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Por , Valor — São Paulo

“Com o passar do tempo, vieram os desvios de funções, aumento de horas extras, jornadas de trabalho maçantes, metas absurdas e assédio moral”. Esse foi o relato feito pela recrutadora Priscilla Paiva sobre sua irmã, em um post que viralizou no LinkedIn. Atualmente, ainda de acordo com o relato, a irmã está com quadro de burnout e depressão grave.

Priscilla contou que sua irmã estava estudando para se tornar uma profissional de RH, mas que precisou interromper a faculdade por questões de saúde mental causadas pelo excesso de trabalho.

“Antes de entrar na atual empresa, ela cursava faculdade. Faltando um período para concluir, precisou adiar seu sonho de ser uma profissional de RH, acreditem, ela seria uma das melhores. Apesar de ser a melhor vendedora, continuou sendo cobrada, pois agora era exemplo e precisava ‘dar o exemplo’”, contou Priscilla.

Foi nesse momento que vieram os “desvios de funções” e “assédio moral”, segundo Priscilla. “E não estou falando de burburinho; estou falando de ser gritada e xingada na frente de clientes”, disse.

Após um ano empregada, de acordo com o relato de Priscilla, a saúde mental de sua irmã entrou em colapso, sendo diagnosticada com depressão e transtorno de ansiedade, o que levou a um afastamento temporário das funções. Ao retornar, Priscilla relatou que os empregadores colocaram o "pé no freio", o que resultou em uma melhora no estado psíquico, juntamente com acompanhamento e medicações.

“Isso durou até as festas de final de ano, quando seu estado mental colapsou de vez. Desde janeiro, minha irmã não fala, não interage e não mantém contato visual (...). A última vez que ouvi a voz dela foi soluçando de tanto chorar, balbuciando palavras”, relatou Priscilla.

Contactada pelo Valor, Priscilla disse que preferia não informar o nome da irmã, nem o da empresa para a qual ela trabalhava. "É difícil até falar sobre isso. Eu não tenho mais a minha irmã e eu não quero que ninguém passe pelo que eu estou passando. E o quadro dela pode ser irreversível. Tudo isso por conta de uma má gestão e uma cultura tóxica", afirmou.

O Burnout e a saúde mental dos brasileiros

Segundo o relato, a irmã de Priscilla foi diagnosticada com uma série de transtornos psicológicos, como depressão, síndrome de burnout e transtorno de ansiedade.

De acordo com dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), aproximadamente 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem com a síndrome de burnout — o segundo país com mais casos diagnosticados no mundo.

Além disso, segundo o Ministério da Saúde, o Brasil foi considerado como o país da América Latina com a maior prevalência de depressão, em torno de 15,5% da população.

Em 2015, quando o último mapeamento de números brutos da doença foi feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS), 5,8% da população brasileira sofria de depressão, o equivalente a 11,7 milhões de brasileiros.

Em 2022, a OMS divulgou que quase 1 bilhão de pessoas viviam com transtorno mental em 2019, sendo 14% adolescentes. Segundo a organização, a desigualdade social, pandemia de covid-19, guerra e crise climática foram algumas das principais ameaças à saúde global.

O que é depressão, Burnout e ansiedade

A depressão é uma doença psiquiátrica crônica e recorrente que produz uma alteração do humor caracterizada por uma tristeza profunda, sem fim, associada a sentimentos de dor, amargura, desencanto, desesperança, baixa autoestima e culpa, assim como a distúrbios do sono e do apetite.

Já a ansiedade é uma reação natural do corpo relacionada à preocupação e ao medo. No entanto, o excesso desse sentimento pode caracterizar outros transtornos que podem requerer tratamento, como o transtorno de ansiedade generalizada (TAG) — distúrbio caracterizado pela preocupação excessiva ou expectativa apreensiva.

A síndrome de Burnout, por sua vez, é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico.

Matheus Karounis, mestre em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), explica que a doença é causada, geralmente, por situações de estresse e cobrança no ambiente de trabalho e acadêmico.

“O burnout é um desgaste psicológico, físico e moral que acontece na medida que a pessoa não recebe uma recompensa suficiente em troca do seu esforço. As principais causas da síndrome estão relacionadas ao trabalho e ao acadêmico. Quando a pessoa é diagnosticada com a síndrome, o corpo rebaixa sua energia para te afastar desse local”, disse o especialista.

O especialista ainda explica que, no caso do relato sobre a irmã de Priscilla, ela chegou a um nível avançado em seu transtorno depressivo, atingindo um colapso depressivo que se manifestou de forma psicossomática — termo utilizado para se referir a patologias tanto no campo psíquico quanto físico.

“Os transtornos psicológicos se manifestam de diversas formas no corpo. Quando a pessoa está muito estressada e ansiosa, por exemplo, pode-se observar dor no corpo, dor de cabeça, e queda na imunidade. No caso dela, isso foi tão forte, que ela entrou nesse quadro de colapso depressivo. Há muitas informações que o cérebro não consegue processar, e tudo isso foi jogado para o corpo”, comentou Karounis.

Como tratar a depressão, a ansiedade e o Burnout?

Karounis explica que a primeira recomendação para tratar quaisquer transtornos, independente se eles são relacionados ao trabalho ou não, é através de acompanhamento psiquiátrico e psicológico.

Segundo o especialista, é necessário observar o balanço da vida, entre o profissional e o pessoal. Dormir bem, ter uma alimentação balanceada e fazer exercícios são algumas das recomendações dadas por Karounis para ter mais disposição.

No caso de complicações dentro do ambiente de trabalho, Karounis acrescenta que a pessoa pode recorrer a diferentes meios para tentar diminuir seu estresse e ansiedade.

“A pessoa pode ver se a empresa tem um bom serviço de compliance e RH. Se for possível, também, falar com algum superior sobre sua situação mental e carga de trabalho. Caso nenhum desses itens seja interessante, é necessário achar outro emprego. É necessário sempre lembrar que nós não devemos nos doar em excesso ao trabalho. Muitas vezes os ambientes de trabalho não são empáticos. A pessoa precisa cuidar de si mesma.”, disse.

*Estagiário sob a supervisão de Diogo Max

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