A desafiadora jornada do Brasil rumo a uma educação de qualidade passa pela valorização e treinamento constante dos professores, investimentos pesados em infraestrutura de telecomunicação que proporcionem internet gratuita nas escolas públicas, formação docente adequada para promover um ensino antirracista e que atente para a desigualdade social. Essas foram algumas das conclusões apresentadas pelos palestrantes da 1ª edição do Festival LED - Luz na Educação, iniciativa do Movimento LED, que tem como objetivo estimular práticas inovadoras na educação brasileira. O evento aconteceu nos dias 8 e 9, no Museu do Amanhã e Museu de Arte do Rio, e levou uma centena de convidados para debates, workshops, exposições e oficinas, uma verdadeira imersão no mundo da educação.
O Festival LED é uma realização da Globo e da Fundação Roberto Marinho, em parceria com a plataforma “Educação 360 - Conferência Internacional de Educação”, da Editora Globo (que publica o Valor), com patrocínio de Invest Rio e apoio do Coppead.
“Nada mais simbólico do que estar no Museu do Amanhã para debater a educação do futuro. Faz parte da missão do Grupo Globo a educação como vetor de transformação”, disse, na abertura, Paulo Marinho, diretor-presidente da Globo. A Plataforma 360 foi criada para mapear projetos educacionais espalhados pelo país, em parceria com iniciativas dos canais Globo. “Nossa proposta é criar um hub de soluções educacionais”, afirmou Alan Gripp, diretor de redação do “O Globo”.
“A ideia do festival, além de reconhecer iniciativas inovadoras, é ampliar o debate entre especialistas renomados, professores e alunos e pensar a educação do futuro no presente”, disse Cristovam Ferrara, head de valor social da Globo.
Entre os nomes de peso que debatem o futuro da educação na atualidade estavam os da fundadora e presidente do Future Today Institute, Amy Webb, que fez suas previsões para revolucionar as salas de aulas nos próximos anos, e do economista Eduardo Giannetti, que propôs repensar a pedagogia brasileira para fortalecer o pensamento crítico e minimizar os exageros da “memorização”. Segundo Giannetti, “a formação de capital humano é o que define a vida de um país”. Para ele, “nenhum local prospera, encontra o seu melhor, se não der a cada cidadão a capacidade de desenvolver o seu potencial humano. E o Brasil está muito longe de alcançar essa realidade.”
Para Webb, a pandemia ressaltou o problema dos desertos digitais no Brasil, fazendo com que milhares de crianças deixassem de acompanhar as aulas de forma digital, mesmo após o arrefecimento da crise sanitária. “A conectividade tem que ser gratuita ou muito barata em toda a parte. Depois é que se fará investimentos para disponibilização de aparelhos como óculos digitais e computadores”, disse.
Num painel bastante aguardado, debateram a educação antirracista a professora e coordenadora do grupo de pesquisa Coletivo Angela Davis, Angela Figueiredo, a escritora e professora Conceição Evaristo e o cantor Emicida.
Em defesa do combate à desigualdade de oportunidades, o médico Drauzio Varella afirmou que criança pobres precisam, como as ricas, ter acesso a creches de qualidade e entrar em contato com um ambiente propício para desenvolver habilidades. “A diminuição de desigualdade é urgente e exige um plano educacional de longo prazo. Quanto mais cedo as crianças puderem a ter acesso ao aprendizado e ao convívio com professores motivados, melhor.”
A professora da Universidade Federal da Bahia Bárbara Carine defendeu a tese de que a educação infantil é uma das etapas mais importantes da trajetória escolar das crianças, mas, apesar disso, não seria ainda vista com seriedade pela sociedade em geral. “A falta de seriedade a gente vê nos salários pagos aos profissionais, que são muito baixos”, disse. Ela também contou que decidiu abrir uma escola antirracista para garantir uma melhor educação para sua filha.