo 131U653
Antonio Miguel Aires.
1 : 310U263
1 : 410Uooo
99U737
Joao Sinel de Cordes.
1 : 164U864
1 :290 Uooo
125U136
Antonio Joſeph Reiſon.
695U350
790U000
194U650
Joſeph Antunes da Coſta ..
1 : 310U130
1 :400U000
89U870

Conegós.

Antonio de Caſtro Alvelos.


1 : 215U830
1 :290 Uooo
740170
Antonio Alvarés Cotrim .
1 :233U810
1 :310Uooo
76U190
Tho

1
Da Cidade de Lisboa. 339

Thomé Eſtoff Ferreira .


Renda 1 : 1750663
Compenſa 1 : 260Uooo
Accreſcimo 840337
Joað Chryſoſtomo da Silva.
1 : 168U200
1 : 250Uooo
81U800
Joao Guilherme Nobel .
1 : 183U650
1: 270 Uooo
86U350
Joao Pimenta e Antas.
1 : 202U755
1 :280Uooo
77U245
Franciſco Carneiro de Figueiroa.
1 : 233U945
1 :310U000
76UOSE
Silveſtre de Souſa Soares.
1: 265 U140
1 : 350Uooo
840860
Manoel Gomes de Faria ,
1 : 267U450
1 :340Uooo
72U560
Filippe Neri Xavier .
1 : 159U758
1: 240 Uooo
80U242
Manoel de Aguiar .
1 :209 U818
1:28 Udoo
740182

Uu ii Mas
340 Mappa de Portugal.
Manoel Gomes Montciro .
Renda 5.970909
Compensa 6700000
Accrefcimo 72 Uogo
Manoel de Oliveira da Mata .
1 : 195U780
1 : 280Uooo
84U220
Rafael Monteiro da Silva .
1 : 155U770
1 : 230U000
74U230

Meyos Conegos.

Manoel de Souſa Rocha .


592U714
620 Uooo
27 U286
Clemente Botelho .

557U914
586U000
22U086
Miguel Joſeph.
575U901 :
600Uooo
24U099

Quartánarios.

Luiz de Azevedo .
280U472
290 Uooo :
90528
Manoel de Paiva Reys .
280U472
290 UoOo
‫ رو‬18
Ang
Da Cidade de Lisboa . 341
Antonio Alvares .
Renda 280U472
Compenſa 290 Uooo
Accreſcimo ‫راو‬28
Joſeph Gonçalves Vilella .
280U094
290 UoOo
9U946
Joſeph de Lima Ribeiro.
280 U054
290 Uooo
9U946
Marcinho de Figueiredo.
280 U054
290 Uooo
9U946 :n
Antonio Barreto ..
:" 279U850
290 Uooo
10U150
André Machado .
&
279U850
290 Uooo
LOUIS
Manoel de Moraes Cabral.
279U850
290 Uooo
10U150

243 Supprimidas as Dignidades , Canonicatos 97 ,


e Quartanarias da Igreja de Santa Maria , e extin .
do o ſeu antigo Cabido , ſe erigio no meſmo Tem
plo huma nova Baſilica por virtude das Bullas Ea
quæ providentia de Benedicto XIV . , paſſada em 14
de Julho de 1741 , e da Salvatoris noftri do meſmo
Pontifice', ' ficando os Conegos novamente ercctos ,
e os mais Miniſtros ſubordinados ao Patriarca , co
direito do Padroado competindo ao Rey. Teve
prin ;
342 Mappa de Portugal.

principio eſta Baſilica Patriarcal de Santa Maria em


18 de Novembro de ' 1742 , e conſta dos ſeguintes
Miniſtros.
Hum Preſidente com habitos Prelaticios , cujo
lugar nað tem collaçao , e ſe intitula officio , o qual
foy concedido por Benedicto XIV . em Bulla' de
Motu proprio , paſada em Roma aos 17 de Agoſto
de 1754 , e aceita em Lisboa por Monſenhor Ber
nardes em 8 de Outubro do dito anno , e por elle
ſentenciada em 12 do dico mez . Tem de rendimen
to annual o de huma Coneſia , que o Papa Benedi
cto XIV . ſupprimio , e lhe applicou.
Vinte e ſete Conegos , que tem de rendimento
cada hum oitocentos mil reis .
Vinte Beneficiados , com quatrocentos mil reis.
Dezoito Clerigos Beneficiados, com duzentos mil
reis .
Dez Padres Bachareis , com cem mil reis .
Seis Padres Capellács providos em ſeis Capellas ,
que inſtituío na meſma Igreja o Arcebiſpo D. Mi
guel de Caſtro , com abrigaçao de Coro , e canto
de orgað , e de vinte e ſeis Miffas ſomente por mez
cada Capella ) . Tem cada hum delles cento e qua
renta e oito mil quatrocentos e quarenta' reis .
Dous Padres Capellaes providos em duas Capel
las , que infticuío o Conego Doutoral Joao de Aze
vedo com as meſmas obrigações. Tem cada hum
cento cincoenta e oito mil ſetecentos e cincoenta
reis .
Quatro Padres Capellães com cento e vinte tres
mil reis , providos em quatro Capellas , que infti
tuio Antonio Gonçalves Prégo com obrigaçaõ de
Coro .
ļ Seis Moços de Coro do numero a que vulgar
mente chamaó Meninos do Coro , dos quaes o mais
ancigo tem trinta mil reis , e os outros vinte e ſeis
mil reis cada hum .
Oito Moços , ou Meninos do Coro extranumer
ra
Da Cidade de Lisboa . 343
rarios , cada hum com dezoito mil reis.
Dous Meſtres de Ceremonias , hum a que cha
mao o primeiro , tem vinte mil reis ; o outro ſeis
mil reis.
Seis Contraltos : dous com cento e vinte mil reis
cada hum : dous com oitenta mil reis : hum com
oitenta e dous mil reis , e outro com cincoenta mil
reis .
Tres Tenores : dous com cento e vinte mil reis ;
e hum com cem mil reis .
Tres Contrabaixos com cem mil reis cada hum .
Dous Organiſtas : hum com oitenta mil reis , e
dous moyos de trigo : outro com ſeſſenta mil reis ,
e hum moyo de trigo .
Hum Meftre da Muſica com cem mil reis , e dous
moyos de trigo ..
Hum Mettre da claſſe da Solfa com cincoenta mil
reis . it win
Tres Curſores , ou Cuſtodios do Coro , que pao
tem ordenado eſtabelecido . 1

244 Conſt a mais de huma Camera para o gover


no interior , e economico da dita Igreja , ſua fabri
ca , e Sacriſtia, em cuja adminiſtracao fe occupao .
Tres Camerarios , que be o Preſidente hum 5
dous Conegos providos todos os annos pelo Prela
do , a quem toca privativamente o governo todo ,
e tem cada hum oitenta mil reis .
Hum Secretario , que he hum Beneficiado pro
vido todos os annos pelo meſmo Prelado , e tem ſef ,
ſenta mil reis .
Hum Porteiro , que he hum dos Curſores com
vinte mil reis .
Dous Letrados com ferenta mil reis cada hum .
Hum Procurador , que cobra os fóros , com qua
trocentos mil reis , cujo officio provê o Prelado...
Tres Procuradores para as cauſas , e mais depen
dencias , dos quaes hum tem ſeſſenta mil reis , e os
dous trinta cada hum .
Hum

>
344 Mappa de Portugal.

Hum Eſcrivao dos Emprazamentos com duzen


tos mil reis, cujo officio dá o Prelado .
Hum Védor da Sacriftia , que he shum Conego ;
e tem livre do Coro o tempo , que preciſar para o
ferviço da Igreja.
Hum Thefoureiro da Fazenda , que he hum Be
neficiado com o tempo livre do Coro , que for pre
ciſo .
• Hum Fabriqueiro , que he hum Conego , com a
meſma liberdade , e todos tres providos pelo Pre
lado
Hum Theſoureiro ., que mora dentro da meſma
Igreja , e tem cento e vinte mil reis.
Hum Altareiro com cento e dez mil reis .
Dous Moços da limpeza da Igreja , que tem cada
hum por dia hum toſtao , quinze alqueires de trigo ,
e oito mil reis para veſtiaria cada anno.
Hum Sineiro com cincoenta mil reis , e os ſinacs
livres .
Hum Armador com ſeflenta mil reis . "
Hum Meſtre de Latim com quarenta mil reis .
- 245 Conſiderada eſta Igreja como Paroquia.g
ſempre foy adminiſtrada por hum Cura , até que o
Eminentiffimo Prelado D. Thomaz de Almeida o
collou com o titulo de Reitor . Rende quatrocentos
mil reis . Conſta mais dc hum Cura com a congrua
ad libitum do Reitor : de hum Prioſte , que he hum
dos Bachareis , o qual tem trinta e nove dias livres ,
€ trinta mil reis de ordenado : de hum Eſcrivao do
Prioſtado ... qu
quee tambem he hum dos Bachareis , e
tem nove dias livres , e hum capaó : de hum Conta
dor do Priorado , que tambem he hum dos Bachá
reis com os meſmos nove dias livres .
-: 246 Exiſtiao neſta Freguezia as Irmandades ſe
guintes . A Irmandade do Santiſſimo Sacramento
que apreſentava nove Capellas de varios inſtituido
res, e de varias .congruas. A Irmandade das Almas
com fece Capellacs de cincoenta mil reis cada bum .
A
Da Cidade de Lisboa . 345

A Irmandade da Senhora da Piedade , que he dos


Calafaces com ſeu Capellaó ſó para os Sabbados ,
Domingos , e dias Santos com vinte mil reis de con
grua. A Irmandade de Santo Aleixo com ſeu Ca
pellaó de Domingos , e dias Santos , com cento e
cincoenta reis de eſmola por cada Mifa . A Irman
8 dade do Senhor Jeſus da Boa Sentença com duas Ca
pellas de cincoenta mil reis cada huma . A Irmanda
de de Jeſus Maria Joſeph , que he dos Correyos com
ſeu Capellao de Domingos , e dias Santos , que tem
de eſmola por cada Milla cento e cincoenta reis .
247 Havia mais neſta Igreja a Confraria de San
ta Anna , que lhe fazia Novena , e feſta no ſeu dia ,
e tratava do ornato da ſua Capella. Outra Contra
ria da meſma Santa em huma Capella no Cruzeiro
da Igreja , que era dos officiaes da caſa da Moeda
os quaes lhe fazia feſta no ſeu dia . A Confraria de
Foreiros de Santo Amaro . A Confraria de Foreiros
da Senhora a Grande , A Confraria de Santo Anto
nio , que he dos Meninos do Coro , os quaes con
correm para o gaſto dos dias da ſua Trezena COS
Conegos para os gaſtos da feſta do dia , e da ſua
Trasladaçao .
248 Ás Capellas aqui eſtabelecidas faó as fem
guinces .
Huma de Miffa quotidiana, que inftituío o Arce.
biſpo D. Affonſo Furtado de Mendoça , com obri
gaçao de confeſſar , a qual adminiftra a Camera , e
provê o Prelado : tem de congrua ſerenta mil reis.
Duas de Miſſa quotidiana, inſtituidas pelo Quar
tanario Manoel da Silva , que adminiſtra a Camera ,
com quarenta mil reis cada huma .
Huma de Miftaquotidiana , cuja adminiſtracao
eſtá incorporada na Fabrica , e provê o Prelado :
sende cincoenta mil reis .
Huma de Miffa quotidiana , que inftitulo o Arce
biſpo D. Jorge de Almeida, de quarenta e ſeis mil
reis ,que adminiftra a Camera, e provê o Prelado,
Xx Hus
Tom.III. Part.V.
3:46 Mappa de Portugal.

é Huma com obrigaçao de duzentas e cincoentà .


Miſſas , que inſtituío Maria Machada , e rende trin
ta mil reis , a qual tambem a Camera a adminiftra .
Huma com obrigaçaó de cento e ſeſſenta e ſeis
Millas , inſtituída pelo Conego Pantaleao Rodri
gües Pacheco , que adminiſtra a Camera , e.a dá o
Prelado , rende vinte mil reis .
249 Além das ſobreditas Capellas , tem a Came
ra a adminiſtraçao de outras antiquiſſimas , as quaes
por falta de renda ſe achav reduzidas por Breves A
poftolicos ao numero de duas mil e oitenta e oito
Miffas , que todos os annos ſe mandao dizer . Ha
mais eſtabelecidas neſta Igreja as Capellas ſeguintes ..
Duas Capellas de S. Sebaſtiao pertencentes à Ca
deira de Mafra ſupprimida , as quaes provê o Prela
do , e rende cada huma cincoenta mil reis .
Huma de S. Bartholomeu , que rende cincoenta
mil reis . Eſta Capella tinha quatro Mercieiros , com
quatro mil e oitocentos reis cada hum .
Huma de S. Pedro , com obrigaçaó deſeſſenta e
duas Miſſas , as quaes cumprem os Bachareis , a
quem anda annexa pelo rendimento de hum mayo
de trigo , vinte alqueires de cevada , e tres mil reis
para a cera do Altar. Eſta Capella foy antigamente
chamada do Santo Lenho , na qual eſtað enterrados
Ruy Figueira , e ſeu pay Joao Gomes de la Higue,
ra , e ſe deu depois ao Biſpo de Bona D. Pedro Fer
nandes, que lhe fez picar as cinco folhas de figuei:
ra , que tinhao as ditas ſepulturas.
Huma de S. Lourenço com obrigaçao de tres Mil
fas ſomente em cada ſemana , e rende quarenta e
quatro mil reis .
Duas de Noſta Senhora da Conceicao de Mila
guotidiana, que adminiſtra a caſa de Jeronymo Lci
te de Vaſconcellos Pereira Malheiro , e rende ca
da huma quarenta e dous mil reis . Pertence a eſtas
Capellas huma merciaria , que renderá quinze mil
reis ,
Hu,
Da Cidade de Lisboa. 347

Huma de S. Marcos de duzentas Miſas , e as


quartas feiras do anno , he adminiſtrada pelo melmo.
Havia a Capella chamada a Miſa de S. Vicente ,
que quotidianamente celebravao os Bachareis por
alternativa no Altar , onde cſtava o ſeu corpo , com
o privilegio de ſer a propria do Santo em qualquer
dia, ou feftividade do anno ſem excepçaó alguma .
Conſtava cíta Miſſa de algumas Orações , que nað
ha pas outras Miffas : cra de hum ſó Padre ; porém
cantada a canto chaó pelos Meninos do Coro , to
cando-fe em todo o tempo do Canon huma roda de
campainhas , que eſtava na clauſtra por detrás da
Capella do Santo , e ſe obſervava indiſpenſavelmen
te . No ſeu Oitavario era a Milla de tres Padres , can
tada canto de orgað pelos meſmos Meninos do
Coro ; e tudo ſe fazia por uſo antiquiſſimo.
250 Ha mais dez Capellas , que inſtituto ElRey,
D. Affonſo IV . no anno de 1355 ; com obrigaçao
de Miffa quotidiana , e de dizerem os Capelláes em
o Coro o Officio Divino rezado ao meſmo tempo ,
que os Cónegos o fazem cantado , o que elles exe
cucavao na Capella de S. Ildefonſo ." o Capella6
mór;tem de renda cento e ſeis mil reis , e hum moyo
de trigo ; e cada Capellaó cento , e ſeis mil reis, e
Medico , Cirurgiaó , e botica , quando eſtao doen
tes , e tudo adminiſtra a Meſa da Conſciencia .
251 Pertencem a eſtas Capellas vinte e quatro
Mercierias , doze para homens , e doze para mu
lheres com obrigação de afliſtirem de manhã , e de
tarde aos meſmos Officios Divinos. Tem cada hum
de mezada mil e duzentos reis, e pelo Natal tres mil
reis, e outro tanto pelo S. Joao : tem mais hum po
te de azeite de tres em tres mezes , e quarenta e oi
to alqueires de trigo . As Mercieiras tem de mezada
cada huma dez toitões, e tres mil'reis pelo Natal,
e outro tanto pelo S. Joao , vinte canadas de azeite ,
e quarenta e oito alqueires de trigo. Para vivenda
e recolhimento deſtes Mercieiros mandou o meſmo
Xx ii Rey
348 Mappa de Portugal .

Rey D. Affonſo IV . cdificar hum Hoſpicio com


diviſaó ( 1) junto do mar , o qual por tradições acha
mos que fora no ſitio , em que ſe edificaraó as caſas
dos Senhores de Bellas, até às que forao dos Mar
quezes de Gouvea , defronte do campo chamado das
Cebolas ' na Ribeira. Achava -ſe ette Hoſpital dos
doze Mercieiros antes do terremoto em humas ca
fas defronte da porta do Senado da Camera nas coſ
tas da Igreja de Santo Antonio , as quaes caſas forao
muito antecedentemente Recolhimento de donzellas
ortās pelos annos de 1594. ( 2 ) E as doze Merciei .
ras alliitiao em humas caſas na rua dos Conegos de
fronte da porta traveſſa da Baſilica de Santa Maria
da parte do Norte .
252 Nab foy pequeno o damno , que occaſio
nou a eſte antiquiflimo Templo o horrido incidente
do grande terremoto ; pois com o ſeu impulſo ex
traordinario cahio a cupula , e fabrica exterior do
Zimborio ſobre a nave do meyo da Igreja , e rom
pendo - lhe a ſua fortiſlima abobeda, veyo deſcançar
no plano da meſma nave . Ao meſmo tempo cahio
a torre da parte do mar , em que eſtava o Relogio ,
a qual com alguns finos ſe fez em pedaços . Dentro
da Igreja cahio a Imagem de Noſsa Senhora , que
eſtava no Altar mór , e ſe lhe ſeparou a cabeça do
corpo , a qual ſe foy achar depois nosſuburbios def
ta Corte em caſa de huma mulher. O meſmo eſtra
go experimentou a Imagem do Crucifixo , que eſ
tava no Coro de cima , e o magnifico orgað no cor,
po da Igreja .
253 ' incendio furioſamente ſucceſlivo ainda
The cauſou mayores prejuizos į ſendo irreparavel o
desfazer nað fó o cofre , em que eſtava recluſo o
corpo do glorioſo Martyr S. Vicente , mas o meſ
mo Corpo , de que ſe acharaõ depois no ſeu Alcar
pe
[ 1] Conſta da Proviſao do anno de 1429 noliv. dos Teſtamentos
fol. 58. verf, da Meſa da Conſciencia. [ 2] Oliveira Grandez, de Lisboa
Pag: 79
Da Cidade de Lisbot. 349

pequenas Reliquias diſperſas , e queimadas. Quei


marao - ſe tambem todas as Imagens ſagradas , reta
bolos , e ornamentos da meſma Igreja. Sómente as
chammas , que acommererað o Altar da Senhora
chamada a Grande, refrearaó a ſua voracidade para
com a veneranda Imagem , e todo o teu ornato cor
poral , e fitial do ſeu nicho . O fogo fez mais ruina
em humas partes da Igreja , que em outras ; e aſſim
nella ſe vê eſtalado mais. o tecto da nave da banda
da terra , que da parte do mar ; o meſmo ſe obſer
ya em outras Capellas interiores do clauſtro, expe
rimentando cotal ruina , e irreparavel o ſeu antiquiſ
fimo cartorio , que todo ſe reduzio a cinzas , haven
do bem pouco tempo , que o havia poſto em huma
expedita arrumaçao a diligencia do Engenheiro mór
Manoel da Maya . Nao chegou eſte Hagello à Sa
crittia ; e por iſſo eſcaparað os ornamentos , e al
fayas deſta Baſilica alli guardadas .
254 Entre as ruinas perecerao algumas peſſoas ,
eſpecialmente no adro com o precipicio da torre :
taes forao o Beneficiado Franciſco de Sales de Frei
tas ,oe mais outro , que lhe ignoramos o nome , al
guns Meninos do Coro , e o Cuſtodio delle Anto
nio Franciſco . O Conego Ludovici padeceo a infe
licidade de lhe cairem algumas pedras da meſma cor
re , porém nao morreo logo , mas dahi a poucas ho .
ras . Ao Beneficiado Lucas dos Santos lhe ſuccedeo
o meſmo. Diſperſos, e afflictos os Miniſtros deſta
Igreja , nao achavao lugar opportuno para exerce
rem os actos do Coro , e mais Officios Divinos. Nel
ta urgencia ſe forao recolher em huma Ermida ao
Cardal Ja Graça , onde rezaraó hum ſó dia ; logo ſe
paſaraó para huma proxima barraca , em que reza
raó ſete dias : mas por ſer pobre , e indecente , lhe
aſlinou o Eminentiſſimo Cardeal Patriarca. a Igreja
do Senhor Jeſus da Boa Morte , onde ſe armou qua.
dratura em 21 de Dezembro de 1755 , em cujo dia
jepetindo a terra hum grande tremor , embaraçou
comi
350 Mappa de Portugal
.

com o fuſto nao ſe executar a ordem do Prelado ; 0


qual reſolveo ſe eſtabeleceſſem na barraca da Fre
guezia de S. Jofeph , o que fizeraõ deſde 24 do dito
mez de Dezembro até 16 de Julho de 1757 , em cu
jo dia paffaraó para a Igreja do Menino Deos , e
dalli ſe transferirao para a de S. Roque , onde pre
fentemente reſidem .
255 Os Capellães das Capellas de ElRey D. Af
fonſo IV . , que exiſtiao neſta Baſilica , e tinhao hi
do por ordem do Eminentiſſimo Prelado em Feve
reiro de 1756 para a Ermida de S. Vicente Ferrer ,
fituada às Olarias , ſe achao preſentemente reſtitui
dos a huma Capella junto da ſua antiga , que eſca
pou do eſtrago neſta meſma Bafilica.
250 No deftricto deita Paroquia exiſtem os fe
guintes Templos .

Igrejas , e Ermidas.

Santo Antonio . Ordenou ElRey D. Joao II . no


fcu teftamento , que ſe fizeſſe huma Igreja a Santo
Antonio no meſmo lugar , e frio , onde narceo : em
Lisboa , para o que lhe deixou mil juftos de ouro ,
que importava em ſeiſcentos mil reis , dizendo , que
queria foſſe a fabrica igual no goſto ; e na riqueza.
Cumprio eſta clauſula primoroſamente ElRey D.
Manoel, e aſſim ſe deve a erecção deſte edificio à
piedade deſtes dous Monarcas : ao que attendendo o
engenho do Arquitecto , fabricou o rorulo , que ſer
via de grinalda ao arco da porta principal com le
tras de pedra formadas de troncos de arvores , e va
rios bichos eſculpidos , que vinhaõ a dizer : Joan
nes II. Emmanuel I. Reges hoc opus conftruxerunt. ( 1 )
Tudo ſe verifica de huns Padrões , ou Difticos la
tinos eſculpidos em pedra ' na Capella mór da parte
da

[ 1 ] Soufa Hitor. Gencalog.tom 3. p . 138. Goes Chron de ElRey


D.Manoel part . 4. cap. 85. Cardoſo no Agiol. Lubic.com . 3. P. 775.
Da Cidade de Lisboa . 350

da Epiſtola , e do Evangelho , e com mais clareza


ſe comprova de hum letreiro , que estava em huma
pedra dourada por baixo da tribuna da Camera ,, :0
qual tranſcreve Antonio Coelho Gaſco no livro m .
f. das Antiguidades de Lisboa cap . 35., o qual he a
ſeguinte :

O muito alto , e muito poderoſo Rey D. Joað o II.


defte nome , mandou em ſeu teftamento paffar efta
Capella da bemaventurado Santo Antonio da Sé ,
..donde eſtava . E que neſte lugar , que foyi a propria
caſa , donde nafceo , à ſua honra fe edificaſe , por
Jer tanta razão , que aonde a Nolo Senhor aprou
ve , que tað bemaventurado Santo naſceſe , eſpirie :
to de santa fantidade , é digno de tanta veneraçao ,
ali como natural defta Cidade interceffor della , e
dos Reys deſte Reino foffe venerado . E por ficar
encommendado o cumprimento do teftamento ao mui
to alto , e muito poderoſo Rey D. Manoelo primei
ro deſte nome , a mandou fazer para louvor de
Deos, e memoria das graças , que eſte Reino ſempre!
lhe deve , pola mercê,que fez -no deſejado naſcimena,
: to do muito alto , e muito excellente Principe D. Se
baſlia ) a 20 de Janeiro de 1954 , que be o dia em
que ſe celebra a feſta do bemaventurado S. Sebaſ
tiaõ , ordenou que Franciſco Correa , que entao era .
Vereador e ſervia de Provedor defia Capella do: ;
bemaventurado Santo Antonio , antes de entrar
Mila do dia 9 o Sacerdote que a houver de dizer
levantaſe em canto ſolemne o Hymno Te Deum
laudamus , para que todos que ouvirem , venbað a :
ſaber a razão deſta nova extraordinaria ſolemnida-
de , e ſabida tao obrigatoria cauſa , como foy para
: ſempre para eftes Reinos: a memoria de tab grande
beneficio, e por. elle graças a Deas,peçaõ por inter
celor o glorioſo Santo Antonio a vida , e ſaude do
Principe Noſo Senhor. , com muitos é muitos per
petuos annos de ElRey , e da Rainha Nofos Senbo
EC
res para ſeus ſerviſos.
352 Mappa de Portugal.

Eſta inſcripçao me perſuade ler apocrifo o que di


zem ſe lê no Officio , e Hiſtoria da conquiſta de
Tangere eſcrita por hum certo Alvaro , cujo apel
lido te ignora , no qual ſe affirma , que ElRey D.
Affonſo V. mandara collocar no Templo de Santo
Antonio deſta Cidade humas portas de bronze , que
fizera conduzir de Tangere : donde ſe infere que já
no tempo de ElRey D. Affonſo V. eſtava feito o
Templo do Santo ; o que he contra o que dizem os
nolios Hiſtoriadores , c conita do mencionado le
treiro . Refere ifto a Bibliotheca do Abbade Bar
boſa no tom . 4. pag . 10. accreſcentando mais para
confirmar o pouco credito que ſe deve dar a eſta
noticia , dizer : que o dico livro ſe conſervava na li
vraria do Senhor Infante D. Pedro , o que tal nao
ha, nem antes , nem depois do terrremoto ; porque
aſlim o examiney com exacçao.
257 Eſtabeleceo -ſe neſta Igreja huma Collegia
da , que conſta de hum Capellao mór , que tem de
ordenado trinta mil reis para caſas ; fefſenta mil reis
para huma mula ; vinte mil e ſeiſcentos reis para
barrere , e ſobrepeliz ; e ſeſſenta mil reis pela Ca
pella dos Irmãos Cidadãos vivos , e defuntos ; e por
Superintendente do Coro trinta mil reis , que tudo
faz a ſomma de trezentos e dez mil reis . He elle ſó
obrigado a ir ao Coro nos dias Claſſicos ; e em quan
to Capella ) mór , he provido pelo Senado ; quanto
ao mais he provido pela Meſa. Conſta o Coro além
do Superintendente , de dezanove Capellães Canto
res , dos quaes ſeis tem cento e vinte mil reis , que
inftituio a piedade de ElRey D. Joa6 V .; tres tem
110venta mil reis ; e dez tem oitenta mil reis . O Pre
ſidente do Coro , que he hum dos taes Capelláes ,
tem mais vinte mil reis , e o meſmo tem o Regen
te do meſmo Coro . O primeiro Priofte , e Eſcrivað
do Coro tem cincoenta mil reis ; e o ſegundo Prior
te dous mil e quinhentos reis . Ha mais quatro Me
ninos da Capella numerarios , que tem cada hum
cin
Da Cidade de Lisboa.

cincoenta e cinco mil reis ; e tres ſupranumerarios


com vinte mil rciş . Tem eſta caſa , e Igreja mais
de vinte mil cruzados de renda , que a Meſa admi
niftra com muito zelo .
258 Com o repentino aſfalto do terremoto , e
incendio ficou eſte grandioſo Templo arruinado , e
mais que tudo conſumido , e desfigurado o formoſo
embutido das ſuas pedras , de que o corpo todo , e
tecto da Igreja era formado primoroſamente. Porém
obſervou - fe como prodigio , que a voracidade das
chammas , abrazando os retabolos, e tudo que eſta
va miſtico à tribuna do Santo , nao offenderaõ a ſua
veneranda Imagem , nem ouſarað . entrar dentro ,
crocando o furor em reſpeito , ſegundo conjectura
å piedade , e devoçao . Fez- ſe na Igreja hum ſuffi
ciente commodo para o exercicio do Coro , e mais
Officios Divinos , cm quanto ſe cuida na reedifica ,
çao fundamental.
Nofa Senbora da Caridade. Foy edificada eſta Er
mida pelos Irmãos da Caridade, no anno . dc 1747 ,
junto à Baſilica de Santa Maria da parte do mar .
Padeceo baſtante ruina.indi hiljada
Nola Senbora da Conſolação. Ficava eſta Ermida ,
ou Capella por cima da porta da Cidade chamada a
porta do Ferro , ou arco da Conſolaçaā , e nella
mandava a Irmandade da Miſericordia dizer huma
Mida quando havia padecente , para que eſte ado
raſſe ao Senhor no tempo, que por alli palaya para
o ſupplicio . Acha-ſe preſentemente deſtruida com
o terremoto , c incendio : e depois ſe mandou de
molir o arco , e ſe extinguio totalmente a ſua exiſ
tencia . Junto da eſcada , que ſubia para a tal Ca
pella , eftaya hum marmore Romano a modo de
hum marco pequeno com ſeu frizo , e huma inſcrips
çao , que dizia :

Tom.III . Part.V. YS AT
354 Mappa de Portugal..
.
Æfculapio
Aug.
Sacrum
Cultor . Larum
Malia , et Malio
li M. Colituo
Macrinus donavit .

O qual vem a dizer : Efe Templo be conſagrado a ES


eulapio Augufto , Marco Coſítuo Macrino o deu gracio
famente a Malia , e Maliole amadores dos Deuzes Lares.
Lembra - ſe dette marmore Antonio Coelho Gaſco
7
das Antiguidades de Lisboa cap . so .
Senhor Jeſus dos Deſamparados , e Nola Senhora do
Roſario. Principiou a fundarſe de novo eita Ermidis
nha no anno de 1755. em a rua das Canaſtras , e no
meſmo frio , onde havia eſtado huma caſa de Ora
çaó , que ſe havia abrazado com o fracaſſo de hum
incendio ; porém com o terremoto , e fogo do anno
de 1755 re conſumio de todo .
Noſa Senhora da Miſericordia . Fundou efte ſump:
tuoſo Templo ElRey D. Manoel , e ſe concluio go
vernando ElRey D. Joao Ill. no anno de 1934. Ef
tabeleceo - ſe aqui buma nobiliſſima Irmandade , que
na opiniao ainda dos Eſtrangeiros he de ſummoʻrer
peito. ( 1 ) Inſtituio -a no clauftro da antiga Cathe
dral o Veneravel Fr. Miguel de Contreras , Reli
giofo Trinitario natural de Segovia , com approva
cao da Rainha Dona Leonor mulher de El Rey D.
Joao II . no anno de 1498. Compondo- lhe o meſmo
Veneravel Padre hum Compromiffo fundado em
tanto zelo do proximo , que parece foy inſpirado
por Deos . Foy -ſe extendendo a Irmandade por to
do

[ 1 ] Gil Gonçalv. de Avila nas Grandez. de Madrid lib.4. apud Mad


ced . nas Flor. de Eſpaña cap. 9. excel. 9. n. 2. Mervelù Memoires inf
tructifs. pour un Voyageur tom .2. p . 144. D. Franc . de Herrera na Via
da do B.Obregon p . 19.1 . Cardoſ. Agiol,Lufit.tom. 1. p. 284. Santuar
Marian , tom. 1. P : 64 :
Da Cidade de Lisboa . 355

do o Reino, até que concluida eſta Igreja da Miſe


ricordia , ſe transferio para ella em 25 de Março de
de 1534 com huma procillaó ſolemniflima : e para
ſe conſervar a memoria do Fundador , ſe fez hum
allento 'no anno de 1975 , em que a Meſa mandou
ſe pintaſſe ſempre nas bandeiras da Caſa a copia , e
retrato do ſobredico Religioſo no'melmo habito da
ſua Ordem com eſtas letras F. M.I. , que querem
dizer Fr. Miguel Inſtituidor.
259 Começou eſta Irmandade por cem Irmãos
cincoenta nobres, e cincoenta mecanicos : depois
ſe alargou o indulto a ſeiſcentos. Compoem -ſe de
hum Provedor , que ſempre he Cavalheiro , dos
quaes expende hum Catalogo D. Antonio Caetano
de Souſa no tom . 4. do Agiolog: pag. 26. deſde D. Pe
dro de Moura , que foy o primeiro até D. Pedro de
Almeida Marquez de Alorna : tem mais hum El
crivað , hum Recebedor das eſmolas , dous Mordo
mos dos prezos , ſeis Vificadores , e outros mais Ir
mãos competentes para o ſeu governo ; mas codos
eleitos por votos em dia da vilitacao de Noſſa Sen
phora á 2 de Julho .
260 He o inſtituto deſta Irmandade acodir às
neceſſidades do proximo , caſar orfás , curar enfer,
mos , ſuſtentar , e vifitar viuvas pobres , paſſar car
tas de guia , ou de recomendaçao para commodo
dos peregrinos , enterrar os defuntos
cauſas dos prezos , ſuſtentallos , e livrallos dos car
ceres , acompanhar os juſtiçados até o patibulo , e
finalmente concorrer para todo o exercicio , que for
obra de caridade , e mifericordia ; diſpendendo em
todos eſtes actos grande ſomma de dinheiro para
que tambem concorre muito a piedade dos Catho
licos, que a tem enriquecido com muitos legados ,
paſſando a renda deſta ſanta Caſa de cem mil cruza
dos cada anno .
261 Tem ella cinco actos publicos , em que de
vem affiftir todos os Irmãos fem falca. I. No dia da
Yy ii Vi.
356 Mappa de Portugal.

Vificaçao de Noſfa Senhora à eleiçað annual , e à


fefta . il. Em dia de S. Lourenço para a eleiçao dos
ſeis Viſitadores . II . Em dia de todos os Santos de
tarde para a trasladaçao dos oſſos dos padecentes que
morrerao enforcados. IV . Em dia de S. Martinho
Biſpo para o Officio ſolemne dos Irmãos defuntos .
V. ' Em a noite de Quinta feira ſanta para a prociſ
faó com que viſitaó as Igrejas. Antigamente ſe fa
zia eſta prociſſaó com muita folemnidade e penis
tencia . Referiremos o que achamos acerca diſto em
huma fidedigna Relaçaó daquelle tempo .
9 Partem da Igreja os Irmãos em anoitecendo ,
li
, e vaó pela rua nova ter a S. Franciſco , e dal
si paſſað à Trindade , e deſcem ao Carmo , e dalli
vaó a S. Domingos, e tornaó pelo Rocio , e pe
la Praça da palha, rua das Arcas , Correaria até
9, a Sé , e da Sé tornaõ à Miſericordia , gaſtando
» , niſto até a meya noite , e às vezes até a huma ho
,, ra . Os Irmãos ſerá o ſempre duzentos e cincoen
» ta , até trezentos , e todos vað veſtidos com ſuas
veſtimentas pretas,
pretas , e poſtos em ordem de prociſ
ſao com ſuas velas nas mãos .
39 Diante delles vað oitocentos , novecentos, até
mil homens , e mulheres diſciplinando -ſe , os
s quaes todos vao veſtidos de veſtimentas pretas , e
aſlim homeos , como mulheres , ſe ferem com as
diſciplinas, que tiraó muito ſangue ; e eſta pro
3; cifľað vay repartida em tres , ou quatro eſtancias ,
e entre huma , e outra hum retabulo ou Chris
» to poſto na Cruz e no meyo vaõ dez , ou doze
Irmãos com ſuas varas regendo -os, e metendo - os
» em ordem .
Entre eſtes diſciplinantes vao muitos homens
5, com barras de ferro', e Cruzes de páo grandes ,
je pedras às coftas : e para claridade da gente les
97 vao cincoenta faroes de fogo , em que le gaſtao
dous mil novelos de fiado de tomentos engraxa
» dos cm borras de azeite , e cebo para darem bom
o lug
Da Cidade de Lisboa. 357
»» lume , os quaes faroes vað poſtos em hafteas muis
to compridas , e altas ; e levao trinta lanternas
muito grandes metidas tambem em hafteas com
velas dentro acezas ; e os Irmãos que regem , tra .
» zem nas mãos quantidade de velas para tanto que
faltar proverem de outras : levao mais trinta hos
mens com bacias nas mãos cheas de vinho cozi .
,, do , e os diſciplinantes molhao e lavaö nelle as
» diſciplinas , porque lhe apertaó as carncs . Da mela
» ma maneira vaó dcz , ou doze homens com cai
» xas de marmelada feita em fatias , as quaes man.
dao muitas peſſoas fidalgas , e devotas , . que dao
» aos penitentes ; e levao outras de confeitado 9
de cidrað para os que enfraquecerem ſoccorre
rem - lhe com hum bocado : e vao outros tantos
homens com quartas de agua , e pucaros nasmãos
97 dando agua aos que tem della neceſſidade. E tan
to que chegaó à caſa da Miſericordia eſtaó Fy
ficos que expremem as chagas dos penitentes , e
99 lhas lavao com vinho para iſſo confeicionado , e
os apertaó , e veftem , c ſe vaó curados para ſuas
caſas.
Recolhimento ,

262 Aos lados da Igreja ſe fundarað dous magni


ficos Recolhimentos de donzellas orfás , que ainda
que ſeparados, tinha) communicaçao hum com ou
tro , e com tribunas para a Igreja . A Meſa da Mi.
fericordia o adminiftra , e provê cincoenta e oito
lugares para orfãs , dos quaes quarenta foraó, intti
tuidos por Manoel Rodrigues da Coſta , Fidalgo ,
e Commendador da Ordem de Chrifto , que falle
ceo em Junho de 1684 , deixando para cada orfā cem
mil reis de dote . Os outros lugares lao da Caſa . Ha
via finalmente neſta Igreja por detrás do Altar mór
hum Coro , em que rezavao ſeſſenta Capelláes as
Horas Canonicas .
263 Succedendo o grande terremoto do primei .
ro
l
358 Mappa de Portuga .

ro de Novembro , cahio do cruzeiro da Igreja hu


ma porção da abobeda , e hum campanario , que fie
cava por cima da porta da banda do terreiro , de
cujo precipicio , e ruina morrerao algumas peſſoas.
Ficou o Padre Theſoureiro na Sacriſtia todo o Sab
bado até quaſi noite e as orfās até eſſe tempo ſe
conſervavao no Recolhimento ; mas ' vendo que os
tremores continuavao , ſe reſolveraõ a fahir , e fo
rað para a Horta da Bica do Sapato em companhia
de hum homem do azul , que era o Porteiro e do
Padre Theſoureiro , que com grande enleyo , ſem
ſe lembrar de mais nada , deixando as portas da Igre
ja , e da Sacriſtia abertas, expoz à mayor ruina to .
da a ſua fabrica , aſſim de ornamentos , que havia
muitos , e excellentes , por ſe acharem de proximo
reformados ; como de prata , de que apenas por di
ligencia dos Officiaes da Juſtiça ſe livraraó algumas
alampadas ; podendo livrarſe tudo com muito foce,
go de ladrões, e do incendio ; porque eſte nað en
trou na Igreja da Miſericordia , ſenaó pelas nove
horas da manhã no Domingo ſeguinte,
264 Abrazou - ſe finalmente o Recolhimento , e
demolio - ſe com o incendio a Igreja , ficando toda
via iſenta a Capella do Santiſſimo , onde eſteve ao
deſamparo cinco , ou ſeis dias , em que durou o fo
go . Tambem ficou illeſo o retabolo da Capella do
Santo Chrifto dos padecentes , que já a eſte tempo
havia) livrado a veneravel imagem , poſto que até
agora ainda ſe na reftituio , nem a inſtancias de cen
furas , que para eſte fim , e de outras mais couſas
ſe tem publicado. Ficou da meſma forte reduzida a
cinzas a caſa do Deſpacho , Secretaria , e Cartorio ,
fem que ficaſſe couſa alguma . Abrazou ſe a ſagrada
Reliquia do braço de Santa Anna , que eſtava em
hum Oratorio na caſa da Meſa, ficando conſumi.
da dentro do meſmo Relicario de prata ; cujas cin
zas , e dous oflinhos , que moſtravað fer de de .
Hos , ſe conſervaó ainda no meſmo Relicario , que
fc
Da Cidade de Lisboa. 359

ſe mandou guardar com toda a decencia .


205 Pallados alguns dias ſe ordenou , que os Pa
dres continuaſſem na Capella do Sacramento a ex .
ercer os actos do Coro , o que fizeraõ em turmas
e aflim continuarao até o dia de S. Thomé do mer
mo anno , em que por medo do tremor de terra ,
que entao houve , ſe paflaraó para a barraca da Fre
guezia de S. Joſeph , onde ſó hum dia rezaraó ; por,
que aproveitando - ſe o Eminentiffimo Prelado da
meſma barraca , mandou ir para ella a Communida ,
de da Baſilica de Santa Maria , e os Padres Capel.
lães da Miſericordia paſſarao para a Ermida de Noſs
ſa Senhora do Bom ſucceſſo na calçada do Lavre , e
aqui rezarao até Setembro do anno de 1756. Depois
com racionavel motivo forao para a Ermida de S.
Pedro de Val de Pereiro , onde eſtiveraó alguns dias .
Ultimamente ſe transferirao para a Ermida de S.
Vicente Ferrer às Olarias onde actualmente exiſ
tem .
266 As Orfãs porém nao ſe achando bem acco .
modadas na Bica do Sapato , para cujo fitio ſe ha
viaó refugiado , paffaraó para Belem , e aqui expe
rimentando mayor deſcommodo , ſe lhe alugou as
caſas de Diogo Liberato na rua dos Anjos defronte
da traveſſa do Defterro , onde permaneceraó até o
S. Joao de 1756 , em cujo dia ſe mudaraó para hu
mas caſas nobres do Delembargador Filippe Ribei
ro da Silva , contiguas à Ermida de S. Vicente Fer
rer , das quaes pallarað para a calçada de S. André,
accommodando - ſe nas caſas que deſoccuparaó os En
geitados , pela paſſagem que eſtes fizeraó para o
Collegio de Santo Antaó , pelo Natal do anno de
1762 : c aqui preſentemente ſe achao mais bem ac ,
commodadas.
267. Neſte meyo tempo fazia tambem a Meſa .
diligencia pela ſua accommodaçao ; porque ſuppor
to nao faltavao aviſos da Secretaria de Eſtado , pa
ra ſe darem à Miſericordia os materiaes, que for.
ſem
al.
360 Mappa de Portug
ſem preciſos , era tal a deſordem e confuſao da
quelles primeiros dias , que nao ſe podia pôr couſa
alguma em execuçao ; até que ſe reſolveo em fazer
os actos da Meſa em huma barraca de panno , e ta
boas velhas , que eſtava na rua de S. Bento , a qual
era de Antonio Rodrigues Gil Meſtre Carpinteiro ,
e Irmao da Miſericordia ; e reformando -ſe eſta pelo
tempo adiante com mais largueza , alli aflittio a Mc
ſa até o S. Joao de 1756 ; porque huma accommo
daçao , que intentou fazer na Cotovia , nað teve ef
feito ; depois ſe paſſou para as caſas de Diogo Li
ber co , donde tinhaő fahido as Recolhidas , e ulti
mamente ſe eſtabeleceo a Meſa nas caſas , que alu ,
gou junto da Ermida de S. Vicente Ferrer às Ola
rias .
S. Sebaſtiao . Exiſtio primeiramente eſta Ermida
na rua da Padaria onde foy fundada no anno de
1471 , conforme affirma Chriftovao Rodrigues de
Oliveira no ſeu Summario ; porém com a ultima
reedificação , que ſe lhe fez , tinha a porta para a
parte da Miſericordia , e era adminiſtrada pelo Tri
bunal da Saude . Com o terremoto , e incendio fe
demolio de forte , que nað ſe conhece o ſitio onde
exiſtia ,
268 Numerava efta Paroquia oitocentos e no
venta e ſeis fógos , e quatro mil e duzentas e cin
coenta e cinco peſſoas de communhao . Hoje eſtá
reduzida a huma deploravel decadencia ; vendo - ſe
deſerta , e arruinada huma grande parte das ſuas ruas ,
que eraõ as ſeguintes.
Ruas.
Albuquerque , Almargem , Arco da Conſolacaó ,
e de S. Franciſco , Barað , Calçadinha da Graça , e
de Quebracoftas , Campo das Cebolas , Canaftras ,
Conegos , Cruzes da Sé , Direita de Santo Antonio
Detrás de Santo Antonio , Joao Fogaça , S. Joað
da Praça , S. Jorge , Largo do Aljube , é da Bafi
lica , e das Cruzes da Sé , e do Senhor de Bellas ,
Meyo
Da Cidade de Lisboa . 361

Meyo da Ribeira , Mercearias dos homens , e das


mulheres , Parreirinha , Paſſadiço da Ribeira , Pa.
teo de Santo Antonio e da Audiencia , Portas do
Ferro , e do Mar.
Becos.
Abreu , Alecrim , Aljube , Amada , Armazens ,
Bogio , Grinalda, Jaſmim , Leab, Mel, Merceci
sas , Perola , Scixo da pate de baixo , e da parte de
cima .
Fregaezias confinantes.
· S. Bartholomeu , s . Joao da Praça , S. Jorge , S.
Mamede , Santa Maria Magdalena .

XXIII .

Santa Maria Magdalena.

* 269 Ao obſtante haver padecido cſta Igreja


N por varias vezes alguns contratempos ,
como forao os incendios ſuccedidos no anno de 1369 ,
em tempo de EiRey D. Fernando , e de ElRey D.
Manoel ( 1 ) os terriveis effeitos da pefte do anno de
1560 , e o memoravel eſtrago do' furacao de vento
no anno de 1600 , cujos ſucceſſos arruinarað , e con
ſumiraó a mayor parte dos documentos do ſeu Car
torio ; todavia conſervava - ſe ainda nelle hum livro
antiquiſſimo, que vimos , pelo qual conftava , . que
na era de 1202 , que correſponde aosannos de Chriſ
to de 1164 , falecera D. Fuas , Prior deſta Igreja , c
lhe deixara as terras , e berdade do Murganhal com
hum encargo de Anniverſario , o qual ainda ſe fazia
a 13 de Setembro ,
270 Continuaő as memorias deſta Paroquia ain
da pelos annos de1237 , pois ſegundo refere o Chro
niſta mór Fr. Franciſco Brandao , ( 2 ) por eſſe tem
Tom.III. Part.V. " Zz ро

[ 1 ] Duarte Nunes Chronic .dos Reys de Portug. pag. mihi 165.


[2] Monarg. Lufit, liv. 16. cap . 12.
362 Mappa de Portugal .

po reinando D. Sancho II . , conſta de huma Eſcris


tura , que Joao Annes , e Ouroona Richardes paga
vaó às Religioſas de Chellas o foro de humas caſas ,
que eſtavao ſitas na Freguezia da Magdalena junto
ao Paço dos navios de EIRey : Quas babemus in Pa
rochia Sande Marie Magdalene circa Palatium navi
giorum Regis .
271 A ’ viſta deſta antiguidade tiveraó alguns
para fi , que a cauſa de pertenderem os Irmãos do
Santiflimo deſta Paroquia hombrear nos actos publi
cos proceffionaes com os da Freguezia de Noſſa Se
nhora dos Martyres, cra reſpeitando a igual prima
zia das ſuas origens, e erecções ; o que nao póde
ſer , porque a dos Martyres hë ſem controverfia mais
anciga . A razao fundamental defta igual concurren
cia procede da tradiçao , que ha de ſerem os Irmãos
do Santiſlimo da Magdalena os primeiros , que neſ.
ta Cidade incroduziraó as oppas , ou çapas verme
lhas , fem embargo , que nao falta quem lhes refuta
eſta primeira invençao. ( 1 )
272 Sempre foy eſta Igreja do Padroado Real ,
como conſta do Cenſual da Mitra feito pelo Arce
biſpo D. Fernando de Menezes no anno de 1547 ;
que vimos , e de hum contrato celebrado no anno
de 1392 , ſendo Biſpo de Lisboa D. Theobaldo , em
que com authoridade Regia , ſendo Prior , ou Rei.
tor o Meſtre Joað Fogaça , ſe dividirao os frutos
delta Igreja entre o Prior, e Beneficiados , que até
aquelle tempo viviaó juntos em humas caſas miſti
cas à Igreja. Preſentemente he do Padroado das Se
reniſſimas Rainhas , e era reputado o ſeu rendimen
to até o dia do terremoto em ſeiſcentos mil reis .
273 Ha neſta Igreja cinco Beneficios de cem
mil reis cada hum , que apreſenta , e colla o meſmo
Prior . Havia mais de quarența Capelláes : obrigados
a dizer Miffa neſta Igreja todos os dias , Cooſtava
ella

[ 1 ] Fr. Apollinar. na Demonftr. Hiftor, num . 151,


Da Cidade de Lisboa. 363

ella de onze Altares. O Altar mór era adminiſtrado


pela Irmandade do Santiſſimo , a qual com toda a
grandeza em as feſtas , que celebrava , dava bcm a
entender o ſeu zelo , é obſequio , apreſentando , e
adminiftrando vinte e huma Capellas de differentes
ordenados.
7 : 274 No Altar da parte do Evangelho , e mais
proximo à Capella mór, que era de Santa Anna , ſe
havia collocado no anno de 1715 a ſagrada, e anti
quiflima Imagem do Senhor Jeſus dos Perdões , na
qual o zelo do Padre Pedro de Oliveira inftituio hu
ma nobre Congregaçao , e em todas as primeiras
Sextas feiras dos mezes ſe expunha o Santiſſimo no
lado da mefma Imagem com muitas indulgencias.
Participava eſta Irmandade de huma eſpecial Sacriſ .
tia ornada com hum bom numero de Reliquias ; clip
tre as quaes ſe distinguia a do Santo Lenho , chum
offo de Santa Catharina , que deu o Biſpo de Ta
gafte D. Manoel da Silva Francez , feu primeiro
Protector.
275 Seguia - ſe a Capella de Santa Luzia, que em
algum tempo feſtejavao os Corrceiros . No outro
Altar immediato , que era de S. Chriftovañ , eſtava
collocada a biella' Imagem do Menino Jeſus com o
título deBom Paftor , e a de S. Tude ; a cujos fi
mulacros feſtejavao devotos particulares folemnilli
mamente . O Alcar , que ſe ſeguia , era dos Santos
Apoftolos , Simao , é Judas , onde tambem ſe vene
tava huma Imagem da Senhora Santa Anna. O ul
timo Altar proximo à porta era o de S. Clemente.
276 Da parte da Epiftola era o primeiro o de
Noſſa Senhora das Candeas'; o ſegundo o de S. Mi
guel , e Almas com vinte . Capellaes de cincoenta
mil reis cada hum , extrahida toda eſta renda das el
molas da bacia ; o terceiro de S. Cofme , e S. Da
miao , a quem feſtejavaó os profeſſores da Medici
na . O quarto de S. Eloy , cujo culo corria por
conta dos Ourives da prata. O quinto , e ulcimo era
Zz ii de
364 Mappa de Portugal
.

de S. Sebaſtiaó o mais antigo deſta Igreja , ea quem


feſtejavaõ os Alfayates da rua do Principe.
277 Nefte forentiſſimoeſtado ſe achava tað ve
neravel Paroquia , quando reſiſtindo vitorioſo o feu
Templo ao incidente do terremoto , nao pode toda
via eſcapar ao incendio ſucceſſivo , que tudo redu
zio nelle ao ultimo eſtrago , e deſtruiçaõ : livrando
ſe unicamente o Santiſſimo Sacramento por diligen
cia do Paroco Joao Pinto da Cruz , que fem algum
ornato , mas como fugindo apreſſadamente de cao
violento inimigo , ſe foy refugiar abraçado com a
ſagrada Pyxide em a Igreja de Santa Apollonia ;
donde veyo depois agregarſe à Fregueria de S. Ju.
liao em huma pobre barraca no Terreiro do Paço ,
donde paſſou para a Freguezia de S. Martinho , em
que ainda exiſte. Pereceraõ neſte horrivel fracaſſo
cento e trinta e nove peſſoas.
278 ' Achavao - ſe erectas no territorio defta Pa ,
roquia as ſeguintes 3

Ermidas.

Noſa Senbora da Aſſumpçao. Era huma pequena


Ermida , que eſtava no meyo da rua dos Ourives da
prata , a qual elles fabricaraó à ſua cuſta no anno de
1097 , e a tinhaó muito bem ornada . O fogo a con
fumio de forte , que nao permanece della , nem fi
pal onde eſteve .
Noſa Senhora de Belem . Era hum Hoſpital , ou
Albergaria , chamada Hoſpital dos Palmeiros funda
do no anno de 1330 , ſegundo ſe colligia de hum
letreiro , que eſtava por cima da porta . ( 1) Tam
bem o incendio totalmente o conſumio .
279 Conftava efta Freguezia antes do terremoto
de oitocentos fógos, c tres mil ſetecentas peſſoas de
com

[ 1 ] Veja - ſe o Summario de Chriſtovao Rodrigues de Oliveira , ct


Corograf. Port. 3. P.453 . co Santuar.Marian .tom . 7. p, 144.
Da Cidade de Lisboa. 365

communhao : hoje acha - fe com quatro fógos ,


quatrocentas e trinta e quatro peſſoas diſpertas por
varias barracas ; porque as ruas totalmenteſe extin
guirao com a ruina dos edificios : craó ellas as fe
guintes.
Ruas.
Arco do Caranguejo , Arco de D. Tereſa , Are
mazons , Caes da Pedra , ( 1 ) Calçada do Correyo ,
Calçada decrás da Igreja , Carneçarias , Celleiros ,
Confeitaria , Correaria , Eſcada de pedra , Fanca
ria , D. Gil e Annes , . Hoſpital dos Palmeiros , Lou
ceiras , D. Mafalda , Padaria , ( 2 ) Pedras negras ,
Pelourinho , ( 3 ) Porta de ferro , Porta do Terrei
ro ,

[ 1 ] Efte Cacs , que ultimamente ſe havia ampliado , e reedificado


com toda a fortaleza experimentou huma total ſubmerfaó em o fatal
dia do terremoto ; tragando - o o mar com caó exquiſito furor , e nella
a muitas peſſoas , que por muitos dias ſe lhe nao pode conhecer fundo
do ſeu abatimento. [2] Neſta rúa , que era habitada de officiaes de
C ,apateiro , houve no meyo della da parte direita , indo da Miſericor
dia para Santa Maria , humas caſas chamadas o Paço dos Tabelliács ,
onde como em Tribunal aſſiſtió Notarios publicos , que faziaó El
crituras , e outros inſtrumentos de compras , e vendas , & c. Da ori.
gem deſte quaſi Tribunal nað ſe acha memoria ; o que sabemos he,
que pelo deſconcerto dos tempos fc forað ein noflos dias inſenſivel.
mente exonerando deſta obrigaçað alguns dos ditos Tabeliães , e os
poucos , que ficaraó reſidindo no dito Paço alcançaraó de ElRey D.
Joao V. a faculdade , que lhe fupplicaraó de ſervirem os Officios em
ſuas caſas ; por cujo motivo ficando devoluto o tal domicilio , o pedio
ao ſobredito Monarca Felix Joſeph de Caryalho Moco da Prata, e Ef
crivao da Ouvidoria da Alfandega, o qual lho concedeo por hum A
viſo , que o Secretario de Eſtado Márco Antonio de Azevedo eſcreyeo
em 23 de Abril de 1749 ao Deſembargador Franciſco da Cunha Re
go , Vereador mais antigo da Camera de Lisboa. [ 3 ] Neſte ficio hao
via antigamente o cofume de aſſiſtirem varios homens com ſuas me
fas para eſcrever carcas . e petições às peſſoas, que tinbao dellas necef
fidade. Lembra-ſe diſto Damiao de Goes na Deſcripçao de Lisboa ,
que publicou na lingua Latina em o anno de 1554 , onde diz : E ' re
gione hujus portorii forum quod veteris pali ( iſto he, Pelourinho ve
lho ) vocatur, apparet , in quo femper non pauci homines menfis affiften
ses reperies, quos notarios , vel librarios vocare poſſimus , nullis tamen cis
yitatis minifteriis obligatos. Hi omnes ex hoc vita genere fibi alimenium
fus
366 Mappa de Portugal.

90 , Portagem , Principe , Rua nova da parte dos


Livreiros , Rua nova parte dos Mercadores , Rua da
prata , Terreiro do Paço , ( 1 ) Traveſſa dos Arma
zens , Veropezo .
Becos.
Açougue , Cura , Eſpera rapaz , Martim alho.
Freguezias confinantes.is
Noſſa Senhora da Conceiçao , S. Juliaó , S. Ma
mede , Santa Maria , S. Nicolao .

581 XXIV .
‫ور‬
Toni Santa Marinha ., Kirish
Santa Marinba

280
ta' principal delta Igreja da parte do E
vangelho , conſta ter ſido fagrada aos 12 de Dezem
bro de 1222 , ( 2) e efte he o documento mais cer
to da lua antiguidade. Foy ella do Padroado Real ,
que ElRey D. Diniz deu a Pedro Salgado , hoje
acha

ſupeditant , quod omnitem accedentium , mentesque fuas explicantium


fenfum affequantur , ordineque in eodem ipfo loco fubito fchedis , fcri
bant, petentibusque dato pro ratione materie pretio , tradant; in tantum
ut literas, epiſtolasque amatorias , elogia , orationes , epitaphia , carmi
na , laudes, parentalia , petitiones , fyngrapha, do cujufcumque generis
alia , qıla ab eis poftulareris , ad ea babeant difpofitum fcribendi ftilum ,
quod nullibi in torius Europa turbibus fieri vidi. O meſmo affirma
Chriſtoyaó Rodrigues de Oliveira , como ſe lê no feu Summario im
preffo no anno de 1951. [ 1 ] Huma das mayores praças,que tinha
Lisboa era eſte eſpaçoſo terrapleno , em o qual a viſta do Palacio
Real, e outros illuſtres edificios da parte da terra com a variedade das
muitas embarcações grandes , c pequenas no mar vifinho, formavao
huma bella perſpectiva. Desfigurou tudo o terrivel incendio ſucceſſi
vo ao terremoto, reduzindo a cinzas quando encerrava taó famoſo Pa
lacio; e ſobre tudo.com perda irreparavel a preciofiffima, e vafta Bi
bliotheca Regia.chea de innumera veis corpos de livros rariffimos , e
codices m . f . O Palacio fe tem demolido para fe projectar outro ar
tefacto, e formar huma nobiliflima praça de Commercio , com vam
rias accommodações para os Tribunaes. [ 2 ] Corograf. Port. tom . 3 .
pag. 363 .
Da Cidade de Lisboa . 367

acha - ſe na Ordem de Chrifto . O feu Prior he de


collaçað ordinaria , e tem alternativa com Roma :
reputa -ſe o feu rendimento em ſetecentos mil reis ,
por lhe andar annexa a Capella ', que aqui inftituio
o fobredito Pedro Salgado. ( 1) Ha na Igreja cinco
Beneficios com obrigaçao de Coro , que aprefenta
o Prelado , e rende cada hum oitenta mil reis .
281 As Capellas aqui eftabelecidas faó as fe .
guintes : huma do mencionado Pedro Salgado de
Milla quotidiana com quarenta mil reis ; eitabele
ceo mais o meſmo inſtituidor tres Mercieiras com a
congrua de doze alqueires de trigo fa cada huma ,
quinhentos reis em dinheiro , e caſas para morarem .
No anno de 1621 , inftituio aqui outra Capella a
Deſembargador , Carlos Brandao Pereira de Milla
quotidiana com a congrua de dezaſete mil e quinhen
tos reis cada anno , a qual ſe nað ſatisfaz , e vay pa
ra os legados nao cumpridos . Ha mais outra Capel
la de Miffa quotidiana com huma livre cada ſema
na , inſtituida pelo Fyfico mór do Reino Manoel
Pereira da Coſta com a congrua de cincoenta mil
reis. Foy muito pequeno o prejuizo , ou quafi na
da , que eſta Igreja experimentou no dia do grande
terremoto. Conftava antes delle de duzentos fogos
diſtribuidos pelas ſeguintes !
Ruas , e Becos.
Adro da Igreja , Calçada da Graça , e de Santa
Monica, Beco do Agulheiro , e das Cabras , largo
da Igreja , ie de Santa Monica , rua Direita , c da
Oliveirinha , e do Tijolo , Terreirinho , Traveſſa
de Santa Monica .
Freguezias confinantes.
Santo André , S. Thomé, s . Vicente .
XXV .

[ 1 ] Brandao na Monarq. Lufit. lip . 17. cap. 19 .


368 Mappa de Portugal.

XXV .
}
S. Martinbo .

282 Fundaçaõ defta Paroquia he reputada


A entre as antigas da Cidade , porque já
deſde o anno de 1168 , achamos em Eſcrituras me .
morias della . ( 1 ) Na meſma Igreja exiſte hum au
thentico documento da ſua antiguidade , pois entre
a Capella de S. Franciſco , e o cunhal do arco do
Coro eſtá hum nicho , que foy feito para confeffio
nario , no qual ſe lê em huma pedra a inſcripçao
ſeguinte :

XIII. K. Februarij. IHNVS Rami

rus.Hú . Eccæ Priorus Prefeitus

Obijt E. M. CC. XXI.

Quer dizer : Decimo tertio Kalendas Februarij Hiero


nymus Ramirus hujus Ecclefiæ Priorus Prefectus obiit
cra 1221. De cujo monumento ſe collige , que no
anno de Chriſto de 1183 , a que correſponde a da
ta da era de 1221, lograva eſta Igreja a preeminen
cia de Priorado . Tambem confta , que no primei
ro de Mayo de 1191 , aſſiſtira o Prior deſta Igreja
ao Synodo , que na Cathedral fizera o Biſpo D.
Sueiro Annes . ( 2 )
283 Com o cempo ſe arruinou o primeiro edifi
cio , e querendo o Conde de Villa Nova D. Gre
gorio de Caſtello Branco correr com o diſpendio da
ſua reedificaçao , lhe lançou ſolemnemente a pri
meira pedra nos fundamentos da nova Igreja a II
de Novembro de 1634 , ſendo entað Prior della o
Doutor Simaó Torrezaó Coelho Deputado do San
to

[ 1 ] Vide Cunha no Catalogo dos Biſp. de Lisb. part. 2. cap. 7. n.4.


[ 2 ] D. Nicol. de Santa Maria Chron .dos Goneg. Regr. part. 2. cap.11 .
pag. 145..
Da Cidade de Lisboa . 369

to Officio , e Lente da Univerſidade. Da memoria


defta reedificaçao conſta , que a primeira pedra fun
damental ſe collocara naquella parte , em que ſe le
vantou o cunhal daIgreja , ſobre que eſtá fabrica
do o arco do paſſadiço , que vay das caſas do Con
de para a tribuna , e que a dita pedra eſtá coberta
com outra , a qual tem gravada a ſeguinte inſcrip
çao .

I HS .
TS
Anno à Chriſto nato MDCXXXIV . ſedente ad Ec
clefiæ Romanæ clavum Urbano VIII. P. M. Impe
rante Philippo Hiſpaniarum 4. & 3. hujus nominis
Lufitanie Rege , Ecclefiam iftam D. Martino Tue 3
ronen . Epiſcopo , & pauperum patri dicatam , teme
porum injuriis , jam ac vetuſtate labentem , avita
pietate , & regia magnificentia , propriis impenfis
iterum à primis erexit fundamentis , & in elegan
tiorem faciem , quam quondam habuerat , reftituere
curavit D. D. Gregorius à Caſtelbranco , Comes
Villa Nova Sortellia & Goeſiæ domus Dyma
....
nafta , Regijque corporis Cuftos maximus. XI. q.
Novembr. die eidem Sanétiſ. Præfuli facro , prie
mum iftum lapidem jecit.
284 Sao as Sereniſſimas Rainbas Donatarias def
ta Igreja , cujo Padroado ſe reputa- render quatro
ſc
centos mil reis , pouco mais, ou menos , porque
extrahem da quarta parte dos dizimos de Barcare
Da , e Alverca. Pelo novo Regimento da Caſa da
Supplicaçao ſe manda dar ao Paroco deſta Fregue .
zią trinta mil reis em gratificaçao , e reconhecimen
to do trabalho , que tem com os prezos das cadeas
do Limoeiro . Ha na Igreja quatro. Beneficios, que
apreſenta o Prior , os quaes ſao quatro A preftimos ,
ou Preſtimonios , que tem os Beneficiados fepara
dos do monte grande ; tres dos quaes rende cada
bum oitenta mil reis e o outro quarenta mil reis
Tom.III , Part. V. Ааа que
370 Mappa de Portugal.

que os podem comer inteiramente em caſa , ſe nað


querem reſidir ; porém reſidindo , tem além do grof
fo do ſeu Beneficio noventa alqueires de trigo e
huma pipa de vinho cada hum , fóra o que rende o
pé de Altar pro rata.
285 As Capellas , que ha neſta Igreja , faó eſtas :
huma de Milla quotidiana , e com a obrigaçaõ de
fe rezar_hum Nocturno a 3 de Novembro pela al
ma de D. Lopo de Caſtellobranco , de que he ad
miniſtrador o Conde de Villa Nova , mas nao ſe fa
tisfaz , por ſer de tenue eſmola. Outra de quarenta
mil reis, e de Miffa quotidiana pela alma de D. An
tonio de Caſtellobranco , a qual adminiſtra o Conde
de Valladares, e ſe latistaz . Outra de cem Miffas de
elmola ordinaria ditas no Altar da Senhora da Pie
dade pela alma de Joaó de Loredo. Ha outra deam
bulatoria , que ſe reduzio a ſeis mezes de Miffas , info
tituida por Marianna Preta de Negreiros , que tem
de congrua nao mais que vinte e cinco mil reis , pa
gos como juro na Theſouraria do Tabaco .
286 Padeceo eſta Igreja fuas ruinas com o er
pantoſo terremoto , abrindo - ſe , e cahindo aos ſeus
impulſos algumas porções das abobedas , e paredes ,
e precipicando -ſe hum dos finos da ſua torre , que
ſe fez em pedaços . Arruinarað - ſe tambem algumas
caſas pertencentes à Mefa Prioral deſta Igreja , e
outras mais da propria Freguezia , e com eſpeciali
dade as cadeas da Cidade , e da Corte , donde os
prezos fahiraó francamente , e a Caſa da Relaçao exa
perimentaraó horrivel deſtroço. Neita ruina falle
cera ) à porta da Igreja fete peſſoas , entre as quaes
ficou incluſo Paulo Farinha Sargento mór Enge
nheiro , cuja capacidade , e intelligencia nas mate
rias Mathematicas era digna de eſtimaçao ; partici
pando ſua mulher , e huma criada da meſma violen
ta morte , com que alli foraó acommetidas.
287 Paſſado hum mez , em que a mayor pertur
baçaó dos animos ſe havia algum canto ſerenado ,
foy
Da Cidade de Lisboa. $ 70

foy eſta Freguezia Gituarſe na Ermida de Santa Bar


bara às Fontainhas , onde eſteve por elpaço de no
ve mezes na companhia da de S. Jorge , em a qual
Ermida ambos os Priores exercitarao por turnos os
Officios Divinos , com huma alternada harmonia até
Setembro de 1756 , em cujo tempo , e dia do San
tillimo Nome de Maria , ſe reftituio a eſta antiga
Igreja de S. Martinho já reparada o ſeu Prior Ro
drigo Jofeph Dourado de Mariz Sarmento , cele
brando nella em acçao de graças Pontificalmente o
Excellentiſſimo Principal Portugal.
in 288 Conftava efta Freguezia antes do terremo
to de trinta fogos, e perto de trezentas pefToas, de
communha ) . Os meſmos conſerva ainda hoje , ex
perimentando fómente a diminuiçaõ nas peſſoas da
Limociro , por ficar desfeita , e totalmente inhabi
tavel a cadea da Cidade. Esta cadea , ou carcere de
malfeitores chamada Limoeiro , e a Caſa da Supe
plicaçao alli contigua foy obra ſumptuola , que
mandou fazer ElRey D. Manoel ., c. ſegundo eſcre
ve o Chroniſta mór Fr. Franciſco Brandaá , aqui
habitarao as Commendadeiras de Santos pelos annos
de 1405 , quando eſtes Paços erao do Infante D.
Duarte , filho de ElRey D. Joao I. ( 1 )
Ruas.
He muito pequena a extenſao deſta Paroquia
porque nað paſſa do beco do Bogio , que hé huma
rua, ou traveſſa , que fica logo abaixo da Igreja in
do para a de S. Jorge , e acaba no fim da cadea até
a Chancellaria excluſive. Tem mais nos ſeus limia
tes o pateo chamado do Carraſco , que fica para a
parte eſquerda da Igreja .
Freguezias.confinantes .
S. Jorge , Santiago .
Aaa ii XXVI.

(1 ) Goes Chron . de ElRey D.Manoel part. 4. cap. 85. Monarq. Lug


fit. liv, 17. cap. 57 :
372 Mappa de Portugal.

XXVI.

Noſſa Senhora dos Martyres.

289
" A aos Cavalleiros Eſtrangeiros , que aju:
darao ao famoſo Heroe D. Affonſo Henriques na
expugnaçao de Lisboa pelos annos de 1147. Havia
o inclyto Rey mandado benzer efte ſitio pelo Arce
biſpo de Braga D. Joao Peculiar , que o acompa
nhou neſta guerra , para ſervir de cemeterio decen
te aos corpos dos que morriaő na conquiſta deſta
Cidade , e logo aquelles Cavalleiros fizeraó erigir
nelle huma Ermida , onde collocaraó a Imagem de
Noſſa Senhora , ( 1 ) que haviao trazido na armada :
e porque ſe reputavaó por Martyres os que acaba
vaó a vida derramando ſeu ſangue neſta empreza , ſe
chamou delles a Senhora , e o Templo , ao qual de
pois de conquiſtada a Cidade ampliou mais o meſ
mo Rey .
i 290 Por eſta indubitavel origem ſem contradi
çaó alguma goza eſta Igreja da primazia entre as
mais Paroquias da Corte , corroborando nao pouco
eſta preeminencia naó ſó conſervarſe nella a primei
ra pia bautiſmal com a Inſcripcaó , poſto que reno
vada no anno de 1602 , de ſe ter alli bautizado o
primeiro Chriftao deſta Cidade , mas de eſtar de
poffe de tempo immemoravel de fazer com ſolem
ne prociffaó a feſta do Santiſſimo Sacramento na vera
pera do Corpo de Deos , primeiro que nenbuma
outra Freguezia da Cidade .
291 Foy eſta Igreja ſagrada , como conſta da
fua

[ 1 ] Por intervençaó deſta fagrada Imagem obrou Deos muitos mie,


lagres , o que dá a entender Camões no Soneto so da addiçaõ das Ri
mas apud Faria p . 351. Veja - ſe tambem o Santuar. Mariano tom . 1.
e a Fr. Apollinar, da Conceiçao , que no livro intitulado Demonſtração
Hiftorica tratoy largamente deſta Paroquia,
Da Cidade de Lisboa . 373
ſua Dedicaçao celebrada a 13 de Mayo , de que faz
memoria o Martyrologio Luſitano , e por tres vc
zes tem ſido reformada a ſua architectura. A pri
meira no anno de 1598 , em cuja obra , que durou
quatro annos , ſe gaſtaraố cinco mil cruzados cxtra
hidos de huma finta , que ſe lançou por todos os
ſeus freguezes. A ſegunda no anno de 1710 , cm
que ſe deſpendera mais de cincoenta mil cruzados.
A terceira ſe concluio no anno de 1750 com o dif
pendio de mais de cem mil cruzados , procedidos de
eſmolas parưiculares , ficando deſta ultima vez reco
dificada na ultima perfeiçao , eſpecialmente na ma
gnificencia interior do Templo, ſem duvida hum
dos melhores da Corte . )
292 O rendimento do Paroco he todo extrahido
do chamado pé de altar , que importava quinhen
tos mil reis cada anno ', dos quaes levava o dico Pa
Foco metade , e a outra metade ſe repartia por tres
Coadjutores. O Eminentiſſimo Patriarca apreſenta
o Paroco com titulo de Cura , e eſte apreſenta o
Theſoureiro , que terá de congrua cem mil reis.
Na ) tem Beneficiados efta Igreja , mas tem Coro
onde rezañ todos os dias as Horas Canonicas , que
teve principio em Quarta feira mayor do anno de
1733. Conita de nove Capellães cantores , que apre
ſenta , e adminiftra a Irmandade do Santiſſimo com
a congrua de cem mil reis huns, e cento e vince ou
tros .
293 Tem eſta Igreja varias Capellanias de dif
ferentes inſtituidores, que adminiftra , e apreſenta a
meſma Irmandade do Santiſſimo , a ſaber : ſete de
fefſenta mil reis pelas almas de Duarte Teixeira , e
de Joao Vanganipe , e do Conego Manoel da Silva
Cardoſo : huma de cem mil reis pela alma de Gui
lherme Cabral Botelho : huma de oitenta mil reis
por Manoel dos Santos : duas Capellas , e meyo an .
nal de Miſſas de fetenta mil reis por Gonçalo Dias
de Aguiar. A Irmandade das Almas com doze Can
pelo
374 Mappa de Portugal.

pellães de cincoenta 'mil reis cada hum extrahidos


do rendimento , e pedicorio da bacia . Além dettes
Capelláes apreſenta , e adminiſtra a meſma Irman
dade oito Capellas de varios inſtituidores , que ſao
quatro de ſetenta mil reis , tres de ſeſſenta , e huma
de cincoenca . Na meſma Capella , ou Altar das Al.
mas inſtituio Martim Gonçalves de Souto tres Ca.
pellas de cincoenca mil reis , que administra , e pro
vê a Meſa da Miſericordia , e no Altar de Noſſa Se .
nhora da Piedade inſtituio Manoel da Coſta Calhei.
ros tres Capellanias. de oitenta mil reis , que admi.
niſtra a Irmandade do Santiſſimo.
294 Além deſtas Capellanias diſpendia a Irman,
dade do Santiſſimo groſſo cabedal em muitas obras
pias . Em cſmolas a freguezes neceſſitados tres mil
cruzados cada anno. Dotava annualmente a doze
donzellas com cem mil reis a cada huma ; e dava
mais ſeis dotes de cincoenta mil reis cada hum a mo .
ças donzellas , dous em dia de S. Joao Bautiſta , dous
em dia de Santo André , hum em dia de Santa Bar ,
bara , e outro em dia da Senhora dos Martyres. Em
fim he tal a caridade dos Irmãos do Sanciſlimo deſta
primacial Paroquia , que ſendo o ſeu rendimento no
ve contos e quinhentos mil reis pouco mais , ou me
nos , ſempre a deſpeza excedia todos os annos ordi.
nariamente à receita.
295 A mayor parte deſta opulencia ſe deftruia
com o fatal terremoto , porque eſte a arruinou , eo
incendio acabou de deſtruir nao fó a Igreja Paro
quial , mas Templos, e propriedades , que havia em
todo o ambito da ſua Freguezia : ſepultando -ſe en
tre as ruinas , e as chammas , o que nao he poſſivel
reduzirſe a calculo . Apenas eſcaparaó dez familias
no pateo de dentro chamado dos coches em o pala
cio do paço do Duque . Aqui ſe faz deploravel a
grande perda do Carcorio da Sereniflima Caſa de
Bragançı, que nao havia muito tempo eſtava redu
zido à mais diſtincta arrumaçaó pela excellente idéa
do
Da Cidade de Lisboa .
375
do Meſtre de Campo General , e ſeu Guarda mór
Manoel da Maya .
296 Paſſado o dia do terremoto foy eſta Paro .
quia refugiarſe em huma barraca , que por modo de
Ermida com o titulo de Noſſa Senhora da Concei
çao ſe havia levantado na quinta das calas , em que
relidem os Reverendos Doutores Ignacio Barboſa
Machado , e ſeu irmao Diogo Barboſa em o ſitio de
Relhafolles , e alli efteve até veſpera de Natal , em
cujo dia ſe transferio para a Ermida de Noſſa Se
nhora dos Martyres fita ao Rego nas calas dos her
deiros de Jacinto Dias Braga , onde ſe cantaraó a
primeira vez Marinas da feſtividade do Natal : aqui
eftiveraó expoſtos à publica veneraçao , ainda que
em pobre depoſito , os veneraveis oſſos, e Reliquias
dos Santos Martyres , que padeceraó por Chriſto na
expugnaçaõ de Lisboa , e a quem as chammas uni
camente perdoaraó. Depois paſſou a Freguezia a ef
tabelecerſe na Ermida de S. Pedro Gonçalves ao
Corpo Santo em omeyo da Quareſma de 1756 , on
de preſentemente ſe acha .
297 Dentro dos ſeus limites ſe comprehende o

3 Convento .
1
S. Franciſco. Chamado da Cidade . Foy fundado
pelo S. Fr. Zacharias , governando EIRey D. Af
fonſo II . no anno de 1217 , e ampliado por outros
Monarcas Portuguezes. Tem padecido varias rui
nas por cauſa de incendios , como foraó o de Junho
de 1707 , e o de 30 de Novembro de 1741 , que re
duzio a cinzas o Convento . Achava - ſe elle já récu
$ perado deſde os alicerſes em tudo , que tocava da
parte do Naſcente , e do Norte , e ſe hia continuan
do da parte do Poente : tendo- ſe gaſto na obra até o
anno de 1755 , em que ſuccedeo o terremoto , mais
de ſeiſcentos mil cruzados , extrahidos nað fó da
conſignaçao Regia , que crao cem mil cruzados em
dez
376 Mappa de Portugal.

dez annos , que lhes concedeo o Fideliffimo Rey D.


Joao V. , e lhes continuou o Fideliffimo Senhor D.
Joſeph I.; mais de duzentos mil cruzados de eſmo
las do BraGl ; quarenta e cres , que deu a Santa Ca
fa de Jeruſalem ; dezoico , que ſe tirou na Corte , e
cinco do Biſpado do Porto ,
208 Deſta forte ſe hia reftabelecendo hum dos
mayores edificios fagrados , que tinha Lisboa , por
que a Igreja era formofiflima. Conſtava de tres na
ves formadas com doze columnas de notavel altura ,
Era o ſeu Coro muito alegre , eſpaçoſo , e nobilif
fimo , e tinha o tecto de abobeda pintado de excel
lente architectura pelo famoſo Baccarelli. Ornavao
a Igreja muitas Capellas, algumas de grande cufto ,
e nellas ſe dava culco a muitas Imagens de Jeſus
Chrifto , e de Maria Santiſſima.; deſta eraõ mais do
onze , tendo todas ſuas Irmandades , que tratavao
dellas com exemplar devoçað ; excedendo a todas a
da Ordem Terceira , de que erao Irmãos. todas as
Peſſoas Reaes 3 e quaſi toda a Fidalguia da Corte ,
e innumeravel gente de todos os eſtados : dizem que
em alguns annos chegou a numerar vinte mil Ir
mãos , e render ſeſſenta mil cruzados..
299 Acbava- ſe neſta conformidade tao grande
Templo , e Convento , em que affiftiao duzentos
Religioſos, e elle com a duraçao de quinhentos e
trinta e oito annos deſde a ſua primeira, fundaça ,
promettendo quafi eterna permanencia , ſegundo a
fortaleza , com que hia reedificado ; porém o for
midavel terremoto deſtruio , e abateo totalmente , o
Coro , Igreja , Capella mór , as varandas do clauf
tro grande junto da Igreja , e os ſeus arcos , que ſe
confervavao na reedificaçao ; e ſobrevindo logo o
yehemente incendio converteo em cinzás a mayor
parte do Convento , e Igreja com todos os viveres
da Communidade , toda a ſua livraria , que conſtava
de mais de nove mil volumes ; todas as ſuas alfayas ;
as muicas , e precioſas da Veneravel Ordem Tercei
ra ;
Da Cidade de Lisboa. 377

rá ; as da celebre , e antiga Irmandade da Madre de


Dcos , e ſua excellente Capella ; a de todas as mais
Irmandades , e ſe preſume, que derreteo a mayor par
te da prata ; pois até agora nao tem apparecido mais
que hum Calix , e hum Thuribulo . Sendo o mais
ſenſivel deſte fracaſſo a morte de quafi ſeiſcentas
peſſoas , e doze Religioſos , que pereceraõ dentro
da Igreja , e Convento , porque como a ruina foy
fubitanca naõ deu lugar a que a muita gente , que
eſtava dentro podeffe toda porſe em ſalvo.
300 Da obra nova ainda ficou livre a quadra ;
em que eftá o Hoſpicio da Terra Santa para a par :
te do Sul, que conſta de tres Dormitorios , e de ef
paçoſas caſas de officinas : aqui ficaraó poucos Re
ligiofos, porque os mais ſe pararað para o ſitio de
Campolide , onde fizeraó logo huma pobre barraca
de lona , para ſe abrigarem das inclemencias do tem
po , e nella a primeira vez , que rezaraó , foy em
veſpera da Conceiçao da Senhora no meſmo anno :
porém como eſtavao alli padecendo muitos incom .
modos , ſe reſolveraõ transferirſe para o ſitio do Ra
to , e na quinta de D. Elena , hoje dos Padres da
Congregaçao de S. Filippe Neri , erigira ) com o
adjutorio de varias eſmolas huma Ermida de madei
ra com tres Altares , e ſeu Coro , onde em veſpera
de Natal do dito anno deráõ principio aos Divinos
Officios, e à erecçao de hum Convenținho com as
accommodações poffiveis , em que exiftirao até que
ſe transferirao para o ſitio antigo do ſeu Convento ,
que em Agoſto do anno de 1757 ſe principiou a
deſentulhar .
Hoſpicio.

Dos Miſionarios de Varatojo. Teve principio no


anno de 1685 por mercê de ElRey D. Pedro 11.,
e exiftia na Cordoaria nova . Ficou totalmente der
truido com o terremoto , e fogo. ElRey D. Joſeph
I. lhe fez mercê para Hoſpicio de dousquartos das
Bbb cás
Tom.III . Part.V.
al
378 Mappa de Portug .

caſas que forao dos Padres da Companhia na rua da


Conceiçao à Cotovia .

Recolhimento .

De Meninas pobres. Foy eſtabelecido no anno de


1746 por Ignez de Jeſus Maria na rua do Ferregial ;
viviao de eſmolas , e andavao veſtidas no habito de
Nofia Senhora do Carmo . Deftruio - ſe com o terre.
moto , c incendio .

Ermida .

Noſſa Senhora da Graça . Exiſtia nos Paços da Se


reniffima Caſa de Bragança. Foy reedificada no an
no de 1712 , e nella ſe faziao duas feſtas cada anno :
å primeira em 4 de Outubro , e a ſegunda no dia
oitavo da Conceiçao , cujo obſequio lhe tributavao
os Academicos da Academia Real da Hiſtoria . Tam
bem o fogo lhe nað perdoou , reduzindo - a a cinzas ;
devendo - ſe com razao lamentar entre as grandes
perdas , que neſte infortunio padeceo Lisboa ,naó ſo
a ruina deſte ampliflimo palacio , mas o importante
theſouro de alfayas precioſas, que os Monarcas Por
tuguezes alli conſervavaó .
301 Conſtava efta Freguezia antes do terremo
to de mil e ſeiſcentos fogos , e quafi fete mil peſo
ſoas : Depois no anno de 1756 fe derobrigarað nella
como freguezes duas mil e duzentas e oitenta e oito
pelloas de communhao : e na Quareſma do anno de
1757 ſe deſobrigaraó mil e trezentas e cincoenta e
cinco peſſoas . Repartiab - ſe pelas ſeguintes
Ruas.
Ametade , Arco de D. Franciſco , Barroca , Boa
viagem , Cabides, Calçadinha , que vay para o Cor
po Santo , Cheado Commendadeira , Cordoaria
Nova , e Velha , Corte Real , Cruzes de S. Frane
ciſco , Cubertos, Cura , Direita dos Martyres , Di
rei
Da Cidade de Lisboa. 379

reita das portas de Santa Catharina , Ferregial, Fi.


gueira , Fontainhas , Fundiçao , Luiz de Caftro ,
Manga ,Oliveirinha , Oiteiro , Paço do Duque ,
Pelada, Parreirinha , Picadeiro das portas de Santa
Catharina , Pocinho , Saco , Sobre o Muro , Ter,
reiro de S. Franciſco .
Becos .
Amcadoeira , Cancello de cima , e de baixo , Cor
tezia , Forno da Rocha , Manga , Pelada Pedro
Rodrigues. Quaſi todas eſtas ruas ſo vem deſertas,
e confundidas.
Freguezias confinantes.
Noſſa Senhora da Encarnaça , S. Juliao , S. Ni
colao , S. Paulo , Sacramento .

XXVII .

Noſſa Senhora das Mercés .

302 Stando a Santa Igreja de Lisboa em Sé


vacante pela morte de ſeu Arcebiſpo D.
Rodrigo da Cunha , concedeo o Reverendo Cabi,
do licença no anno de 1652 ao Deſembargador do
Paço Paulo de Carvalho , para que fe pudeſſe efta .
belecer em Igreja Paroquial huma Ermida fita na
rua Formoſa , e dedicada a Noſſa Senhora das Mer
cês, junto da qual havia bum Recolhimento de mu
lheres devotas, que depois de extinguio ; a qual Era
mida elle reedificara com grandeza , annexando - a
em cabeça de hum morgado , que inftituira. ( 1 ) Per
miccio - lhe o meſmo Cabido privilegio de poder , com
mo Padroeiro , apreſentar Cura , Coadjutor , c
Thefoureiro , cuja regalia herdao ſeus fucceffores ,
de quem he hoje ſeu ſobrinho o Illuftriffimo, e Ex ..
cellentiſſimo Conde de Oeiras Sebaſtiaó Joſeph de
Carvalho e Mello , Secretario de Eltado de El
Bbb ii Rey

[ Santuar. Marian. tom. 7. pag. 91,


380 Mappa de Portugal .

Rey Fideliſlimo dos Negocios do Reino .


303 Tem o Paroco predicamento de Cura , o
de renda mais de trezentos mil reis : ao Coadjutor
renderá cento e vinte mil reis , e ao Theſoureiro ſe
tenta mil reis . Conſta de duas Irmandades ; a do
Santiſlimo Sacramento , que apreſenta oito Capellas
de Milla quotidiana , duas de feſſenta mil reis , hu
ma de cincoenta , e as outras de quarenta. A Ir
mandade das Almas tem hum Capellaó de Milla quo
tidiana com a congrua de cincoenta mil reis. Asou
tras Capellas aqui inſtituidas faó eſtas : huma pela
alma do primeiro Padroeiro de feſſenta mil reis : ou
tra que inſtituco o Padre Caetano Lopes Prior , que
foy da Igreja da Magdalena , com a congrua de fer
ſenta mil reis : outra que inftituio D. Antonia Ma
ria do Amaral de cincoenta mil reis , è Miſſa quoti
diana , da qual he hoje feu adminiſtrador Caetano
Joſeph da Silva Sena .
304 Neſta Paroquial Igreja com o memoravel
terremoto ſe arruinou a tribuna da Capella mór , a
frontaria da Igreja , a torre dos finos, quebrando- ſe
todos os que nella eftavaó , e com o ſeu precipicio
ficou deſtruido o Coro 3 e humà nobiliffima cala da
tribuna , que alli tem o Padroeiro . Padeceraó tam
bem conſideravel ruina mais de ſetenta proprieda
des de caſas dentro dos limites deſta Paroquia , das
quaes a mayor parte ſe achao reſtabelecidas , em cu
ja deſtruição perderaõ a vida mais de noventa peſ
foas. Obrigou eſte aperto ao Paroco transferir o San
tiſſimo para a Ermida da Aſcenſaó de Chriſto , ſita
na Calçada do Combro , que ficou livre , e aqui ef
teve em quanto a Igreja Paroquial ſe acabou de ree
dificar das ruinas , tornando'a mudarſe para ella o
Santiſlimo Sacramento com huma folemniflima pro
ciſſa ) a 22 de Mayo de 1757 , onde permanece .
305 Os ſagrados edificios , que ſe achaó erectos
dentro do territorio deſta Freguezia , ſao os ſeguin
tes ,
Con ,
Da Cidade de Lisboa . 381

Convento

Nola Senhora da Divina Providencia . De Clerigos


Regulares de S. Caetano . He Caſa , que fundou o
Padre D. Antonio Ardizone deſde o anno de 1650
por conceſlao de ElRey D. Joao IV . , e ſe foy au
gmentando mais com a piedade , e grandeza do Se
nhor Rey D. Pedro II. , que concedendo - lhe fa
culdade para mayor edificio
edificio , ſe lhe deu principio
em 7 de Abril de 1698
pedra o Cardeal Arcebiſpo D. Luiz de Souſa , a qual
Igreja de nað acabou . Todo eſte ſagrado edificio
padeceo baſtante ruina com o terremoto , por cujo
motivo paſſou a mayor parte dos Religioſos para a
! ſua quinta do Campo Grande , e outros para as ca
ſas dos feus parentes : porém a diſpendio do Padre
D. Luiz Caetano de Lima ſe reparou a Igreja , e o
Convento de fórma , que os Religiolos le reftitui
raõ a elle pela Quareſma de 1757 :

Collegio.

S. Pedro e S. Paulo. Foy fundado no anno de


1632 por D. Pedro Coutinho Fidalgo de grande
zelo pela Fé de Chriſto , pois o inſtituio para Se
minario de Inglezes Catholicos Romanos , os quaes
aprendem aqui Filoſofia , e Theologia Dogmatica
para confutar os Hereges nas Miſsões de Inglater
ra , e outros Paizes hereticos. He feu Protector o
Inquifiacr Geral . A ruina que padeceo com o ter
remoto , ſe acha já recuperada .

Moſteiro.

Noſſa Senbora da Conceiçao. De Carmelitas Del


calças . Fundou - o no ſitio dos Cardaes D. Luiza de
Tavora , Commendadeira do Moſteiro de Santos pe
los annos de 1681. Teve grande ruina pelo terre
MO
382 Mappa de Portugal.

moto eſte Moſteiro, e allim as Religioſas mandarao


erigir barracas na ſua cerca , onde ainda ſe conſer
vað, em quanto ſe repara o Moſteiro , c Igreja.

Hofpicios.

Nola Senhora dos Anjos, Etta Gtuado na traveſſa


do Oratorio , e he de Millionarios de Brancanes der.
de o anno de 1717 , porém fundado com melhor
accommodaçaó no anno de 1725. Pequeno prejui
zo padeceo com o terremoto .
Noſa Senhora do Carmo. De Religioſos Carmelie
tas da Provincia de Pernambuco .
Noſa Senhora da Conceiçao. De Religioſos Fran
ciſcanos do Rio de Janeiro , ſituado na traveſſa da
Eſtrella , e eſtabelecido no anno de 1703 .
Nola Senhora da Conceiçao. Exiſtente na rua do
Carvalho de Religioſos Franciſcanos da Ilha da Ma
deira. Todos eſtes tres Hoſpicios ſe achạā reftitui
dos da pequena perda , que tiveraõ com o terremo
to .
Ermidas.

Noſa Senhora da Ajuda , e Santos Fieis deDeos. Foy


fundada no anno de isi por hum Affonſo Braz , e
depois addicta à Archiconfraria do Hoſpital de
Santo Eſpirito em Roma . Defta Ermida eſcreve Fr.
Agoſtinho de Santa Maria no Santuar , Mariano tom ,
7. pag . 26 .
Afcenfaõ de Chrifto. Foy fundada no anno de 1500
por hum Antonio Simões de Pina . Ficou livre dos
terriveis effeitos do terremoto .
Noſa Senhora do Carmo. Erecta na rua Formoſa ,
de que he Padroeiro Manoel de Sampayo e Pina,
Tambem o terremoto lhe nao fez damno algum .
306 Conſtava eſta Freguezia antes do terremo,
to de oitocentos e quarenta fógos : preſentemente
ſe acha com diminuiçao , e tem as ſeguintes
Ruas.
,

Da Cidade de Lisboa. 383

Ruas .
S. Boaventura , Caecanos , Calçada do Combro ,
Cardaes , Carvalho , Cruz de Páo , Horta do Ca
bra , e do Conde de Soure , Jeſus , Moinho do ven
to , Roſa das Partilhas metade ſomente , rua Fore
moſa , Vinha .
Becos, e Traveſſas.
André Valente , Beco das Freiras, Conde de Sou
re , Fieis de Deos , Inglezes , Oratorio .
Freguezias confinantes.
Santa Catharina, Noſſa Senhora da Encarnaçaó ,
Santa Iſabel.
XXVIII .

S. Miguel

307 A origem , e antiguidade dofta Paroquia


DAnao achamos outro documento mais do
que a memoria , que Chriſtovao Rodrigues de Oli
veira faz della no ſeu Summario impreffo no anno
de ISS !, por onde ſe prova à ſua anterior exiſten
cia . Ó Padre Antonio Carvalho no tom . 3. da Co
rografia diz , que ſe reedificara à fundamentis no an
no de 1674 , por eſtar ameaçando ruina o edificio
antigo. ' He Igreja do Padroado Real , e o ſeu Paro
co tem o predicamento de Prior com a lotaçao de
trezentos mil reis. Ha nella quatro Beneficios com
obrigaçao de Coro , os quaes apreſenta o meſmo
Prior , e rende cada hum ſetenta até oitenta mil reis .
Conſta das Irmandades ſeguintes : a do Santiffimo
Sacramento , que apreſenta huma Capella de fellen
ta mil reis : a das Almas , que antes do terremoto
apreſentava treze Capellas de cincoenta mil reis ca
da huma : a do Senhor Jeſus da Pobreza . Tem cin
co Contrarias , a ſaber : a da Senhora Santa Anna ; a
da Senhora das Candeas , que algum tempo ſe inti
tulou dos Milagres pelos muitos , em que reſplana
decia : a de Santo Antonio : ca de S. Sebaftiao.
308 Nao
384 Mappa de Portugal.

308 Nað ficou eſta Igreja iſenta dos eſtragos,


que lhe cauſou o grande , e repentino terremoto ;
porque arruinando -ſe o tecto , que ficava ſobre o
Coro , o proſtrou , com tudo o que comprehendia :
tambem o precipicio das ſuas duas torres nao fó fez
eſtremecer as paredes do lado cſquerdo , mas quafi
as de toda a Igreja . Efte eſtrago obrigou a que ſe
eſtabelecerſe a Paroquia em humas calas fronteiras
ao Campo da Lā , donde ſe reftituio para a ſua Igre
ja depois de reparada quanto foy pollivel.
309 Conſtava antes do terremoto de oitocentos ,
e ſetenta fógos ; e de tres mil e ſetecentas peſſoas de
communhao . Depois experimentou a diminuiçao de
ametade , porque as melhores propriedades de ca
ſas , que eſtavaó no ambito deſta Freguezia , ficarað
ſummamente arruinadas , e ſeus inquilinos, e donos
paſſaraó para outros territorios ; e para eftas ruinas
pobremente reparadas vieraó affiftir gentes humil
des , e pela mayor parte homens de ganhar com a
utilidade , que tem dos novos armazens da Alfande
ga , onde lidao. As ruas , inda que algumas deſtrui
das , fað as ſeguintes.
Ruas.
Adiça , Banda da Praya , Caſtello Picaó , Chafa
riz de Dentro , Figueira , Largo do Adro , Pateo do
Almotacé , Pateo das Canas , Rigueira , rua Direita
de cima , e de baixo .
Becos .
Alcaçarias, ( 1 ) Alegrere , Alfama, ( 2) Azinbal ,
Bi

[ 1 ] Exiſtem aqui os banhos chamados das Alcaçarias de grande ati


lidade , nað ſó para quem os aluga , mas para remediar varios acha
ques , de que falla Mirandella no Aquilegio Medicinal cap. v . 9. 27 .
[ 2] OP. D. Rafael Bluteau no Vocab Portng. diz que efte he o bair
ro mais antigo de Lisboa . Onome he Arabigo , que quer dizer banho
de agua quente , conformeexplica Jozó de Barros nas antiguidades do
Minbo.cap. 2. E porque em Alfama ha grande copia de aguas cali
das , o já as havia em tempo dos Mouros , por iffo chamaraó a eſte
ficio Alfama, que correſponde ds Thermas dos Gregos. Os curioſos
podem ver a Duarte Nunes na Deſcripga . de Portugal cap, 12. pag : 34:
Da Cidade de Lisboa. 385

Bicha , Cardofa , Cativo , Cego , Corvina , Santa


Elena , Formoſa , Mel , Mexias , Mortos , Poci.
nho , Terreirinho do Meftre Leal..
Freguezias confinantes.
Santo Eſteya7 , S. Pedro , Salvador.

XXIX .

S. Nicolao .

310 A colao he huma das antigas de LisboaNi


,
pois conſta naó ſó por tradiçaó , mas pela Hiſtoria
Ecclefiaftica delta Diccele , que o Biſpo D. Mac
theus a mandara de novo erigir no anno de 1280 ,
pofto que neſte tempo ſe achava auſente em Italia .
( I ) E ſendo certo que ElRey D. Joao I. no anno
de 1430 annexara a renda dos frutos deſta Igreja à
UniverGdade de Lisboa , (2 ) bem ſe infere , que já
antecedentemente eſtava eſtabelecida , e que era do
Padroado Real .
311 Paſſados tempos foy preciſo reedificarle
( 3 ) e alim ſe transferio o feu Sacrario para a Ermi
da de Noſſa Senhora da Victoria , que eſtava dentro
dos ſeus limites , onde permaneceo até 8. de Agoſto
de 1627 , em cujo dia ſe reſtituio ſolemnemence pa .
ra a ſua Igreja reedificada , a qual ſe acabou de re
bocar no anno de 1650 , como conſta da Inſcripcao
de buma pequena pedra , que eſtava collocada na
parede da parte de fóra da meſma Igreja nas Col
Tom . III . Part . V. Ccc tas

(1) Cunha nos Biſp . de Lisboa part. 2. cap. 54. [2 ] Leitaó Ferrei
ra Notic. Chronolog. da Univ.de Coimbr.num. 1231. [ 3 ] Nas ruinas
da Igreja velha ſe acharaó algumas antigas Inſcripções em pedras, coa
0 mo refere Luiz Marinho de Azevedo , e tranſcreve huma no cap. 8.
do liv. 3. das Antig . de Lisboa: e dellas ſemoſtra hayer neſte ſitio Tem
e plo erecto à Deuſa Tethis por voto dos marinheiros, e barqueiros Lif
$ boncnfes no tempo da gentilidade, como bem fe perſuade o mencios
nado Franciſco Leitao Ferreira,
*
386 Mappa de Portugal.

tas da Capella de S. Bartholomeu , cujo letreiro dia


zia :

Aos 8 de Agoſto de 1627 fe paſou o Santiſſimo Sao


cramento de Nolla Senhora da Victoria para eſta
Igreja de S. Nicolao , e ſe rebocou com o dinheiro ,
que o Procurador ,e Theſoureiro do Reino alcança
rao da finta paſſada deſta Igreja 1650 .

312 He hoje eſta Igreja do Padroado das Sere .


niſſimas Rainhas, e nella tem havido alguns Priores
muito eſtimaveis pelas ſuas virtudes , como foy 0
Reverendo Prior Joað Piſſarro , que fallecendo a 6
de Mayo de 1660 com finaes de predeſtinado , ain
da vive a memoria das ſuas virtuoſas acções em to
da Lisboa . Rendia eſte Priorado antes do terremo
to hum conto quatrocentos e quarenta mil reis , de
que ao Prior nao pertencia tudo , por tocar à Uni
verſidade de Coimbra huma terça parte , por lhe
ſer annexa . Apreſenta o meſmo Þrior dez Benefi .
cios , que reſpectivè aos frutos renderá cada hum
cincoenta mil reis certos . Conſta o Coro , além dos
Beneficiados , de ſeis Capellães cantores com diffe
rentes ordenados. A Irmandade do Santiflimo apre
ſentava vinte e ſeis Capellanias tambem de congruas
diverſas ; e a das Almas apreſentava quatorze Ca
pellas de quarenta e oito mil reis cada huma .
. 313 Entre as mais Irmandades , que ſe achavao
aqui eſtabelecidas , cra veneravel por antiga a de
Noffa Senhora das Mercês ; porque trazendo ſua
origem de huma romagem , que certos devotos affer
vorados com o exemplo da feſta inſtituida em Alan
quer pela Rainha Santa Iſabel , faziao todos os an
nos indo de Lisboa à Igreja da Merciana com hum
cirio ; no anno de 1431 naó querendo admitillos os
Mordomos da Merciana por cauſa da peſte, que en :
tao affligia Lisboa , ós taes Confrades voltando del
contentes ,
eſtabeleceraõ a meſma Confraria em S.
Nicolao com o royo titulo de Nofra Senhora das
Mers
Da Cidade de Lisboa . 387

Mercês , e fazendo o ſeu Compromiffo , .nað ſó lho


approvou o Nuncio Jeronymo Riceno chamado Ca
beça de ferro aos 27 de Janeiro de 1538 , mas lhes
deu faculdade para erigirem Capella com adro , o
fino . Eſte compromiſſo foy depois confirmado por
D. Jorge de Almeida em 28 de Agoſto de isos , o
qual Compromiſo nos vimos , e começava : Confis
derando quao grandes , e maravilhoſas faó as obras de
Nollo Redemptor , e Salvador , &c. No anno de 1728
ſe agregou eſta Irmandade à Archi- Contraria' de
Santo Adriao de Roma , para participar das muitas
graças , e indulgencias , que os Summos Pontifices
lhe tem concedido .

314 No infauſto dia do grande terremoto expe :


rimentou eſta Igreja buma total , e horroroſa def
truiçao , e com o incendio ſubſequente a perda de
todo o ſeu movel precioſiſſimo ; e para que a lafti.
ma foffe mais ſenſivel, morrerao neſta tragedia den
tro dos limites deſta Paroquia perto de quatro mil
peſſoas. Ficando deſta forte -a Freguezia arruinada ,
deſerta , e inhabitavel : paſſou o ſeu Paroco a eſta
belecerſe na Ermida de Nofra Senhora da Pureza na
calçada da Gloria , onde actualmente exiſte ; haven
do eſtado , os primeiros dous mezes depois da fatali
dade , unida com a Paroquia de Santa Jutta em a
barraca do Rocio .
315 Dentro do ſeu territorio ſe achavaó erectos
os ſeguintes
Conventos .

Corpus Chriſti. De Religioſos Carmelitas Deſcal


ços . Foy fundado no anno de 1648 , lançando- lhe a
primeira pedra fundamental em 28 de Setembro o
Arcebiſpo eleito de Lisboa D. Manoel da Cunha . E
eſte meſmo lugar , que a aleivolia do traidor Do
mingos Leite , dirigido pela obediencia Caſtelha
na , havia eſcolhido para tirar nelle a vida a El Rey
D. Joao IV . , converteo a piedade da Sereniſima
Ccc ii Rai
388 Mappa de Portugal.

Rainha D. Luiza fua mulher em templo conſagra


do a Deos , a Maria Santiſſima , ao Anjo Cuſtodio ,
a S. Jorge , à Rainha Santa Iſabel, e ao bemavená
turado Portuguez Santo Antonio em agradecimento
de livrar milagroſamente a El Rey daquelle intenta
do parricidio . No anno de 1661 , entregou a meſma
Sereniſſima Rainha etta Igreja , e Convento aos Re
ligioſos Carmelicas. O terremoto , e incendio me«.
moravel poz todo eſte ſagrado edificio na ultima mi
feria , transformando em cinzas , o que nelle havia ;
fondo a perda mais para ſentir , a da Procuradoria
geral , onde ſe conſervavaó os titulos , padrões , e
eſcrituras originaes de todos os Conventos da Pro
vincia , com outros muitos papeis de grande impor
tancia de varias peſſoas deſta Corte , e Reino . Ven
do -ſe neſte aperto os Religioſos , determinaraó ir
para o Campo do Curral , onde armaraó huma de
ccnte barraca , e ſua Ermidinha , e aqui eſtiverao
até a Quareſma do anno de 1757 , em que fora5 ha
bitar para hum novo Convento , e Igreja , que eri
giraõ à fundamentis na Fregueria de S.Joſeph , no
principio da rua chamada do Paſſadiço.
316 Eſpirito Santo. Dos Padres da Congregaçao
do Oratorio de S. Filippe Neri . O Templo foy ree
dificaçao mandada fazer por ElRey D. Manoel pe
los annos de 1514 , pois o antigo , ſegundo conſta
de huma Eſcritura , que allega o Author da Coro
grafia Portugueza no tom . 3. pag . 445 , já eftava
erecto no anno de 1279. Para aqui ſe mudarao os
Congregados veſpera da Aſſumpçao da Senhora em
14 de Agoſto de 1674 , havendo permanecido na
rua nova de Almada no ficio chamado as Fangas da
Farinha , onde o Veneravel Padre Bartholomeu do
Quental ſeu Fundador havia inftituido a Congrega
çao em 16 de Julho de 1668 .
317 Floreciao aqui eſtes fabios Congregados no
pratico beneficio da educaçað literaria , em que ſe
deſtinaraó a enſinar publicamente a Grammatica ,
Fi
Da Cidade de Lisboa . 389

Filoſofia , e Theologia , com grandes eſperanças de


promover eftas faculdades , ſegundo o abreviado
ſyftema do ſeu novo Methodo : porém ſobrevindo
por Divina permiſao o formidavel terremoto , e
furioſo incendio , Templo , e Convento ſe reduzi
raõ a cinzas com tudo quanto occupavaó , e com a
morte de quatro Padres Congregados , e outras per
ſoas , que morrerao na Igreja , reputando-ſe entre
as mais perdas , por notavel a de huma preciofiffi
ma Cuſtodia de diamantes, e a grande collecçao de
eftimaveis Reliquias , que ſe veneravao no altar de
Jeſus Maria Joſeph , e a da inmenſa copia de livros
elcritos em louvor da Máy de Deos, que formavao
huma ſingular, e diftincta Bibliotheca Marianna. Os
Padres depois do infortunio paſſaraó para o ſeu Re
gio Convento das Neceſſidades, ſituado junto a Al
cantara , onde exercitað o meſmo magifterio com
grande applauſo dos doutos.

Ermidas.

Aſcenſao de Chrifto. Eſtava no largo de Valverde ,


e era adminiſtrada por trinta peſſoas circumviſinhas.
Foy erecta no anno de 1655 , ſegundo conſta de
hum letreiro , que ainda ſe lia por cima da porta tra
veſſa . Tinha ſeu Capella6 com caſas contiguas para
morar , e quarenta mil reis de ordenado . Junto del
ta Ermida tivemos o noſſo naſcimento , em que vi:
mos a primeira luz do mundo aos 2 de Fevereiro de
1701. Efta memoria , que muitos teráó por eſcuſa
da , nos deſculpa o amor da patria ", o qual ſempre
nos faz guardar no interior huma plena fatisfaçao ,
e lembrança dos primeiros objectos , que conhece
mos . Hoje porém nos ſerve de magoa a ſua dcplo
ravel ruina .

Noſſa Senbora da Palma. Ficava por detrás da Igre


ja de S. Nicolao . Da ſua primeira fundaçao ſe lem
bra Cbriftovao Rodrigues de Oliveira no ſeu Suma
mas
390 Mappa de Portugal.
mario . Reedificou -ſe no anno de 1717 , mas pelo
terremoto teve ſua ruina , e depois total extinçao
com o novo Plano da Cidade .
Noſa Senhora da Vitoria. Foy fundada no anno de
1556, como conſtava da inſcripçao gravada em hu
ma pedra ſobre a porta da Igreja . Fabricou - ſe nao
fó com o producto de cercas propriedades , que lhe
deixou Margarida Lourenço , mas com varias eſmo ,
las, que adquirirao os officiaes da Caldeiraria ſeus
adminiſtradores , é com as rendas de hum Hoſpital
chamado de Santa Anna ſituado às Fangas da Fari
nha , que incorporaraó , e unirao à Ermida > com
a meſma obrigaçao de curarem os enfermos . Tam
bem padeceo baſtante ruina com o terremoto ,
fogo , e depois totalmente ſe extinguio com o Plano
da Cidade .
Hoſpital.

318 Na Calçadinha chamada do Carmo , que


pertencia aos limites deſta Freguezia , eſtava hum
ſumptuoſo Hoſpital, em que ſe curavao com mui
ta caridade, grandeza , e afſeyo os Irmãos da vene
ravel Ordem Terceira do Carmo . Era neſte gene ,
so huma das obras magnificas da Corte , em que os
Irmãos gaftaraó mais de cem mil cruzados para
que muito concorreo o grande zelo do ſeu Padre
Commiſſario Fr. Joſeph de Jeſus Maria , que lhe
deu principio no anno de 1704. Acha- ſe preſente.
mence irreparavel nað ſó pelas ruinas , que lhe cau .
fou o terremoto e incendio paſſado , mas com a
erecçao da nova muralha , que ElRey mandou fazer
para amparar a Igreja do Carmo.
319 Conſtava efta Freguezia antes da infauſta
tragedia , de dous mil trezentos e vinte e cinco fó .
gos, e peſſoas de communhao nove mil e oitocen
ras e quatorze . Acha - ſe agora com quinhentos e ſe
tenta e cinco fogos, e com mil e quinhentase vin
te peſToas de communhaó , diſperlos, cabbarraca.
dos
Da Cidade de Lisboa . 391

dos por varias Freguerias da Corte. As ruas de que


conſtava , todas eitao deſtruidas , confuſas , e inha
bitaveis ; mas para que ſe nao perca de todo a ſua
memoria , eraõ as ſeguintes :
Ruas.
Arcas , Arco de Jeſus , Barreiro , Cabreiros , Ca.
briteiras , Calçada de Payo de Novaes , Calçado ve
lho , Caracol do Carmo , Chancudo , Crafta , Cru
cifixo , Curelaria , Douradores , Eſpingardeiros ,
Eſpirito Santo , Efeiras , Lagar do Cebo , Meſtre
Gonçalo , Mudas Odreiros , Pedras negras , Pie
chellaria , Pinovai , Poço do Chao , Quebracoftas
Saltciros , Servilharia , Sombreiraria , Forneiros
Valverde .
Becos .
Atafonas , Cardim , Carrança , Carretaó , Def.
narigada , Formofinha , Freira , Lamirante , Lu
zia , Manquinho , Mezes , Miſurada , Moças, Na
morados , Pocinho , Refrigerio , Regalada , Ro
lim , Sardim , Seiraó , Silveſtre.
Pateos ,
Almas , Eſnoga , Valentim Lobo.
Freguezias confinantes.
Senhora da Conceiçao , s. Juliaó , Santa Juſta ,
S. Mamede , Santa Maria Magdalena , Senhora dos
Martyres , Santiſſimo Sacramento .

XXX .

Santa Igreja Patriarcal.

Oy conſtituida a Capella Real em Paro


320 F quia deſde 24 de Agoſto de 1709 por
Breve do Papa Clemente XI . , que começa Piis Ca
tholicorum Regum votis : ( 1 ) e conſiderada eſta Igre
ja

[ 1 ] Codex Titul. S. L.E.P.com , 1. pag. as Monarq.Lufit,liv.19


5 cap.43:
392 Mappa de Portugal
.

ja com ſemelhante regalia , conſta de hum Cura ;


que o Eminenciſfimo Cardeal Patriarca apreſenta
como Capella ) mór , o qual cem de ordenado treo
zentos mil reis ; e de hum Coadjutor provido pelo
meſmo Prelado com a congrua de cento , e cinco
enta mil reis .
321 Pertence ao dito Cura adminiſtrar os Sa
cramentos a todas as peſſoas , que ſervirem , c reli
direm no Palacio de ElRey , ou ſejao ſeus criados ,
ou familias , e criados dos meſmos criados , com
tanto que todos tenha) ſua reſidencia no meſmo Pa
lacio ; e poito que tambem lhe percença o direito
referido pelo que reſpeica às proprias peſſoas dos
criados de ElRey diſperſos pela Corte , le nao ex .
tende às familias deſtes , e ſeus criados , que ſó ſao
Paroquianos da Freguezia , onde habitaó , como tu
do conſta de hum Acordao da Relaçao Eccleſiaſti
ca de is de Dezembro de 1957 explicando a ſobre
dita Bulla . Tambem faó freguezes deſta Paroquia
todos os Miniſtros , e peſſoas , que ſervem a Santa
Igreja Patriarcal, e Capella Real : e antes do ter
remoto lhe pertenciao os habitadores nos Cubertos
da Ribeira das Náos , que eras mais de quatrocen
tas peſſoas , por terem ſua reſidencia dentro dos
muros do Paco .
322 A Irmandade do Santiflimo Sacramento
aqui eſtabelecida em Novembro de 1709 pelo Fi
Jeliaimo Rey D. Joaá V. , o qual ſe conſtituio por
Juiz perpetuo , e a todos os ſeus criados elegeo pa
ra Irmãos do Santiſſimo , provê duas Capellas , hu
ma de cento e vinte mil reis , e outra de cem : pro
vê mais tres Acolytos , o primeiro com oitenta mil
reis, o legundo com ſetenta , e o terceiro com ſeſſenta .
323 Ha aqui outra Irmandade da Senhora das
ſete Dores , erecta com authoridade de Innocencia
XIII . aos 7 de Mayo de 1723 por ſupplicas da Au
guftiffima Rainha D. Maria Anna de Auſtria
qual conſta de muitas Indulgencias ', e graças con
се ,
Da Cidade de Lisboa.
393

cedidas aos ſeus Confrades . ( 1) Teve origem eſta


Irmandade na devoça ) , e affecto , com que o Pa
dre Bernardo Pinto dos Santos Capellao do Santir
ſimo deita Igreja , começou a venerar deſde o an
no de 1716 a milagroſa Imagem de Maria Santiſſima
pintada em hum Angular quadro pelo infigne Al
berio Dureiro , em que ſe via morto o Author da
Vida , e a piedoſa Senhora laftimada . ( 2) Exiſtia
eſte quadro em hum Altar dedicado à meſma Se
nhora com o titulo da Piedade , onde havia huma
precioſa Cruz de cryſtal de roca da altura de dous
palmos e meyo muito bem obrada , e metida em
hum Sacrario com ſeus vidros . A todos os fieis ,
que veneraſſem elta Cruz , que foy feita em Roma ,
havia o Papa Benedicto XIII . concedido no anno
de 1727 muitas Indulgencias. ( 3 )
324 Exiftia mais neita Igreja hum 'copiofo , e
eftimavel Santuario de innumeraveis Reliquias de
Santos diſtribuidas por todos os dias do anno , Era
tambem obra Romana de eſpecial attençao a Pia
Bautiſmal, nað ſó pelo exquiſico, e diverſo gene
ro de pedras , de que era fabricada , mas pelo bom
goſto de todo o artefacto , com grades de bronze
dourado de excellente lavor , que a cercavab , c
hum eſtimadiſſimo quadro do Bautiſmo de Chrifto ,
feito em Roma pelo notavel Agoſtinho Mallucci
no anno de 1745. A eſtas , e outras innumeraveis
precioſidades, que ornavao, e continha elta Santa
Igreja , conſumio o fatal incendio de forma , que
bem nos podemos lamentar com Iſaias. ( * ) Nao ſe
ſalvou della ſenao alguma prata derretida , da qual
ſe tem fundido mais de trinta mil marcos . Hoje ſe
acha eſtabelecida nas chamadas obras do Conde de
Tom . III. Part .V. Dud Ta

[ 1] Codex Titul . S.P. E. L. tom . 1. pag . 384. [ 2 ] Santuar. Ma


rian.com.7 . pag 158. [ 3 ] Codex ibid. pag. 397. [* ] Domus fancti
ficationis noftra, & gloria noftra , ubi laudaverunt te patres noftri, facta
eft in combuſtionem ignis , omnia deſiderabilia noſtra verja funt in
ruinas. Ifai, 64 ,
394 Mappa de Portugal.

Tarouca em o Gtio da Corovia , como já temos


dito .
XXXI .

S. Paulo .

325 E houvermos de dar credito a huns verſos ,


?que em forma de inſcripcaó collocados ſo
bre a porta deſta Igreja , e abertos em pedra , di ,
ziao alim :

Numen adeft intus , Paulo maiora canamus ,


Regia dum mirum munera pandit opus.
Æra ſalutis habet bis ſeptem ſecula Phæbi ,
Bis ſex annorum fi tamen excipias.

havemos de affirmar , que fora erecta no anno de


1412. ( 1) Porém da Relaçao de Chriſtovao Rodri
gues de Oliveira conſta , que no anno de isso nao
havia ainda tal Paroquia , nem Igreja , e que a me
moria mais antiga , que ha della he deſde o anno de
1572 , de que faz mençao Jorge Braunio no Map
pa de Lisboa ; e aſſim com certeza ſe nao pode fi
xar epoca verdadeira da ſua primeira origem .
326. O Paroco tem predicamento de Vigario , e
lhe rendia ſeiſcentos mil reis a Igreja , de quem he
Donatario o Eminentiſſimo Patriarca. Ha aqui hum
Coadjutor , que apreſenta o meſmo Prelado ', e tem
de congrua a quarta parte do rendimento da Igreja.
A Irmandade do Santiſſimo apreſentava dez Capel
las , das quaes a mayor cra de fefſenta e cinco mil
reis . A Irmandade das Almas provia dezaſeis de cin
coenta mil reis cada huma. Havia mais a Irmandan
de de Noſſa Senhora da Piedade com quatro Capel
Jāes de cincoenta mil reis cada hum : a Irmandade
de Noſſa Senhora da Boa Viagem , que era dos Sol
da

[ 1 ] Aſſim ſe perſuadio o Author do Santuar. Marian. tom . I. pag .


493 ; mas o Author da Demonſtraçað Hiſtorica-o reprova com razać
em o num, 266,
Da Cidade de Lisboa . 395

dados da Junta com ſeu Capellaó , a quem dava feſ


jenta mil reis.
327 · Arruinou - ſe com o grande terremoto a Igre
ja , onde morreraõ mais de Tefſenta peſſoas , e entre
ellas dous Sacerdotes da meſma Igreja . Succedendo
immediatamente o fogo , eſte acabou de deſtruir o
Templo , e tudo mais , que nelle ſe comprehendia .
Eſcapou unicamente o Santiſſimo Sacramento , que
foy levado para a Igreja de S. Joao Nepomuceno ,
onde eſteve hum ſó dia : no Domingo ſeguinte à
noite paſou para a igreja Paroquial de Santa Iſabel,
e - dahi voltou outra vez para o Templo de S. Joao
Nepomuceno ; até que fazendo - le huma Igreja de
madeira junto da antiga , fe reſtituio a ella veſpera
do Corpo de Dcos da meſma Paroquia em o anno
de 1757
328 Exiſtem dentro dos limites deſta Fregues
žia os ſeguintes Templos:

Collegio.

Noſa Senhora do Roſario. De Religioſos Domini


cos Irlandezes. Foy fundado no anno de 1659 pela
Sereniſſima Rainha D. Luiza de Guſmað . (1 ) Pa
deceo eſta Igreja , e Convento grande ruina com o
terremoto do primeiro de Novembro memoravel.
Hum Religioſo Irlandez , que ſe achava neſſe tem .
po dando a communhao animou fortemente aos
Fieis ; e deſembaraçando - ſe intrepido d'entre as rui
nas , prevendo mayor perigo , nað largando das
mãos a fagrada Pixide , com ella caminhou até a
Igreja Paroquial de Santa Iſabel, acompanhado de
innumeravel povo , que a altas vozes bia imploran
do a Miſericordia do todo Poderoſo . Depois ſe reſ
tituio para huma decente Ermida , que ſe fez no ſeu
Ddd ii an.

[ 1 ] Santuar . Marian. tom . 7. pag. 83. 0131. Corograf. Port.com.3 .


pag. 488.
396 Mappa de Portugal
.

antigo Convento , onde era portaria , em quanto ſe


nao cuida em mayor commodo .
1
Hoſpicio.

S. Joao Nepomuceno , e Santa Anna . De Religio


ſos Carmelitas Deſcalços de Alemanha . Foy funda
do no anno de 1737 pela Sereniflima Rainha D. Ma
ria Anna de Auſtria , por induſtria do Padre Fer ,
nando Maria de Santo Antonio , Millionario Apoſ
tolico Alemao da meſma Ordem . Dotou - o , e en .
riqueceo- o a Sereniſſima Fundadora com ſufficientes
rendas , e alfayas no anno de 1752. Jaz aqui ſeu cor
po . ( 1 ) Teve eſta Igreja pequena ruina , de que eſ
tá recuperada .
Ermida .

Noſa Senhora da Graça , e S. Pedro Gonçalves. He


Ermida antiga . Os homens maritimos feſtejao com
muita folemnidade a Imagem de S. Pedro Gonçal
ves , que aqui ſe venera , fahindo deſta Ermida em
dia de Nofra Senhora dos Prazeres com o Santo de.
baixo do Palio , c correndo as hortas , e ruas da Ci
dade com grande folia. Nao padeceo ruina alguma
eſta Ermida com os abalos do terremoto .
329 Conſtava eſta Paroquia de mil fógos, e qua
tro mil peſſoas. Depois do terremoto experimentou
alguma diminuiçao de habitadores ; mas hoje ſe vay
recuperando , poſto que baſtantes propriedades ef
tejao nas melmas ruinas. Numerava as ſeguintes
Ruas .
Adro da Igreja , Bica grande , e dos olhos , Boa
vifta , Caſa da Moeda , ( 2) Calas novas , Calçada da
Pa.

[ 1 ] P. Joſeph Ritter in vita Mariæ Annæ Regin Portug. pag.385 .


€ 247. [ 2] Para eſta Caſa da Moeda , que he onde ſe lavra o dinhei •
ro , e ſe depoſita todo o que vem das Conquiſtas , coftuma ir ſem
pre huma Companhia de Infantaria com ſeus Officiaes para ſua guar
da
Da Cidade de Lisboa . 397

Paciencia , e de Salvador Correa Cocheiras da


praya , Defronte da Igreja , e da Moeda , Direira
para a Cruz de Catequefarás , e para a rua de cima,
e para o Corpo Santo , Detrás da Capella mór , Den
tro do Forte, Fóra do Forte , Gaivotas, Largo do
Corpo Santo , Pateo do Conde da Ilha , e do Elvas ,
Portas do Pó , Praya de S. Paulo , Remolares , rua
de Cima ,
i Becos.
Apoftolos, Aflucar , Caes do Rocha , Carvalha ,
Carvaó , Esfolabodes , Eſtopa, Franciſco André ,
Junta , Sampayo , Taboas, Tibau .
Freguezias confinantes. 1
Santa Catharina , Encarnaçaó , Martyres , Santos .

XXXII .

S. Pedro.

A Hiſtoria Ecclefiaftica de Lisboa ef


330 N crita pelo Arcebiſpo D. Rodrigo da
Cunha , achamos duas memorias quaſi repugnantes
ſobre a origem deſta Igreja ; porque na Vida do
Biſpo D. Soeiro Anes cap . 18. diz , que no anno de
1191 dera eſte Prelado à fabrica da Sé a Igreja de
S. Pedro de Alfama. E na vida do Biſpo D. Vaſco
Martins cap. 90. , affirma , que eſte Prelado eſtan
do em Santarem commetera em 21 de Abril de
1344 a D. Diogo ſeu Vigario geral a inſtituiçaõ da
Igre

da : porém no dia do terremoto de 1755 fuccedeo preoccupar talme


do aos Soldados da dita guarda, que a deſampararaó , ficando ſó o
Tenente , que era Bartholomeu de Souſa Mexia , com o Sargento , e
tres Soldados, portando-ſe com tal valor , que trabalhou o poſſivel
para que nem lhe chegaffe o fogo, nem os ladroens que o acomme
teraó varias vezes com pretextos fingidos. Eſta acçað verdadeiramen
te honroſa lhe fez merecer o agrado de ElRey , que logo o nomeou
Capitao da primeira Companhia que vagafie ; e ſobre tudo merece
que fique perpetuamente memoravel até no pequeno brado da noſſa
penna .
al
398 Mappa de Portug .

Igreja de S. Pedro de Alfama . Donde parece ſe.de


ve inferir, que esta Igreja , ou tivera duas inſtitui
ções ; ou que a ſegunda fora reformaçao da primei
ra ; mas de qualquer ſorte, ſempre ella he antiquiſ
fima, e hoje do Padroado das Sereniſſimas Rainhas,
331 Conſta de hum Prior , e dous Beneficia
dos , que apreſenta , e colla o meſmo Prior : a eſte
renderá a Igreja duzentos mil reis , e a cada hum
dos Beneficiados, ſeſſenta mil reis . A Irmandade do
Santiſſimo apreſentava onze Capellas de varios infti
tuidores , e differentes congruas . A Irmandade da
Santa Cruz , e Almas , provia tres de cincoenta mil
reis ; e a Irmandade do Senhor Jeſus dos Afflictos
huma de quarenta e quatro mil reis. As outras Ir
mandades , e Confrarias aqui erectas , como a da Se
nhora da Luz , do Soccorro , de Santa Anna , e San
to Antonio , feſtejavao os ſeus Patronos ſolemne
mente em ſeus dias .
332 Experimentou com o ſoberbo terremoto
eſta Igreja a ſua total ruina , ficando ſomente em pé
a parede da parte do Evangelho ao Norte , com a
Capella da Irmandade da Santa Cruz , e Almas ; em
cujo eſtrago morrerao mais de cem peffoas de am
bos os ſexos. A meſma deſtruiçao padeceraõ quafi
todas as propriedades deſta Paroquia ; porque conſ
tando ella de cento e oito , ſó ſeis ficaraó capazes
de ſerem habitadas . A ' viſta deſte fatal cataſtrofe re
foraó refugiar'os habitantes nos campos , e ſubur
bios da Cidade , fabricando abrigos , e barracas pa
ra ſe recolherem em varias fituações .
333 Vendo -ſe o vigilante Paroco Joſeph Xa
vier em tað lamentavel deſarranjo , recorreo ao com
paſſivo Monarca o Senhor D. Joſeph , o qual lhe
mandou dar hum armazem ao Chafariz de ElRey
para nelle erigir o ſagrado Tabernaculo , e adminit .
trar os Sacramentos ao povo . Mandou logo o Paros
co ornar a caſa com toda a decencia , e fazendo con
duzir para ella o mais precioſo movel , que pode
fal
Da Cidade de Lisboa. 399

ſalvar , e ſobre tudo os ſagrados Vaſos ( depois que


a todo o riſco , e ſobreſalto conſumio as Formas )
alli ſe eſtabeleceo deſde veſpera de Natal de 1755 .
Porém ſendo preciſa a caſa , ou armazem para ſe
continuar a planta da nova Alfandega , mandou El
Rey , que a Junta da Meſa do Bem Commum , e
Commercio , fizeſle a decente accommodaçao para
a Paroquia . Eſta ſe fez exactamente na antiga Igre
ja , com toda a promptidaó , grandeza , e ſeguran
ça , para a qual ſe transferio o Sacramento com hu
ma Prociſſaó ſolemniffima em 19 de Março dia do
Senhor S. Jofeph do anno de 1757. Dentro do ſeu
deſtricto exiſte a ſeguinte

Ermida .

Noſſa Senhora do Roſario. Eſtá ſituada no Campo


da Lã.com ſua Irmandade , que feſteja a Senhora em
is de Agoſto com muita grandeza .
334 Numerava eſta Freguezia antes do terre
moto , trezentos e cincoenta e dous fógos , e mil e
quinhentas peſſoas de ambos os ſexos. Preſentemente
ſe acha nas propriedades reedificadas cento e cin
coenta fógos , e nelles ſetocentas peſſoas. As ſuas
ruas eraó as ſeguintes. 7
Ruas , e Becos. )
Adica rua em ſubida até a porta do Sol Galé ,
Judearia , rua Direita de S. Pedro para o Chafariz
Beco de Alfama, e deſte até o Chafariz delRey ( , 1)
Be ,

[ 1 ] Corre com baſtante affluencia eſte Chafariz por ſeis bicas de


bronze, e he a ſua agua moderadamente quente . Damiaó de Goes na
Deſcripçaõ de Lisboa , intitulada Oliſipo, impreſſa no anno de 1552 ,
diz , que gaó visa ostra agua melhor , nem ainda igual. Hic autem
faporis, dom Splendoris i en lenitaris præftantia omnium fontium , quos
unquam me videre meminerim , aquam , aut aquar , aut fuperat. Pe
las meſmas palavras diz o meſmo Jorge Braunio no tom . 1. Civit.orb.
terrer . Luiz Mendes de Vaſconcellos no tratado do Sitio de Lisboa
p.130. , diz , que eſta agua tem a propriedade de fazer boas vozes , o
bom caraó . Duarte Nunes approva o meſmo no capit. 12. da Deſcripe
çao de Portugal. Veja -ſe o aquilegio Medicinal cap. 2.
400 Mappa de Portugal.

Beco do Fogao , do Guedes , das Lavandeiras , do


. Prior .
Freguezias confinantes.
S. Joao da Praça , S. Miguel .
1
XXXIII.

Noſa Senhora da Pena..

335 Primeira inſtituiçaõ della Freguezia foy


A eſtabelecida na Igreja do Moſteiro de
Santa Anna de Religioſas Terceiras de S. Franciſco ,
inticulando - ſe enca) por eſſe motivo Paroquia de
Santa Anna . Suppoem -ſe que ſeria erecta pelo Cara
deal Arcebiſpo D. Henrique , deſmembrando a de
Santa Juſta , pois a memoria mais antiga da ſua ex
iſtencia he conftar , que fora viſitada pelo Arcebiſ,
po D. Jorge de Almeida no anno de 1970. is
336. Depois por juftas cauſas unindo- ſe alguns
freguczes com os Irmãos do Santiſlimo , paſſarao a
Freguezia para huma Igreja, que ſe andava fazen
do , dedicada a Noſſa Senhora da Pena , mudando
para ella. o Sacramento com ſolemne prociſſao em
25 de Março de 1705. ( 1 ) E caprichando em con.
cluir o ſagrado edificio , o aperfeiçoaraó de fórma,
que era hum dos Templos excellentes , e em que
gaftarao grofio cabedal.
337 O Paroco tem o predicamento de Cura ,
que nao he collado , mas annualmente o apreſenta
o Eminentiſſimo Patriarca. O ſeu rendimento ſe ex
trahe do chamado pé de altar , que ſe reputava huns
annos por outros em quatrocentos mil reis. Ao The
foureiro , que tambem he da apreſentaçao do Prela
do , renderlhehia cento e cincoenta mil reis . A Ir
mandade do Santiſſimo apreſentava treze Capellas de
varios inſtituidores , e congruas differentes , a ſaber :
duas

[ 0 ] Santuar. Marian. tom . 7. pag. 147


Da Cidade de Lisboa. 401

duas de ſetenta e dous mil e quinhentos reis cada


huma , que inftituio Maria Luiza de Bulhao com o
rendimento na Alfandega delta Cidade , é no Almo
xarifado da caſa das Carnes , mas com a obrigaçao
de ſerem Confeffores os Capellaes . Sete de ſeſſenta
mil reis cada huma , que initituirao o Capitaó mór
Joao do Rego Barros , Pedro Jorge , Manoel Dias
Vicente , e outros mais : huma de cincoenta mil
reis , que a meſma Irmandade do Santiſſimo inftituio
pelos Irmãos vivos , e defuntos : duas de quarenta
mil reis , que inftituiraó Catharina Pereira , e D.
Anna de Menezes: ' e huma de trinta mil reis inſti .
tuida por Antonio Antunes , que ſe acha reduzida a
ſeis mezes. A Irmandade das Almas apreſentava
oito Capellas de quarenta e cinco mil reis cada hus
ma , e Miſla livre cada ſemana ; e a Irmandade da
Senhora da Pena tem ſeu Capellaó , a quem dá cin
coenta mil reis .
< ! 338 Ficou eſta Igreja coralmente derrotada com
o eſpantoſo terremoto , porque aos ſeus primeiros
impulſos cahira logo os remates das torres do fron
tiſpicio , que ſepulcaraó a algumas peſſoas , que vi
nhao fugindo para o adro ; e abatendo - ſe immedia
tameoce o tecto pintado de admiravel arquitectura
pelo noſſo Portuguez Antonio Lobo , tirou a vida a
muitas peſſoas , que eſtavao na Igreja ; experimen
tando outras, muitas a meſma fatalidade nas ruinas de
varias caſas em os limites deſta Paroquia.
339 Nefte defamparo lamentavel ſe foy valer o
Paroco , e abrigarſe em huma Ermida , que fica à
entrada da portaria do carro do Collegio de Santo
Antao quefoy dos Padres Jeſuitas , para onde mu
dou o Sacramento e alli efteve parte do mez de
Novembro do fatal anno de 1755 , exercendo os
actos Paroquiaes , e depois ſe transferio para a Igre
i ja do Recolhimento de Nolia Senhora da Encarna
$ cao , e Carmo no ſitio de Rilhafolles , e dahi para .
a Ermida de Alexandre Metello , da qual paſſou pa
Tom.III . Part.V. Eee 12
402 Mappa de Portugal.

rá a Freguezia que ſe acha reedificada.


340 Ha no territorio deſta Freguezia as ſeguin .
tes Caſas Religioſas.

Conventos.

Santo Antonio dos Capuchos. De Religiofos Fran ,


ciſcanos da Provincia de Santo Antonio . Foy fun
dada a Igreja em 15 de Fevereiro de 1970 , e ſe dif
ſe nella a primeira Milla no anno de 1579. ( 1 ) Flo
recco aqui neſte ultimo feculo Fr. Joao de S. Dio
go , chamado vulgarmente Fr. Joao Peccador , va
raó de raras virtudes , fingular penitencia e con:
tinua oraçao , com eſpírito profetico ;. faleceo fanta
mente em o anno de 1690. O ſeu corpo exiſte inteiro .
341 Oprejuizo , que padeceo eſte Convento
e Templo com o terremoto , foy cair a abobeda do
corpo da Igreja , que fepultou dez mulheres , e hum
homem : arruinou - ſe tambem a Capella chamada do
Biſpo , a Capella do Santo Chriſto da Cerca , e a
celebre capellinha do famoſo Preſepio tambem ex
perimentou ſua ruina . O lufto , e receyo de mayor
fracaſſo obrigou aos Religioſos levantar na Cerca
para a parte do Norte huma barraca , e nella for
maraā huma decente Igreja , em que celebrarao os
Officios Divinos até 14 de Março de 1758 , em cu
jo dia ſe mudarað para a ſua antiga Igreja reedifica
da , e em muita parte melhorada a difpendio de va
rias eſmolas, em que ſe diſtinguio a generoſa libera
lidade do Conde de Povolide ſeu Padroeiro na ree
dificaçao da Capella mór .
S. Vicente de Paulo. Dos Padres da Congregaçao
da Miſaó , de quem já fallamos no tomo 2. part . 3 .
deſte noſſo Mappa cap. 3. $ . 21. Experimentou pe
quena ruina com o terremoto .
Mof

[ 1 ] Cardoſ. Agiol. Lufit. tom. 1. p. 189. Caryalho Corograf, Port.


tom . 3. p.411 .
Da Cidade de Lisboa . 403

Mofteiros.

Santa Anna . De Religioſas Terceiras Franciſca


pas com obediencia à Provincia de Portugal. Foy
fundado no anno de 156r por ordem da Rainha D.
Catharina , em huma antiga Ermida de Santa An
na , donde tomou o nome , ſendo as fuas fundadoras
vinte e quatro Recolhidas chamadas as Peniceptes
da Paixao de Chrifto , que exiſtiao no Caftello . ( 1 )
Apreſenta ElRey ncfte Moftciro vinte lugares , co
mo conſta de hum Alvará de ElRey D. Sebaſtiao ;
que vimos , feito em 24 de Setembro de 1977 , e a
Rainha apreſenta tambem dous lugares (2 ) inftituie
dos pela Sereniffima Rainha D. Catharina.
342 Cahio a Igreja com o terremoto , e do Mofa
teiro dous dormitorios, hum que ficava para à ban
da da portaria , e outro para a calçada do Lavre ;
cahirao mais tres varandas do Clauftro , e varias ca
fas , e officinas ; ficando ſepultadas neftas ruinas cin
cinco ſeculares
co Religioſas , cinco feculares , cinco criadas , o
huma educanda ; além de outras , que ficaraó eſtro .
peadas. Perſuadidas , c afflictas as Religiofas com
eſte formidavel affombro , fahirao da claufura , e
forao para a cerca do Collegio de Santo Antan ,
onde eſtiveraó no Sabbado , e no Domingo , em
cujo dia ſe mudaraó para a quinta da Bempoſta do
Sereniffimo Infante D. Pedro , que lhe mandou fa .
zer barracas promptiflimamente , e aqui eſtiveraó
até veſpera de S. Joao de 1756 , em que ſe recolhe
raó para o ſeu Moſteiro reparado no fummamente
preciſo , em cujos Coros rozao e exercitao dodas
as ſuas funções Regulares.
Noſa Senhora da Encarnaçao . De Religioſas Com
mendadeiras da Ordem Militar de S. Bento de Avizi
Eee ii Foy

( 1 ) Fr. Apolinar. no Clauſtro Franciſcan . p. 135. Corograf. Portug.


tom . 3. P.416 . Agiolog . Lufit . tom. 2. pag. 271. Chriſtovao Rodrig .
de Oliveira no Summario de Lisboa pag. 85. da impreffà & moderna,
( 3 ) Soled, Hiftor. Serafica part. 4. P. 525;
404 Mappa de Portugal.

Foy eſte Moſteiro mandado edificar pela Infanta D.


Mária , filha de ElRey D. Manoel , e nelle entra
raó a is de Setembro de 1630 as primeiras Religio
ſas fundadoras , que erao D. Luiza de Noronha , e
Maria da Purificaçao do Moſteiro da Eſperança , e
D. Antonia da Silva de Odivellas , por Breve de
Paulo V., as quaes ſe transferirao deſde a Ermida de
S. Mattheus , e palacio da Caſa de Caſcaes , firo ao
Borratem , onde haviao eſtado eſperando por em
preftimo, que ſe acabaſſe efte Mosteiro deſde Agora
to de 1614. ( 1 ) A tençao da Infanta naó foy edifi
car Moſteiro para Religioſas Commendadeiras da
Ordem Militar de Aviz ; o Papa Paulo V. he que
fez a commutaçao a ſupplicas de ElRey D. Filip
pe II . ( 2) . Eftao eftas Religioſas ſubordinadas ao
Tribunal da Mela da Conſciencia . No anno de 1734
a 10 de Agoſto , padeceo eſte Moſteiro hum terri
vel incendio , que deſtruio huma grande parte do
ſeu edificio . Paffarao as Religioſas para o Moſteiro
das Commendadeiras de Santos , onde eſtiveraõ hof
pedadas , até que ſe reedificou o feu Moſteiro ſum
ptuoſamente por ordem de ElRey D. Joao V. , e fe
reftituirao para elle .
. 343. Succedendo porém o infaufto , e formida
vel tremor de terra , fez eſte eſtremecer , e abalar
todo o Moſteiro de ſorte , que fuppofto o nao pre
cipicale , lhe cauſou baſtantes ruinas ; e deixando- o
incapaz de ſe habitar , foraó as Religioſas , que to .
das lao Senhoras nobiliffimas , abrigarſe cheas de ſur
tos , na Cerca do Collegio de Santo Antaó , onde
cada huma à fua cuſta fez o ſeu abarracamento , e
alli eſtiveraó até 13 de Março de 1758 , em cujo dia
por ordem de ElRey Fideliffimo D. Joſeph foraó
conduzidas em coches da Caſa Real para o ſeu anti
go Moſteiro , que o meſmo Senhor com incompa
ra.

( 1 ) Cardoſ. no Agiol. Lwfit. tom . 2. pag. 297. [2] Lima Geograf,


Hiſtor. 2. pag . 154 .
Da Cidade de Lisboa.
405
ravel piedade lhe mandou concertar do melhor mo
do , que foy poſſivel , em quanto ſe cuida em ree
dificaçaó mais ampliada .
Recolhimento.

Noſſa Senhora da Encarnaçað , e Carmo. Eftá no ſi


tio de Rilhafolles , e lhe deu principio huma devo
ta mulher , chamada Iſabel Franciſca no anno de
1704 , dirigida pelo Padre Alvaro Cienfuegos Jeſui
ta , que depois foy .Cardeal , e tinha vindo a Lisboa
por Confeitor de Carlos IIÍ . Forað - ſe aggregando
outras' devotas , e tao affectas ao Recolhimento ,
que em vefpera de Natal de 1738. começara) a re
zar em Coro o Officio de Noſſa Senhora ; e em 24
de Março de 1740 obtiveraõ licença do Eminentiſ,
fimo Cardeal Patriarca para ſe veſtirem com o ha
bito de Noſſa Senhora do Monte do Carmo , de
que actualmente ufaó . De forma ſe forað applican
do à perfeiçao Religioſa , que pela Paſcoa de 1742
derað principio a rezar coralmente as Horas Cano
nicas e com tanta regularidade o executaó , que
parece o ſeu Coro , e canto de huma Communidade
mais obſervante da perfeiçaõ no culto Divino . Ref
plandece eite nao menos no afſeyo da ſua Igreja ,
que benzendo - ſe em 6 de Dezembro de 1746 , e col
locando -ſe nella a 4 de Fevereiro de 1748 o divi.
piſſimo Sacramento com grande feſtividade , em cu
jo dia fez Pontifical o Arcebiſpo de Lacedemonia
D. Joſeph Dantas Barboſa , te celebraó nella todas
as luas teltas com fingular decóro , e grandeza . Per
fuadido o Papa Benedicto XIV . da grande edifica
çao , com que eſtas Recolhidas vivem , lhes fez a
graça em Janeiro de 1758 de poderem trazer veo
preto , como ſe foſſem Religioſas profeſfas; as quaes
pelas virtudes preclaras , em que folidamente culti
vaó o eſpirito , ſervem de vivos exemplares da per
feiçao Religioſa. O pequeno damno , que lhes cau
fou o terremoto , ſe acha reſtaurado .
406 Mappa de Portugal.

Ermidas.

Senhor Jeſus da Salvaçao. He huma Ermidinha na


Calçada de Santa Anna junto ao muro das Religio .
ſas Commendadeiras , a qual he adminiſtrada por hu
ma Confraria da Via- Sacra .
S. Lazaro. Nefta Ermida eſtá hum Hoſpital , que
pertence à Fregueria de Santa Jufta.
Noſa Senhora da Salvaçao. Fica junto ao Cemi
terio , onde ſe enterraó os pobres doentes , que fala
lecem no Hoſpital Real .
Via -Sacra. Eſtá contigua ao palacio do Deſem
bargador Alexandre Mecello de Souſa no Campo do
Curral. Nenhuma deſtas quatro Ermidas fentio os
effeitos do terremoto . Depois defte ſe edificarab al
gumas Ermidas de frontal em o meſmo campo , e
faó as ſeguintes.
Senbora da Caridade. Que erigirao os Irmãos do
meſmo titulo , por ſe haver deltruido a que tinhao
feito junto à Baſilica de Santa Maria .
O Senhor da Paz .
• A Senbora do Roſario .
344 Conſtava eſta Freguezia antes do terremo
to de mil e trezentos e trinta e ſeis fógo6 , e de cin
co mil e ſeſſenta e ſeis peſſoas de communhañ . De
pois do terremoto com as peſſoas que ſe abarraca
raó no campo chegou ao numero de mil quatrocen
tos e trinta e dous fogos. As ruas ſao as ſeguintes.
Ruas .
Santa Anna , Santo Antonio , Campo do Curral ,
Carreira dos Cavallos , Caras dos Bernardos , Cafas
da Miſericordia , Cemiterio , Cruz , Encarnação,
S. Lazaro, Marcim Vaz , Moinho do Vento , Mol.
teiro de Santa Anna , Muro dos Apoftolos , Portaria
do carro do Collegio , Recolhimento , Rilhafolles.
Freguezias confinantes.
Anjos, S. Joſeph , Santa Juſta , S. Scbaſtiao da
Pedreira , Soccorro .
XXXIV .
Da Cidade de Lisboa. 407

XXXIV .

Santiſimo Sacramento.

345 T Igreja do Convento da Santiſſima Trin,


dade , eſtabelecendo a o Arcebiſpo de Lisboa D.
Jorge de Almeida pelos annos de 1984 na primeira
Capella da maó direita a quem entrava na Igreja , e
deſmembrando a da Freguezia de S. Nicolao ,
Martyres. (1) Depois no anno de 1664 , deſavin
do-ſe com os Religioſos os Irmãos do Santiflimo
ſe paſſaraó para a Igreja das Convertidas onde
eſtiveraó pouco tempo , e os Bautilmos ſé faziaố
na Paroquial dos Martyres com licença do Cabi
do . ( 2 )
346 Havia- ſe dado principio a huma nova Igre
ja com o titulo do Santiſſimo Sacramento para ſer
vir de Paroquia no ſitio fronteiro ao Palacio do
Marquez de Arronches , lançando -fe a primcira pe
dra no edificio a 26 de Novembro de 1667 , e eſtan
do feira grande parte , fe demolio por embargos do
meſmo Marquez , até que o Conde de Valladares
offerecendo liberalmente terreno proprio defronte
de ſeu palacio para fundamento da Igreja , ſe co
meçou ella a fabricarſe no anno de 1671 , e con
cluindo -ſe no de 1685 , para ella ſe transferio o San
tiffimo Sacramento ſolemnemente em a Dominga da
Quinquageſima deſde a Igreja do Carmo . ( 3 )
347 O Paroco , que tinha o predicamento de
O
Cura , hoje tem o de Reitor , a que o elevou o Emi
nentiffimo Cardeal Patriarca D. Thomaz de Almei
da ,

[ 1] Cunha nos Biſp. de Lisb. part. 2. cap . 83. de cuja authorida


de ſe prova , que eſta Freguezia nab foy ſeparada de S.Juliao , como
affirma Leitao Ferreira nas Noticias Chronologicas num . 1233. [2] Fr.
Apolinar, na Demonftraçaó Hiftor, num. 267. (3 ) Corografia Portug.
tom . 3. p.458.
408 Mappa de Portugal.

da como Donatario deſta Igreja , a qual rendia qua


trocentos mil reis ; e ao Theſoureiro , que apreſen
tao alternativamente o Paroco , e a Irmandade do
Santiſlimo , lhe rendia cento e vinte mil reis . Apre
ſentava a fobredica Irmandade nove Capellas , qua
tro de eſmola de ſeſſenta mil reis com obrigaçao de
confeſſar , cacompanhar o Santiſſimo , huma de cem
mil reis com obrigaçao de Coro , para quando ſe
eſtabeleceffe ; outra de oitenta mil reis com a mel
ma obrigaçao ; e duas deambulatorias . Eſta meſma
Irmandade ſe achava muito opulenta , e poſſuhia ri
quiffimos ornamentos , e muitas peças , e.cofres de
prata , c eſtimadilimas Reliquias . ( i ) A Irmandade
de S. Miguel , e Almas apreſentava quatro Capel
lães , hum com cincoenta mil reis , os outros com
quarenta mil reis , e Mila livre ..
348 Em o tremendo dia do terremoto , e me .
moravel incendio padeceo eſta Igreja huma total
derrota ; porque o Templo ſe arruinou , ſepultando
ſerenta e cinco peſſoas ; e todo o movel da Igreja
ſe reduzio a cinzas ; reputando - fe a ſua perda em
mais de duzentos mil cruzados , pois ſó eſcapou a
ſagrada Pyxide com o Santiſſimo Sacramento . Com
o lufto deſte laſtimoſo ſucceſſo paſſou logo o Paro
co o Sacramento para a Ermida de Nolia Senhora
da Conceiçao dos Gathecumenos , refugiada , e ere
eta no Telheiro de aguas livres onde eſteve tres
mezes : depois ſe mudou para o Moſteiro das Reli .
gioſas Trinas ao Rato , onde permaneceo até ſe
transferir para a nova accomodaça , que ſe fez miſti
ca à meſma Igreja.
349 Den
!

[ 1 ] Entre eſtas Reliquias , conforme a noticia , que nos mandou


o Rev. Reitor deſta Paroquia Minoel Luiz Ribeiro , exiſtia o Calix ,
, em que Chriſto Senhor Noſſo conſagrou ſeu .preciofifiimo ſangue , e
fora dadiya do Biſpo do Porto D. Fr. Joſeph de Evora , quando veyo
de Roma no anno de 1741 ; porém ſempre nos cauſou muita duvida ,
pois na Vida de Chriſto pag.420. deixamos provado , que eſta Relig
quia ſe conſerva na Cathedral de Valença.
Da Cidade de Lisboa.
409

349.Dentro do ambito deſta Paroquia exiftem


os ſeguintes
Conventos,

Nolla Senhora do Carmo. De Religioſos Carmeli


tas Calçados . Foy eſte edificio verdadeiramente ma
gnifico fundado no anno de 1389 pelo virtuoſo Con
deftavel D. Nuno Alvares Pereira , e começarað os
Religioſos , que vierao da Villa de Moura , a cxer .
cer aqui os actos de Communidade no anno de 1397.
Deſta fagrada fabrica faz huma exacta Deſcripçao
o ſeu grande Chroniſta Fr. Joſeph Pereira de Santa
Anna . (1 ) Mas ſendo eſta obra tað eftimavel pela
ſua grandeza , fortaleza , e arquitectura , muito mais
o era pelas muitas, e importantes alfayas , que ſer
viao ao adorno , e veneraçao . Tudo fe perdeo fatal
mente com o soberbo terremoto , e immediato in
cendio em o primeiro de Novembro infaufto ; , aca
bando a vida em tao lamentavel tragedia quatorze
Religioſos, que he perda para mais ſentirſe.
350 Nefta deſordem , e confuſao, procurou a
mayor parte da Communidade o refugio no ſitio da
Cotovia dentro das obras do Conde de Tarouca ;
porém eſpalhando -ſe huma voz vaga , que o incen
dio hia chegando ao Caſtello , e que pegando facil
mente no armazem da polvora , acabaria de desba.
ratar , é arrazar horrendamente a Cidade ; compel
lidos defte pavor , buſcaraó mayor diſtancia , indo
para o Campo Grande com a veneranda Imagem da
Senhora do Carmo , que foy a que ſe pode ſalvar ,
e o Santiſſimo Sacramento , onde armando tendas
de campanha., alli eſtiverao abarracados acé veſpe
ra de Natal do meſmo anno , em cujo dia paffaraó
para o terreno contiguo ao arco das Aguas Livres
acima do Rato , onde haviao mandado fabricar hu
- Tom.III . Part.V. Fff ma

[ 1] Pereira Chron .do Carmo tom. 1. part. 4. C. 1. Veja - ſe tambem


Jorge Cardoſo no Agiol, tom . 3. p.213.

1
419 Mappa de Portugal.

ma Ermida com accommodaçao decente para os meſ


mos Religioſos. Mas como nao parecefle jufto ao
zeloſo Provincial deſamparar o antigo fitio do fagra
do Convento, nem a companhia do venerando cor
po do virtuoſo Condeſtavel, diſpoz à cuſta de gran
de diſpendio , e trabalho , que entre a portaria re
gular do Convento , ça do carro ſe erigiſſe nova
Igreja , e proporcionados commodos , para onde
com a brevidade opportuna ſe eſtabeleceraó .
Santiſima Trindade. De Religioſos.Trinitarios . A
primeira fundaçao deſte Convento foy , ſegundo eſ .
creve D. Rodrigo da Cunha , ( 1 ) no anno de 1294 ,
dando- lhe a Cidade liberalmente 208 primeiros fun
dadores , que vieraó de Santarem , .o ſitio em que ſe
incluia huma Ermida de Santa Catharina , que lhes
fervia de Igreja , em quanto ſe edificava o novo
Convento . Cieſceo eſte à cuſta das eſmolas dos fieis
e particularmente da Rainha Santa Iſabel , a qual
mandou lavrar nelle huma eſpecial Capella com o
titulo da Conceicao da Senhora , que foy a primei
ra neſte Reino dedicada a tað ſoberano Myfterio ,
de que era devotiflima. (2 ) Depois no anno de 1560
fc melhorou o edificio com grandeza , e mageſtade ;
pois ſó no Templo ſe numeravao duzentos e trinta
e hum palmos de comprido ; e cento e vinte e dous
de largo , cento e quarenta e oito de alcura , com
grande numero de ampliflimas Capellas. Eſcapou
felizmente a Igreja do facal incendio , que em 22
de Setembro de 1708 devorou a mayor parte defte
Convento . ( 3 )
351 Achava -ſe elle quafi na ultima perfeiçao re
putado entre os magnificos da Corte , quando aos
violentos impulſos do ſempre memoravel tremor de
terra cedendo a grandeza do edificio , em breves
minutos ſe vio proftrado , e reduzido a huma mon .
Tta

( 1 ) Cunha Hiftor. Ecclef. de Lisboa part. 2. cap. 83. [ 2 ] Monarq.


Lufit.liv. 19. C. 23. Corograf, Port. tom . 3. p.460 ] Anno Hifto
ric, tom . 3. pag. 87:
Da Cidade de Lisboa. 411

tanha de confula penedîa ; acabando de transformar


tudo em cinzas o implacavel incendio , que immè
diatamente lhe ſuccedeo . Conſumirao - ſe neſta la
mentavel deſgraça mais de cem Imagens de vulco ,
que ornavao os dezoico Altares da Igreja. Eraó a
mayor parte dellas eſpecialiſfimas , e devotas : a do
Santo Chrifto crucificado com o citulo de milagro
ſo ; o Santo Chrifto do Coro ; o Senhor morto ; O
Senhor dos Paſſos ; a Senhora da Conceiçao ; a Se .
nhora da Salvaçao , e outras muitas , eſcapando uni
camente o Senhor Reſgatado , poſto que debaixo
das ruinas.

352 Naó ficou ſendo menos deploravel a perda


de innumeraveis Reliquias , que occupavað , e en
chiao quatro Alcares ; entre as quaes erað precioſas
as de dous corpos inteiros de S. Liberato , e S. Bo
no : hum Santo Lenho de meyo palmo de alto , e
hum dedo polegar de largo : hum cfpinho da Coroa
do Senhor , e o Sudario ſanto tocado no verdadei
ro , que ſe venera em Turim . Fez creſcer o aug .
mento da perda a deſtruiçao da eſpaçoſa Sacriſtia
com as ſuas eſtimadillimas , e cuſtoſas alfayas ; onze
cuſtodias tres cofres , hum de valor de cinco mil
cruzados ; cento e dous caſtiçaes de pé alto , vinte
e huma coroas ; vinte e dous reſplandores , em que
entrava hum de ouro cravado de diamantes ; trinta
e duas alampadas , das quaes duas da Capella mór
cuftaraó ſeis contos de reis ; dezanove cruzes , en
tre as quačs havia duas , que tinhao cuſtado ſeis mil
cruzados ; ſeis ciriaes de exceſſiva grandeza , e va
lor ; e outras muitas peças de prata , que nao refe
rimos , por ſer mais memoravel a perda dos dous
famofiffimos orgãos da Igreja , e do Coro magnifi
co , os quaes haviao cuftado perto de cincoenta mil
cruzados.
353 Entre eſtas perdas ferá tambem muito ſen
ſivel , e quali irrecuperavel a grande collecçao de
livros , que comprehendia a famoſa , c eftimavel
Fff ii Bi
412 Mappa de Portugal..

Bibliotheca deſte Convento , que pela ſua raridade


eſtava avaliada em duzentos mil cruzados : e por
evitar palavras , todo o Convento com a ſua elevada
torre fe reduzio a terra , e a cinzas , nao ficando em
rigor nem ainda paredes , porque alguma , que em
pe fe fuftenta , ſerá preciſo demolirſe.
- 354. Ficaraó fepultados debaixo das ruinas quin
ze Religioſos , de que faremos memoria : o Padre
Prégador geral Fr. Luiz de Salazar , de noventa an
nos de idade , e perfeito Religiolo , eſtava dizendo
Miffa no Altar de Santa Anna. O Prégador geral
Fr. Joao de S. Felix , de ſetenta e ſeis annos, excel
lente Prégador , eornado com as prendas de inſigne
compoſitor de Muſica, e deftro no orgao , e rebe
cao . o Padre Preſentado Fr. Joſeph de Gouvea
duas vezes Miniſtro do Livramento , e de cincoenta
e oito annos de idade , Religioſo muito cheyo de
zelo , e de temor de Deos , eſtava dizendo Mila na
Capella do Reſgate. O Padre Meſtre Fr. Manoel
de Santo Thomaz , de cincoenta annos de idade , e
de grande ornamento da Religiao , muito exem
plar , muito abftinente, fingular Thcologo , e Le
trado , prompto em todas as materias , em que o
conſultavao , incanſavel no Confeffionario , e em ex
ercer os actos da Communidade. O Padre Fr. An
tonio de Almeida , actual Procurador geral da Pro
vincia , Religioſo de cincoenta e hum annos, e que
tinha ſervido varios empregos na Religiaó , eſtava
confeſſando . O Padre Fr. Thomaz de S. Jofeph , de
cincoenta e cinco annos , bom Theologo , Préga
dor , e de vida exemplar , pereceo indo daSacriftia
para a Igreja. O Padre Fr. Vicente Ferreira , de cin
coenta e cinco annos , que tinha fido Prelado em
Lagos , e Setubal , eſtava confeflando , O Padre Fr.
Joſeph da Expectaçao de exemplar procedimento ,
e bom Prégador. O Padre Fr. Manoel Ferreira , de
trinta e dous annos , muito exemplar , e applicado
à liçaõ dos livros : tinha acabado de celebrar Milla ,
Da Cidade de Lisboa. 413

c recolhendo - ſe à ſua cella para recordar hum Sere


maó , que havia de prégar no dia ſeguinte , cahio a
torre ſobre elle , e le achou depois meyo queimado
em hum lanço das várandas . O Padre Fr. Domin
gos de Santa Anna , Cantor mór do Convento , de
trinta e dous annos , excellente Mufico , e deftriffi
mo em tocar rebecaó , e ſobre tudo de vida muito
ajuſtada , pereceo eſtando dizendo Miffa na Capella
da Conceiçao . O Padre Fr. Joſeph Cabral, de trin
ta e hum annos , Prégador com boa aceitaçao , ca
hio do Coro , e veyo morrer na Igreja . O Padre
Fr. Felix de Souſa , eſtudante Theologo de vinte e
quatro annos , mas muito pacifico , e de grandes eſ.,
peranças , eſtava dando a communhaó , quando ſuca
cedendo o repentino incidente do terremoto fe
chando o vaſo das ſagradas Particulas, as quiz ſalvar
fugindo para a Sacriftia , onde pereceo , e junto a
ella ſe deſenterrou depois de muitos mezes com o
fagrado Vafo unido a ſeu peito . O Padre Fr. Ber
nardo de S. Luiz , eſtudance Theologo. O Padre
Fr. Joaquim de Santa Anna , Organiſta , e Muſico
de excellente voz . Fr. Giraldo da Luz , Religioſo
leigo de cincoenta annos , e fineiro muito zelolo , e
cxacto na ſua obrigaçao , cabio com a torre , que
o ſepultou .
355 Os mais Religioſos , que eſcaparaó , ſem ſe
vencerem do temor , que lhes repreſentava o excel
to deſta tragedia , nao deſampararao todavia o Con
vento , antes vendo que no pateo da porta do carro
lhes ficara hum palheiro velho ainda cuberto alli
ſeis , ou fete pobremente ſe accommodarao , e os
outros forao para o feu Convento de Noſſa Senhora
do Livramento , junto a Alcantara. Cuidarao logo
pacco , abrindo
porta para a rua , e a tem ornado com ſeis Capellas ,
e com varias Imagens ; collocando em hum dos Al.
cares o Senhor Reſgatado, que ſalvaraó illeſo d'en
tre as ruinas . Em hum celeiro , que alli eſtava no
mer
414 Mappa de Portugal.

meſmo pateo menos arruinado , fizera ó ſeus cubicu


los , onde habitaraó mais de vinte Religioſos , para
melhor celebrarem os Divinos Officios .
356 Numerava eſta Freguezia antes do cerre
moto ſeiſcentos e quarenta e dous fógos ; e tres mil
e quatrocentas peltoas. Depois do cerremoto , co
mo ſe queimou quaſi toda a Freguezia , numera pre
ſentemente fituadas em barracas diſperfas , mil e cem
peſſoas ; e be eſta huma das Paroquias , que ficou
bem deſtruida: as ſuas ruas , que hoje ſe yem quali
ſolitarias , e confuſas , eraõ as ſeguintes,
i Ruas.
Adro da Igreja , Arco de D. Manoel, Calçadi
nha do Carmo , Chiado , Condeça , Gallegos , Oli,
veira , Portaria do carro do Carmo , e da Trindade ,
Poſtigo de S. Roque ,
Becos , e Traveſfas. ,
André Soares , Arcebiſpo , Cruz , Eftevaó Ga
lhardo , Forno , largo do Carmo , Lavandeira , Lo•
reto , Marqueza , Palteleiro , Ricardo , Salema, Se.
cretario de Guerra .
Freguezias confinantes.
+ Encarnaçao
, Martyres , S. Nicolao .

XXXV .

Salvador .

357 Om a prodigioſa invençað da Santa Ima


357 Coen gem de hum Crucifixo , que neſte ſitio
ſe deſcobrio logo nos principios de Lisboa conquiſ
tada , ſe erigio huma Ermida com o citulo de San
to Salvador da Matta , à qual concorria muita geno
te pelos grandes prodigios , que Deos obrava por
intervençao detta veneranda Imagem . A devoçað
continua do povo , eo concurſo dos ficis moverao
ao Prelado Dieceſano , a que erigile na Ermida huo
ma Paroquia : quem elle foſſe , e em que anno ſe
eſta
Da Cidade de Lisboa. 415

eſtabeleceo , nao fe fabe com certeza : ſoachamos ,


que o Biſpo do Porto D. Joa. Efteves de Azambu
ja , que depois foy o ſegundo Arcebitpo de Lisboa ,
conftituira efta Igreja em Priorado com Beneficia
dos , annexando-lhe a Igreja de Bemfica , de quem
recebiao as duas partes dos dizimós , e a Sé a tercei
ra parte , ficando todavia a apreſentação deſte Prio
rado incorporada no Padroado da Coroa .
358 Depois no anno de 1391 obteve o meſmo
Prelado de ElRey D : Joab I. a mercê do Padroa
do deſta Igreja para fu , e ſeus deſcendentes ; e no
meſmo anno alcançou de Bonifacio IX . hum Bre :
ve , que começa : Ad ea , quæ Divini cultus augmen .
tum , ( !) para fundar na dita Igreja hum Moiteiro
de Religioſas Dominicas, e poderlhe annexar as ren
das , e direito , que ao Prior , e Beneficiados da lo
bredita Paroquia pertenciao ; de tal forma , que va
gando os diros Beneficios a Prioreza', e Freiras do
Mofteiro podeſſem tomar poffe das rendas , e con
vertellas em ſeus uſos : e para adminiſtrar os Sacra
mentos aos Freguezes , elle ſe obrigou a conſtituir
hum Vigario , depurando -lhe ordenado competente
para ſua fuftentaçao . E ſem embargo , que depois
de começada a obra houverao duvidas com o Die:
ceſano de Lisboa , que dizia fer em prejuizo das
rendas Epiſcopaes; tez - fe compoſiçao , pela qual o
Biſpo do Porco , Prioreza , e Freiras largarao ao Pre
lado de Lisboa a terceira parte dos dizimgs da Igre
ja do Salvador em 29 de Julho'de 1393.1
** 389 ( Tem o Parocor delta Fregueria titulo de
Vigario , que apreſenta o os Condes dos Arcos , co
mo deſcendentes de Joao Efteves Alcaidei mór : de
Lisboa , chamado o Privado , e irmao do fobredito
Arcebiſpo D. Joao Efteves de Azambuja , pofto
que os Condes ufað hoje do appellido de Noronha .
Ren

[ 1 ] Refere Soror Maria do Bautiſta no livro da Fundaçao defte


Mosteiro , pag. 22
416 Mappa de Portugal.

Rende a Vigairaria duzentos c cincoenta mil reis.


Ha mais dous Capellaes apreſentados pelo dito Con
de , os quaes entrao nas offertascom o Vigario , e
com as Freiras , que levaó metade. As Irmandades
aqui eſtabelecidas , fao - a do Santiffimo Sacramento ,
que por voto das Religioſas , e nao por folemnida
de de Corpo de Deos , faz todos os annos huma
pompoſa prociſſao com o Santillimo na primeira
Dominga depois da Aſcenſao do Senhor ( i) A da
Senhora dos Remedios Imagem muico milagroſa.
( 2 ) A da Senhora do Roſario , e a da Senhora da
Allumpщаб ..
360 Ha nefta Paroquia o ſeguinte

Moſteiro. be wa

S. Salvador . De Religioſas Dominicanas. Foy


fundado pelo Arcebiſpo de Lisboa D. Joað Efteves
de Azambuja no anno de 1391 , cujo corpo jaz no
Coro de cima com feu epitafio , que tranſcreve D.
Rodrigo da Cunha . ( 3 ) Para effeito delta inftitui
çaó reduzio por Breve de Bonifacio IX . , que aci
ma allegamos , as rendas da Paroquia aqui exiften
te a huma Vigairaria , e com os frutos remanecen
tes cftabeleceo renda fixa para as Religioſas, fazen
do que ellas profeſTallem a Rcgra de S. Domingos ,
fendo antecedentemente humas mulheres , que fa
ziao vida penitente , e ſolitaria , a quem chamavao
naquelles tempos Emparedadas , e viviao neſte ſitio
em hum pobre Recolhimento . A Rainha D. Leo
nor , mulher de ElRoy D. Joao II . lhe acabou o
edifício no anno de 1478. 1
361 O

[ 1 ] Fr. Apollinario na Demonſtraçao Hiſtorica num.161. [2] San


tuario Mariano tom . 1. p.45: [ 3 ] . Cunha nos Biſpos do Porto part. 2 .
na addicaó ao cap. 23. diz , que eſte Arcebiſpo fallecera , ſegundo conſ
ta do ſeu epitafio , a 23 de Janeiro de 1413 , dous annos menos do que
diffemos a pag. 125. guiados pela auchoridade do meſmo D. Rodrigo
da Cuoba.
Da Cidade de Lisboa. 417

361. O corpo da Igreja defte Moſteiro , onde


eſtá eſtabelecida a Paroquia inteiramente fe arrui
nou com o terremoto de fórma, que ſerá impolli
vel repararfe , fem a levantarem por toda a parte
deſde os alicerfes . Retirou - fe o Santiſſimo para a
Igreja do Menino Deos , onde esteve dous mezes ,
e ſe recolheo para a caſa , que era da grade das Re
ligiofas , onde interinamente eſtá ainda tolerando
fómente com a neceſſidade do tempo a menor dc
cencia do lugar. Das Religioſas morreraõ doze pro
fellas , huma Noviga leiga , duas ſeculares e hu
ma criada . As mais que ficaraó , fahiraó da claulu
ra , e humas forao para o Cardal da Graça , e fe
apoſentaraŭ na quinta do Alcaide Fidalgo , outras
eſtiverao no Campo Grande em caſa do Deſembar
gador Franciſco Lopes de Carvalho . Paſſados al
guns mezes , ſe foraõ recolhendo para o Moſteiro ,
onde ſe achao já mais de oitenta exercendo os actos
da Communidade .
:: 362 Conſtava eſta Fregueria de duzentos e feſ
ſenta e leis fógos , c mil e cincoenta peſſoas de com
munhao . Hoje terá menos ſetenta fógos diſtribui
dos pelas ſeguintes
Ruas , e Becos ,
Beco do Gracez , que ficou deftruido , Calçadi
nha das Eſcolas geraes , Caſtello Picaó , Largo da
Igreja , tambem deſtruido , Loureiro , Rigueira ,
Traveſſa das Cruzes .
Freguezias confinantes.
Santo Eſteváð , S. Miguel, Santiago , S. Thomé ,
S. Vicente .
XXXVI.

Santiago.

-363 Documento mais verdadeiro , que ſe con


O ferva no Cartorio deſta Igreja , por on
e
de ſe poſla inferir a ſua antiguidade , he huma com
0
Tom.III. Part ,V. Ggg po
418 Mappa de Portugal.

poſiçao , que o Prior , e Beneficiados fizeraõ entre


ſi no anno de 1337. No de 1371 ha memoria da ſua
existencia , porque tambem ſe conſerva a de feu
Prior Joao de Soure Vigario geral do Biſpo Agapi
to Colona , de que ſe lembra a Hiſtoria Ecclefiaf.
tica de Lisboa . ( 1 ) Continuaó as memorias até o
anno de 1551 , em que Chriftovao Rodrigues de
Oliveira faz della mençaõ no ſeu Summario ; e der.
de o anno de 1555 he o tempo donde começað a
correr os affentos no livro mais antigo dos bautiza
dos , que tem eſta Igreja , na qual todavia fe con
ſerva a tradiçao de ſer erecta pelo primeiro Biſpo de
Lisboa D. Gilberto . ( 2 ) No ſeu adro exiftia col
locada huma pedra antiquiſſima em que ſe lia :

1 Aſclepo "Clicini
Decimi.

Da qual ſe lembra Cardoſo no Agiologio tom .2. pag. 31 .


E era memoria que os moradores de Lisboa dedica
raŭ ao Preſidente Aſclepo pelos annos 300 de Chri
fto .
364 Participa o Paroco do honorifico titulo de
Prior , e como Igreja do Padroado Real he apre
ſentada por ElRey . Rende -lhe duzentos e cinco
enta mil reis , e cada hum dos tres Beneficios, que
aqui ha , e aprelenta o Prior , renderá oitenta mit
reis , ſervindo-o . As Capellas , que ha neſta Igreja
ſao cinco , a ſaber : huma que inftituio o Conego
Magiſtral Nuno da Cunha Deça com oitenta mil
reis de congrua , c comobrigaçao de rezar o Ca
pellaó no Coro com os Beneficiados, os quaes com
o Prior , fab os que a apreſenta) : outra que deixou
o Prior deſta Igreja André Franco com a congrua
de cincoenta mil reis , de que faó adminiftradores
os filhos de Joſeph de Souſa Carneiro : outra que
inf

[ 1] Cunha Hiſtor. Ecclef. de Lisboa part, 2. cap. 103 , n . 2. [2 ] Co


ragraf. Portug. tom. 3. p. 350 .
Da Cidade de Lisboa . 419

inftituio Pedro Nunes da Caſta Gentil com a el


mola de ciocoenta mil reis : outra de felienta mil
reis, que apreſentaó os Cirieiros da Irmandade aqui
erecta de Noſſa Senhora a Franca : ( 1 ) outra de cen
to e cincoenta reis cada Miffa , -que inftituio Bal .
thaſar Pinto , mas he ſó meyo annal, e fað ſeus ad
miniſtradores os herdeiros de Dionyfio de Oliveira ,
Eſcrivað que foy da .Chancellaria da Corte .
365 A pequena ruina que padeceo ſe acha repa
rada . Tem dentro do ſeu destricto as ſeguintes

Ermidas .

S. Braz . Vulgarmente chamada Santa Luzia , he


Igreja iſenta , por ſer Commenda da Religiao Mi
litar de Malta. O pequeno damno , que experimen
tou com o terremoto , ſe acha recuperado .
S. Filippo , e Santiago. Antigamente lhe chamavao
Hoſpital dos Caſtelhanos . Adminiſtra- a Rodrigo
Antonio de Figueiredo , que depois de a poſſuir ,
The ficou chamando a Ermida do Amparo , por cau
fa de huma Imagem da Senhora com eſte titulo .
Tem hum Altar , que pertence à Irmandade da Se .
nhora Máy dos Homens de Xabregas , por fahir
detta Ermida o Terço , e a Irmandade, quando vay
acompanhar os Irmãos , que fallecem . Tem mais
oucro. Altar do Senhor Jeſuscom o ticulo de Refor
mador de Lisboa , que os Senhores delta Cara que
rem pôr em cabeça de morgado .
366 Conftava elta Freguezia de cento e vinte
fógos, diſtribuidos pelas ſeguintes
Ruas .
· Rua que vay do Limoeiro para as Portas do Sol ,
Rua que vay da Igreja de S. Braz para o Chao da
Feira > Rua da Lagem , de huma parte fóınente ,
porque da outra pertence à Freguezia de S. Barthos
Ggg ii lo

[ 1 ] Santuar, Marian, tom . 1. pag .336.


420 Mappa de Portugal.

lomeu , Rua do Funil : Paſſadiço , que vay para os


Loyos , ſomente de huma parte , Rua larga , que vay
da Igreja para os Loyos .
Freguezias confinantes.
S. Bartholomeu , Santa Cruz , S. Martinho , S.
Thomé .

XXXVII .

Santos.

367 Erve eſta Igreja do mayor padrao da anti


guidade , que tem o Chriftianiſmo em Life
boa ; porque neſte ſitio grangearaó a coroa do Mar
tyrio os gloriofiffimos tres irmãos Veriſſimo , Ma
xima e Julia na perſeguiçao do Imperador Dio
cleciano pelos annos de Chriſto 303. ( 1 ) Aqui lhe
derað os Chriſtãos ſepultura , e lhe ergueraā certo
genero de Altar , ou Ermida ; e os Santos como
Protectores nacionaes deſta Cidade a defenderao mi...
lagroſamente de hum cerco apertado , que lhe po .
ſerao depois os barbaros Alanos . ( 2 )
368 Occupada Lisboa pelos Mouros , huma das
Igrejas , que elles deixara o intacta aos Chriſtãos pa
ra celebrarem os ſeus Officios , foy eſta , em que
eſtavaó ſepultados os vencraveis corpos dos Marty
res invictos , a quem pela fama dos prodigios , que
Deos obrava por ſua interceffaó , Ihes tinhao ref .
peito os proprios Saracenos ; e quando El Rey D.
Affonſo Henriques houve de lhes conquiſtar ulci
mamente Lisboa , ſe viraó eftes Santos viſivelmen
te auxiliar o exercito Chriſta o contra os Arabes ;
por cujo motivo aquelle inclyto Herce, tanto que
ſe vio victorioſo , melhorou a antiga Ermida , fa
zendo erigir no meſmo lugar hum Tempio mais
am.

( 1 ) Alim o diz Baronio nas Notås ao Martyrologio Romano em


o primeiro de Outubro. [ 2] Moparq. Lufit. liv. s . cap. 23 .
Da Cidade de Lisboa . 421

amplo , dedicando- o ao nome trino dos Santos glo


rioſos Martyresi ( 1 )
369 Paſſado pouco tempo , depois que a Ordem
da Cavallaria de Santiago começou a florecer
i
augmentarſe em Portugal , tratou ElRey D. San
cho I. de lhe fundar hum Convento , onde houvef
ſe Religioſos da meſma Ordem , para adminiſtra
rem os Sacramentos aos Cavalleiros , que andavao
na guerra , e ſerviſſe de ſepultura aos que morrer
ſem no Reino , e aſſim o fez edificar junto deſta Er
mida no anno de 1192 ſendo entao Meſtre da Or
3 dem D. Sancho Fernandes , e Prior do Convento
D. Chriſtovao . ( 2 )
370 Aqui viveraó os Religioſos até o tempo de
Elſey D. Affonſo III , no qual ganhando- ſe aos
Mouros a Villa de Alcacer do Sal , paſſaraó para
ella os Sacerdotes deſte Convento de Lisboa , ( 3 )
e com eſta mudança elle ſe converteo em Moiteiro
de Religioſas da meſma Ordem , occupando - o as
mulheres , c filhas dos Commendadores , (4) e alli
។ perſeverarað por muitos tempos onde houverao
Senhoras nobiliffimas, e religiofißimas , até que no
anno de 1490 fe pafiarao para o novo Moſteiro de
Santos, que lhes mandou edificar ElRey D. Joao
II . transferindo- ſe juntamente com as Rcligioſas os
corpos dos veneraveis Martyres com huma rolem
niflima Prociffaó .
371 Ficando efta Igreja deſoccupada , a elegeo
o Cárdeal Henrique , ſendo Arcebiſpo de Lisboa
no

( 1) Cunha dos Biſp . de Lisb. part. 1. cap . 18. num.7. [ 2 ] Fr, Jeo
ron. Roman. Hiſtór, da Caval. deSantiago m.f.cap. 4. ( 3 ] Fr. Jerony
mo Roman . acima allegado , diz que a primeira mudança , que eſta
Ordem fizera de Lisboa , fora para Mertola , e depois para Alcacer ;
porém o Cbroniſta mór Fr. Antonio Brandaó no livro in.cap 25 .
da Monarquia Lufitana o emenda , 2 quem ſeguimos. [4] Fr. Fran
.
ciſco Brandao naMonarq . lib. 17.c.57. affirma, que as commenda.
deiras , e Freiras desta Ordem eſtiverao primeiro na Villa da Arruda ;
donde vieraó para eſte Moſteiro de Santos o Velho.
422 Mappa de Portngal.

no anno de 1966 para Paroquia , ( 1 ) deſmembrane


do - a da Fregueria de Noſſa Senhora dos Martyres.
( 2 ) As calas , e mais apoſentos ficaraó vagos para
as Commendadeiras por morte de ElRey D. Sebar
tiao ; e parecendo a citas Senhoras mais util ao Mof
teiro de Santos o Novo , venderemo dito fitio , ſe
contrataraó com D. Luiz de Lancaſtre Commenda
dor mór da Ordem de Aviz , e lho venderaõ por dez
mil cruzados ; mas porque a dita venda foy feira ſem
conſentimento do Grao Meſtre da Ordem , Tha an
nullou D. Manoel de Seabra Biſpo Deaó da Capel .
lá Real , indo no anno de 1593 viſitar o Moiteiro
de Santos o Novo por ordem de ElRey Filippe II .
372 Conſta a Paroquia de hum Vigario do Pa
droado da Mitra, ao qual rende hum conto de reis :
nao tem Beneficio algum ; ha porém doze Capellas
com obrigaçao de Miffa quotidiana , e de rezarem
no Coro o Officio Divino , a cada hum dos quaes
rende hoje oitenta mil reis pela diminuição do juro ,
porque antigamente rendia'cem mil reis : adminiſ
tra , e provê eſtas Capellas a Irmandade do Santif
fimo em concurſo . He tambem adminiſtradora a
meſma Irmandade de mais cinco Capellas , das quaes
tres ſao de ſeſſenta mil reis , e duas de cincoença com
obrigaçao de Miſra quotidiana .
373 A Irmandade de Noſſa Senhora da Piedade
adminiſtra , e provê tres Capellas , das quaes huma
he de ſeſlenta mil reis de Miſſa quotidiana , e com
obrigaçaõ de ſe dizer às ooze horas nos Domingos ,
e dias Santos de guarda : as outras duas faó de cin
coenta e cinco mil reis com obrigação de acompa
nharem todas as ſextas feiras do anno a Via - Sacra .
A Irmandade das Almas administra , e provê ſeis
Capellas de cincoenta mil reis cada huma com obri
gaçao de Milla quotidiana, ſendo huma dica de ma
dru

[ 1] Conſta dehum affento, que ſe acha no principio do primeiro


livro dos Bautizados deſta Paroquia. [2] Fr. Apolinar, na Demonftra,
çaó Hiſtor, num. 265,
Da Cidade de Lisboa. 423

drugada. Ha mais huma Capella de cincoenta mil


teis , que adminiſtra , e provê a Irmandade dos San
tos Martyres .
374 Nað foy muito o prejuizo , que o horro
roſo terremoto cauſou a eſta Igreja , porque fomen
te fentio alguma ruina no Coro facilmente repara
vel ; porém nað obftante , foy tal o fuſto naquel
les primeiros dias , que por cautella de mayor eſtran
go , mandou o providente Paroco ſe mudaſle o San
tiffimo para huma Ermida , ou barraca das caſas de
D. Rodrigo de Noronha , contigua ao Convento
dos Padres Mariannos . Depois fe recolheo para a
fua propria Igreja , onde exercita os actos Paros
quiaes. Dentro do territorio delta Freguézia exiſ .
tem os ſeguintes

Conventos.

S. Franciſco de Paula . De Religioſos Minimos .


Foy fundado com o titulo de Hoſpicio no anno de
1719 à cuſta de eſmolas, que tirou Fr. Aſcenſo Va
quero , Religioſo leigo dameſma Ordem , e da Pro
vincia de Andaluzia , peſſoa que conhecemos de er
tremada finceridade , c virtude . No anno de 1753
por Decreto de El Rey Fideliffimo ſe começou no
va fabrica com citulo de Convento , e ſe acha mui .
to adiantada com os auxilios da Sereniflima Rainha
D. Maria Anna Victoria fua protcctora. Foy hum
dos edificios mais bem livrados das violencias do ter
renoto .
S. Joao de Deos. De Religioſos Hoſpitalarios.
Fundou - o no anno de 1629 D. Antonio Mafcare
nhas Deao da Capella Real , Deputado da Meſa da
Conſciencia , e Commiſſario da BuHa da Cruzada .
Eftes Religiofos adminiſtraó aqui hum Hoſpital ,
que o meſmo Fundador eſtabeleceo para Clerigos
pobres. Tambem o terremoto eſpantoſo nao fez
impreſſaó , que prejudicaſſe a eſte Convento.
Nof
424 Mappa de Portugal.

Noſa Senhora do Livramento . De Religioſos da


Sancillima Trindade , no ſitio de Alcantara. A pri
meira fundaçao deſte Convento he do anno de 1679,
A ſegunda , que agora exilte, le deve ao zelo , e dif
pendio de Fr. Jeronymo de Jeſus Religioſo da mel
ma Ordem , que fez concluir a fabrica no anno de
1698. ( 1 ) Com o terremoto experimentou nao mui.
ta ruina , mas ſem embargo dito , ſe mandou logo
apontoar ; e como a Rainha noſſa Senhora he devo
tiflima da fagrada Imagem , que alli: le venera de
Maria Santiſſima com o titulo do Livramento , or
denou ſe fizeſſe promptamente na Cerca huma igre
ja de madeira , onde ſe celebrarao os Officios Divi,
nos , e os Religioſos eſtiveraó abarracados em apo
-ſentos, e cubiculos tambem de madeira , em quanto
ſe nao poz expedito o Convento .
Noſa Senhora das Neceſidades . Dos Congregados
do Oratorio de S. Filippe Neri . Foy edificado na
eminencia , que domina a ribeira de Alcantara , jun
to de huma Ermida da Senhora , feita com as eſmo
las dos Fieis , como publica o letreiro , que eſtá na
porta da meſma Ermida , cuja inſcripçað foy eſti
pulada entre a Irmandade dos homens do mar , que
as procurou , 6 Anna de Gouvea de Vaſconcellos
ſobrinha do famoſo Franciſco Valaſco , que o per
mittio , por ſer ſenhoria do dico fitio no anno de
1613. Sendo ultimamente ſenhor deſta Ermida , e
de huma quinta a ella contigua Balthaſar Pereira do
Lago , ElRey D. Joað v . lha comprou no anno de
1743 , mandando reedificalla de novo , e fundar efe
te fumptuoſiſlimo edificio para habicaçao dos Padres
Congregados , os quaes tomarað poſle delle nas pri
meiras veſperas da Aſcenſao de Chriſto em 6 de
Mayo de 1750 .
375 Compoem -ſe efte Regio artefacto de ex
cellentes cellas vaftos dormitorios , e primoroſas
offi

[1 ] Corograf, Portug. toin . 3. pag. 53's


Da Cidade de Lisboa . 425

officinas ; de huma delicioſa , e dilatada cerca , on


de os jardins ornados com immenſa copia de flores,
e grande numero de eſtatuas , e buftos bellas fon
ces de pedraria , compridos patleyos , c bem ordena
das ruas povoadas de arvores diverſas , formao pri
moroſamente o ſitio mais agradavel , que ſe vê em
Lisboa , ſendo antes agreſte por natureza . Muito
conduz para ennobrecer a mageftade deita obra o
Palacio Real , que a hum dos ſeus lados mandou
tambem traçar, cerigir o meſmo Soberano com tri
bunas para a Igreja , e onde hoje habita o Sereniſ
fimo Infante D.Manoel. Grandemente illuftra tam
bem eſta Regia Caſa o admiravel Collegio eſtabe
lecido pelo meſmo Rey Fideliffimo, para ſe enſina
rem nelle nao ſó as primeiras letras , mas,todas as
mais artes , e ſciencias , as quaes os doutos Congre
gados vincularaó de tal forte com a virtude , quç
tem idoneos Meſtres para cultivar os ſeus alumnos
em grande credito do ſeu novo Methodo . Lograó
mais hum rico movel de numeroſos , e ſelectos li
vros , e huma bem trabalhada collecçao de Maqui
nas , e inſtrumentos para todas as experiencias de
ſeu Curſo Fyfico , a cujas lições recorrem em dias
determinados nao ſó a Nobreza , e literatos da Cor
te , mas as peſſoas Reaes , que muitas vezes tem al
fiftido às operações Fyficas, e Mathematicas deſte
Collegio .
376 Ficou a Igreja izenta , e livre dos perigo
fos impulſos do grande terremoto ; o Convento po
rém eſcapou da ulima ruina , a que eſtá expofta a
fua elevada conſtruccaó por cauſa da previſta vigio;
lancia do inſigne Caetano Thomaz , que na funda
2 çað mandou ſegurar com linhas de ferro codo o edi
ficio , e agora para o leu reparo arbitrou o dito Ar
quitecto quarenga omil cruzados. Os Congregados
3 todavia ſe abarracarao na cerca , onde tambem o
Sereniſlimo Senhor Infante D. Manoel mandou fa
zer para ſi huma decente accommodaçao de madeira.
Tom.III . Parc. V. Hhh Nof

$
426 Mappa de Portugal.

Noſa Senhora da Porciuncula . De Religioſos Ca


puchos Francezes da Provincia da Bertanha , cha
mados vulgarmente Barbadinhos . Ettabelecerað - fe
no anno de 1648 em humas caſas , de que lhes fez
doaçao D. Maria de Guadalupe Duqueza de Avei.
ro . Naó experimentou fracaſſo , nem ruina com o
fatal terremoto .
Noſſa Senhora dos Remedios. De Religiofos Car
melitas Deſcalços. Foy fundado no anno de 1606 ,
e para elle ſe pallarað os Religioſos com huma de
vota Procifiao em 3 de Mayo de 1611 deſde humas
caſas , em que habitavaó defronte da Igreja de S.
Criſpim . Faz defta Igreja , e Convento huma exa.
&ta defcripçao o Author da Corografia Portugueza
tom : 3. pag . 522. A ruina que eſta Igreja , e Cone
vento padecco com o terremoto , ſe acha recupe
rada .
Moſteiros.

Santo Alberto. De Religioſas Carmelitas Deſcal.


ças. Fundou - o no anno de 1584 0 Cardeal Alberto .
Com o terremoto ficou tao arruinado , que todas as
Religioſas eſtiverao baſtante tempo abarracadas na
quinta do Provedor dos Armazens a S. Sebaftiao
da Pedreira . Depois ſe retirarao para o Palacio do
Conde da Ribeira à Junqueira , e dahi forað para o
feu Mofteiro , onde eſtivera ) abarracadas na cerca ,
em quanto ſe nao concertou .
- Santa Brigida. De Religioſas vulgarmente cha
madas Inglezinhas ; porque as primeiras Fundado
ras , ' que foraó quinze , vieraõ expullas de Inglater
ra , fugindo à herezia de Henrique Vill . , e che ,
gando a Lisboa no anno de 1594 , fe eſtabelecerao
no bairro do Mocambo ' , e com eſmolas fizeraó ſua
Igreja, que a 19 de Agoſto de 10gr ſe queimou , je
fe paffaraó para o Moſteiro da Eſperança, onde eſ
tiverao hoſpedadas ſete mezes , até que ſe recolhe
raó em humas caſas na meſma vilinhança , em quan
to
Da Cidade de Lisboa . 427

to ſe nao fez o novo Moſteiro , e Igreja , para cu :


jo diſpendio concorreo Ruy Correa Lucas , e fua
mulher D.Milicia da Silveira. ( 1 ) Oprejuizo , que
lhe occafionou o terremoto , ſe vay reparando .
Santo Crucifixo. De Religioſas Capuchas chama
das Francezas da primeira Regra de Santa Clara
Vieraõ as fundadoras de Pariz em companhia da
Rainha D. Maria Franciſca Iſabel de Saboya ſua
Padroeira , a qual lhes.erigio o Mofteiro defronte
de S. Bento , que o povoaraó deſde o anno de 1667:
Foy primeiramente da obediencia dos Nuncios deſ,
te Reino , depois por Bulla de Clemente XII . , .fi
cou ſujeito ao Ordinario em 23 de Abril de 1739.
( 2 ) Os abalos do grande terremoto naá lhe cauſa
rao ruina conſideravel: as Religioſas porém fe abar
racara ) na ſua cerca , em quanto ſenao repararao os
prejuizos .
Nolla Senhora da Eſperança. De Religioſas Fran
ciſcanas , que fundou D. Iſabel de Mendanha , Fi
dalga illuftre , no anno de 1530 , e entrarao a po
voallo no anno de 1936. (3 ) Padeceo a Igreja com
o forte terremoto baftante ruina em as abobedas ,
quc foy preciſo apeallas por evitar mayor eftragos
o meſmo experimentaraó algumas porções do Mof
teiro . Aluftadas as Religioſas com tað urgente mo
tivo , ſe forað abarracar para a ſua cerca , onde ex
iſtiraó algum tempo em companhia das Religioſas
de Santa Clara , que ſe vierað aqui recolher cm
quanto ſe nao acabava hum lumptuofo Moſteiro ,
que o compallivo , e Fideliffimo Senhor Rey D. Jo
ſeph I. cem mandado edificar contiguo a eſte da El
perança , para nelle ſe claufurarem as duas Commu
nidades de Santa Clara , e Calvario , que ficaraó co
talmente deſaccommodadas.
Noſa Senhora da Nazareth. De Religioſas Reco
Hhh ii * le

( 1 ) Corograf. Portug. tom . 3.9.516. Ann .Hiſtor. tom . 2.2.537 .


[ a ] Fr. Apollinar. Do Clauſtro Franciſcano pag. 161. Corograf. Port.
tom . 3. P.515. [3 ] Cardoſo no Agiologi com . 1. pag . 18 ,
428 Mappa de Portugal.

Jetas de S. Bernardo. Principiou em hum Recolhi


mento de mulheres penitentes , o qual ſe converteo
em Moſteiro no anno de 1654 por diligencia do Pa
dre Fr. Vivaldo de Vaſconcellos Monge Bernardo .
Teve eſte Moſteiro inteira deſtruiçaõ com o gran
de terremoto ; por cuja cauſa toda a Communida
de fe recirou para o da Eſperança , em cuja cerca
eftiverao abarracadas as Religioſas até 25 de Mayo
de 1756 , em que ſe tora ) clauſurar na quinta cha.
mada dos Louros , ſituada no Campo pequeno , a
qual El Rey lhes comprou por vinte mil cruzados.
i Sacramento. De Religioſas Dominicas. Foy fun
dado pelo Conde de Vimioſo D. Luiz de Portugal ,
e ſua mulher D. Joanna de Caſtro no anno de 1612.
Eftao as Religioſas ſujeitas ao Geral da Ordem . O
damno que lhe caulou o terremoto , eſtá quaſi repa .
do .
Noſa Senbora da Soledade. De Religioſas Trinas
Recoletas. Foy fundado pelo illuſtre Flamengo
Cornelio Wandali , fobrinho do primeiro Biſpo de
Gandavo D. Cornelio Janſenio em o anno de 1657 .
Começou-ſe a povoar em o de 1661 , vindo as Fun
dadoras do Moſteiro do Calvario . Nah foy confi
deravel a ruina , que eſte Moſteiro experimentou
em o dia do terremoto fatal : todavia as Religiofas
com o ſuſto foraó para a Portella , e eſtiverao abar
racadas na quinta chamada do Meyo Milhao , don
de ſe reftitụirao para o ſeu Moſteiro em 8 de Janei
ro de 1757 .
Ermidas.

Nola Senhora da Conceiçao. Sica na rua do Acipref


te nas caſas de Joſeph Machado Pinco , Contratador
que foy do Tabaco : parece ſer a meſma , a qué o
Author da Corografia Portugueza dá o titulo da Se
nhora da Caridade .
Nola - Senbora da Conceiçao. Sita nos quarteis de
Alcantara , a qual ornaó , e feſtejao os Soldados da
dita Praça de armas . Noſ
Da Cidade de Lisboa. 429

Noſa Senhora do Monferrate. Na rua larga de S.


Bento nas caſas de D. Antonio de Meneſes.
Senbur Jeſus da Via - Sacra. Contigua à Igreja do
Moſteiro da Eſperança. Foy erecta pelos Irmãos da
Via -Sacra , pouco antes do terremoto. Depois ſe
começou a dizer nella Milla , e hoje he da invoca
çao do Eſpirito Santo , onde os naturacs das Ilhas fa
zem todos os annos grande fetta . As Ermidas , que
ſe erigirao neſta Freguezia depois do terremoto , fao
as ſeguintes.
Senhor Jeſus dos Navegantes. Na rua , que de no
vo ſe fez chamada do Quelhas para diante do Con
vento da Eſtrella : principiou de madeira , hoje ſe
acha fabricada de cantaria lavrada .
Senhora da Lapa . Cuja Imagem , que he perfeita ,
mandou fazer o Padre Angelo de Siqueira , Clerigo
Secular , e Miffionario Apoſtolico. Junto deſta Er
mida eſtá hum Recolhimento chamado das Orfās
deſamparadas , erecto pela exemplar piedade de
Monſenhor Brandad Prelado da Santa Igreja Pa
triarcal , que chegou nelle a recolher , e ſuſtentar
caritativamente mais de feffenta meninas , que anda
vaó diſperſas , c expoſtas aos deſarranjos , e peri
gos , que occaſionara o formidavel terremoto . Po
rém eleito em Biſpo do Funchal , e transferindo - ſe
para o governo do ſeu rebanho em o anno de 1757 ,
ficou Monſenhor Sampayo ſubftituindo a conſerva
çað das ditas Orfás, que preſentemente faó ſó treze .
377 Conſtava efta Fregueria antes do terremo
to de mil e oitocentos fógos , e pefloas de commu
nhaõ oito mil cento e cincoenta . Preſentemente fe
tem augmentado muito com a conſtrucçao de novos
edificios, e propriedades , que formaó largas, c ef
paçoſas ruas das quaes a mayor parte ainda nas
tem nome , ſendo das antigas os ſeguintes.
Ruas .
Arcipreſte , S. Alberto , Amoreira , Santa Anna ,
Barbadinhos , Bellavita , da Melquiſtella , S. Ben
TO ,
430 Mappa de Portugal
.

to , S. Bento das Trinas , Bernardas , Boaviſta , Cae


tano Palha , Calçada de S. Bento , Campo das Tri
nas , Caſas novas das Neceſſidades, Cura , Eſperan
ça , Ferreiros , Freſca , Gaivotas, Guarda mór , Ja
nellas Verdes , Ingleſinhas , S. Joao de Deos , Ma
dres , Mandragoa , Marianos , Mercatudo , Olival ,
Palha , Pampulha , Pé de Ferro , Peſcadores , Poço
dos Negros , Poyaes de S. Bento , Sacramento , Sil
va , Torre da Polvora .
Traveſſas.
Atafona , Caſtello Picaó , Conde de Obidos , Dou
tor , Inglezinhas , Iſabeis, Oliveira , Paftelleiro
Praya . ( 1)
Freguezias confinantes.
Noſſa Senhora da Ajuda , Santa Catharina , San
ta Iſabel, S. Paulo .
XXXVIII .

[ 1] He muito para reparar o milagre continuo , que teſtifica a glo


rioſa memoria do martyrio dos Santos Veriſſimo, Maxima , e Julia ,
achando -ſe por todas as prayas contiguas a eſta Igreja humas pedri
nhas roliças ſalpicadas de ſangue , e com huma Cruz nellas impreffa ,
das quaes confervamos algumas , e lað tidas em grande eſtimaçaó pe
los devotos. Lembra ſe dellas bum Hymno antigo , que refere Fr.
Agoſtinho de Santa Maria na Hiſtoria Tripartita , onde ſe lê om hu
ma Eltrofe , fallando dos Santos Martyres.

Fratti funt laqueis , faxa per aſpera


Exculpfit Auidus Sanguis imaginem
Non vi, nec manibus, fed cruce fulgida,
Teftantur lapides fidem .

E o Alferes Franciſco de Segura no Romanceiro dos Reys de Pertu


gal part. 1 , Rom, 26.

Ay, en ti pedras redondas,


de las quales Plinio efcrive
cerca de Santos el viejo,
que una Cruz ,a todas ciñe.
Que metidas en la maſa ,
le es que brevidad ſe pide,
fazoran al punto el pan ,
y dellas ſuelen ſervirfe.
Da Cidade de Lisboa . 43 !

XXXVIII .

S. Sebaſtiaõ da Pedreira.

378 Einando ElRey D. Joað 1V . , e eftando


RIa Santa Igreja de Lisboa em Sé vacan
te , ſe eſtabeleceo cita Paroquia pelos annos pouco
mais

cutta dos Freguczes , e junto de huma antiga Er


mida com a meſma invocacao , que era dos Carpin
teiros da rua das Arcas , onde coitumava affiftir deſ
de que veyo da India o Patriarca de Alexandria D.
Joao Bermudes , o qual fallecendo no anno de 1970 ,
e mandando -ſe alli fepulcar , forao depois ſeus offos
transferidos por ordem de D. Filippa de Tavora ſua
fobrinha , para o cruzeiro da Capella mór da nova
Igreja , onde preſentemente jazem em fepultura ra
za com as ſuas armas eſculpidas fobre a campa ,
com a humilde inſcripcao : Sepultura do Patriarca Da
Lexandria Dom Joao Bermudes. ( 1 )
379 Tem o Paroco predicamento de Vigario ,
que apreſenta o Eminentiſlimo Patriarca , e lhe ren
de trezentos e cincoenta mil reis . Existem netta
Igreja quatro Irmandades : a do Santiſlimo , que
apreſenta tres Capellas huma de ſetenta e tres mil
reis , e as duas de fefenta cada huma . Poffue huma
caſa de delpacho das mais nobres , e aſleadas , que
tem a Corte , com hum precioſo movel de todos os
paramentos precioſos para o culto Divino : a das
Almas , que adminiftra , e provê oito Capellas ſeis
de ſefrenta mil reis cada huma , e duas de cincoen .
ta : a de S. Sebaſtiao , que apreſenta , e provê hu
ma Capella de cincoenta inil reis : e a do Senhor Je
fus

[ 1 ] Defte Patriarca eſcreve o P. Joſeph Caflani tom . 7. pag :3:18.


na Continuaçao dos Varões illuftres de Nieremberg. Cardor. Agiolog.
tom . 2. P. 362. Aøn . Hiftor, tom . 1. p.534 . , e Brandao na Monarq.
Lufit. liv . 18. cap. 15..
432 Mappa de Portugal.

ſus da Via - Sacra com ſeu depoſito , c Oratorio fe


parado pouco mais abaixo da Igreja. Ficou intacta
eſta Igreja Paroquial dos horriveis impulſos do ter .
remoto .
380 Dentro dos limites deſta Paroquio eſtá in
clulo o ſeguinte
Convento .

Santa Rita. De Religioſos Agoſtinhos Deſcalços.


Exiſte na eſtrada de Andaluz , e tomarað delle pof
!
ſe os Religioſos em 2 de Abril de 1749. Foy mui.
to pequeno o damno , que lhe cauſou o terremoto .

1 Ermidas.

Santa Anna . Em Sete Rios na quinta de D. Ane


tonio Ignacio da Silveira.
Santo Antonio . Na Cruz da Pedra .
Santo Antonio : Na quinra de Manoel Alvares Lou
fa , onde chamaó o Pinhal .
Santo Antonio. Na quinta que foy do Duque de
Aveiro .
Noſa Senhora do Cabo. Na rua Direita , e nas ca
fas de Fernando Antonio Prégo .
Noſſa Senhora do Carmo. Ao Rego na quinta dos
herdeiros de Antonio Furtado de Mendoca .
Noſa Senhora do Carmo. Na quinta de Antonio
das Neves Collaco às Picoas .
Noſſa Senhora da Conceiçaõ. Na quinta de Rodri
go Ximenes.
Noſa Senhora da Conceiçao. Na quinta dos Lou
ros. Eſta quinta comprou ElRey Fideliffimo D. Jo
feph I. por vinte mil cruzados para nella ſe clauſu
rarem as Religioſas Bernardas em 25 de Mayo de
1756 .
S. Joað Bautiſta. Em Palhavá na quinta , e pala
cio , que foy do Conde de Sarzedas , e onde habi
tarao os Senhores D. Antonio , e D. Gaſpar Arce
bir
Da Cidade de Lisboa. 433

biſpo de Braga , e D. Joſeph que foy Inquiſidor


Geral, filhos declarados de EIRcy D. Joao V. Sup
pofto nao padecer eſta Ermida , nem o palacio rui
na conſideravel , os Senhores fe abarracaraó no ſeu
jardim com a mayor parte da ſua familia , mandan
do tambem apontoar o edificio para mayor ſeguran
ça delle .
S. Joao Bautiſta. Na quinta das Larangeiras .
Noſa Senhora dos Martyres. Na rua da Piedade ao
Rego , e na quinta dos herdeiros de Jacinto Dias
Braga .
- Noſſa Senhora da Piedade. Em Campolide na quin
ta , que poſſuem os Padres Congregados do Orato
rio . Todas eſtas Ermidas padecerað pouca ruina .
381 Cónftava efta Freguezia antes do terremo.
to de duas mil e cem peſſoas de communhao : pre
ſentemente le lhe tem augmentado o numero , é ſe
diſtribuem pelas ſeguintes
Ruas.
· Convalecença , S. Franciſco Xavier , Palhava
Pidade , Rua nova nas Picoas , Rua direita , do Rc
bello , Sete Rios , Travella , que vay para a Car
reira dos Cavallos .
Fregaezias confinantes.
Senhora dos Anjos , Bemfica , Santa Iſabel , S.
Joſeph , Pena , Santos Reys do Campo Grande.

XXXIX .

Nola Senboris do Soccorro.

382 E eſta Paroquia filial da de Santa Juſta ,


H donde ſe deſmembrou em tempo do Ar
cebiſpo D. Miguel de Caſtro , collocando -ſe na
Igreja de S. Sebaftiao da Mouraria , que era dos Ar
tilheiros , pelos annos de 1596 , e ſe começou a inti
tular Fregueria de S. Sebaftiað da Mouraria. Foy .
ſe augmentando o numero dos Freguczes , e pare
Tom.III . Part .V. lii cen• !
434 Mappa de Portugal.

çendo pequena a Ermida, determinarað fábricar ou


tro mayor Templo , para cujo edificio concorreo
com o mayor galto Agoſtinho Franco de Meſqui
ta , e ſua mulher D. Anna da Cupha , que como
Padroeiros da Capella mór jazem alli fepultados.
Com tanto fervor fe diligenciou a obra da nova
Igreja , que em 29 de Setembro de 1646 foy nella
collocado o Santiflimo Sacramenta , vindo em pro
ciſao da fobredita Ermida, donde tambem fe tranſ
ferio a Imagem da Senhora do Soccorro , que deu
titulo ao novo Templo , e Paroquia. ( 1 )
1383 : Logo - nos ſeus principios tiverao, os Paro
cos predicamento de Curas , depois fe intitularaó
Vigarios , que hoje conſervaór, fendo da collaçao
Ordinaria , cujo rendimento extrahido dos direitos
Paroquiaes chega a leiſcencos mil reis .. Adminiftra ,
e apreſenta a Irmandade do Santiſſimo fcis Capel
las de Miffa quotidiana , tres das quaes rendem feſ
ſenta mil reis cada huma , e as outras tres faó de
cincoenra . A Irmandade das Almas com a invo
caçao de Santo André, apreſenta dezaſeis Capellaes
de Miſſa quotidiana com cincoenta mil reis de cone
grua. só
384. Ha mais neſta Igreja duas Capellas inſtitui
das pelos Padroeiros , que apreſenta a Meſa da Mi
ſericordia deſta Cidade com a congrua de trinta e
cinco mil reis , e caſas para morar o Capellao junto
à Capella mór da Igreja , onde tambem eſtaó caſas
para habitarem tres Mercieiras com obrigaçao de
ouvirem as dicas Miñas , e ſe lhes dá em dinheiro
a cada huma quatorze mil e quatrocentos reis , e ſe
lhes affilte com Medico , e botiça nas doenças. O
Paroco tem caſas com os ditos Capellães com obri
gaçao de tomar conta da reſidencia das Merciei
TAS .
1:. 388 No

[ 1 ] Corograf. Portug. com . z . pag. 408, Santuar. Marian. tom . );


pag. 370,
Da Cidade de Lisboa. 435

385 No didomemoravel do grandeterremoto ſe


arruinou , e ficou por terra a Capella mor , e o cru
zeiro da Igreja , como tambem as Capellas do San
to Christo , Noſa Senhora do Soccorro a velha , e
a de Santo Antonio , e o mais que permaneceo em
pé , ficou fummamente eſtremecido , . ciarruinado ,
Nað morreraó neſte eftrago mais que quatro pel
. ſoas , que forað. o Padre Joſeph Formaó Capellao
das Almas , e tres mulheres . Cuidou -fe logo em
tranſportar o Sacramento para a Ermida de Noſſa
Senhora da Conceição que eſtá na ſegunda porta
ria do Collegio que foy de Santo Antaó , de donde
paſſou para a meſma antiga Igrejati jib.7.1
386 : No ſeu deſtricto ſe achaó fituados os ſe
guintes
Gollegios.

- Santo Antað . Foy efte Collegio de Jeſuiras fua


dado no anno de 1879 com adjutorio do Cardeal D
Henrique , em cujo magnifico edificio ſe lançou a
primcira pedra a onze de Mayo . Concluido elle ,
vierað os Padres habitallo , vendendo aos Religioſos
Gracianos à antiga reſidencia , ou primeiro Colle
gio , que poſſuhiaó no bairro da Mouraria. Com
punha - ſe eita grandioſa fabrica de hum mageſtoſo
Templo de pedraria ', para cujo diſpendio concor
reo a grande liberalidade da Condela de Linhares
D. Filippa de Sá , a qual eſcolheo para ſeu jazigo a
Capella mor , primotoſamente obrada. Neita Igre
ja ſe diſle a primeira Miffa no anno de 1652 em dia
de Santo Ignacio , a quem ſe dedicou ,'icom toda a
folemnidade. ( 1 ) Collegio fe compunha de va
Tiós Cathedraticos Jeſuitas , que entinavao publi
camente as Artes e Faculdades , diftribuidos por
diverlás Claffes , é Aulas , onde a inſtrucção dos ef
tulantes ſe fazia gratuica .
lit ir 387 Vit

( 1 ) Cardoſo no Agiolog. Lufit, tom . 1. pag. 425,


436 Mappa de Portugali

387 Via-fé efte Convento , e Collegio ſumptuo


Glímamente renovado , e augmentado em primoro
fa Sacrittia , excellentes corres , eſpaçoſos dormito
rios , ecm todas as mais partes , que ornaó hum ma :
gnifico artefacto se tudo por actividade do Padre
Joao Baurifta Carbone , Jeſuira Napolitano , a quem
ElRey D.Joao V. muito eſtimava , o qual ſendo
Reitor do dito Collegio falleceo aqui a s de Abril
de 1750 ; quando ſuccedendo o terrivel Metheoro
do eſpantofo terremoto , ſe precipitou o zimborio
da Igreja , ficando eſta em muitas partes arruinadif
fima, e huma das fuas torres : o meſmo eſtrago cx
perimentou o Convento , principalmente o dormito
rio , que cahia para a parte das Claſſes ; perecendo
neſta fatalidade tres Religioſos , que eraó o Padre
Marcello Leitað , e dous Cathedraticos , além de
outras vinte peſſoas ſeculares. Forao logo os Padres
refugiarſe na fua cerca, na qual le!abrigou tambem
innumcravel povo ; e fazendo varios abarracamentos
para ſeu commodo , e huma Igreja de madeira , al
li ſe conſervarað , em quanto nao forao expulſos de
todo.
Santo Antao o Velbo. Chamado vulgarmente o Col.
leginho. De Religioſos Eremitas de Santo Agoſti
obo , ſituado na raiz do Caſtello , no bairo da Mou
Taria. Foy a primeira habitação , que os Padres Je
fuitas tiveraó nefte Reino , e onde affiftio S. Fran
ciſco Xavier , antes que foffe allumiar o Oriente
com as luzes do Evangelho. Dizem alguns , que fo
ra morada dos Templarios ; outros affirmaó , ( 1 ) que
fora mesquita dos Mouros , e que a Rainha D. Leo
nor mulher de EIRey D. Joað II . a mandara puri.
ficar , e erigir nelle o Moſteiro de Religioſas Do
minicas , que depois pafiarao para o ſitio da Annun
ciada , por troca , que fizerao com os Padres de
San

[ 1] Cardoſo no Agiolog. Lufit, tom , 1. p. 105. сtom . 2. p . 424.


Santuar. Mariao, tom . 1. p .118
Da Cidade de Lisboa.
437

Santo Antao Abbade , e eſtes com os Jefuitas , os


quaes ultimamente o venderaó aos Religioſos Gra
cianos aos 28 de Abril de 1994 , que até hoje o
poſſuem , c habitað como Collegio , onde ha éftu
dos de Theologia , em que lem quatro Meſtres , que
regem as quatro cadeiras , e daqui ſahem muitos
operarios para as Miſsões , que a Religiao manda pa
ra o Eſtado da India . Padecco eſte Collegio grande
eftrago no dia do terremoto , pois todo elle ficou
arruinado , e a ſua Igreja cahio toda por terra , ex
cepto a Capella múr , é ficando debaixo do entulho
fete mulheres, todas eſcaparaó, poſto que mal tra
tadas , e feridas. Os Religiofos ſe abarracarao na
fya cerca , onde fizeraõ huma Capellinha para os
Officios Divinos , em quanto ſe naó reedificava o
Collegio , e a Igreja .
Jeſus. Eite Collegio he dos Meninos Orfãos , fi
tuado na rua da Mouraria . Teve ſua primeira funda
çað pela RainhaD. Brites, mulher de El Rey D. Af
fonſo III . , e Máy de ElRey D. Diniz , o qual Col
legio dotou depois a Rainha D. Catharina, mulher
de ElRey D. João III . ( 1 ) Pelo Regimento , com
que re governa ette Collegio feito em 20 de Agoſto
de 1615 , conſta ſer inſtituido no anno de 1549 a info
tancias do Padre Pedro Domenec , natural de Cata
lunha , Conego de Barcelona e Capellao do dito
Rey , por Breve , que paſſou o Nuncio deſte Rei
no D. Joao Arcebiſpo Sepontino , no qual Breve ſe
involvia nao 1o o titulo da invocacao , que era o da
Senhora de Monferrate , mas ſe nomeava huma tal
Confraria do Menino Jeſus , donde talvez naſceria
o chamarſe o Collegio de Jeſus. A inftituiçað ſó dá
faculdade para aceitarem naó mais que trinta Or
fãos deſamparados , preferindo ſempre os naturaes
de Lisboa , e ſeu Arcebiſpado. ( 2 ) Ultimamente ſe
ha

[ 0 ] Monarq. Luſit. liv . 18. cap. 9. [ 2] Faria A fia Portug. tom. 2 .


p . 288. Cardol, Agiolog. tom . 3. p. 874: Oliveira Grández. de Lisb.
pag. 68.
438 Mappa de Portugal

havia reedificado todo eſte Collegio deſde os alicer


fes por ordem , e diſpendio do Fideliſſimo Rey , e
Senhor D. Joſeph , e concluido no anno de 1754 ,
como conſta da inſcripção de hum padrao gravada
em pedra , que eſtá no pateo , ou portaria . Como
terremoto padeceo fua ruina , cahindo huma porçao
de parede para a parte , que confina com a rua de
Joao de Oiteiro : 'eftalarao , e abrirao varias abobe .
das , e paredes , mas tudo facilmente reparavel . Nin
guem pereceo nas ruinas , nem no Collegio , por
que ſe foraő logo abarracar na cerca . Preſentemen
te afliftem aqui poucos Collegiaes por falta de ren
das ſufficientes. Tem hum Provedor , ou Conſer
vador , que hoje anda em hum dos Deputados da
Mera da Conſciencia : tem mais hum Reitor Cle
rigo , hum Vice - Reitor , e hum Meftre de Latim .

Ermida .

Noſa Senhora da Saude. Foy eſta Ermida erecta ,


e dedicada pelos Artilheiros a S. Sebaſtiao : e collo
cando - ſe nella a Imagem de Noſſa Senhora da Sau
de em 20 de Abril de 1662 , em cujo dia ſahio com
ſolemne prociſao da Igreja dos Meninos Orfãos ,
onde havia eſtado noventa e tres annos , deſde entao
ſe começou a intitular a Ermida de Noſſa Senhora
da Saude. ( 1 ) Arruinou - ſe com o terremoto ; po
tém já ſe acha reparada , e ſe diz nella Miſſal Fron
teiro da Igreja dos Meninos Orfãos eſtá hum nicho ,
onde ſe venera huma Imagem do noſſo glorioſo Pa
tricio Santo Antonio , com quem os Lisbonenſes tem
grande devo cao .
388 Conſtava eſta Freguezia antes do terremo
to de mil e feiſcentos fógos , hoje ſó le acha com
oitocentos ie quarenta diſtribuidos pelas ſeguintes
Ruas .

5 ) Santuar , Macian , toin . 1. pag . 264.


Da Cidade de Lisboa. 439
Ruas ,

Amoreira , Calçada do Collegio , Canos , Capel.


Jaó , Carreirinha , Cavalleiros, Collegio , Collegi
nho , Detrás de S. Domingos , Entre as hortas, Joao
de Oireiro , Largo da Igreja , $ . Lazaro , Livrei
ros , Mouraria , Parreiras , Paço do Bemformoſo ,
Rua nova da Palma , Sima , Suja , Tendas , S. Vie
cente ..
Becos.
Amoreira , Barbaleda , Cozinheiro , Crafto , Jaf.
mim , Mello , Tres Engenhos.
Freguezias confinantes.
Anjos , Santa Juſta , Pena.

XL .

S. Thomé.

-389
Suppoftornaó
ra origem poder averiguarſe averdadei
ella goza de huma grande antiguidade. Do primei
ro livro dos Privilegios , e Mercês de Reys , e Prin
cipes fol. 25. , que fe conſervava no cartório de San.
ta Maria , conftava que El Rey D. Dinis com a Rais
nha Santa Iſabel fizera doaçað ao Moftciro de Alco
baça do Padroado da Igreja de S. Thomé pelos an .
nos de 1320. Conſta mais , que no anno de 1414
mandara a Univerſidade entao exiftente em Lisboa ,
tomar poffe dcfta Igreja , que tinha vagado por mor
te de ſeu Prior : Gomes Joab . ( 1 ) Dos tempos mais
chegados a nós temos memorias da lua exiftencia no
anno de 15 $!, ſegundo o Summario , que entao ima
primio Chriftovao Rodrigues de Oliveira. E na Sa
criſtia deſta Igreja exifte huma ſepultura de Affon
fo Gomes de Abreu , e fua mulher Maria Antunes ,
que falleceo aos ín de Janeiro de 1991 .
390 He

[ 4] Leitao Ferreira Notic. Chronolog. 0.587 . pag. 256 ,


440 Mappa de Portugal.
1
390 He eſte Priorado de concurſo , e da apre
ſentaçao Ordinaria , da lotaçaõ de trezentos mil
reis liquidos , depois de tirada a terça em todos os
frucos, excepto offertas , Capellas', c Laudemios ,
que paga à Univerſidade de Coimbra. Tem cinco
Beneficios, que apreſenta o Prelado e rende cada
hum oitenta mil reis . Inftituio aqui o Padre Henri
que Fernandes Homem huma Capella de cento e
cincoenta mil reis , que adminiftra , e prorê em con
curlo a Ordem Terceira da Graça. A Irmandade
das Almas provê tres Capellas de cincoenta mil reis
cada huma . Ha mais a Irmandade do Senhor Jeſus
do Penedo com ſeu Capellao .
391 Fez o terremoto eſtremecer , e cauſar al
guma ruina neſta Igreja , mas nao derrubou ſenaő
algum eſtuque , e pintura da abobeda da Capella
mór, e azulejos do Coro , tendo a felicidade de nao
morrer peſſoa alguma dentro da Igreja , poſto que
pereceraõ no meſmo dia trinta e nove paroquianos
em outras partes diverſas. A Imagem do Senhor Je.
ſus do Penedo , que era de barro mas muito antiga ,
e feita na India , caindo do Altar , e Capella em
que eſtava , ſe fez em pedaços ; mas os Irmãos da
fua Irmandade mandarao fazer outra da meſma gran
deza , que ſe collocou ſolemnemente no meſmo Al
tar em 3 de Mayo de 1757. Os actos Paroquiaes ſe
fizera ) ao principio na meſma Igreja , da qual ſe
mudou o Santiffimo para a do Menino Deos onde
efteve até dia de S. Bartholomeu do anno de 1762 ;
em que ſe transferio para a ſua propria Igreja.
392 Dentro dos limites deſta Freguezia exiſte
o ſeguinte 1
Hoſpicio.

Menino Deos . He eſte hum Recolhimento de Man


telatas da Ordem Terceira de S. Franciſco de Xa
bregas , onde tambem ha Hoſpital para enfermos da
meſma Ordem . Teve principio a ſua fundaçað no
an
Da Cidade de Lisboa . 441

anno de 1710 ; porém a 4 de Julho de 1711 Ihc lan


çou a primeira pedra no edificio a Mageſtade de El
Rey D. Joao V. concorrendo com grande eſmola
para continuaçao da obra . A Ordem Terceira ſe
obrigou por huma eſcritura a pagar todos os annos
ſetenta mil reis ao Prior , e Beneficiados deſta Pa
roquia pela falta da regalia das feſtas , que a meſma
Ordem executa com os Religioſos nefte Hoſpicio,
e por poderem fepulcar na ſua Igreja os Terceiros.
Ficou eſta Igreja livre do perigo , e para elle forað
os Conegos , e mais Bafilica de Santa Maria reti
dir ; ſendo a primeira vez , que exerceraó os actos
Ecclefiafticos dia do Anjo Cuſtodio do anno de
1757 , havendo antecedentemente eftado na barraca
da Fregueria de S. Jofeph . As enfermarias porém
defte Hoſpicio , e a caſa do deſpacho da Ordem
Terceira ficarão muito arruinadas.
*3* 3931: Conftava efta Paroquia antes do terremoto
de duzentos e ſerenta e cinco fogos ;" hoje numera
duzentos e cincoenta exiſtentes em cafas ; e em bar
racas quarenta e tres : peffoas de communhao ner
te preſente, anno , fað novecentas e . oitenta e nove ,
diftribuidas pelas ſeguintes tan

Ruas .
Adro da Igreja , Calçada do Menino Dcos , Cal
çadinha detrás da Igreja , Calçadinha de S. Thomé,
Cegó , EſcolasGeraes, Hoſpital do Menino Deos
Portas do Sol , Portaria do Salvador ,iRigueira .

Becos .
Era , Funil , Maldonado , Norte , Oliveirinha .

Freguezias confinantes.
-- Santo André , Santa Cruz do Caſtello , Santa Ma
rinha , Salvador , Santiago , S. Vicente.

Tom.III . Part.V. "I ; Kkk XLI.


442 Mappa de Portugál
.

XLI.

S. Vicente.

394 Stabeleceo ſe efta Paroquia dentro do in


E ſigne , e ſumptuoſo Templo de S. Vi
cente de Conegos Regrantes de Santo Agoſtinho,
que apreſentaó o Cura , ſobre a qual juriſdição hou
ve grandes demandas com a Miira , que vierað fi
nalmente a relolverſe no anno de 1941 , em que jul
gou o Arcebiſpo D. Fernando de Vaſconcellos fer
a Paroquia do Convento de S. Vicente iſenta da ju
riſdiçao Ordinária , que o Papa Paulo III . confir
mou aos 12 de Junho no anno oitavo de feu Ponti
ficado . (1) ;
395 Rende eſta Igreja ' ao Cura duzentos e cin
coenta mil reis certos , e a Irmandade do Sanriffimo
apreſenta quatro Capellas de quarenta e cinco mil
reis cada huma, e Mifſa livre. A das Almas provê
duas da mefma congrua. Ha mais as Irmandades de
Noſſa Senhora das Neceſſidades , era de Noſſa Se
nhora do Pilar , que nao tem Capellães . Compre
hende o ſeguinte

Convento .

S. Vicente . De Conegos Regulares de Santo Agol


tinho. Foy fundado primeiramente pelo Veneravel
Heroe D. Affonſo Henriques para jazigo dos Ca
valleiros Alemães , que morriao na expugnaçao de
Lisboa , lançando -lhe elle meſmo a primeira pedra
fundamental aos 21 de Novembro de 1147. ( 2) En
tre aquelles illuſtres Cavalleiros , que entao morre
raó , reſplandeceo em prodigios hum chamado Hen
ri

[ 1 ] Cunha nos Biſp. de Lisb. part. 2.cap. 4. num.7. Soufa Hiſtor.


Genealog. tom. 12.liv, 13.8.130 . [2] D. Nicol , de Santa Maria Chron.
dos Coneg. Regr. part. 2. cap .3. num.3 ,
Da Cidade de Lisboa. 443

rique , natural de Colonia , de cuja fepultura reben


tou , e fc produzio huma palmeira , que com o ſeu
contacto dava faude aos enfermos. ( 1 ) Depois foy
eſta Igreja , e Convento reedificado magnificamen
te por ElRey Filippe II . , cuja primeira pedra lhe
lançou o Cardeal Alberto em 25 de Agoſto de 1982 ,
eſtando preſente o dito Rey , o qual mandara de
molir huma Igreja , que ElRey D Sebaſtiao havia
começado a fundar à borda do Tejo na ponta do
Terreiro do Paço junto à Alfandega , collocando
nos ſeus alicerſes a primeira pedra em Março de
1571 , e havendo - ſe trabalhado nella alguns annos ,
com o parecer de muitas peſſoas prudentes, que ob
ſervarao incongruencias naquelle fitio para o culto
Divino , ElRey Filippe a mandou desfazer ) e ap
plicar a meſma conſignaçao , e materiaes para a Igre
ja de S. Vicente de Fóra , onde pelos frizos da ci
malha real ha flechas aſpadas , que bem moftrað fer
pedras do Templo demolido , pois que El Rey D.
Sebaſtiao o fundava com o intuito de o dedicar ao
invicto Martyr S. Sebaftiao , para ſer cabeça de hu
ma nova Ordem Militar , intitulada da Flecha , que
meditava inſtituir. ( 2) Paſſados vinte e trés annos ,
que ſe gaſtaraó neſta ultima fabrica , ſe collocou na
ſua Igreja o Santiſſimo Sacramento em 18 de Mayo
de 1605. ( 3 ) He todo eſte edificio magnifico , e de
primoroſa arquitectura ; cujo tecto da ſua nobiliſi
ma Portaria foy pintado pelo famoſo Bacarelli com
a delineacao , e regras de admiravel perſpectiva.
396 Aos violentos impulſos do terremoto eſtre
meceo todo eſte grande edificio e ſe proftrou lo
go cahindo no meyo da Igreja o ſeu formoſo , e ad
miravel zimborio , e muitas pyramides , que por or
nato o cercavaó : a meſma ruina padeceo o Conven
Kkk ii [ Og

[ 1 ] Cunha nos Biſpos de Lisboa part. I. cap. 33 n .8. Marinho de


Azev . Antig . de Lisboa liv.4 . cap. 28. [ 2 ] Faria nas Rim . de Cam .
Oitav . 3. p .119. Santuar . Mariao , tom. 1. p. 217. [3 ] Cunha nos Bif
pos de Lisboa part. 2.cap. 4. 1.7 .
444 Mappa de Portugal.

to , em o dormitorio de cima da parte do Naſcenter


com outras muitas porções da fua fabrica , mas ſemi
o infortunio de perccer nelle mais que huma , ou
duas peſſoas ; porém na Freguezia morreraó mais
de cincoenta e ſete, e ſe arruinarað muitas proprie
dades de caſas em todo o ſeu ambito , em que en..
trou o palacio do Conde de Val de Reys, o de D.
Joſefa Helena , o de D.Diogo de Napoles , o em
quc morava Pedro Janſen , o de Ruy Vaz de Siquei
ra , o de Joſeph Galvao de Lacerda , e outros mais ;
de que alguns já ſe repararao ; outros jazem nas mel
mas ruinas. Transferirao -ſe logo os Religioſos, para
a fua cerca , onde ſe abarracarao ; nao deixando
com tudo de exercitar exemplarmente a virtude da
caridade para com o povo afflicto , e deſamparado',
que ſe forað valer do ſeu abrigo , e piedade. Tem-,
ſe feito alguns reparos no Convento mais preciſos.

sie Moſteiro. 7 :

Santa Monica. De Religioſas de Santo Agoſtinho.


Foy fundado no anno de 1986 , por D. Maria de
Abranches Senhora illuſtre , filha de Alvaro ' de
Abranches Capitao mór de Azamor ; a qual pri
meiro de Janeiro do fobredito anno lhe lançou a pri
meira pedra fundamental com ſuas proprias mãos ;
e começou a povoarſe de Religioſas deſde onze de
Outubro do meſmo anno . ( 1 ) Arruinou-ſe , e deſ
truio - ſe neſte Moſteiro com o extraordinario terre
moto a porçaõ mais moderna do ſeu edificio , fun
dindo - ſe perto de cento e ſeſſenta commodos , que
eſtavao perfeitamente acabados : neltes eſtragos pe
receraó ſete Religioſas ; entre as quaes ſe faziao
diſtinctas na pratica das virtudes Soror Magdalena
de Chriſto , Soror Perpetua das Brotas , e Soror
Maria Leocadia : morrerao tambem duas feculares ,
duas

[ 1] Anno Hiſtoric. tom . I. pag, 16.


Da Cidade de Lisboa . 445

duas criadas, e huma negra , e na Igreja ſe proſtrou ,


e deſtruio totalmente a Capella mór com a morte de
algumas peſſoas.
**397 Efte fucceffo taó eſpantoſo motivou a toda
a Communidade , que conſtava de cento e noventa
e duas Religioſas , além de muitas ſeculares , edu .
candas , e criadas , que por todas faziað o numero
de trezentas peſſoas , a irem refugiarſe para a cerca ;
e lahindo pelas oito horas da noite com grande tra
balho alli pallarao até o Domingo pela manhã
cheyas de fuſtos , e affições: daqui ſe mudarað pa
ra a quinta contigua chamada do Abelha , e fazendo
erigir promptamente hum Alcar , nelle ſe celebrou
Milla para cumprirem com o preceito , e rezarao
o Officio Divino . Paſſarað neſte ſitio codo aquelle
dia , e noite calamitoſamente ſem abrigo algum ,
até que a meſma neceſidade lhes fez lembrar o re
fugio da quinta da Mitra , que o Eminentiffimo Pa
triarca poffue em Marvilla. Com eſta determinaçao
ſe pozeraó ao caminho proceſſionalmente , e nelle
gaftarao deſde as oito horas da manhã do dia tercei
ro de Novembro até às cinco horas da tarde do mels
mo dia , em que chegaraó muito quebrantadas de
forças más nao de animo . Accommodaraó - ſe em al
gumas caſas do Palacio , que lhes mandou franquear
Sua Eminencia , onde exiftirao exercitando recta ,
e exemplarmente as fuas obrigações Religiofas , em
quanto ſe nað reſtituirao para o ſeu antigo domici
lio .
Hofpicio .

Noſo Senhor Heſus Chrifto. De Religioſos Thoma


riſtas da Ordem de Chriſto . Arruinou- te com o ters
remoto .
398 Conſtava efta Fregueria de quinhentos e
quarenta e quatro fógos ; hoje ſe acha com diminui
diftribui.
çao de cincoenta pouco mais ou menos ,
dos pelas ſeguintes
Ruas.
446 Mappa de Portugal.
Ruas.
Adro de Santo Eſtevao , Adro da Graça , Alfur
ja , Arco de S. Vicente , Atafonas , Cruz de Santa
Elena , Cruz do Máo , Eſcolas Geraes , ( 1 ) Lou
reiro , Marco Salgado , Monſinhos , Oiteiro da A.
mendoeira , e da Fundiçao , Pateo da Atafona , Ti
jolo , Tilheiro de S. Vicente , S. Vicente , Viga ..
rio .
Becos , e Travelas.
Amador , Beguinas , Clerigos , Corretor, Mó,
Traveſſa das Bruxas , e de Santa Marinha , e de
Santa Monica .
Freguezias confinantes.
Santa Engracia , Santo Eltevaó , Santa Marinha ,
Salvador , S. Thomé .

CA P I T U LO III .

Igrejas Paroquiaes no Termo de Lisboa .

. 1‫ܢ‬
O quando muito o . elpaço de nove legoas,
de comprido , ſe contarmos de Oeiras até Santiago
dos Velhos ; e de largo pouco mais de tres legoas .
Luiz Mendes de Vaſconcelos lhe configurou mayor
Tex

[ 1 ] Neſta rua , que ſobe para o Conveuto de S.Vicente deFóra , fe


conſervaó humas caſas com o nome de Eſcolas geraes , onde eſtiverao
os Erudos publicos na ſegunda mudança , que ElRey D. Manoel no
aano de 1503 mandou diſpor em forma de Univerfidade, para alli se
enſinarem as Sciencias. Depois pafiarað eſtas caſas a varios poſſuido
res ; e antes do terremoto as poſſubia o Capicao mór do Sardoal Fran .
ciſco Xavier de Mendoça , e habitava nellas Monſenhor Amaral. Com
o terremoto ſe arruinaraó grandemente, Os curioſos podem ler a Fr.
Franciſco Brandao na 5. parte da Monarquia Lufitana liv. 16. cap. 82.
e ao Beneficiado Franciſco Leitaó Ferreira nas Noticias Chronologicas
da Univerſidade de Coimbra num.930 .
Do Termo de Lisboa . 447

extenſao em todo o ſeu ambito , porque diz que


terá dez legoas de comprido , contando de Torres
até Caſcaes , e cinco de largo. ( 1) O certo he que
todo eſte circuito he hum terreno muito povoado,
alegre , e fertil , por onde antigamente os Sereniſ
fimos Reys de Portugal tinhao fuas caſas de recrea
çað , e regalo , convidados da bondade do ſitio , que
por todas as partes merece ſer buſcado , e habita
do. (2 ) Hoje bem póde livremente chamarſe huma
Cidade continuada , cujos habitadores , e colonos
fao muito aptos para a lida do campo , e nao menos
as mulheres , as quacs faõ affiftidas de hum animo
taó varonil, que metem em grande admiraçao aos ef
trangeiros. (3 ) Compoem -ſe de trinta e tres Fre.
guezias repartidas pelos Lugares ſeguintes. ( 4 )

Ameixoeira . 1

2 Ffafta- fe efte Lugar de Lisboa pouco mais


А de huma legoa para o Norte. Eſtá em
hum ficio elevado que o faz ſer alegre , e lograr hum
ar falutifero. He terra de ElRey , e conſta de ſeren
ta viſinhos ſubordinados nas cauſas Civeis , e Cri
mes ao Corregedor do bairro de S. Paulo de Lif
boa. A Paroquia he dedicada a Noſſa Senhora com
o titulo da Incarnação , cuja Imagem he antiquilli
ma ,

[ 1 ] Vaſconcel. no Sitio de Lisb . p.165. [2] Monarq . Lufit, liv. 17 .


cap. 23. E Damiaó de Goes na Deſcripçao de Lisboa que compoz em
Latim ,diffe : Quo excurſu crebra villarum ſuburbanarum ædificia, mi
ra elegancia , o amenitate conſtruita , licet cernere. [ 3 ] Cùm paffim in
Lufitania videantur mulieres Ádeo generoſa , ac robuſta ; cujufmodi ven
titant oliſiponem ex pagis , id viculis circuimvicinis , qúe gentes exte .
Tas non minus Chriftiano pudore , quàm mafculo robore in ftuporem fui
adducunt. Diſle o P. Bento Fernandes tom . 2. in Gencl. cap . 24.ſect. :
n. 10. [4] OP. Santa Maria no Ceo aberto pag. 493. diz que o Termo
de Lisboa compreheade cincoenta e nove Paroquias : devia figurarlbe
mayor extenſao ,
448 Mappa de Portugal .

ma , e por ella obra Deos muitos milagres. Foy


achada entre hum funchal , donde em outro tempo
foy invocada com eſte titulo , que conſervou até o
anno de 1941. ( 1 ) O edificio da Igreja he antes do
anno: de 180o ; porque no de 1664 ſe começou a
reedificar à cuſta de ElRey , e tambem de eſmolas
particulares.
3 Era efta Igreja annexa à Fregueria do Lu.
miar ; porém no anno de 1536 ſe deſmembrou della,
para ſe eſtabelecer nova , e diſtincta Paroquia , ob
tendo para iſſo Breve do Nuncio Apoftolico , que
ou era Marcos Vigerio , ou Pompeyo Zambucari,
cuja iſençaó foy depois confirmada por varias Bul.
Jas Pontificias , que ſe guardaó no Cartorio da Igre
ja . O Paroco até o anno de 1726 teve o titulo de
Cura , hoje he collado no de Reitor , que apreſen
ta a Meſa da Confraria da Senhora , e lhe renderá
cem mil reis . Ha na Igreja cres Irmandades , a do
Santiſlimo com muitas indulgencias , a da Senhora
do Roſario incorporada na do Santiſſimo ea das
Almas :
: 4 Foy eſte ſitio habitado pelos Romanos CO
mo conſta da inſcripçao aqui achada no apno de
1720. ( 2 ) Depois os Mouros fizeraõ grandes tulhas ,
ou covas para recolherem os ſeus frutos , das quaes
pelo tempo adiante ſe ſervirao tambem os Templa
rios , a que ſe ſeguirao os Cavalleiros da Ordem de
Chrifto .
5 No deſtricto deſta Freguezia ha as ſeguintes

1 Ermidas.

Santo Antonio . Na quinta do Manoel de Foyos de


Souſa , que edificou ſeu pay o Doutor Luiz de Foyos
de Souſa Vereador da Camera de Lisboa no anno de
1684 . s

( 1 ) Santuar. Marian.tom . 1. pag. 423. [2 ] Cardoſo no Diccionari


Geograf,tom . I. P.443 :
Do Termo de Lisboa . 449

S. Bento. Na quinta do Doutor Antonio Falcao


de Serpa Sotomayor , c edificada no anno de 1630
por Bento Rodrigues Taveira.
S. Gonçalo de Amarante. Na quinta de Luiz Fran
ciſco Pimentel Coſmografo mór do Reino , o qual
a tem reformado , e augmentado com grande afſeyo.
6 - Havia mais a Ermida de Jeſus Maria Joſeph nas
caſas do morgado , que inftituio o Conego da Sé de
Evora Jofeph Pinto de Amaral ; e outra de Santo
André ; mas ambas fe achaó profanadas , e deftrui.
das . O que ainda permanece , he junto da Paroquia
huma albergaria , ou hoſpital para agazalhar pere
grinos , adminiſtrado pelos Confrades de Noſſa Se
ahora.
II.

S. Antaõ de Zojal.

*17
? tonio do Tojal, que diſta de Lisboa tres le
guas para o Norte, junto à eſtrada que conduz pa
rá Vialonga. Eſtá elle ſituado em planicic cercada
de montes , e o terreno pela mayor parte cuberto de
olivaes , que o fazem algum tanto melancolico . A
Igreja Paroquial dedicada a Santo Antað he da Mi
tra , e antiquiſſima, pois nella fe conſerva ainda hum
€ Antifonario com Milla propria do Santo , de tempo
jmmemoravel: e já o Biſpo de Lisboa D. Doming
$ gos Jardo no ſeu teftamento, que fez em 19 de De
zembro de 1291 , faz memoria da ſua quinta de Pero
Viegas , que , como diz D. Rodrigo da Cunha , ( 1 )
he a de Santo Antonio do Tojal ; ſitio de que os
e Prelados de Lisboa ſempre fizeraó muito caſo.
OS 8 O Arcebiſpo D. Fernando de Vaſconcellos
devia fundar mayor Igreja augmentando a obra com
S Palacio , e Jardim ; e mandando lavrar na torre da
Tom.III . Part.V. Lll Igre

[ • ] Cunha na Hiſtor. Ecclef. de Lisboa part: 2. cap . 69.8.7 .


450 Mappa de Portugal.

Igreja em huma das faces , que hoje olha para o


chafáriz , o anno em que fizera a obra , que foy no
de 1554. ( 1 ) Ultimamente o Eminentiffimo Cardeal
Patriarca D. Thomaz de Almeida a mandou reedi
ficar toda , reduzindo - a a hum mageftoro Templo
com hum nobiliſſimo frontiſpicio , ao qual ornao
algumas eſtatuas de Santos feitas na Italia de fino
jaſpe , fazendo collocar na torre harmonioſos finos ;
e na praça , e eſtrada cha farizes de excellente agua,
que em beneficio publico fez conduzir de longe por
aqueducto cuſtoſo de muitos arcos .
9 O Paroco tendo antecedentemente o titulo de
Vigario , o Senhor D. Thomaz primeiro Patriarca
de Lisboa o collou no de Prior em o anno de 1734 ,
a quem rende quatrocentos mil reis ; e o primeiro ,
que obteve eſte caracter , foy o Reverendo Doutor
Feliz Dantas Barboſa , irmao do Excellentiſſimo Ar
cebiſpo de Lacedemonia , que preſentemente reſide
na fobredica Igreja com exemplar zelo do Culto Di
vino .

10 Ha na Igreja huma Collegiada , que o meſo


mo Eminentiffimo Patriarca eſtabeleceo no anno de
1730 , e conſta de dous Beneficiados com cem mil
reis cada hum , e de quatorze Capellães Cantores de
eſcolhidas, e excellentes vozes , dos quaes oito tem
cento e vinte mil reis , caſas pagas , c as Miſſas li.
vres : quatro tem cento e vinte mil reis , e as Miſ
fas cativas ; e deftes quatro ha dous , que pelas fuas
vozes ſerem melhores tem mais cada anno trinta e
oito mil e quatrocentos reis cada hum .
II Conſta mais de quatorze Capellanias , das
quaes nove ſao Capellães os meſmos Cantores e
rendem cento e vinte mil reis ; huma de oitenta mil
reis annexa ao Cantor mais antigo , que chamaó Pri
micerio , mas nao tem obrigaçao de Coro . Ha ou
tra Capella inſtituida em Nofra Senhora do Roſario
que

[ 1 ] Dillemos na Vida deſte Prelado cap. 2,S. 1620.46.deſte Tomo.


Do Termo de Lisbon . 45 !

que rende cincoenta mil reis , e adminiftra o Guar


da Repoſta Antonio da Cunha . A Irmandade das
Almas provê , e adminiſtra duas , huma de cinco
enta mil reis, e outra de vinte mil reis para Domin
gos , e dias Santos. A Irmandade dos Paiſos prove
outra com obrigaçao de dizer o Capellaó Mifla to
das as Sextas feiras do anno , a quem dá ſeis mil tre
zentos e ſeſlenta reis . Tem mais eſta Igreja quatro
Contrarias , Santo Antaó , Santo Antonio , S. Joao
Bautiſta , Noſſa Senhora do Roſario ; e quatro Ir
mandades , a do Sanciſſimo , a do Senhor dos Palios ,
a das Almas , e a da Ordem Terceira inſtituida na
Ermida do Eſpirito Santo . Dentro dos ſeus limices
ſe incluem as ſeguintes

Ermidas.

12 Noſa Senbora da Apreſentaçao . Na grandioſa


quinta do Deſembargador Gonçalo Joſeph da Sil
veira Preto em Pintcos .
Noſſa Senhora do Carmo. Na quinta das Carrafoi
ças .
Noſa Senhora da Conceiçao . Na quinta dos Padres
1 Loyos em Pero Viegas.
Éſpirito Santo. No fitio mais deſafogado que tem
eſte Lugar.
S. Joao Bautiſa. Na quinta do Valle , ou do Lago.
S. Roque . Junto à ponte do rio chamado das Gal
linhas , de cuja Ermida , e Santo já fallamos no to
emo 2. parte 3. defteMappa cap.7 . $ . 3. n . 28. 1
13 Além deſtas Cafas pias ha o nobiliſſimo Pa
lacio junto da Igreja Paroquial, que o meſmo pri
meiro Eminentiflimo Patriarca D. Thomaz reduzioa
melhor policia , accreſcentando - o , e augmentando o
com generoſa liberalidade , e enriquecendo - o de ex
ecellentes adornos proprios ide huin Principe . Com
tefte meſmo animo diſpoz fe formafle hum delicioſo ,
e dilacado Jardim junto ao Palacio que o domina ,
Lll ii re .
.
452 Mappa de Portugal.

repartindo o plano em formofiffimos quadros enno


brecidos com bellas eſtatuas de porfido. Alli ſe vem
entre o matizado das plantas os buxos , e as murtas
ſempre verdes fingir varias figuras , que a arte com
prolixa , mas admiravel cultura as obriga repreſen
tar . Vem - ſe muitas formas de fontes , de flores , e
fo por fru
de arvores exquiſitas, mas eftereis, que
to dao ſombra aos que paſſeaó por ſuas dilatadas
ruas. Servem de remate ao principal quadro do jar.
dim , em forma cylindrica , dous viveiros de pom
bos domeſticos , que ga variedade de ſuas cores , c
copioſos gyros que fazem pelo ar , e pelo campo ,
augmentað a recreaçao aos olhos. He fabrica cer
tamente viſtofa , à qual concorrem muitas peſſoas
de differentes partes ſó para lograrem a formoſura
de hum theatro magnifico , e de caó apraſivel ame
nidade onde o verao , e o inverno

Naở lhe impede gozar de Abril 'eterno .

14. Numera eſte Lugar perto de mil peſſoas re


partidas pelos Gitios , e aldeas de Santo Antonio das
Jebres , Manjoeira , Murteira , Pinteos , &c. ſubor
dinados à Correiçao do Miniſtro do bairro da Ribei
ra deſta Cidade.

III .

Appellaçao.

Ifta de Lisboa duas legoas para o Norte ,


's
de grande conveniencia. O ſitio he baixo , cercado
de montes, porém ameno , e ſadio. A Igreja Paro
quial he dedicada a Noſſa Senhora da Incarnaçaó ,
que hoje eſtá novamente reedificada ao moderno , e
foy fundada por Bartholomeu de Oliveira Borelho ,
Commendador da Ordem de Chriſto , no anno de 1594
onde jaz , e ſua mulher. No anno ſeguinte foy ere
ata

/
Do Termo de Lisboa. 453

eta em Paroquia pelo Arcebiſpo D. Miguel de Cafa


tro , ſendo antecedentemente os ſeus moradores fuo
jeitos no eſpiritual à Freguezia de Unhos , donde ſe
deſmembraraó .
16 Tem o Paroco titulo de Cura , que apreſen
ta ad nutum Jorge de Meſquita da Silva Maſcare
nhas deſcendente do fundador , e rende cincoenta
mil reis. Ha na Igreja quatro Capellanias : huma
que inftituio Miguel da Paz com quarenta mil reis :
outra que inftituio o Dezembargador Franciſco da
Fonſeca Siſnel com fefſenta mil reis , que apreſenta
o Senado da Camera de Lisboa : outra que inftituio
o fundador , e apreſenta o Padroeiro : outra das Al
mas com cincoenta mil reis , cuja Irmandade tem
muitos privilegios concedidos pelo Papa Innocen
cio XII. Conita o Lugar de cincoenta moradores
ſujeitos ao Corregedor da repartiçao do bairro alto ,
Tem no ſeu limite as ſeguintes

Ermidas.

Santo Amaro. Na quinta de Antonio de Abreu do


Rego , irmao de Monſenhor Soares.
Santo Antonio. Na quinta que poſſue D , Urſula
irmã de Joſeph Pinheiro de Azevedo , Theſoureiro
das deſpezas do Conſelho da Fazenda .

IV .

Arranbol.

Stá ſituado eſte Lugar em hum monte dif


17. E tante da Cidade cinco legoas para o Nor
te . A Igreja Paroquial eſtá fóra do povoado , e he
da invocaçao de S. Lourenço , cujo Paroco tem ſó
o titulo de Cura , a quem o Prior de S. Chriftovao
de Lisboa apreſenta annualmente com a congrua de
hum moyo de trigo , trinta alqueires de cevada,
hu,
454 Mappa de Portugal.

huma pipa de vinho , e quatro mil e quinhentos reis


em dinheiro . Conſta eſte Lugar de trinta fogos ſu
jeitos ao Corregedor da Mouraria , e ha no ſeu def
tricto as ſeguintes

Ermidas,

I Noſa Senhora da Ajuda . Eſtá fora do povoado , e


tem ſeu ' Ermita , que apreſenta o melmo Prior de
S. Chriftovao .
Noſa Senbora da Incarnaçao. Eftá na aldea chama
da : Algobellas , que ſe compoem de dezaſete viſi.
nhos.

V.

Barcarena , ou Barquéréna.

18 Elas raizes de varios montes , cujos cimos


guarnecem baſtantes moinhos de vento
eſtá ſituada a povoaçao defte Lugar affaſtada de
Lisboa duas legoas para o o Noroefte. He a ſua Pa
roquia titular de S. Pedro ,cujo Paroco , que temo
predicamento de Cura , he apreſentado pelo Prior
de S. Martinho de Lisboa'annualmente , e renderá
o Curato duzentos mil reis. Ha neſta Igreja tres Ir
mandades , a do Santiſſimo, a de Noſſa Senhora do
Rolario , e a das Almas .
19 Conſta a Fregueria de duzentos e fefſenta vi
finhos, repartidos pelos caſaes de Caruncho , Leao ,
Lecea , Queluz , Ribeira , Serra de cabanas , Tea
laide, Torcena , Valejas. A mayor parte deſtes Liu
gares fertiliza abundantemente a ribeira chamada de
Barcarena , que neſte ficio dá exercicio à Fabrica

Real da polvora reedificada no anno de 1729 por


Antonio Cremer. Eſtao todos eſtes moradores- ſu
jeitos ao Corregedor de S. Paulo para a deciſão das
ſuas cauſas. "Ha no ſeu deltricto as ſeguintes
Er
Do Termo de Lisboa . 455

Ermidas.

Noſa Senhora do Amparo. No Lugar do Lcao , ou


Layao .
Santo Antonio. Na quinta de Franciſco Leitað de
Faria no Lugar de Trofena . '
Santa Barbara . Na quinta que foy de Domingos
Pires Bandeira no Lugar de Telaide.
S. Bento. No Lugar de Valejas.
Nola Senhora da Conceiçao. Na quinta de Antonio
Luiz Sinel de Cordes.
Senhor Jeſus Rey dos Reys. Na quinta de Joſeph
de Brito de Miranda .
S. Miguel. No Lugar da Serra de Cabanas .
S. Sebaſtiao. No Lugar de Barcarena.
Noſa Senhora do Soccorro.
Confina eſta Fregueria com a de S. Romao de Car
nexide com a de Noſſa Senhora do Amparo de
Bemfica com a de Nofra Senhora da Miſericor,
dia de Bellas , com a de S. Domingos de Ranna
com a de Rio de Mouro , com a da Purificaçao de
Oeiras .
VI .

Bemfica .

20 , a ,
A
N tra , fica eſte Lugar apartado de Lisboa
pouco mais de huma legoa para o Norte , e por ef
tar em fitio aprazivel, e ameno , grangeou o nome
que lhe derao. A ſua Igreja Paroquial tem por ora
go a Noſſa Senhora do Amparo , que apreſentaó as
Religioſas do Moſteiro do Salvador , as quaes rece
bem os dizimos , e ao Cura renderá trezentos mil
reis. Hoje ſe acha a Igreja nobremente reedificada
com eſmolas nað fo do povo , mas da pia generoſi
dade de EIRey , para a qual tem concorrido.
21 Conſta a Freguezia de trezentos e cincoenta
!

456 Mappa de Portugal.

viſinhos repartidos por eſtes Lugares : Adeao deo


baixo , e de cima , Alfarrobeira , Alfornel , Alfra
gide , Barcal , Bomnome, Brandoa , Buraca , Bur.
rel, Calhao , Calhariz , Caranque , Cafal das Cru.
zes , e do Mercador, e daSerra , Caftellos de cima ,
e debaixo , Correa, Cruz da pedra , Cruzes , Er
trada da Luz , Falgueira , Feteira , Granja , Jun
queira , Lage , Louro , Maya , Mira , Monſanto ,
-Montijo , Montinel, Noidel, Oiteiro , Paian , Pi
nheiro , Penedo , Porcalhota , Preza , Reboleira ,
Salgado , Salrego , Saraiva , Serra , Tojal , Val de
Tereſa , Venda nova , Vinteira .
22 Dentro dos ſeus limites exiſtem os ſeguintes

Conventos.

S. Domingos. De ReligioſosDominicos . Foy fun


dado por ElRey D. Joao I. em huma Caſa de re
creaçao , que tinha neſte lugar , intervindo para ſe
crigir eſte Convento o grande Juriſconſulco Joao
das Regras , que jaz aqui fepultado. Tomara os
Religioſos poffe do Convento em 22 de Mayo de
1399. A Igreja , que hoje ſe vê , foy reedificada no
anno de 1630 pelo memoravel Padre Fr. Joað de
Vaſconcellos, ſendo alli Prior .
Santo Antonio. De Religioſos Capuchos no Gtio
da Cruz da pedra , a que chama) a Convaleſcença,
que com eſte titulo começou no anno de 1640 , é
paſſou a Guardiania no de 1720 , e ultimamentc foy
reedificado no de 1746 .

Ermidas.

Santa Anna. Na quinta de Mauricio da Coſta .


Santo Antonio. Na Porcalhora , e na quinta que
foy de Lourenço Luiz Galvao Eftribeiro menor de
ElRcy .
Santo Antonio . Nas caſas que foraó de Fernao Jo
feph da Gama. Sane
Do Termo de Lisboa .. 457

Santo Antonio. Na quinta da Coſta em Payan.


Nola Senhora da Aſſumpçao. Na quinta que foy do
Deſembargador Antonio de Balto Pereira no Lugar
de Noidel.
Noſſa Senhora da Aſumpção. Na quinta que foy
de Joao Pedro Ludovici.
Noſa Senhora da Conceiçaõ. Na quinta do Secretario
deEſtado , que foy , Diogo de Mendoça Corte Real ,
Eſpirito Santo . Em Bemfica .
Familia Sacra. Na quinta que foy de D. Affonſo
Manoel de Menezes .
S. Franciſco. Na quinta do Oiteiro.
Jeſus Maria Joſepb. Na quinta do Caminha em
Calhariz.
Noſa Senhora da Piedade. Na quinta de Antonio
Xavier Leitao Eſcrivao dos Mocdeiros .
Nola Senbora da Saude. Em Calhariz .
Noſa Senhora .. . Na quinta de Joſeph de
Oliveira em Montijo.
Noſa Senhor
å No Pinheiro ,
Noſa Senhora No Lugar da Brandoa.
yr
No deftricto delta Fregueria eſtá a grande , e famo
Igo ſa quinta do Marquez de Fronteira , cuja Poetica
deſcripçao ſe pode ver nas Horas ſucceſſivas de A
leixo Collotes de Jantillet . Confina eſta Freguezia
com a de S. Sebaſtia ) da Pedreira , com a de Noſ.
r. ſa Senhora da Ajuda , com a de S. Romaó de Car
way
naxide , com a de S. Lourenço de Carnide , com a
do Nome de Jeſus de Odivellas , com a de Bellas ,
1 com a de Barcarena .;
i
& VII.

Bucellas.
2
23 A diſtancia de quatro legoas para o Nor
NA te eſtá fundado ette Lugar em ſitio bai
80 , e cercado de montes ; porém aprazivel , onde
Tom.III . Part.V. Mmm fe
458 Mappa de Portugal.
ſe produzem as melhores cerejas , e onde exiſte hu
ma grande fabrica de ferrar pedras. A Paroquia he
dedicada a Noſſa Senhora da Purificaçao, e he Tem
plo que indica mageſtade , porque além de ſer eſpa
çoſo , e elevado , eltriba- ſe em oito columnas , e tem
huma bem lançada eſcada por onde ſe ſobe para o
Coro . A Capella mor foy fagrada pelo ſeu Prior D.
Jorge de Ataide , ſendo entao Biſpo de Viſeu , em 23
de Janeiro de 1969, como conſta da inſcripçao que
fe lê no Altar mór . O Priorado he pingue , e ren
derá quatro mil cruzados , e cada hum dos quatro
Beneficios, que tem a Igreja , oitenta mil reis, e tu
do da apreſentaçao da Sereniſſima Cafa do Infantado .
24 Ha no adro deſta Igreja hum famoſo mar
more Romano de dez palmos de alco , com huma ca
rapuça quadrada com ſua moldura ao redor , e lhe
chamao 'a Memoria : tem eſta inſcripca5 :

· D. M.
L. P. J. L. F. Tuf
fia : Edo : Ann.
XXVIII.

Quer dizer : Efte tumulo he conſagrado aos Deoſes das


almas. Aqui jaz LucioPublio filho muito amado de Ju
lio Lucio , e de Tulia Edomicilia ', que morreo de vinte
e oito annos . ( 1 )
Conſta eſta Paroquia de tres Irmandades , a
do Sanciſlimo , a de Noſſa Senhora do Roſario , e a
das Almas . Em toda a Freguezia haverá quatrocen
tos viſinhos , diſtribuidos por varios Caſaes , e Lu
gares ſujeitos ao Corregedor do bairro do Rocios
e no ſeu deſtricto ſe incluem as ſeguintes:

Ermidas .

Santa Anna . Em Villanova..


NOR

[ 1 ] Ref. Antonio Coelho Galço das Antiguidades deLisboa cap.49 .


Do Termo de Lisboa. 459

Noſa Senhora da Boa morte. Na quinta do Capi


tao Nicolao Cardoſo .
Noſa Senhora da Incarnaçaõ. Na quinta do Excel.
lentiffimo Duque de Lafões no ſitio da Romcira.
Eſpirito Santo. No adro da meſma Igreja Paro
quial , junto da qual ha huma albergaria para pere
grinos.
Santa Maria Magdalena.
Noſſa Senhora da Paciencia .
Noſa Senhora da Paz.
Nola Senhora Piedade .
S. Sebaftiao.

VIII.

Camarate .

26
F quenas legoas para o Norte em fitio der
igual compoſto de montes , e valles , mas povoado
de muitas quintas, e vinhas , onde ha excellentes fru
-tas. Tem a Paroquia o titulo de Santiago , e o ſeu
Paroco o de Cura , que apreſentaó os Freguezes
deſde o anno de Iſil , em que ſe deſanexarao da ſu
jeiçao Paroquial de Sacavem , e lhe rende noventa
mil reis. Ha na Igreja tres Irmandades , a do Sanriſ
fimo , a de Nofta Senhora do Roſario , e a das Al
mas. Compoem - ſe a povoaçaõ de cento e noventa
viſinhos ſubordinados ao Corregedor do bairro do
Caftello. Dentro dos ſeus limices eſtá cdificado o
ſeguinte
Convento .

27 Noſſa Senhora do Soccorro. De Religioſos Car


melitas. calçados. Foy primeiramente huma Ermi
da , que edificara o Santo Condeſtavel na quinta de
que lhe fez mercê EIRey D. Joab 1. da qual toman
do poſſe os Religioſos, ſe eſtabeleceo nella huma
Mmm ii Vio
460 Mappa de Portugal
.

Vigairaria da Ordem no anno de 1602 ; e no Capi


tulo que ſe celebrou no Convento da Vidigueira a
26 de Abril de 1608 ; ſe fez Priorado eſte Convento ,
e foy o ſeu primeiro Prior Fr. Sebaſtiao da Silva ,
Religioſo de grande exemplo , e virtude . ( 1 )

Ermidas.

S. Jofeph . Na quinta de Antonio Salter de Men


doça em Val de Freiras .
S. Pedro Apoftolo. Na entrada do Lugar .

IX .

Campo grande.

28 A diſtancia de tres quartos de legoa affaf


N tado de Lisboa para o Norte le vê efte
grande , c eſpaçofo terreno, em ſitio alto , lavado
dos ventos , e por ifio falutifero , cercado de quin
tas , hortas, e palacios , que em toda a fua circunfe
rencia terá hum quarto de legoa , por cuja longitu
de alcançou o nome de Campo grande , tendo anti
gamente o de Alvalade , que ſe fez famoſo pela re
conciliaçao , e ajuſte de paz que' a Rainha Santa
Iſabel no anno de 1323 fez celebrar nefte fitio en
tre ſeu marido .EIKey D. Diniz , e ſeu filho o In
fante D.Affonſo , que ambos eſtavao diſpoſtos com
baterſe em rigoroſa batalha . ( 2) Ainda le acha dif
to 'memoria em hum Cruzeiro de pedra à entrada
do Campo .
29 A Igreja Paroquial be dedicada aos Santos
Reys Magos , cujo Paroco apreſentaó os Fregue
žcs , e tem de congrua vince e oito mil reis além do
que lhe rende o pé de altar . Conſta de tres Irman
da

( 1 ) Carvalho na Corograf. Port tom . 3. pag. 618. Santuar. Marian .


tom . 7. pag. 187. Sá nas Memor. Hiſtoric, tom . I. pag. 482. num . 7059
[2] Monarq. Luf, liv. 19. cap . 36, e na part. 7. liv. 4. cap. 13.
Do Termo de Lisboa . 461

dades , a do Santiſſimo , a da Senhora do Roſario ,


e a das Almas . Numera novecentos fogos ſubordi
nados ao Corregedor do bairro Alto para a deciſao
das fuas cauſas . Dentro do feu deftricto te achao
erectas as ſeguintes

Ermidas.

Santa Anna . Na quinta do Doutor Leal .


Santo Antonio .
S. Caetano. Dos Padres Theatinos no meſmo Cam
po .
Noſa Senhora da Conceição.
Feſus Maria Joſeph .
S. 70a7 Bautiſta.
Noſa Senhora das Mercês.
}

Noſſa Senhora dos Milagres. Na quinta do Cebo


leiro .
Noſa Senhora da Piedade. Na quinta da Condeſſa
de Meſquitella.
Nofa Senhora da Nazareth . Em Palma .
Os Santos Reys. Na quinta do Ferro .

X.

Carnaxide.

30 M Gruaçao fragoſa , e na diſtancia de duas


E legoas de Lisboa para o Poente eſtá efte
Lugar , cuja Igreja Matriz he dedicada a S. Ro
2
mao , na qual apreſenta Cura o Prior de Santa Cruz
do Caſtello defta Cidade , o qual tem de congrua
hum moyo de trigo, huma pipa de vinho , e o que
rende o pé de altar . Tem duas Irmandades , a do
0
Santiffimo , e a das Almas e conſta de trezentos
viſinhos ſubordinados ao Corregedor de S. Paulo ,
e diſtribuidos pelos Lugares de Algez , Alfragide ,
Barronhos , Jamor , Ninha a Paftora , Ninha a ve
Ý lha ,
462 Mappa de Portugal.

lha , Outorella , Quejas'; Romeiras. No ſeu def


tricto le achao erectos os ſeguintes

Conventos .

31 Noſa Senhora da Boa Viagem . De Religioſos


Arrabidos. Fica legoa e meya affaſtado de Lisboa
para a parte da foz do Tejo , e fundado à borda del
le deſde o anno de 1618 .
Santa Catharina de Ribamar. Dos ditos Religioſos
Arrabidos , e pouco diſtante do da Senhora da Boa
Viagem ; porém fundado ſobre a elevaçao de hum
monte ſobranceiro ao meſmo rio , deſde o anno de
1551. No de 1634 ſe ampliou o edificio com titulo
de Guardiania. O Cardeal Arcebiſpo D. Luiz de
Souſa reedificou a Igreja primoroſamente de que
hoje he Padroeira a Caſa do Duque de Lafões , co
mo herdeira da Caſa de Arronches.
S. Joſeph de Ribamar. De Religiofos tambem Ar
rabidos . Foy fundado defronte da Torre velha no
anno de 1559 por D. Franciſco de Guſmao e ſua
mulher D. Joanna , e goza hoje o ſeu Padroado o
Excellentiſimo Marquez de Valença. Exiſte neſte
Convento o eſtimavel quadro do Senhor S. Jofeph
com a tradiçaõ de ſer vera effigie , e retrato do San
to , como diſſemos na ſua Vida.

Ermidas.

Santo Antonio. Na quinta do Rodifio .


Noſa Senhora do Cabo. Na Aldca de Algés . A
Imagem da Senhora he milagroſa , e concorre a vi
fitalla muita gente em romaria .
Noſſa Senhora da Conceiçao . No Lugar de Outo
1
rella .
Noſſa Senbora da Graça . Na quinta dos Religioſos
da Graça .
S. Joan Bautiſta. No Lugar de Ninha a Paſtora.
S.
Do Termo de Lisboa . 463

$ : Joaquim . No Lugar de Quejas.


Noſa Senhora do Roſario. No Lugar de Ninba a
Velha .
Nola Senbora de Roſario , e S. Gonçalo. Na quinta
do Conego Manoel Gomes Monteiro .
Nola Senbora da Salvaçao. No Convento de San
ta Catharina ,
Noſa Senhora da Saude. Na quinta dos Grillos .
Confina efta Freguezia com a da Igreja da Ajuda ,
com a de Barcarena , com a de Oeiras , e com a
de Bem fica .
XI .

Carnide.

32 E pina , que participa de bons ares , affaſta


da de Lisboa huma legoa para a parte do Noroeſ
te . He a ſua Igreja Paroquial dedicada a S. Lou
renço , co Paroco he Vigario collado , que apre
fentao os Religioſos de Nofſa Senhora da Luz da
Ordem de Chrifto , ao qual rende oitenta mil reis .
Tem tres Irmandades , a do Santiſſimo , a da Senho
ra do Roſario , e a das Almas . Numera duzentos e
vinte viſinhos ſujeitos ao Corregedor de S. Paulo ,
e ſe incluem no ſeu deſtricto os ſeguintes

! Conventos.

33 S. Joao da Cruz. De Carmelitas Deſcalços.


Foy fundado pela Senhora D. Maria filha illegiti
ma de EiRey D. Joao IV . no anno de 1681.
Noſa Senhoria da Luz. De Religioſos da Ordem
Militar de Chrifto . Fundou - ſe eſte Convento em
huma antiga Ermida , que no anno de 1463 haviao
erecto à Senhora da Luz os viſinhos deite Lugar ,
e o devoto Pedro Martins tambem daqui natural ,
para memória do milagre , e bencficio que a Senho
464 Mappa de Portugal.
ra lhe fez de o livrar do cativeiro de Mouros , onde
eſtava prezo , trazendo- o prodigiosamente a Portu
gal com as meſmas cadeas , que muito tempo eſti
verao collocadas na Ermida velha . ElRey D. Joao
III . no anno de 1545 deu eſta Ermida aos Religio
ſos da Ordem de Chrifto para fundarem o Conven
to , cuja Capella mór mandou fazer no anno de
1575 a Senhora Infanta D. Maria filha de El Rey
D. Manoel , com ſumptuoſa , e mageltola arquite
cura , e alli eſtá ſepultada. ( 1 )

Moſteiros .

34 Noſſa Senhora da Conceiçao. De Religioſas Re


coletas de Noſſa Senhora da Conceiçao. Foy fun
dado por Nuno Barreto Fuzeiro , e lua mulher D.
Maria Pimenta no anno de 1694 , c as Religiotas en
traraó em dia de Noſſa Senhora dos Prazeres de 1699 .
· Santa Tereſa. De Religioſas Carmelitas Delcal
ças. Foy fundado no anno de 1642 pela Senhora
Michaella Margarida filha do Imperador Rodolfo II .
em hum terreno que foy do Correyo mór Antonio
Gomes da Mata . ( 2 ) A Senhora D. Maria filha de
El Rey D. Joaó IV . naó ſó ſe educou nelte Moſtei
ro deſde o anno de 1649 , mas o reedificou , e man
dou fepultarſe nelle no Coro debaixo .

Hoſpital.

Fundou eſte Hoſpital a Sereniſſima Infanta D.


Maria , filha de ElRey D. Manoel , com huma li
beralidade Regia nao ſó no material do edificio
que he excellente , e regular , concluido no anno
.de

( 1) Fr. Roque do Soveral na Hiſtor. da Senhora da Luz. P. Telles


na Chronic. da Comp. p . 2.1.5 . C.S 1. Faria na Europ . Port . t. 3. P. 3 .
Cardoſ. no Agiol . Luſit.tom . 2. p . 175. Carvalho na Corograf. tom . 3 :
p . 643. Santuar. Marian, tom . 1. pag. 98 , [2] Lima Geograf. Hiſtor,
tom . 2. p. 166 ,

1
Do Termo de Lisboa . 465

de 1618 , mas no formal, e fundo , com que o dotou


para a ſua ſubſiſtencia. He adminiſtrado pelos Rea
ligioſos de Noſſa Senhora da Luz , e ſujeito ao Trio
bunal da Meſa da Conſciencia. ( 1 )

Ermidas,

Noſa Senhora da Aſumpçað. Na quinta de Joſeph


Falcao de Gamboa .
Eſpirito Santo.
S. Sebaftiao .
XII.i.it

Cbarneca .

35 Ouco mais de huma legoa para o Norte ſe


Portoaffaſta de Lisboa efte Lugar, cuja Paro
quia he dedicada a S. Bartholomeu e em cuja vef
pera , e dia ſe coſtuma fazer na ſua praça huma fei
ra franca. O Cura he apreſentado annualmente pelo
Prior do Lumiar . He efte Lugar de cento e trinta
viſinhos ſujeitos à Correiçao de Alfama, e compres
i hende as ſeguintes
Ermidas.

Santa Anna . Na quinta de Balthazar da Silva.


Santo Antonio,
Santa Luzia ,
: Nola Senhora dos Remedios. Na quinta nova .
Noſa Senhora da Saude. Na quinta da Granja , que
poſſue Domingos de Oliveira Braga , Thefoureiro
que foy do Senhor Infantc D. Antonio. He Ermi
0 da novamente reedificada com primor , e ſe diffe
C nella a primeira Miſſa em dia do Santiflimo Nome
de Maria do anno de 1749 .
S. Sebaſtiao .
Tom . III. Part. V. Nnn XIII.

[ 1 ] Santuar.Marian, t.1.p.103. Oliyeir. Grandez. de Lisboa p . 84:


466 Mappa de Portugal.

XIII .

Santo Eftevaõ das Galés.

36 Ica eſte Lugar ao Poente de Lisboa na dif


F tancia de quatro legoas , em fitio eleva
do , e lhe deu nome o Santo a quem he dedicada a
Igreja Matriz , a qual ſe deſmembrou da de Santa
Maria de Loures . A pretentað os freguezes ao Cu.
ra , a quem rende cento c fefſenta mil reis com o
pé de altar. Conſta de cem vifinhos ſubordinados ao
Corregedor da Rua nova.

XIV.

Fanbões .

-37 Xifte efte Lugar affaſtado de Lisboa tres


Eilegoas para o Norte , e a ſua Paroquia be
dedicada a S. Saturnino advogado dos meninos que ,
brados. Deſmembrou - ſe da Freguezia de Santo An
taó do Tojal ; mas ſempre lhe ficou de alguma for .
te ſubordinada , pois em dia da Prociſſaó do Corpo
de Deos da Freguczia de Santo Antaó he obrigado
& ir o Procurador da Irmandade do Santiffimo de
Fanhões affiftir com a ſua Cruz na Igreja de Santo
Antañ , como tambem no dia do Santo : nem na Pa ,
roquia de S. Saturnino fe podem cantar Miffas, ou
fazer quaeſquer feſtividades, fem ſe dar parte ao Prior
de Santo Antao do Tojal . O Cura de Fanhões he
apreſentado pelos Freguezes , e lhe rende perto de
duzentos mil reis . Tem a Igreja dous Capellacs das
Almas com cincoenta mil reis cada hum . ' Conſta de
cento e quarenta fogos ſubordinados ao Juiz do Crie
me da Ribeira , e no ſeu limite ſe acha erecta a
Ermida.

S. Juliao. Na Cabeça de Montachique.


XV .
Do Termo de Lisboa . 467

xv.

Frielas.

Unto ao rio , que corre de Sacavem , diſtan


38 J te de Lisboa duas legoas para o Norte , eſtá
fundada eſta povoaçao nas margens de huós mons'
tes , porém com alegre viſta. Houve antigamente
aqui huos grandioſos Paços , que ElRey D. Diniz
no anno de 1313 honrou , erigindo nelles huma Ca
pella de Santa Catharina com ſeu Capellaó de Miffa
quotidiana , e com obrigaçaõ de rezar nella as Ho
ras Canonicas todos os dias . Depois deu eftes Paços
El Rey D. Fernando aos Religioſos de S. Jeronymo
no anno de 1378. Hoje ſe achao desfeitos , e arrui
nados. ( 1 )
39 A Igreja Parroquial he dedicada a S. Juliaá ,
e Santa Baliliza , e he igreja antiga , pois já no an
no de 1191 o Biſpo de Lisboa D. Soeiro Anes , na
diviſao que fez das Igrejas do Biſpo , c Cabido , en
tre as que reſervou para fi , foy huma a de Frielas
que antecedentemente pertencia à Fabrica da Sé. ( 2)
O Paroco tem o citulo de Prior , que apreſenta a
Abbadefa do Real Moſteiro de Odivellas , ao quat
rende trezentos mil reis . Numerao- ſe na povoaçao
trezentos viſinhos , a mayor parte delles peſcadores ,
fujeitos ao Juiz do Crimc do bairro da Sé. Ettá no
feu deftricto a
Ermida .

40 ' Noſa Senhora do Monte . Edificada no cimo


de hum monte de admiravel viſta e na quinta da
Ramada , Reguengo de Sacavem , a que deu princi
pio Lopo de Abreu no anno de 1979 , e páſſados
Nnn ii vina

[ 1] Brand. na Monarq.Lufiliyi18. cap . 46. [ 2 ] Cunha nos Bilp.de


Lisboa part. 2.c. 18.2. 6 .

1
468 Mappa de Portugal.

vinte annos a reedificou ; porém no anno de 1686 a


augmentou muito mais Miguel de Souſa Ferreira ,
e a acabou de aperfeiçoar ſeu filho Manoel de Sou
fa Soares no anno de 1699 ; o que tudo conſta de
huma inſcripcaó , que eſtá por baixo do pulpito. O
Author do Santuario Mariano Fr. Agoftinho de
Santa Maria applaude ſummamente eſta Ermida , e
diz que no affeyo , e adorno he das mais attendiveis ,
que ha no termo de Lisboa . ( 1 ) Tambem o Juriſ
conlulto Manoel Alvares Pegas falla honorificamen
te deſta quinta. ( 2)

XVI .

Granja de Alpriate.

41 Iſta eſta povoaçaõ de Lisboa para o Nor


D 'deftc tres' legoas , e jaz em hum ameno
valle . A ſua Paroquial Igreja he dedicada a S. Se
baftiaó , Commenda da Ordem de Chriſto , de quem
he Commendador o Conde de Valladares. Foy an
nexa a Santa Iria da Azoya , que pela diſtancia ,
diſcommodo , que dava aos moradores da Granja , ef
tabelecerao Fregueria ſeparada na dita Igreja de S.
Sebaſtiao , a qual, ſegundo as memorias de alguns , di
zem que fora fagrada , e por antiga ſe foy arruinan
do , deſorte , que ſe lhe mandou tirar o Sacrario , c
ſó alguns dias celebravað nella Milfa . Deve- ſe o
ſeu reſtabelecimento ao Reverendo Padre Francife
co de Souſa da Coſta , o qual entrando alli por Ca
pellao começou com tanta efficacia , e zelo, a cui
dar da reforma, e culto da Igreja , que com eſmo
las a reduzio ao eſplendor com que hoje ſe vê,ob .
tendo do Eminentiſſimo Cardeal Patriarca D. Tho
maz de Almeida faculdade para nova erecçao de Sa
cra

[ 1] Santuar. Marian. tom. I. p . 372, [ 2] Pegas Reſoluco Forenſ


part, 2. cap.9. A.265,
Do Termo de Lisboa . 469

crario , e alcançando do povo a congrua de quaren


ta mil reis para ſua ſubfiftencia , e caſas onde refi
de , que com huma Capella , que tambem ſerve, te
rá de renda cem mil reis . Com eſte diſpendio , e
beneficio ficou o povo na poſſe de apreſentar o Ca
pellao , bem contra vontade do Commendador .
Conſta de cento e trinta viſinhos ſubordinados ao
Juiz do Crime, da Ribeira . Ha aqui huma nobre
quinta do Monteiro mór , e no ſeu deftricto exiftem
as ſeguintes

Ermidas.

A Degollaçaõ de S. Joao Bautiſta. Na quinta cha


mada do Herdeiro .
Noſa Senhora da Nazareth . Na quinta chamada
do Carlos .

XVII .

S. Joao da Talba .

42 Uas legoas e meya para o Norte , ſe affaf


ta de Lisboa eſta povoaçao , cuja Igreja
Paroquial, que deu o nome à terra , he Vigairaria
que apreſenta a Univerſidade de Coimbra deſde o
anno de 1388 , em que o Prior de Sacavem dimitio .
de ſi eſte Lugar a quem pertencia , por lhe ficar li
vre a ſua Igreja . Conſta de trezentos vilinhos ſujei
tos à Correiçao do Limoeiro . No ſeu deftricto ha
a ſeguinte

Ermida .

Santa Catharina . No Lugar do Budel , onde ſe


vem ainda as ruinas de huma antiga torre .

XVIII.
470 Mappa de Portugal.
*
XVIII .

Santa Iria .

43 Uali na meſma diſtancia de duas legoas e

Q meya de Lisboa eſtá ſituada eſta povoa


çab , cuja Igreja Matriz he hum Curaco ,
que apreſenta o Prior de Santo André defta Cidade ;
donde teve origem o Priorado , ficando elle por el
ſa cauſa conſervando o titulo de Reitor de Santa
Iria . Tem o Cura de congrua hum moyo de trigo ,
huma pipa de vinho , e com os mais beneſes The
renderá tudo duzentos mil reis. Conſta de duzentos
viſinhos ſujeitos ao Corregedor do bairro do Li
mociro . Exiſte nos ſeus limites o

Convento .

Noſſa Senhora da Conceiçao. De Religioſos Arrabi


dos , quefoy primeiro habitado pelos Padres Jero
nymos, e deſpovoando.o , tomaraa delle pofle os Re
ligioſos da Provincia da Arrabida no anno de 1584 ,
e entre os ſeus Conventos he hum dos perfeitiſſimos.

Ermida,

Santa Maria Magdalena . Exiſte no Lugar da Po


voa chamada de D. Martinho , onde os moradores
contribuem para a congrua de hum Capellaó , que
lhes diz Miffa nos dias de preceito , quando nao po
dem ir ouvilla à Matriz de Santa Iria .

XIX ,

S. Juliaõ do Zojal.

44 Om
Tojal para o Norte fica eſte pequeno Lu
gar, cujo Paroco com o titulo de Cura apreſentado
an
Do Termo de Lisboa .
471
annualmente pelo Prior dos Conegos Regrantes de
S. Vicente de Fóra , ao qual daó hum moyo de tri
go , huma pipa de vinho , ſeis cantaros de azeite , e
dez mil reis em dinheiro , além do que lhe rende o
pé de altar . Conſta de cem viſinhos ſujeitos ao Juiz
do Crime da Ribeira . Ha no ſeu deſtricto as ſe
guintes
Ermidas.

Noſſa Senhora da Apreſentaçao . Na quinta da Pon


te , huma das mais pingues do fitio , que poflue Jo
feph Felix Rebello Eſcrivað no Conſelho da Fa
zenda .
Noſſa Senhora do Carmo. No Lugar do Zambujal .
Eſpirito Santo . Defronte da Matriz .
S. Sebaſtiao . Fica efta Ermida na eftrada que vay
para Vialonga , c pouco mais para cima de hum po
ço publico chamado de Santa Clara . Os moradores
do Tojal tem grande fé com a imagem do Santo , que
fe venera nefta Ermida .
Nola Senbora do Soccorro. Na quinta chamada an
tigamente do Arraes , que hoje poſſuem os Reli
3
giofos Vicentes . He das mais dilatadas , frutiferas,
e rendoſas , que ha no Termo de Lisboa , onde os
Padres tem gaſto muitos mil cruzados com grande
za verdadeiramente Regia , nað ſó na cultura do di
latado terreno de que confta , caſas , e officinas ; mag
na conducta do rio Trancaó , que a fertiliza peren
ncmente a pezar de outras quintas circumvißnhas ,
que tambem fe utiliſavao das ſuas águas .

XX .

Loures.

O Norte de Lisboa na diſtancia de duas


3
А legoas eſtá Gituada efta povoaçao em lu
gar alto , e alegre. A Matriz he dedicada a Noffa
Sco
472 Mappa de Portugal.

Senhora da Aſſumpçaó , ehe Freguezia antiga , pois


della ha memoria antes do anno de 1250 , ein teme
po do Biſpo de Lisboa D. Ayres Vaſques. ( 1 ) ( )
Paroco tem titulo de Vigario , e numera novecen .
toś viſinhos diſtribuidos pelos Lugares de Alvogas ,
Barro , Calvos , Caneſſas , Covaó , Codiceira , Gran
ja , Marnotas , Mealhada , Montemór , Murteira ,
Palhaes , Pinheiro , Ponte de Frielas , Ponte de Lou
ſa , Tojalinho , Val de Nogueira , ſubordinados ao
Corregedor da Rua nova. Incluem - ſe nos leus limi
tes o feguinte
Convento .

Eſpirito Santo. De Religioſos Arrabidos, fituado


na ladeira de hum oiteiro alegre , proximo ao Lu
gar da Mealhada , e duas legoas diſtante de Lisboa.
Teve ſeu principio no anno de 1975 , em que o fun
dou Luiz de Caſtro dos Rios . (2) .

Ermidas.

Santa Anna . No Lugar de Alvogas .


Noſa Senbora da Conceiçao. Na quinta da Promea
lha .
Noſa Senhora dos Enfermos. No Lugar de Canef
ſas, e na quinta chamada dos Fetaes , onde concor
re muita gente em romaria , por ſer a Imagem da
Senhora milagroſa. Della eſcreve o Author do San.
tuario Mariano em o tom . 7. pag . 193 .
S. Joaquim , e Santa Anna.
Santa Luzia . Na ponte de Louſa.
Noſa Senhora dos Prazeres. Em Palhacs , na quin
ta que hoje poflue o Conde de Caſtello Methor.
Noſa Senhora do Roſario. No fitio da Paradella ,
na quinta que foy de Antonio Wamplate .
Nor

[ 1 ] Cunha Hiſtor. Ecclef, de Lisboa pag. 164. [2] Agiolog. Luft.


tom . 2. pag. 272:
Do Termo de Lisboa . 473

Noſſa Senhora da Rotunda, No Lugar que chama


a dos Calvos , na quinta do Conde de Valladares . ;a
Noſa Senhora da Saude. Na dilatada eminencia de
hum monte no Lugar de Montemor , à qual con
corre muita gente de romagem no primeiro Domin
go de Setembro.
S. Sebaftiaõ .
XXI.

Louſa .

46 Ste Lugar , que fica duas legoas e meya pa


E ra o Norte de Lisboa , tem a ſua Paro
quia dedicada ao Apoſtolo S. Pedro . Os Freguezes
apreſentað o Paroco , que tem titulo de Cura , a
que dao cento e vinte mil reis. Compoem - ſe de du
zentos vifinhos ſujeitos ao Corregedor da Rua no
va , e tem nos ſeus limites as ſeguintes

od do Ermidas.
O Eſpirito Santo .
s . Juliao.

XXII .

Lumiar .

47 O quial deſta povoaçað , dedicada ao glo


rioſo Precurſor S. Joao Bautiſta , e S. Mattheus ,
diſta de Lisboa pouco mais de huma legoa para o
Norre , em hum terreno plano , alegre e, de bons
ares. Neſte Lugar teve EIRey D. Affonfo HIT.hu
ma cala de campo , à qual chamavao o Paço ; e de
pois pela poſſuir Affonſo Sanches , filho baſtardo
de EiRey D. Diniz , chamarao o Paço de Affonſo
Sanches.
48 Em huma terra da ſobredita quinta fundou
Tom.III . Pari. V. Ooo deo
474 Mappa de Portugal.

de novo o Biſpo de Lisboa D. Mattheus , eſtando


em Unhos , eſta Igreja e, a erigio em Paroquia a 2
de Abril de 1276 , cujo Padroado doou D. Tereſa ,
Senhora de Albuquerque, viuva já entao do dito
D. Affonſo Sanches , ao Moſteiro de Odivellas em
21 de Agofto de 1334 , ( 1) por cuja doaçao apre
ſenta a Abbadefla o Priorado , que rende quinhen
tos mil reis , e dous Beneficios que alli ha . Conta
a Paroquia de quatrocentos vifinhos, e do ſeguinte

Convento.

Noſa Senhora da Porta do Ceo. De Religioſos Fran


ciſcanos da Provincia de Portugal no fitio de Te
lheiras , fundado por hum Principe da AGa chama
do D. Joað , Senhor de Candia o qual paſſando a
efte Reino , e inſtruido na Fé por eſtes Religioſos ,
Ihes edificou o Convento no anno de 1633 , onde
depois de fallecer em Lisboa no anno de 1642 , le
começou a eſtabelecer a Communidade . Jaz o Fun
dador em elevada ſepultura de marmore , que elle
fez erigir ao lado da Capella mór. ( 2)

Ermidas.
Eſpirito Santo .
S. Sebaftiaz .

XXIII .

Milbarado..

49 Vatro legoas ao Norte difta efte Lugar de


QLisboa. He a ſua Igreja Paroquial dedi
cada ao Arcanjo S. Miguel , e tem por
Paroco hum Cura , que annualmente apreſentaó o
Prior ,

( 1 ) Brand na Monarq. Lufit. liv. 17, C, 23. "[2] Soledade no tom.s.


daHiftor .Scrafic , num . 892.

‫ܠ‬
Do Termo de Lisboa. 475

Prior , e Beneficiados da Freguezia de S. Nicolao


de Lisboa . Conſta de trezentos viſinhos diftribui
dos pelos Lugares da Bituaria , Canas , Charneca
Caftelpicaū , Cartexaria , Cachoeira , Ceiceira grana
de , e pequena , Jurumelo , Pouſada , Povoa da Gala
lega , Prizinheira , Rolia , Sobreira . Inclue- ſe no feu
dettricto a ſeguinte
Ermida .

Noſſa Senhora da Vittoria . No Lugar da Cartexa


ria . Foy fundada no anno de 1550 por Joao Lopes
lavrador , c ſua mulher Filippa Gonçalves.

XXIV.

Odivellas,

50
de Lisboa para o Norte . A Paroquia ho
dedicada ao Menino Jeſus , eos freguezes apreſen
tao o Paroco annualmente com o predicamento de
Cura . Conſta de trezentos viſinhos repartidos pelos
Lugares da Barroſa Bica , Moreira , Pombaes ,
Porto , Frigache , &c . ſubordinados à Correiçao
do bairro Alto . Comprehende o ſeu limite o le
guinte
Moſteiro.

SI S. Diniz . De Religioſas Bernardas. Efá fi


tuado em huma planicie , que cercaó tres montes vi
ſinhos , junto a hum dos quaes , que fica para o Oc
cidente , corre hum pequeno rio , o qual entrando
na cerca do Moſteiro , e regando o ſeu jardim de
Val de flores , ſabe a fertilizar algumas quintas da
quelles contornos , e a incorporarſe com outro.pe
queno riacho , que corre ao pé do monte da Senho
ia da Luz , é ambos ſe vaó recolher no eſteiro do
mar junto a Frielas.
Ooo ii 52 Foy
476 Mappa de Portugal.

52 Foy edificado eſte Mofteiro por ElRey D.


Diniz , que lhe lançou a primeira pedra com gran
de folemnidade em 27 de Fevereiro de 1295 , e ſe
veyo a concluir com todas as ſuas officinas no anno
de 1305. Por muitos titulos , e circunſtancias he
digno de attençaó elte Moſteiro pela grandeza do
Templo ; pelo aſſeyo , e adorno das ſuas Capellas ;
pela mageſtade , e apparato do culto Divino; pela
opulencia , com que o dotou o Rey ſeu fundador ;
pelo grande numero de Religioſas , e ſuas admira
veis vozes , que tanto encarece , e applaudia no ſeu
tempo Luiz Mendes de Vaſconcellos ; ( 1 ) e final
mente por outros muitos argumentos , com que pou
cas Igrejas, e Communidades ſe lhe podem igualar .
53 Honra muito eſta Caſa o Regio monumen
to de ElRey D. Diniz , o qual jaz na Igreja junto
da porta da Sacriftia em fepultura de pedra elevada
de bom lavor , e cercada de grades de ferro com o
retrato do ſeu corpo em cima eſculpido em marmo
re ; e em huma das bazes , ſobre que aſſenta a ſe
pulcura , ſe vê a effigie de hum uſlo , debaixo do qual
eſtá a figura de hum homem cravando- lhe hum pu
nhal , que tudo allude ao caſo milagroſo , que ſe
conta na vida do fobredito Rey . ( 2)

Ermida .

Senhor Jeſus Roubado. Principiou eſta Ermida em


hum Cruzeiro de pedra , que o devoto Antonio dos
Santos erigio no anno de 1744 em o meſmo ſitio , em
que foy achada a ſagrada Pyxide , roubada do Sacra
rio da Freguezia de Odivellas no anno de 1671. De
pois continuaraó os devotos a concorrer de fórma,
que he hoje hum dos Santuarios muito frequentado
dos Ficis : e ſe entre os Confrades houvera melhor
eco

[ 1 ] Vaſconcel. Sitio de Lisboa pag . 210. [2 ] Brandao na Monarq .


Lufic. liv .17.c. 21. Cunha na Hiſt, Ecclel. de Lisboa part. 2. cap . 82.
Do Termo de Lisboa.. 477

economia , poderaõ ter feito hum formoſo Templo ,


mais amplo , e com melhor formalidade.

XXV .

Oeiras.

54 fto que o .
Suppo
gido em Villa a 7 de Junho de 1759 por
mercê do Fideliſſimo Rey D. Joſeph I. da qual o mel
mo Senhor creou Conde de juro , e herdade a Se
baſtiao Joſeph de Carvalho feu Secretario de Eſta
do , como da ponte para cá pertence ao Termo de
Lisboa , me pareceo conveniente fallar deſte fizio .
ss Eftá elle affaſtado da Cidade tres legoas ao
Poente , e o faz muito fertil , e appeticivel hum rio
que lhe paſſa pelo moyo , fazendo trabalhar muitas
azenhas. A ſua Igreja Paroquial , que ha pouco ſe
reedificou por actividade de Antonio Rebello The
foureiro geral da Bulla da Cruzada , tem o titulo da
2: Senhora da Purificaçao , e o Paroco o nome de Cu .
ra , apreſentado pelo Prior , e Beneficiados de S.
3 Lourenço de Lisboa. Compoem -ſe de quatrocentos
viſinhos diſtribuidos pelos Lugares de Arieiro , Bar
ril , Cacilhas , Caſal da Medroſa , Ceirogato , Er
pargal , Eſpargueira , Feitoria de S. Giao , Lage
Laveiras, Murgalhal , Paço de Arcos , Porto Sala
vo , Terrugem , Villa de Bufficos , Villa Fria. No
ſeu deſtricto exiſte o ſeguinte

Convento.

Di
Vallis Miſericordiæ , De Religioſos Monges Car
tuxos de S. Bruno , de quem já fallamos no tom . 2 .
part . 3. defte Mappa cap . 3. 8. 7. num . 4. A ſua
Igreja achey que fora fundada no anno de 1614 , le
gundo conſta da Inſcripçað ſeguinte :

Anne
l
478 Mappa de Portuga .

Anno Dni 1614 die 8 Decembr ,


Ego Hier. Ifat , & Tingit. Eps.
Ad honorem B. Mariæ Virginis
Primum hunc lapidē benedixi
In alma Carthufia Vallis Miſericordiæ
Sedente S. P. Paulo s. Pont. Max .
Et Philippo 2. Portug. & Hiſp . Rege.

56 Dentro dos ſeus limites exiſtem as ſeguintes


.
Ermidas.

Nola Senbora dos Anjos. Na quinta do Forneiro .


Santo Antonio . Em Laveiras .
Santo Antonio. Na quinta da Boica .
S. Bartholomeu . Na quinta do Barril.
Noſa Senhora do Bom Succeſo. Na quinta da Ponce .
Nola Senhora da Conceiçao. No Lugar de Cachias .
Noſa Senhora da Conceiçao. Na Feitoria.
Noſa Senbora da Conceiçao. Na quinta do Re.
guengo .
Noſa Senhora do Egypto.
Senhor Jeſus dos Navegantes. Em Paço de Arcos.
S. Joao Bautiſta . No Forte das Mayas .
S. Joao Bautiſta. Na quinta do Jardim .
S. Joao Nepomuceno. Na quinta da Medroſa.
S. Jofeph. Na quinta da Coſta.
S. Lourenço. Na Cabeça ſeca .
Madre de Deos. Em Villa Fria .
Noſa Senhora da Penha de França. Na quinta dos
Valles .
S. Pedro . Em . Cacilhas .
Noſa Senhora da Piedade. Na quinta do Couto .
Noſa Senhora da Piedade. Na quinta do Quintao .
Noſa Senhora do Porto Salvo. No Lugar de Caſ
polima.
Na Fortaleza de S. Juliaó ha huma Igreja Pa
roquial com o titulo de Santa Barbara . 7 Paroco
tem
Do Ternio de Lisboa . 479

tem predicamento de Cura , que apreſenta o Pro


vedor dos Armazens , e conſta de cem viſinhos ,
além das Companhias do prefdio , e Artilheiros .

XXVI .

Olivaes .

57 P RedongefedeLisboa eft fatio o eſpaço de


legoa e meya ,
huma Paroquia , cuja Igreja he dedicada a Noſſa
Senhora com o titulo dos Olivaes , por apparecer mi
lagroſamente a ſua Imagem no tronco de huma oli
veira nefte meſmo Girio . A Freguezia he antiquifſi
ma , pois conſta que o ſeu Prior offerecera a Igre
ja para habitaçao dos primeiros Congregados dos
Conegos Seculares de S. Joao Evangelifta no anno
de 1420. Depois no anno de 1483 o Cardeal Arce
biſpo D. Jorge da Coſta a unio à Capella de Noſſa
Senhora da Afſumpçao do Convento de Santo Eloy
cujo Reitor percebe os dizimos defta Freguezia , e
apreſenta hum . Vigario com a congrua de cem mil
reis . Conſta a Paroquia de novecentos vifinhos fu .
bordinados ao Corregedor de Alfama , e tem no ſeu
deftricto os ſeguintes

Conventos.

S. Bento. De Conegos Seculares de S. Joao Evan


geliſta , a que o vulgo chama S. Bento dos Loyos .
Eftá fundado eſte Convento nas margens do Tejo
meya legoa para o Oriente de Lisboa . Havia D. Ef
tevao de Aguiar D. Abbade de Alcobaça edificado
alli huma Ermida ao grande Patriarca S. Bento ( e
foy a primeira caſa que o Santo teve em Lisboa ) com
o deſignio de formar alli hum Collegio , ou Hofpicio
para a ſua Ordem ; porém fobreviera - lhe embara
ços , que lhe impedirao os ſeus projectos, Govere
na ;
l
480 Mappa de Portuga .

nava entao o Rcino. ElRey D. Affonſo V. com a


Sereniffima Senhora D. Iſabel ſua mulher , a qual
ſendo tummamente affecta ao ſagrado Evangeliita,
tratou de lhe edificar hum Convento , cuja idéa lhe
embaraçou a morte .
58 Fazendo porém teſtamento , mandou ſe edifi
caſſe o Convento , para o que deixou oito mil co
roas de ouro , e que depois de acabado ſe entregar
ſe aos Bons homens de Villar , e que foffe cabeça
da Congregaçao . Deu logo ElRey cumprimento a
eſta vontade da Rainha ; e mandando pedir a Ermia
da ao D. Abbade a entregou aos Padres , que co
maraó poffe della no anno de 1455 , e logo ſe co
meçou a fundar a nova Cala , e juntamente a ſer ca
beça da Congregaçao , a qual no anno de 1401 por
Breve de Pio II. ſe começou a denominar dos Co
negos Seculares de S. Joað Evangeliſta , cujo Con
venco principiou a governar o Padre Joao Rodri
gues .
59 Com os tempos ſe foy conſumindo à primei
ra fabrica , até que o Veneravel Padre Antonio da
Conceiçao lhe deu principio no anno de 1600 com
ſete toftões, que lhe haviao dado de efmola. A Ca
pella mór correo por conta de D. Joanna de Noro
nha , filha dos Condes de Linhares . ( 1 )
Noſa Senhora da Conceiçao do Monte Olivete. De
Religioſos Agoſtinhos Deſcalços. He fundaçað da
Rainha D. Luiza mulher de EİRey D. Joao IV . ,
The lançou a primeira pedra no edificio ElRey D.
Affonſo VI. em 15 de Mayo de 1666 , ( 2 ) aſliftin
do a eſte folemne acto toda a Corte , e Communi
dade de Noſſa Senhora da Graça . Em 23 de Outu.
bro de 1683 padecco a Igreja , e Convento hum :
incendio , que em duas horas conſumio grande par
te da ſua primeira fabrica.
S.

[ 1] S. Maria no Ceo aberto liv . 1. cap.6. eliv . 2. cap.25. Sancuar,


Marian.com . I. pag . 275. Cary, na Corograf.tom . 3.p.593. [ 2] Sans
tuar .Marian , tom . 1. p.477 : ,
o de Lisboa .
Do Term 487

S. Cornelio. De Religioſos Arrabidos . Foy fun


dado para Convalecença no anno de 1674 pelo Sar
gento mór Joao Borges de Moraes , em huma Ermis
da de Noſa Senhora da Eſtrella ; depois paſſou a
Convento no anno de 1718. Nao ſabemos o funda
mento que houve para os devotos , que concorrem
a eſta Igreja , offerecerem ao Santo certos corni
nhos , ou de cera , ou de prata ; acçao , que como
já diffemos em outra parte, e bem reparou o douto
Feijó , ( 1 ) involve hum culto irriſorio , que a prů- .
dencia politica muitas vezes coſtuma tolerar ao poe.
vo material , e rude.

Moſteiros.

80 Santo Agoſtinho. De Religioſas Agoſtinhas


Deſcalças. Foy fundado no fitio do Grillo pela Rai
Aha D. Luiza Franciſca de Guſmah , mulher de El
Rey D. Joao IV . , e lhe deu principio em 2 de Abril
de 1663 , ſendo a primeira Fundadora a Veneravel
Madre Sor Maria da Preſentaçao , que veyo com
outras cinco Religioſas do Moſteiro de Santa Mo.
nica de Lisboa . (2)
Noſſa Senhora da Conceiçao. De Religioſas de Santa
Brigida. Eſtá fundado no ſitio deMarvilla pelo Are
cediago de Lisboa Fernando Cabral em 18 de Mar
ço de 1660. Neſte ſitio renovou o primeiro Patri
arca de Lisboa D. Thomaz de Almeida o antigo
Palacio , e quinta da Mitra , enriquecendo - o de no
biliſſimo ornato , e com eſpecialidade duas grandes
falas, cm que mandou collocar os verdadeiros retra
tos de todos os Excellentiſſimos Arcebiſpos de Lif
boa em quadros renovados pelo excellente pincel
do inſigne Franciſco Vieira , por ordem do Senhor
Rey D. Joao V. Direy a diſpofiçaó com que alli
Tom. III . Part.V. Ppp el

[ 1 ] Feijó no Theatro Critico tom , 7. difc. 8 , 1 , 28. [ 2 ] Santuar


Marian.com , 7. pag. 10.
482 Mappa de Portugal.

eſtao collocados , que nao he chronologica , e infi


nuarey os caprichos pitoreſcos do melmo Artifice
com que os illuſtrou .
O primeiro retrato da primeira fala nao tem no
me . Fatal deſcuido ! ::** 1
O ſegundo retrato he de D. Antonio de Mendo
ça , filho do primeiro Conde de Val de Reys , e de
cimo oitavo Arcebiſpo. Como elle vinculou toda a
ſua fazenda na Caſa de Val de Reys , fingio -lhe Vi
eira no meſmo quadro hum painel pendurado , que
repreſenta Eneas com o pay às coſtas , e hum mote
na moldura , que diz : Pius in Parentem .
O terceiro he do Cardeal D. Luiz de Souſa , de
cimo nono Arcebiſpo . Tem huma inſcripçao dos
ſeus titulos honorificos em hum dobrado , e fingido
papel encoſtado a hum grande copo de criſtal com
as ſuas armas expreffadas à imitacao dos vidros de
Alemanha , e he o que o retrato tem do pincel de
Vieira . Moſtra o tal copo eſtar cheyo de agua .
O quarto he de D. Rodrigo da Cunha , decimo re
timo Arcebiſpo. Eſte retrato he antigo , foy reto
cado por Vieira , que lhe accreſcentou huma livra
ria , cujos titulos dos livros faó os que o meſmo Ar
cebiſpo compoz . Tem eſtes difticos , que dizem :

Invida nature potuit tibi tollere vitam


Mors , vitam Famæ tollere non poterit.
Vivit adhuc, Spiratque fimultua Præſul imago.
Vivit in bis libris, Spirat in hac tabula .

O quinto he de D. Jorge da Coſta , chamado o


Cardeal'Alpedrinha , e oitavo Arcebiſpo . Eſtá en
coſtado a hum bofete , em que tem hum livro abér
to , onde ſe vê a eſtampa do paralytico com a ca
ma às coſtas , a quem Chrifto dife : Tolle grabatum
tuum ; e allude à fugida occulta , que o Cardeal Ar
cebiſpo fez para Roma, por contradições que teve
com o Principe D. Joaó , que ſuccedeo no Reina
do a ElRey D. Affonſo V. Em cima do bofețe ſe
ve
Do Termo de Lisboa . 483

ve hum globo , onde ſe diviſa huma roda de pavalhas ,


em lembrança do que devia à Infanta D. Catharina ,
empreza de que ſempre uſou. As ſuas armas pro
prias eftao em hum ſuppoſto retrato do meſmo Carn
deal Arcebiſpo , expreſadas na moldura no canto do
painel .
O fexto he D. Joao Manoel , decimo fexto Arce
biſpo , e Vice-Rey de Portugal.
O ſetimo he D. Affonfo Furtado de Mendoça , de
cimo quinto Arcebiſpo .
O oitavo he D. Miguel de Caſtro , decimo quarto .
Defte Arcebiſpo nao ſe achou em todo Portugal
outro retrato mais que hum feito depois delle more
to, com os olhos fechados , e deitado : e dizendo
ElRey a Vįeira , que era preciſo reluſcitallo , elle o
exprefſou com a mao eſquerda no peito , e com a
direita apontando para hum relogio , que moſtrava
em duas aberturas adequadas o número do dia , e o
nome do mez em que fallecera, e no termo inferior
do dito relogio o anno : e para ſignificar que o tal
relogio alli ceſſara , fez - lhe o apontador cahido no
bufete ; e para dar ſatisfaçaó a ordem do Rey , fi
gurou- lhe no fundo hum medalhao pendurado com
a reſurreiçao de Lazaro , e hum letreiro na moldu
ra , que diz : Veni foras .
O nono he D. Jorge de Almeida , decimo terceiro
Arcebiſpo .
O decimo he o Cardeal Rey D. Henrique , duo
decimo Arcebiſpo. Ettá clle figurado em hum jar
dim ſolitario em acto penſativo , com hum maço de
papeis nas mãos , e eſtas encruzadas . Ao lado direi
to huma eſtatua de bronze , que repreſenta a Luſi
tania , com a ſua lança cahida , e a figura diſpoſta de
modo , que eſtá ſem cabeça , porque juſtamente fi
ca cortada com a moldura para diffimular o concei
to .Junto do pedeſtal da dita figura eſtá huma plan
ta de cardo feco com dous caracocs pegados . Da
parte eſquerda eſtá hum bufere de pedra avermelha
Ppp ii . da ,
484 Mappa de Portugal.

da , e ſobre eſte hum livro grande fechado , que tem


no lombo elcrito hum letreiro , que diz : Reino de
Portugal. Sobre o dito livro eſtá huma coroa de lou
ro , e ſobre ella huma Coroa Real , e hum coelho ,
fymbolo de Heſpanha , que deſde hum canto puxa
pela laurea , e tomba a dita Coroa Regia .
( undecimo he D. Fernando de Vaſconcellose
Menezes , undecimo Arcebiſpo. Tem na fingida pa
rede do ſeu quarto pendurado hum Agnus Dei de
Paulo III . , que foy o Pontifice , que o creou Arce :
biſpo.
O duodecimo he o Cardeal Infante D. Affonſo,
dccimo Arcebiſpo. Eſtá expreſſado de modo , que
moſtra por meyo de jeroglíficos , eſtimar , e favo
recer mais fervoroſamente a Theologia , que a Fi
loſofia .
O decimo terceiro he D. Martinbo Vaz .da Cof
ta , irmao do Alpedrinha , nono Arcebiſpo. Moſtra
elle eſtar lendo humas . Conclusões , em que ſe vê
na Dedicatoria o ſeu nome; cem huma urna India
na , as ſuas armas . Eſta he a ſerie confuſa dos Ar
cebiſpos de Lisboa , que naquellas duas ſalas de vem
collocados , podendo eſtar por melhor ordem , e
completos com os mais retratos que falca ) .
O meſmo Eminentiſſimo Prelado mandando fa
zer à borda da praya huma calçada mageftofa , fervio
com eſta grande obra de utilidade ao bem com
mum , a que o ſeu nobre eſpirito muito attendia .
01 S. Felis , e Santo Adria ) . De Religioſas Co
megas Regrantes de Santo Agoſtinho . Eſtá fundaa
do eſte Molteiro no fim de hum Valle , que cha
mao de Chellas , muito freſco , e aprazivel por cau
fa das muitas hortas, e quintas , que o cercao , affaſ
tando - ſe de Lisboa meya legoa pelo Tejo acima
quali do Meyo dia para o Norte. 'He fundaçað an
tiquiſſima , e dizem alguns , ( 1 ) que no tempo da
Gen

[ 1] Luiz Marinho Antiguid, de Lisboa liv , 2 , cap . 1 ,


Do Termo de Lisboa. 485

Gentilidade habitaraó nelle Virgens Veftaes , o que


he muito duvidoſo .
62 Depois no principio da Chriftandade fe edi
ficou Templo , dedicando - o aos glorioſos Martyres
S. Felis , e Santo Adriao , que em diverſos tempos ,
e por varios caſos vieraó aportar a eſte ſitio , onde
entao chegava o mar pelo valle de Xabregas . Per
maneceo eftc Templo no imperio , c ſujeiçao dos
Arabes , mas nao confta ſe na mayor furia, e perſe
guiçao delles conſeguio a meſma liberdade . O que
ſe tem por mais certo he , que as Reliquias dos San
tos ſe eſconderaó pelos Chriftãos , c que recupera
da Lisboa ultimamente pelo invicto Rey D. Affon
ſo Henriques , ſe deſcobrirao , e a Igreja fe reno.
vou .
63 Logo nos principios deſta reſtauraçað fez
ElRey D. Sancho I. no mez de Agoſto de 1192
mercể detta Igreja a certos Religioſos, cuja ordem
ſe ignora . Depois no reinado de ElRey D. Affonſo
111. no anno de 1271 , conſta que já havia Religio
fas , mas que ordem profeffaffem , he ponto contro
verſo ; porque o Chroniſta Fr. Luiz de Souſa per
tende foſſem Dominicas ; e o Chroniſta mór Fr.
Antonio Brandao he de parecer , que ſempre fo
raó Conegas Regrantes . ( 1 ) Ultimamente foy etta
Igreja aperfeiçoada no anno de 1090 , e he o ſeu
Moiteiro ſubordinado ao Prelado Dieceſano .

Ermidas .

Santo Antonio. Na quinta da Concha .


Santo Antonio . No Braço de prata .
S. Bento . Na quinta dos Padres Loyos ..
Bom Paſtor. Na rua nova.
Nola Senhora do Carmo. No Condado .
Nof

[ 1 ] Souſa Chron de S. Doming. liv . I. cap. 13. e 14. Brand. na Mo


narq . Lufit liv. 10. cap . 35. Veja -lea D. Rodrig. da Cunha no Catal..dos
Biſpos de Lisboa part. 2. cap. 38. n . 6.
al
486 Mappa de Portug .

Noſa Senhora da Conceiçao. Na quinta do Bizato .


Noſa Senhora da Conceiçao. Na quinta do Marquez
de Marialva .
Noſa Senhora da Conceiçao. Em Cabo ruivo .
Noſa Senhora da Conceiçao. No fitio do Candieiro .
Jeſus Maria Joſeph. Na quinta dos Mozinhos .
Jeſus Maria Joſeph . Em Marvilla .
Š . Joao Bautiſta . Na Panaſqueira.
Madre de Deos . Em Alfundaó .
Madre de Deos . No Cabeço .
Noſa Senhora das Mercês. Na Bella viſta.
Noſa Senhora da Piedade. Dos Padres Trinos.
Noſa Senhora da Purificaçao. Na quinta da Flas
menga .

XXVII .

Povoa.

64 E de legoa e meya , conſta de huma Fregue


zia , cuja Igreja he dedicada a Santo Adria ) , a qual
ſe deſannexou da Paroquia de Loures pelo deſcom
modo que experimentavao os Freguezes moradores
neſte Lugar , eſpecialmente no tempo de inverno ;
e aſſim eitabelecendo congrua ao Paroco , faó elles
os que o apreſentaó com titulo de Cura , e com hu.
ma Capella , que cem annexa , lhe renderá o Curato
duzentos mil reis. Tem ſetenta fogos , e perto de
quatrocentas peſſoas. No ſeu deſtricto exilte a

Ermida .

Noſſa Senhora do Bom Succeffo.

: XXVIII .
Do Termo de Lisbon .
487

XXVIII .

S. Quintino.

Iftante de Lisboa cinco legoas para o Nor


os te le vê efte Lugar em litio alto . A ſua
Igreja Matriz he dedicada a Noſſa Senhora da Pic
dade, cujo Paroco tem o titulo de Vigario . Ha no
ſeu deftricto duas

Ermidas.

Eſpirito Santo .
Noſa Senhora da Fé.

XXIX .

Sacavem .

66 As margens de hum viſtoſo rio , que def


N emboca no Tejo duas legoas diſtante do
Oriente de Lisboa , eſtá cdificada eſta povoaçao em
lugar fertil naó ſó pelo terreno , mas pelo bom come
modo do porto . A ſua Paroquia he antiga , pois
deſde o anno de 1191 temos della memoria , ( 1) e
he dedicada a Nolla Senhora da Purificaçao , ſendo
o ſeu Padroado da Real Caſa de Bragança , que apre
fenta o Prior , e eſte a ſeis Beneficiados. Conſta de
novecentos viſinhos ſujeitos à Correiçao de Alfama .
Incluem - ſe no ſeu deſtricto os ſeguintes Templos ..

Moſteiro.

Noſſa Senhora dos Martyres. De Religioſas Capu


chas da primeira Regra de Santa Clara . Foy funda
do no anno de 1577 por Miguel de Moura Secreta
rio

[ 1] Cunha na Hiftor. Ecclef, de Lisboa part. 2.c. 18 , n. 6 ,


488 Mappa de Portugal.
rio de Eſtado e Eſcrivao da Puridade de ElRey
D. Sebaſtiao , e ſua mulher Brites da Coſta , no ſitio
onde eſtava huma antiga Ermida com o meſmo ti
tulo da Senhora dos Martyres , a qual havia erigido
EIRey D. Affonſo Henriques para memoria de hu
ma milagroſa batalha , que alli'alcançara dos Mou .
ros. ( 1 )
Ermidas.
Eſpirito Santo .
S. Jofeph. Na quinta Conde de Alvor.
Noſa Senhora Madre de Deos . Na quinta da Fran
celha, que poſſue Eftevao da Coſta Solano , Theſo
reiro que foy da Alfandega delta Cidade .
Noſa Senhora da Şaude .
S. Sebaſtiao. Na quinta do Viſconde.
Noſa Senhora da Vittoria .
68 " No braço de mar , que por aqui entra , exif
te hoje huma barca chamada da carreira , que por
invençao engenhoſa de Bento de Moura facilita
muito a paſſagem de huma para outra parte . Anti
gamente havia huma ponte de que ſe lembra Fran
ciſco Dolanda , como refiro no Roteiro Terreſ
tre ; a qual depois que cahio , nunca mais ſe levan
tou por incuria dos Portuguezes , ſegundo bem des
plora o Author do Santuario Mariano . ( 2)

XXX .

Santiago dos Velhos.

69 Eſte pequeno Lugar , que fica huma le


N goa para diante de Bucellas , ha huma
Fregueza , que conſta de noventa fogos , com hum
Cu .

[ 1 ] Brand. na Monarq. Lufit. liv . 10. cap. 27. Far. tom . 3. daEuropa
pag 14. Marinho de Azev. nas Antig . de Lisb . liv.4. cap. 24. Cardoſ. no
Agiolog. tom . 1. p.451 . e toin . 2. p. 309. Leitað nas Miſcellan. dialog. 2 .
pag. 39. Santuar. Marian . tom. 1. p . 128. Barboſa Bibliot. tom . 3.p.478 .
[2] Satuar. Mar.t.1.p.129 . Veja -ſe tambem a Monarq. Luf, 1.10.c.27 .
Do Termo de Lisboa. 489

Cura que o povo apreſenta. A invocaçao da Matriz


deu nome ao Lugar .
3

XXXI .

Sapataria .

70 Az em hum fitio baixo , e na diſtancia de


JE quatro legoas e meya para o Norte . A fua
Matriz he conſagrada a Noſſa Senhora da Purifica
çab , c o ſeu Cura he apreſentado pelo Prior de S.
Juliaó da Cidade , e lhe rende oitenta mil reis . Conf.
ta de quatrocentos vilinhos repartidos pelos Luga
res ſeguintes : Bica , Bouço , Caſalcochim Gal
legos , Gudeis , Limões, Malforno , Moita , Moitel
las , Molhados , Sarreira , Silveira. Contem nos ſeus
. limites eſtas
Ermidas,

Noſſa Senhora do Defterro.


Eſpirito Santo.
S. Giraldo.
Noſa Senbora da Guia .
S. Martinbo.
Nola Senhora da Salvaçao.
S. Sebaſtiao.

XXXII .

Via - Longa .

21
E cos intitulao Villa-Longa , em ſitio alto , e
alegre affaſtado de Lisboa tres legoas ao Norte. A
ſua Paroquia dedicada a Noſſa Senhora da Aſſump
çað he annexa à Paroquial de Santo André da Cida
de , e o Cura de Via - Longa paga à de Santo André
oito mil reis por conta das offertas ; porque no an
Tom.III . Part.V. R99 no
490 Mappa de Portugal.

no de 1390 os moradores de Via - Longa fizeraó a


ſua cufta huma Ermida , e pedirao licença ao Pres
lado , que entao era D. Joao Annes , para terem Ca
pellaó , que lhes adminiſtraſſe os Sacramentos ſem
prejuizo dos direitos Paroquiaes de Santo André.
72 Depois no anno de 1440 tornaraŭ a ſuppli
car os moradores ao Prelado Dieceſano lhes conce
deſſe poderem ter Cura ſeparado com a condiçao
de ſe repartirem as offertas entre o Prior de Santo
André de Lisboa , e o Cura de Via -Longa , o qual
ſeria apreſentado pelo dito Prior , e os Beneficiados .
Sobreitto houverao varias demandas , e o que pre
fentemente ſe obſerva he dar o Cura de Via - Longa
oito mil reis ao Prior de Santo André , e o povo da :
quelle Lugar apreſentar o Cura , a quem rende o
Curato trezentos mil reis . Conſta a Freguezia de
ſeiſcentos viſinhos, e comprehende nos deus limites
os Templos ſeguintes.

Convento .

Noſa Senhora do Amparo. De Religioſos Capu


chos . Intitula - ſe eſte Convento a Cafa nova da Ça
pucha , e eſtá fundado em huma baixa do Lugar da
Verdelha, cuja erecçao ſe deve a Pedro de Alcaço
va Carneiro primeiro Conde da Idanha a nova, c
Vedor da Fazenda de ElRey D. Joao III . do qual
Convento tomarao pofle os Religioſos no anno de
IS53. ( 1 )
Mofleiro .

73 Noſſa Senbora dos Poderes. De Religioſas ob


fervantes Clariſtas. Foy a ſua fundadora D. Brites
de Caſtello - Branco , filha de Heitor Mendes Valen
te , Alcaide mór de Terena 2 a qual obteve Breve
de

[ 1 ] Carvalho na Corograf. Port. tom . 3. p. 596, Clauſts, Franciſc.


pag 47. Saatuar, Marian. tom. 1. p.455.
Do Termo de Lisboa . 491

de Pio IV . no anno de usor para eſta fundaçao , o


o meſmo Pontifice declarou na Bulla , que foſſe o
Moſteiro dedicado a Nofia Senhora dos Poderes ,
nab obftante pedir a Inftituidora o titulo para a Sex
nhora da Incarnaçao. Até o anno de 1574 eftiverao
as Religioſas fubordinadas ao Prelado Diecefano ;
porém no ſeguinte deraó obediencia à Provincia de
Portugal , é no meſmo anno fe transformaraó de
Terceiras em Religioſas de Santa Clara , cuja Regra
obſervab . ( 1 )
Ermidas.

Nofa Senbora da Graça . Na quinta , e Palacio do


Conde de Val de Reys. He huma das Ermidas no
bres , ' e das mais aſſeadas que temos viſto.
Noſa Senbora das Mercés. Na quinta do Duque de
Cadaval no ſitio da Alfarrobeira. A qui ſuccedeo
aquella deploravel batalha de 20 de Mayo de 1449 ,
em que morreo o Infante D. Pedro filho de EIRey
D. Joaó I.
XXXIII.

Unbos.
1

74 E de
moto cavem na diſtancia de duas legoas de Lil
boa para o Norte. A ſua Igreja , naó obftante dizer
o Arcebiſpo D. Rodrigo da Cunha , ( 2 ) que fora
erecta no anno pouco mais , ou menos de 1277 pelo
Biſpo D. Mattheus , conſta de huma carta original
de ElRey D. Affonſo III . , que exiſte no Cartorio
deſta Igreja, que já no anno de 1257 eſtava eſtabes
$ lecida.
75 He ella do Padroado da Sereniſſima Cafa de
Bragança , e -rende ao Paroco quatrocentos mil reis
Q99 ii com

[ ! ] Cardoſ. no Agiol. Luf. tom. 1. p . 201 c tom . 2. p.223 . Soledade


tom . 5. Hiſt. Seraf. liv . 1. cap. 19. Santuar. Marian. tom . 1. pag. 438,
[ e ] Cuaba Cataloz. dos Biſp. de Lisboa pag. 179.
492 Mappa de Portugal.
com o Beneficio que lhe he annexo . Permanecer
com o titulo de Vigairaria até os principios do Se
culo decimo ſexto , em que ſendo provido pelo Se
nhor D. Jayme I. do nome, c IV . Duque de Bra
gança o Padre D. Gonçalo Fernandes Conego Re.
gular de Santo Agoſtinho, teve a denominaçao de
Prior, com a qual fora ) collados todos os ſeus luc
ceſſores ; os quaes apreſentaó dous Beneficios de ois
tenta mil reis cada hum . Compocm -ſe efte Lugar de
duzentos viſinhos ſubordinados à Correiçao de Al,
fama. Dentro dos ſeus limites ha as ſeguintes

Ėrmidas.

Noſa Senhora da Eſperança . Na quinta da Malva


zia . Foy fundada por D. Brites de Velaſco , e ſe
celebrou nella a primeira Miſſa no anno de 1599. 3
Noſa Senhora da Nazareth. No Lugar do Catejal .
He Imagem milagroſa , com quem osmoradores de
Lisboa tem muita devoçaó. ( 1 )
Noſa Senhora do Populo. Na quinta da Bouça con
tigua ao Lugar de Unhos.
S. Sebaſtiao. Situada no arrebalde defte Lugar .
Foy fundada pelos annos de 1531 .
: Nas Antiguidades de Lisboa , que eſcreveo An
tonio Coelho Gaſco , ſe lembra elle no cap. ro . de
ver na Igreja de Unhos huma pedra de ſepultura
Romana , cujo cippo dizia aſſim :

Fulius Ita .
licus : Auguſ
Tal: H.S.E.

Ifto he: Aqui eſtá enterrado Julio Italico Sacerdote di


Augufto.

[1 ] Santuar . Marian, tom . s. pag.473 ,

SUM
493

SUMMARIO

DOS CAPITULOS , E MATERIAS ,


que contém eſte Tomo.

AP . I. Explicaçao das Taboas Topograficas ,;


C em que ſe comprehendem as principaes Povoa
ções da Provincia da Eftremadura , pag . 1.6
CAP . II . Da Cidade de Lisboa ; 52 .
$ . I. Sitio , clima , e origem da dita Cidade , 53.56 .
$ . II . Nações varias , que a dominaraó , 62 .
$ . III . Fortificaçao antiga , e moderna , 75 .
$ . IV . Multidao de ſeus habitadores 84 .
$ . V. Novo plano regular da Cidade , 90 .
$ . VI . Catalogo de ſeus Prelados , 94 .

Biſpos certos.

Paulo , pag. 96 .
Goma , ou Gomarelo ., 97 .:
Viarico , 08.
Neufridio , 99.
Cefario , ibid.
Theodorico , 100 .
Ara , ibid .
Landerico , ibid .

Biſpos em tempo de Reys Portuguezes.

D. Gilberto , 101 .
D. Alvaro , 103 .
D. Soeiro I. , 104.
D. Soeiro Viegas II . , Jof:
D. Payo , 106 .
D. Joao I., 107 .
D.
494 Summario

D. Aires Vaz , ibid .


D. Mattheus , 108 .
D. E {tevaó Annes de Vaſconcellos , 109 .
D. Domingos Jardo , 110 .
D. Joao Martins de Soalhães , III .
D. Fr. Ettevao II . , 112 .
D. Gonçalo Pereira , 11-3.
D. Joao Affonſo de Brito , 114.
D. Vaſco Martins, ibid .
D. Eftevaõ Annes Ill. , 115 .
D. Theobaldo , ibid.
D. Reginaldo , 116 .
D. Lourenço Rodrigues, ibid .
D. Pedro Gomes Barroſo , 117 .
· D. Fernando , ibid .
D. Vaſco 11c , 118.
D. Agapito Colona , ibid .
D. Joao de Ais , 119. -
D. Martinho , ibid .
D. Joaó Annes , 120 .
Mappa geral de todos os Biſpos , 121 .

Arcebiſpos.

I. D. Joao Annes, 123 ,


II . D. Joao Eſteves d'Azambuja , Cardeal , 124 .
III . D. Diogo Alvares, 125 .
IV . D. Pedro de Noronha 126 .
V. D. Luiz Coutinho , 128 . .
VI . D. Jayme , Cardeal , 130 .
VII . D. Affonſo Nogueira , 131.
VIII. D. Jorge da Cotta, Cardeal , 133 .
IX . D. Martinho da Coſta , 135 .
X. D. Affonſo Infante , c Cardeal , 136 .
XI . D. Fernando de Vaſconcellos e Meheles., 139 .
XII . D. Henrique Cardeal , c ' Rey , 141 , 1 )
XIII . D. Jorge de Almeida , 143 .
XIV . D. Miguel de Caſtro , 145
XV .
dos Capitulos ,' O'C . 495
XV . D. Affonſo Furtado de Mendoça , 146 .
XVI . D. Joao Manoel, 147,
XVII . D. Rodrigo da Cunha , 149.
XVIII . D. Antonio de Mendoça , 150.
XIX . D. Luiz de Souſa , Çardeal , 151 .
XX . D. Joaó de Souſa , 154 ,

Patriarcas .

1. D. Thomaz de Almeida , Cardeal , 156 .


II , D. Joſeph Manoe:) , Cardeal , 160, 3
III . D. Franciſco de Saldanha , Cardeal, 161 .
Mappa chronologico dos Arcebiſpos , e Patriarcas
de Lisboa , 163
$ . VI. Da Capella Real , e Santa Igreja Patriarcal
de Lisboa, 163
$ . VII , Igrejas Paroquiaes dentro da cidade , 204.

Paroquias.

I. Nofra Senhora da Ajuda , 205 .


II . Santo André , 217 .
Ill. Noſſa Senhora dos Anjos , 226 .
IV . S. Bartholomeu , 234 .
'V. Santa Catharina , 238 .
VI . Chagas de Jelus , 245 .
VII . S. Chriſtovao , 247 :
VIII . Senhora da Conceiçao , 248.
IX . Santa Cruz do Caſtello , 254 .
X. Senhora da Encarnaçaó , 260 ,
XI . Santa Engracia , 269,
XII . Santo Eſtevaó, 278 .
XIII . S. Joao da Praça , 280 .
XIV . S. Jorge, 282 .
XV . S. Joſeph , 283.
XVI . Santa Iſabel , 291.
XVII, S. Juliaó , 299 .
XVIII . Santa Juſta , 307.
XIX .
496 Summario

XIX . Senhora do Loreto , 322 .


XX . S. Lourenço , 329 .
XXI . S. Mamede , 331.
XXII . Santa Maria , 334 .
XXIII . Santa Maria Magdalena , 361 .
XXIV . Santa Marinha , 366 .
XXV . S. Martinho , 368 .
XXVI . Senhora dos Martyres , 372 .
XXVII . Senhora das Mercês, 379 .
XXVIII . S. Miguel , 383 .
XXIX . S. Nicolao , 385 .
XXX Patriarcal , 391.
XXXI . S. Paulo , 394.
XXXII . S. Pedro , 397 .
XXXIII . Senhora da Pena , 400 .
XXXIV . Santiſſimo Sacramento , 407 .
XXXV . Salvador , 414 .
XXXVI . Santiago , 417.
XXXVII. Santos , 420 . ! .
XXXVIII . S. Sebaſtiao , 431 .
XXXIX . Senhora do Soccorro , 433 .
XL . S. Thomé , 439 .
XLI . S. Vicente , 442.

Conventos , Hoſpicios, e Collegios.

Noſſa Senhora dos Anjos , 273. 382 .


Santo Anca) , Collegio que foy de Jeſuitas , 435 .
- o Velho , Collegio de Agoſtinhos Calçados , 436 .
Santo Antonio dos Capuchos , 402.
- da Cruz da Pedra , 432 .
Hoſpicio de Piedoſos , 316 .
Alumpçao na Corovia , 295 .
Senhora de Belem . De Religioſos Jeronymos , 210 .
S. Bento , 293 .
Boa Hora. De Agoſtinhos Deſcalços , 304.
- Morte . De Congregados da Caridade , 295 .
Brunos , 286 ,
S.
dos Capitulos , &c. 497
S. Camillo de Lellis , 316 .
Senhora do Carmo , 409 .
Carmelitas do Maranhao , 286 .
- De Pernambuco , 382 .
Conceiçao . De Religioſos Capuchos , 231 .
- Da Ilha da Madeira , 382 .
-
De Religioſos Arrabidos , 317 .
De Religioſos Hoſpitalarios , 255 .
Collegio dos Cathecumenos , 267 .
Corpo Santo . De Dominicos Irlandezes , 395 .
Corpus Chriſti. De Carmelitas Deſcalços , 286. 387.
Cotovia . Vide Alump ;aó .
Senhora do Deſterro . De Religioſos Bernardos , 227 .
S. Domingos , 311 .
Santo Eloy , 236 .
Eſpirito Santo . De Congregados do Oratorio , 388 .
Eſtrella. De Monges Benedictinos, 298 .
S. Franciſco da Cidade , 375.
de Borja , 297
de Paula , 423
- Xavier , 273
Senhora da Graça . De Religioſos Agoſtinhos Cal
çados, 220 .
Hoſpicio de Clerigos Pobres , 266.
Jeſus. De Religioſos Terceiros Franciſcanos , 241 .
Collegio deMeninos Orfãos , 437 .
De Religioſos Thomariſtas , 445.
S. Joao de Deos . De Religioſos Hoſpitalarios , 423.
Nepomuceno. Carmelicas Deſcalços Alemães
396 .
Santa Joanna , 286 .
Senhora do Livramento . De Religiofós Trinitarios ,
424. "
Senhora da Nazareth . Collegio que foy de Jeſui
tas , 231 .
Mercenarios , 287.
Senhora das Neceſſidades. Real caſa dos Congrega
dos do Oratorio , 424.
Tom.III . Part . V. Rrr S.
ario
498 Summ

S. Patricio . Collegio que foy de Jeſuitas , 333 .

Alcantara . Religioſos Arrabidos, 265 :


S. Pedro de “
S. Pedro , e S. Paulo , 381 .
Senhora de Penha de França. De Agoſtinhos Cal
çados , 228 .
Senhora da Porciuncula . Capuchinos Francezes , 426 .
Divina Providencia . De Clerigos Regulares , 381.
Senhora dos Remedios . De Carmelitas Deſcalços ,
426 .
Santa Rita , De Agoſtinhos Deſcalços , 432. .:
S. Roque. Caſa profeſſa que foy de Jeſuitas , 265 .
Senhora do Roſario . Vide Corpo Santo .
Santiſſimo Sacramento de Religioſos Pauliſtas . Vide
Pauliſtas.
Santiſima Trindade , 410.
Varatojo , 296. 377 .
S. Vicente . De Conegos Regularès , 442 .
de Paulo , 402.
Xabregas . De Religioſos Franciſcanos , 272 .

Moſteiros , e Recolhimentos.

Santo Alberto de Carmelitas Deſcalças , 426 .


Senhora dos Anjos . Recolhimento , 277 .
Santa Anna . De Religioſas Franciſcanas, 403.
Annunciada. De Religioſas Dominicas , 287.
Santa Apollonia . De Religioſas Franciſcanas , 275 .
Bom Succeſſo. De Religioſas Dominicas , 211 .
Santa Brigida , 426 .
Calvario , 211.
Senhora do Carmo . Recolhimento , 244.
Santa Clara . Religioſas Franciſcanas, 275 .
Conceiçao . Carmelitas Deſcalças, 381 .
Santo Crucifixo , 427 .
Encarnaçaj . De Commendadeiras de Aviz , 403 .
Recolhimento do Caſtello , 255 .
- Recolhimento em Rilhafolles , 405 .
ER
dos Capitulos , eo c 499

Eſperança. Religioſas Franciſcanas , 427


Eſpirito Santo . Recolhimento , 244 .
Flamengas. Vide Senhora da Quietaçao.
Francezinhas. Vide Santo Crucifixo .
Senhora da Lapa. Recolhimento de Orfás delam
paradas, 429.
Madre de Deos. Religiofas Franciſcanas , 273 .
Santa Martha . De Religioſas Franciſcanas , 288 .
Menino Deos . Terceiras Manrelatas , 440 .
Meninas pobres , 378.
Miſericordia , 357 .
Santa Monica. Religioſas Agoſtinhas Calçadas , 444 .
Senhora da Natividade. Recolhimento de Conver
tidas , 267:
areth
Senhora da Nazare th . Religioſas Bernardas , 427 .
Senhora da Quietaçao. Religioſas Clariſtas Deſcal
ças , 212 ,
Senhora dos Remedios . Religioſas Trinas , 295 .
Senhora do Rotario . Religioſas Dominicas , 330 .
Sacramento . Religioſas Dominicas , 428 .
Salvador . Religioſas Dominicas, 416.
Santos o Novo . Commendadeiras de Santiago , 274 .
Senhora da Soledade , 428.

Igrejas , Collegiadas, Seminarios , Ermidas,


e Hoſpitaes.

Noſſa Senhora dos Afflictos , 212 .


Senhora da Ajuda , e Santos Fieis de Deos, 382 .
- do Alecrim , 268 .
Santo Amaro 212 .
Santo Ambroſio , 297 .
Senhora do Amparo , 317.5
Santa Anna , 277 297. 432 . .
Santo Antonio , 213. 231. 297. 350. 432 .
Senhora da Annunciaçao , : 213 .
.!
Aſcenſaõ de Chrifto , 382. 389 .
Senhora da Aſſumpçao , 364.
Rrr ii San
E
Suminario
500
Santa Barbara , 231 .
Senhora de Belem , 364.
- do Bom Succello , 289 .
S. Braz , 419 .
Senhora do Cabo , 432 .
- da Caridade , 353. 406 .
do Carmo , 244. 298. 382. 432 .
Santa Catharina . Seminario , 238 .
Senhora da Conceiçao . Cóllegiada , 252. Ermi
das , 213. 231. 277. 297. 428. 432 .
- da Conſolaçað , 353 .
S. Criſpim , e Criſpiniano , 333 .
Senhora da Eſcada, 317 .
Eſpirito Santo , 244. 256 .
S. Filippe, e Santiago , 419 .
S. Franciſco , 298 .
- de Borja , 297
Senhora da Gloria , 289 .
S. Gonçalo , 232.
Senhora da Graça , 213. 317. 378 .
Hoſpital do Carmo , 390 .
de Todos os Santos , 318 .
Jeſus Maria Joſeph , 232 .
dos Afflictos, 297 .
- dos Bemcaſados , 297.
- da Boanova , 279 ,
dos Deſamparados , 354 .
dos Navegantes, 429 .
- da Salvaçao , 406 ,
- da Via Sacra , 406. 429.
S. Joao Bautiſta, 214. 232. 297. 432 .
S. Joaquim , e Santa Anna , 213 .
Senhora da Lapa , 429 .
S. Lazaro , 406 .
Senhora do Livramento , e S. Joſeph , 214.
S. Luiz Rey de França , 289 .
Senhora Madre de Deos , 277 .
Máy dos Homens , 297 ,
dos
dos Capitulos , e ci gor

dos Martyres , 433 .


do Menino Jeſus, 298 .
S. Miguel , 257
Senhora dos Milagres , 298 .
- da Miſericordia , 354.
de Monſerrate , 429.
- do Monte , 232.
do Monte agudo , 233 .
da Nazareth , 214. 233 .
da Oliveira , 305 .
1
da Pal ma , 389.
do Paraiſo , 277 :
da Paz , 406 .
da Piedade , 297. 433 .
- do Populo , 214. 233 .
dos Prazeres , 297 .
da Pureza , 290 .
Senhor dos Paſſos , 225 .
S. Pedro , 297 .
de Alcantara , 277.
Gonçalves , 396.
Senhora dos Remedios , 233. 279 .
Santa Roſa , 233 .
Senhora do Roſario , 277. 399. 406 .
- da Salvaçao , 406 .
da Saude , 438.
S. Sebaftia ) , 360 .
Senhora da Victoria , 390 .
S. Vicente Ferrer , 233 ,
CAP . III . Igrejas Paroquiaes no Termo de Lisboa ,
446 .
Paroquias.

1. Ameixoeira , 447 .
II . Santo Antao do Tojal , 449.
III . Appellaçaó , 452 .
IV . Arranhol, 453 .
V. Barcarena , 454 .
VI.
502 Summario

VI . Bemfica , 455 .
VII . Bucellas , 457 .
VIII . Camarate , 459 .
IX . Campo grande , 400.
X. Carnaxide , 461 .
XI . Carnide , 463 .
XII . Charneca , 405 .
XIII . Santo Eſtevao das Gallés , 466.
XIV . Fanhões , ibid .
XV . Frielas , 407 .
XVI . Granja de Alpriate , 468 .
XVII . S. Joað da Talha , 469:
XVIII . Santa Iria , 470 .
XIX . S. Juliaõ do Tojal , ibid .
XX . Loures , 471 .
XXI . Louſa , 473.
XXII . Lumiar , ibid .
XXIII . Milbarado , 474.
XXIV , Odivellas , 475 .
XXV . Oeiras , 477 .
XXVI . Olivaes , 479 .
XXVII . Povoa , 486 .
XXVIII . S. Quintino , 487.
XXIX . Sacavem , ibid .
XXX . Santiago dos Velhos , 488.
XXXI . Sapataria , 489 .
XXXII. Via - Longa , ibid .
XXIII . Unhos , 491 .

Conventos , e Moſteiros do Termo.

S. Domingos de Bemfica , 456 .


Santo Antonio da Cruz de pedra , ibid .
Noſa Senhora do Soccorro de Camarate , 459.
Noſſa Senhora da Boa Viagem , 462.
Santa Catharina de Riba mar , ibid .
S. Jofeph de Riba mar , ibid .
S. Joao da Cruz de Carnide , 463.
Nof
dos Capitulos , &c. 503

Noſſa Senhora da Conceiçaõ de Carnide , 464.


Santa Tereſa , ibid .
Nofa Senhora da Conceiçao de Santa Iria , 470 .
Eſpirito Santo de Loures , 472 .
Nofa Senhora da Porta do Ceo do Lumear , 474.
S. Diniz de Odivellas , 475 :
Vallis Miſericordiæ de Oeiras , 477 ..
S. Bento dos Olivaes , 479 .
Noſſa Senhora da Conceiçao do Monte Olivete , 480 .
S. Cornelio , 481 .
Santo Agoſtinho , ibid.
Noſſa Senhora da Conceiçao , ibid .
S. Felis , e Santo Adriao , 484 .
Noſſa Senhora dos Martyres de Sacavem , 487.
Noſſa Senhora do Amparo de Via- Longa , 490.
Noſſa Senhora dos Poderes de Via -Longa, ibid .

MM WUR

RO.
ROT EIRO

TERRESTRE
i
DE

POR TUGAL ,

EM QUE SE ENSINAỔ POR JORNADAS , E SUMMARIOS


nao fó os caminhos , e as diſtancias , que ha de Lisboa para as principaes
terras das Provincias deſte Reino , mas as derrotas por traveſſia de hu .
mas a outras popoações delle.

INTRODUÇ A O.

I STE Roteiro , que pelo aſſumpto havia de


ſervir de complemento ao noſſo Mappa de
Portugal , apparece agora com antecipa
çaõ depois da quinta Parte delle a inſtan
cias da curiofidade. Eu já havia reflecti
do ſer ſummamente importante o conhe
cimento das eftradas com as diſtancias
que entre ſi guardao os lugares , por onde ſe diſcorre , nao ló
para o bom commodo dos viajores , ſegurança das expedi
Tom . III . Parc. V. A ções
2 Mappa de Portugal;

ções militares , [ 1 ] e facil conducta dos generos concernen


tes ao commercio reciproco , mas ſobre tudo para o ſoccor
ro , que contribue à verdadeira poſiçað , e noticia local das
terras , que he a baze da Geografia , e huma das principaes
luzes da Hiſtoria . [ 2 ]
2 Confeſſo porém , que deſde que emprendi eſta Obra ,
me preoccupou baſtantemente o cuidado o poder ſatisfazella
neſta parte pela falta , que tinhamos deſta inſtrucçao ; e ſen
do - me quaſi impoſſivel poder indagar iſto peſſoalmente , co
mo era preciſo , de algum modo o conſegui , valendo-me da
intervençaõ de meus amigos Antonio Daniel , Tenente do
Correio mór defte Reino , e de Manoel Gomes Rebello ,
Official antigo do meſmo expediente , os quaes mandando
pedir a todos os Correios affiftentes das Provincias os Itine
rarios , que dos ſeus deftritos havia até Lisboa , os mais dels
les informando le de peſſoas práticas , remeteraó relações
provavelmente bem averiguadas , de que formey o preſente
Roteiro com a melhor formalidade , e exacçao , que foy poſ
fivel ; fem embargo de que em algumas partes vay diminu
to , nao ſó por falta de noticias , e algumas indigeftas , mas
por ſer eſta huma empreza verdadeiramente deſigual ao meu
talento , e mais propria de pulſo fuperior.
3 A verdade he , que parte dette projecto nað ſó foy já
intentado , mas poſto em execuçaó por ÉIRey Filippe IV .
deſde o anno de 1638 , quando governava eſte Reino ; por
que deſejando ſaber as diſtancias , que havia de humas a ou
tras terras delle , paſſou hum Decreto , para que os Correge
dores das Comarcas fizeſſem tirar com individuaçao o calculo
deſtas medidas pelas terras da lua alçada , encarregando a di
ligencia ao Duque de Villa Hermoſa. As liftas , ou relações
originaes , que ſe remetteraõ a Madrid , me communicou já ha
tempos o erudito Fr. Franciſco de Santa Maria , Religioſo
Au

[ 1 ] Primàm itineraria omnium regionum , in quibus bellum geritur , pleniffimè


debere habere per fcripta , ita ut locorum intervalla non folùm paffuum numero , ſed
erism viarum qualitates perdiſcat. Vegecio lib. 3. de Re militari cap . 6 [ 2 ] Et
autem itinerum notitia non tantùm mercatoribus neceffaria , qui per varias regiones
peregrinantur , fed exa &tiori locorum defcriprioni plurimùm inferuit , on totius Geo
graphie fundamentim eft. Simlerus in præfat. Itiner. Antonini. E mais para diante :
Affert eriam Itiner itm cognitio multum lucis Hiſtoriarum lectioni. Veja - le Monf. D *
Audiffret no Pref, da Geogr.com . 1.c ao P.Segura na s.p. do Norte Critico diſc. 2.9 5
Roteiro Terreſtre.
3

Auguſtiniano , que a morte nos uſurpou tao depreffa , as


quaes em dous volumes de folha exiſtem preſentemente na
infignę livraria do Convento de N. Senhora da Graça deſta
Corte , e dellas me aproveiteý quanto a alguns Summarios
fómente : porém eſtað defeituoſas , e incompletas ; porque
embaraçando -ſe com outras averiguações , deixao em muitas
de correſponder as repoſtas aos interrogatorios.
4 Tambem o laboriofo , e diligente Padre Antonio Cara
valho da Coſta [ 1 ] prometteo hum Roteiro breve de Lis
boa para as principaes povoações do Reino ; mas ſem duvida
ficou ſó na promeſſa , pois nað me conſta que alguem o viſ
ſe ; de fúrte , que eſta minha idéa , officioſa em beneficio
publico do Reino , fem mais intereſſe , que ſeu o proprio luſ
tre , bem póde merecer o titulo de primeiro 'Itinerario , que
até agora ſe tem viſto diſpoſto para o noſſo particular Paiz .
s Nelle , depois de dar huma breve noticia das Vias Mi
litares , que no tempo dos Romanos diſcorriaõ pelas noſſas
terras , e de algumas pontes , que atraveſſavao pelos noſſos rios
[ memoria , que achey nao ſer impropria do affumpto preſen
5 te ] entro a delinear o lcinerario moderno , conſtituindo a Cie
E dade , e Corte de Lisboa , centro de todos osRoteiros , que
diftribuo para as principaes povoações das Provincias , e def
tas faço produzir , e derivar outras Vias por traveſſia , que
ſervem como ramos , que vaó pegar nos lugares circumvizi
nhos mais notaveis. E porque nað foy pollivel demarcar por
jornadas , c mansões todos os intervallos , que ha de huns a
outros ſitios , reduzi alguns a compendios , ou ſummarios ;
fazendo porém muito pelos orientar , ou ajuſtar à melhor
arrumaçao , com que humas terrasſe correm com outras , re
gulando- me para iſſo pelo Mappa de Joao Bautiſta Homan
nu . Nao ſey todavia ſe acertey em todos os rumos.
6. O ponto central , que elegi para delles lançar os Ros
teiros para as mais partes , pareceo.me ſer adequado , é util
para a clareza. Lisboa , como Corte do Reino Portuguez ,
he o coraçao da ſua Monarquia , nao tanto pela vantajem do
feliciſlimo ſitio , em que eſtá, quanto pela grande capacida
de , e conveniencia do commercio , que tem , onde à maneira
G A ii do

:)
[ 1 ] Na Corograf. Portug. t. 3.00 princip. do liv. 2,
4 Mappa de Portugal,

do coraçao nos corpos viventes , que he o principal fundamen


to , que vivifica todos os ſeus membros , aſſim Lisboa com
huma facil, e continua diftribuiçaõ communica , e reparte a
fubftancia vital dos cabedaes a todas as partes mais remotas
das ſuas Comarcas ; ou já pelas veas dos portos , e trajectos
dos rios , ou pelas vias das ettradas , por meyo das quaes re
cebe tambem com reciproca affluencia a fertilidade , e regalo
dos frutos , que todas as terras deſte Continente lhe eſtao tri
butando , como a Princeza..... ,
7. Em nenhum tempo melhor que no pacifico , e fauſto
reinado delRey D. Joao V. ſe verificou toda etta felicidade ,
pois a eff , itos de ſeu heroico eſpirito ſempre pio , augufto ,
e providente, vimos as ruas , e as praças de Lisboa mais lar
gas , e as eſtradas , que nos conduzem a ella , mais elpaçoſas.
Obſervou Tibullo , [ 1 ] que os moradores dos ſuburbios de
Roma cantavað louvores à Marco Melalla , porque havia
mandado reedificar os caminhos Tuſculano , e Albano , pe
los quaes voltavao ſeguros para as ſuas terras , ainda que foſs
fem noite ſem perplexidade alguma :
-- Hic glarea dura
Sternitur ; hic apta jungitur arte filex .
Te canit agricola , è magna cùm venerit urbe
Serus , inoffenſum retuleritque pedem .
8 Porém a incomparavel providencia de Sua Mageftade ,
eximindo de todos eſtes de commodos a ſeus vaſſallos , per
petuou os ſeus louvores ; porque mandou ampliar os cami
nhos , e deſimpedir as eſtradas , fez facilitar a communicaçao
della

que podeflem todos com ſuavidade vir lograr a miudo os mi


mos da Corte , e gozar da mageftoſa preſença de hum Monar
ca verdadeiro Tito , igualmente benefico , ſoberano , e affa
vel . He o que por eſte motivo cantou hum noſſo Poeta grande
imitador dos antigos. [ 2] 9 Agon

[ 1 ] Tibul. 1. 1. eleg 7. ad fin . [ 2 ] D. Luiz de Lima part. 2. epigr.60.


Hic augufta patent , fpatiofaque ftrata viarum ,
Teque jubente , cita jungitur arte ſilex.
Urbs tua fic populis fedet undique pervia Princeps ,
Quique dan inoffenſum fertque, refertque pedem ,
obice jam dempto properat , geſtitque viator ;
Sicque daturcitiùs Principis are frui,
Roteiro Terreſtre .

9 Agora hum dos pontos principaes ,que neſte aſſumpto


ſe faz preciſo advertir , he ſobre o calculo das leguas. Neft
1 te Reino nað ha medida certa itineraria , e por iſſo encon.
. tramos pelas Provincias tanta irregularidade neſte particular ;
pois vemos que as leguas da Eſtremadura pela mayor parte
7 fao pequenas , as do Alentejo mayores , e as de Trás os Mon

tes, e Algarve demaſiadamente compridas : donde difle bem


31
o Padre Argote , [ 1 ] que entre as leguas Portuguezas ape
nas ſe achaó duas , que convenhaó no comprimento ; e tudo
naſce , porque vulgarmente ſe medem as leguas por eſtimativa.
10 No fyftema do Engenheiro mór [ 2 ] deve compu
tarſe a legua por huma' hora de caminho a paſſo cheyo , e
ordinario , dando a cada legua trez mil paflos geometricos,
e a cada paſſo geometrico cinco pés geometricos , que fazem
quaſi ſete palmos de craveira . Nao quizera metter agora ao
. Leitor em prolixas averiguações deſte ponto , que pode ver
em outros Authores mais de eſpaço ; [ 3 ] fo he bem que ſaiba
terſe obſervado ordinariamente , que hum Poftilhao , ou Cor
reio , indo a pé , caminha em vinte e quatro horas de verao
quatorze leguas , e de inverno treze ; e indo pela pofta , anda
nas vinte e quatro horas trinta leguas.
II Da medida do pé horario , que ſe determina median
te as vibrações de hum pendulo , quando ſe praticaſſe uni
4 verſalmente , diz Pedro Du- Val , [4 ] que reſultaria ) certas
as diſtancias itinerarias em toda a parte ; e já hoje alguns Geo
grafos peritos uſao deſte engenholo inſtrumento para regula
rem ſem fallencia as leguas , e intervallos progreſſivos. [ 5] Po
Tém em quanto ſe nað obſerva geralmente , ou nao ſe tomað
outras precauções para eſta medida , me foy preciſo accom
modar na aſſinaçao das leguas com a vulgar eſtimativa do Paiz ,
praticada entre os caminhantes , que mais curſao as eſtradas ;
e por iſſo advirto , que entre nós nað merecem muito cre
dito os Itinerarios de Cherubim Stella , Joao Maria Vidari
e D.
1
< [ ] Argote nas Antig . da Chancel. de Braga p . 2o2 . [2] Manoel de Azer .
Fort. no Modo de fazer as Cartas Geograf. pag. 4. ( 3 ] Cluverio na Geograf. Fore.
no Engenha. Portug. t. 2.1. 1.c. 6. Fr. Bern. de Brie. na Monarch . Portug: p . 2. l. 5 .
c. 11. Barreir. na Corograf. fol. 61. [4] Du-Val Trat. do Uſo doGobo , e do
Mappa...[ 5 ] D. Jorge Juan nas Obſerv, Aftronomic, feit. por ordem deRey Fi
lippe V. 1.8.c. I , ha pouco imprent .
6 Mappa de Portugal ,

e D. Pedro Ponton ; nao ſó porque errað os nomes das nora


fas terras nas poucas viagens, que por eſte Reino deſcrevem ,
mas tambem , porque nao acerta5 na medida actual , que ha
entre terra e terra .
2
12 Nefta , e nas mais noticias , que pertencem ao noſſo
Reino, fað ordinariamente miſeraveis os Authores Eſtrangei
ros ; [ 1 ] porque ou ſeja por malicia , ou ignorancia , hu
mas vezes eſcrevem o que nao fe deve dizer , outras dizem
o que nao he ; e deſte defeico fiquey ſummamente eſtimu
lado , quando li no Tomo xv . do Eſtado preſente da Europa
o que ſeu Author eſcreve modernamente de Portugal . Elle
diz o que nunca houve : miſtura o antigo com o moderno
ſem o feparar: erra os nomes das peſſoas conſpicuas , e pou.
co acerta com a época dos tempos : de huma particularidade
tira conclusões univerſaes para informar ao mundo dos noſſos
coſtumes ; em fim omitto muitas patranhas , que o Author
refere , porque nas he eſte o lugar para criticas . E aſſim
tornando à falta das medidas itinerarias , parece - me que ſe evi
taria eſte inconveniente , ſe ſe abraçaſle o arbitrio de mandar
collocar nas entradas e fahidas das povoações do Reino , e
de eſpaço a eſpaço por todos os caminhos mais frequentados
cruzeiros de pedra , em os lados de cujas bazes eſtiveſſem nu
meradas as diſtancias das leguas , ou dos paſſos , que ha de
hum a outro lugar , calculados todos por huma medida certa .
13 Imitariamos niſto louvavelmente aos Romanos , que
aſlim o uſarað para guia dos paſſageiros por todas as terras do
feu Imperio em columnas altas , e groflas ; e já ElRey D.
Joao V. com advertida providencia fez dar principio a eſte
bem commum
mandando pôr no caminho Real de Mafra
padrões com letras gravadas em lingua vulgar , que decla
raõ a ſeparaçao das ettradas , e a diſtancia , que ha dalli até
às mais proximas povoações .
14 Parece-me que tenho dado aos Leitores a raza ) , que
balta para penetrarem naó ſó os fundamentos da minha idea ,
e o caracter da Obra , mas poder merecerlhes tambem a deſ
culpa dos defeitos della , para que talvez concorreraõ muitos
ac
[ 1 ] Quòd fiqui exteri res Lufitanas attigerunt , pauci ii fanè funt admodùm , id .
que adeò dubia plerumque fide fecerunt , ut ſape tota errent via. Metel. in Præfat. ad
libr. Olorii de Rob . Emman.
Roteiro Terreſtre. 7

accidentes inevitaveis , os quaes poderá emendar o tempo


00 com a diligencia , que applicar outro qualquer zeloſo do bem
th publico em o deſempenho defte projecto.
is Paremos agora a dar huma noticia previa , e fum
maria das Vias Militares , e Pontes , que havia neſte Reino
em tempo dos Romanos . He de ſaber, que a mayor obra
pu.
*o

blica , mais magnifica , e mais util , que os Romanos fabrica


raó por todas as terras do ſeu dominio , foy a das Vias Mili
tares , ou Calçadas , e Eſtradas Reaes. Diſcorriaó ellas der.
de os ultimos fins do Occidente , que era a Luſitania , até além
14 de Babylonia Oriental , e de Norte a Sul deſde a Eſcocia até
Africa . Com eſta continuada progreſſað , e ſerie de caminho
hiaó parar todos como em centro no meyo da praça de Ro
ht ma junto ao Coliſeo , onde eſtava huma baliza , ou meta , que
fe chamava Umbilicus Urbis.
16 Nas Taboas Geograficas de Peutinger , que vem no
fim do Tratado doutiflimo , que dette aſſumpto compoz Ni
coláo Bergier , [ 1 ] ſe obſerva , que as taes Eſtradas eitavað
lançadas pelas terras do Imperio Romano da meſma forma ,
i que vemos deſcriptos os rumos , ou linhas nas Cartas de mas
rear , pelos diverſos ramos , que enlaçavað , e faziaó pegar huns
caminhos com outros caminhos , até pararem nas povoações,
a que ſe dirigiaõ . A eſte fim rompiao por entre penhaſcos
e rochedos , circulavaó montanhas e valles atraveſſavao
ribeiras , e rios por cima de mageſtoſas pontes , procurando
ſempre neſta obra verdadeiramente Regia a fortaleza della
e a commodidade dos paſſageiros, que em qualquer tempo , e
a qualquer hora , ou foſſem a pé , ou a cavallo , nunca acha
vað embaraço algum .
17 Eraó as Eftradas pela mayor parte eſpaçoſas , cujo ра
vimento compunhaó pelo meyo pedras pretas , a que chama
vað Silice , e guarneciao as ourellas outra carta de pedrinhas
mais miudas , como caſcalho , a que chamavao Glarea , to
das perfeitamente unidas humas às outras ; de cuja conſtruc.
çao , arquitectura , e aſſeyo tinhao cuidado diverſos Magif
trados , e Perſonagens , á quem os Imperadores davaő eſte,
officio , e fuperintendencia com o honroſo titulo de Triumvi

[ ] Apud Bergier tom . 2. Hitoire des grands Chemins de l'Empire in fine


Mappa de Portugal,

ri viarum curandarum , cujo cargo ainda hoje exiſte em Roa


ma , reſtituido à ſua antiga mageftade por Martinho V. e
augmentado por outros Summos Pontifices. ( 1 )
18 Pelas margens deſtas Eſtradas ſe via6 collocados de
quarto a quarto de legua nað fó certos poyaes de pedra ,
para delles fe montarem a cavallo os paſſageiros , mas colum
nas alcas , e groſſas, em que eſtava gravado em Latim o nu
mero das milhas, que tinhao andado , e as que lhe faltava ) an
dar dalli para diante . De todas eſtas medidas , e diſtancias
bem calculadas mandaraó os Imperadores compor hum Iti
nerario , de que ſe extrahio o Codice , que hoje exifte , cha
mado de Antonino , ( 2 ) do qual injuſtamente faz pouco ca
ſo o Padre Larramendi , como ſe pode ver no Diario de los Lig
teratos de Eſpaña tom . 2. pag. 16.
19 Defte Itinerario , principiado por Julio Ceſar , conti
nuado por Octaviano , publicado por hum dos Imperadores
Antoninos , e aperteiçoado por Theodofio o Mayor , ſe apro
veicavað não ſó os poſtilhões para ſaber onde haviaõ de per
noitar , e mudar de cavallo , mas ſervia muito para a jornada
dos Pretores, Preſidentes , e Legados , que com os ſeusMi
niſtros paffavao de Roma a viſitar as ſúas Provincias e
, Con
ventos Juridicos , e ſobre tudo para a marcha das Tropas ,
a cujos Cabos ſe dava ſempre hum deftes Itinerarios , ou Ro
teiros para por elle ſe governarem nas marchas , e ſaber por
onde haviao de ir , e onde haviaõ de aquartelarſe. (3 )
20 Da magnificencia deſtas obras Romanas participou o
noffo Reino em muitas partes delle , de que apenas hoje ſe
vem as ſuas ruinas . Quanto às pontos , a que permanece com
menos leſað , he a do Tamega, rio , que paſa por dentro da
Villa de Cháves , e conſta de dezaſeis arcos , que occupaó o
comprimento de noventa e dous paſſos geometricos , tendo
de

( 1 ) Jacob Cohellio in Notitia Cardinalatús c. 15. Congregat. 16. pag . 96


(2) Plutarc, in vita C. Gracchi Muratori com . 8. Scriptor. Italic. pag 474 ( 3) Ş .
Ambroſio ſuper Pf. 118. Miles , qui ingreditur iter , viandi ordinem non ipfo diſponit
fibi.... fed Itinerarium ab Imperatore accipit , cuſtodit illud , prafcripto incedit ore
dine, re&tâque viâ conficit iter , ut inveniat commeatuum parara fibi fubfidia , egoce
O meſmo dizem Zurita , e André Schott . ao Prefacio do Itinerar. de Antonino:
Dulcibus verò , militibusque, ac Proconfulibus , de Pratoribus in Provincias proficiſ ,
centibus compoſitum apparet Itinerarium , ne aberrarent à via , ác. Vegecio De Re
militar l. 3. c . 6. I
.
Roteiro Terreſtre. %

de alto trinta e dous palmos craveiros , e delargo vinte e reis,


incluindo a groſſura do parapeito. ( 1 ) E he coula para re
parar , que ſemelhante edificio ſe conſerve ainda tað fixo ha
tantos annos .
21 Havia tambem a ponte , que os Romanos edificaráð
fobre o rio de Sacavem , cujos veftigios ainda permanecia
no anno de 1970 , pois delles ſe lembra o curioſo Franciſco
Dolanda no cap. 7. do ſeu fingular Tratado da Fabrica , que
fallece à Cidade deLisboa ; cujo livro , porque nunca ſe im
primio , he viſto de bem poucos. E fuppoſto que o Reve
rendo Doutor Ignacio Barbofa Machado o allega no ſeu eru:
ditiflimo Tratado Hiſtorico Juridico do Aqueducto de Lisboa ,
he ſó pela informaçao , que nós lhe communicámos eel
le pode adquirir da primeira Parte do noflo Mappa de Portú
gal . No lugar citado diz pois o tal Aut hor , fallando com
Author
ElRey D. Sebaſtiao : . A primeira das pontes foy ſobre o rio de
Şacavem , como ſe vem claros, e manifeftos o começo, e o fim , e efta
deve V. Alteza mandar reedificar , porque be proveitoſa muito
tambem para paſſar por ella a Corte , ſem o rodeio de ir ao Tojal.
2:22 Outra ponte fizerað os Romanos ſobre o rio Tejo em
Santarem , de que o mencionado Franciſco Dolanda diz, que
ainda ſe conſerva alguma memoria nas junqueiras , onde cha
maó a Terruja , palavra derivada do Francez ( quando eſtes
occupara ) Santarem no tempo de Carlos Magno ] de Torre
roxa , porque era o pégao da ponte de tijolo vermelho , co
mo teftifica o meſmo Author. Allim de Abrantes , onde diz
que eſtavao os pégões , e montes de pedra , havia outra pon
te magnifica ; para reedificar as quaes traz o allegado Fran
ciſco Dolanda dous deſenhos muito bons.

23 Porém deixando a noticia de outras pontes, e tornan


do às Vias Militares , que os Romanos fabricaraó em noſſas
terras , dellas farey aqui reſumida lembrança , ſegundo as ex.
poem o Itinerario de Antonino , aproveitando -me do que
àcerca deſte aſſumpco eſcreverao o Meſtre André de Reſen :
de nas Antiguidades da Lufitania , e o exacto Argote nas Memo
rias do Arcebiſpado de Braga , c os Commentadores de Antonino ,
accreſcentando tambem alguns reparos meus.
2
Tom.Ill . Part. V. B S.I.

( i) Monarch. Lufitan, apud Argocc ais Memor , de Brava C. 1.l. 2. C. 3. 0.462 ,


ta Mappa de Portugal ,

8. J.

. Da primeira. Via Militar , que de Lisboa fabia para Merida .

Equa bona Coina 12U paſſos , ou 3 leguas.


Cetobriga Setubal 120 paſſos.
Ciciliana. Mais depreſia me atrevera a dizer , que eſta povoa
çaó era , onde hoje eſtá Agualva , duas leguas de Setubal,
que fazem os 8 paſſos , que lhe dá Antonino , do que
Alcaçovas , como querem alguns , pois eſtá muito mais
afaſtada. Reſende de Equa-bona paſſa logo a Ciciliana.
Malceca Marateca 16U paſſos.
Vaſconcellos nos Eſcolios a Reſende emenda a diſtancia
deftes 16U paſſos em 8U fómente.
Salacia Alcacer do Sal 120 paſſos.
Ebora Evora
44U paſſos.
Eſtas quarenta e quatro milhas , que o Itinerario de Antoa
nino conta de Alcacere a Evora , fazem
onze leguas ; mas
como bem adverte Gaſpar Barreiros na Corografia pag.63.v.
comprehendem -ſe nas nove grandes , que hoje contao
os caminhantes de hum a outro ſitio mencionado .
24 De Evora pafava ao Guadiana e ſe mercia em Car
tella até Merida ; mas he de advertir , que o Itinerario de
Antonino , conforme o Codice Blandiniano , affigna a eſte
caminho 161 U paſſos . O exemplar de Zurita , chamado Na
politano, lhe dá 177U Rcſende augmenta - o a 203 U paſſos ,
e Vaſconcellos. a 212U .

$ . II.

Da ſegunda Via Militar para Merida:


Aritio - Pretorio Benavente , ou Salvaterra 38U paffos.
Abelterio Alter do Chao 28U paſſos.
Admira -me achar em todos os Codices do Itinerario de
Antonino as vinte e oito milhas de diſtancia , que fað ſem
te leguas entre Benavente , ou Salvaterra , e Alter do
Chao ; ſendo que hoje contamos dezoito leguas de hum
lugar a outro .
Matuſaro Ponte de Sor 24U paſſos.
Var
Roteiro Terreſtre.

Vaſconcellos nos Eſcolios de Reſende l . 3. pag . 249. primei


ro poem eſta eſtancia de Matufaro , e depois a de Alter ;
e parece que aſſim deve ſer , ſegundo vemos em quaſi to
dos os Mappas, a fituaçao deftas terras , regulando direi
tamente a Via Militar ; porém no Mappa antigo de Abra
hao Ortelio eſtá primeiro Abelterium , edepoisMatufarum .
Ad Septem Aras Afſumar 48U paffos.
1 Conforme a arrumaçao do Mappa de Ortelio , bem ſe re
gula o progreffo , que deſcreve o Itinerario de Antoni
no ; porque de Matuſarum að ſitio chamado Ad Septem
Aras contarſe - hiao as oito milhas ; mas ſe Matufaro he a
Ponte de Sor , e Ad Septem Aras a Villa de Afumar , de
vemos dizer , que ou a conta dos 8U paſſos , que the dá
o Itinerario , ettá errada , porque devem ſer mais, ou que
a mudança feita por Vaſconcellos eftá racionavel.
Budua 12U paſſos.
Daqui paſſava a Plagiaria , e ſe mettia em Merida .

S. III . i

Da terceira Via Militar para Merida .

Jerabrica Alenquer 30U paffos.


Scalabin Santarem 32U paftos.
Tubucci Abrantes 320 paſſos.
Fraxinum Alpalhao 320 paſſos.
$ Medobriga Aramenha 30U paffos.
Ad Septem Aras Aſſumar 140 paſſos.
Daqui paſſava a Plagiaria , e dahi ſe mettia em Merida.

$ . IV .

Da Via Militar , que ſabia de Lisboa para Braga.

Jerabrica Alenquer 30U paſtos.


Scalabin Santarem 320 paſſos.
Cellium Ceice . 32U paſſos.
Conimbrica Condeixa a Velha 340 paſſos.
Eminio Agueda 400 paflos.
Talabrica Aveiro 10U paffos.
Langobrica Feira 18U paffos.
Bii Cal.
12
Mappa de Portugal,
Calem Porto 13U paflos.
Bracara Braga 35U paffos.
Eſta Eſtrada , como bem adverte o Padre Argote tom . 2.
1. 3. cap . 9. das Memorias de Braga , era quaſi a meſma , que
ainda hoje ſe praticaj poſto que em algumas partes fe differen
ce da Romana .

f. V.

Da primeira Via Militar , que de Braga ſabia para Aftorga.


Salacia Salamonde 20U pafios.
Preſidio Codeçoſo do Arco 26U paſſos.
Caladuno Ciada 26U paſſos.
Ad Aquas Chaves 180 paſſos.
Pinetum Val de Telhas 20U paffos.
Roboretum . Daqui para diante lahefóra de Portugal.
25 A mayor parte deſta Eſtrada diſcorria por cima de
montanhas , mas por planicies commodas , e para fugir de
más paſſagens , fazia alguns rodeyos , donde procede nað con
cordar o Itinerario de Antonino nas diſtancias , que aſſina a ef
ta Via Militarcom a Eſtrada actual, que hoje ſe pratica ; por
que de Braga a Chaves contamos quinze leguas , e o Itinera
rio da Eſtrada Romana conta vinte e duas e meya . Os curio
fos , ſe quizerem , podem ver a deſcripçaõ deſta Eſtrada Real
no tom . 2.das Memorias de Braga do Padre Argote , que com
eſpecial miudeza a deſcreve deſde pag. 571. até 594 :

$ . VI.

Da ſegunda Via Militar para Aflorga.


Aquis Celenis Fao Ios eſtadios.
Vico Spacorum Foz do rio Ancora 195 estadios .
Duo Pontes Rio de Vigo Iso eſtadios .
Eſta Eſtrada parte della era terreſtre , e parte mariti
ma, porque ſahindo de Braga , ſe encaminhava para o rio Ca
vado , e alli ſe embarcavao ospaſſageiros , e caminhavao até
Aquas Celenas , e por iſſo eſtas diſtancias maritimas ſe deſcres
viao por eſtadios .

J. VII :
Roteiro Terreſtre.

8. VII .

E Da Terceira Via Militar para Aſtorga.

3 Salaniana junto de Viana 2:1U paſſos.


Aquis Originis. jà cahia fóra dos limites de Portugal.
Eſta Via Militar Romana , a que hoje chamao a Geira ,
cra huma das mais ſoberbas Eſtradas, que os Romanos fabri
cara) . Trata della com individuaçao o Padre Argote tom . 2 .
alleg . 1. 3. cap . 10.0 11 .

$ . VII .

Da quarta Via Militar para Aftorga.

Limia Ponte de Lima 190 paſſos.


Tude Tuy 240 paſſos.

$ . IX .

Da Via Militar , que corria de Xerez para Bija.

Balla Tavira 24U paſſos.


ofonoba Eftombar 160 pallos.
Aranni 60U paffos .
1 Rarapia 32U paſſos.
. Ebora Evora 44U pafos.
Serpa. Serpa 130 paſſos.
Fines Paimogo 26U paſſos.
Aruci Moura . 22U paſſos.
Pace Julia Béja 30U paſſos.
A ordem , com que as terras deſta Via eſtao lançadas
no . Itinerario de Antonino , eſtá perturbada , como bem ad
vertem os ſeus Expoſitores , talvez por vicio dos copiſtas.
26 De todas eſtas Eſtradas Reaes , ou grandes caminhos ,
que os Imperadores Romanos mandarað fazer em Portugal ,
nao exiſtem mais , que humas pequenas memorias em alguns
padrões , porque o tempo tudo arruina , e conſome , (i ) e
cada vez mais , pois já hoje naó ha memoria da Via Militar
que

( 1 ) Reſend, de Antiquit Lufis, lib. 3,


14 Mappa de Portugal,
que fahia de Lisboa para Sacavem , e daqui diſcorria até Ro
ma , como Franciſco Dolanda obſervou no anno de 1970 ,
e o eſcreve no curioſo Tratado , que referi acima Cap . 7. por
eſtas formaes palavras.
27 E nao pudera eu crer eſta couſa , ſe quando parti de Lisboa,
indo a Roma , logo em Sacavem naõ achara a Via Romana , ea
Ponte quebrada no rio , e nas charnecas de Montargil, alli onde cha .
maõ as Meftas , as calçadas de Silice , e em Caftella nos barcos d '
Alconete , e na antigualha de Capara , e depois em Aragao , Leri.
da e Gatalunha , e depois em França na Cidade de Nimes , on
de eſtá o famofilimo Anfiteatro , e memorias dos antigos , e depois
em o Foro de Julio em Provença , em Antibo , e nos Alpes , e por
toda a Liguria , e Toſcana , ſempre achando a meſma calçada , que
achey , fahindo de Lisboa , até entrar em Roma . Porém deixadas
eſtas deploraveis ruinas , paſſemos ao noſſo principal aſſumpto.

DIVISA © I.

Roteiro de Lisboa para as principaes povoações da


Provincia da Eſtremadura.

Sta Provincia , que , ſe attendermos à etymologia rigo


roſa do ſeu nome , impropriamente conſerva , e expli.
E ca o que tem , porque a ſua extrema nað he oʻrio
Douro , mas o Mondego , e o Tejo , comprehende -ſe den
tro dos limites de quarenta leguas em todo o ſeu comprimen
to , e nas vinte da ſua mayor largura. He a parte do Reino ,
que fica mais ſobranceira , e debruçada para a coſta do mar
Oceano , que a provê de muito , e ſaborolo peixe ; em tu.
do o mais he fertil , rica , habitada , cultivada , e capaz das
marchas de exercitos ; e ainda que tenha algumas terras af
peras , fao pouco fragoſas. Divide-ſe preſentemente em nove
Comarcas , que vem a ſer : Lisboa , Torres Vedras , Alenquer ,
Leiria , Thomar , Ourém , Santarem , Setubal , e Abrantes. Para
as ſuas principaes povoações daremos os roteiros por jorna
das , e as diſtancias por fummarios, na forma ſeguinte .
CA ,
Roteiro Terreſtre. 15

CAPITULO I.

Summario das diſtancias, que ha de Lisboa aos lugares , e povoa


ções doſeu Termo.

De Lisboa a

Adea de cima r leg . erq . Boa viagem 2. leguas ,


de baixo Leia Bom ſucceſſo Iera .
Ado Baço 4e meya . Bucellas 4.
Alcantara meya . Bucicos 3 e meya .
Alfarrobeira I. Buraças Ie19 .
Alfornel I. Burrel Iera .
Alfragide I e meya . Cabeça de Montach . 3 .
Algobellas 4e meya . Calhariz
Alpriate 3: A dos Calvos 3.
Alvogas 2. Calhao 3. quare,
N.S. da Ajuda. Camarate 2 .
Santo Amaro 3. quart . Campo grande I.
EX Ameixoeira iera pequeno meya .
S.Antonio do Tojal. 3 . Campolide meya .
B. Antonio I. Caneſſas 2 e meya .
2 . A dos Caons 2.
Appellaçao
Arieiro 2. Caranque
eSp"
Arranhol Carpide Iero
i quarto . Carnexide 2.
Arroyos
I. Cartexaria 4
Barçal
Barcarena 2 . Carvalhal 4 e meya.
Rei
Barril 2 e meya . Caruncho 2.
200
Barro 2. Caſtellos I.
Barroſa i e meya . Caſtejal 2 era.
• Barronhos Caxoeira 4.
1231 2 ,
Belém I. , Cazainhos 3.
Bemfica I. Cazal cochim 4i e meya.
4e1a Cazellas meya.
Pa Bempoſta
Bica I e meya. Caxias I c meya .
jor Bituaria Ceiceira grande 4:
4:
e. Ceis
16 Mappa de Portugal ,

De Lisboa a

Ceiceira pequena 4 leguas . Lecea 2 leguas .


2 e meya . Laveiras zein
Ceirogato
Charneca iera A dos Limões 4 e meya.
Charnec . do Milhar.4 . Loures 2.
Chellas meya . Loural 4 e meya.
Codiceira 2 e meya. ( Louro 1.
A dos Comundos 4 emeya . Louriceira 4 emeya.
Convalecença 3 quart. Louza 2 e meya .
S. Cornelio 1. Lumiar i emeya.
Eſpargueira 3. N.Senhora da Luz I.
Eſpragal 3era. Maya Iera .
S. Eſtevao das Galés 4 . Malforno 4 emeya.
1. Marnotas 2 e meya .
Falagueira
Fanagueira 1 . Marvilla 3 quart .
Fanhões 3. Mato 4 e meya .
Fereira ieiq. Mealhada Ie39 .
Freixeiras Melellas 2 e meya.
Freixial 4ei9 . Milharado 4.
Frielas 2 e meya . Mira 1.
A dos Gallegos 4 e meya. A dos Molhados 4 e meya .
A dos Gudeis 4 e meya. Moita 4 e meya .
Granja de Alpriate 3. Moitellas 4 e meya .
Grillo 3 quart . Monſanto meya .
S. Joao dos Montes Montinel Iela :
S. Joao da Talha 2 e meya . Morzinheira 4 e meya.
S. Joſeph de Ribam . I e meya. Murgalhal 2014 .
Jamor 2. Murtal
Santa Iria 2 emeya . Murteira 2.
S. Julia ) do Tojal. 2 e meya . Ninha a paſtora 2.
Junqueira 3 quart . Ninha a velha 2.
Turumello 4. Noidel I.
Laranjeiras meya . Odivellas i emeya ,
Lage 2019 Oeiras . 3.
Leao 2. Olivaes Iemeya .
Oli
IZ
Roteiro TerreAre.

De Lisboa a

Oliveiras Ribeira de cima 2.'


meya.
Outorella 2. A da Rolia 4.
Quteiro I. Ribas 3.
Outeiro dasDoudas 4 e meya . Rego meya .
Paço d'arcos 2 e meya . S , Romao
Palhava meya . Romeiras 2.
Panaſqueira I. Sete rios meya .
i eiq. Sacavem 2.
Pedrouços
Penedo 1. Santiago dos velhos si
Pero negro 4 e meya. Sapataria 4 cmeya ,
Pimenteira meya . Sarreira 4 e meya.
Pinheiro 2 . Silveira 4 e meyà .
Pinteos 23.9 . Terrugem 2 emeya .
Poço do Biſpo 3 quart . Tilheiras 1.
Pombaes I e meyal Tojal 3.
Porcalhota I emeya . Tojalinho 20
$ Portella I. Torcena 2.
Povoa de S. Adriaõ ie meya . Torneiro 2 eiq .
b . da Gallega Torre da Bizoeira 3 .
de S.Martinho 3 . Trigache i cmeya?
Pouzada . 4. Valejos 2.
Porto ſalvo i emeya. Via longa 3.
Preza 1. Verdelha 3.
4 Prizinheira 4. Villa verde 4 emeya .
Quéluz 2. Vinteira Icmeya ;
4 S. Quintino Villa de Rey 4 era
Reboleira I eměya . Unhos 2 e meya .
Reys 3 quart . Xabregas meya .
Ribeira de baixo 2. Xamboeira 40ia .
Outros muitos ſitios de varios nomes tem o Termo da
Cidade de Lisboa , que pelos occuparem poucos moradores ,
2 nao ſe faz aqui mençao delles .

Tom.III. Part . V. с CAS


18 Mappa de Portugal ,

C A P I T U LO II.

Roteiro de Lisboa para a Villa de Torres Vedras , em que ſe con


tað ſete leguas 'ao Norte.

De Lisboa ao Lumiar I 1
Do Lumiar a Loures . I | A :' Enxara dos Cavalleiros I
A ' Cabeça de Montachiquer A Torres Vedras 1
A ' Povoa I

$ . I.

Roteiros traverſos de Torres Vedras para as principaes terras cir .


cumvizinhas , e primeiramente para a Villa das Caldas em
que ſe contao ſeis leguas ao Norte.
De Torres ao Ramalhal | A ' Roliça
Do Ramalhal a S. Giao 1 A ' Villa de Obidos I
AN.S. da Miſericordia 1 A's Caldas I

$ . II.

Roteiro de Torres Vedras para a Villa de Mafra , em que ſe contañ


trez leguas ao Sudueſte.
De Torres a Azueira А Mafraa
1/4 Mafr
Da Azueira ao Gradil

S. III .

Roteiro de Torres Vedras para a Villa de Alenquer , em queſe


contao quatro leguas ao Leſte.

De Torres à Serra de S.Giao r A ' Eſpiçandeira


A ' Ald . Galcg . daMercian . I A Alenquer

. IV .

Roteiro de Torres Vedras para a Villa de Peniche, em que fecona


tao quatro leguas ao Noroeſte.

DeTorr.ds pont.de Vill . Fac . Cruz da Lagoa


Lourinhã I Peniche I
Roteiro Terreſtre.
19

S. V.

Roteiro de Torres Vedras para a Villa da Ericeira , em que fe con


tao tres leguas ao Oeſte.

De Torres à Ponte do Rol IA' Ericeira 1


A' Labogeira HA?
1

9. VI.

Roteiro de Torres Vedras para a Villa de Cadaval , em que ſe con


tað quatro leguas ao Nordeſte.
De Torres ao Ramalhal 1 | Venda de Fernao da Cunha !
Cabeça do Bombarral Cenda de Fernað da Cunha
IlCadaval :
1.

$ . VII .

Roteiro de Torres Vedras para a Villa da Alhandra , em que ſe


contaā cinco leguas ao Suefte.

De Torres à Ribaldeira Arruda


Aos Chãos de eftira corda Alhandra
1 AI !

O meſmo he para Alverca ; e dos Chãos de eſtira cor


da ſe divide o caminho para Villa Franca , Povos , e Çaſtanhei
ra , e dalli para qualquer deſtas Villas fazem duas leguas.

9. VIII .

Roteiro de Lisboa para a Villa de Mafra , em que fe contaö ſeis


leguas ao Noroeſte.
De Lisboa a Loures 2 | A ' Abrunheira : kvies
A ' Cabeça de Montachique i A Mafra
Ao Pinheiro da - Seiceira I

No tempo de Verao ſe vay tambem por Odivellas .

c i ‫ܬ ܀‬، ، ، S. IX .
20
Mappa de Portugal ,

§ . IX .

Summario das difancias , que ha de Torres Vedras às terras da


Jua Correiçao.

De Torres Vedras a

'Alhandra 4 para Sueft. 1 Enxar . dos Cavall .2 para Sueft .


Alverca 4 para Sueft. | Ericeira 3 para Sud .
Arruda 3 para Nort ,
3 para Leſt . Lourinhã
Bellas
6 para Sud . Mafra 3 para Sud .
Cadaval 4 para Sueft .
4 paraNord . Povos
Caſcaes 8 para Sud. Sobr.demont.agr.2 para Sueft.
Caſtanheira
s para Leſt. Villa Franca s para Sueft.
Chileiros
3 para Sud . Villa Verde 3 para Nord .
Colares 7 para Sud .

CAPITULO III .

Roteiro de Lisboa para a Villa de Alenquer , em que ſe contaõ oje


to legua ảo Norte.

De Lisboa ao Camp . grand. 1 | De Bucellas a Alenquer 3


Do Camp.grand . a Bucellas 4
Por outro caminho .
De Lisboa a Sacavem 2 De Alverca à Caſtanheira
4
De Sacavem a Alverca z | Da Caſtanheira a Alenquer 2
-
$ . I.

Summario das diftancias que ha da Villa de Alenquer às terras prirai


)
cipaes da ſua correiçao.

r
De Alenquer a

2 Nort..
Aldea Galeg.daMerc. 2 Obidos 5 Nort.
Caldas 6 Nort . Selir do Porto
Chamuſca 7 Nort.
7 Leſt. Ulme Nord ..
Cintra 7
9 $ . II .
Roteiro Terrefre. 21

$ . II .

Summario das diſtancias , que ha da Villa de Alenquer naõ ſó aos


lugares do ſeu termo mas à Villa de Torres Vedras.

in

De Alenquer a De Alenquer a
T. Vedr. T Vedr.
Santa Anna meya . 3 em Memvezinho iem . 3 •
Abrigada 1. 3 e m Moinh .do vent . I. 3.
Antas I • q | 3e m Moita 1 . 4 .
Aparel em Monſaravia iem . 3 .
i em . 3
Atoug . dasCabr. i em . 4 em Monte de leg. iem.is
Azedia 3. Montougil I. 3 em .
Bairo 1. 4 em .!! Olhavo Ieq.13
Bufuaria 1. 3. Ora de cima 1. ‫گ‬.
Caban . do Cham.i. 3 em de ba ix o 1 . .
de Torreſ. i em . 3 em Palaios I e m . 2 em !
Cachoeiras 2. 4 Palhacana Iem .
Cadafaes I. 4. Pancos 19 . 3039 .
Canados meya.!zem . Paul I.
Carneiros 1. 3 Penados i em . 3 ..
Carnota 1. Pedra do ouro meya. 4 .
Carregado I. Pen.firm . da vēr . 2 . 2 em .
Camarnal meya. 4.em da ma ta I. 3 em .
Carvalhal meya. 3 em Pereiro I e m.62 m .
Caſaes 1. 4cm Pipa 3.
Corſoaria 1. Porcarica Ieq . 13 .
Efpiçandeira iem . 3 em Porto 19 3 e39.
Eftrabeiro I. 3 em . | Prateiro I. 3.
Folhandal meya . 133 em
e m .. A dos Quentes 2.
Gataria I. 3. Santa Quiteria 1 .
Gavinheira 1. 3. Refugidos meya . 4 .
Guizandaria 1. Ribafria I em . 2 em .
Labrugeira fem . | 2 em Serra I. 4.
Mata do Pereir . i em . 2 em Silv . da Mach . 30 m .
Mato 1. 3. do Pinto I. 3.
Meca I. 4. Sopo I. 3.
To
M.ippa de Portugal,

3 De Alenquer a De Alenquer a
T. Vedr T. Vedi

I em . 3 delIl ventofa 2.
Tojal
Torre derrub . meya . 4 . Villa Nova da
Val de Figueir . meya . 3 e m . Rainha I.
Valverde iem.13

S. III .
Roteiro de Lisbos para a Villa das Caldas , em que ſe contao qua
torze leguas ao Norte.

De Lisboa a Loures 2 Torres 2


A'Cabeça de Montachiq . I S. Giao 2
Povoa i Azambujeira 2
Enxára dos Cavalleiros I Obidos I
Mata da Guerra I Caldas I
Pelas eſtradas de Runa fazem ſó treze leguas , que he ,
paſſada a Mata da Guerra , tomar a eſtrada da maó direita,
ir a Runa , e lahir à Bugalheira , e -aflim ſe evita huma legua.
Por outro caminho , indo pelas Villas.
De Lisboa a Sacavem 2 Moinho novo 1
De Sacavem a Alverca 2 1 Ota I
Alhandra [ Cercal
Villa Franca 1 Sancheira 2
Povos I Caldas I
Caſtanheira I
Eſta jornada tambem ſe faz pelo Tejo acima até Villa
Nova da Rainha , ein que ſe concao nove leguas , e dahi fe
ſegue a meſma viagem .
S. IV.
Roteiros traverſos das Caldas para algumas terras circumvizinhas,
e primeiramente para a Cidade de Leiria, em que ſe conta7 no
ve leguas ao Nordeſte.
Das Caldas a Selir do Maco i Aljubarrota
A Charnais i Cruz da legua
Valbom I Batalha I
Alcobaça I Leiria
$ . V.
Roteiro Terreſtre :
23
$ . V.

Roteiro das Caldas para Santarem , emê


ſe contao ſete leguas ao Leſte.
: Das Caldas à Fanadia 1 Malhaqueijo I
A ' Mata d'Albergaria 1 | Pero Filho I
Rio Mayor 1 Santarem I
Eſcula I

S. VI.

1 Roteiro das Caldas para Peniche , em q ſe contaõ quatro leguas asOeſte.


Das Caldas a Obidos 1 |A ' Atouguia 1
Ao Furadouro A Peniche I

CAPITULO IV .

Roteiro de Lisboa para a Cidade de Leiria , em que ſe contaõ vine


te e tres leguas ao Norte .
De Lisboa a Sacavem 2 Aos Candieiros
De Sacavem até Ota 8 Ao Moliano 12
De Ota a Tagarro 2 | A ' Venda dos Carvalhos 2
A ' Venda da Agua I A S. Jorge I
A ' Venda da palhoça I A Leiria 2
A ' Venda da Coſta 1
Etta jornada ordinariamente fe reputa por vinte e duas
leguas , e affim ſe paga , por ſerem pequenas as leguas das
Villas. Note - ſe que neſta eſtrada deſde a Venda da Coſta
até à Venda dos Carvalhos he má a paſſagem , por ſer pelo
pé da ferra ; nao fallando no Moinho Novo e no Carrega
do , que em tempo de Inverno he trabalhoſo .
3
$. I.

Roteiro de Leiria para Coimbra , em q ſecontaõ doze leguas ao Norte .


De Leir , à Ved.dos Machad . I A ' Villa da Redinha
Daqui à Venda do Gallego i A Porto Qualheiro 1
A ' Venda da Boica : I Ao Cartaxo I
A ' Venda Nova 1 A Condeixa I
A ' Villa do Pombal ITA Coimbra 2
Tem
24 Mappa de Portugal,

Tem alguns Ribeiros arrebatados no tempo de In


verno

$ . II.

Summario das diſtancias , que ha de Leiria para as terras da fus


Correiçao , e algumas mais circumvizinhas.

De Leiria a

Alcobaça s Sud . Maiorga 04 Sud .


Alfeizeraó 7 Sud . Obidos 10 Sud .
4 Sud . Ourem 4 Left ,
Aljubarrota
Alpedriz 3 Sud . Pederneira s Sud .
Alvorninha 8 Sud, Peniche Ii Sud.
I2 Oeſt . Pombal Nord .
Atouguia
Batalha 2 Sud , Porto de mós 3 Sud .
Santa Catharina 3 Sud . Povoa de Mont . 2e meya .
Cellas 6 Sud . Redinha 7 Nort.
Coz 3 Sud . Selir do mato 8 Sud .
Ega 9 Nort . Soure 6 Nort .
Evora de Alcob . 5 Sud . Turquel 6 Sud .
S. Martinho i 7 Sud .

CAPITULO V.

Roteiro de Lisboa para a Villa de Thomar , em que ſe contaõ vine


te e duas leguas ao Nordeſte.
De Lisboa a Santarem 14 Ponte de Pedra I
A ' Cruz da entrad . i Val de Tancos I
Dahi a Alviella I Guerreira I
Depois à Azinhaga Ii A Thomar I
A ' Golega I

Pelo caminho de Pernes , em que ſe contaó as meſmas .


vinte e duas leguas , mas he peyor eſtrada.


!

Roteiro Terreſtre.
25

1 De Lisboa a Santarem 14 Ao Pé de caó


A Pernes 3 A Payalvo
A ' Zibreira 1 A Thomar
A Torres Novas I

$ . I. 7

Roteiros traverſos de Thomar para algumas terras circumvizinhas ,


e primeiramente para Abrantes , em que ſe contañ quatro
leguas ao Sueſte.
De Thomar a S. Pedro I A ' Amoreira
Dahi a Martinchel ITA Abrantes I

A meſma jornada por Punhete , em que ſe contaő cinco


leguas com paſſagem no Zezere .
De Thomar à Guerreira Ao Campo da A moreira I
Ao Morte do Seixo A Abrantes
A Punhete

$ . II.

Roteiro de Thomarpara Leiria ,em que ſe contaö ſete leguas ao Noroeſte.


De Thomar a Val dos Ovos ; Ao Homem morto 1
A Alcochete I A Sete rios I
A ' Aldea da Cruz I | A Leiria 2
!
A meſma jornada por Gondomarias , em que ſe contao
as meſmas ſete leguas , he peyor eſtrada.
De Thomar a Val dos Ovos i Gondomarias I
Alcochete I Sete rios I
Pinheiro i ' Leiria 2

$ . III .

Roteiro de Thomar a Coimbra , indo por Alvayazere , por onde cof


tuma ir o correyo , em que ſe contaõ treze leguas ao Norte.
De Thomar à Venda Nova 1 | Alvayazere I
2016 A Ceras Venda das Papas I
Ao Pereiro Il. Venda do Negro I
Tom.IIl . Part .V. D Ans
26 Mappa de Portugal ,
3 1
Anciao i Alcabideque
I Venda do Cego I
Junqueira
I A Coimbra I
Rabacal
Fonte cuberta I

A meſma jornada pela Perucha , em que ſe contao as


meſmas treze leguas ; mas he eſtrada melhor para o tempo
de verao , que de inverno .
De Thomar a Val dos Ovos Ao Arneiro I
A Chao de maçans I A ’ Pulga I
I A Anciao I
A Rio de couros
A Perucha 1

Daqui para diante corre a meſma eſtrada , como no


Roteiro acima .

A meſma jornada , indo pelo Caballo , em que ſe contaó


as meſmas treze leguas , e he peyor caminho , a ſaber :
De Thomar à Venda Nova I A's Vendas dos Moinhos I
Ao Pereiro 2 Ao Paſtor I
Ao Cabaffo IA Pudentes I
A ' Venda do Barqueiro 1 A Chao de Lamas I

A’ Tojeira A Coimbra
A' Venda das Figueiras

S. IV .

Roteiro de Thomar para Caſtello - Branco , por Villa de Rey , enz


que ſe contaö quinze leguas ao Nordeſle .
De Thomar às vend.dosReis 2 | A ’ Sobreira I
I A Monte gordo 2
Daqui à Barca
I A Sarzedas I
A ' Villa de Rey
A Cardigos 2 A Caſtello - Branco 3
A ' Cortiçada 2

Pora todas eſtas terras vay correyo .

. $ . V.
Roteiro Terreſtre . 27

1 $. V.
1
Roteiro de Thomar para Ourem , em q ſe contaõ tres leguas ao Noroeſte.
1
De Thomar ao Val dos Ovos i A Ourem
A Chao de Maçans HA

J. VI .

Summario das diſtancias , que ha de Thomar às l'illas da ſua Correiçaõ.


1

r
De Thomar a

Abiul S Nor. Maçans de camin . Nort.


Aguas Bellas 2 Left. Маса б 7 Sueft.
Aguda Pampilhoſa 12 Nord .
Alváres 10 Leſt . Paio de Pelle 3 Sul .
Alvaro 12 Left . Pedrógao grande 8 Norr.
1 Amendoa 4 Left . Pias 3 Nort .
5 Nort . Ponte do Sor 10 Sueft .
Aréga
Aſſinceira i em.Left . Punhete 3 Sueft .
Atalaya 3 Sul . Puffos 4 Nart .
7
Chaõ de couce 6. Sardoal 5 Sueft .
Dornes 3 em.Nort: Sovereira formoſa 3 Nord .
Ferreira 2 em .Sueſt . Tancos 3 Sul .
Figueiró dos Vin . 6 Nort . Villa de Rey 4 Sueft.

3 $ . VII .

Roteiro de Lisboa para Figueiró dos Vinhos , em que ſe contam


vinte e oito leguas ao Nordeſte.
De Lisboa a Santarem 14. A Thomar 1.
De Santar . ao Borrado . i em . Ao Pintado I.
A'Ponte d'Alviella meya . A Seras e Frexo I.
A'Ponte d ' Almonda 1. Ao Pereiro I.
A ' Golegã 1. Ao Rego da murta meya .
A ’ Atalaya I. A Cabaços meya .
A ' Aflinceira I em . A ’ Arega 1.
A' Garreira meya . ( A Figueiró 1.
Dü El
28 Mappa de Portugal ,

Eſta jornada tambem ſe faz embarcando - ſe em Lisboa ,


e caminhando até Tancos , em que ſe contaó dezanove le
guas , e dahi pela Allinceira ſe ſegue a meſma derrota.

CA P I T U L O VI .

Roteiro de Lisboa para a Villa de Abrantes , em que ſe contað vin .


te e tres leguas ao Nordeſte.
De Lisboa até Santarem 14 A ' Cardiga I
De Santarem às Barrocas ITA Tancos I
A ' Ponte d ' Alviella A Punhete I
A ' Ponte d ' Almonda IA Abrantes 2
A ' Golegã
Entre Tancos , e Punhetė paſſa o rio Zezere , que tem
barca ſempre de veraó , e de inverno .

$ . I.

Roteiros traverſos de Abrantes para algumas terras circumvizinhas,


e primeiramente para Caſtello- Branco , em que ſe con
taõ quatorze leguas ao Nordeſte.
De Abrantes ao Penaſcoſo 3 | Ao Perdigao
3
Do Penaſcoſo ao Macao Aos Amarellos 3
A's Vendas Novas 21A Caſtello Branco 2

$ . II.

Roteiro de Abrantes para a Cidade de Evora , em que ſe cont zo de


zoito leguas ao Sul.
De Abrantes ao Azedo 21 2
Do Azedo à Ponte do Sor 31 A Pavia I
A ' Galvea 3
2 / A Arrayolos
A Santa Margarida 2 A Evora 3
Por outra eſtrada .

De Abrantes ao Azedo 21 A ' Cafa branca 2


A ' Ponte do Sor 3 !Ao Vimieiro 2
A ' Galvea 2 A Santa Juſta 2
A Avis 2 ' A Evora 3
$ . III .

3
Roteiro Terreſtre. 29

$ . III .

Roteiro de Abrantes para a Villa de Efremoz , em que se contað


quinze leguas ao Sueſte.

De Abrantes ao Azedo 2 Ao Ervedal 2


Dahi à Ponce de Sor 3 Ao Cano 2
A Benavilla 31A Eftremoz 3
Na Ponte do Sor ha huma ribeira , que de inverno ad
mitte paſſagem em barca para qualquer parte ; as outras ri
beiras tem pontes .
. IV .

Roteiro de Abrantes para a Cidade de Portalegre , em que le con


taõ doze leguas ao Leſte.

DeAbrantes à Cala branca 3 , A Gafete I


Dahi ao Gaviaó í A Alagoa 2
A Toloſa 31 A Portalegre

CAPITULO VII .

Roteiro de Lisboa para a Villa de Santarem em que ſe contaő


quatorze leguas ao Nordeſte.
1 De Lisboa a Sacavem 2 , A ' Caſtanheira I
De Sacavem à Povoa I A Villa - Nova I
A Alverca IA' Azambuja I
A Alhandra Ao Cartaxo 2
A Villa Franca I A Santarem 2
A Povos I
1

$ . I.

Roteiro de Santarem para Coimbra , em que ſe contaö vinte e tres


leguas ao Norte .
De Santarem a T'remes 3 Ao Pombal
De Tremes a Abrahao 2 A ' Redinha
A Porto de Mós 3 A
A Leiria 3 A ' Condexa
De Leiria aos Machados IA Coimbra
1 Por
30 Mappa de Portugal,

Por outro caminho , em que ſe contað vinte e huma le


faber :
guas ,
De Santarem à Golegã 4 ] A's Cacharias I
A Paialvo 3 Ao Pombal 1
4
A Chao de maçãs 2

Daqui para diante ſe ſegue a meſma derrota .

. II .

Summario das diſtancias , que ha da Villa de Santarem às Villas


da ſua Gorreiçao.

De Santarem a

Alcanede 4 para Nor . Erra 7 para Sud .


Alcoentre 4 paraPoent. Golegã 4 para Nord .
Almerim I para Suett . Lamaroſa 6 para Suelt.
Aveiras de cima 4 para Sud . Monte argil 7 a Leslueft,
de baixo 3 em . a Sud. Mugem 2 para Sul .
Azambuja 4 para Sul. Salvaterr.de Mag 4 para Sul .
Azambujeira 2 paraPoent . Torres Novas s para Nord .

S. III .

Summario das diſtancias , que ha da Villa de Santarem a alguns


lugares do ſeu Termo.

De Santarem a

Adovagar 3. Alcoentrinho 3.
Agua Peneira 2. Alforzomel 2.
Albergaria 2. Almoſter 2.
Alcaidaria 2. Alpiarça I.
Alcanhoins 1. Aramenha 1.
Alcobacinha Iem . Arrifana 3.
Ar
Roteiro Terreſtre. 31

De Santarem a

. Arrezario D. Belida 2. .
Arneiro dos Borralh .. e meya. D. Conſtança. 3.
Arruda 3. Eireira 3.
Atalaya 2. D. Fernando . i emeya.
Azinhaga 3. Fontainhas meya .
Azinheira 3 e meya . Fonte da Pedra 2.
Azoia debaixo I. Grainho I.
. de cima 3. Gucherre 2.
Alfouvres 2. S. Joao da Ribeira 3.
Bairro falcao 2. Joaninho 2.
Bompalreu 2 e meya . Lamarofa 3
Cabanas I e meya . Lobo morto 4.
Calla 3. Louriceira
2. Louroſa 3
Caparota
Carrapateira . 2. Маҫuffa 3
Carrigueira 4. Malhaqueijo 2.
Carvalho 2. Marmelheira . 3.
Cartaxo 2. Monchao 2.
2
Caſal de Santa Maria 2 . Monfarias I e meya .
. do Paul I e meya . Nabaes 2.
Caſaes I e meya . Oiteiro da Vargea 1.
de S. Braz 3. Pero filho I.
dos Cardiaes i e meya . Pé da Serra
de Porto máo l . Pimenteira I.
Caxalinhos 2. Pombal 2 e meya .
Chouto 4. Pontével 3.
Corredoira 2. Porto de Mugem
Correas 3. Pouſas 3.
Caſevel 3. Povoa dos Gallegos í e meya.
Chamuſca 3. Nova i emeya.
Comeira . de trez 3 3.
3.
Curutello 1. . do Baixinho i emeya .
Detrás da Serra 5. Ribeira de S. Joao 3.
... de
Mappa de Portugal ,

De Santarem a

de Mugem 3. Valle 1.
. de Pernes 3. Val de Figueira i emeya.
Rio Mayor. 4. Val de Donzellas 1.
Romcira . I e meya . Val de Cavallos 2.
Senterra 3. Val de Pinta 3.
noi

Soudos i e meya, Vaqueiros 4.


minimi

Souriſto 3 Ventozella 3.
Tanquinhos 6. Verdelho 2. ,
Torre do Biſpo Villa gaceira I.
Tojola 2. Vil.Nova d'Almoft.3 .
Topineira 3. Vitureira 2.
Tremes 3 Virtudes 3 e meya.
Vallada 3 Ulme 3.

$ . IV .
2
Roteiro de Lisboa para a Villa de Torres Novas, em que ſe con
tao dezanove leguas ao Nordeſte.
1

De Lisboa a Sacavem . 2 Da Povoa a Alverca I


De Sacavem à Povoa il

E daqui pela meſma eſtrada , que aſſinámos até Santa


rem de Santarem a Torres Novas , que fazem cinco le
guas .
Por outro caminho , em que ſe contaó vinte leguas.

De Lisboa a Loures 2 ) A ' quinta de D. Durao I


De Loures ao Trocifal 4 A ' Venda da Pia I
A Torres Vedras I A Rio maior I
Ao Ramalhal 2A Alcanede 3
A Martim Joannes IA Torres Novas 4

$ . V.
Roteiro Terreſtre. 33

$ . V.
a al
Summario das diſtancias que ha da Villa de Torres Novas par
gumas terras circumvizinhas.

De Torres Novas a

Abrantes s Sueſte . Punhete 3Suefte.


Aceiffeira 2 Left. Ourem 3Nort .
Atalaya I Nord . Santarem sSuduelt .
[ Sul . Tancos 2Suelle .
Golegã
Leiria 7 Nort. Thomar 3 Nordeſt.
Porto de Mós 4 Noroeſt . Ulme 4 Sul .

CAPITULO VIII .

Roteiro de Lisboa para Setubal , em que ſe contað ſeis leguas ao Sul.

De Lisboa à Moira por mar 31Dahi a Palmella I


Dahi aos Olhos da agua IA Setubal I

Por outro caminho .

De Lisb . a Alhos Vedr . Dahi aos Olhos da agua i em .


por mar 2 em.Dahi a Setubal 2

Por outro caminho .

De Lisb . ao Barreir . por mar 2 , A Palmella I


Dabia S. Anton.daCharneca 1A Setubal I

S A ' Barra cheia I

Por outro caminho .

DeLisb.aCoina por mar 3 Dahi a Setubal Iem .


Dahi a Azeitaő I em .

Por outro caminho .

De Lisboa ao Seixal por mar 21 De Coina a Setubal 3


Dahi a Coina 2
Tom.Ill . Part . V. E Por
34 Mappa de Portugal ,

Por outro caminho .

De Lisboa a Caſtilhas Dahi a Coina I em .


por mar 1 Dahi a Setubal 3
Dahi ao rio do Judeo Iem .

$ . I.

Roteiro traverſo de Setubal para Monte- Mór o Novo , em que


ſe contaõ onze leguas ao Naſcente.

DeSetub.a Aguas de Moura 3 , A's Silveiras 2


Dahi à Landeira 1 A Monte- Mór 2
A Cabrella 3
Por outro caminho .

De Setubal ao Eſpilra 4em . Dahi àsSilveiras 2


Dahi às Vendas Novas 2 em . A Monte -Mór 2

$ . II .

Roteiro de Setubal para Alcacer do Sal , em que ſe contañ ſetele


guas,ao. Sueſte.

De Setub.a Aguas de Moura 3 ) A Albergue 1


A Palma 21A Alcacer 1

$ . III .

Summario das diſtancias, que ha de Setubal às Villas da ſua Correiçaõ.

De Setubal a
Alcacer do Sal 7 Sul . C,amora Correa 8 Nordeft .
Alcochete 4 Nort . Canha 7 Leſte .
Aldea Gallega 4 Nort . Cezimbra 4 Oeft .
Alhos Vedros 3 Nort . Coina 3 Noroeft.
Almada 6 Noroeſt . Grandola I2.
Azeitao iem .Nort . Lavradio 4 Noroeft .
Barreiro 4 Noroeft . Moita 3. Nort.
Cabrella Palmella 1 Nordeft .
7.
DI
Roteiro Terreſtre. 35

DI V IS A Ó II ..

Roteiro de Lisboa para as principaes terras da


4 Provincia do Alentejo.

Hama- le eſta Provincia Alemtejo , ou Tranſagana , por fi


car da outra parte do rio Tejo a reſpeito da Cidade de
C Lisboa . Divide-ſe dos Reinos de Caftella , eſpecial
mente da ſua Eſtremadura , pela parte do Naſcente , e por
efte lado tem de comprimento quarenta leguas , contando deſ
de Mertola a Montalvao . Pela banda do Sul confina com a
Provincia , e Reino do Algarve , de quem o fepara a Serra de
Monchique , logrando por eſta raia ſó vinte leguas pouco
mais , ou menos de largura . Ao Poente lhe fica o mar Ocea
no ſervindo de margem , e pelo Norte o aparta o Tejo da
Beira , e Eftremadura Portugueza .
He a mais plana entre as outras Provincias do Reino , de
menos montes , e poucos rios , mas de grandes charnecas ;
abundante de paó , caça , e vinho , e por iſſo com grande com
modidade para ſuſtentar exercito moderado , tendo ſervido
por varias vezes o ſeu terreno de theatro da guerra , de que
procede conſervar lugares , e praças de armas muito bem for
tificadas. Tambem he a Provincia , por onde ſe pode cami
nhar por poftas , ea que tem melhores eftalajens , e mais bem
providas para commodo dos paſſageiros. Conſta de oito Co
marcas , para as quaes daremos Roteiros utiliflimos.

C A P I T U L O I.
-
Roteiro de Lisboa para a Cidade de Evora , em que ſecontañ vin
te leguas ao Suefte.
De Lisboa Ald . Gallega 3 A Monte - Mór o Novo 2
Dahi aos Pégoes 5 A Patalim 2 em .
A ’ Vendas Novas 3 A Evora 2 em .
A's Silveiras
E ii $ . I.
l
36 Mappa de Portuga ,

$ . I.

Roteiros traver fos de Evora para outras povoações circumvizinbas,


e primeiramente para a Moita , em que ſe conta7 dezoito
leguas ao Poente .

De Evora a Monte - Mór SA Aguas de Moura 3


Dahi às Silveiras 2 A ' Moita 6
A ' Cabrella 214

$ . II .

Roteiro de Evora para Alhos Vedros , em que ſe contañ dezoito


leguas e meya ao Poente ,

De Evora a Monte Mór SIA Aguas de Moura s 1


Dahi às Silveiras 21 A Alhos Vedros 6em .
1
S. III .

Roteiro de Evora para o Lavradio , em que ſe contao doze leguas


ao Poente .

De Evora a Monte . Mór S A Aguas de Moura 3


A's Silveiras 2 Mo Lavradio 7
A's Vendas Novas le

$ . IV .

Roteiro de Evora para o Barreiro , em que ſe contaõ dezanove le


guas e meya ao Poente .

De Evora a Monte - Mór si A Aguas de Moura 3


A's Silveiras 2. Ao Barreiro 7 em .
A's Vendas Novas |-
$ . V.
Roteiro de Evora para Caflilhas , em que ſe contað vinte e buma
leguas ao Poente .
De Evora a Monte- Mór SA Aguas de Moura
3
Dahi às Silveiras 2 A Palmella
3
A's Vendas Novas 2'A Caffilhas 6
S. VI.
Roteiro Terre
tre. 37

S. VI.

Roteiro de Evora para Almada , em que ſe contaö vinte e duas les


: guas ao Poente.

De Evora a Montemor .
E dahi ſegue a meſma eſtrada até Palmella , que fazem
quinze leguas ; e de Palmella até Almada , que fazem ſete , e
por todas as vinte e duas .
$ . VII .
Roteiro de Evora para Setubal, em que ſe contaõ dezaſeis leguas ao
L Poente.

De Evora a Monte Mór 5 Dahi a Setubal 9


Dahi às Silveiras 2{ Dahi

S. VIII .

Roteiro de Evora para Alcacer do Sal, em que ſe contaõ nove le


guas ao Poente .

De Evora à Torre daGélteir . 21 A Rio Mourinho 2 em .


A Santiago do Eſcoiral 21A Alcacer do Sal 2 e m.

S. IX .

Roteiro de Evora para Garvað , em que je contaõ dezoito leguas ao Sul.


De Evora a Aguiar 41 Aos Longueiros 2
Dahi a Viana 1 A Aljuſtrel 2
A Villa Nova IA ' Defeza 3
A Ferreira d'Aves 3 A Garvao 2
3 Neſta jornada entre os Longueiros e Aljuſtrel ſe tem
de paſſar a ribeira chamada do Roxo.
S. X.
Roteiro de Evora para Mertola , em que ſe contaõ vinte leguas ao Sul.

De Evora a Aguiar 41 A Béja


A Agua de Peixes 2 Ao Valcovo 8
A Villa Ruiva IA Mertola I
A ' Cuba
Ner
l
38 Mappa de Portuga ,

Neſta derrota ſe paſſað algumas ribeiras , e rios O


Garavia , o Tegres , e o Cobres .

S. XI.

Roteiro de Evora para Serpa , em que ſe contaõ doze leguas ao Sul,


2
DeEvor àTorr.dosCoelheir.3.1 A Vidigueira
A Benalverge 2 A Serpa
Paſſaó - ſe neſta jornada as ribeiras Morteira , e de Peixes.

$ . XII .

Roteiro de Evora para Moura , em que ſe contaõ onze leguas ao Sueſte.


Machede I
DeEvor.aS.Mig.do , A Alqueva
A Monte de trigo 3 Ao rio Guadiana 2
A Amieira 2 A Moura 2

S. XIII .

Roteiro de Evora para Mourao , em que ſe conta7 nove leguas ao


Naſcente.

De Evora à Vendinha si Dahi a Mourao 3


Dahi ao Reguengo I 1
Palla -ſe por aqui o rio Guadiana , que divide as duas
Villas Monſarás, e Mouraó fronteiras, e humalegua diſtantes,

$ . XIV .

Roteiro de Evora para Elvas ,em que ſe contaõ doze leguas ao Nordeſte,
De Evora a Evora monte 41 A Elvas
A Eſtremoz 2

S. XV .

Roteiro de Evora para Olivença , em que ſe contaõ doze leguas ao


Naſcente.
De Evora ao Alandroal a 2
31 A Olivenç
A Jurumenha

$ . XVI .
Roteiro Terrefre. 39
3
$ . XVI .

Roteiro de Evora para Campo Maior , em que ſe contañ quatorze


leguas ao Nordeſte.

De Evora a Eſtremoz 6- A Campo -Mayor. 8

1. XVII .

Roteiro de Evora para Portalegre , em que ſe contao quatorze le


guas ao Nordeſte.
De Evora a Souzel S
A Fronteira 7 | A Portalegre

S. XVIII .

Roteiro de Evora para a Ponte do Sor , em que ſe contaõ quatorze


leguas ao Norte.

De Evora ao Vimieiro STA ' Ponte do Sor 5


A Avis 4
LA
$ . XIX .
Roteiro de Evora para Tancos , em que ſe contaõ dezanove leguas
ao Norte.

De Evora a Arrayolos 3 A Montargil 3


A Pavia 3 A Tancos 9
A Cabeçao I

S. XX .
bo Roteiro de Evora para Santarem , em que ſe contaõ doze legiias ao
Noroefte.
De Evora a Monte -Mòr 5 | A Coruche 4
A Lavre 3
$ . XXL
^ Roteiro de Evora para Banavente , em que ſe contaõ dezaſete le
guas ao Noroeſte .
De Evora a Monte - Mór s | A's Vendas Novas 2
A's Silveiras 21A Benavente 8
$ . XXII.
40 Mappa de Portugal,

S. XXII .

Roteiro de Evora para Coruche , em que ſe contaõ doze leguas ao


Noroeſte.

De Evora a Monte -Mór SA Coruche 4


A Lavre 3

$ . XXIII .

Roteiro de Evora para Marvaó , em que ſe conteo dezaſeis leguas


ao Nordeſte.

De Evora a Souzel 71 A Portalegre ‫گر‬


A ' Fronteira 21A Marvað 2

S.. XXIV .
$

Summario das diſtancias , que ha de Evora às Villas da ſua Correiçaõ.

De Evora a

7 Noroeſt . Monte - Mór 5 Noroeſt .


Aguias
5į Sudueſt. Montouto Naſcent.
Alcaçovas
Canal 6 Lesnord . Pavia 6 Noroeſt .
Eftremoz 6 Nordeſt . i Viana Sul .
Lavre 8 Poente . |Vimieiro s Nordeſt .

$ . XXV :

Summario das diſtancias , que ba de Evora a outras povoações ,

De Evora a

Alvito 6 Sul . Béja e Sul .


Alter do Chao II Nort. Benavilla 8 Nore .
Alter Pedroſo II Nort. Borba 8 Nord ,
Azeitao 16 em . Poét . Cabeço de vide II Nord.
Erra
* Roteiro . Terreſtre. 41

9 $ De Evora a

Erra 12 Noroeft . , Redondo s Nordeſt .


7 Nort , Torrao
Ervedal i7 Sudueft
Ş .
Fronteira 9 Nordeſt . Veiros 8 Nordeſt ,
Monçarás 9 Naſcent. Villa de Frades 7 Sul .
Mora 7 . 8 Nordeſt .
Portel 6 Sueft .
1
6. XXVI .

Roteiro de Lisboa para a Villa de Eſtremoz , em que ſe conta7 vin


te e huma leguas ao Naſcente.
De Lisboa aos Pégões 5.A Arrayolos 3
A ' Vendas Novas 3 A ' Venda do Duque 3
1 A Montemór 4 A Eſtremoz 3

$ . XXVII .

Roteiro de Eſtremoz para Portalegre , em que ſe contaõ oito leguas


ao Norte.

De Eſtremoz a Veiros 2 , A Portalegre 4


A Monforte 2
214
$ . XXVIII .
Roteiro de Eſtremoz para a Villa de Moura , em que ſe contaõ
treze leguas ao Sul.
De Eftremoz ao Alandroal 31 A Mourao 1
A Terena IA Moura s
-
A Monçarás 3
S. XXIX .
Roteiro de Lisboa a Montemór o Novo , em que ſe contañ quin
ze leguas,

De Lisboa a Aldea Galega -31A's Silveiras 2


Aos Pegões SA Montemor 2
A's Vendas Novas 3
Tom.IIl Part.V. F S. XXX.
42 Mappa de Portugal ,

. XXX .

Roteiro de Montemór a Elvas , em que ſe contaõ quinze leguas.

De Montemór a Arrayolos 31 A Eſtremoz 3


A ' Venda do Duque 31 A Elvas

$ . XXXI .

Roteiro de Montemór a Béja , em que ſe contaõ doze leguas.

De Montem.a Sant.do Ercoir . 2 ) A Alvito I


A Vianna 41 A Béja s

S. XXXII .

Roteiro de Montemór a Evora , em que je contaõ cinco leguas.


DeMontemór a Patalim 2 em.- A Evora 2 e m.

CA P I T U L O II .

Roteiro de Lisboa para Béja , em que ſe contaū vinte e duas le


guas ao Suefte.
De Lisboa à Moita 3 , A Rio Mourinho 2
Dahi à Palhota 2 Ao Torrao 3
A Aguas de Moura 3 A Alfundao 4
A Porto Carvalho 2 A Béja 3

Por outro caminho , que ſeguem os Almocreves .


De Lisboa à Moita A ' Palhota 2
3
A ' Palhota A'Quinc.de D.Rodrig . i em .
1
A Aguas de Moura 3 / A Odivellas 3
A Palma 2 A Alfunda o I em .
A Alberge 1 A Béja 3
A Porto de Lama 2

Por outro caminho , que ſeguem os Eſtafetas.

De Lisboa a Aldea Gallega 3 A's Vendas Novas 3


Dahi às Rilvas 2 A's Silveiras 2
Aos Pégócs 3A Montemor 2
· AS ,
Roteiro Terreſtre. 43

A S. Braz 41A Alvito I


A Viana 2. A Béja . 5

Por outro caminho , que ſeguem as carruagens .

De Lisb . a Aldea Gallega 3 A Agua de Peixes meya.


1
Dahi até às Silveiras IO A Villa Ruiva I
A Santiago do Eſcoiral 3 A ' Cuba I em .
A S. Braz 3 A Béja 3
A Viana 2

S. I.

Summario das diſtancias , que ha da Cidade de Béja às Villas da


ſua Correiçao .

I
De Béja a

Agua de Peixes 4 Nort . Oriola s Nort .


Albergaria 4. Nort . Portel
Alvito Serpa 4 Sueft .
Beringel I Nort . i Torraó 7 Nort .
Fáro 3 Nort . Vidigueira 4 Nord .
Ferreira 3 Poent. Villa de Frades 4m.Nord .
Ficalho 8 Naſc . Villa Alva 4m . Nort .
Moura 7 Naſc. | Villa Ruiva .
Odemira 14 Poent . Villa-Nov.de Alv . 6 Nort .

$ . II .
I
Roteiro de Lisboa para a Villa de Odmira , em que ſe contaõ vin
te e ſete leguas ao Sul.
De Lisboa à Moira por mar 3 A Melides por charneca 6
Da Moita a Setubal 3. A Santiago de Cacem 3
A ' Comporta por mar 3

Eſte tranſito , que he de charneca , e areas , tem tambem


duas ribeiras pequenas, que paſſar.

De Santiago ao Cercal 4- Do Cercal a Odemira 5


F ii ER
44 Mappa de Portugal,

Eſtas cinco leguas do Cercal a Odemira he caminho de


de ſerra , porém ſoffrivel ; e ha hum ribeiro ,em que entra
a maré , que de inverno tem ſuas enchentes . Toda eſta der.
rota he a ordinaria .

Por outro caminho .


De Lisboa à Moita ! :, 3A Aguas de Moura
A Marateca
A qui ſe paſſa huma ribeira grande.
De Aguas de Moura à Palma 2
Neſte caminho , ſuppoſto ſer de charneca ha tambem
outra grande ribeira .
De Palma a Alcacer 2

Ha aqui outra ribeira .

De Alcacer à Grandola 4
Eſtas quatro leguas todas faõ de charneca .

De Grandola a Odemira il

Entre o eſpaço deſtas onze leguas ha cinco ribeiras , que


paſſar ; huma tem ponte , as mais ſao caudaloſas de inverno ,
e nao tem ponte..

S. III .

Roteiro de Lisboa a Meſſejana , em que ſe contaõ vinte e huma leguas.


De Lisboa à Moita 3 ) A Val de juizo , ou Arcao I
A Palhota 21A Niza 3
A Aguas de Moura 3 Bairros I
A Palma 2 Alvallade 2
A Alberges 1Meflejana
A Alcacer do Sal . I
Em todas eſtas terras ha foffriveis eſtalagens.

Por outro caminho .

De Lisboa pela meſma ef A Val de Reys meya .


trada até Alberges ITA
H Porto de Lama meya .
Quin
Roteiro Terreſtre, 45
Quinta de D. Rodrigo 2 / Figueira dos Cavalleiros . 2
Agua do Paço IT A Meſſejana 4
Por outro caminho .

De Lisboa à Moira 31Grandola 6


A Palmella 2 Alvalade ‫گر‬
Setubal I Meſiejana 2
Comporta por mar 3
O Correyo vay a Meſſejana , que diſta ſeis leguas gran
des com duas ribeiras , de que huma chamada a Douroana , he
caudaloſa de inverno : Por Garvað ſe evita por ter duas pon
1 tes, porém he mais diſtante. De Meflejana paſſa o Correyo
a Béja , em que ha humaribeira grande , e caudaloſa , ouira
e fao feis leguas ; de fórte que diſta Odemira
de Béja doze leguas , ficando -lhe o Campo de Ourique , e
ſua Comarca de permeyo .

As Villas do Campo de Ourique , com quem ha mais


communicaçao , fað eltas :
Garvaó diſta de Odemira 4 , De Almodovar à de Collos 4
De Garvaó a Ourique 2 A Sines
De Ourique a Almodovar 3
Com o Reino do Algarve ha tambem communicaçao ,
por ſer Odemira a ultima da Provincia do Alentejo . Della
diſta Lagos onze leguas ſem embaraço dos rios , por haver bar,
cos certos , e promptos .

S. IV .
Roteiro de Lisboa para Alvito , em que ſe contaõ dezoito leguas
ao Suefte.
De Lisboa à Moita 3 \ A's Alcaçovas 5
Dahi a Aguas de Moura 5 A Villa - Nova 2
A Porto Carvalho 21A Alvito I
Por outro caminho , que he indo por Montemór , por
onde vai o Eftafeta , e fáo vinte e duas leguas ,

De Lisb.a Ald . Gallega 31A Montemór 2


Aos Pégões s A Viana 6
A's Silveiras S'A Alvito I
Por
al
pa tug
46 Map de Por ,

wN
Por outro caminho ſe contað vinte leguas , indo por Palma .

De Lisboa à Moita 31 A Alcacer


A Aguas de Moura . ‫ ک‬Ao Torra ő
A Palma 21A Alvito 3

$ . V.

Summario das diſtancias , que ha de Alvito às terras principaes


circumvizinbas.

De Alvito a

Aguiar 4 Naſcent.
Alcacer 8
Ź Noroeſt
Norbert.. Sorel
Torrao 3 Poent.
3 Sul. Viana I Nort .
Beringel
Cuba 3 Sul , Villalva I Sueit.
Evora ó Nordeſt. Vidigueira 3 Sueit .
Ferreira 3 Sudueft .

CAPITULO III .

Roteiro de Lisboa para Villa -Viçoſa , em que ſe contaõ vinte e


ſeis leguas e meya ao Naſcente.

DeLisboa até Montemór 15 | A Eſtremoz 3


Dahi a Arrayolos 3 A Villa - Viçoſa 2 em .
A ' Venda do Duque 3
Por outro caminho .

De Lisboa a Montemór IS A ' Venda do Redondo 4


A Evora SI A Villa - Viçoſa 4

$ . I.

Roteiros traverſos de Villa - Viçoſa para algumas terras circumvizi


nbas , e principalmente para Portalegre , em que ſe con
tað oito leguas ao Norte.

De Villa - Viçoſa a Monforte 4 - A Portalegre 4


$.
. II .
Roteiro Terreſtre.
47
$ . II.

Roteiro de Villa - Viçoſa para Olivença , em que ſe contaõ cinco le .


1
guas ao Naſcente.

DeVilla - Viçoſa aoForte i em . , A Olivença 2


A Jurumenha Iem .

$ . III .

Roteiro de Villa - Viçoſa a Mourao , em que ſe contaö ſeis leguas ao Sul.

DeVilla- Viçoſa ao Alandroal1 | A Monçarás


Dahi a Terena IA Mourao 3

S. IV .

Summario das diſtancias, que ha de Villa -Viçoſa ds terras de ſua


Correiçao.

De Villa- Viçoſa a
4 Nort .
Alter do Chaố 7 Noroeft. Porreo
Arrayolos 8 Poent . 9 Sudueft .
Borba m . Poent . Souſel 4 Noroeſt .
Chancellaria 10 Noroeſt . Villa - Boim 3 Nordeſt.
Evora - Monte 4. Poent .
4 Villa - Fernand . 3 em.Nort.
Monçarás 5 Sul .
$ . V.
Roteiro de Lisboa para Arrayolos, em que ſe contaõ dezoito leguas
ao Naſcente.

De Lisboa a Aldea Gallega 31 A's Silveiras 2


Aos Pégões 5 A Montemor 2
A's Vendas Novas 3 A Arrayolos 3

Por outro caminho .

De Lisboa a Aldea Gallega A Lavre 4


$
A Rilva í A Arrayolos 5
A Canha NA
4
Por
48 Mappa de Portugal ,

Por outro caminho.

De Lisboa a Eſcaroupim 12 , A N. Senhora das Brotas s


A N. Senhora da Gloria 21 A Arrayolos 3
A Coruche 2

$ . VI.

Roteiro traverſo de Arrayolos para Tancos , em que ſe contaõ qua .


torze leguas ao Norte .

De Arrayolos a Pavia 31 A Montargil 3


I A Tancos 7
A Cabeҫаб

8. VII .

Roteiro de Arrayolos para Elvas , em que ſe contaõ doze leguas


20 Nordeſte.
6
De Arrayolos a Eftremoz 6 - A Elvas

$ . VIII .
Summ ario das diſta ncias , que ha de Arrayolos a outras terras
circumvizinhas.

De Arrayolos a

Aguias 3 Norr. Montemor 3 Poent .


Avís 6 Norr . Pavia 3 Norr .
Coruche 8. Noroeſt . Vimieiro 2 Nordeſt.
Evora -Monte 4 Naſcent.

CAPITULO IV .

Roteiro de Lisboa para a Cidade de Elvas, em que ſe contaõ trin


ta leguas ao Naſcente.
De Lisboa até Montemór A Eſtremoz 3
o Novo 15- 1! A Alcaravica z
Dahi a Arrayolos 3 A Elvas 4
A' Venda do Duque 3
GI.
Roteiro Terreſtre. 49.

8. I.

Summario das diſtancias, que ba de Elvas às Villas da ſua Correiçaõ.

De Elvas a

Barbacena 2 Noroeft . , Olivença 4 Sul .


Campo -Mayor 3 Nort . Ouguella 4 Nort .
Moura o 8 Sul . Terena Ś Sudueft .

CAPITULO V.

Roteiro de Lisboa para a Cidade de Portalegre , em que ſe contao


trinta leguas ao Naſcente.

DeLisboa a Aldea Gallega 3 / A Souzel 3


Dahi até Arrayolos IS A Fronteira 2 .
De Arrayolos ao Vimieiro 2 ' A Portalegre s

Por ſegundo caminho em que ſe contao trinta e duas


leguas..

DeLisboa a Aldea Gallega 3 / A Monforte 4


Dahi a Arrayolos 15 A Portalegre
Dahi a Eſtremoz 6

Por terceiro caminho .

DeLisboa a Eſcaroupim 11 Ao Crato


A ' Ponte do Sor 12 A Portalegte 4
A ' Chancellaria 3

Por quarto caminho mais obliquo.


De Lisboa até Santarem 14 ) A'Cara branca
3
De Santarem à Gollega s Ao Givia I
A Tancos 2 A Gifete
A Punhete 1 A Portalegre 4
A Abrantes 2

Tom.III . Part. V. G $. I.
so Mappa de Portugal ,

$ . I.

Roteiro de Portalegre a Elvas , em que ſe contaõ oito leguas ao Sueffe.

De Portalegre a Afſumar 31.A Elvas 3


A ' Aldea de Santa Olaya 2
3

S. II .

Campo -Maio
a Campo-
Roteiro de Portalegre a Maior r , em que ſe contað oito
leguas ao Suejte.

De Portalegre a Arronches 4. A Campo - Mayor 4

$ . III .

Summario das diſtancias , que ha de Portalegre às Villas da ſua


Correiçao.

De Portalegre a

Alegrete 2 Sul . Marvao 2 Nordeſt .


Alpalhao 4 Noroeſt . Meadas s. Naſcent.
Arronches 4 Sul . Montalvao 6 Noroeſt.
Affumar 3 Sul . Niza 6 Noroeſt .
Arez 6 Poent . Povoa 4 Nort.
Caſtello de Vide 2. Nordeſt.'Villa Flor 6 Noroeſt.

C A P I T U LO VI.

Roteiro de Lisboa para o Crato , em que ſe contað vinte e oito


leguas ao Naſcente.
De Lisboa a Eſcaroupim il .

Dahi ſegue-ſe a meſma derrota pela eſtrada , que fica


spontada no terceiro caminho de Portalegre .

. . $ . I.
Roteiro Terreſtre. 5.1

s . 1.

Summario das difancias , que ba da Villa do Crato às Villas da


Jua Correiçaõ .

i
Do Crato a

Alvaro
15 Gavia o s Noroeſt .
Amieira 4 Nort . Olleiros 14 Nort .
Belver
ſ Nornor. Pedrogað pequen , 10 Nort .
Cardigos 9 Nort , Proença a Nova I Nort .
Carvoeiro 7 Nort . Toloſa 3 Norr.
Certā 12 Nort . Villa - Nova de Cardig . utſup .
Cortiçada.Vid.Proença a Nov. Villa Nova de Sao
Envendos 6 Nort . Jogo de Gáfete . ut fuprà .
Gáfcte 2 Nort .

Da Villa de Alvaro ſó pertence ao Priorado do Crato a


juriſdiçao Eccleſiaſtica.

1 · Da Villa de Cardigos ſó lhe pertence a juriſdiçaõ ſecular.

CAPITULO VII .
3 Roteiro de Lisboa para a Villa de Ourique , em que ſe contaö vin
te e cinco leguas ao Sul.
De Lisboa à Moita 3. A Grandola 6
A Palmella 2. A Alvalade 5
A Setubal 1 A Ourique 5
A ’ Comporta 31

S. I ,

Roteiro de Lisboa para Meſſejana , em que ſe contað vinte e huma


* 3:1 . leguas ao Sul.
De Lisboa à Moita 3 | A Palma 2
Dahi à Palhota 2 A Alberges I
A Aguas de Moura 3 3 A Alcacer do Sal
Gü A Val
52 Mappa de Portugal ,
A Val de Guizio ITA Alvalade 1
A Niſa 3 A Meflejana 2
Aos Bairros 2

Por outro caminho.

De Lisboa à Moita A ' Quinca de D.Rodrigo


Dahi até Alberges 3 A Agua do Paſſo 1
De Alberges a ValdeRcy m . A'Figueira dos Cavalleiros . 2
A Porto de Lama m. A Meſſejana 4

6. II.0

Summario das diſtancias , que ha de Ourique às Villas da ſua


Correiçao.

De Ourique a

Aljuſtrel 4 Nort . Meflejana 4 Nort .


Almodovar 3 Sul . Padrões 4 Naſc .
Alvalade 4 Nort . Panoyas 3 Nort .
Caftro - Verde 2 Nord . Santiago de Cacem 8 Nor .
Collos 4 Poent . Sines 9 Poent.
Entradas 4 Nord . Villa Nova de Mil
Garvao 2 Poent . fontes 8 Poent .
Mertola 8 Naſc .

DI V IS A Ở III .

Roteiro de Lisboa para as principaes terras da


Provincia da Beira.

A ’ diſle na 1. Parte do Mappa de Portugal, que eſta Pro


vincia ſe chama Beira , por ſer antigamente habitada dos
J povos Berones , ſegundo affirma Fr. Bernardo de Brito .
Fica no coraçao do Reino ; e das partes , em que elle ſe divi
de ,
Roteiro Terreſtre.
53
1 de , he ella a mayor porçao , grandemente montuoſa , e com
alguns rios arrebatados. Dao - lhe os Geografos trinta e ſeis
leguas de comprido , e outras cantas de largo , pouco mais,
ou menos . Para commodidade dos paſſageiros he o terreno
fertil, e em partes ameno ; poſto que em algumas eſtalajens
1 naó ſe experimente tab bom tratamento , como em outras Pro
vincias.
Os Francezes , e Italianos , coſtumados à delicia dos ſeus
paizes , e abundancia das oftarias, raó os mais queixoſos , quan
do chegaó a tranſitar , ou girar por eſtas partes ; e aſſim re
commendao nas inſtrucções, que fazem para os viajores , le
vem comfigo aquella proviſaó , que for poflivel p, or naóex
perimentarem a penuria das eſtalajens da Beira . Em algumas
affim he , em outras nav , porque em toda a parte ha hum bo
cado de máo caminho , e he neceffario attender ao eftylo dos
paizes , c à frequencia dos paſſageiros.
CAPITULO I.
Roteiro de Lisboa para a Cidade de Coimbra , em que ſe contao
+
trinta e quatro leguas ao Norte .

. De Lisboa a Sacavem 21 Lamaroſa I


De Sacavem à Povoa 1 Payalvo
E A Alverca I S. Lourenço
A Alhandra 1 Chao de Maçans
A Villa Franca i Rio de Couros I
A Povos 1 Perucha
A ' Caſtanheira 1 Arneiro I
A Villa- Nova 1 Gaita I
Azambuja 1 Anciao I
Cartaxo 2 Junqueira I
Santarem 2 Rabacal I
Lagar I Fonte Cuberta I
Ponte d'Alviella 1
1 Alcabedeque
Almonda Venda do Cego I
Gollega I Coimbra 1
Eſpraganal I
Por outro caminho , que ſe aparta na Caſtanheira , e he
melhor para tempo de inverno , e neſta jornada contaó - te
viate e ſeis leguas da Caſtanheira por diante , a ſaber :
De
54 Mappa de Portugal ,
De Lisboa à Caftanheira 8 A ' Batalha
Da Cattanh.ao Moinh .Novo u A Leiria
A Ota 2 Ao Pombal ; nie 3
A Tagarro 2 A ' Redinha
A ? Venda da Coſta 3A Porto Coelheiro 3. lin .
Ao: Laranjo 2 A Condeixa H. 042
Aos Carvalhos 21 A Coimbra

$ . I.

Roteiros traverſos de Coimbra para algumas terras principaes cir .


cumvizinhas , & primeiramente para Aveiro em que ſecon
tao nove leguas ao Noroeſte,
-De Coimbra aos Fornos I A Mamaroſa
Dahi aos Marcos I | A Palhaça
A Murtede 1 ( Ao Salgueiro
A ' Venda Nova 1 A Aveiro
A Samel I

S. II .

Roteiro de Coimbra para o Porto , em que ſe contaõ dezoito le


guas ao Norte .

De Coimbra aos Fornos 11 A Albergaria Velha 2.

Dahi ao Carquejo I Ao Pinheiro


A ' Mealhada I A Oliveira de Azemeis
A Pedreira 1 A Santo Antonio
A Avelans I A Souto redondo I
A Aguada IA Grijó
Ao Sarda o I Aos Carvalhos
Ao Vouga 1 Ao Porto
A Albergaria Nova I

$ . III .

Roteiro de Coimbra para Viſeu , em que ſe contaõ treze leguas ao


Nordeſte.
De Coimbra a Eiras Ao Galhano 1
A Botao A
JA S. Antonio do Cantaro . I
A
Roteiro Terreſtre. 55 !

A Freirigo IA Tondella
Ao Barril I A ’ Sabugora
Ao Criz IA Fail
Ao Caſal de Maria I A Viſeu L

A S. Joaninho I

S. IV .

Roteiro de Coimbra para a Guarda , em que ſe contað vinte e duas


leguas ao Naſcente.
1 De Coimbra às Torres A Torrożelo I
Aos Carvalhos I AMaceira I
IA Pinhancos I
A Algacia
A Santo André I'A Vinho I
A ' Ponte da Murcella I A Sampayo I
Aos Poços I A ' Villa Cortez I
A ' Moita I A Cortiçó I
A ' Venda do Valle 1 A Celorico I
A ' Venda do Porco I A ' Lagiola I
A Galizes I A'Faya I
A ' Chamuſca I A ' Guarda 1

19. V .:

Roteiro de Coimbra para o porto de Figueira , em que ſe contàő fe


te leguas ao Poente.

De Coimbra a Faveiro IjA Mayorca


A ' Pereira 1 Ao Minhoto I
A S. Barao A ’ Figueira I
A Montemór
Para Buarcos sao oito leguas , ſeguindo a meſma derrota.

S. VI .

Roteiro de Coimbra para a Lapa , em que ſe contaõ dezanove leo


guas do Nordeſte.

De Coimbra a Eiras I | A Mortagua 3


Ao Botao I A Brida I
Ao Galhano ITA S. Joaninho
А
Mappa de Portugal ,
A Tondella I A ' Pedroſa
nd
I la A's Fontainhas I
A ’ Sabugoſa
A Fail I Ao Oiteiro de Ferreira i em .
A Viſeu I A' Lapa I
A Cavernais Iem .

S. VII .
Summario das diſtancias , que ha da Lapa a algumas terras prin .
cipaes circumvizinhas.

Da Lapa a
Armamar
s Peſqueira
Cernancelhe 1 Pinhel 3
Cerolico Ranhados
Freixo de Nemao 6 Torre de Moncorvo IO
Guarda 9 Trancoſo
4
Lamego 6 Trevoes
Leomil 2 i Villa- Nova de Foſcóa
Penella da Beira 4 ) Villa-Real

S. VIII .
Summario das diſtancias , que ha de Coimbra às Villas deſua
Correiçao .

De Coimbra a

Alvayazere 8 Sul . Celeviſa 6 Naſcent ,


Ança 2 Sul . Cernaxe dos alhos 2 Sul .
Anciao 6 Sul . 8 Naſcent ,
Coja
Arganil 7 Naſcent.is. Comba Dao 6 Nordelt .
Avó 9 Naſcent. Eſgueira 8 em . Nor .
Bobadella 12 Naſcent. Fajao 9 Naſcent.
Botao 2 Nordeſt . Goes 5 Naſcent.
Buarcos 8. Poent . Mira 7 Noroeſt .
Cantanhede 4 Noroeft . Mirand.do Corvo Sueft.
4
Carvalho 4 Sul. Pena- Cova 3 Nort .
Pe
Roteiro Terreſtre. 57

De Coimbra a

Pereira 2 Poent . Redondos 6 Sul .


Podentes 3 Naſc. I Tentugal 2 Poent .
Pombalinho 4 Sul . Vacarica 3 Nort .
Pombeiro ſ Naſc . | Villa Nova d'Ancos 4 Poent .
Pov . de S. Chriſtin . 2m Nort . Villa-Nov.de Monç.4 Nort .
Rabacal 3 Nort .
CAPITULO II .
Roteiro de Lisboa para as Villas de Eſgueira , e Aveiro , em que
ſe contaö quarenta e duas leguas ao Norte , indo paſar a barca
no campo de Coimbra .

De Lisboa à Caſtanheira 8Aos Creſpos 3


Ao Carregado A’Almagreira 2
Ao Moinho novo I A's Calas velhas I
A Ota I A Villa -Nov. d'Anços I
A Tagarro 2 A Fermozelhe I
A ' Venda d'Agua 2 A Pereira I
A'Palhora IA Tentugal I
A ' Venda da Coſta IA Villa - Nova I
Aos Candieiros I A Cantanhede I
Ao Boliano 2 A ' Camarneira I
Aos Carvalhos I A ' Mamaroſa I
A S. Jorge 1 | A ' Palhaça I
A ' Cortiça 1 Ao Salgueiro I
A Leiria 1 A Eſgueira meya .
Aos Machados I A Aveiro meya .
Por outro caminho já fica aſſinado no § . 1. do Cap . 1 .
deſta Diviſao III .
$ . I.

Roteiro traverſo de Aveiro para o Porto , em que ſe contaõ dez


leguas ao Norte .

De Aveiro a Ovar por barco 's Ao Corvo I


De Ovar a Cortegaça 1 Ao Chamorro I
A Paramos Il Ao Porto I
Tom.Ill . Part.V. H Por
a al
58 Mapp de Portug ,

Por outro caminho , para quem nao quer ir embarcado .


De Aveiro a Angeja 1 A Cortegaça I
A Salreu IA Paramos I
A Santiaes 1 Ao Corvo I
A Vanca I Ao Chamorro I
A' Ponte Nova IAo Porto I
Advirta - fe , que ainda que nao ſe vá ao Porto pelo rio
ſempre em Angeja ſe paſſa a barca em tempo de inverno .
3
$ . II.

Roteiro de Aveiro para Viſeu , em que ſe contaö onze leguas


ao Naſcente .
De Aveiro a Eixo ITA Monte tezo I
A ' Palhaça ITA ' Portella I
A ' Arrancada IA S. Miguel de Oiteiro I
A ' dos Ferreiros I A ' Cruz alta I
A Cabeça de cao IA Viſeu 1
A' Urgueira

$ . III.

Roteiro de Aveiro para Vouſella , em que ſe conta7 nove leguas


ao Naſcente.
De Aveiro à Palhaça 2 | A's Bem feitas 1
A ' Arrancada ITA Ponte- fóra 1
A ' dos Ferreiros 1
1 A Santiaguinho
A's Talhadas ITA Voufella I

CAPITULO III .

Roteiro de Lisboa para a Cidade de Viſeu , em que ſe contaõ quas


renta e ſete leguas ao Nordeſte .

Efte Itinerario já fica explicado acima na derrota de


Coimbra , e dahi para Viſeu , e allim he ſuperfluo reperillo .

S.I.
Roteiro Terreſtre.
59

$ . I.

Roteiro traverſo de Viſeu para Lamego , em que ſe contaõ nove


leguas ao Norte.
1
De Viſeu ao Campo I A ’ Senhora da Ouvida I
A ' Ponte do Almargem ilA Bigorne I
A Rio de Mel IL A ' Cruz da Cam . Σ
A Mamouros I A Lamego I
Ao Craito 1

$ . II .

Roteiro de Viſeu para a Guarda , em que ſe contaõ dez leguas


ao Naſcente.
De Viſeu a Fagilde IA Cerolico
A Quintella IA' Lagioſa I
A's Chaus Ao Porto de Carne I
A Fornos 1 A Cabadoide I
A Figueiró I A ' Guarda

$ . III .

Summario das diſtancias , que ha de Viſeu ds Villas , e Concelhos ,


da ſua Correiçao.
i
į
1
De Viſeu a
i
Alva 3 Naſc. Coja 8 Sul.
Azere 5 Sul. Currellos 4 Sul .
Azurara 2 Sueft . Enfias 6 Naſc .
Banho a 3 Noroe, Ferreira d ' Aves 4 Naſc .
Barreiro I Sul . Folhadal 3 em . Sul .
Beſteiros 3 Sul . Gafanhao 4 Nort .
Bobadella 7 Sul . Guarda o 4 Poent .
Canas de Sabugoſa 2 Sil. Gulfar 4 Naſc .
Canas de Senhorim 3 Sul . La foes 3 Noroe .
Candofa 5 Sul . Lagares s
Hü Moens
60
Mappa de Portugal ,

De Viſeu a

Moens 3 Nort , S. Joao do Monte Poent.


Mortagoa 7 Sul . Sandomil 7 Sul .
Mouras 3 e m . Sul . Santa Comba Dao ſ Poent ..
Nogueira 7 S. Pedro do Sul 3 Noroe.
Oliv. do Conde Sul . Satam 3 Naſc .
5
Oliv . de Frades 4 Noroe . Senhorim 2
Oliv . do Hoſpital 6 Sul . Silvares s Sul .
Ovoa 6 Sul . Sinde ſ Sul .
Peralva d’Alva 8 Sueſt . Taboa 6 Sul . 1
Penalva do Caſtell. 3 Sueft . Tavares 3 m . Naſc .
Perſellada 6 Trapa 4 Noroe .
Pinheir . de Azere 6 Sul . Treixedo 4 Sueft.
Povolide 2 m . Nort . Vide de Foz de Pió
Ranhados I q . Narc . dao
Reriz 5 Nort . Vilia-Cov.de Sub . 8 Sue ft .
Sabugora 2 Poent . Villa do Sul 4 Nort .
S. Joao de Areas 5
C A P I T U L O IV .
Roteiro de Lisboa para a Cidade de Lamego , em que ſe contao
cincoenta e cinco leguas ao Nordeſte.
Eſta derrota ſe faz indo de Lisboa até Santarem , onde ſe
contao quatorze leguas. De Santarem para Coimbra , que fa
zem vinte leguas . E de Coimbra para Lamego , em que ſe
completað vinte e huma leguas , da maneira ſeguinte

De Lisboa até Coimbra 34 / Vouſella I


De Coimbra aos Fornos IS. Pedro do Sul I
A ' Mealhada 2 Cobertinha I
Avelans IA Alva I
Sardao 2 Caſtro Dairo I
Aguada I Collo de pito I
A ' dos Ferreiros 1 Bigorne I
A's Talhadas I Povoa I
Ponte - fóra 2 Lamego I
Santiaguinho I S.I.
Roteiro Terreſtre. 61

$ . I.

Roteiro traverſo de Lamego para a Moimenta da Beira em que


Te contaö quatro leguas ao Naſcente .
De Lamego a Ferreirim il do Sarzedo I
Dahi à Granja Nova MA . Moimenta 1I

$ . II .

Roteiro de Lamego para a Lapa , em que ſe contaõ feis leguas

De Lamego a Mós 1 , A ' Lamoſa 2


A Mondim 1 A ' Lapa I
A Alvite I 1

S. III .

Roteiro de Lamego para Villa - Real , em que ſe contaõ quatro lea


guas ao Nordeſte.

DeLamego ao Pezo da Reg . 1A’ Comieira I


Dahi a Santa Martha ITA Villa Real I

S. IV.

Roteiro de Lamego para o Porto , em que ſe contaõ quatorze leguas


ao Poente .

De Lamego a Santiaguinho 1 Fonte Sagrada I


Dahi a Mezam frio I Baltar I
Teixeira 1 Ponte Ferreira I
Carraſqueira Vallongo 1
Gieſta I Venda Nova I
Canavezes I Porto
Arrifana 2
1
7
$ . V.
1
1 Roteiro de Lamego para Braga , em que ſe contaõ quatorze leguas
ao Noroeſte.

1 De Lamego a Santiaguinho 1 A Teixeira


Dahi a Mezam frio 1 Ao Carneiro I
1
. A '
62 Mappa de Portugal ,
A ' Ovelha Venda da Serra I
Amarante I Guimarães I
Lixa 1 Eſtalagem do Rio I
Deveza da Eſcorva 1 Aos quatro irmãos I
Pombeiro I A Braga I

S. VI .
Summario das diſtancias, que ha de Lamego às Villas , e Goncelhos
da ſua Correiçao.

De Lamego a

Alvarenga 7 Suduefte. Moiment.daBeir.4 Naſcente .


Arcos 40 m . Naſc . Mondim 2 Naſcente .
Arégos 4 Poente . Moffa 5 Poente .
Armamar ż em.Naſc . Nagola 4 em . Nafc .
Arouca 8 Poente . Paiva 8
Barcos s. Naſcent. Parada do Biſpo 2 Nordeſte.
Barqueiros 2 m . Noroe . Parada de Efter 5
Britiande I Sueſte . j Partó 2 Naſcente .
Cabril 6 Poente . Pendilhe 4 Sul .
Caria s Naſcent. Pera e Peva 4 Naſcente .
Caſtello 3 em.Naſc. Pezo da Regoa 2 Norte .
Caftrodairo 4 Sudueft . Pinheiros
Chaväes . 4 em .Naſc. Refende 3 Poente .
S.Chrift.da Nog . m . Poent . Ribellas iem . Sul.
S. Cormado 3 Naſcente. Sande m . Nordeſt .
Ermida Poente . Sanfins 6 Poente .
Ferreiros s Poente . Sinfães s Poente .
Fontello 2 Nordeſte . Sever 2 Naſcente.
Fragoas 4 Naſcente . Taboaço s Naſcente .
Goujoim 3 Naſcente. Tarouca 2 Suefte .
Granja do Fedo 4 Naſcente. Teixeira 3 Poente .
Lalim 2 Suefte . Tendāes s Poente .
Lazarim 2 em . Naſc . Valdigem i Nordeſte.
Leomil 3 Naſcente . Varzea da Serra 3 Sul.
Longa Ucapha Iem . Naſc ..
Lumiares 2 Naſcente . / Villa Cova 4 Sul.
S.Mart . deMour.2 Poente . Villa Seca 3 Naſcente .
$ . VII .
Roteiro Terrefre. 63

1
. VII .

1 Roteiro de Lisboa para a Villa da Moimenta da Beira , em que fo


contao cincoentá e quatro leguas ao Nordeſte.

Efta derrota ſe divide em quatro jornadas . Primeira de


Lisboa até Santarem , que fazem quatorze leguas. Segunda
de Santarem a Coimbra , em que contað vinte leguas. Tercei
ra de Coimbra a Viſeu , em que ha treze leguas . Eſtas tres
jornadas já eſtao aſſinadas ; refta ſó declarar o caminho , que
vay de Viſeu para a Moimenta da Beira , em que ſe numeraó
fete leguas , da maneira ſeguinte.

De Lisboa a Viſeu 47 | Lamas I


De Viſeu a Cavernaes i Segões I
Dahi à Pedroſa 1 Granja de Paiva I
Fontainhas I'Moimenta I
4 Por outro caminho , indo por Thomar .

De Lisboa a Thomar 21 Foz d'Arouce 2


Dahi ao Pintado IS. Miguel I
Ceras 1 Cortiça I
Pereiro 1 Sampayo I
Cabaços i Pinheiro d'Azere I
Vendas de Maria i Santa Comba I
Vendas dos Moinhos Fonte do Salgueiro I
Eſpinhal I Viſeu 4
Corvo 2 Moimenta 7

S. VIII .

Roteiros traverſos da Moimenta da Beira para as principaes terras


circumvizinhas , primeiramente para Villa Real , em que ſe
contao oito leguas ao Norte .
Da Moimenta a Contim 1 Folgoſa I
A Goujim Galafulla , paſſando o Douro I
Villa Seca Il Villa -Real 3
.

$ . IX.
1
64 Mappa de Portug ,
al

§ . IX .

Roteiro da Moimenta da Beira para S. Joað da Peſqueira , em


que ſe contaö ſeis leguas ao Norte.

Da Moimenta a Guedieiros IDahi à Villa de Trovões I


Dahi a Paredes da Beira ITA S. Joao da Pelqueira 3

$ . X.

Roteiro da Moimenta para Braga , em que ſe contaõ dezaſete le


guas ao Noroeſte.

Da Moimenta a Teixeira 7 Venda da Serra I


Dahi ao Carneiro i Guimarães I
Amarante 2 A ' Barca I
Lixa I j Aos quatro irmãos I
Deveza da Eſcorva 1 A Braga I

$ . XI .

Roteiro da Moimenta para o Porto , em que ſe contað vinte le


guas do Noroeſte.
Da Moimenta ao Sarzedo I Canavezes I
DoSarzedo à Granja Nova i Aos quatro irmãos I
A Ferreirim I Ao Caſtro I
Lamego 19. Arrifana de Souſa I
I Paredes I
Santiaguinho
Mczam -frio I Baltar I
Teixeira I Ponte Ferreira I
Carraſqueira I Val - longo I
Fonte do Mel I Venda Nova I
Venda da Gieſta I Porto I

s. XII .

Roteiro da Moimenta à Torre do Moncorvo , em que ſe contao


nove leguas ao Norte.
DaMoimenta a Fonte Arcada 1 A Penedono I
Dahi a Chuzendo Il Villa de Ranhados I
Se
Roteiro Terreſtre. 65
Sedavim i Barca do Pocinho 2
Sevadelhe IA’Torre do Moncorvo , par
Freixo de Nemao 1 ſando o rio Douro

$ . XIII .
! Roteiro da Moimenta para a Praça de Almeida , em que ſe con
A taố doze leguas ao Naſcente.
De Moimenta à Villa da Rua Santa Eufemia
Villa da Ponte il Valbom
Sarzeda I , Pinhel I
Torrinha 1 Pereiro I
Moreirinhas 1 Valverdinho I
Cótimos I Almeida I

$ . XIV .
Roteiro da Moimenta para a Villa de Trancoſo , em que ſe con-,
tao ſeis leguas ao Poente.

Da Moimenta à Villa da Rua I , Bem vende


Ao Garajal 1 Rio de Mel I
Ponte do Abbade 1 Trancoſo I

$ . XV .

Summario das diſtancias , que ha da Moimenta da Beira para al


gumas povoações mais principaes.

Da Moimenta a

Ao Convento de Caria m . , Ao Convento de Tabola m .


Ao Convento de Salzeda 2 A ' Lapa 2
Ao Convento de S. Joao de A Sernancelhe 2
Tarouca 2 A Leomil m .'

CAPITULO V.

Roteiro de Lisboa para a Villa de Pinhel , em que ſe contaõ cin '


: : coenta e cinco leguas e meya'ao Nordeſte.
De Lisboa a Santarem 14 De Thomar à Venda Nova ?
. De Santarem a Thomar 81 Ceras I
Tom.III . Part. V. I Pe
66 Mappa de Portugal ,
Pereiros I Chamuſca I.
Cabaços I Caragoça I
Barqueiro 1 Torrezello meya.
Vendas de Maria meya. Maceira I
Venda dos Moinhos iem . Pinhanços I
Eſpinhal 1 Vinho 1
Corvo 2 Sampaio meya.
Foz d'Arouce 2 A Villa Cortez I
S. Miguel de Poyares A Carrapichana meya.
Ponte da Murcella I A Corticó I
Cortiça Celorico I
Moita Baracal I
Venda do Valle I Souro Pires 3
Venda do Porco I A Pinhel I
Galizes I
Por outro caminho , indo por Coimbra , ſe contaó cin
coenta e ſete leguas , e por Leiria fazeni cincoenta e nove e
meya ; mas eſta eſtrada ſerve para quando os campos vab
cheyos de agua em tempo de inverno .

f . I.

Roteiro de Pinhel para a Guarda em que ſe contaõ cinco leguas


ao Sul.

De Pinhel a Aldea Nova 1 , Dahi a Rapoulla 1


Dahi às Freixedas i Dahi à Guarda I 1
Dahi ao Carvalhal

$ . II.

Roteiro de Pinbel para Trancoſo , em que ſe contaố quatro leguas


ao Poente .

De Pinhel a Valbom 1 Ao Amial I


A ' Povoa ITA Trancoſo I

$ . III .
Roteiro de Pinhel para a Praça de Almeida , em que ſe contao tres
leguas ao Naſcente.
De Pinbel ao Pereiro IDe Valverde a Almeida
Do Pereiro a Valverde De S IV.
|
Roteiro Terrefre. 67

9. IV.

Roteiro de Pinhel pora Caſtello -Rodrigo , em que ſe contaố tres


leguas ao Nordeſte.

Ľ
De Pinhel a Villar-Torpim 2. Dahi a Caſtello -Rodrigo
3
$. V ..

Roteiro de Pinhel para Celorico em que ſe contaõ cinco leguas a


Suduefte.
De Pinhel a Souro Pires ITA Celorico I
Ao Baracal 3 | A Celorico

$ . VI .

Summario das diſtancias , que ha de Pinhelàs Villas da ſua Correiçaõ .

De Pinhel a

Aguiar da Beira 7 Noroe . Horta 6 Noroe .


Alfayates 8 Sueft. S. Joað da Peſqueir. 10 Norte.
Algodres 4 Norte . Lamegal 2 Poent .
Almeida Langroiva 3 Norte.
3 Naſc . |
Almendra Ś Norte . Marialva 4 Norte .
Carapito Ś Noroe. Marança 7
Caſtanheira II Noroe . Meda 6 Noroe.
Caſteiçao 5 Moreira Poent.
Caſtello - Bom 6 Sueft . Muxagata s Norte .
Caſtello -Mendo 4 Sueft. Nemao 6 Nord .
Caſtello Rodrigo 3 Paradella
Nord. IO
Cedavim 6 Noroe .
Paredes 9 Noroe .
Ervedora 10 Noroe .
Pena- Verde 6 Noroe .
Eſcalhao 4 Nord .
Penedono 7 Noroe .
Figueiró da Granja 8 Penella 7
1 Fonte Arcada 8 Noroe . Ponte
Fornos Povoa 7
Guilheiro 7 Noroe. Ranhados 6
I ii Rei
68 Mappa de Portugal ,

De Pinhel a

Reigada 2 Naſc. Trovões 8 Noroe .


Sinco Villas 2 Naſc . Valença do Douro 11 Noroe .
Sernancelhe 8 Noroe . Val de Coelha 4 Naſc .
Sindim 10 Noroe . Val - longo 8
Soutello 10 Varzeas 9 Noroe .
Souto 6 e meya : Veloſo
Tavora 11 Noroe. Villa-Nov.de Foſc.6 Nort .
Touça 6 Noroe . Villar Mayor 6 Sul .
Trancoſo 4 Poente,

$ . VII .

Roteiro de Lisboa para a Villa de Trancoſo , em que ſe contañ


cincoenta e quatro leguas ao Nordeſte.
De Lisboa a Thomar 22 / Venda do Porco I
A Ceras 2 Galizes [
Aos Pereiros I Chamuſca 2
Cabaſſos 1 C ,aragoça [
Venda de Maria I Maceira I
Venda das Figueiras I Pinhanços I
Eſpinhal Iſ Vinho 1
Corvo 2 Cortiçó , paſſando por Villa
Foz d ' Arouce 2 Cortez , e Sampayo Ź
S. Miguel de Poyares Carrapichana I
Ponte da Morcella 1 Celorico 2
Sobreira 1 Frontilhuro I
Poços 1 Fiats 1
Moita i Trancoſo
Venda do Valle 1

Por outro caminho , que ſegue o Correyo , indo por Viſeu .


De Viſeu a Povolide fem . Penaverde I
A Roriz Caſaes do Monte
Eſmolfe I Venda do Cego I
Sezures 1 Trancoſo 1
Forninhos S VIII .
Roteiro Terreſtre. 69

$ . VIII .

Roteiro de Trancoſo para Lamego , em que ſe contaõ dez leguas


ao Noroeſte.

DeTrancof.a Bem -vend. . Alvite I em .


Dahi à ponte do Abbade s Mondim I
A ' Lapa I cm . Villa mcá
Lamola meya . Britiande 1
Ariz meya. Lamego I

$ . IX .

Roteiro de Trancoſo para Almeida , em que ſe contañ ſete leguas


20 Naſcente.
I
De Trancoſ à Povoa delRcy 2 Pereiro
Dahi a Val bom I Valverde I
Pinhel I Almeida I

I 8. X.

Roteiro de Trancoſo para a Torre do Moncorvo , em que ſe con


tao dez leguas ao Nordeſte.
De Trancoſo à Moreira i Freixo de Nemao I
Dabi ao Carvalhal I em Santo Amaro 1
Ao Convento dos Villar , i cm . A ' Barca do Douro I
A ' Meda Iem . A ' Torre do Moncorvo I
Fonte Longa I em .

Por outro caminho .

De Trancoſo a Valcovo I Marvaó 1


I Barca do Douro I.em.
Rabacal
Venda da Barriga 2 Torre do Moncorvo I ..

$ . XI .
Roteiro de Trancoſo à Guarda , em que ſe contaā cinco leguas ao Sueſte.
1 De Trancoſo aosCarnicaes , Ponte do Ladrao I
ou à Fonte de Cal 1 Cabadoide
Į i Guarda I
Baracal
I CA
a gal
70 Mapp de Portu ,

CAPITULO VI .

Roteiro de Lisboa para a Cidade da Guarda , em que ſe contam


cincoenta e tres leguas ao Nordeſte.

De Lisboa a Thomar 22 , Venda do Porco 1


De Thomar a Seras 2 Venda Nova 1
Pereiro i Chamuſca I
Cabaços I Torrozello I
Venda de Maria 1 Maceira I
Venda dos Moinhos 2 Pinhanços I
Eſpinhal 1 Vinho I
Venda do Corvo 2 Carrapichana 2
Foz d'Arouce I
2 Corticó
S. Miguel I Celorico I
Ponte da Morcella 1
1 Lagioſa
Cabadoide 1
Cortiça
Moita i Guarda 1
Venda do Valle

Por outro caminho > indo pela eſtrada de Abrantes , em


que ſe contaó cincoenta e huma leguas .
De Lisboa a Abrantes 23 | Soalheira 2
Dahi a S. Domingos 3 Atalaya I
A ' Palhota 2 Quartao 1
Cardigos 1 Capinha 2
Cortiçada I Peraboa I
Sobreira formoſa I Caria I
Monte gordo 1 Belmonte I
Sarzedas 1 Vendas da Vella 2
Juncal 2 Guarda 2
Tinalhas I

$ . I.
Roteiros traverſos da Cidade da Guarda para as principaes terras
circumvizinhas e primeiramente para a Cidade do Porto ,
em que ſe contaõ vinte e ſeis leguas ao Noroeſte.
D Guarda à Ponte do Ladr. 2 ) Maceira 2
Dahi à Quinta dos Vermelh . il Antas
Souto
Roteiro Terreſtre. 7!
Souto de Vide I Geſtoſo I
Caſtendo Marujal I
1 Bacim 1 Africana I
Cavernais I Cabeçais I
Luftoſa 2 S. Vicente I
S. Pedro do Sul 2 Terreiro I
1 Trapa I Carvalhos 1
Ponte dos Ovos I Porto 2
1 Manhouce I
i Os rios principaes , que ſe atraveſsao neſta jornada , fao :
o Mondego , o Vouga, e o Paiva .

$ . II.

Roteiro da Guarda para Lamego , em que ſe contaõ quatorze le


guas ao Noroeſte.
D , Guarda a Cabadoide 1 Aguiar da Beira I
1 A ' Ponte do Ladra) 1 Quintella 1
Forno telheiro I Alvito 2
Aldea Nova IlMondim I
1 Cariz I
1 | Britiande
Eirado I Lamego I

$ . III .

Roteiro da Guarda para a Praça de Almeida , em que ſe contao

1 Jeis leguas ao Nordeſte.

1 Da Guarda a Joao Bragal I Freixo


Urgeira 1 Aldea -Nova I
Pinzio I'Almeida I

S. IV .
Roteiro da Guarda para a Torre do Moncorvo , em que ſe contaõ
doze leguas ao Norte.

TH Da Guarda ao Recamondo 1 Venda da Barriga I


Avelaps da Ribeira 1 Marvað I
1
Alverca 1 Villa- Nova de Foſcoa I
Cerejo 1 Ao Douro I
Cótimos IA ' Torre do Moncorvo 1
Corilcada $ . V.
72 Mappa de Portugal,

$ . V.

Roteiro da Guarda para Caſtello - Branco , em que ſe contao qua


torze leguas ao Sul.

Da Guarda às Vend . da Vella 21 Quartað 2


Belmonte 2 ] Atalaia 1
Caria i Lardoſa I
Peraboa I Alcains 1
i Caſtello - Branco
Capinha

S. VI.

Roteiro da Guarda para a Covilhã , em que ſe contaö ſeis leguas


ao Sudueſte.

Da Guarda às Vend.da Vella 21Teixofo I


A Belmonte 2 A ' Covilhã

$ . VII .

Roteiro da Guarda para a Villa do Fundaó , em que ſe conta7 no


ve leguas ao Suduefte.
Da Guarda às Vend . da Vella 2 , Ferro I
Belmonte 2 Fundaó 4
Caria I

$ . VIII .
Roteiro da Guarda para a Villa do Sabugal , em que ſe contao
cinco leguas ao Naſcente.
Da Guarda a Panoyas i Val Mouriſco I
Adao [
1 Sabugal
Pega I

§ . IX .
Roteiro da Guarda para a Villa de Manteigas , em que ſe contai
ſeis leguas ap Poente .

Da Guarda à Curujeira 1 Val de Moreira 1


Famelicao i Sameiro I
Valhelhas 1 Manteigas I
$ . X.
Roteiro Terreſtre :
73
$ . X.

Roteiro da Guarda para a Praça , e Villa de Penamacor , em que


fe contao nove leguas ao Sul.
Da Guarda a Panoyas 1 Val de lobo I
A Santa Anna I Meimoa I
A Pouſa - foles i Santo André
Aguas Bellas I Penamacor
Urgeira I

S. XI .

Roteiro da Guarda para a Praça , e Villa de Alfaiates em que


ſe contaö ſeis leguas ao Naſcente.
Da Guarda a Villa Mendo 2 , Nave
Marmeleiro I Alfaiates 1I
Rapoula de Coa I

§ . XII .

Roteiro da Guarda para a Villa de Villar-Mayor , em que ſe cons


tao cinco leguas ao Naſcente .
DaGuarda a Villa Fernando 2 Ponte de Siqueiros
Ao Monte Margarida 1 Villar -Mayor.

S. XIII .

Roteiro da Guarda para a Villa de Linhares , e dahi até à Villa


da Cea , em que ſe contañ lete leguas ao Poente.
Da Guarda a Mifarella 1 , Villa de Gouvea
Prados I Villa de Santa Marinha I
Linhares 1 Villa de Cea
Villa de Mello I

S. XIV .
Roteiro de Lisboa para a Villa de Cea , em que ſe contaõ quarenta
e quatro leguas ao Nordeſte.

Efta derrota faz-ſe partindo de Lisboa para Thomar , até


onde ſe contaó vince e duas leguas. De Thomar ſegue as mel
Tom.III . Part.V. K mas
74 Mappa de Portugal ,

mas eſtradas do caminho , que vay para Pinhel ; mas chega fó


mente a Torrozello , e dahi à Villa de Cea , que he huma legua.
Efta derrota he mais breve , e direita por eſta eſtrada , que pe
la de Coimbra , em que ſe contao quarenta e ſeis leguas , ou
pela de Leiria , em que ha quarenta e ſete leguas.

S. XV .

Roteiro de Lisboa para a Villa de Gouvea , em que ſe contáo qua


renta e oito leguas ao Nordeſte , indo pela eſtrada de carruagens,
De Lisboa à Caſtanheira 8 Ceroache I
Dahi a Ora 2 Cruz dos Moroiſfos I
Eſpinhaço de Caó I Coimbra I
Rio Mayor 1 Mealhada 3
Truquel 1 Mortagua 2
Alcobaça 2 Ponte do Criz I
Aljubarrota IS. Comba Dao I
S. Jorge 1 Cancella I
Batalha I Guarita I
Leiria 2 Carregal 1
Venda dos Machados 1 Oliveira do Conde I
Venda do Gallego I Ervedal 2 1
Pombal 1 Seixo 1
Venda do Diabo I Lagarinhos 2
Redinha I Gouvea I
Condexa 3

Por outro caminho , que ordinariamente ſeguem os Almo.


creves , e pelloas que vaõ a cavallo .
De Lisboa a Santarem 14 | Saras
A Val de Figueira 1 Pereiro
Ponte de Alviella Cabaços I
Ponte de Almonda 1 Vendas de Maria
Golegã I Venda dos Moinhos 1
Atalaya 1 Venda do Paſtor I
Cenceira i Villa - Flor , ou Barrocas do
Guerreira Corvo 1
Thomar 1 Corvo I
Pintado 1 Foz d'Arouce I
Vens
Roteiro Terrefre. 23
Venda- Nova 2 Chamuſca I
153 Ponte da Murcella I Torrozello I
Sobreira I Maceira I
Poços I Santa Comba I
Valle I Lagarinhos
Venda do Porco I Gouvea
Galizes I

$ . XVI .

Roteiro traverſo de Gouvea para a Cidade de Viſeu , em que ſe con


tao ſeis leguas ao Norte.
De Gouvea às Contenſas 2 Tagilde
Meſquitella I Viſeu
Mangualde 1

$ . XVII .

Roteiro de Gouvea para a Praça de Almeida , em que ſe contao


doze leguas ao Nordefte.
De Gouvea a Villa Cortez I Soilo Pires 1
Carrapichana 1 Pinhel
I Pereiro I
Corticó
Celorico I Carvalhal 1
Macal 1. Valverdinho I
I'Almeida I
Baracal

$ . XVIII .

Summario das diſtancias, que ha da Guarda às Villas da ſua Correiçao,

Da Guarda a

Açores 2 Norte . Cea 6 Poente .


Alvoco da Serra , Sudueft. Celorico 3 Noroeft .
Baracal 2 Suſudue.
3 Noroeſt . Codeceiro
Cabra 5 Noroeſt. i Covilha 7 Suſudue.
Caſtro.Verde 6 Poente . Folgozinho 4 Poente .
K ii Fors
76 Mappa de Portugal ,

Da Guarda a

Forno Telheiro 3 Noroeſt . Midões , Poente .


Gouvea s Poente . Molteiro 8 Noroeſt .
Jarmello 3 Sul . Oliveirinha 11 Noroeſt .
Lagos da Beira Io Poente . Seixo
Linhares 3 Noroeſt . S. Romao 7 Poente .
Loriga 8 Sudueft . Torrozello 9 Sul .
Louroſa 10 Poente . Vallazim 8 Poente.
Manteigas 6 Poente . Valhelhas 3 Suludue .
Santa Marinha s Poente. Villa Cova a Coe
Mello s Poente . lheira . Suſudue.
Meſquitella 4 Poente .

CAPITULO VII .
Roteiro de Lisboa para a Villa de Caſtello - Branco , em que ſe cone
tao trinta e ſete leguas ao Nordeſte .
De Lisboa até Abrantes 23 Perdigao 3
De Abrantes a Maçao 4 Cernadas Z
Venda Nova 2 ' Caſtello - Branco 3
T
$ . I.
Roteiro de Caſtello- Branco à Covilhã , em que ſe contaõ onze le
guas ao Norte .

De Caſtello Branco a Alcains 3 , Fundao I


Alpedrinha 3 Covilhã 3
Compoſta I

S. II.

Summario das diſtancias, que ha de Caſtello - Branco às Villas da ſua


Correiçao.

De Caſtello - Brancoa

Alpedrinha s Norte Belmonte Nordeſt .


Atalaya 4 Nordeſt . Bempoſta 16 Naſcent ..
Caf
Roteiro Terreſtre. 77

De Castello - Branco a

Caſtello . Novo s Norte. Salvat.do Eftremo 8 Naſcent.


Idanha a Velha 2 Naſcent. Sarzedas 3 Poente ,
+ Idanha a Nova Ś Nafcent. Segura 7 Nafcent.
Monſanto 7 Naſcent . Sortelha IO Naſcenri
Penagarcia 9 Naſcent. Touro 12 Naſcent.
Penamacor 8 Nordeſt . 1S. Vicente is Norte .
Proença a Velha 6 Nordett . Villa - Velha de
Roſmaninhal 6 Sueſte. Rodao s Sur .
Sabugal I Nordelt. Zibreira 10 Naſcent.

D I v Is A Ở IV .

Roteiros de Lisboa para as principaes povoações da


Provincia do Minbo.

Porçao do Reino mais povoada , e mais fertil he a do


Minho , que , ſegundo os melhores Geografos , tem
A
dezoito leguas de comprido , e doze de largo na ma
yor extensaó de Naſcente a Poente . O rio Minho fepara eſta
Provincia de Galiza pela banda do Norte , pela do Sul confina
ella com a Beira , ao Naſcente a divide a ferra do Maraõ da
Provincia de Trás os Montes , e da parte do Poente lhe ſerve
de moldura o Oceano . He cortada de ſete rios caudaloſos
dos quaes feis vaõ deſembocar ao mar , o Douro , Leça , Ave ,
Neiva , Lima , e Minho , além de infinitos outros rios , que
entrao 110s capitaes , que para commodo dos paffageiros eſtao
fujeitos a mais de duzentas pontes de cantaria lavrada , e ou
tras de pedra coſca , e madeira .
As eſtradas por todo , ou quaſi todo o ambito deſta Pro
vincia , tem todas as circunſtancias , que fazem agradavel o ca
minho aos viajores , e lhes facilita , é fuaviza quaeſquer diffi
culdades , ou aſpereza , que poſlao encontrar. ' Conita de ſeis
A
Comarcas , para as quaes daremos os Roteiros ſeguintes.
CA.
C
78 Mappa de Portugal ,

CAPITULO I.

Roteiro de Lisboa para a Villa de Guimarães em que ſe contad


seſenta leguas ao Norte.

Efta derrota he quaſi a meſma, que havemos aſſinar no ca.


minho de Braga , e por iſſo deixemos de o fazer aqui .

$ . I.

Summario das diſtancias , que ha de Guimarães aos Coutos , Vil.


las , e Goncelhos da ſua Correiçao.

De Guimarães a

Abbadim s Nord . Monte longo 2 Nort .


Aguiar da Penha 10 Naſc. Moreira de Rei
Amarante S Naſc. Ovelha 6
Athei 6 Naſc . ¡ Parada de Bouro
Cabeceiras de Baſto s Naſc . Pedraido
Canavezes ‫گر‬ Pombeiro 1
Cepães Pouſadella
Cerolico de Baſto s Naſc . Refoyos deBaſto
S. Cruz de Riba Tam.4 Ribeira de Pena 8
Felgueiras 2 Naſc . Ribeira de Soás 4
Fonte Arcada Roças s Nort .
Geſtaço 5 Ruivaes 6
Gouvea deRibaTam.s Serva 7
Hermello 7 Taboado
Jalles 12 Thuias 6
S. Joao de Rei 3 Tibães 3. Nort .
Lagioſa Travanca
Lanhoſo 3 Nort . Vieira 3 Nord .
Louſada 3 Nord . Villa- Boa de Roda 4 Nord .
Mancellos Villa- Cahiz s
Meinedo Vimieiro 4 Noro .
Mondim 6 Unhao 2 Sul .
Monte alegre I2
CA
Roteiro Terreſtre. 79

CAP I T U L O II .

Roteiro de Lisboa para a Cidade de Braga , em que ſe contáð fer


ſenta leguas ao Norte,

De Lisboa ao Porto 52 Villa - Nova de Famelicao 1


Do Porto à ponte de Leça Santiago da Cruz I
Ao Caftelejo I A Tabora I
A Carriça Iſ A Braga I
Barca da trofa I

$ . I.

Roteiro traverſo de Braga a Chaves , em que ſe contaõ quinze le


guas ao Nordeſte.

De Braga ao Carvalho Déſte Venda Nova I


Ao Pinheiro i Venda da Serra I
Pardieiros 1 Alturas I
Penedo 1 I Carvalhelhos I
Salamonde 1 Boticas I
Ruivaes 1 Caſas Novas I
Campos Chaves I

CAPITULO IV .

Roteiro de Lisboa para Viana , em que ſe contaö ſeſenta e duas le


guas do Norte.
or
Reparte -ſe eſta derrota em quatro viagens . A Primeira ,
partindo de Lisboa , ſe vay até Santarem , onde fazem quator
ze leguas. Dahi para Coimbra , em que ſe contað vinte leguas.
De Coimbra ao Porto dezoito , e do Porto até Vianna dez , da
maneira ſeguinte.

DeLisb.até à Cidad.do Port.52 Rates


De Port.ao Senhor do Padra5 | A ' terra Negra I
A ' Moreira I Barca de Lago I
A ' Magdalena I Redemoinhos I
Caſal de Pedro 1 Viana 2

$ . I,
80 Mappa de Portugal ,

$ . I.

Roteiro traverſo da diſtancia , que ha de Viana até Melgaço , em


que ſe contaõ doze leguas ao Norte,

De Viara a Caminha 31Monçao 2


De Caminha a Villa - Nova 2 Melgaço 3
A Valença 2

$. II .

Roteiro de Viana para Braga , em que ſe contaö ſeis leguas ao Naſcente.

DeViana à Senhor.dasNeves,IA'Senhora do Bom deſpacho I


A's Boticas I A ' Ponte de Prado I
Ponte de Anhel 11 A Braga I

CAPITULO IV .

Roteiro de Lisboa para a Villa de Barcellos , em que ſe contað sel


ſenta leguas eo Norte .

De Lisb.até à Cidad.do Port.52 , A Lameira I


Do Porto ao Padrao 1 Aos nove Irmãos m.
Ao Convento da Moreira I

O Eſpaço deſta legua he perigoſo de inverno pelos gran


des atoleiros , que ha.
m . Ponte de Arcos m.
A ’ Magdalena
Ao Caſal de Pedro I m.
|Ponte da mulher morta

Neſte tranſito , que he junto da Villa de Rates , ha hu


ma ribeira , que paſſar.

Cacabaya i em.- Barcéllos meya .

De Cacabaya a Barcéllos ha outro ribeiro , que de inverno


he de má paſſagem .

f.I,
Roteiro Terreſtre. 8i

8. I.

Summario das diſtancias , que ha de Barcellos dis terras principass


circumvizinhas.

De Barcellos a

Braga 3. Porto 7
Eſpoſende 2 Rates z
Fao 2 Vianna 4
Fral.es 2 Villa do Conde 3
Guimarães 4 Villa - Nova de Famelicao 3
Ponte de Lima

CAPITULO V.

Roteiro de Lisboa para a Cidade do Porto , em que ſe contaā cin


coenta e duas leguas ao Norte.
De Lisboa até Coimbra 34 ) Albergaria Nova
De Coimbra aos Fornos i Pinheiro da Bempofta
Carquejo 1 Oliveira de Azemeis I
Mealhada 1 S. Joao da Madeira 1
Pedrcira 1 Souto Redondo
Avelans Grejo
I Carvalhos I
Aguada
Sardao 1 Rechoufla
Ponte da Vouga 1 Porto
Albergaria Velha I
I
$ . I.

Summario das diſtancias , que ba da Cidade do Porto às Villas , &


Concelbos circumvizinhos.

Do Porto a

Aguiar de Souſa 3 | Avintes 2


Arrifana de Souſa 3 ) Azurara 4
L Bas
Tom.III . Part . V.
82 Mappa de Portugal ,

Do Porto, a

Bayao 9 Pena fiel 6


Bem Viver Refoyos
Gaya 3 Porto Carreiro
Gondomar meya . | Povoa de Varzina
S. Joao da Foz meya. Soalhães
4 Tibães
Maya
Melres 4 Villa do Conde
Matozinhos 11: Vimieiro

$ . II .

Roteiro do Porto a Ponte de Lima pela eſtrada de Barcellos , em


que ſe contaõ dozė leguas do Norte.

Do Porto ao Padrao da legua i Barcellos


Dahi à Moreira 1 Senhora da Portella
Magdalena Senhora Apparecida
Caſal de Pedro ti Portella de Santo Eſtevao 2
Carvalho 2 Ponte de Lima

Pela eſtrada de Bragà ha treze leguas.

Do Porto à Ponte deLeça | Braga


Caſtellejo I Prado
Carriça I Moure
Trofa
1 Aguáes
Villa -Nova de Famelicao I Ponte Nova
Santiago da Cruz I Ponte de Lima
Teboſa 1

DI .
Roteiro Terreſtre . 83

DIVISA O V.

Roteiros de Lisboa para as principaes povoações, da


Provincia de Tràs os Montes.

Omo ſeja preciſo para haver de entrar neſta Provincia


ſubir os montes do Marað , e as ſerranias do Gerez
dahi veyo chamarſe efta Regiao a Provincia de Tràs
os Montes, que aſſim ſe conlidera reſpectivamente à do?Mi
nho . O ſeu ambito occupa mais de cento e trinta leguas ,
conforme o calculo de Joao Salgado de Araujo , e quaſi que
todo elle he de forma quadrada ; por iſſo advirto , que em co
dos os Mappas deſte Reino . , 'illuminados por Etrangeiros 9
ſe accreſcenta erradamente a eſta Provincia toda a Comarca
1
1 de Pinhel, que percence à Beira .....
He aſpero o ſeu terreno , e por eſſa cauſa as ſuas leguas
faó reputadas por mayores , ainda que as diftancias fejað de
menos paſſos. Reparte-ſe em quatro Comarcas , cujos Rotei
ros ſao os que ſe ſeguem .

1 CAPITULO 1.
Roteiro de Lisboa para a Villa da Torre do Moncorvo , em que
ſe contao Jelenia e tres leguas ão Nordeſte , que ſe reputao
por relenta e Jete.

De Lisboa a Santarem 14.De Santarem a Thomar 8 .

De Thomar fegue o meſmo caminho , que affinámos.de


Lisboa para Trancoſo até Celorico , que fazem trinta ; e dahi
ſe aparta caminhando para S. Martinho , que faó 3

De S. Martinho ao Rabaçal 2 | De Marva ) ao Pocinho 2


Do Rabaçal a Marva) 31 Dahi à Torre do Moncorvo I
Neſta derrota. fe paflað algumas vinte ribeiras , que quaſi
todas tem ponte , o Douro particularmente , e em todas as man
sões ha eſtalagens.
Lii S.I.
Mappa de Pertugal ,

$ . I.

Roteiros traverſos da Villa de Moncorvo para as principaes terras


circumvizinbas , º primeiramente para a Cidade deBragança ,
em que ſe contaõ quatorze leguas do Norte.

D. Moncorvo à Portella I Grijó


Junqueira 1 Val de Prados 1
Santa Comba 2. Quintella 1
Trindade 1 Fernande
Bornes I Sortes 1
Val bem feito 1 Bragança I
Por eſte caminho ha boas eſtalagens, c onze ribeiras , que
ſe paſſað ſem perigo , huma das quaes ſe chama a Villarica ,
que he indo da Junqueira para Santa Comba.

$. II.

Roteiro de Moncorvo para Freixo de Eſpadacinta , em que ſe con


tao cinco leguas ao Nafcente.
Da Torre a Mós 2 - De Mós a Freixo

$ . III.

Roteiro de Moncorvo para a Cidade de Miranda , em que ſe contao


troze leguas ao Nordeſte.
Da Torre a Carvicaes 21 A Sindim 3
Ao Mogadouro 4 A Miranda 2
A Villadella 2

$ . IV.
Roteiro de Moncorvo para Chaves , em que ſe contañ quatorze le
guas ao Norte .
Da Torre à Portella I Rio Torto 1
A Villa - Flor 2 / Val Paflos 1
Meirelles 1 Ervbes 1
Frechas 2 S. Lourenço z
Mirandella 1 | Chaves
Eixes
$ . V.
Roteiro Terrefre. 85

S. V.

Roteiro de Moncorvo para Villa -Real , em que fe contaõ quatorze


leguas ao Noroefte.

Da Torre a Villa - Flor 3 Parafita


1 Abreiro 2 Juſtes
1 Monte febres 2 em . Villa -Real
1 Murça I em .
1
! $ . VI .

Summario das diſtancias , que ba da Villa da Torre de Moncorvo ds


terras da ſua Correiçao.

Da Torre de Moncorvo a

Abreiro S Norn . | Monforte de rio liv . 12 Norna


Agua Revez 9 Poent . Mós 2 m.Poent .

1 Alfandega da Fé 4 Nort . Murça de Panoya 8 Poent.


Anciáes 4 Poent . Nuzellos 9 Nort .
Caftro Vicente Ś Norr . Pinhovello 8 Nord .
Chacim Nort . Sampayo 3 Nort .
Cortiços 7 Norn . Sczulfe 8 Nort .
Frechas 5 Nort . Torre de D. Chama 9 Noro .
Frexiel 4 Noro . Valdaſnes 6 Nort .
Freix.de Eſpadacint. į Sueft. Villas- Boas 4 Nort .
Lamas de Orelhao 6 Noro . Villa - Flor 3 Norn .
Linhares s Poent . Villarinho da Caftan . 3 Poent.
Mirandella 6 Nort.

CAPITULO II .
1
Roteiro de Lisboa para a Cidade de Miranda , em que ſe conta7 fe
1
tenta e ſeis leguas ao Nordeſte , que ſe reputao por oitenta .
į
1 Faz - ſe eſta derrota pelo meſmo caminho , que affinámos
de Lisboa para a Torre do Moncorvo , e dabi para Miranda,
como já fica dito .
$ . I.
86 Mappa de Portugal ,

$ . I.

Summario das diſtancias , que ha da Cidade de Miranda às Villas da


ſua Correiçao .

De Miranda a

Algozo 4 Oesſud. | Rebordainhos 8 Norte.


Azinhoſo Sul Sanſeriz
Bempoſta s Sul . Val de Palto 13 Norte .
Frieira 6 Norte . Villarſeco daLõba 17 Norte .
Mogadouro 7 Sudue . Vimioſo 3 Oesnor .
Penas de Royas -7 Vinha es 13 Nornor.

CAPITULO III.

Roteiro de Lisboa, para a Cidade de Bragança , em que ſe contam


ſetenta e cinco leguas ao Nordeſte.

He eſta viagem pela meſma derrota, que fica aſſinada pa


ra a Torre de Moncorvo , e dahi para Bragança ; porém in
do por outras terras , fe evita huma legua , damaneira ſeguinte .

Do Moncorvo à Portella 1 Fernande


A Santa Comba 21 Quintella de Lampaças I
Burga i Bidoido 2
Bornes I Rebordãos
Val bem feito Bragança I
$ 1.50
$. I.

Roteiro de Bragança para Chaves , em que ſe cantao doze leguas ao


Poente , pela eſtrada dos Correyos.

De Bragança a Grandais I Villa - Verde 1


Caſtrellos | Vinhaes I

Até aqui ſe tem de paſſar os rios Baceiro , e Tuella .

S
Roteiro Terreſtre. 87
Sobreiro 1 | Val d'Armeiro 1
Val Paffos , ou a Curopos | Villartam I

Aqui ſe paſſa o rio Rabacal .

Lebuçao Fayões
Monforte 1 Chaves
Eſtas doze leguas he no tempo de verao , que de inver
no he preciſo rodear tres leguas , por paſſarem as aguas dos
rios acima na ponte de Val de Telhas .

$. II.

Roteiro de Bragança para Miranda , em que ſe conta o nove leguas


2o Sul.

De Bragança à Villa de Ou Dahi a Vimioſo


3
teiro 3 | Dahi a Miranda 3
Por outro caminho .

De Bragança a Rio frio 2 , S. Joanico


Paradinha I Malhadas 2
Quinta de Val de pena I Miranda I

i CAPITULO IV .

Roteiro de Lisboa para Villa Real , em que ſe contaõ cincoenta e


ri
nove leguas do Norte.
1
1 Faz -le eſta jornada pela derrota de Lamego , até onde ſe
contao ۳۲۰
1
De Lameg.ao Pezo da Regoa | A ' Comieira 1
Santa Martha I A Villa -Real I

li Por outro caminho , indo pela eftrada do Porto.


De Lisboa ao Porto 52 |
ilo velha
1 A Val longo 1 Campeam
Baltar 2 Arabães
Arrifana 2 Villa -Real
Villa mea 2
S.I.
88
Mappa de Portugal ,

8. I.

Roteiro traverſo de Villa - Real para a Torre de Moncorvo , em


que ſe conta7 onze leguas ao Suefte.

De Villa - Real a Alvites 1 Abreiro 1


Juftes il Villas - Boas I
Parafita i Villa Flor I
Cadaval I Carraſcal 1
Murça I | Moncorvo 2

$ . II .

Roteiro de Villa - Real para Chaves , em que ſe contai nove leguas


ao Norte .

De Villa - Real a Eſcariz I Sobroſo 2


Amezio i Villa Verde de Oura
Villa Pouca 2 ' Chaves 2

$ . III .

Roteiro de Villa- Real para Mirandella , em que ſe conta7 dez le


guas ao Naſcente.
De Villa -Real a Alvites I Palheiros 1
Juſtes I Franco 1
Parafita I Lamas 1
Cadaval I Mirandella 2
Murça I

$ . IV .

Roteiro de Villa - Real para Amarante , Guimarães . , e Braga ,


que todas lhe ficañ ao Noroeſte.
De Villa - Real a Arabães I A Caramos 1
A Campeam A Caramos
1 Pombeiro I
Ovelha 2 Guimarães I
Amarante
1 Dc Guimar.aos quat . Irmãos 2
De Amarante a Lixa I A Braga I

DI
Roteiro TerreAre. 89

DIVISA VI .

Roteiros de Lisboa para as principaes povoações do


Reino , e Provincia do Algarve.

Em embargo de ſer montuoſa eſta Provincia , he toda


via fertil. Tem dezaſeis leguas de fronteira com Anda
S luzia apartada pelo Guadiana , que ſe nao vadêa . Ac
tendendo à alpereza da mayor parte das ſuas eſtradas , fe re
. putao as leguas por cincoenta em qualquer viagem detta Pro
vincia , ou ſeja pouca , ou muita a diſtancia , que ſe caminha .
Os productos deſte Reino , que conſiſtem em excellen
tes vinhos , uvas , e figos paſlados , amendoas , e em muitos
generos de peixes goſtoſos , ſervem grandemente ao com
mercio , e contrato naó ſó das nações do Norte , que os con
duzem daqui às ſuas terras , mas aos propriosnacionaes , que
por tranſporte vem com elles fertilizar as mais Provincias do
Reino , obrigando- os eſte intereſſe a tranſitar com mais fres
quencia pelas terras deſta Regiao ,

CAPITULO I.
::
Roteiro de Lisboa para a Cidade de Faro , em que ſe contaõ trix .
ta e nove leguas ao Sueft:, as quaes ſe reputão , e coftumaõ
pagarje por cincoenta.
De Lisboa à Moita 3 , Caſtro 3
Aguas de Moura Sembrana 3 em .
Alberges 3 | Amexial 1 3. em .
Quinta de D. Rodrigo 4 S. Bras 5
Figueira dos Cavalleiros 3 Faro 2
Aljuſtrel 4 +
Pou outro caminho .

De Lisboa a Aldea Gallega 31A Viana 6


A Montemór o Novo 121 Alvito
Tom.Ill . Part.V. M Béja
go Mappa de Portugal ,

Béja s Almodovar 3
Entradas s Loulé
Crafto 2 Faro

$ . I.

Summario das diſtancias , que ha de Faro ds terras de feu Termo.

De Faro a

Alagoa z Eſtombar 6
Alcantarilha S Eltoi
Alferce 6 Monchique
algos 4 Nexe 2
Alportel 2 Olhao I
Alvor 7 Pera s
Ameixoeira grande 8 Pixao
Ameixoeirinha 2
7 Quelfez
Santa Barbara 2 S. Joað da Venda 1
S. Bras 2 Silves 7
S. Bartholomeu 6

CAPITULO II .

Roteiro de Lisboa para a Cidade de Lagos, em que ſe contaõ trin .


ta eſete leguas aoSul.

De Lisboa à Moita por mar 31 Villa - Vova de mil fontes 7


Setubal zlodeſeixas 6
Comporta 3 ) Aljefur
Melides 6 Benſafrim 4
Santo André 1
2 ) Lagos

Quem nao quer ir à Comporta , onde o barco he incere


to , pode logo da Moita comar o caminho ſeguinte.
Da Moita à Palhota 21 Alcacer do Sal
A Aguas de Moura f
| Melides

Daqui continúa a eſtrada para diante , como fica dito acima,

f . I.
Roteiro Terreſtre. 01

$ . I.

Roteiros traverſos de Lagos para as principaes terras circumvizi .


nhas , e primeiramente para Faro , em que ſe contaõ onze
leguas ao Naſcente.

De Lagos a Alvor IA' Eftalajem da Nora 2


Dahi a Villanova dePortimao i A ' Quinta de Quarteira I
Ao Lugar da Alagoa i A S. Lourenço do Almancil 2
Ao Lugar de Porxes IA Faro L

Ao Lugar de Pera I

$ . II.
1
Roteiro de Lagos para Silves , em que ſe contaõ quatro leguas
do Nordefte.

De Lagos a Villa - Nova de Dahi a Silves pelo rio , ou


Portimao 2 Dapor terra Z

$ . III .

Roteiro de Lagos para Sagres', em que ſe contaõ fete leguas


ao Suduefte.

De Lagos até à Vill.do Biſpo - Dahi a Sagres ,

. IV .

Roteiro de Lagos para Albufeira , em que le contaõ ſeis leguas ao


Naſcente.
1 De Lagos ao lugar de Pera s - Dahi a Albufeira

$ . V.
1
Roteiro de Lagos para Loulé , em queſe contaõ dez leguas ao Naſsente .

De Lagos à Quinta da Quart.8 - Dahi a Loulé


$ . VI .
Roteiro de Lagos paraTavira , em que ſe contaõ quinze leguas ao Naſc .
i
De Lagos até Loulé 10 - Dahi a Tavira 5
Por Faro ſao dezaſeis leguas .
M ii 9. VII .
Mappa de Portugal ,

. VII .

Roteiro de Lagos para Caſtro -Marim , em que ſe contaõ vinte lea


guas ao.Naſcente.

De Lagos a Tavira 16 - Dahi a Caſtro -Marim 4


Indo por Loulé tao dezanove .

$ . VIII .

Roteiro de Lagos para Alcoutim , em que ſe contað vinte e ſeis


leguas ao Nordeſte.

De Lagos a Caſtro -Marim 20 Dahi a Alcoutim pelo Gua


6
diana , ou pela ſerra

S. IX.

Roteiro de Lagos para a Villa do Biſpo , em que ſe contaõ cinco


leguas ao Sul.

De Lagos ao lugar de Budes 2 | Ao lugar da Rapozeira


1
Dahi ao lugar da Figueira I A ' Villa do Bispo

1 $ . X.

Roteiro de Lagos para a Cidade de Béja , em que ſe contað vinte


e tres leguas ao Nordeſte.

DeLagos ao lugardeOdefcix.7 , A ' Meſſejana 2


A ' Villa de Odemira 4 A Aljuſtrel 1
A ' Aldea de Santa Luzia 41 A Béja 5
3
Por outro caminho mais breve , indo pela ſerra.
De Lagos ao lugar deMon A Gravaõ I
chique 5 Panoyas I
A ' Eſtalajem da Palhota 4 Meflejana I
A ' Igreja de Santa Clara m . | Aljuſtrel I
A S.Martinh . das Amoreir.m . ( Béja . s

1
S. XI.
Roteiro Terreſtre. 93

$ . XI.

Roteiro de Lagos para a Villa de Ourique , em queſe contañ qua


torze leguas ao Norte.

4 Dahi a Ourique
DeLagos as.Martinho das 21P

$ . XII.

Roteiro de Lagos para Evora , em que ſe contaõ vinte e nove lo .


gyas ao Nordeſte.

De Lagos até Meflejana 15 Aguiar


Dahi à Villa de Ferreira 4 Evora 4
Alvito 4

$ . XIII .

Roteiro de Lagos para a Vidigueira , e Villa de Frades, em que


je contaö vinte e tres leguas ao Nordeſte.
I
í De Lagos a Aljuſtrel 16 , Cuba
A ' Aldea do Ervedel 2 Vidigueira , ou Villa deFra
2 des I
Beringel

$ $ . XIV .

Roteiro de Lisboa para Albofeira , em que ſe contaổ trinta e ſeis


leguas ao Sul.
De Lisboa à Moita 3.Val de Santiago 3
Aguas de Moura S. Martinho
Palma 2 Santa Clara 3
Alcacere do Sal 3 , S. Marcos 3
1
Val de Guizios i S. Bartholomeu
Bairos 4 Albufeira 3
1
Alvalade 2
1
Nefta jornada ſe pallað leis ribeiras.

M iii Por
1
94 Mappa de Portugal,

Por Lagos ha 35 leguas c meya , a ſaber :


! De Lisboa a Setubal 6. A Aljeſur
A ' Comporta m. A Lagos 5
A Melides A Alvor 1
A Villa- Nov . de mil font. 6 JA Villa - Noy . de Portim . I
Odereixes 6 A ' Albufeira 4
Por eſta jornada naó ha ribeiras que paſſar.

Pelo Serro do Malhað ha 38 leguas , a ſaber :


De Lisboa à Moita 31A Craſto 3
A Aguas de Moira S A Almodovar 3
A Palma 2 Ao Serro do Malhao : 5
A' Figueira 8 A' Albufeira
A Aljuſter 4
Tem eſta jornada nove ribeiras que paſſar.

As terras principaes , e circumvizinhas a eſta Villa , con


rando de Albufeira até Caſtro Marim , faó eſtas:
De Albufeira a Loulé 31 A Tavira 5
De Loulé a Faro 2 A Caſtro Marim 3

E contando de Albufeira até Lagos.

a Lagos 1
A Alvor IA' Villa

ius. XV .

Roteiro de Lisboa para a Villa de Loulé , em que ſe contaõ trinta


e fete leguas ao Sul.
De Lisboa à Moira 3 Quinta de D. Rodrigo I
Dahi à Palhota 2 Figueira dos Cavalleiros 3
Aguas de Moura 3 Aljuſtrel 4
Palma 2 Caſtro 3
Alberges I Almodovar 3
Val de Reis m. Corte Figueira 3
Porto de Lama m. Loulé 6
Porto delRey 2

Por
-
Roteiro Terreſtre.
95

agu
Por outro caminho mais breve.
De Lisboa à Moita 31Ourique
Setubal 3 Corte Figueira
Santiago de Cacem 10 Loulé
Panoyas 5
i $ . XVI .
1
Roteiro de Lisboa para Villa -Nova de Portimao , em que ſe con

aNav
taõ trinta e oito leguas ao Sul.
De Lisboa a Setubal 6. Villa Nova de mil fontes
De Setubal à Comporta 3 Odeſeixas ;
Melides ó Allezur
Santo André 21 Villa Nova de Portimao

Por outro caminho .

De Lisboa à Moita 31 Val de Santiago 7


Aguas de Moira 5 Palhota ' 6
1 Alcacere do Sal Monchique
Ś 4
Bairos Villa Nova de Portimao

C A P I T U LO III .

Roteiro de Lisboa para a Cidade deTavira , em que ſe contao qua


renta e huma leguas ao Sul , e ſe reputaö por cincoenta .
1
De Lisboa à Moita 3 Entradas 2
A ' Palhota 2 S. Marcos 2 .
Aguas de Moira 3 S. Joao 2
Palma 2 S. Sebaſtiao I'
Alberges I A ' dos Caros 2
Porto da Lama 1 A ' dos Vargens I
1 Porto DelRey 2 Aos Gibes I
Quinta de D. Rodrigo Zambujal 2
Figueira 2 Tavira 7
Aljuſtrel 41

Por outro caminho , indo pela eſtrada de cima .


De Lisboa à Moita 31 Ao Ameixial 7
Da Moita ſegue a meſma eſ. A S. Braz S
trada até Aljuſtr . em q ha 19 A Tavira 4
De Aljuſtrel a Craſto 3 S.I.
96 Mappa de Portugal ,

$ . I.

Summario das diſtancias , que ha de Tavira ds terras da ſua


Correiçao.

De Faro a

Alcoutim 9 Nordeſt. Conceiçao 1


Alce 8 Noroeſt . Do deleice 6 Nort.
Ameixial 9 Fuzeta
Arenilha 4 Giões 9 Nort .
Azinhal t
s Nordeſ . Loulé 6 Pocot.
Azor 7 Luz I
Benafins Martim longo 9 Nort.
Boliqueime & Poent. Moncarapacho 2 Sul .
Cacella 2 Naſcent . Pereiros 7 Nort .
Cachoupo Noroeſt. Sellir 8 Poent.
Santa Catharina 2 Nort . Vaqueiro 6
Caſtro -Marim 4 Nordeſt .)

S. II .
Varios Roteiros por trave fia na viagem do Algarve.
De Lisboa a Lagos SoA' Albofeira 3
DeLagosa Villa-Nova de sol A Faro 2
Portimao 3 A Tavira 5
Daqui a Silves 2 A Caſtro Marim
S
A' Alagoa 3
Nanon

$ . III .
Outra traveſía.

De Lisboa a Sagres rol De Loulé a Faro


De Sagres a Lagos 7 De Faro a Tavira
De Lagos a Villa - Nova 3 De Tavira a Caſtro Marimſ
Daqui à Alagoa 2 Daqui a Alcoutim
Di Alagoa a Albufeira 3 Daqui a Mertola
Da Albufeira a Silves 3 De Mertola para Lisboa 34
De Silves a Loulé
8. IV .
Roteiro Terrefre. 97 .

$ . IV .

Outra traveſía.

De Sagres a Lagos 7 | Daqui a Loulé 3


De Lagos a Villa - Nova 3 Daqui a Faro 2
Daqui a Silves 2 Daqui a Tavira s
De Silves à Alagoa De Tavira a Lisboa 40
Daqui à Albufeira

DISTANCIAS

De Lisboa às principaes terras de Portugal.

De Lisboa a

Abrantes 23 Angeja
Aguas Bellas 20 Arrayolos 18
Alcacer do Sal 14 ) Arega
18i Arruda 6
Alcobaça
Alcochete 3 Allumar
Alcoentre 11 Atalaya 19
Aldea Gallega 3 , Arcuguia IO
da Merciana 9 Aveiro 43
Alegrete 38 Avintes
Alenquer 7 Aviz 25
Alfayates Azambuja IO
Alhandra S | Azeitað 7
Alhos Vedros 3. Barbacena
Aljubarrota 18 Barcellos 59
Alinada I. Barreiro 2
Almeida 60 Batalha 20
Almeirim 15 Béja 24
Alter do Chao 30 Beilas I m.
Alverca 4. Benavente 9
Alvor Boarcos 39
Alvorninha 13 Borba 26
Amarante 62 Braga 60
Tom . III. Part. V. Bra
98
Mappa de Portugal,

De Lisboa a

Bragança 77 Eſgueira 35
Bucellas 4 Eſtremoz 24
Cadaval 12 Evora 20
Caldas 14 Faro so
C ,amora 7 Feira 48
Campo Mayor 33 Figueiró dos Vinhos 28
ă
Carrota 9 Freixo de Eſpadacint
Caſcaes s Galveas
Caſtanheira 7 Gaviam 28
Caſtello -Branco 40. Golega 18
Caſtello de Vide 32 , Gouvea SI
Caſtello -Melhor Guimarães 60
Caſtro Daire Guarda 54
Caſtro Marim So Jerumenha 29
Cea Lafoens
Celorico Lagos 37
Certa Lamego
SS
Cezimbra 6 Lavradio
Chacim Leiria 22
Chamuſca 18 | Loulé so
Chaves 68 Lourinhã IO
Chileiros Mafra 6
Cintra 5 Maçao
Coimbra 34 , Mayorga
Coina 3 Mertola 34
Collares 6 Meſſejana 21
Coruche 14 ) Miranda 79
Covilhã IS Moita 4
Coz 19 Moncorvo 67
Crato 28 Monſanto
Ega Montemór o Novo IS
Elvas 30 o Velho 30
Enxara dos Cavalleiros Moira 30
Ericeira Mourao
Eſcaroupim 11 Mugem
| 12
Na
Roteiro Térreſtre . 99

De Lisboa a

Nazareth 20 Serpa
Niza 16 Setubal
Obidos 14 ! Silveiras 13
Oeyras 3 Silves so
Olivença 3 Sines
4 20
Ourem 25 Sobral 6
Ourique 25 | Soure 30
Orta IZ
11 Tagarro
Palmella S | Tancos 20
Pampilhoſa Tarouca
Pederneira 18. Tavira
so
Pegoes 8 Tentugal 35
Pedrogao Pequeno 32 Thomar 22
Penamacor 50.Tibaens
Peniche 12 /
Torrao 18
Perucha 25 Torres Novas 19
Pernes 18 Torres Vedras 7
Pias Trancoſo
55
Pinhel SS Vallada IZ
,1 Pombal 28 Valladares 76
Portalegre 32 Valença do Minho 70
Porto 52 da Beira
Porto de Mós 19 Varatojo 7
Povos 7 Viana do Alentejo 21
Punhece 21 do Minho 62
Rabacal 30 Vendas Novas II
Rates Vidigueira 25
Redinha 28 Villa do Conde 57
Redondo Vialonga 3
Salvaterra de Magos 10 Villa - Flor
Sampayo Villa Franca 6
Sandomil Villa Nova de Cerveira 76
Santarem 14 Villa - Real
70
Santiago de Cacem 22 Villa . Verde 9
Sardoal 241 Villa - Viçoſa z6 m .
Vile
100
Mappa de Portugal ,

De Lisboa a

Villar Mayor Ulme 16


Vimieiro 21 Unhao
Viſeu 47 ' Unhos 2

F I M.

Hic labor extremus , longarum bæc meta viarum ,


Hinc me digreffum veftris Deus appulit oris.
LÆneid. 1.3. ]

1
.
.

1
Österreichische Nationalbibliothek

+Z155808805

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