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Cerco de Agrigento (210 a.C.)

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 Nota: Para o cerco durante a Primeira Guerra Púnica, veja Cerco de Agrigento (262 a.C.).

Cerco de Agrigento
Segunda Guerra Púnica

Planta da antiga cidade de Agrigento
Data 210 a.C.
Local Agrigento
Coordenadas 37° 17' 25.99" N 13° 35' 06.74" E
Desfecho Vitória romana
Mudanças territoriais Captura da cidade
Beligerantes
República Romana República Romana Cartago Cartago
  Agrigentinos
Comandantes
República Romana Marco Valério Levino[1] Cartago Hanão[2]
Cartago Mutina
Forças
Duas legiões[3]
Duas alas de aliados
Agrigento está localizado em: Sicília
Agrigento
Localização do Agrigento no que é hoje a Sicília

O Cerco de Agrigento foi realizado em 210 a.C., durante a Segunda Guerra Púnica, na antiga cidade-estado grega de Agrigento. As forças romanas do cônsul Marco Valério Levino, apoiadas pela traição dos númidas, conseguiram capturar a cidade, mas deixaram que Hanão e Epicida, seus comandantes, escapassem.

Contexto histórico

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Lívio descreve aquele momento específico da guerra que já vinha sendo travada por oito anos:

Não houve outro momento da guerra no qual cartagineses e romanos [...] se encontravam em grandes dúvidas entre a esperança e o medo. Na realidade, os romanos nas províncias, de um lado pela derrota na Hispânia, de outro pela vitória das operações na Sicília (212-211 a.C.), se dividiam entre a alegria e a dor. Na Itália, a perda de Taranto gerou perdas e muito temor, mas a vitoriosa defesa na cidadela contra todas as esperanças gerou grande satisfação (212 a.C.). O súbito choque e terror de ver Roma cercada e atacada logo depois foi trocado pela alegria da rendição de Cápua. Também a guerra ultramar estava equilibrada entre as partes [...]: [se de um lado] Filipe se tornou inimigo de Roma em um momento totalmente desfavorável (215 a.C.), novos aliados foram feitos, como os etólios e Átalo, rei da Ásia, quase como se a Fortuna já estivesse prometendo aos romanos o império do oriente. Da parte dos cartagineses, se contrapunha à perda de Cápua, a captura de Taranto e, se era motivo de glória para eles, a marcha até as próprias muralhas de Roma sem que ninguém pudesse interrompê-los; por outro lado o arrependimento pela empreitada vã e a vergonha de que, enquanto estavam sob os muros de Roma, por uma outra porta partiu um exército romano para a Hispânia. Na mesma Hispânia, quando se esperava que os cartagineses buscassem o fim da guerra e caçassem os romanos depois de haver destruído dois grandes generais, Públio e Cneu Cornélio, e seus exércitos [...] esta mesma vitória acabou inutilizada por causa de um general improvisado, Lúcio Márcio. E assim, graças às ações equilibradas do destino, de ambas as partes estavam intactos a esperança e o temor, como se, a partir daquele preciso momento, tivesse começado pela primeira vez a guerra inteira.
 
Lívio, Ab Urbe Condita XXVI, 37[4].

Já no final de 210 a.C., o cônsul Marco Valério Levino chegou à Sicília juntamente com antigos e novos aliados com o objetivo de analisar a situação que estava suspensa em Siracusa por causa da paz recente. Ele conduziu em seguida duas legiões a ele encarregadas contra Agrigento para cercar a cidade, o último baluarte cartaginês e era protegida por uma poderosa guarnição. Lívio afirma que "a Fortuna favorecia a empreitada"[5].

O general dos cartagineses era o mesmo Hanão que havia combatido perto do rio Imera em 212 a.C.. A esperança de todos esta, porém, depositada nos númidas e em Mutina. Este último, rondando por toda a Sicília saqueando as terras dos aliados romanos, se aproximava da cidade de Agrigento. A fama de suas campanhas havia ofuscado a do comandante responsável da defesa de Cartago, suscitando a inveja, a ponto de fazê-lo colocar seu próprio filho no comando que era de Mutina. Esta ordem, porém, teve o efeito contrário, aumentando ainda mais o prestígio que o comandante númida já tinha. Mutina não tolerou o ultraje e enviou embaixadores de sua parte a Levino oferecendo a rendição da cidade[6].

Tomada da cidade

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Uma vez acertada a forma do acordo, os númidas ocuparam a porta que dava para o mar, assassinaram a guarda, receberam os romanos na cidade, que imediatamente se espalharam pelas ruas num grande furor. Hanão, acreditando estar lidando com uma revolta dos númidas, como já havia ocorrido antes, decidiu enfrentá-la; contudo, quando percebeu que lutava contra os romanos, decidiu fugir. Saindo pela porta oposta com Epicida, chegou ao mar com poucos companheiros e, capturando uma pequena embarcação, abandonou a Sicília e cruzou para a África. Muitos dos cartagineses e sicilianos presentes na cidade também fugiram sem tentar nem ao menos lutar, mas como as portas estavam fechadas, acabaram trucidados diante delas[7].

Consequência

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Ocupada Agrigente, Levino ordenou a decapitação dos principais cidadãos depois de tê-los açoitado. Todos os demais foram vendidos como escravos e o dinheiro resultante, enviado a Roma. Quando se espalhou pela Sicília a notícia da queda de Agrigento, o destino da guerra na Sicília mudou para o lado dos romanos. Num curto espaço de tempo, de sessenta e seis cidades, seis foram tomadas à força, vinte foram capturadas por causa de traidores e quarenta se entregaram voluntariamente. O cônsul, depois de haver distribuído aos líderes de cada uma das cidades recompensas ou punições segundo suas ações, Velino obrigou os sicilianos a abandonarem armas e se dedicarem à agricultura, alterando o objetivo da ocupação romana da ilha, a partir daquele momento, para a produção de alimentos não apenas para seus habitantes, mas também para fornecer cereais para Roma e para a Itália[8].

De Agartirna, Levino cruzou para a Itália com um bando bastante indisciplinado. Eram quatro mil homens de todas as origens, muitos exilados por dívidas ou crimes capitais que, por diversas razões, o destino havia combinado naquela cidade, onde viviam de roubos e outros crimes. Levino não achou prudente deixar na Sicília estas pessoas, especialmente quando a paz começava a se consolidar. Esta foi a última grande batalha da Segunda Guerra Púnica na Sicília[9].

Referências

  1. Lívio, Ab Urbe Condita XXVI, 40.1.
  2. Lívio, Ab Urbe Condita XXVI, 40.3.
  3. Lívio, Ab Urbe Condita XXVI, 40.2.
  4. Lívio, Ab Urbe Condita XXVI, 37.
  5. Lívio, Ab Urbe Condita XXVI, 40.1-2.
  6. Lívio, Ab Urbe Condita XXVI, 40.3-7.
  7. Lívio, Ab Urbe Condita XXVI, 40.8-12.
  8. Lívio, Ab Urbe Condita XXVI, 40.13-16.
  9. Lívio, Ab Urbe Condita XXVI, 40.16-18.

Fontes primárias

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Fontes secundárias

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  • Briscoe, John (1989). The Second Punic War (em inglês). Cambridge: [s.n.] 
  • Brizzi, Giovanni (1984). Annibale, strategia e immagine (em italiano). Città di Castello: Provincia di Perugia 
  • Brizzi, Giovanni (1997). Storia di Roma. 1. Dalle origini ad Azio (em italiano). Bologna: Patron. ISBN 978-88-555-2419-3 
  • Brizzi, Giovanni (2003). Annibale. Come un'autobiografia (em italiano). Milão: Bompiani. ISBN 88-452-9253-3 
  • Brizzi, Giovanni (2007). Scipione e Annibale, la guerra per salvare Roma (em italiano). Bari-Roma: Laterza. ISBN 978-88-420-8332-0 
  • Clemente, Guido (2008). La guerra annibalica. Storia Einaudi dei Greci e dei Romani (em italiano). XIV. Milão: Il Sole 24 ORE 
  • Granzotto, Gianni (1991). Annibale (em italiano). Milão: Mondadori. ISBN 88-04-35519-0 
  • Lancel, Serge (2002). Annibale (em italiano). Roma: Jouvence. ISBN 978-88-7801-280-6 
  • Lazenby, John Francis (1978). Hannibal's War (em inglês). [S.l.: s.n.] 
  • Mommsen, Theodor (2001). Storia di Roma antica (em italiano). vol.II. Milão: Sansoni. ISBN 978-88-383-1882-5 
  • Moscati, Sabatino (1971). Tra Cartagine e Roma (em italiano). Milão: Rizzoli 
  • Moscati, Sabatino (1986). Italia punica (em italiano). Milão: Rusconi. ISBN 88-18-12032-8 
  • Piganiol, André (1989). Le conquiste dei romani (em italiano). Milão: Il Saggiatore 
  • Scullard, Howard H. (1992). Storia del mondo romano. Dalla fondazione di Roma alla distruzione di Cartagine (em italiano). vol.I. Milão: BUR. ISBN 88-17-11574-6