São Paulo, quarta-feira, 23 de junho de 2004

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CONDOMÍNIO PETISTA

A notícia de que um grupo composto por empresários e membros do governo petista mantém há quatro anos um pesqueiro irregular no Estado de Mato Grosso do Sul traz novamente à cena um recorrente tema da política brasileira: a promiscuidade entre as esferas pública e privada. Situada às margens do rio Paraguai, a propriedade em questão foi batizada de Condomínio Estrela Vermelha, significativa referência ao símbolo do PT.
O problema é que o Estrela Vermelha está situado em terras pertencentes à União e que, além disso, as benfeitorias realizadas para receber os barcos de seus freqüentadores violam normas de preservação ambiental. É deplorável que o próprio governador de Mato Grosso do Sul, José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT, seja um dos responsáveis pelo condomínio, juntamente com os deputados federais Sigmaringa Seixas (DF) e Vander Loubet (MS), também do PT.
A importância do caso, contudo, não se restringe apenas a esses fatos. Nos últimos tempos, não faltaram episódios a demonstrar que o Partido dos Trabalhadores tem problemas em distinguir o público do privado. O exemplo mais emblemático desse desvio foi fornecido por uma outra estrela vermelha, aquela desenhada num canteiro de sálvias que adornou os jardins do Palácio do Planalto durante certo tempo.
É inadmissível que autoridades e membros do poder público infrinjam a legislação ambiental e se apropriem do patrimônio da União. E é especialmente constrangedor verificar que o PT, partido cuja atuação foi marcada no passado pela rigorosa defesa de posturas éticas no exercício da política, esteja adotando práticas desse quilate.
É decepcionante que políticos petistas no poder não venham fazendo jus ao papel de fiscais da conduta republicana que desempenharam em outros tempos e que lhes garantiu considerável capital político.


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