� jornalista gastron�mica, 'foodtrotter' e autora de 'Jantares de Mesa e Cama'. Escreve aos domingos, a cada duas semanas.
N�o joga fora no lixo!
Um tanto desgostosos, os franceses est�o tendo que se acostumar � ideia de pedir um doggy bar no fim de um jantar quando sobra muita comida no prato. O "le doggy bag" —restos de uma refei��o embalados para levar para casa— tornou-se obrigat�rio por lei em janeiro, resultado de uma longa batalha no Parlamento e um abaixo-assinado.
Outra nova lei, em vigor desde fevereiro for�a supermercados a doarem alimentos descartados e/ou rec�m-expirados a institui��es carentes.
Mas a mentalidade da popula��o ainda n�o mudou, diz o chef pluriestrelado Yannick All�no, do Pavillon Ledoyen, em Paris. "Desde que passou a lei nenhum cliente pediu um doggy bag."
A Fran�a lidera um movimento crescente contra o desperd�cio e j� era tempo: 19% de todos os alimentos produzidos no pa�s v�o para o lixo.
Nos Estados Unidos, o n�mero sobe para at� 40%! Pa�ses ricos e industrializados como esses s�o os que mais desperdi�am —quanto mais rico e desenvolvido, maior a tend�ncia de a popula��o dar pouco valor aos alimentos que compra ou recebe, deixando que estraguem.
Joga-se fora tamb�m muito nos supermercados, inclusive alimentos rec�m-expirados mas perfeitamente s�os, e tamb�m no come�o da cadeia aliment�cia, quando fazendeiros veem frutas e legumes fora do padr�o rejeitados.
Mas s�o esses mesmos pa�ses com mais culpa no cart�rio que est�o a frente das mais promissoras iniciativas de combate ao problema.
O chef-celebridade ingl�s Jamie Oliver, fundador do programa Food Revolution, e a chef-ativista californiana Alice Waters, que fez uma horta org�nica na Casa Branca, lideram campanhas de conscientiza��o das crian�as nas escolas.
Ensinando-lhes de onde vem aquilo que comem, e a diferen�a entre a comida feita do zero e a industrializada a nova gera��o aprende a dar valor.
O expert em reciclagem Americano Jordan Figueiredo briga h� anos para que o WalMart (que tem mais de 4.200 lojas no pa�s) venda frutas e verduras imperfeitas. Ele pede, em um v�deo postado on-line: "Sim, a gente quer que voc�s vendam produtos feios". E bota press�o coletando assinaturas em um abaixo-assinado (j� passam de 120 mil).
A mesma t�tica surtiu efeito com a rede de supermercados org�nicos Whole Foods, que no final de abril passou a vender sacos de legumes e verduras feios em algumas de suas lojas na Calif�rnia, a t�tulo de teste.
No Brasil, onde cada um de n�s gera em m�dia um quilo de res�duo org�nico por dia, ainda engatinhamos. Pedir ao gar�om para levar para casa o que restou no prato � tabu.
Hot�is, restaurantes e empresas s�o proibidos pela vigil�ncia sanit�ria de doarem aos pobres restos de buf�s e alimentos n�o-aproveitados. Montanhas de comida acabam nos aterros, poluindo a atmosfera ao se decomporem.
Iniciativas como a da jornalista Fernanda Danelon, cujo Instituto Guandu coleta duas toneladas de res�duos org�nicos por dia em S�o Paulo para fazer adubo org�nico s�o a luz no fim do t�nel. "Minha miss�o � de fechar o ciclo do prato ao prato, e transformar o lixo em comida", diz.
Danelon, al�m de reciclar restos org�nicos, promove as hortas urbanas coletivas, que multiplicam-se —j� s�o 30 em S�o Paulo.
A Ceagesp acaba de receber um pr�mio por seu programa "Reduzindo o Desperd�cio", que distribui gratuitamente para 215 entidades frutas, verduras e legumes que n�o s�o vendidos por serem "fora de padr�o", atendendo cerca de 300 mil pessoas na Grande S�o Paulo.
E no dia 9 de agosto ser� inaugurado na Lapa carioca um refeit�rio popular onde chefs famosos ir�o cozinhar usando descartes dos restaurantes e banquetes ol�mpicos.
Parceria entre o chef italiano Massimo Bottura e a ONG Gastromotiva, o ReffettoRIO, do qual sou co-organizadora, servir� jantares diariamente para a popula��o carente do entorno at� o fim da Paraolimp�ada, em espa�o cedido pela prefeitura.
"N�s chefs temos a responsabilidade de ajudar a resolver o problema do desperd�cio", diz Bottura, cuja Osteria Francescana foi eleita em junho melhor restaurante do mundo.
Tudo isso ainda � mera gota no oceano, mas de gota em gota h� que se reverter a mar� enquanto � tempo.
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