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Após agência rebaixar nota da economia francesa, ministro promete cortes de gastos e não subir impostos

A agência de classificação de risco S&P Global Ratings rebaixou nesta sexta-feira (31), pela primeira vez desde 2013, a classificação da dívida soberana da França, de "AA" para “AA-“. A mudança, ocorrida pelo "deterioramento da situação orçamentária" da segunda maior economia europeia, alegou a Standard & Poor’s, levou o ministro da Economia francês a prometer novos cortes de gastos, neste sábado.

Bruno Le Maire (segundo à esquerda) é ministro da Economia da França desde o começo do governo de Emmanuel Macron, há sete anos. (Foto de 13/05/2024)
Bruno Le Maire (segundo à esquerda) é ministro da Economia da França desde o começo do governo de Emmanuel Macron, há sete anos. (Foto de 13/05/2024) AFP - LUDOVIC MARIN
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O rebaixamento da nota soberana serviu como argumento para o ministro Bruno Le Maire justificar futuras reduções na despesa pública, ao mesmo tempo que continua a descartar aumentos de impostos no país. Em um vídeo postado no YouTube, ele prometeu "seguir exatamente no mesmo caminho, nem mais rápido, nem mais devagar”.

Bastante presente na mídia desde sexta-feira, o ministro descartou, mais uma vez, qualquer aumento de impostos em 2025 e até 2027, disse à emissora LCI. "Nunca, não pretendo aumentar impostos dos franceses”, prometeu Le Maire, que ressaltou a necessidade de reduzir a despesa pública anual de mais de € 450 bilhões do Estado.

Após um desvio considerável do déficit previsto em 2023, a agência americana coloca em dúvida a recondução das finanças públicas do país até o fim do mandato de Emmanuel Macron, em 2027. "O rebaixamento reflete nossa projeção de que, contrariamente às nossas expectativas anteriores, a dívida pública francesa em relação ao PIB aumentará devido a déficits maiores que o esperado em 2023-2027", indicou a S&P em uma análise de sua decisão.

A França anunciou em março um déficit público em 2023 de 5,5% do PIB, em vez dos 4,9% esperados, uma situação que leva a agência de classificação de risco a questionar a capacidade do governo de reduzir o número para menos de 3% do PIB, o limite imposto pela Comissão Europeia. A S&P prevê inclusive que o déficit chegue a 3,5% em 2027 e indica que, "sem medidas adicionais" para diminui-lo, "as reformas não serão suficientes para permitir ao país alcançar seus objetivos fiscais”.

Gastos com pandemia e para limitar alta da energia

O ministro da Economia reiterou, no entanto, que a meta será alcançada e explicou, em uma entrevista ao jornal Le Parisien, que o rebaixamento na classificação de risco se deveu aos esforços do governo que permitiram "salvar a economia francesa”. Le Maire, à frente da pasta há sete anos, justificou mais uma vez o aumento do déficit desde 2020 pelas despesas ligadas à crise da Covid e à alta súbita dos preços da energia na Europa depois do início da guerra na Ucrânia.

“Tomei as decisões certas na hora certa. Quem teria feito melhor?”, disse. "Nossa estratégia continua sendo a mesma: reindustrializar, alcançar o pleno emprego e manter nossa trajetória para ter um déficit inferior a 3% em 2027", declarou o ministro.

Até agora, a França tinha uma classificação na S&P semelhante à de Bélgica e Reino Unido, embora sua dívida e seu déficit no ano passado fossem superiores aos desses dois países. A agência de classificação considera que a dívida pública, atualmente de 109,9% do PIB, crescerá até chegar a 112% em 2027.

Le Pen critica 'gestão catastrófica'   

Com a nova nota, a França fica ainda mais distante do triplo A da Alemanha, a classificação mais alta, mas se mantém acima de outras grandes economias europeias, como Espanha e Itália. Um rebaixamento na classificação de risco pode provocar um movimento de desconfiança nos investidores, com o consequente aumento do serviço da dívida (as quantias desembolsadas para pagar os juros).

O economista Sylvain Bersinger, da empresa Asterès, ressaltou, no entanto, que o rebaixamento representa sobretudo um golpe na imagem, "que não deve ter consequências econômicas significativas".

A oposição aproveitou para atacar Macron. "A gestão catastrófica das finanças públicas de governos tão incompetentes quanto arrogantes colocou o nosso país em dificuldades muito graves", criticou a líder da extrema direita Marine Le Pen.

Nas condições atuais, o governo Macron prevê que as quantias destinadas a pagar esses juros aumentem em 2027 para € 72,3 bilhões (R$ 411 bilhões) – em comparação com € 36,3 bilhões (R$ 206,3 bilhões) em 2022 – devido, principalmente, ao aumento das taxas de juros do Banco Central Europeu (BCE).

A S&P retirou da França em 2012 sua classificação máxima, “AAA”. Atualmente, poucos países se beneficiam da nota máxima, incluindo Alemanha e Austrália.

As outras duas grandes agências internacionais, Moody's e Fitch, mantiveram em abril a classificação da França: "AA2" no caso da primeira – um nível semelhante ao "AA" da S&P – e "AA-" na segunda, o equivalente a um degrau abaixo.

Com AFP

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