Amigos deixam mercado financeiro para criar start-up de educa��o
Cl�udio Sassaki e Eduardo Bontempo ficaram amigos depois de passar tr�s dias sem tomar banho, presos num escrit�rio na av. Faria Lima, em S�o Paulo, lapidando um projeto do banco para o qual trabalhavam, que envolvia a capta��o de R$ 1,4 bilh�o.
Entre r�pidos cochilos e lanches nessa maratona –frequente para profissionais do mercado financeiro–, os dois descobriram um interesse em comum: a educa��o.
"Foi �poca de abertura de capitais no Brasil. �s vezes n�o t�nhamos energia nem para ficar em p�, mas foi um baita aprendizado. Um deles foi o de que a educa��o, no Brasil, n�o era vista como oportunidade de neg�cio", diz Bontempo.
Apoiados no mestrado em educa��o em Stanford (feito por Sassaki) e em estudos de tecnologias para educa��o no MIT (por Bontempo), os dois abriram m�o de promissoras carreiras no mercado financeiro.
Sassaki, 40, e Bontempo, 30, investiram na start-up as economias que tinham acumulado como vice-presidente de banco e CFO de uma petroleira, no caso do primeiro, e como um dos melhores analistas de banco, no caso do segundo.
Inspirada na Khan Academy, que, por meio de videoaulas leva educa��o de qualidade a qualquer pessoa em qualquer lugar, a Geekie surgiu em 2011 com a miss�o de oferecer aprendizado adaptativo para todos. "Cada um aprende de um jeito diferente e a educa��o precisa se adaptar a isso. Por isso criamos a Geekie", afirma Sassaki.
Os dois foram em busca de um bom time: convenceram quatro dos melhores engenheiros de computa��o formados pelo ITA (Instituto Tecnol�gico de Aeron�utica) em 2011, que eram cobi�ados por empresas como Google e Microsoft, a ir trabalhar na start-up.
Na Geekie, nome que vem da palavra "geek" (nerd ligado em tecnologia), criaram um algoritmo que funciona como um professor particular para o aluno, capaz de identificar nele pontos fortes, aptid�es e dificuldades.
Ao mesmo tempo, dissecaram a Teoria de Resposta ao Item, usada no Enem (Exame Nacional do Ensino M�dio) e em outros testes internacionais, que permite avaliar os candidatos por suas habilidades e compet�ncias.
Ao entrar na plataforma da Geekie, por exemplo, se voc� faz um pequeno teste e erra uma quest�o de raiz quadrada, o algoritmo lhe prop�e aulas e exerc�cios sobre raiz quadrada. E mais: quanto mais voc� interage com a plataforma, mais ela aprende sobre o usu�rio, seja ele um aluno, uma escola ou um professor.
Alternando testes e conte�dos, o software vai criando um plano de estudos personalizado para cada aluno.
Ao mesmo tempo em que a plataforma tomava corpo, Sassaki e Bontempo foram atr�s de escolas que se dispusessem a oferecer o Geekie para seus alunos. No primeiro ano, em 2011, conseguiram sete escolas, sendo a primeira delas no Esp�rito Santo.
Mas, na cabe�a de Sassaki e Bontempo, a tecnologia criada tinha que ir al�m, a ponto de acertar a grande massa de estudantes do ensino p�blico. Para isso colocaram em pr�tica o conceito do "one pay, one free", ou seja, a cada aluno de escola particular que tivesse acesso ao software, este seria dado tamb�m a um estudante da rede p�blica.
A fim de aumentar a escala, em 2012 lan�aram o primeiro Geekie Teste, um simulado do Enem, em parceira com um jornal, atraindo 250 mil alunos. No ano seguinte, com a divulga��o de uma rede de TV, a mesma plataforma registrou 2 milh�es de inscri��es.
O sucesso chamou a aten��o do Minist�rio da Educa��o (MEC), a ponto de o ent�o ministro Aloizio Mercadante convocar Sassaki e Bontempo para entender o que era a plataforma.
De acordo com os empreendedores, o MEC os incentivou a levar os servi�os da Geekie ao maior n�mero de escolas p�blicas poss�vel, sob o compromisso verbal de no futuro serem contratados pelo �rg�o federal.
A empresa recebeu a chancela do minist�rio e elogios de Mercadante. A Geekie encampou o compromisso, mesmo sem a prometida contrata��o. Viu sua participa��o saltar de tr�s para 20 Estados brasileiros e de sete para 500 escolas, com 3,1 milh�es de estudantes interagindo com a ferramenta.
TEMPO REAL
"A introdu��o da Geekie nas escolas do Rio de Janeiro foi a maior revolu��o nos �ltimos anos. Eles nos d�o relat�rios por aluno, turma, escola e disciplina e nos permitem chegar ao ensino personalizado em grande escala", explica Barbara Portilho, gerente de projetos do Gin�sio Carioca, ligado � Secretaria Municipal de Educa��o do Rio de Janeiro.
"Imagina que, para aplicar prova diagn�stica em todas as escolas do Rio, precis�vamos de dois meses s� para corrigir e lan�ar as notas. A�, quando se planejava uma a��o personalizada, ou se perdia o menino, pois este trocava de s�rie ou repetia, ou n�o se implantava o que queria por falta de tempo.
A Geekie nos permitiu, � medida do poss�vel, atuar em tempo real", diz Helo�sa Mesquita, 55, gestora de programas que ajudou a levar a Geekie para o Rio. Agora, mesmo em escolas em que a prova n�o � feita no computador, os resultados e o diagn�stico chegam em no m�ximo um m�s.
Nas escolas particulares, diretores t�m usado a Geekie n�o s� com os alunos. "O relat�rio que a Geekie nos oferece a cada prova aplicada permite ver o que est� indo bem ou mal, com aluno ou com o professor", diz Sylvio Gomide, diretor do Col�gio Mater Dei, em S�o Paulo.
"Se mais de uma turma desse professor apresenta problema no mesmo ponto, representa que o conte�do n�o foi passado ou n�o foi passado de forma que os alunos pudessem assimilar", complementa.
Para o aluno, a plataforma da Geekie se mostra mais do que um professor particular na tela do computador: representa uma maneira de se empoderar dos estudos e das ambi��es futuras.