Cerco de Agrigento (210 a.C.)
Cerco de Agrigento | |||
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Segunda Guerra Púnica | |||
Planta da antiga cidade de Agrigento | |||
Data | 210 a.C. | ||
Local | Agrigento | ||
Coordenadas | |||
Desfecho | Vitória romana | ||
Mudanças territoriais | Captura da cidade | ||
Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
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Forças | |||
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Localização do Agrigento no que é hoje a Sicília | |||
O Cerco de Agrigento foi realizado em 210 a.C., durante a Segunda Guerra Púnica, na antiga cidade-estado grega de Agrigento. As forças romanas do cônsul Marco Valério Levino, apoiadas pela traição dos númidas, conseguiram capturar a cidade, mas deixaram que Hanão e Epicida, seus comandantes, escapassem.
Contexto histórico
[editar | editar código-fonte]Lívio descreve aquele momento específico da guerra que já vinha sendo travada por oito anos:
“ | Não houve outro momento da guerra no qual cartagineses e romanos [...] se encontravam em grandes dúvidas entre a esperança e o medo. Na realidade, os romanos nas províncias, de um lado pela derrota na Hispânia, de outro pela vitória das operações na Sicília (212-211 a.C.), se dividiam entre a alegria e a dor. Na Itália, a perda de Taranto gerou perdas e muito temor, mas a vitoriosa defesa na cidadela contra todas as esperanças gerou grande satisfação (212 a.C.). O súbito choque e terror de ver Roma cercada e atacada logo depois foi trocado pela alegria da rendição de Cápua. Também a guerra ultramar estava equilibrada entre as partes [...]: [se de um lado] Filipe se tornou inimigo de Roma em um momento totalmente desfavorável (215 a.C.), novos aliados foram feitos, como os etólios e Átalo, rei da Ásia, quase como se a Fortuna já estivesse prometendo aos romanos o império do oriente. Da parte dos cartagineses, se contrapunha à perda de Cápua, a captura de Taranto e, se era motivo de glória para eles, a marcha até as próprias muralhas de Roma sem que ninguém pudesse interrompê-los; por outro lado o arrependimento pela empreitada vã e a vergonha de que, enquanto estavam sob os muros de Roma, por uma outra porta partiu um exército romano para a Hispânia. Na mesma Hispânia, quando se esperava que os cartagineses buscassem o fim da guerra e caçassem os romanos depois de haver destruído dois grandes generais, Públio e Cneu Cornélio, e seus exércitos [...] esta mesma vitória acabou inutilizada por causa de um general improvisado, Lúcio Márcio. E assim, graças às ações equilibradas do destino, de ambas as partes estavam intactos a esperança e o temor, como se, a partir daquele preciso momento, tivesse começado pela primeira vez a guerra inteira. | ” |
Casus belli
[editar | editar código-fonte]Já no final de 210 a.C., o cônsul Marco Valério Levino chegou à Sicília juntamente com antigos e novos aliados com o objetivo de analisar a situação que estava suspensa em Siracusa por causa da paz recente. Ele conduziu em seguida duas legiões a ele encarregadas contra Agrigento para cercar a cidade, o último baluarte cartaginês e era protegida por uma poderosa guarnição. Lívio afirma que "a Fortuna favorecia a empreitada"[5].
O general dos cartagineses era o mesmo Hanão que havia combatido perto do rio Imera em 212 a.C.. A esperança de todos esta, porém, depositada nos númidas e em Mutina. Este último, rondando por toda a Sicília saqueando as terras dos aliados romanos, se aproximava da cidade de Agrigento. A fama de suas campanhas havia ofuscado a do comandante responsável da defesa de Cartago, suscitando a inveja, a ponto de fazê-lo colocar seu próprio filho no comando que era de Mutina. Esta ordem, porém, teve o efeito contrário, aumentando ainda mais o prestígio que o comandante númida já tinha. Mutina não tolerou o ultraje e enviou embaixadores de sua parte a Levino oferecendo a rendição da cidade[6].
Tomada da cidade
[editar | editar código-fonte]Uma vez acertada a forma do acordo, os númidas ocuparam a porta que dava para o mar, assassinaram a guarda, receberam os romanos na cidade, que imediatamente se espalharam pelas ruas num grande furor. Hanão, acreditando estar lidando com uma revolta dos númidas, como já havia ocorrido antes, decidiu enfrentá-la; contudo, quando percebeu que lutava contra os romanos, decidiu fugir. Saindo pela porta oposta com Epicida, chegou ao mar com poucos companheiros e, capturando uma pequena embarcação, abandonou a Sicília e cruzou para a África. Muitos dos cartagineses e sicilianos presentes na cidade também fugiram sem tentar nem ao menos lutar, mas como as portas estavam fechadas, acabaram trucidados diante delas[7].
Consequência
[editar | editar código-fonte]Ocupada Agrigente, Levino ordenou a decapitação dos principais cidadãos depois de tê-los açoitado. Todos os demais foram vendidos como escravos e o dinheiro resultante, enviado a Roma. Quando se espalhou pela Sicília a notícia da queda de Agrigento, o destino da guerra na Sicília mudou para o lado dos romanos. Num curto espaço de tempo, de sessenta e seis cidades, seis foram tomadas à força, vinte foram capturadas por causa de traidores e quarenta se entregaram voluntariamente. O cônsul, depois de haver distribuído aos líderes de cada uma das cidades recompensas ou punições segundo suas ações, Velino obrigou os sicilianos a abandonarem armas e se dedicarem à agricultura, alterando o objetivo da ocupação romana da ilha, a partir daquele momento, para a produção de alimentos não apenas para seus habitantes, mas também para fornecer cereais para Roma e para a Itália[8].
De Agartirna, Levino cruzou para a Itália com um bando bastante indisciplinado. Eram quatro mil homens de todas as origens, muitos exilados por dívidas ou crimes capitais que, por diversas razões, o destino havia combinado naquela cidade, onde viviam de roubos e outros crimes. Levino não achou prudente deixar na Sicília estas pessoas, especialmente quando a paz começava a se consolidar. Esta foi a última grande batalha da Segunda Guerra Púnica na Sicília[9].
Referências
- ↑ Lívio, Ab Urbe Condita XXVI, 40.1.
- ↑ Lívio, Ab Urbe Condita XXVI, 40.3.
- ↑ Lívio, Ab Urbe Condita XXVI, 40.2.
- ↑ Lívio, Ab Urbe Condita XXVI, 37.
- ↑ Lívio, Ab Urbe Condita XXVI, 40.1-2.
- ↑ Lívio, Ab Urbe Condita XXVI, 40.3-7.
- ↑ Lívio, Ab Urbe Condita XXVI, 40.8-12.
- ↑ Lívio, Ab Urbe Condita XXVI, 40.13-16.
- ↑ Lívio, Ab Urbe Condita XXVI, 40.16-18.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]Fontes primárias
[editar | editar código-fonte]- Apiano, História de Roma (Ῥωμαϊκά), VII e VIII
- Cornélio Nepos, De viris illustribus (em latim)
- Estrabão, Geografia V
- Eutrópio, Breviarium ab Urbe condita III
- Lívio, Ab Urbe Condita XXI-XXX
- Políbio, Histórias VII
- Valério Máximo, Nove Livros de Feitos e Dizeres Memoráveis (latim)
Fontes secundárias
[editar | editar código-fonte]- Briscoe, John (1989). The Second Punic War (em inglês). Cambridge: [s.n.]
- Brizzi, Giovanni (1984). Annibale, strategia e immagine (em italiano). Città di Castello: Provincia di Perugia
- Brizzi, Giovanni (1997). Storia di Roma. 1. Dalle origini ad Azio (em italiano). Bologna: Patron. ISBN 978-88-555-2419-3
- Brizzi, Giovanni (2003). Annibale. Come un'autobiografia (em italiano). Milão: Bompiani. ISBN 88-452-9253-3
- Brizzi, Giovanni (2007). Scipione e Annibale, la guerra per salvare Roma (em italiano). Bari-Roma: Laterza. ISBN 978-88-420-8332-0
- Clemente, Guido (2008). La guerra annibalica. Storia Einaudi dei Greci e dei Romani (em italiano). XIV. Milão: Il Sole 24 ORE
- Granzotto, Gianni (1991). Annibale (em italiano). Milão: Mondadori. ISBN 88-04-35519-0
- Lancel, Serge (2002). Annibale (em italiano). Roma: Jouvence. ISBN 978-88-7801-280-6
- Lazenby, John Francis (1978). Hannibal's War (em inglês). [S.l.: s.n.]
- Mommsen, Theodor (2001). Storia di Roma antica (em italiano). vol.II. Milão: Sansoni. ISBN 978-88-383-1882-5
- Moscati, Sabatino (1971). Tra Cartagine e Roma (em italiano). Milão: Rizzoli
- Moscati, Sabatino (1986). Italia punica (em italiano). Milão: Rusconi. ISBN 88-18-12032-8
- Piganiol, André (1989). Le conquiste dei romani (em italiano). Milão: Il Saggiatore
- Scullard, Howard H. (1992). Storia del mondo romano. Dalla fondazione di Roma alla distruzione di Cartagine (em italiano). vol.I. Milão: BUR. ISBN 88-17-11574-6