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Tentativa de atentado contra sinagoga aumenta medo e insegurança de judeus na França

Raiva, medo e a impressão de que “nunca acaba”: em Paris, um dia após o ataque contra uma sinagoga no sul de França, a comunidade judaica exige justiça e demonstra preocupação com o seu futuro no país. A França abriga a maior comunidade judaica da Europa.

Imagem ilustrativa: em maio, após um homem tentar incendiar uma sinagoga na Normandia, mulher protesta em Paris contra atos antissemitas no país. "Sinagoga queimada, República ameaçada. Não tenhamos medo", diz cartaz. (17/05/2024)
Imagem ilustrativa: em maio, após um homem tentar incendiar uma sinagoga na Normandia, mulher protesta em Paris contra atos antissemitas no país. "Sinagoga queimada, República ameaçada. Não tenhamos medo", diz cartaz. (17/05/2024) AP - Nicholas Garriga
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“Estou bravo”, reage Laurent Guez, morador do nordeste de Paris. “Isso é ódio [contra os judeus], não há outra palavra”.

O homem ficou abalado com o ataque à sinagoga do balneário de Grande-Motte, em frente à qual dois carros foram incendiados na manhã de sábado, causando uma explosão. No momento, não havia celebrações no local e ninguém ficou ferido.

Um suspeito, que carregava uma bandeira palestina no momento do incidente, foi preso.

“Os atos antissemitas se sucedem. La Grande-Motte, no metrô, na rua. Não para nunca”, disse ele.

Agente de segurança do aeroporto de Roissy, Laurent diz ter contato com pessoas de “todas as religiões” e lamenta que “algumas pessoas estigmatizam” toda a comunidade judaica devido “ao que está acontecendo no Oriente Médio”.

Contatado pela AFP neste domingo (25), o presidente do Consistório Central Judaico da França, Elie Korchia, fez uma observação semelhante: “Podemos compreender que há críticas à política de Israel, como em qualquer democracia. Mas aqui são judeus franceses que estão sendo alvo”, disse.

“Isso nos lembra os piores momentos da década de 1980, na época do atentado à rua Copernic, por exemplo”, continua ele, referindo-se ao ataque a bomba em 3 de outubro de 1980 contra uma sinagoga no oeste de Paris, que deixou quatro mortos e dezenas de feridos.

Suspeito foi preso, mas medo continua

O “ataque antissemita” a sinagoga poderia ter se transformado em uma “tragédia absoluta” se os fiéis estivessem presentes, sublinhou o primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, que foi a Grande-Motte poucas horas depois dos acontecimentos. O autor, preso em Nîmes após uma breve fuga, é um argelino de 33 anos que vive em situação regular na França.

Os investigadores levaram cerca de 15 horas para encontrar o suspeito, filmado por câmeras de segurança com o rosto descoberto, enquanto tentava atear fogo à sinagoga pouco antes das 8h30 de sábado – instantes antes da celebração de Shabat que recebe muitos fiéis.

O suspeito foi preso em um prédio em Pissevin, um bairro pobre conhecido por ser palco de tráfico de drogas, segundo uma fonte próxima à investigação. Um total de quatro pessoas estavam sob custódia policial neste no domingo, interrogadas a respeito do caso.

Na França, os atos antissemitas quase triplicaram desde o início do ano, depois de já terem aumentado no final de 2023, na sequência do ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro e do início da guerra em Gaza.

Na região de Hérault, onde fica Grande-Motte, o morador Patrice Bitton diz ter ficado “um pouco mais tranquilo” após a prisão do suposto autor do ataque, mas se perguntou “como a justiça vai lidar com isso”.

“Estamos num contexto de ansiedade que nos leva a questionar o nosso cotidiano”, afirma. “A minha filha é obrigada a mudar de nome quando pede comida ou uma viagem de carro nas plataformas. Temos que reorganizar nossas vidas. É uma loucura, estamos na França”, salienta.

Negação do antissemitismo

Uma parisiense de 41 anos, que prefere não se identificar, explica que há muito que “se nega o antissemitismo, por respeito ao sofrimento dos habitantes de Gaza”, analisa. Ela diz que integrou um “judaísmo discreto”, pedindo aos seus filhos que “falem baixo na rua quando falamos da (sua) família em Israel”. A mulher conta que chegou ao ponto de ignorar “as suásticas pichadas na escola dos seus filhos”.

Mas o aumento dos atos antissemitas desde 7 de outubro, e em particular o estupro, em junho, de uma menina judia de 12 anos nos subúrbios de Paris, a fez decidir não ficar permanecer mais calada.

A mulher afirma estar cada vez mais preocupada, como muitas pessoas entrevistadas pela AFP, com as palavras de certos políticos que “despertam o ódio aos judeus”. O partido França Insubmissa, de esquerda radical, é acusado pelos seus adversários de alimentar o antissemitismo. A legenda contesta essas alegações.

“Temos muito medo. Estamos nos perguntamos se vamos embora ou não”, diz outra parisiense, de 19 anos. A jovem conta já ter sido atacada no metrô de Paris depois de 7 de outubro: “Disseram-me ‘judia suja, vocês têm que morrer, Hitler não terminou o trabalho’".

O prefeito do 17º arrondissement de Paris, onde mora uma grande comunidade judaica, ouve muitas famílias expressarem o desejo de partir. “Toda a comunidade está preocupada”, observa ele. “Mas quando atacam um judeu em França, é a França que é atacada.”

A pedido de várias organizações como Golem, SOS Racisme ou Liga dos Direitos Humanos, cerca de 100 pessoas reuniram-se no domingo à noite em frente à prefeitura distrital do 19º distrito de Paris. “Precisamos ficar juntos, para nos sentirmos unidos neste clima de ansiedade”, declarou Emmanuel Sanders, porta-voz dos Judeus Revolucionários (JJR).

Com informações da AFP

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