Ciclone extratropical: entenda fenômeno que causou mortes e alerta vermelho no RS

Cidade sob inundação

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Imagem aérea dos alagamentos e da destruição em Venâncio Aires, no RS
  • Author, Giulia Granchi e Julia Braun
  • Role, Da BBC News Brasil em São Paulo

Um novo ciclone extratropical se formou na segunda-feira (4/9) no sul do Brasil, provocando muita chuva, fortes rajadas de vento e até queda de granizo no Estado do Rio Grande do Sul.

A Defesa Civil emitiu alertas de temporais, enxurradas e inundações gradativas.

Segundo o governo estadual, 21 mortes foram registradas em decorrência do mau tempo e milhares de pessoas estão desabrigadas.

Uma vítima na cidade de Passo Fundo faleceu após tomar um choque elétrico devido a um alagamento em sua casa. Outros três óbitos, nas cidades de Ibiraiaras e Mato Castelhano, estão relacionados a veículos que tentaram atravessar enchentes.

Há registros de casas destelhadas, buracos em telhados causados pelas pedras de gelo e alagamentos.

Os rios Taquari, que tem sua nascente nos municípios de Cambará do Sul e Bom Jesus, e Caí, que faz parte da Bacia Hidrográfica do Lago Guaíba, também estão em risco de inundação.

Caxias do Sul e Santa Maria apresentam atualmente riscos altos de deslizamentos de terra.

Segundo o subchefe da Casa Militar - Proteção e Defesa Civil do Estado, coronel Marcus Vinicius Gonçalves Oliveira, mais de 1.600 pessoas foram afetadas diretamente, tendo, por exemplo, suas casas e outros bem destruídos.

Os ciclones extratropicais são centros de baixa pressão atmosférica que se formam fora dos trópicos, em médias e altas latitudes, segundo explica Estael Sias, meteorologista do MetSul Meteorologia.

"Ele é formado pelo contraste de massas de ar quente e frio. Parte da sua ação é sugar toda a umidade pra essa região do centro de baixa pressão e jogar para a atmosfera, resfriando e transformando a umidade em nuvens. É nesse processo que o fenômeno espalha chuva e vento", diz Sias.

De acordo com o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), a instabilidade atual está associada a circulação dos ventos e a baixa pressão que se formou no Paraguai.

Ainda segundo o instituto, o ciclone vai dar origem a uma frente fria no decorrer dos dias e reforçar a condição de chuva forte e temporais nos três estados da Região Sul.

Foto de queda de barreira em Lages, em Santa Catarina, durante passagem de ciclone em julho

Crédito, CRÉDITO SECOM SC

Legenda da foto, Foto de queda de barreira em Lages, em Santa Catarina, durante passagem de ciclone em julho

Em relação aos ventos, a previsão até a amnhã desta segunda era de rajadas que podem variar entre 40 a 60 km/h por toda a região, mas atingir até 80 km/h nas áreas de temporais.

Porto Alegre também tem alerta de temporais, temperaturas mais baixas e acumulados que podem chegar aos 100mm somente neste dia.

O sistema deve ainda chegar à noite à costa do Sudeste, trazendo mais umidade para São Paulo.

A previsão é de que na terça-feira (05/9) o ciclone se afaste para o oceano e a frente fria avance em direção ao Sudeste. O tempo fica mais estável em grande parte da Região Sul e chove apenas no centro-norte do Paraná, mas com fraca intensidade.

Como se proteger

Em áreas mais afetadas, as recomendações pedem maior cautela. Abaixo, alguns conselhos:

Alagamentos

  • Evite contato com as águas;
  • Não dirija em áreas alagadas;
  • Evite pontes submersas e pontilhões;
  • Redobre a atenção com as crianças.

Deslizamentos

Fique atento:

  • A postes e árvores com inclinação;
  • Qualquer movimento de terra ou encostas próximo à sua residência;
  • Aparecimento de rachaduras em muros ou paredes.

Ventos fortes

  • Busque um local abrigado, longe de árvores, placas, postes e outros objetos que possam ser arremessados;
  • No local abrigado, fique longe de janelas.

O que são ciclones extratropicais

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Comuns na história climática brasileira, os ciclones extratropicais costumam se formar no extremo sul do país, entre o Rio Grande do Sul e Argentina e Uruguai, países vizinhos.

Seus ventos são mais fracos e seus efeitos têm duração menor em comparação com os ciclones tropicais.

"Ciclones extratropicais no Oceano Atlântico se formam toda semana, dezenas deles às vezes. Mas é comum que se formem perto do polo sul, muito distante. Por isso não mencionamos na previsão do tempo - um ciclone extratropical a mil quilômetros da costa não vai causar nenhum efeito para a população", aponta Sias.

"A formação não é tão rápida quanto a de um tornado, por exemplo, que acontece em minutos", aponta Ana Avila, meteorologista e pesquisadora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

De acordo com Sias, o aquecimento global tem contribuído para o surgimento de ciclones extratropicais atípicos, que podem se formar com mais rapidez e causar impacto maior.

Elementos como o fenômeno El Niño, que aumentam a umidade, acabam potencializando ainda mais a força das chuvas.

Ondas no mar

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Cidades litorâneas também devem sentir maiores impactos

Há risco de alagamentos, deslizamentos e enxurradas, assim como destelhamentos, danos nas redes elétricas e quedas de árvores e galhos.

Os riscos variam de acordo com a região e a intensidade com a qual o ciclone deve atuar. Por isso é importante sempre estar alerta às recomendações da Defesa Civil e outros órgãos competentes na sua cidade e Estado.

Em cidades ao sul do país, com maior risco de alagamentos, as recomendações dos órgãos competentes vão desde procurar abrigo seguro a não entrar em contato com águas.

Cidades litorâneas também devem sentir maiores impactos.

"Os ventos ficam mais fortes próximos ao mar, assim como as ondas, que podem chegar a quatro metros de altura. Por isso, é essencial que toda atividade marítima, como a pesca, seja cancelada", explica Avila.