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Colunistas e chargistas da Folha revelam seu dia-a-dia e falam de sua rela��o com o jornal



ANGELI





BARBARA GANCIA
Dias de uma Recruta Zero

Hoje encaro como se tivesse sobrevivido ao teste do CPOR na selva amaz�nica. Meus primeiros meses na Folha foram os de um Androcles sem le�o condescendente.

Minha fun��o era rechear cem linhas di�rias de uma coluna intitulada "Estilo e Prazer", na Ilustrada.

De estilo, s� recebia o sil�ncio ginasial dos colegas a cada manh� no elevador, quando eu sussurrava um autom�tico "bom-dia". O mau humor era o "zeitgeist" dos idos anos 80.

Prazer, ent�o, n�o me lembro de ter sentido nem mesmo nas raras vezes em que dei conta de entregar a coluna na hora certa e no tamanho previsto.

Um dos mimos que me aguardavam regularmente era topar o grande Cl�udio Abramo batucando sereno na m�quina de escrever que me era reservada, como se estivesse de pantufas no aconchego de sua sala.

Eu me lembro de todas as vezes em que fiquei l� contando os minutos, im�vel feito um pirulito, com o mito me dando as costas, sem que ele percebesse a exist�ncia desta Recruta Zero com uma tarefa do tamanho de um bonde para cumprir.

Reda��es s�o locais habitados por seres que n�o conseguiram se desvencilhar da vida escolar. E o trabalho consiste em fazer uma li��o de casa depois da outra. � um ambiente que apetece a pessoas como eu, que respeitam a hierarquia e s�o afeitas � atmosfera greg�ria do col�gio.

Quando entrei na Folha, em 1984, Paulo Francis era correspondente do jornal em Nova York. Eu tinha aprendido a ler s� para ler o Francis e n�o me passava pela antec�mara do cr�nio que ele pudesse se materializar na Reda��o da Bar�o de Limeira. Foi em um daqueles dias terr�veis dos prim�rdios na Ilustrada que um Borba Gato estacionou, de golpe, ao lado da minha mesa: "A senhorita poderia me informar onde fica a Primeira P�gina?". Aaaah! Eu me pus a gritar: "Pensei que o senhor n�o existisse, que fosse s� um capricho da minha imagina��o!".

Francis correu para o outro lado da Reda��o. Sorte minha que Ruy Castro tomou as r�deas e, naquela noite, levou-nos para jantar.

Barbara Gancia � colunista da Folha



CARLOS HEITOR CONY
Testemunha de um jornal nacional

Nascido e criado no Rio, nunca levava a s�rio a imprensa dos Estados, nem mesmo a de S�o Paulo, que nada ficava a dever � da ent�o capital da Rep�blica.

Na cobertura esportiva, a imprensa paulista era provinciana. Na pol�tica, parecia pretensiosa, querendo dar conselhos at� mesmo a governos estrangeiros.

As diferentes Folhas, que se sucederam ao longo do tempo, come�aram a dar prioridade � not�cia e, de certa forma, ao leitor. Uniram-se na Folha, dando o pulo do gato. Esta, modernizando-se graficamente e tornando seu conte�do nacional, superou os jornais do Rio em mat�ria de opini�o e afinidade com as urg�ncias da sociedade, sobretudo daquela que emergiria ap�s o regime militar, em 1985.

A hist�ria � por demais recente para lembr�-la aqui. A Folha inaugurou a pluralidade de opini�es e soube evitar a partidariza��o de seu editorial. Reclamam que ela publica artigos de contradit�rios escaninhos da sociedade, quando � exatamente nessa abertura do pensamento nacional que reside a sua for�a e sua independ�ncia.

No in�cio dos anos 60, eu era colunista da Folha, revezando-me com Cec�lia Meireles na p�gina de opini�o. Dois cronistas do Rio, por sinal, em que pesasse a diferen�a entre a grande poeta e o modesto jornalista.

Uma temporada no exterior e deixei de colaborar com a Folha, at� que, oito anos passados, com a morte de Otto Lara Resende, respons�vel pela coluna do Rio, na p�gina A-2, ocupei o seu lugar, embora n�o tenha chegado a substitu�-lo.

Sou testemunha da grande influ�ncia que o jornal exerce em todo o territ�rio nacional. De capitais onde �rg�os da imprensa regional reproduzem minhas cr�nicas, recebo cartas e e-mails de leitores que s� me l�em na Folha e n�o no ve�culo local. O mesmo acontece com outros colunistas.

Da� que podemos considerar a Folha, mais do que um jornal, uma grife. Com a �bvia exce��o do autor destas mal tra�adas, um referencial da nossa atualidade, marcado pela compet�ncia e pela seriedade.

Carlos Heitor Cony � colunista e membro do Conselho Editorial da Folha



CL�VIS ROSSI
No in�cio, com os dois p�s atr�s

Vim para a Folha com um p� atr�s. Ou, para ser bem sincero, com os dois.

Natural: a rigor, nasci e cresci profissionalmente no jornal concorrente (o "Estado"), ouvindo falar o diabo de Octavio Frias de Oliveira, o publisher da Folha.

Por isso foi uma surpresa agrad�vel, ainda que assustadora, o primeiro contato com ele. Era 1980, a extrema direita promovia atentados a bancas de jornais e a pessoas ou institui��es ligadas � defesa dos direitos humanos, para torpedear a abertura pol�tica em andamento.

Escrevi um texto dizendo que, se se quisesse chegar aos respons�veis, bastava investigar o Doi-Codi (Departamento de Opera��es Internas/Centro de Opera��es de Defesa Interna, o cora��o do sistema repressivo do regime militar). A prop�sito: o atentado ao Rio-Centro, no ano seguinte, s� provaria que minha tese era absolutamente correta.

No mesmo dia em que saiu o texto, o sr. Frias ligou para minha casa e perguntou se eu n�o gostaria de passar uns dias refugiado em sua granja em S�o Jos� dos Campos, no interior de S�o Paulo, at� que as coisas se acalmassem.

Recusei a oferta, n�o por valentia mas pela surpresa.

Poucos anos depois, ocorreu outro epis�dio que me fez retirar os p�s de tr�s definitivamente.

Incumbiram-me de preparar um perfil de Jos� Serra, que deixava o governo Franco Montoro para iniciar a escalada que o levaria a ser estrela nacional de primeira grandeza (at� hoje).

Sabia que Serra havia trabalhado anos ao lado de Frias, como editorialista, antes de entrar para o governo. Era, claramente, o prot�tipo do "amigo da casa". E os usos e costumes da m�dia brasileira n�o permitem que "amigos da casa" sejam retratados imparcialmente (negativamente, ent�o, nem se fala).

Para piorar as coisas, quem falava bem de Serra n�o se importava em dar o nome. Quem falava mal pedia o anonimato. Fui conversar com o pr�prio Serra, como manda a praxe.

Ele s� pediu um coisa: "N�o diga, por favor, que sou o Delfim Netto do PMDB (seu partido � �poca). � falso e injusto".

Concordei, fiz o texto, que saiu bonitinho, direitinho. Mas a Dire��o de Reda��o (suspeito que o pr�prio Otavio Frias Filho) mandou inserir um quadro ("box", no jarg�o jornal�stico) cujo t�tulo era algo como "Serra � o Delfim Netto do PMDB".

Pensei: se nem os amigos da casa s�o intoc�veis, n�o h� intoc�veis neste jornal. �timo para os profissionais e melhor ainda para o leitor.

Cl�vis Rossi � colunista e membro do Conselho Editorial da Folha



GLAUCO




GILBERTO DIMENSTEIN
Gilberto Dafolha

Quando estou trabalhando, nem sempre tenho paci�ncia de soletrar meu sobrenome, composto de seis consoantes mescladas com quatro vogais; para complicar, bem no meio colam-se "n" e "s".

Para simplificar a vida das secret�rias e livrar-me da irritante soletra��o homeop�tica, recorro a um recurso infal�vel: Gilberto, da Folha, sugiro.

Muitas vezes, o caminho � inverso. Quando me apresento a algum desconhecido, ele pr�prio trata de trocar meu sobrenome: "Voc� � o Gilberto, da Folha?".

O sobrenome "Dafolha" pode significar muitas coisas ao mesmo tempo, dependendo da vis�o que o interlocutor tenha do jornal: arrogante, ousado, corajoso, pessimista, oposicionista, criativo, briguento, leviano, independente, sensacionalista, inovador.

Vejo os olhares intrigados, exigindo uma defini��o, um convite para que eu me localize _e me explique_ no caleidosc�pio de imagens do jornal, como se a Folha tivesse poderes gen�ticos capazes de alterar meu DNA.

Entre os s�culos 17 e 18, na Europa, os judeus desenvolveram o h�bito de registrar sobrenomes associados �s suas atividades profissionais: Goldman deveria trabalhar com ouro; Schneider deveria ser alfaiate. Talvez meus ancestrais, na Pol�nia, lidassem com lapida��o de diamantes.

Trabalhando neste jornal h� 16 anos, acabei por reproduzir esse costume: a Folha entrou no meu sobrenome porque _desculpe o chav�o de festa de final de ano em empresa_ entrou na minha esfera familiar.

Irrito-me com o jornal como me irrito com um irm�o ou um tio desastrado. Desagrada-me aqui um certo tom de cr�nico pessimismo diante da vida. Tamb�m n�o gosto de um exagero oposicionista, que, muitas vezes, me parece adolescente, destinado a provar independ�ncia. Critica-se muito, o que � correto. Elogia-se muito pouco, o que considero uma falha. Talvez estes 80 anos, uma data magicamente redonda que se presta a lembrar "nem 8 nem 80", mostrem que j� estamos bem maduros para o equil�brio entre a cr�tica e o elogio.

Ficaria mais satisfeito se o jornal fosse menos objetivo e mais militante a favor de causas sociais, levantando bandeiras. � a tal hist�ria do Narciso, retomada por Caetano Veloso: achamos feio o que n�o � espelho.

Olhando al�m do espelho, minhas cr�ticas s�o um detalhe. A beleza do jornal � sua disposi��o permanente para mudar, melhorar, rever, ouvir cr�ticas, reciclar-se. Aprender.

A Folha tem sido, para mim, um campo de experimenta��o, repartido entre Bras�lia, Nova York e S�o Paulo. Lambuzei-me at� a alma na reportagem investigativa _das den�ncias de corrup��o �s revela��es sobre viol�ncia contra crian�as_, de Nova York, pude retratar o impacto da sociedade de informa��o e, ao voltar a S�o Paulo, tento mostrar o que acredito ser o renascimento de uma cidade.

Sempre que ganhava pr�mios (e foram muitos, felizmente), dividia-os com o jornal. N�o por humildade, mas por pragmatismo funcional. Sei que n�o teria chegado aonde cheguei sem meu esfor�o pessoal. Mas tamb�m n�o teria ido t�o longe sem o est�mulo e o amparo _� imprescind�vel citar especificamente Otavio Frias Filho.

As viv�ncias em Bras�lia, Nova York e S�o Paulo fizeram com que eu pudesse testar aqui a conflu�ncia das linguagens do jornalismo e da educa��o, produzindo livros e curr�culos para levar o cotidiano aos estudantes _talvez a principal resultante de meu aprendizado, que mescla Reda��o com sala de aula.

Para mim, a Folha � a segunda fam�lia e a segunda escola: fam�lia e escola s�o duas das grandes for�as que comp�em e moldam a identidade de um indiv�duo.

O sobrenome "Dafolha" n�o �, portanto, a solu��o para meu excesso de consoantes, mas a pr�pria constru��o de uma identidade.

Gilberto Dimenstein � colunista e membro do Conselho Editorial da Folha



LAERTE




JOS� SIM�O
Quero apagar 13 velinhas!

O bom de trabalhar na Folha � que todo mundo l�. E o bom de trabalhar na Folha � que ningu�m amola. S� me ligam desejando feliz Ano Novo. A n�o ser, claro, a Ilustrada cobrando a coluna. Parecendo r�dio-rel�gio: "S�o 12h33, a coluna est� pronta?". "S�o 12h47, j� mandou a coluna?" "Al�, � o Sim�o?" "N�o, � O PRIMO DELE!" E o bom de trabalhar na Folha � garantir a ra��o do Billy e as f�rias em Miami!

E o bom de trabalhar na Folha � quando dizem que a Folha � pessimista. Sendo que o otimista � um pessimista mal informado! E dizem tamb�m que a Ilustrada s� noticia banda alem�. O que � uma injusti�a. Tem at� palavras cruzadas. Pra estudante de filosofia! O que eu mais gosto na Folha � do Sarney e da Aline. Dos t�tulos do Sarney, "A vaca e a Internet" e "Adeus � ves�cula".

E a Aline das tirinhas do Ad�o. A tarada sem culpa!

E o que eu mais gosto de trabalhar na Folha � que fui pra Fran�a em 98 no mesmo avi�o que o Janio e o Cony, e o povo dizia: "Se o avi�o cair, acaba a oposi��o no Brasil". E pra entrar na Folha, em 87, passei por uma banca t�o rigorosa que parecia teste pra imortal, Academia Brasileira de Letras. Mas era pra redator do suplemento "Casa e Cia." com a Lilian Pacce e o Zeca Camargo. No Limite! O desafio era conseguir fechar o suplemento!

Depois passei para a Ilustrada. Onde fui uma mistura de Jerry Lewis com Jim Carrey. Aparecia um cara de oclinhos fundo de garrafa parecendo um ET: "Tem chamada de Primeira P�gina?". O quee�? Eu n�o sabia o que era chamada nem muito menos o que era Primeira P�gina. E t� vivo at� hoje! E a� o Caversan veio me ajudar e disse: "Cada um fecha uma metade da p�gina 2". E a� n�s dois fechamos a mesma metade. Ent�o me botaram como colunista e me mandaram trabalhar em casa! H� 13 anos. Desse bolo dos 80, eu quero apagar 13 velinhas! E hoje eu sou o Z� Sim�o, mas no come�o eu me matava pra fazer textos "inteligent�ssimos" e a� sa�a na rua, e diziam: "Olha aquele engra�ado da Folha!". Assinado Macaco Sim�o, o ombudsman de mim mesmo!

Jos� Sim�o � colunista da Folha



LUIS NASSIF
Um tiro de canh�o de luz

Com o avan�o da inform�tica, h� anos a Reda��o virou um n�mero de telefone, no qual diariamente despejo minha coluna. Influenciar diretamente governo, sociedade, empresas, sindicatos e parlamento agora depende apenas da compet�ncia individual de cada um de n�s, jornalistas da Folha.

O canal para as transforma��es est� a�, foi criado durante 80 anos, com tenacidade, pouca ideologia, muita vis�o de marketing, uma sucess�o de jornalistas, gera��o ap�s gera��o, moldando o conte�do.

Usando as ferramentas de mercado, o foco no cliente (como se diz hoje, nos programas de qualidade), a empresa acumulou g�s financeiro, tiragem, prest�gio e independ�ncia.

Criou-se, ent�o, essa mistura curiosa, em que o componente de marketing, que sustenta a tiragem, que atrai tantos leitores e irrita outros tantos, garante a massa cr�tica necess�ria para que o jornal seja o agente preferencial das transforma��es brasileiras.

A�, quando a gente senta no computador e come�a a pensar no tema do dia, baixa uma baita ang�stia, o peso da responsabilidade de saber-se usando um canh�o _de acordo com a express�o do sr. Frias.

� nessa hora que aparece o "custo da m�dia". Um enfoque errado pode paralisar avan�os. Um tiro perdido pode liquidar reputa��es.

Mas, quando se acha a id�ia certa, perdida em alguma cabe�a sem acesso � opini�o p�blica, e se joga sobre ela o canh�o de luz da Folha e depois se saboreia a maneira como ela vai penetrando na opini�o p�blica, modificando conceitos, � como no velho time do Santos: basta centrar para a �rea e sair correndo para o meio de campo, para comemorar o gol.

Lu�s Nassif � colunista e membro do Conselho Editorial da Folha



MARCELO COELHO
Entre o bem, o mal e a impessoalidade

Comecei a trabalhar na Folha em agosto de 1984. Dado o seu engajamento na luta pelas diretas, a Folha conhecia um per�odo de prest�gio pol�tico excepcional. Tornara-se o "jornal da sociedade civil"; absorvera, aos poucos, os jornalistas e colaboradores egressos da chamada "imprensa nanica" e concentrava, sem d�vida, as vozes mais importantes do debate nacional em torno da democratiza��o.

Do ponto de vista de sua organiza��o interna, a Folha iria passar por mudan�as importantes. Explicitava-se, formalmente, o projeto de um jornalismo pluralista, moderno, apartid�rio e cr�tico; normas �ticas hoje consensuais na pr�tica jornal�stica, como a de "ouvir o outro lado", eram implantadas, com muita dificuldade, ali�s; adotava-se, com o "Manual da Reda��o", uma s�rie de procedimentos visando � padroniza��o da linguagem e das t�cnicas de edi��o.

Dois processos, portanto, corriam em paralelo: o da afirma��o do prest�gio do jornal, de sua fun��o "c�vica", por assim dizer, e o da institui��o de normas editoriais t�cnicas e impessoais.

Pode parecer estranho, mas grande parte dos problemas e dos �xitos, dos mal-entendidos e das turbul�ncias que a Folha viria a conhecer de 1984 para c� deriva, a meu ver, do jogo muitas vezes conflitante entre esses dois processos.

Para muitos leitores, o princ�pio do apartidarismo do jornal contrastou, frequentemente, com a sua "fun��o c�vica"; em momentos como o das diretas ou da luta pelo impeachment de Collor, era claro que a Folha estava, digamos, "do lado do bem".

Ainda que eu acredite que o lado do bem de fato existe e que em campanhas como essas o que estava em jogo eram princ�pios institucionais com os quais n�o h� como transigir, o problema � que, para o jornalismo, n�o � poss�vel raciocinar em termos de bem e de mal.

Para meu uso pessoal, traduzo o conceito de apartidarismo do seguinte modo: onde algu�m apresenta "solu��es", o jornalista deve ver "problemas". Muitas vezes a Folha parece implicante e injusta por ver problemas demais, por for�ar a nota cr�tica, nem sempre com raz�o.

Sem d�vida, um tonzinho implicante volta e meia surge no jornal; � que ver "problemas" exige tempo, espa�o e serenidade, coisas de que n�o dispomos muito _nem como leitores, nem como jornalistas.

Marcelo Coelho � colunista e membro do Conselho Editorial da Folha



RENATA LO PRETE
O gosto pelo conflito

Volta e meia me perguntam como � a conviv�ncia entre Reda��o e ombudsman. Querem saber o que acontece quando entro no elevador ou no restaurante e encontro algu�m cujo trabalho acabei de criticar.

Posso dizer que as rea��es variam bastante. H� cara feia, aparente indiferen�a e, �s vezes, di�logo civilizado. Mesmo no terceiro caso, n�o � f�cil para mim e menos ainda para o "outro lado". Compreensivelmente, coluna de ombudsman n�o � lugar em que jornalista goste de aparecer.

Sem preju�zo dessa constata��o, o tempo me fez concluir que a Reda��o da Folha n�o apenas se habituou a conviver como tem algum apre�o pela figura do ombudsman.

Calma. N�o estou dizendo que os jornalistas gostem de mim. Sei de v�rios que n�o gostam. Deve ser maior o n�mero dos que n�o gostam e eu n�o sei.

Penso � que, independentemente de sua opini�o sobre o ocupante, n�o acham ruim que a fun��o exista.

Em primeiro lugar, � um conforto poder dizer "ent�o o sr. ligue para a ombudsman" se o leitor n�o se d� por satisfeito com a primeira desculpa que lhe � oferecida. Perdi a conta das vezes em que algu�m me procurou depois de ter sido despachado com essa frase.

Em segundo, como ocorre em tantos ambientes de trabalho, nem todos se amam dentro da Reda��o. N�o raro, o mesmo coment�rio do ombudsman produz a ira de uns e a velada aprova��o de outros.

Ao lado desses dois motivos pouco elevados, existe um terceiro que me parece bastante saud�vel: o gosto por conflito que � caracter�stico da Folha.

H� editores que reclamam comigo quando assuntos sob sua responsabilidade passam muitos dias sem aparecer na cr�tica interna.

Jogo de cena? Em alguns casos, sim, mas h� tamb�m o desejo de defender o que foi feito, rebater as obje��es, pegar a ombudsman no contrap� ou simplesmente ter o trabalho comentado.

A Folha, que tanto discute com os outros _�s vezes com raz�o, �s vezes sem_, tem no ombudsman um instrumento para discutir consigo mesma.

Um instrumento com limita��es, sem d�vida, tanto caracter�sticas da fun��o quanto derivadas de falhas das pessoas que a exercem. Mas a aniversariante merece cr�dito pela disposi��o de submeter-se a esse exame diante do leitor.

Renata Lo Prete � ombudsman da Folha

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