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Jornal modifica o debate de id�ias com suplementos como Ilustrada, Folhetim e Mais! CASSIANO ELEK MACHADO DA REPORTAGEM LOCAL No primeiro n�mero da Folha, em 1921, os assuntos culturais cabiam em duas perninhas de texto, que informavam o que se passava "pelos cinemas", "pelos sal�es", "pelos circos" e "pelos theatros". As pernas cresceram. Viraram p�ginas, cadernos e andaram muito al�m de sal�es, circos, cinemas e teatros paulistanos. Aos 80, a Folha chega a ter, com a publica��o do caderno di�rio Ilustrada, do semanal Mais! e do mensal Jornal de Resenhas, cerca de cem p�ginas de jornal voltadas para a cultura em uma semana. As pegadas que levam at� esse ponto foram feitas ao longo das d�cadas. Mas os principais passos est�o nos anos 70 e 80. O dia 23 de janeiro de 1977 � um dos come�os. Nessa data circulou a primeira edi��o do suplemento semanal Folhetim. Criado pelo jornalista Tarso de Castro (1941-91), o caderno em formato tabl�ide (metade do tamanho padr�o de uma folha de jornal) nasceu com uma atitude caracter�stica dos chamados �rg�os alternativos. Assim como em um dos mais relevantes deles, "O Pasquim", que Castro ajudara a desenvolver, o suplemento � marcado inicialmente por humor e irrever�ncia. O Folhetim era uma extens�o para a grande imprensa de um jornalismo cultural de esquerda n�o ortodoxo. Nessa primeira denti��o, o suplemento funcionava como uma esp�cie de revista da semana, sendo feito sobretudo por jornalistas e cartunistas. Ainda antes da chegada dos anos 80, o Folhetim inicia uma aproxima��o com a universidade. Edi��es passam a discutir temas sociais e pol�ticos, cuja mat�ria-prima vinha de debates organizados pelo suplemento no audit�rio do jornal. Esse relacionamento com a produ��o universit�ria � estreitado no in�cio dos anos 80. "No come�o da d�cada houve um trabalho de trazer de volta a capacidade cr�tica de pensamento, trazer para o jornal a academia que fazia reflex�es culturais e pol�ticas importantes", conta Caio T�lio Costa, diretor-geral do Universo Online, que coordenou o Folhetim entre 1981 e 1982, quando editou a Ilustrada (� qual o Folhetim era subordinado). Nesses anos, os dois cadernos come�aram a viver suas mudan�as mais profundas. Tanto o Folhetim quanto sua irm� mais velha e di�ria, a Ilustrada (criada em 1958 por Jos� Nabantino Ramos com a id�ia de que o primeiro caderno ficaria com o marido e, o segundo, a Ilustrada, com a mulher), passam a tratar da cultura como um mercado. O suplemento semanal se encarrega de produzir reflex�es sobre a ind�stria cultural, abrindo o espa�o _que antes era usado s� por jornalistas_ para uma nova intelig�ncia brasileira, tamb�m empenhada em debater o processo de redemocratiza��o. A Ilustrada atua na cr�tica de produtos espec�ficos, atividade desenvolvida com base na id�ia de que os objetos culturais, sejam eles livros, discos ou filmes, deveriam ser tratados tamb�m como produtos, obedecendo, portanto, �s leis do mercado. Quatro grupos participaram dessa renova��o do jornalismo cultural da Folha, sendo dois deles de jornalistas. Os primeiros vinham de experi�ncias na imprensa estudantil e alternativa. Eles se integraram a uma equipe de jornalistas culturais como Paulo Francis, S�rgio Augusto e Ruy Castro, que passaram por "O Pasquim". Completavam o quadro um grupo oriundo da universidade, sobretudo da USP, e o c�rculo dos concretistas, formado tanto por poetas como Haroldo e Augusto de Campos e D�cio Pignatari como por uma gera��o mais jovem ligada a eles. Ganha espa�o no papel-jornal uma cultura menos envolvida com a milit�ncia pol�tica, caracter�stica das d�cadas anteriores. "A Folha combate um populismo nacionalista que havia nos cadernos do per�odo, questiona abertamente a pol�tica da esquerda oficial, que receitava Jorge Amado, Ferreira Gullar, a busca das ra�zes brasileiras", narra o diretor editorial do jornal de esportes "Lance!" Marcos Augusto Gon�alves, que chefiou o Folhetim quando foi editor da Ilustrada (1984-1985 e 1986-1987). A nova antena da Ilustrada (e de certo modo do Folhetim, mais sintonizado com a dita alta cultura, da literatura � filosofia) capta a cria��o das vanguardas culturais, a cultura pop, os grupos de rock. Era um jornalismo cultural menos militante, mais provocativo, pol�mico, disposto a questionar dogmas. "Essa iconoclastia da Ilustrada refletia o momento hist�rico, em que estava sendo tirada a tampa do caldeir�o. Durante os anos militares, todos falavam a mesma linguagem. Eram todos contr�rios ao governo militar. Quando abriram a panela de press�o, apareceram discursos muito diferentes", lembra Matinas Suzuki Jr., vice-presidente de conte�do do portal de Internet iG e ex-editor da Ilustrada (1982-1984 e 1985-1986), que viria a ser editor-executivo da Folha. Com o in�cio da "Nova Rep�blica", em 1985, o caldeir�o da Ilustrada borbulha uma vis�o antiestatal, combatendo o paternalismo do Estado. A Ilustrada abre fogo, ent�o, contra a Embrafilme, estatal que produzia e distribu�a cinema nacional, polemiza com as diretrizes do Minist�rio da Cultura e da Funarte, que o caderno batiza de "cultura da broa do milho" (leia o texto "Todas as vers�es de um mesmo fato"), combate a censura que o governo Sarney faz � exibi��o do filme "Je Vous Salue Marie", do cineasta Jean-Luc Godard, em 1986. Em 1989, o Folhetim deixa de circular, depois de 636 edi��es. No lugar, � criado o caderno Letras, que acompanha com uma linguagem mais jornal�stica a produ��o do mercado editorial. Tr�s anos depois, a Folha lan�a o caderno Mais!, que absorve o suplemento Letras e promove uma esp�cie de fus�o entre o jornalismo que havia sido elaborado pelo Folhetim e o da Ilustrada. "O Mais! � a revolu��o permanente do jornalismo cultural da Folha. Seu objetivo sempre foi informar o leitor sobre os principais debates desta �poca, segundo um modelo em que atitude jornal�stica e reflex�o intelectual n�o se contradizem", diz Alcino Leite Neto, atual editor de Especiais da Folha, que editou o Mais! entre 1994 e in�cio de 2000. O cap�tulo mais recente na linha do tempo do jornalismo cultural da Folha foi a cria��o, em 1995, do caderno Jornal de Resenhas, feito em parceria com universidades. |
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