Sabe-se que, por definição, toda e qualquer clusterização simplifica a realidade. Isto posto, podemos considerar que o mundo empresarial divide-se em dois grandes grupos, mesmo que se leve em conta suas nuances.
O primeiro é formado por pessoas e empresas que têm fome, ou seja, que estão sempre motivadas e ávidas a realizar mais e melhor, enquanto as do segundo grupo se declaram satisfeitas com os resultados alcançados, a ponto de perguntarem-se: “se uma pessoa é muito bem-sucedida, rica e poderosa, por que não trabalha menos?”.
A resposta é: a fome nos leva a subir a régua. A competição, nesse caso, é da pessoa consigo mesma, é querer sempre ser melhor, é a repulsa à doença comportamental crônica do gerundismo, das ações sempre “em andamento”.
Nesse cenário, não raro as pessoas que têm fome, ou seja, que buscam e valorizam a realização, são taxadas de insaciáveis e criticadas por comemorar pouco. Um alerta: não é que não se goste de comemorar, e sim que a alma já está no próximo objetivo.
Esta mesma regra vale para as organizações, inclusive do ponto de vista cultural. Algumas estão “sentadas” confortavelmente em seu sucesso, enquanto outras mostram-se ativas, sua energia é de realização e inovação, elas estão sempre em busca de mais...
Terreno minado à vista: vê-se que a hipersensibilidade gerada na fase pós-pandemia tem inibido a expressão da fome das organizações e das pessoas. Isso traz efeitos nocivos.
O lado positivo da fome com propósito? Ela nos move na direção de construir um mundo melhor, organizações melhores, pessoas melhores.
Representamos o Brasil em uma pesquisa com colegas, professores da Universidade de Stanford. Os resultados mostram claramente que a grande maioria dos executivos que têm fome foi exposta a desafios importantes durante a infância. Entre esses desafios de vida estão a pobreza absoluta, a separação dos pais, o abandono ou a morte parental, mudanças recorrentes de cidade ou de escola, doenças, obesidade e a chamada “feiúra” - vale lembrar que crianças e adolescentes são implacáveis diante do diferente.
Também fazem parte desse conjunto situações em que os pais, mesmo que ricos, saudáveis e com uma vida sem rupturas, expuseram os filhos a muitos desafios, ou seja, não ofereciam nada de graça. Isso gera fome!
As organizações bem-sucedidas têm de se desafiar para manter sua fome e não entrar no confortável subdesempenho satisfatório. Quando a cultura de uma organização leva as pessoas a dar mais atenção ao chefe do que ao cliente, a ter respostas “na ponta da língua” para justificar seus erros ou o não atingimento de metas, a se mostrar “sentidas” quando desafiadas... cuidado! Há uma cultura de saciedade à vista.
Ainda é tempo! Independentemente da sua idade, da idade de seus filhos (caso os tenha), de você, bem como de sua organização, ter atingido o sucesso, ainda é tempo. A fome de aprendizagem, de realização de propósitos, de obtenção de resultados extraordinários e admiráveis, de mudar o mundo... essa fome é bacanérrima! Ela dá vida e tem vida!
Betania Tanure é doutora, professora e consultora da BTA