São Paulo, terça-feira, 31 de maio de 2005

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ANÁLISE

"Dois a Um" comemora com geléia brasileira

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

No último domingo, o "Dois a Um", programa apresentado por Mônica Waldvogel, comemorou seu primeiro ano de existência promovendo o encontro entre o erudito José Celso Martinez Correia, legendário diretor do Teatro Oficina, e o popular Ratinho, apresentador de TV.
Tropicalista, oswaldiano, engajado nas múltiplas possibilidades de troca que a mistura brasileira sugere, Zé Celso procurou desarmar o agressivo colega de trabalho afirmando o terreno comum da comunicação. Ratinho mordeu a isca coerente com sua raiz popular, sua experiência no circo-teatro, sua vocação para palhaço, tradição que Zé Celso preza.
Nessa toada, Sílvio Santos, o dono da emissora que transmite o programa, foi saudado com a patente mais alta de palhaço-mor.
O diretor do Oficina aproveitou a ocasião para pedir o apoio de Ratinho para sua campanha pela construção de um gigantesco teatro-estádio, projeto que parecia ter encontrado vazão em uma heterodoxa parceria com Sílvio Santos, mas que estaria esbarrando no "financeiro" do grupo SS.
A conversa foi rica em pérolas da geléia geral brasileira. Os referenciais ideológicos e partidários de esquerda e direita se confundem. No melê, as provocações cultural-transformadoras de Zé Celso se sobressaem.
Ratinho se define como "meio de direita", defende Lula, acusa FHC de elitismo e define o MST como capitalista. Zé Celso critica Lula, elogia Gil e desconcerta o colega de programa ao admirar seu belo corpo de ator.
Ratinho entrou na defensiva, repetindo sua fórmula "sou popular, mas autêntico", antiintelectual e antielite brasileira. Mas terminou seduzido pelo apelo carnavalizante do teatrólogo.
Talvez a reivindicação esteja deslocada. Se os palhaços Sílvio e Ratinho têm seus programas de auditório, o palhaço Zé Celso merece ter o seu. No palco televisivo, poderá falar não para 15 mil, mas para 15 milhões.


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP

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