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CULTURA DA TORTURA
Aos poucos, os norte-americanos vão descobrindo o que boa
parte do mundo já sabia antes mesmo de as primeiras fotos de prisioneiros iraquianos submetidos a
maus-tratos em Abu Ghraib serem
divulgadas: os casos de tortura não
eram episódios isolados, mas fazem
parte, senão de uma política deliberada de Estado, ao menos de uma
cultura tolerada e até incentivada por
autoridades civis e militares.
Como era de certo modo compreensível depois dos ignominiosos
ataques do 11 de Setembro, os norte-americanos pareciam dispostos a sacrificar parte de seus direitos civis em
troca de mais segurança. Em novembro de 2001, ainda sob o impacto dos
atentados, intelectuais de esquerda
chegaram a defender a instituição da
tortura com autorização judicial.
Se até a "intelligentsia" liberal pensava assim, não se deve duvidar de
que os falcões que circundam a Casa
Branca tenham ido mais longe. Além
dos diversos pacotes de medidas legais para reforçar a segurança, cuidaram de tornar a base militar norte-americana de Guantánamo (Cuba)
na primeira prisão "offshore", que
recebeu combatentes muçulmanos
capturados na guerra do Afeganistão. Lá eles estão sendo mantidos incomunicáveis, sem acusação formal
e sem direito à proteção das leis americanas e da Convenção de Genebra.
Ao que consta, a "tecnologia" de
maus-tratos utilizada em Abu
Ghraib foi "importada" de Guantánamo. Avolumam-se também indícios de que as ordens para torturar vinham, tácita ou diretamente, de cima. É notável a esse respeito um memorando de 2002, do Departamento
de Justiça, que praticamente afirma
que leis internacionais contra a tortura não se aplicam ao presidente dos
EUA e seus subordinados porquanto
estejam agindo para defender o país.
Diante de tantos e tão graves antecedentes, o espantoso é que os norte-americanos se surpreendam ao descobrir-se cometendo os abusos.
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