Dirigido por Henri Arraes Gervaiseau, professor da ECA-USP, e produzido pelo CEM. O documentário busca recompor, de modo poético, a trajetória coletiva dos integrantes da Associação do Mutirão Paulo Freire, que no curso de aproximadamente dez anos construíram, em regime de mutirão autogerido, em parceria com uma organização não governamental, um conjunto habitacional para cem famílias em Cidade Tiradentes, no extremo leste do município de São Paulo.
Redes, ações afirmativas e inserção no mercado de trabalho
Coordenação: Nadya de Araújo Guimarães
Apesar do desenvolvimento de um robusto setor de intermediação de mão-de-obra orientado para oportunidades de alocação em empregos – uma nova tendência no mercado de trabalho brasileiro –, nossas pesquisas anteriores apontaram que os mecanismos ordinários se mostraram bastante infrutíferos como meios de combater a desigualdade e a pobreza em São Paulo. Em contraste, as redes sociais parecem ser o caminho pelo qual as pessoas comuns obtêm acesso ao emprego, a despeito da qualidade deste.
Dessa forma, o primeiro foco atual da área é explorar o efeito desses mecanismos privados extra-mercado como iniciativas importantes no sentido de elevar as chances que um indivíduo tem de se engajar no mercado de trabalho. O primeiro módulo nessa linha de pesquisa investiga a formação e a operação das redes pessoais, lançando mão de novas ferramentas metodológicas (análise de redes, ao invés de surveys, como na fase anterior) e intensificando o diálogo com os parceiros do CEM.
Por outro lado, esta linha de investigação também está comprometida com a análise do florescente conjunto de políticas compensatórias que ganhou o centro do debate brasileiro, desde 2000, como alternativas no combate à pobreza e/ou desigualdades raciais duradouras. A proposta deste projeto é se engajar nessa discussão trazendo dados novos sobre a efetividade de tais iniciativas. Um segundo módulo se encarrega de avaliar ações afirmativas recentes adotadas por prestigiosas universidades públicas no intuito de ampliar as chances ocupacionais dos negros e dos mais pobres, de forma a estimular sua mobilidade social. Cooperação internacional (com colegas dos Estados Unidos, Reino Unido, França e África do Sul) em breve permitirá comparar os resultados obtidos em São Paulo com as tendências observadas em outras grandes metrópoles.
Assim, o modulo 1 investiga as redes pessoais, que já se provaram efetivas para o engajamento no mercado de trabalho. Partindo de uma amostra de 1.549 que procuravam empregos já entrevistados em um survey representativo conduzido em 2004 na Região Metropolitana de São Paulo, o projeto selecionou uma sub-amostra de casos típicos, para uma nova rodada de entrevistas em profundidade. Os casos são escolhidos aleatoriamente usando tipologia construída por meio da técnica GoM (grade of membership, ou grau de pertencimento). Duas entrevistas estão sendo conduzidas com cada pessoa. A primeira detalha a trajetória ocupacional do(a) entrevistado(a) e identifica sua esfera de sociabilidade e pessoas-chave relacionadas a essas esferas; a segunda se destina a mapear as redes e interligar os ofertantes de emprego com as conexões pessoais.
Assim como nas fases precedentes, o diálogo nacional e internacional continua sendo buscado. No nível nacional, o módulo compara dados secundários (fornecidos por pesquisas domiciliares – PED e PME – realizadas nas mais importantes metrópoles), analisando séries longas de resultados referentes a mecanismos de acesso aos empregos e identificando padrões de variação em diferentes estruturas regionais de mercado de trabalho. No plano internacional, o engajamento anterior em redes de cooperação científica dá suporte para que se explorem as especificidades das tendências brasileiras. O diálogo com a pesquisa de Purcell (Koene e Purcell, 2004) sobre a intermediação na Europa tem apoio na cooperação que já se estabeleceu previamente entre o Departamento de Sociologia da USP, o Cebrap e o Institute for Employment Research, da Universidade de Warwick. Paralelamente, estamos buscando um intercâmbio complementar com colegas do Lasmas (Institut du Longitudinal, como Degenne e Marry, cuja produção no campo de redes e inserção no mercado de trabalho, na França, é notável, a exemplo de Degenne et al., 1991, e Degenne e Forsé, 1994); diferenças de gênero e de idade continuam a requerer a atenção intelectual, e nossa cooperação de longo prazo com os laboratórios franceses do CNRS, como o GTM (Genre, Travail, Mobilités) ou o Printemps (Professions, Travail, Identités), assegura a continuidade do engajamento de Helena Hirata e Didier Démazièere como parceiros internacionais. Esse módulo de pesquisa inclui ainda parceiros nacionais de outras instituições brasileiras como Elisa Reis (da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e Guilherme Xavier sobrinho (da Fundação de Estatística do Estado do Rio Grande do Sul/FEE).
O módulo 2 segue o desempenho educacional (no nível superior) e a carreira profissional de indivíduos admitidos e não-admitidos nos programas de ação afirmativa conduzidos por duas universidade públicas brasileiras de prestígio. Uma delas, localizada em São Paulo, é nacionalmente reconhecida, recruta estudantes de todo o país e oferta profissionais também em escala nacional; uma segunda universidade é reconhecida regionalmente e se localiza na Região Metropolitana de Salvador. O projeto analisa três grupos experimentais: 1) postulantes de políticas afirmativas que não foram admitidos; 2) postulantes beneficiados por ações afirmativas que foram admitidos; e 3) postulantes pelos critérios tradicionais. O desenho de pesquisa tem três procedimentos: i) análise da trajetória pós-seleção dos não-admitidos (grupo 1); ii) comparação do desempenho educacional dos grupos 2 e 3, a partir de dados das próprias instituições; iii) comparação das trajetórias profissionais dos grupos 1, 2 e 3, a partir de entrevistas. Entrevistas complementares cruzadas com os pais serão realizadas para uma sub-amostra dos grupos 1 e 2.