Elemento Numero 2

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Nº2 Avelino Benguela

Qualificação de Actos de Comércio por Analogia

Para qualificar actos comerciais, é legítimo recorrer à analogia. Na verdade, o


campo económico-jurídico é fértil, gerando instrumentos que, por análogos
(semelhantes) a outros já registados no direito comercial, neste se irão também
filiar.
O problema não se resolve recorrendo ao artº 3.º do CCom, “Se as questões sobre
direitos e obrigações comerciais não puderem ser resolvidas, nem pelo texto da lei
comercial, nem pelo seu espírito, nem pelos casos análogos nela prevenidos, serão
decididas pelo direito civil”. Na realidade, esta norma admite o recurso à analogia
pra regular actos já qualificados como comerciais. Assim, o preceito diz respeito a
lacunas de qualificação, não imediatamente a lacunas de regulação.

Actos de Comércio Subjectivos

Actos de comércio subjectivos são os factos jurídicos voluntários (ou actos,


simplesmente) dos comerciantes conexionáveis com o comércio em geral e de que
não resulte não estarem conexionados com o comércio dos seus sujeitos. Para
saber se o acto é ou não subjetivamente comercial, teremos de fazer as seguintes
perguntas, obtendo para tais, as seguintes respostas:
O acto:

1. Foi praticado por Comerciante? Sim

2. Resulta ser este exclusivamente civil? Não

3. Resulta que este não advém do comércio do sujeito? Não


Neste caso, é acto de comércio subjectivo.
Outras Classificações
Quanto ao sujeito
Bilaterais ou Unilaterais

Bilaterais: são actos cuja comercialidade se verifica em relação a ambas as partes


(sujeitos).
Unilaterais: os actos cuja comercialidade se verifica só em relação a uma das
partes.
Qual é o regime jurídico dos actos unilateralmente comerciais?

Responde o artº 99.º CCom: “Embora o acto seja mercantil só com relação a uma
das partes será regulado pelas disposições da lei comercial quanto a todos os
contraentes, salvo as que só forem aplicáveis àquele ou àqueles por cujo respeito o

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acto é mercantil”. Assim, os actos unilateralmente comerciais estão em regra


sujeitos à disciplina mercantil. Como não há regra sem exceção, excetuam-se as
disposições da lei comercial “que só forem aplicáveis àquele ou àqueles por cujo
respeito o acto for mercantil”. E quais são elas?

Hoje, será especialmente a do art.º 100 CCom: “Nas obrigações comerciais os


coobrigados são solidários, salva estipulação contrária.
Único: Esta disposição não é extensiva aos não comerciantes quanto aos contractos
que, em relação a estes, não constituírem actos comerciais”. A solidariedade de
devedores só se verifica, por conseguinte, relativamente àqueles “por cujo respeito
o actos é mercantil”.
Exemplo:
Suponhamos que dois comerciantes, num único contracto, compram 10 peças de
artesanatos a dois artesãos. O acto é unilateralmente comercial – a compra é
mercantil (artº 463.º/1.º) e a venda civil (artº 464.º/3.º, in fine). O acto fica sujeito à
disciplina jurídico-comercial, mas os artesãos não são devedores solidários quanto
à entrega das peças (artº 100.º).
Nota: Deve, contudo, acrescentar-se uma categoria mais geral de exceções à
aplicação das disposições da lei comercial. Quando aos actos unilateralmente
comerciais sejam contractos de consumo, aplicam-se a ambos os contratantes as
regras especiais das relações de consumo.

Quanto ao Acto
Autónomos ou Acessórios
Actos de comércio autónomos: são os qualificados de mercantis por si mesmos,
independentemente de ligação a outros actos ou actividades comerciais.

Actos de comércio acessórios: são os que devem a sua comercialidade ao facto de se


ligarem ou conexionarem a actos mercantis (fiança – artº 101.º; mandato – artº
231.º; empréstimo – artº 394.º; penhor – artº 397.º; depósito artº– 403.º CCom).
Estes actos tanto podem ser acessórios de actos de comércio objectivos e
autónomos (mandato para a compra de uma mercadoria destinada a revenda),
como de actos de comércio objectivos mas acessórios (mandato para o depósito de
mercadorias que o mandante comprou para serem revendidas), como de actos
subjectivamente comerciais (mandato para a compra de caixa-registadoras
destinadas ao supermercado do mandante).

Formais ou Substanciais
Actos formalmente comerciais: são os esquemas negociais que, utilizáveis (por
comerciantes ou não comerciantes) quer para a realização de operações mercantis,
quer para a realização de operações económicas que não são actos de comércio

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nem se inserem em actividade comercial, estão contudo especialmente regulados na


lei mercantil, merecendo portanto a classificação de actos de comércio. (negócios
cambiários – saque, aceite; letras; livranças; cheques). Derivam não do seu
conteúdo, mas de estarem previstos na lei comercial.

Actos substancialmente comerciais: aqueles cuja classificação como actos de


comércio provêm do próprio conteúdo do acto. Da responsabilidade dos
comerciantes. Sabemos que os sujeitos dos actos de comércio e das relações
jurídicomercantis podem ser comerciantes e não-comerciantes (todos os sujeitos
com capacidade civil de exercício possuem capacidade comercial de exercício – artº
7.º CCom). Porém, os actores determinantes no direito mercantil são os
comerciantes.

Qual a importância de se saber quem é (e quem não é) comerciante?

A importância prende-se com o facto de que os comerciantes possuem um estatuto


próprio. Como assim?

a) Os actos de comerciantes são considerados subjetivamente comerciais (artº 2.º/2.ª


parte CCom).
b) As dívidas dos comerciantes casados presumem-se contraídas no exercício dos
respetivos comércios (artº 15.º CCom); tais dívidas são em princípio da
responsabilidade dos comerciantes e dos seus cônjuges (artº 1691.º/1/d) CCiv);
Excepto:
 Se forem casados no Regime de Separação de Bens;
 Dívidas não contraídas em proveito comum do casal, e o cônjuge do comerciante
não se beneficiou daquela dívida.
c) A prova de certos factos em que intervêm comerciantes é facilitada (artº 396.º;
400.º CCom ≠ 1143.º CCiv).
d) Prescrição: dívidas entre comerciantes prescrevem ao fim de 20 anos; dívidas entre
comerciante e não comerciante prescrevem ao fim de 2 anos (artº 309.º; 317.º/b)
CCiv).
e) Os comerciantes estão obrigados a adoptar firma, a ter escrituração mercantil, a
fazer inscrever no registo comercial os actos a ele sujeitos, a dar balanço e a
prestar contas (artº 18.º CCom).

Empresa

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Como mencionado acima, os bens e serviços que homens e mulheres necessitam ou


desejam para viver (isto é, vestir, alimentar-se, dormir, divertir-se etc.) são
produzidos em organizações econômicas especializadas, porém nem sempre foi
assim. Na Antiguidade, roupas e víveres eram produzidos na própria casa, para os
seus moradores; apenas os excedentes eventuais eram trocados entre vizinhos ou
na praça.

Na Roma antiga, a família dos romanos não era só o conjunto de pessoas


unidas por laços de sangue (pais e filhos), mas também incluía os escravos,
assim como a morada não era apenas o lugar de convívio íntimo e
recolhimento, mas também o de produção de vestes, alimentos, vinho e
utensílios de uso diário.
Alguns povos da Antiguidade, como os fenícios, destacaram-se, intensificando
as trocas e, com isto, estimularam a produção de bens destinados
especificamente à venda. Esta actividade de fins econômicos, o comércio,
expandiu-se com extraordinário vigor. Graças a ela, estabeleceram-se
intercâmbios entre culturas distintas, desenvolveram-se tecnologias e meios de
transporte, fortaleceram-se os estados, povoou-se o planeta de homens e
mulheres; mas, também, em função do comércio, foram travadas guerras,
escravizaram-se povos, recursos naturais se esgotaram. Com o processo
econômico de globalização desencadeado após o fim da Segunda Guerra
Mundial (na verdade, o último conflito bélico por mercados coloniais), o
comércio procura derrubar as fronteiras nacionais que atrapalham sua
expansão.
Haverá dia em que o planeta será um único mercado. O comércio gerou e
continua a gerar novas actividades econômicas. Foi a intensificação das trocas
pelos comerciantes que despertou em algumas pessoas o interesse de
produzirem bens de que não necessitavam directamente; bens feitos para
serem vendidos e não apenas para serem usados por quem os fazia. É o início
da actividade que, muito tempo depois, será chamada de fabril ou industrial.
Os bancos e os seguros, em sua origem, destinavam-se a atender necessidades
dos comerciantes. Deve-se ao comércio eletrônico a popularização da rede
mundial de computadores (internet), que estimula diversas novas actividades
econômicas.

 Comerciante e Empresário (conceito jurídico-mercantil da empresa) art.º 230º


CCom de 1888 acolhe o conceito de empresa como actividade produtiva, como
a industria e os serviços, baseadas na especulação sobre o trabalho (por
contraposição ao comércio que considerado uma actividade de especulação
sobre o risco): empresário era aquele que prestava determinados bens e

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serviços usando como principal factor produtivo o trabalho de outrem (art.º


230º nº1 “… empregando, para isso, só operários ou operário e máquinas.”

Com a Revolução Industrial, as empresas latu sensu passam a equiparar


comerciantes aos restantes empresários.

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