Inovação
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Por Jussara Maturo, para o Valor


De base bastante convencional, o setor de materiais de construção no Brasil tem usado a inovação para destravar avanços em competitividade. Entre as empresas que lideram o ranking setorial Valor Inovação Brasil, os principais projetos seguem soluções orientadas a reduzir custos, estabelecer novas fontes de receita, digitalização avançada e uso de novos materiais.

Essa mudança no perfil dos investimentos em 2022 deriva em parte do desempenho do setor cujas vendas recuaram no ano em decorrência da inflação em alta e da renda comprometida das famílias brasileiras. A reação das empresas do ranking passou pelo investimento em inovação aberta, ou interna, tanto para processos quanto para produtos.

Controlada pela Itaúsa (Investimentos Itaú S.A.), que detém 40% do capital da empresa, a Dexco lidera o ranking de 2023. Em 2022, os investimentos em inovação somaram R$ 217,7 milhões em três grandes frentes de atuação. Deste total, R$90 milhões foram aplicados em inovação aberta.

Criado em 2021, o braço de investimentos em startups da Dexco, o DX Ventures, destinou aportes para quatro empresas, cujos resultados apareceram mais fortemente em 2022. A maior fatia dos recursos coube à Brasil ao Cubo, construtech cuja técnica de construção de montagem modular agiliza o tempo de obra. “Um edifício de oito andares no sistema tradicional demoraria um ano e meio para ficar pronto e geraria 30% de resíduos. A Brasil ao Cubo conseguiu fazer um prédio de oito andares em Tubarão (SC) em cem dias, do projeto à entrega”, ressalta Daniel Lopes Franco, diretor de inovação e growth da Dexco. Com praticamente zero de resíduos, observa ele.

A intenção com o investimento nessas startups é contribuir com a transformação do setor. “Não que a Dexco queira ser uma construtora. É porque a gente acredita que a Brasil ao Cubo tem condição de mudar a construção civil e inovar. É a industrialização da construção civil”, acrescenta Renato Damaso Maruichi, gerente de inovação e corporate venture capital da companhia.

Em linha com esse propósito, o DX Ventures também investiu na varejista ABC da Construção, que hoje opera com 250 lojas que não contam com estoque local. Apoiada pelo forte poder de compra, a rede trabalha com sistema automatizado e centralizado de logística e 20 centros de distribuição localizados próximos dos mercados consumidores. Esse modelo de negócios permite assegurar prazos de entrega em conformidade com o cronograma da obra, uma grande dor do setor, explica Franco.

A contrapartida para esses investimentos é avaliar o quanto as startups podem gerar de valor estratégico para a Dexco, acrescenta o diretor. Estimulada pela solução da Brasil ao Cubo, a Dexco desenvolveu divisórias em madeira, de modo a atender a velocidade que a construção modular exige.

A Dexco criou o hub Construliving para a cadeia de construção de habitação dentro do Cubo, comunidade de inovação do Itaú — Foto: Rafael Renzo/Divulgação
A Dexco criou o hub Construliving para a cadeia de construção de habitação dentro do Cubo, comunidade de inovação do Itaú — Foto: Rafael Renzo/Divulgação

A experiência com a ABC da Construção levou ao desenvolvimento de uma plataforma B2B, de autosserviço, destinada aos clientes de atacado da Dexco. “Estamos conseguindo utilizar a força logística da ABC para reduzir nossos prazos de entrega para os clientes atuais”, conta Franco, salientando que com esse modelo consegue reduzir o custo dos fretes.

Para inovação aberta, a empresa tem o Open Dexco, programa em que lança desafios para startups. Em uma das principais iniciativas, Maruichi aponta a criação, em março de 2023, do hub Construliving, para a cadeia de construção e habitação, dentro do Cubo, empreendimento controlado pelo Itaú. Tem ainda parceria com o AgTech Garage, hub de inovação em agro que fica em Piracicaba (SP). “Para 2023, as inovações que a gente está atuando são provenientes da cocriação com nossas investidas”, afirma Franco.

Ele aponta o terceiro braço de inovação, com projetos internos. Um deles é o Imagine, acrônimo para Ideias Mais Ações Geram Inovação Na Empresa, que em 2022 recebeu 27 mil ideias que geraram ganho potencial de R$ 30 milhões para a companhia. Outro exemplo é o Dexco Experience, programa de fidelidade para arquitetos, cuja plataforma encerrou 2022 com 44 mil inscritos. Franco observa que o Brasil conta hoje com 200 mil arquitetos com registro no conselho da categoria.

Na esfera de processos, o diretor cita o projeto Sapiens, para substituição do ERP atual, envolvendo 250 soluções antigas e fora da nuvem, por 36 soluções digitais 100% operadas na nuvem. Só em 2022, quando teve o início do rollout, a Dexco investiu R$ 57 milhões. Atualmente, a empresa opera com as marcas Deca, Portinari, Hydra, Duratex Florestal, Duratex Painel, Ceusa, Durafloor e Castelatto. Para cada unidade de negócios mantém centros de P&D. Ao todo são cinco.

Segunda colocada no ranking, a Ciser aponta o lançamento do Nanotec Alumínio como o principal projeto de 2022. A empresa fabrica fixadores, como parafusos e porcas, para diferentes mercados. O Nanotec Alumínio é um revestimento baseado em nanotecnologia que visa aumentar a vida útil de fixadores aplicados em estruturas de alumínio, conta Aluisio Goulart Lopes, gerente de inovação e transformação digital da Ciser. Fixadores com esse revestimento têm aplicação no mercado de aberturas (portas, janelas, portões) e equipamentos de energia solar. Representam alternativa aos fixadores fabricados em aço inox que são, em média, 40% mais caros, diz.

Em função desse projeto, a empresa requereu patente junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) para os revestimentos Nanotec Alumínio 2000h e Nanotec Alumínio 4000h.

Desde 2020, a Ciser conta com o #Colmeia, hub de inovação com certificação ISO 56002 (estabelece normas de gestão de inovação), localizado em Joinville (SC). Conforme Lopes, em 2022 foram lançados nove projetos de 93 iniciativas trabalhadas. Para 2023, o gerente destaca o desenvolvimento de revestimento com alta resistência a ataques químicos e desgaste pela exposição a intempéries para ser usado em fachadas e telhados. Anualmente, a Ciser investe cerca de 2% de sua receita operacional líquida em inovação, diz Lopes.

Aluisio Lopes, da Ciser: fixadores em Nanotec Alumínio, mais baratos que os de aço inoxidável — Foto: Divulgação
Aluisio Lopes, da Ciser: fixadores em Nanotec Alumínio, mais baratos que os de aço inoxidável — Foto: Divulgação

Indicada para o terceiro lugar do ranking setorial, a Votorantim Cimentos aponta o lançamento da Motz, plataforma digital que conecta embarcadores e caminhoneiros para o transporte de carga. Por meio de um app, o motorista busca a carga e fica sabendo os valores do frete, explica Marcio Yamachira, diretor global de planejamento estratégico e inovação da Votorantim Cimentos.

A plataforma faz toda a gestão do processo, desde a colocação do pedido até o pagamento do frete, baseada em um modelo simples e ágil, acrescenta o diretor. A Motz foi criada pela Votorantim Cimentos em 2020 para realizar o transporte de cargas de fornecedores da companhia até suas fábricas, com investimento inicial de R$ 25 milhões. No entanto, o projeto evoluiu e hoje a plataforma atende diferentes mercados e produtos variados, como agro, construção civil e mineração, entre outros.

Em 2022, a Motz movimentou 15,1 milhões de toneladas de carga, aumento de 41% em relação a 2021. Aumentou a base de motoristas cadastrados em 63%, alcançando 27,5 mil caminhoneiros. “No lançamento ao mercado, no início de 2022, a logtech contava com um cliente, a Votorantim Cimentos, e 20 funcionários. Fechou o mesmo ano com mais de 130 clientes e 80 funcionários”, relata o diretor.

Para avaliar novos projetos, a Votorantim Cimentos criou uma comissão de inovação multidisciplinar. Em 2022, das 150 ideias apresentadas, 19 iniciativas estão no “funil de inovação”, sendo que três delas foram implementadas. “Para 2023, temos mapeados alguns territórios para avançarmos, como performance comercial, descarbonização e novos produtos/serviços, e um dos focos neste momento é o tema de competividade e eficiência”, explica Yamachira. Entre os compromissos de sustentabilidade estabelecidos para 2023, a Votorantim Cimentos definiu obter 30% da receita com soluções sustentáveis.

A Lorenzetti subiu uma posição no ranking e aponta dois projetos desenvolvidos em 2022. Como inovação de produto, Eduardo Coli, CEO da empresa, elege o lançamento da torneira eletrônica Essence. “Esse modelo renovou a linha de torneira elétrica da Lorenzetti, com design diferenciado e funcional, cujo atributo principal é que a temperatura pode ser controlada de forma gradual”, explica. Com esse produto, a empresa conseguiu aumentar a participação de mercado de torneiras elétricas, afirma o executivo.

Na área de processos, Coli indica a célula automática de extrusão e enrolamento automático de mangueira. “A inovação proporcionou o aumento da capacidade produzida dos componentes, comparada a sistemas convencionais”, diz. Enumera ainda outros benefícios, como redução de custo do componente e do custo final do produto e menos refugo de material, devido à padronização de processo. E o pouco que sobra é reprocessado, retornando ao fluxo produtivo, acrescenta o CEO da Lorenzetti.

No ano de seu centenário, em 2023, a Lorenzetti avançou em inovação de produto com o chuveiro Acqua Century, considerado um lançamento disruptivo. Além do design, Coli destaca que o novo chuveiro dispõe de um sistema inteligente de funcionamento compatível com aquecimento solar, aquecimento a gás e aquecimento por acumulação.

Anualmente, a companhia investe 6,5% da receita líquida em pesquisa e desenvolvimento. O centro de P&D fica na sede da Lorenzetti, no bairro paulistano da Mooca, onde a empresa mantém quatro de suas cinco fábricas.

Destaques setoriais - Materiais de construção

  1. Dexco
  2. Ciser
  3. Votorantim Cimentos
  4. Lorenzetti

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