Economista deu a volta ao mundo para vender sa�de via SMS no Brasil
Michael Kapps, 27, fez um caminho tortuoso at� o empreendedorismo social no Brasil. Nascido em Moscou, mudou com a fam�lia da R�ssia para o Canad�, onde foi criado. Fez faculdade nos Estados Unidos, mas antes passou uma temporada na �frica como volunt�rio, quando fundou uma ONG em Gana com amigos.
Uma "volta" ao mundo que o fez chegar ao Pantanal, quando ainda era estudante de economia na prestigiosa Universidade Harvard.
"Estava muito estressado na faculdade. Quis dar um tempo e viver uma experi�ncia diferente. Meus pais acharam estranho, mas fui morar no Pantanal, tocando gado numa fazenda, por uns quatro meses", relata, sobre o "emprego" para o qual foi indicado por um amigo.
N�o sabia falar portugu�s, mas diz ter aprendido o idioma andando a cavalo com dicion�rio na m�o e enchendo de perguntas os demais vaqueiros da fazenda.
"Eu me encantei com o Brasil. Me senti muito mais brasileiro do que russo, canadense ou americano."
Voltou com energia para concluir a universidade e foi trabalhar na gigante de consultoria McKinsey, em Palo Alto, na Calif�rnia, prestando servi�os para ind�stria farmac�utica e grandes hospitais. "Mas sempre pensei em criar algo que pudesse mudar a vida das pessoas e em escala."
A temporada em Mato Grosso, diz ele, tamb�m serviu para perceber que havia "bastante potencial e oportunidades para mudar o sistema de sa�de no Brasil".
Kapps come�ou a trocar ideias com o brasileiro Juliano Froehner, 40, ex-aluno de Harvard como ele, seu futuro s�cio na T�.Na.Hora Sa�de Digital.
O neg�cio de impacto social foi criado h� quase tr�s anos com o objetivo de atender grandes popula��es e �reas caras ao poder p�blico, como primeira inf�ncia, sa�de da fam�lia, doen�as cr�nicas -entre elas obesidade, hipertens�o e diabetes- e epidemias como dengue.
"Quer�amos achar uma solu��o para a sa�de que se encaixasse na realidade brasileira, que as pessoas pudessem incorporar na vida delas", afirma Kapps. "Dar um Fitbit [monitor de passos digital] para todos n�o � vi�vel no Brasil, por isso temos que 'tropicalizar' a tecnologia."
Para garantir que o servi�o chegue ao maior n�mero poss�vel de pessoas, os empreendedores recorreram a uma tecnologia que existe desde os anos 1990 e que est� na m�o ou no bolso de 9 em cada 10 brasileiros: o bom e velho SMS, ou a popular mensagem de texto, via celular.
A sa�da achada por eles para ajudar pessoas com doen�as cr�nicas ou condi��es espec�ficas para melhor acompanhar sua sa�de foi criar um servi�o de mensagens personalizadas. Como o usu�rio n�o precisa ter acesso � internet nem baixar um aplicativo ou possuir smartphone, a ades�o � maior.
"N�s queremos usar a tecnologia para mudar comportamento, educar as pessoas e tentar resolver alguns dos maiores problemas de sa�de do pa�s", diz o russo, em seu portugu�s fluente e com forte sotaque.
"Criamos um robozinho que consegue conversar com milhares de pessoas, de um jeito personalizado, auxiliando os profissionais de sa�de."
No caso do SMSBeb�, projeto em funcionamento em Rio Negrinho (SC), gestantes e m�es de crian�as de at� tr�s anos recebem mensagens com dicas sobre gravidez saud�vel e depois sobre sa�de e desenvolvimento da crian�a.
"Ensinamos que n�o se deve colocar o beb� para ver novela e sim ler para ele. S�o dicas que t�m base na neuroci�ncia", explica o cofundador da T�.Na.Hora.
As mensagens para gr�vidas, por exemplo, falam sobre v�nculo entre m�e, pai e beb�, exerc�cios f�sicos e alimenta��o e alertam para problemas comuns como infec��o urin�ria.
MASSAGEM NOS P�S
Para os pais de primeira viagem Jessica Engel, 18, e Jeferson Kwitschal, 21, as mensagens come�aram a chegar desde a primeira consulta de pr�-natal. Dicas que orientavam Kwitschal a cuidar da mulher e a fazer massagem a agradaram.
"Eu tinha medo do parto, mas as mensagens falaram para caminhar, para conversar com o pai e para pensar em coisas boas, e isso ajudou", diz ela.
Agora que a filha deles, Isabelly, est� com sete meses, a m�e gosta de receber mensagens sobre t�picos de sa�de, como a possibilidade de rea��o �s vacinas, e sobre o desenvolvimento da beb�.
Segundo a T�.Na.Hora, a taxa geral de resposta �s mensagens � de aproximadamente 30%, chegando a mais de 60% entre as gestantes, p�blico mais engajado.
BAIXO CUSTO
Os clientes desse tipo de servi�o s�o prefeituras e planos de sa�de. Tamb�m h� empresas que querem encorajar pr�ticas saud�veis entre seus funcion�rios. Hoje, s�o enviadas cerca de 57 mil mensagens de texto por m�s, somando todos os servi�os prestados pela T�.Na.Hora.
Uma limita��o da tecnologia � o custo para mandar SMS, entre R$ 1 a R$ 3 por pessoa por m�s, cobrado dos clientes. Um valor relativamente baixo diante dos resultados e do alcance do servi�o.
Um dos argumentos usados pelo empreendedor em suas andan�as por �rg�os p�blicos para vender o produto � aumentar o envolvimento dos pacientes por um baixo custo e em grande escala.
"N�s fazemos gest�o de sa�de populacional. Nossos concorrentes trabalham s� nas classes A e B. Os outros 95% da popula��o precisam de uma solu��o", diz Kapps.
Os fundadores afirmam que a T�.Na.Hora deve faturar R$ 2 milh�es em 2017 e que a expectativa � atingir o "break-even" (ponto de equil�brio entre despesas e receitas) nos pr�ximos 12 meses.
"Meu sonho � saber que minha empresa criou uma ferramenta que, de forma barata, est� se espalhando por todo o Brasil. Espero que seja usada tamb�m no resto do mundo onde existem os mesmos problemas", diz Kapps.
Hoje, o empreendedor "globetrotter" (viajante frequente), que fez est�gios em lugares como Ilhas Maur�cio, Emirados �rabes Unidos e Azerbaij�o, mora em S�o Paulo e viaja com regularidade aos munic�pios catarinenses Joinville e Rio Negrinho, cidade natal do s�cio, onde a T�.Na.Hora tamb�m tem parte de suas opera��es.
MAL�RIA
Com tantas andan�as, aos 17 anos, Kapps viveu uma experi�ncia que moldou sua vis�o de empreendedorismo social em sa�de.
"Tive Mal�ria em Gana e lembro da primeira noite, com muita febre, sem saber o que era nem como chegar ao hospital. Foi traum�tico", recorda-se. "Eu deitei no ch�o e dormi na chuva, o que ajudou a baixar a febre."
No dia seguinte, foi para o hospital, comprou os medicamentos e logo estava curado. "Depois disso, pensei muito em sa�de p�blica e em como fazer iniciativas em massa, trabalhar com popula��es", afirma o empreendedor que veio do frio. "N�o quero simplesmente tratar as pessoas, mas mudar a forma como elas pensam a sa�de."
DISSEMINAR INFORMA��ES
Para os pais de primeira viagem Jessica Engel, 18, e Jefferson Kwitschal, 21, as mensagens come�aram a chegar desde a primeira consulta de pr�-natal.
A cada SMS vinham orienta��es sobre o passo a passo da gesta��o e at� sugest�es para o futuro pai massagear os p�s da companheira.
"Eu tinha medo do parto, mas as mensagens falaram para caminhar, para conversar com o pai e para pensar em coisas boas e isso ajudou", diz Jessica.
Ap�s o nascimento da filha, Isabelly, que est� com sete meses, a m�e continua a receber mensagens sobre o o desenvolvimento da beb� e dicas como possibilidade de rea��o �s vacinas.
Cerca de 300 m�es est�o sendo monitoradas em Rio Negrinho (SC), onde a T�.Na.Hora Sa�de Digital realizou o piloto do SMS Beb�, programa de monitoramento de gestantes e beb�s presente em quatro Estados.
A start-up social disponibiliza 50 programas diferentes voltadas para doen�as ou quest�es de sa�de diferentes, distribu�dos em mais de 400 vers�es e adaptados para grupos demogr�ficos espec�ficos.
S�o enviadas atualmente 57 mil mensagens por m�s, atingindo 40 mil fam�lias (estima-se 100 mil pessoas).
Na pr�tica, as mensagens tentam influenciar o comportamento do paciente de forma positiva, encorajando pr�ticas saud�veis e a ades�o ao tratamento, se houver.
"N�s acreditamos que nem tudo na sa�de se resolve com mais m�dicos ou mais medicamentos. Tentamos influenciar o comportamento humano usando o celular", diz Michael Kapps, cofundador da T�.Na.Hora.
A equipe do servi�o de sa�de digital constr�i "�rvores" de perguntas e respostas que v�o direcionando o "rob�" que envia as mensagens, para que essas sejam adequadas �s respostas dadas pelo usu�rio.
Os profissionais tamb�m estudam os hor�rios em que as mensagens s�o enviadas e que tipo de SMS tem maior taxa de resposta, para que o engajamento seja cada vez maior.
IMPACTO
Um estudo cl�nico est� em andamento para medir o impacto das mensagens frequentes via celular na sa�de das fam�lias que fazem uso do SMSBeb�.
Resultados preliminares indicam maior conhecimento da m�e e aumento da presen�a do pai no pr�-natal; est�o sendo monitorados outros quesitos como vacina��o das crian�as e desenvolvimento cerebral.
Fl�via Trindade dos Santos, enfermeira da Unidade B�sica de Sa�de do bairro do Cruzeiro, em Rio Negrinho (SC), diz que os SMS enviados para gestantes e m�es ajudam a reduzir as idas desnecess�rias � unidade, j� que muitas dicas orientam sobre ocorr�ncias normais na gravidez e primeira inf�ncia.
Outro efeito das mensagens � aumentar a participa��o dos pais, que tamb�m podem se cadastrar para receber os SMS. "Nem todos podem vir �s consultas de pr�-natal, mas por receberem as mensagens acompanham melhor a gesta��o", diz ela.
As mensagens constantes acabam por criar v�nculos. "� como um amigo virtual. Eu acordava e j� ia olhar as mensagens", diz Marina Pereira, 31, que recebe os SMS desde o in�cio da gesta��o do filho Matheus, hoje com um ano.
Em um estudo interno, foi identificado aumento de 10% de ades�o aos medicamentos, 10% na taxa de vacinas em crian�as cadastradas no SMS Beb�, e engajamento de 90% em pacientes em pr� e p�s-operat�rio.
"Da gravidez dos meus outros quatro filhos, ningu�m me perguntava como eu estava me sentido. �s vezes, a gente se sente meio carente. No virtual eu tinha um amigo", relata Ilka Lemes, 43, sobre as mensagens de texto que lhe acompanharam durante a quinta gesta��o.
A T�.Na.Hora investe no momento em um projeto piloto do SMS Especial, voltado aos pais de crian�as com s�ndrome de Down, que v�o recebam mensagens sobre sa�de e desenvolvimento.
"Vamos mandar mensagens aos pais e parentes para garantir a estimula��o das crian�as e depois tamb�m para empoderar os adolescentes e eles possam entrar no mercado de trabalho", afirma Michael Kapps, o cofundador do neg�cio social de sa�de digital.
VACINA DA DENGUE
Outro projeto em andamento � com o Instituto Butantan, de S�o Paulo. Por meio do sistema da T�.Na.Hora, os pesquisadores usam SMS para o estudo cl�nico com brasileiros que est�o testando uma vacina da Dengue
Desde fevereiro, a T�.Na.Hora monitora os 16.944 volunt�rios em 12 Estados. Eles ser�o acompanhados por cinco anos para medir a efic�cia da imuniza��o daquela que pode ser a primeira vacina desenvolvida pelo SUS.
� um projeto de R$ 300 milh�es, financiado pelo governo federal em parceria com o Instituto Nacional de Sa�de dos EUA.
A T�.Na.Hora encarou o desafio de fazer parte de um estudo t�o relevante. "Eles viram a oportunidade de trabalhar no desenvolvimento de uma vacina no sistema p�blico, pelo SUS e para o SUS", afirma Ricardo Palacios, gerente de pesquisa do Instituto Butantan.
Os SMS disparados semanalmente possibilitam um acompanhamento mais �gil, com maior seguran�a e menor necessidade de visitas e telefonemas peri�dicos aos volunt�rios submetidos aos primeiros testes vacina contra a dengue.
Hoje, o SUS representa 50% do faturamento da T�.N�.Hora, os outros 50% s�o advindos de receitas do setor privado, no qual a start-up social est� ligada a grandes empresas que fornecem o servi�o a seus funcion�rios e planos de sa�de nacionais, como os da Unimed, e regionais.
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Em um contexto de envelhecimento populacional, h� um aumento no custo da sa�de p�blica decorrente de doen�as cr�nicas. No Brasil, esse problema � agravado pela desigualdade de acesso a informa��es m�dicas e ao custo de sua dissemina��o. Em um contexto de crise econ�mica no setor p�blico, h� potencial para alternativas que gerem aumento de efici�ncia na gest�o de sa�de populacional.
A T�.Na.Hora � uma empresa que automatiza a gest�o populacional de sa�de por meio do uso de mensagens (SMS) para contatar pelo celular diretamente o usu�rio de sistemas de sa�de. Atua em quatro segmentos: sa�de p�blica (SUS), operadoras de sa�de, grandes empresas e ind�stria farmac�utica.
Seu foco principal � o acompanhamento de pacientes em tratamento de doen�as cr�nicas, gesta��o e primeira inf�ncia. A cria��o do neg�cio e a decis�o pelo uso de uma tecnologia simples (SMS e n�o um aplicativo) implicam tr�s inova��es importantes:
1) A ideia de acompanhamento remoto -Michael Kapps teve a ideia de "criar um novo tipo de medicina", mais barata e eficiente. Essa "medicina do comportamento" teria um enfoque maior em preven��o de doen�as por meio da mudan�a de h�bitos e dissemina��o de informa��o. O empreendedor entende que o envelhecimento da popula��o traz desafios que n�o s�o resolvidos "com mais m�dicos ou medicamentos". Para estudar o comportamento de pacientes, Kapps percebeu que seria necess�ria uma tecnologia facilmente escal�vel.
2) O sistema de disparo de SMS e a intera��o com os usu�rios - Para isso, decidiu criar um programa de SMS, que gerencia di�logos com os usu�rios. A T�.Na.Hora v� o SMS como uma "tropicaliza��o" de solu��es baseadas em aplicativos, em um pa�s em que o acesso � internet m�vel ainda � uma barreira. Os SMS possibilitam uma conversa entre paciente e empresa de sa�de, em uma solu��o barata e capaz de atingir todos os estratos da popula��o brasileira.
3) A capacidade de adapta��o deste sistema - A TNH se mostra capaz de adaptar seu servi�o a v�rios tipos de clientes. Inicialmente voltada para redes de farm�cias e lembretes de rem�dios, hoje a empresa atua no cuidado de gestantes, diab�ticos, hipertensos, idosos, testes cl�nicos, entre outros.
A principal cria��o da T�.Na.Hora � o seu software de desenvolvimento e envio de mensagens, capaz de aprender com os usu�rios para gerar intera��es mais engajadoras com o tempo. O sistema funciona por uma "�rvore de decis�es", desenvolvida pelos s�cios (Michael Kapps e Juliano Froehner) e pelo time de programa��o, presente em Joinville (SC).
A "�rvore de decis�es" � uma estrutura de encadeamento de mensagens desenvolvida para cada programa da TNH, em que s�o planejadas quais mensagens ser�o enviadas para cada usu�rio, a depender de uma agenda relativa a sua condi��o (por exemplo, o dia esperado de parto, para gestantes) e das respostas desse(a) usu�rio(a) �s mensagens interativas.
O conte�do das mensagens � definido por uma equipe de jornalistas em parceria com um m�dico que elabora o protocolo de atendimento, no escrit�rio de S�o Paulo. Os SMS s�o enviados em momentos espec�ficos do tratamento ou da gesta��o, por exemplo. Al�m de dicas e lembretes, s�o enviadas tamb�m perguntas (se a pessoa teve febre, ou apresenta alguma dor). � medida que s�o respondidas, as mensagens subsequentes s�o selecionadas. Esse sistema permite que cada usu�rio receba um pacote customizado de informa��es, de acordo com suas condi��es.
H� quatro grandes produtos para a sa�de p�blica atualmente no portf�lio da T�.Na.Hora:
1) SMSBeb�: Programa de acompanhamento de gesta��o e primeira inf�ncia. As gestantes s�o cadastradas nas unidades de sa�de dos munic�pios participantes e passam a receber SMS peri�dicos com informa��es e perguntas sobre sua sa�de. As mensagens s�o customizadas a partir da data prevista de parto, para que cada paciente receba informa��es relevantes para o est�gio de sua gravidez.
2) SMSEspecial: Programa desenvolvido em parceria com o Google.org e as Apaes de Santa Catarina que est� em fase de implementa��o. As mensagens s�o enviadas para familiares e para pessoas com s�ndrome de Down com foco em desenvolvimento de autoestima e inclus�o no mercado de trabalho.
3) SMSDengue: Programa em desenvolvimento com prefeituras da regi�o Nordeste para controle epid�mico. As mensagens s�o enviadas para pacientes que tenham tido dengue e seus familiares, para ajudar no controle de focos da doen�a pelo poder p�blico.
4) Vacina da dengue: O T�.Na.Hora est� envolvido no teste cl�nico da vacina contra a dengue em andamento pelo Instituto Butantan. O projeto, financiado integralmente pelo SUS, pode gerar uma vacina gratuita contra a doen�a. Os volunt�rios do teste devem reportar qualquer efeito adverso nos cinco anos seguintes � vacina��o. Por meio da intera��o por SMS, o instituto espera garantir maior confiabilidade desse acompanhamento. Em �ltima inst�ncia, isso pode levar � aprova��o da vacina em menos tempo.
Como insistem os s�cios Kapps e Juliano Froehner, a T�.Na.Hora n�o pretende (e, legalmente, n�o poderia) substituir os m�dicos, mas ajudar os profissionais de sa�de. Os clientes da TNH geralmente pretendem aumentar a efici�ncia no acompanhamento de seus pacientes - seja por visita��o direta, no caso de UBS, ou por call centers, no caso de planos de sa�de.
Michael Kapps nasceu na R�ssia, pouco antes da queda do Muro de Berlim. Ainda crian�a, seus pais se mudaram para o Canad�, onde viveu at� entrar na universidade, nos Estados Unidos. Come�ou a se interessar pela causa da sa�de ainda adolescente. Com 15 anos, se tornou volunt�rio em um hospital, pois achava que queria ser m�dico. Aos 16, foi finalista, com o time do Canad�, das Olimp�adas Cient�ficas, em um estudo de neurodesenvolvimento. Antes de entrar na Universidade Harvard (onde cursaria economia), se tornou volunt�rio em um hospital em Gana, na �frica. A partir da experi�ncia, decidiu que n�o gostaria de ser m�dico, ao ver o "dia a dia da sa�de". Segundo Kapps, a experi�ncia acompanhando cirurgi�es no hospital o fez pensar na sa�de de forma mais hol�stica. "O m�dico trata um paciente por vez, mas n�o resolve o problema do motivo que levou esse paciente ao hospital." Ainda em Gana, Kapps foi infectado com mal�ria e teve de buscar tratamento no prec�rio sistema de sa�de do pa�s. Quando estava deitado no corredor do hospital esperando o m�dico, percebeu que deveria se engajar na sa�de p�blica. Kapps considera que a solu��o da mal�ria n�o estava nos hospitais onde realiza-se o tratamento, mas na divulga��o de informa��es para evitar que a doen�a se espalhe.
J� estudando em Harvard, voltou a Gana para abrir uma ONG com amigos, para promover educa��o em sa�de e ajudar no cadastramento de pessoas em situa��o vulner�vel no sistema de sa�de p�blico gan�s. Kapps viu ali que a experi�ncia em ONGs, mesmo que enriquecedora, n�o traria a escala que ele desejava, pois a maior parte do tempo era gasta pedindo dinheiro de doadores. Foi nesse momento que se reconheceu como empreendedor: queria usar sua facilidade em organizar pessoas para um fim comum, mas de forma mais escal�vel.
Em Harvard, estudou economia do desenvolvimento, de onde saiu para trabalhar na �rea farmac�utica e de sa�de da consultoria McKinsey, no Vale do Sil�cio. Um ano e meio depois, largou o emprego para empreender no Brasil. Ele j� havia passado duas temporadas no pa�s: uma num est�gio em um fundo de investimento, e outra quando decidiu viver seu sonho de inf�ncia de ser vaqueiro, no Pantanal.
Kapps conversou com seu amigo Thomas Prufer, que conseguiu um investimento a fundo perdido de R$ 50 mil com seu pai, para iniciar a T�.Na.Hora. A combina��o de sua origem na R�ssia e suas viagens a outros pa�ses em desenvolvimento deu a Kapps a paix�o por investir e impactar a sa�de p�blica de locais vulner�veis.
Nas conversas com Kapps sobre a T�.Na.Hora, � percept�vel sua milit�ncia na democratiza��o da sa�de, e sua percep��o das mudan�as sociais pelas quais passa o pa�s. Esses dois pontos de vista s�o abordados pela TNH.
No quesito da democratiza��o da sa�de, a escolha da TNH de manter seu sistema atrelado a SMS, que n�o exige acesso � internet, ou o download de aplicativos em "app stores" (nem sempre compat�veis com todos os modelos de celulares) � uma forma de atingir o maior n�mero de pessoas.
Ao perceber as mudan�as demogr�ficas no Brasil, Kapps considera que h� import�ncia crescente de tratar doen�as cr�nicas, um dos usos do sistema do T�.Na.Hora. A empresa se beneficiou da experi�ncia de seu investidor anjo, Philippe Prufer. Pai do primeiro s�cio de Kapps, Thomas Prufer, Philippe Prufer foi gerente mundial de uma grande ind�stria farmac�utica e conhecia a dificuldade de garantir a ader�ncia ao tratamento de pacientes com depress�o. Ao acompanhar os h�bitos de pacientes que usavam o Prozac, por exemplo, ele constatou o que muitos paravam de tomar a medica��o, pondo em risco o tratamento, quando se sentiam melhor. Para os donos da TNH, tais problemas n�o s�o resolvidos simplesmente com mais m�dicos, hospitais ou rem�dios, mas com engajamento e informa��o aos pacientes, o que eles oferecem por meio da tecnologia.
Kapps est� no Brasil h� tr�s anos e j� n�o se sente canadense ou russo. Seu grande envolvimento com o pa�s fica claro no seu engajamento com o projeto. Anselmo Antunes, diretor comercial da TNH, diz que Kapps parece um empreendedor com 100 anos de experi�ncia, mesmo com apenas 27. Na Artem�sia, aceleradora que trabalha com a TNH desde o segundo semestre de 2014, Kapps � tido como uma refer�ncia na �rea de tecnologia e sa�de.
A T�.Na.Hora exerce um papel de empoderamento para as fam�lias impactadas. Esse efeito � mais forte entre as gestantes e m�es que recebem mensagens do programa SMSBeb�. Elas relatam mais confian�a nos cuidados com os rec�m-nascidos, melhora no desenvolvimento da crian�a e maior participa��o dos maridos nas tarefas dom�sticas - fruto da conscientiza��o que as mensagens pelo celular levam � fam�lia.
Internamente, h� sensa��o comum de ganhos relevantes entre os colaboradores da TNH, nos tr�s escrit�rios (S�o Paulo, Joinville e Rio Negrinho). Todos se sentem protagonistas de uma grande transforma��o na forma de se pensar a sa�de p�blica, mais democr�tica e tecnol�gica. Essa sensa��o � fruto do engajamento demonstrado por Kapps com o projeto e com o pa�s.
H� tr�s n�veis de mensura��o do impacto direto gerado pela TNH.
1. A intera��o com as mensagens (quantas s�o enviadas por m�s, quantas s�o respondidas, fam�lias impactadas)
Atualmente, s�o enviadas 57 mil mensagens por m�s, atingindo 40 mil fam�lias (estima-se 100 mil pessoas). Hoje o SUS representa 50% do faturamento da TNH. Os outros 50% s�o advindos de receitas do setor privado no qual a TNH est� ligada a grandes empresas que fornecem o servi�o a seus funcion�rios e planos de sa�de regionais (em especial a Unimed). No total, a empresa estima que 70% do seu p�blico � da base da pir�mide social.
2. Efeitos dos SMS na sa�de p�blica (em especial no SUS e em estudos cl�nicos epidemiol�gicos)
Os efeitos dessas mensagens na sa�de p�blica s�o sentidos de duas formas. H� relatos n�o quantitativos da enfermeira que atende gestantes cadastradas no SMSBeb� em uma UBS de Rio Negrinho sobre a diminui��o do n�mero de visitas de gestantes � unidade. Segundo ela, como os SMS explicam as transforma��es no corpo da gestante semana a semana, as futuras m�es deixam de ir ao SUS por "qualquer dorzinha". As mensagens, segundo ela, refor�am o que "� o normal", acalmando as gestantes. Segundo Fabiana da Luz, coordenadora de primeira inf�ncia da Secretaria de Sa�de de Rio Negrinho, a prefeitura da cidade j� havia pensado em desenvolver um programa de SMS, que n�o foi implementado pela falta de conhecimento.
H� tamb�m impacto na intera��o com os pais, que recebem as mensagens e se engajam mais em tarefas dom�sticas, pois recebem informa��es sobre a condi��o das gestantes. Em um estudo interno, foi identificado aumento de 10% de ades�o aos medicamentos, 10% na taxa de vacinas (de crian�as cadastradas no SMSBeb�), e engajamento de 90% em pacientes em pr� e p�s operat�rio.
Desde fevereiro de 2016, a TNH est� em parceria com o Instituto Butantan para realiza��o dos testes cl�nicos da vacina contra a dengue. Esse � um projeto de R$ 300 milh�es, financiado pelo governo federal, em parceria com Instituto Nacional de Sa�de dos EUA, e pode se tornar a primeira vacina desenvolvida pelo SUS. Com essa parceria, o instituto ter� maior controle sobre os 16.944 volunt�rios que ser�o acompanhados por cinco anos para medir a efic�cia da imuniza��o. Os SMS semanais potencializam esse acompanhamento, com maior seguran�a e menor necessidade de visitas e telefonemas peri�dicos de enfermeiros.
3. Percep��o de mudan�a nos cuidados pelos benefici�rios diretos.
O terceiro ponto de impacto do T�.Na.Hora � na ponta, nos benefici�rios que recebem as mensagens pelo celular. H� dois tipos de benefici�rios, o foco do acompanhamento (gestantes, diab�ticos) e acompanhantes (pais, fam�lia, acompanhantes profissionais). Em Rio Negrinho, onde o programa SMSBeb� existe h� mais tempo, h� muito apoio ao programa na Secretaria de Sa�de do munic�pio, dos funcion�rios das UBS cadastradas e entre as benefici�rias.
A TNH funciona em tr�s escrit�rios, distribu�dos em tr�s cidades diferentes. A sede est� em Rio Negrinho, onde trabalham o s�cio Juliano Froehner e os setores administrativo e financeiro. Em Joinville (SC), est� o time de desenvolvimento, e, em S�o Paulo, trabalham Kapps, o time comercial, o time de contas e o de conte�do.
A equipe se organiza em reuni�es semanais, que chamam de "stand-up meetings". Todos ficam em p� para expor em 15 minutos o status dos projetos.