Inovação
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Por Inaldo Cristoni, para o Valor


Na tentativa de construir uma mineração e uma siderurgia mais sustentáveis, as companhias desses dois setores apostam no modelo de inovação aberta, que possibilita a conexão de parceiros para viabilizar projetos alinhados à agenda da descarbonização. Além de expandir os negócios, por meio do desenvolvimento de soluções que beneficiam a operação, os clientes e os fornecedores, as ações inovadoras colocadas em prática têm como objetivo entregar valor à comunidade a qual as empresas estão inseridas. Nesse contexto, as questões relativas ao impacto ambiental das inovações, que são bastante sensíveis nesses dois ramos de atividade econômica, ganham cada vez mais relevância.

Com investimento de R$ 3,4 bilhões em pesquisa e desenvolvimento em 2022 e uma estratégia amparada no conceito de mineração circular, a Vale, líder no setor, tem um portfólio de projetos de inovação com objetivo de minimizar os impactos da atividade de mineração sobre o meio ambiente. Alguns deles, focados em tornar as operações mais “limpas”, estão em consonância com metas de redução de emissões nos próximos anos – a empresa planeja ser neutra em carbono em 2050 e avança na descarbonização da matriz energética. Outros buscam alternativas para processos produtivos e podem ganhar materialidade ainda em 2023.

Na Gerdau, que está na segunda posição no ranking setorial Inovação Brasil, a inovação funciona como uma espécie de alavanca das principais apostas de negócios no curto, médio e longo prazos, ao mesmo tempo que contribui para acelerar o processo de transformação digital e pavimentar o caminho para o modelo de indústria 4.0. “Sempre tivemos a inovação como um elemento-chave de nossa constante transformação e de geração de valor”, assinala Gustavo França, diretor global de tecnologia da informação e digital da companhia.

No desenvolvimento de projetos de inovação, a Gerdau mira a melhoria da experiência do cliente. Como parte do projeto Gerdau Mais, que tem como escopo aprofundar a jornada “figital”, avanços significativos foram obtidos na operação de supply chain. Graças ao uso de ferramentas de inteligência artificial e à integração de processos, foi possível reduzir em cerca de sete dias a previsão de entregas dos pedidos feitos por meio dos diversos canais de acesso, exemplifica França.

Lingoteamento contínuo da unidade da Gerdau em Piracicaba (SP): simulações digitais melhoram eficiência dos processos — Foto: Ricardo Teles/Divulgação
Lingoteamento contínuo da unidade da Gerdau em Piracicaba (SP): simulações digitais melhoram eficiência dos processos — Foto: Ricardo Teles/Divulgação

No chão de fábrica, a Gerdau avança com o projeto gêmeo digital, que permite fazer simulações digitais de toda a cadeia de produção no ambiente físico, antecipar o comportamento de variáveis que interferem no processo fabril para melhorar a eficiência operacional. De acordo com França, essa solução está sendo implementada não apenas na planta localizada no município de Ouro Branco (MG), mas também nas demais unidades da siderúrgica.

Maior planta da Gerdau no Brasil, a Ouro Branco é objeto da segunda fase de implementação da rede privativa 5G, um projeto tocado pela Embratel para conectar pessoas, processos e equipamentos. Um dos objetivos é ampliar a cobertura de conectividade de forma a monitorar, por meio de dispositivos de internet das coisas (IoT, na sigla em inglês), a movimentação de trens ao longo dos 90 km da linha férrea. Além disso, o projeto possibilitará a ampliação do sistema de monitoramento inteligente de gases na planta.

O alinhamento entre inovação aberta e sustentabilidade faz parte da estratégia da ArcelorMittal Brasil, gigante na produção de aços longos e planos, bobinas e laminados. Com meta de se tornar neutra na emissão de carbono em 2050, a companhia estima investir US$ 10 bilhões em nível global em ações relacionadas à descarbonização – o que abrange otimização de processos, novas matérias-primas e tecnologias – conduzidas por 12 centros de pesquisa e desenvolvimento que possui em vários países.

Um desses centros de P&D funciona na unidade de Tubarão (ES) da ArcelorMittal, onde há em andamento mais de 200 projetos com a participação de quase uma centena de estudantes de 67 instituições parceiras. Os trabalhos conduzidos têm como foco a busca de processos mais eficientes e de novas aplicações para diversos setores, como automotivo, máquinas e equipamentos, energia, construção e eletrodomésticos. Segundo Rodrigo Carazolli, gerente-geral de inovação e do Açolab na companhia, investimentos estão sendo feitos na ampliação da equipe para atender às novas demandas relacionadas a projetos estratégicos, entre os quais os de descarbonização e de energias renováveis.

A ArcelorMittal pretende ampliar, também, o escopo de atuação do Açolab, visando novos negócios, parcerias e projetos de alto valor agregado. Desde que entrou em operação, em 2018, esse hub de inovação aberta já desenvolveu 120 projetos. Atualmente, conecta 23 mil atores do ecossistema de inovação, dos quais 6.850 são startups.

Por meio do Açolab Ventures, um fundo de gestão de R$ 110 milhões apresentado no ano passado, a siderúrgica financia a aceleração de startups. Até o momento foram realizados investimentos de R$ 26 milhões em quatro delas: Agilean e Modularis, que atuam no mercado de construção, Beenx, do ramo de energia, e Sirros, especializada em soluções de hardware e software que permitem a sensorização de equipamentos e a coleta de dados que auxiliam na tomada de decisões.

Idealizado para acelerar o processo de transformação digital da própria ArcelorMittal, o programa iNO.VC é outro exemplo de inovação aberto da siderúrgica. Com a participação de colaboradores, startups, unidades, hubs de inovação e outros parceiros, desenvolve projetos que possam otimizar e prover soluções para diversas alavancas de crescimento de negócios, como saúde e segurança, meio ambiente, produtividade e atendimento ao cliente. “O encontro de soluções é feito de forma coletiva e colaborativa, a partir de ideias que envolvem temas do universo digital para dores reais das áreas de negócios”, explica Carazolli.

Rodrigo Carazolli, da ArcelorMittal: soluções encontradas de forma colaborativa — Foto: Divulgação
Rodrigo Carazolli, da ArcelorMittal: soluções encontradas de forma colaborativa — Foto: Divulgação

Na Nexa Resources, empresa de mineração e metalurgia de metais não ferrosos que possui refinarias e minas no Brasil e no Peru, a jornada de inovação aberta é capitaneada pelo Mining Lab. Criada em 2016, a plataforma de fomento a startups conta com cinco programas focados em diferentes frentes de atuação e contabiliza 1,4 mil soluções registadas para os desafios de inovação. Um dos desafios propostos para a edição deste ano de um desses programas, o Lab Mining Challenge, é o desenvolvimento de soluções voltadas para os rejeitos que atualmente estão sem uso na mina subterrânea de Aripuanã (MT).

Uma das diretrizes da estratégia de inovação ressaltada por Marcio Luís Silva Godoy, vice-presidente de serviços técnicos e projetos da Nexa, é o reaproveitamento de tudo o que é processado, uma prática que estimula a chamada economia circular. Como exemplo, ele cita a mina de resíduo zero localizada em Morro Agudo (MG), onde o rejeito da mineração de zinco é transformado em pó calcário agrícola (Zincal 200), um produto considerado eficaz na correção de acidez do solo, beneficiando os agricultores da região.

A substituição de combustível fóssil por biomassa na unidade de Três Marias (MG) tem como mote o fortalecimento do processo de descarbonização da mineradora. Atualmente, o chamado bio-óleo obtido a partir de carvão vegetal alimenta três fornos de produção de óxido de zinco, mas os planos são de estender seu uso para cerca de dez fornos até dezembro e abastecer todos os demais no horizonte de três anos. Quando o projeto estiver totalmente implantado, a projeção é de que a mineradora “terá reduzido 25 mil toneladas de emissões de dióxido de carbono equivalente (CO2eq) todos os anos”.

Especializada no fornecimento de produtos de nióbio, a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) tem ampliado os recursos financeiros voltados à pesquisa e desenvolvimento de novas aplicações para o metal – este ano reservou R$ 340 milhões, ante os R$ 260 milhões aplicados em 2022. Parte do montante é destinada também à compra de startups, já que a inovação aberta é um caminho trilhado para acelerar o ciclo de maturação dos projetos nessa área. A expectativa de Rodrigo Barjas Amado, gerente-executivo de estratégia de novos negócios da empresa, é reduzir pela metade o ciclo de maturação de projetos inovadores, que hoje gira em torno de oito a dez anos.

A partir da inovação, a CBMM planeja não apenas dobrar seu faturamento no período de dez anos, mas também diversificar seu portfólio. O objetivo é que 40% das suas ofertas sejam para novas aplicações do nióbio. No radar da empresa estão as aplicações industriais e de transporte, assim como algumas aplicações de datacenter e de eletrônicos. A indústria siderúrgica é a grande consumidora de produtos de nióbio no Brasil. O setor automotivo também tem participação expressiva nos negócios da CBMM – em outubro está previsto o lançamento do primeiro ônibus elétrico com bateria de nióbio, um projeto da mineradora em parceria com a Toshiba e a Volkswagen Caminhões e Ônibus.

A produção de óxido de nióbio destinada a baterias é uma das novas frentes que a CBMM pretende explorar, um mercado com potencial para representar 25% da receita da mineradora em dez anos. “A operação de carregamento é mais rápida e a durabilidade e a segurança da bateria são maiores”, ressalta Rodrigo Amado — três startups já foram adquiridas com o objetivo de desenvolver soluções nessa área. Segundo ele, o uso de produtos de nióbio tende a ganhar força também na indústria de fundidos e nas demais aplicações aderentes ao compromisso de redução de emissões de carbono.

Destaques setoriais - Mineração, metalurgia e siderurgia

  1. Vale
  2. Gerdau
  3. ArcelorMittal Brasil
  4. CBMM
  5. Nexa Resources

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