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Regeneração da vegetação nativa traria benefícios econômicos para o Rio Grande do Sul, defendem especialistas

As enchentes no Rio Grande do Sul, que afetaram milhões de pessoas em um dos estados mais ricos do Brasil, é mais um alerta sobre a urgência dos problemas ambientais e climáticos. Para especialistas, uma das soluções para a reconstrução do estado está na regeneração da vegetação nativa que, além de dos benefícios ambientais, traria também ganhos econômicos.

Vista aérea das plantações de arroz inundadas em Eldorado do Sul, no Rio Grande do Sul, Brasil, de 9 de maio de 2024.
Vista aérea das plantações de arroz inundadas em Eldorado do Sul, no Rio Grande do Sul, Brasil, de 9 de maio de 2024. AFP - NELSON ALMEIDA
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Quando as águas baixarem no Rio Grande do Sul, será hora do grande desafio da reconstrução, que deve levar em conta novos episódios climáticos extremos e medidas de adaptação. Entre as ações a serem tomadas, especialistas destacam a recuperação da vegetação nativa no estado. A cobertura verde serve como uma barreira natural contra inundações e enchentes, funcionando como uma esponja e permitindo que as águas se infiltrem no solo.

Em 2023, o estudo “Os bons frutos da recuperação de florestas: do investimento aos benefícios”, do Instituto Escolhas, calculou que o Rio Grande do Sul teria 1,16 milhão de hectares em áreas de preservação permanente e reserva legal que precisam ser recuperadas urgentemente. Desse total de áreas, 510 mil hectares estão nas margens dos rios.

“No Brasil, o que provoca a chamada emissão dos gases de efeito estufa, que é responsável pela mudança climática, é exatamente o desmatamento e seu aumento em todo o país. Na medida que você desmatou no estado do Rio Grande do Sul, você deixou o Estado sem as defesas naturais”, explica o diretor-executivo do Instituto Escolhas, Sérgio Leitão.

“Então, recuperar essa vegetação nativa é importantíssimo, inclusive porque a agricultura do Estado foi arrasada. Não é só a lavoura que foi destruída. A camada que cobre o solo foi inteiramente retirada. Em alguns lugares, por exemplo, como em Agudo, que é um município do interior, forte na cultura do arroz, só ficou pedra”, explica.

Mas Sérgio Leitão reconhece que o investimento para a regeneração destas áreas é alto.

“Em função do Brasil não ter um investimento feito para essa indústria da recuperação florestal, os gastos iniciais são muito altos. A gente calculou um valor de R$ 17.000  por hectare, mas, em contrapartida, os benefícios são imensos”, explica.

Segundo ele, a recuperação da vegetação no Rio Grande do Sul pode gerar 218.000 postos de trabalho no estado.

“O que a gente está dizendo é o seguinte: o plantio de florestas nesse momento da economia do Rio Grande do Sul é uma oportunidade econômica que o estado tem que abraçar”, afirma. “Nós estamos pedindo ao governador do estado, o Eduardo Leite, ao presidente, o senhor Luiz Inácio Lula da Silva, que vejam a recuperação da vegetação nativa como uma oportunidade econômica que precisa fazer parte dos planos de reconstrução do estado”, explica.

A metodologia para a regeneração das áreas é sugerida de acordo com dados sobre os dois biomas do estado, o pampa e a Mata Atlântica, levantados pelo Ministério do Meio Ambiente, através do Cadastro Ambiental Rural (CAR).

As técnicas vão desde “o plantio em área total, seja de mudas, seja de sementes, sempre pensando em contribuir com o favorecimento da regeneração natural. Ela que vai dar, no futuro, a expressão da biodiversidade e uma maior estabilidade ao sistema”, explica Eduardo Gusson, engenheiro florestal Membro da Biodendro Consultoria Florestal e pesquisador-convidado do Núcleo Extensão e Pesquisas Temáticas em Conservação e Educação Ambiental da ESALQ-USP.

Metas nacionais de regeneração

A mais importante meta brasileira de restauração da vegetação nativa em ampla escala foi apresentada pelo país, em 2015, ao Secretariado da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, por meio de sua pretendida Contribuição Nacionalmente Determinada (iNDC, em inglês, intended Nationally Determined Contribution).

Entre outras contribuições, o Brasil indicou a intensão de adotar medidas para restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas até 2030.

Em um estudo de 2017, o Instituto Escolhas calculou que os valores estimados para a iNDC brasileira giravam em torno de R$ 50 bilhões.   

“Mas agora, mais recentemente, para o Brasil todo, estimamos em cerca de R$ 200 bilhões”, afirma Gusson. “Parece muito? Sim. Mas se a gente colocar isso distribuído ao longo do tempo e com todos os benefícios que isso vai nos gerar, ainda mais em uma situação como a nossa atual de crise climática extrema, a possibilidade de geração de frentes de trabalho, geração de emprego, de renda para os agricultores, acho que a gente tem ganhos expressivos em termos de serviços ecossistêmicos que podem contribuir a mitigação desses impactos das mudanças globais”, diz.

“Nós fizemos uma estimativa para o estado do Rio Grande do Sul e a implementação desses 1,16 bilhão de hectares removeriam em torno de 287 milhões de toneladas de CO2 atmosférico, ou seja, a retomada da vegetação nativa das áreas que hoje estão sendo usadas principalmente para a pecuária, certamente traz benefícios. Não teríamos prejuízo”, diz.

“Além de ser até uma questão de sobrevivência para as pessoas dessas regiões.”

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