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Lalo de Almeida/Folha Imagem
Rotativa alem� do Centro Tecnol�gico Gr�fico-Folha (CTG-F), em Tambor�, inaugurado em dezembro de 1995 e que permitiu a impress�o de mais p�ginas coloridas


Jornal cresce e se torna grupo de m�dia



Internet, novos jornais e gr�fica de revistas diversificam atividade



FELIPE PATURY
DA REPORTAGEM LOCAL

At� aqui, foi papel e tinta. Precisamente 2 milh�es de toneladas de papel e 26 mil toneladas de tinta em 80 anos. � jornal para envolver a Terra 11 vezes, consolidar uma marca e atingir um faturamento de R$ 1 bilh�o.

Agora, o neg�cio � outro. A Folha n�o quer e acha que n�o pode mais ser apenas um jornal. O desafio � transformar a empresa da alameda Bar�o de Limeira num grupo de comunica��o, que tamb�m faz jornal.

A decis�o de atuar em outros mercados surgiu h� seis anos. A empresa concluiu que esse � o �nico caminho para continuar a crescer e at� para manter a lideran�a no ramo de jornais. Diversificar virou a chave da estrat�gia.

A Internet prepara as empresas para a perda de import�ncia das �reas industriais tradicionais


"Nosso neg�cio � conte�do, mas somos grupo de m�dia, n�o s� de m�dia impressa", diz Lu�s Frias, presidente do Grupo Folha. A guinada veio em 96 com a associa��o com a Quad/Graphics, uma das maiores gr�ficas norte-americanas. O acordo foi discutido e fechado de sopet�o, num �nico dia, mas marcou uma reviravolta na trajet�ria empresarial dos Frias. Do acerto, nasceu a Plural, que imprime em formato de revista. Foi constru�da ao lado da gr�fica da Folha, mas n�o se confunde com o jornal. Ao contr�rio, concorre para t�-lo como cliente.

At� a constitui��o da Plural, os movimentos dos Frias haviam sido de concentra��o. O maior deles aconteceu em 92, quando Octavio Frias de Oliveira e Carlos Caldeira Filho encerraram 30 anos de sociedade.

Preocupado em evitar uma crise de sucess�o no jornal, Caldeira prop�s a Frias que assumisse a Folha, e ele, os outros neg�cios. Como o jornal j� era dirigido por Frias, foi a solu��o natural.

Nos �ltimos cinco anos, o grupo mudou de atitude. Foi criada uma holding, a Folhapar. A partir dela, a Folha fez s�cios e novos empreendimentos. A moderniza��o deu resultados. O faturamento do grupo dobrou de 95 a 2000.

Os ganhos de receita come�am a ser traduzidos em lucros. A Plural j� opera no azul. A expectativa � que, neste ano, o bra�o de Internet, o UOL, tamb�m d� lucro.

Proje��es da �rea financeira do grupo mostram que, com as novas empresas, ser� poss�vel aumentar a receita em 50% em apenas dois anos. Em 2002, o faturamento deve atingir R$ 1,4 bilh�o. Nos pr�ximos meses, a Folha pretende anunciar parcerias para duas novas �reas de neg�cio.



Crescimento sustentado ocorre nos anos 80
A Plural hoje � a maior gr�fica comercial do pa�s. Mas, no come�o do processo de diversifica��o, foi planejada para imprimir os produtos com formato de revista editados pelo Grupo Folha.

O jornal come�ou a crescer de forma sustentada a partir dos anos 80. Tornou-se o maior jornal do pa�s em circula��o em 86. Ao mesmo tempo, iniciou uma guerra pelo dom�nio da capital paulista e do mercado de classificados.

Dez anos depois, alcan�ou tiragens recordes de 1,5 milh�o de exemplares e a supremacia nos classificados. A conquista foi conseguida com uma pol�tica agressiva de promo��es, que incluiu a distribui��o de brindes e fasc�culos. Mas a Folha n�o estava preparada para crescer tanto.

No meio dos anos 90, as gr�ficas do jornal j� n�o conseguiam imprimir todo o material distribu�do aos leitores. A "Revista da Folha", por exemplo, foi impressa no Chile, na Argentina e at� na �sia. "A demanda era maior do que a oferta, o que � impens�vel em jornal", conta Judith Brito, diretora corporativa do Grupo Folha.

Apesar desse quadro, a sociedade com a Quad/Graphics aconteceu quase por acidente. Seis grupos discutiam uma associa��o com a Folha, quando Larry Quaddracci fez sua proposta.

Desde 97, quando come�ou a operar, a Plural cresce a uma m�dia de 138% ao ano. Come�ou com lucro. "Temos superado as metas", diz Carlos Jacomini, presidente da gr�fica.

Hoje, a Folha responde por apenas 6% da receita da Plural, que est� expandindo a planta para atender a demanda dos clientes. O faturamento da gr�fica, por sua vez, representa 10% do faturamento total do grupo.
Fotos Lalo de Almeida/Folha Imagem
Sala do Universo Online (UOL), empresa l�der na Internet (acima); sede da Folha de S.Paulo (no meio); e pr�dio da Plural Editora e Gr�fica, em Tambor� (abaixo)


Cria��o do UOL � grande virada
A Plural n�o foi o �nico passo para reduzir a depend�ncia do grupo para com o jornal. Mas a grande virada s� veio com a cria��o do Universo Online em 1995.

Depois de cinco anos, o UOL � l�der de mercado e existem analistas financeiros que acreditam que ele j� valha mais do que a Folha. "Em 2000, o UOL foi avaliado em US$ 2,5 bilh�es a US$ 3 bilh�es", conta Elemer Suranyi, diretor financeiro do UOL.

A valoriza��o resultou de duas estrat�gias. Foi decisivo chegar primeiro ao mercado e oferecer acesso � Internet e conte�do num �nico pacote. Foi um avan�o. Na �poca, esses servi�os eram comprados de empresas diferentes. A segunda foi fazer rapidamente investimentos maci�os para dominar o setor.

Hoje, o UOL, l�der absoluto no mercado brasileiro, � acessado por 75% dos internautas. Em segundo lugar, vem o BOL, tamb�m do UOL, com 52%. A diferen�a para o terceiro colocado � de 35 pontos percentuais.

Fez diferen�a nas contas da Folha. Atualmente, 25% do faturamento do grupo vem do UOL. At� 2002, espera-se que o bra�o de Internet contribua com 35% da receita total, contra 50% da Folha e demais jornais do grupo.

Como outras grandes empresas de Internet, o UOL ainda opera no vermelho. A empresa come�ou a fazer grandes investimentos e a gerar d�ficits em junho de 99 para fazer frente ao ataque dos americanos da AOL e ao dos espanh�is da Terra/Telef�nica. Nos primeiros seis meses seguintes, os preju�zos, de R$ 46 milh�es, foram cobertos pelos acionistas da companhia. A situa��o mudou em outubro daquele ano, quando o UOL vendeu 12,5% de seu capital para investidores estrangeiros por US$ 100 milh�es.

Em junho do ano passado, captou mais US$ 100 milh�es com a venda de "commercial papers". A empresa ainda teve perdas de US$ 132 milh�es em 2000.

Deve, por�m, come�ar a dar lucros operacionais neste ano. J� recebeu uma inje��o de recursos. Em dezembro de 2000, o UOL vendeu a AcessoNet, um bra�o de gerenciamento de rede, por US$ 100 milh�es para a Embratel.

A AcessoNet teve um papel estrat�gico nos primeiros anos, permitindo a nacionaliza��o do servi�o em menos de um ano. Embora tenha sido importante para colocar o UOL na ponta do mercado, a AcessoNet j� n�o fazia mais parte do neg�cio central da empresa, uma vez que seus servi�os passaram a ser encontrados no mercado com a privatiza��o das telecomunica��es no Brasil.

Os investimentos devem continuar neste ano. A inten��o � alavancar o UOL com um aumento de capital seguido da oferta p�blica de a��es nos Estados Unidos.

A opera��o s� ser� feita quando o mercado das "pontocom" esquentar. "Estamos prontos esperando o melhor momento", diz Ricardo Florence, diretor de rela��es com o mercado do UOL.



Mercado eletr�nico muda produtos
O UOL �, hoje, o mais estrat�gico investimento da Folha. N�o s� pelo potencial de faturamento do neg�cio, mas tamb�m pelas mudan�as que o mercado eletr�nico deve trazer � venda do principal produto da Folha: informa��o.

Ao apostar na Internet a Folha entrou numa rota que, depois, foi adotada tamb�m pela revista "Time". No in�cio do ano passado, a Time Warner, dona da maior revista do mundo e da rede de TV CNN, se fundiu com a AOL, l�der local de Internet.

Associar a venda de conte�do com a oferta digital n�o permite apenas que as empresas expandam sua participa��o no mercado. Tamb�m � uma estrat�gia para manter a clientela atual.

"Entramos em Internet porque t�nhamos certeza de que quem estivesse fora ficaria para tr�s. Mas, agora, j� � dif�cil diferenciar o futuro do jornal do do UOL", diz Octavio Frias de Oliveira.

A Internet prepara as empresas jornal�sticas para um cen�rio de perda de import�ncia das �reas industriais tradicionais, o que j� come�ou a acontecer nos Estados Unidos. Nesse quadro, o conte�do passar� a ter cada vez mais peso no faturamento das empresas.

"No futuro, a Reda��o deve crescer. Haver� o fortalecimento do jornalismo da empresa e do profissional de imprensa", prev� Octavio Frias de Oliveira.

Apesar de sua import�ncia, a aposta na Internet n�o encerrou a fase de diversifica��o dos neg�cios. No ano passado, veio o terceiro grande passo. A Folha, primeiro jornal do pa�s, associou-se a "O Globo", segundo, para criar o "Valor Econ�mico".

Cada s�cio investiu US$ 25 milh�es no empreendimento, um antigo projeto da Folha. "Quer�amos entrar nesse nicho, que � muito rent�vel porque tem os anunciantes mais nobres: a ind�stria e o servi�o", diz Fl�vio Pestana, presidente do "Valor".

"Com uma tiragem de mais de 100 mil exemplares e uma carteira de 75 mil assinantes, o �Valor� ultrapassou as previs�es de faturamento publicit�rio em 30% em 2000", declara Pestana.

Para 2001, as metas s�o mais ambiciosas. Espera-se que a receita dos an�ncios aumente a uma taxa de 50% ao m�s. Se isso acontecer, em dezembro o "Valor" ter� um ganho de 120% de receita publicit�ria em rela��o a 2000.

"Em poucos meses de vida, o �Valor� consolidou uma credibilidade e seriedade que j� lhe renderam dois Pr�mios Esso, um Icatu e um Bovespa", diz Celso Pinto, diretor de Reda��o do jornal.

O "Valor" � o mais novo membro da fam�lia de jornais da Folha. Al�m do t�tulo principal, o grupo tem o "Agora", jornal popular lan�ado em mar�o de 1999, e fechou, em janeiro, o tradicional "Not�cias Populares".

Esse jornal circulou por 37 anos. O "NP" marcou �poca no jornalismo dos anos 80. Revolucionou a linguagem, acabou tendo seu modelo copiado pelos telejornais populares dos anos 90, mas vinha perdendo circula��o.

O leitor do "NP", em geral jovem e solteiro, estava trocando o jornal pelo "Agora", que tem um perfil familiar e d� mais aten��o a assuntos tradicionais, como pol�tica e economia. Enquanto o "NP" perdia mercado, o "Agora" consolidava a lideran�a do segmento em S�o Paulo.

"O projeto � sermos l�deres com um jornal nacional, que � a Folha, com um jornal popular, o �Agora�, e com um jornal nacional de economia, que � o �Valor�", diz Lu�s Frias.



Administra��o com esp�rito espartano
A decis�o de fechar o "NP" revela muito de como os Frias administram seu neg�cio. "A empresa � administrada da mesma forma que os donos vivem: espartanamente. Aqui, n�o se faz com quatro o que se pode fazer com dois", diz Antonio Manuel Teixeira Mendes, diretor-superintendente da Folha.

Fundada em 1921 por jornalistas de "O Estado de S. Paulo", J�lio Mesquita Filho entre eles, a Folha surgiu com o nome de "Folha da Noite" e patinou nos seus primeiros anos. Seus fundadores ilustres, entre os quais Monteiro Lobato, n�o impediram que o jornal fosse proibido de circular em 1924.

Para burlar a censura, saiu sob o nome "Folha da Tarde" por quatro semanas. No ano seguinte, apareceu a "Folha da Manh�". Em dificuldades, o jornal foi vendido em 1931 para Octaviano Alves Lima e passou a apoiar a cafeicultura.

Em 1945, um grupo de empres�rios pediu a Fernando Costa, interventor no Estado, que ajudasse a encontrar interessados em comprar o jornal. Jos� Nabantino Ramos, Francisco Matarazzo Filho e Alcides Meirelles ficaram com a Folha.

Frias de Oliveira era amigo de Nabantino. Vendeu-lhe o terreno da Bar�o de Limeira onde o jornal est� at� hoje. Mas foi surpreendido quando lhe perguntaram, j� em 1962, se queria comprar a Empresa Folha da Manh�.

Frias consultou seu s�cio, Carlos Caldeira. "E o que voc� est� esperando, que ainda n�o comprou?", respondeu Caldeira. Fechado o neg�cio, Frias, que detestava jornalismo, passou quatro anos pagando d�vidas aos bancos da rua 15 de Novembro, no centro de S�o Paulo.

A empresa saiu definitivamente do sufoco em 1967. Desde ent�o, n�o dependeu de bancos. Frias modernizou a impress�o do jornal e o colocou na vanguarda do maquin�rio gr�fico.

"Na �poca, a preocupa��o era equilibrar as finan�as e formar um fluxo de caixa que permitisse avan�os na qualidade editorial e operacional", diz Pedro Pinciroli Jr., um dos principais executivos do grupo at� os anos 90. A pol�tica dos primeiros anos de contar o dinheiro na ponta do l�pis nunca foi abandonada. Pautou, por exemplo, a constru��o do Centro Tecnol�gico Gr�fico, em Tambor�. Sem que o grupo se endividasse, investiram-se US$ 120 milh�es entre 1994 e 1997.

Os desembolsos do grupo, famoso pela avers�o a empr�stimos, foram feitos com planejamento de caixa. "Frias � din�mico, mas tamb�m um empres�rio de bom senso", diz Ant�nio Erm�rio de Moraes, do grupo Votorantim.

Aos 88 anos, 38 � frente da Folha, Frias dedica seu tempo aos editoriais do jornal e n�o cuida mais do dia-a-dia do grupo. Os neg�cios est�o a cargo de seu filho Lu�s. A edi��o fica a cargo de Otavio Frias Filho. "Tive sorte de ter um filho intelectual, que � o Otavio, e outro empres�rio, que � o Lu�s", diz o publisher da Folha.

"Com seus erros e acertos, monitorada pessoalmente por Octavio Frias de Oliveira, a Folha faz justamente o tipo de jornalismo que estimula o homem a intervir nos acontecimentos, influir no seu destino e exercer sua liberdade", diz Olavo Set�bal, do Ita�.

Frias deixou duas marcas na gest�o da Folha. Uma � manter a austeridade para n�o ter de curvar a linha editorial �s necessidades financeiras do jornal. A outra � a dist�ncia de governos.

A decis�o chegou a trazer preju�zos ao grupo, que n�o apostou em �reas nobres da comunica��o. N�o disputou, por exemplo, concess�es de r�dio e televis�o para n�o dever nada a governos por conta de favores oficiais.

"Era e � preciso ter independ�ncia financeira para ter independ�ncia pol�tica. Esse � o dogma. � por isso que somos t�o ciosos de uma posi��o financeira forte", diz Octavio Frias de Oliveira.


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