Obtenção de Matéria Pelos Seres Heterotróficos

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A OBTENÇÃO DE MATÉRIA PELOS SERES

HETEROTRÓFICOS
Dependendo da forma como os seres vivos obtêm a energia química de
que necessitam para sobreviver, são classificados em duas classes
distintas:

§ Seres autotróficos: seres que conseguem sintetizar a sua própria


matéria orgânica a partir de matéria inorgânica, utilizando uma fonte de
energia externa, pelo processo de fotossíntese. São exemplos as
plantas, as algas e algumas bactérias.
§ Seres heterotróficos: seres vivos que apenas conseguem sintetizar a
sua matéria orgânica a partir de outra matéria orgânica que lhe é
fornecida pelo meio ambiente. São, portanto, dependentes da matéria
orgânica produzida pelos seres autotróficos.

PERMUTA DE MATÉRIA ENTRE AS CÉLULAS E O MEIO:


ULTRA-ESTRUTURA DA MEMBRANA CELULAR

Como já foi referido, as células possuem uma membrana plasmática ou


celular, que:

§ Delimita exteriormente a célula


§ Mantém a integridade celular

§ Cria uma barreira seletiva que assegura uma superfície de troca de

substâncias, de energia e de informação entre o meio intracelular e


extracelular.
Do ponto de vista químico, as membranas são complexos lipoproteicos,
podendo também conter glícidos. Os fosfolípidos são os principais lípidos
que fazem parte da membrana. Tanto os glicolípidos como os fosfolípidos
possuem uma extremidade polar, hidrofílica, e uma extremidade apolar,
hidrofóbica. Também as proteínas membranares possuem zonas
hidrofóbicas e zonas hidrofílicas.

O estudo da membrana plasmática foi evoluindo graças ao trabalho de


vários cientistas e à evolução tecnológica. Existem dois modelos que
tentam explicar a estrutura da membrana celular:
§ “Modelo de Sanduíche”, de Danielli e Davson (1952)

Atendendo ao comportamento dos fosfolípidos na presença de água, este


modelo defendia a existência de uma bicamada fosfolipídica que garantia
que as cadeias hidrofóbicas ficassem estabilizadas, voltadas para o interior
da bicamada, enquanto as proteínas se ligavam às extremidades
hidrofílicas dos lípidos, revestindo a bicamada interne e externamente. Ao
longo da bicamada existiriam interrupções, rodeadas por proteínas, que
formariam passagens nas quais poderiam circular os iões e as substâncias
polares. Por outro lado, as substâncias não polares entrariam diretamente,
atravessando a bicamada.

§ “Modelo de mosaico fluido”, de Singer e Nicholson (1972)


É o modelo atualmente aceite. Este também considera a existência de uma
bicamada fosfolipídica na qual as proteínas podem estar inseridas
(proteínas intrínsecas), ou à superfície da membrana plasmática na face
interna ou externa (proteínas extrínsecas ou periféricas), lembrando um
mosaico fluido. Os glícidos encontram-se à superfície da membrana ligados
a lípidos (glicolípidos) ou a proteínas (glicoproteínas).

As membranas não são estáticas, apresentando tanto os fosfolípidos como


as proteínas movimentos. No caso dos fosfolípidos, estes apresentam
mobilidade lateral.

A membrana celular possui permeabilidade seletiva, isto é, permite a


passagem facilitada de certas substâncias, dificultando ou impedindo a
passagem de outras. Os processos através dos quais as substâncias
atravessam as membranas biológicas são de dois tipos distintos:
§ Processos passivos – não implicam dispêndio de energia e incluem:

§ Difusão Simples: as partículas deslocam-se de zonas onde a sua

concentração é maior para zonas onde esta é menor (movimentação


a favor do gradiente de concentração), até se atingir uma distribuição
uniforme dessas partículas. A velocidade de movimentação do soluto
é diretamente proporcional à diferença de concentração entre os
meios intracelular e extracelular.
§ Difusão Facilitada: as substâncias atravessam a membrana a favor

do gradiente de concentração, ou seja, da região onde se encontra a


maior concentração de soluto para a região de menor concentração;
A velocidade do processo é superior se comprada à difusão simples,
pois neste caso o transporte é mediado por permeases às quais as
substâncias a transportar se ligam, sendo o processo constituído por
três fases:

1. Combinação da molécula ou substância a transportar com a


permease, na face externa da membrana;
2. Alteração da conformação da permease para permitir a
passagem da molécula através da membrana e separação da
permease;
3. Retoma da forma inicial da permease.

§ Osmose: refere-se à movimentação da água através de uma


membrana semipermeável (permeável ao solvente – a água – e
impermeável aos solutos), de um meio hipotónico (meio de menor
concentração de soluto e mais moléculas de água) para um
meio hipertónico (meio de maior concentração de soluto e menos
moléculas de água). Este processo depende, exclusivamente, das
concentrações do soluto nas duas soluções. Quando os dois meios
se tornam isotónicos, isto é, quando os dois meios atingem iguais
concentrações de soluto, o movimento da água passa a ser idêntico
nos dois sentidos.

Devido às diferenças morfológicas entre as células animais e vegetais,


estas apresentam diferentes comportamentos.

Desta forma, quando uma célula vegetal se encontra mergulhada numa


solução hipotónica, vai absorvendo água – por osmose – até atingir o
estado de equilíbrio, ficando túrgida. Nesta situação o vacúolo aumenta e
empurra o citoplasma contra a parede celular O conteúdo celular exerce
pressão de turgescência, mas esta é contrabalançada pela resistência
oferecida pela parede celular. Por outro lado, quando uma célula vegetal é
mergulhada numa solução hipertónica perde água, o citoplasma contrai-se
parcialmente e fica preso à parede celular apenas por alguns filamentos,
denominados por filamentos de Hetch. Neste caso a célula se
encontrasse plasmolisada.
No caso das células animais, uma vez que não possuem parede celular, ao
serem mergulhadas numa solução hipotónica, pode ocorrer a sua lise
devido ao aumento do volume celular, ficando também plasmolisadas, ao
serem mergulhadas num meio hipertónico.

§ Processos ativos: implicam dispêndio de energia e há intervenção de


proteínas transportadoras. Ocorrem em situações biológicas em que
iões ou moléculas necessitam de ser transportados, através da
membrana, de regiões onde se encontram menos concentrados para
regiões onde se encontram mais concentrados, ou seja, contra o
gradiente de concentração.
§ Transporte ativo, bomba de Sódio e Potássio: é um complexo

enzimático membranar que se pode encontrar em praticamente todas


as células animais. Esta enzima (ATPase) requere energia, sob a
forma de ATP, e movimenta em sentidos opostos iões Sódio (Na+) e
iões Potássio (K+), saem 3 iões de Sódio e entram 2 iões de
potássio, através da membrana.
§ Transporte em grande quantidade (permite o movimento de
macromoléculas, partículas com maiores dimensões, ou mesmo
pequenas células entre o interior e o exterior da célula):
§ Endocitose: transporte em que há inclusão de material por

invaginação da membrana plasmática, formando-se uma vesícula


endocítica. Esta pode designar-se fagocitose, quando a célula
emite pseudópodes (“falsos-pés”), que envolvem partículas
sólidas e as incluem em vesículas fagocíticas, ou pinocitose que é
um processo semelhante, mas envolve a inclusão de fluidos
através da invaginação da membrana, seguida da formação de
vesículas pinocíticas no interior da célula.
§ Exocitose: é o processo inverso da endocitose.

INGESTÃO, DIGESTÃO E ABSORÇÃO

Para que os alimentos ingeridos pelos seres heterotróficos possam ser


utilizados a nível celular têm que, primeiramente, passar por vários
processos, como:

§ Ingestão – introdução dos alimentos no organismo;


§ Digestão – processo que consiste na transformação e simplificação de
moléculas complexas constituintes dos alimentos, em moléculas mais
simples, através de reações de hidrólise catalisadas por enzimas
(moléculas de natureza proteica), de forma a poderem ser utilizadas e
integradas no organismo;
§ Absorção – consiste na passagem das substâncias resultantes da
digestão para o meio interno.
A digestão pode ocorrer no interior das células – digestão intracelular – ou
fora das células – digestão extracelular – em cavidades ou em órgãos
especializados.
§ Digestão intracelular

§ Os organelos complexo de Golgi, lisossomas e retículo

endoplasmático, estão diretamente envolvidos na digestão


intracelular. Esta ocorre após as partículas alimentares serem
interiorizadas na célula, pelo processo de endocitose, formando-se
vesículas endocíticas. A nível do retículo endoplasmático, formam-se
proteínas enzimáticas que são incorporadas em vesículas, como os
lisossomas, que as transportam até ao complexo de Golgi. Aqui,
estas fundem-se com as vesículas endocíticas, formando um vacúolo
digestivo, onde ocorre a digestão intracelular. Os resíduos que se
formam neste processo são expulsos da célula por exocitose. Este
tipo de digestão é típica de seres eucarióticos unicelulares, como a
ameba ou a paramécia.
§ Digestão extracelular

§ Característica dos seres heterotróficos multicelulares, pode ser:

§ Extracorporal: no caso dos cogumelos, estes, através das suas

hifas, libertam enzimas digestivas sobre o substrato no qual se


encontram, ocorrendo a digestão extracorporal, seguida de
absorção das substâncias mais simples, também a nível das
hifas.
§ Intracorporal (maioria dos animais). Esta última ocorre em tubos

digestivos, mais ou menos complexos, apresentando diferentes


órgãos especializados. O tubo digestivo pode ser incompleto, se
apresentar uma única abertura, ou completo, no caso de
apresentar duas aberturas: a boca e o ânus.

Vantagens de um tubo digestivo completo:


§ Como os alimentos se deslocam num único sentido, a digestão e a

absorção são sequenciais ao longo do tubo, o que se traduz num


aproveitamento muito mais eficaz.
§ A digestão pode ocorrer em diferentes órgãos, permitindo aos alimentos
estarem sujeitos a tratamento mecânico e à ação de diferentes enzimas.
§ A absorção é mais eficiente.
§ Os resíduos não digeridos acumulam-se durante algum tempo, sendo
depois expulsos através do ânus.

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