A Defesa Do Amazonas No Período Pombalino
A Defesa Do Amazonas No Período Pombalino
A Defesa Do Amazonas No Período Pombalino
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DELSON, Roberta Marx. Novas Vilas para o Brasil-Colônia: planejamento espacial e social no século XVIII; [Tradução e
revisão, Fernando de Vasconcelos Pinto]; Brasília: Ed. ALVA-CIORD, 1997; p. 59.
padrões europeus, e se tornou modelo para as futuras instalações na região. Concretizando as
aspirações da Coroa para manutenção da região.
Mas Macapá, não dispunha de uma estrutura de defesa suficiente para impedir a
entrada de estrangeiros no rio Amazonas, sendo um fator de preocupação para Mendonça
Furtado e seus sucessores no governo. A Fortaleza de Santo Antônio se encontrava em ruínas,
e ultrapassada para as construções defensivas da época. No lugar desta antiga guarnição
militar foram elaborados vários projetos para a construção da fortaleza que viria a ser
denominada São José de Macapá. Esta esperou bastante tempo para sua construção ser
iniciada, enquanto se esperava a construção definitiva da fortaleza foram realizadas obras
provisórias para guarnecer o Macapá.
Em 1761, o governador Manuel Bernardo de Melo e Castro, ordenou a construção de
uma guarnição militar, na margem direita do rio Curiaú, na confluência com o Amazonas, que
passou a ser chamada de Vigia do Curiaú.
Foi construída uma casa para o corpo da guarda e uma guarita, numa distância de 70
braças, isto é, 150 metros da terra firme, em cima de um banco de lodo e areia, ligada à
margem por uma ponte. Todo o trabalho foi executado em madeira. Em 31 de julho de
1762, a obra foi concluída.5
O objetivo do estabelecimento era vigiar uma parte do Amazonas, que não poderia ser visto
do reduto de Macapá. Do local era possível avisar a guarnição de Macapá sobre a
aproximação de qualquer navio inimigo.
Dois anos após a construção da Vigia do Curiaú é que tiveram início às obras da
Fortaleza São José de Macapá, e só viria a ficar pronta em 1782. Em 1764, durante o governo
de Ataíde Teive, é que o projeto definitivo para a Fortaleza foi aprovado. O projeto
apresentado foi da autoria do engenheiro italiano Henrique Antônio Galuzzi; este participou
da primeira expedição demarcatória durante o governo de Furtado. Ele planejou uma
“fortificação regular, de forma quadrada, com baluartes nos ângulos e uma série de obras
exteriores: um fosso aquático que cercava a fortaleza a norte e oeste, e diante deste dois
revelins ligados ao corpo da praça por pontes; a sul e leste os fossos seriam secos, cobertos
por um pequeno revelim a sul e um hornaveque a leste”.6 Trata-se de uma fortaleza complexa,
do ponto de vista da engenharia militar da época.
5
MORAIS, Paulo Dias; ROSÁRIO, Ivoneide Santos do; MORAIS, Jurandir Dias.O Amapá na mira estrangeira: dos
primórdios do lugar ao laudo suíço. Macapá: JM Editora Gráfica, 2003. p. 24.
6
ARAUJO, Renata Malcher de. As Cidades da Amazônia no Século XVIII – Belém, Macapá e Mazagão. 2ª edição; Porto
(Portugal): FAUP Publicações, 1998. p. 190.
A construção da Fortaleza se estendeu por 18 anos, sendo inaugurada em 1782. A
Fortaleza constituiu-se em uma das duas maiores do Brasil, junto com o Forte Príncipe da
Beira, localizado no atual estado do Mato-Grosso.
A ereção da fortaleza integrava os planos de ampliação das fronteiras da região,
definidas, inicialmente, pelo Tratado de Madrid (1750), e posteriormente, pelo Tratado de
Santo Idelfonso (1777). Este último reconhecia e legitimava aposse do território amazônico
pretendido pelos portugueses. Com a missão de povoar e defender as Terras do Cabo Norte a
qualquer custo, é que Ataíde Teive, resolve fundar uma vila próxima a de Macapá. A vila
viria a dar suporte a Macapá, caso a fortaleza fossa atacada.
A defesa está alicerçada não apenas nas obras de engenharia. Requer homens, requer
suporte de mantimentos, sobretudo sob a ótica da ‘guerra de cerco’. Outras povoações
seriam necessárias para dar suporte a Macapá. 7
Dessa maneira é que, em 1767, o desembargador Feliciano Ramos Nobre Gusmão foi
encarregado das obras da Vila Vistosa da Madre de Deus. O local escolhido foi ás margens do
rio Anauerapucu, que deságua no Amazonas. No ofício de 5 de janeiro de 1773 o governador,
João Pereira Caldas, escreve para Martinho de Melo e Castro. Na carta ele descreve a
localização de Vila Vistosa e o meio que a mesma utiliza para comunicar-se com Macapá:
Esta povoação fica tão bem vizinha do Macapá, e em menor distância, que a Villa de
Mazagão; e pelo que me dizem, talvez possa admitir comunicação por terra com o
Macapá, ainda que a interrupção com o Rio Matapî, que sempre se necessitará de barca
ou de canoas para se atravessar; achando-se a dita povoação no Rio Anarápecû, e por
ele dentro bastantemente, de forma que por esta circunstância, se gasta até ali, por água,
dobrado tempo, que para Mazagão se necessita.8
Em seis meses foram erguidas 112 casas de madeira em Vila Vistosa e iniciada a construção
da igreja. Para povoar a Vila vieram filhos das Ilhas e do reino. Vila Vistosa da Madre de
Deus surge para complementar o sistema de defesa e de povoamento da região amazônica.
Em 1769, quando a arregimentação de colonos para a região se tornava cada vez mais
difícil, Mendonça Furtado informa ao governador, Ataíde Teive, sobre a decisão régia de
transferir a população de Mazagão, ultima possessão portuguesa no Marrocos, para a região
amazônica. Ele sugere o local para a nova Vila que receberia o mesmo nome da possessão do
Marrocos. Nova Mazagão, vila fundada em 1770, foi construída obedecendo a uma dupla
necessidade da Coroa: defender o território das nações estrangeiras e povoar a região. Nova
Mazagão viria a completar o quadro defensivo da foz setentrional do Amazonas. Com a
instalação de Mazagão às margens do rio Mutuacá, o sistema defensivo das terras do Cabo
7
Arqueologia em Vila Vistoza da Madre de Deus. Artigo disponível em
http://www.magmarqueologia.pro.br/VilaVistoza.htm, 31/08/2006.
8
AHU_ACL_CU_013, Cx. 69, D. 5938.
Norte ficaria completo, com a formação de um triangulo defensivo na foz setentrional do
Amazonas, de acordo com a vontade da Coroa.
O sistema de defesa foi montado com base na bacia hidrográfica do Amazonas; tanto
Vila Vistosa quanto Mazagão foram estabelecidas às margens de rios que deságuam no
Amazonas.
9
LUCENA, Veleda. . O Forte de Óbidos: uma visão arqueológica. Recife: 1996. p.05-07.
10
ALBUQUERQUE, Marcos. Arqueologia Histórica, Arquitetura e Restauração. CLIO, Revista do Curso de Mestrado em
História da UFPE. Recife, 1992.
11
Disponível em http://www.magmarqueologia.pro.br/FortalezaSaoJoseMacapa.htm , 28/08/2006.
dimensão do fosso que circundava a Fortaleza e o caminho coberto, além de localizado o
redente. Também foi possível o resgate de técnicas construtivas utilizadas no período para a
ereção da obra de alvenaria na margem alagadiça do rio Amazonas.
Em seguida, foram realizadas escavações no atual município de Mazagão onde foram
identificados os vestígios remanescentes da vila Nova de Mazagão, fundada durante o período
pombalino na Amazônia. Foram localizados os restos da primitiva igreja e identificados
vestígios de outras unidades funcionais que ainda não foram identificadas.12
As escavações arqueológicas em Mazagão revelaram a adaptação no projeto da Vila,
pois a igreja foi localizada em um local diferente do estabelecido no projeto. Esta unidade
funcional foi construída utilizando alvenaria tanto de tijolos como de pedras. Em todas as
paredes havia uma estrutura armada de madeira. Na documentação textual existem vários
pedidos de materiais para a construção da vila. A utilização de parte de tijolos e parte de pedra
das paredes da igreja mostra a adaptabilidade dos construtores em situações de arcassez de
material. Como também a argamassa utilizada ser ora de cal, que era o material ideal, ora de
barro, que era utilizado em situações de escassez de material, reforçam a afirmação.
Outro aspecto relevante na ereção da igreja percebida tanto na documentação textual
como na material, foi o tipo de sistema construtivo utilizado para o levantamento das paredes;
processo este que se baseava na introdução de longas estacas de madeira de Acapú, nos
alicerces da construção, de forma seqüencial, havendo entre as estacas intervalos regulares
que foram preenchidos com pedras. Dessa forma foram erguidas as paredes da igreja.
Também percebemos a utilização desta técnica construtiva nas ruínas da igreja de Vila
Vistosa da Madre de Deus, cidade que juntamente com Mazagão complementava o sistema
defensivo de apoio a Fortaleza São José de Macapá.
No documento referente à Vila Vistosa da Madre de Deus, datado de 13 de dezembro
de 1772, relata a técnica construtiva ideal para a ereção da igreja:
A Igreja está por terra, servindo de Matriz uma casa com paredes de palha, tão
indecente que os Prelados não consentem que nela se exponha o Senhor. A mesma
[havendo-o] Vossa Excelência por bem se podia fazer de madeira de Acapú com
intervalos de pedra, que se acha junta, e supoto que miúda é suficiente para a dita obra,
ou de taipa de pilão pois é a terra durável para esta obra.13
12
Arqueologia de Mazagão Velho, p. 2. Artigo disponível em www.magmarqueologia.pro.br; 28/08/2006.
13
AHU_ACL_CU_013, Cx.69, D. 5938.
Em relação às ruínas da Vila Vistosa da Madre de Deus foram localizadas pela equipe
do Laboratório de Arqueologia. No local ainda não foram realizadas escavações, mas foi
efetuada a supressão da vegetação arbórea para evitar a danificação das estruturas localizadas.
As intervenções arqueológicas possibilitaram o resgate do sistema defensivo e de
povoamento da região, colaborando para a preservação desses patrimônios históricos que são
de fundamental importância para a história do Amapá. Além disso, os achados elevaram o
potencial turístico da região do Amapá.
Toda a estrutura defensiva montada durante esse período foi de fundamental
importância para a configuração territorial que temos atualmente do Brasil. O triângulo
defensivo montado para a foz esquerda do rio Amazonas baseado na Vila de Macapá, Vila
Vistosa da Madre de Deus e Vila Nova de Mazagão foi parte integrante de um sistema bem
mais amplo montado para defesa e manutenção da região em mãos lusitanas.
BIBLIOGRAFIA
ARAUJO, Renata Malcher de. As Cidades da Amazônia no Século XVIII – Belém, Macapá e
Mazagão. 2ª edição; Porto (Portugal): FAUP Publicações, 1998.
DELSON, Roberta Marx. Novas Vilas para o Brasil-Colônia: planejamento espacial e social
no século XVIII. [Tradução e revisão, Fernando de Vasconcelos Pinto]; Brasília: Ed. ALVA-
CIORD, 1997, C1979.
REIS, Nestor Goulart. Evolução Urbana do Brasil: 1500-1720. 2ª ed. rev. e ampl., São Paulo:
PINI, 2000.
ARTIGOS
ALBUQUERQUE, Marcos. “Arqueologia Histórica, Arquitetura e Restauração” in CLIO,
Revista do Curso de Mestrado em História da UFPE. Recife, 1992.
ARTIGOS DIGITAIS
ALBUQUERQUE, Marcos. Arqueologia de Mazagão Velho. Disponível em
http://www.magmarqueologia.pro.br/MazagãoVelho.htm, 31/08/2006.
SILVA, José Manuel Azevedo e. Mazagão. De Marrocos para a Amazônia. Artigo disponível
no site http://www.chsc.uc.pt/biblioteca/digital/007.htm , 27/08/2006.
Texto disponibilizado pelo site Brasil Arqueológico - Equipe do Laboratório de Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco - http://www.magmarqueologia.pro.br/
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ANDRADE, R.N.. A defesa do Amazonas no Período Pombalino: uma visão arqueológica. In: ENCONTRO ESTADUAL DE HISTÓRIA DA UFRPE - HISTÓRIA, CULTURA E
SOCIEDADE, 6., 2006, Recife. Anais... Recife: UFRPE, 2006. CD ROM.