São Paulo, sábado, 12 de outubro de 2002

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COMÉRCIO NO ESCURO

Uma das teses mais caras ao pensamento econômico tradicional é a de que a liberalização do comércio internacional permite maior crescimento a todos os parceiros. Quanto maior a abertura de uma economia, maior seria o acesso de suas empresas a mercados cuja escala é planetária. Nesse contexto, ser competitivo significaria vender mais e, portanto, crescer mais.
Essa confiança nos resultados positivos da liberalização comercial, essencial para a Organização Mundial do Comércio, não tem respaldo no desempenho da economia global. A desaceleração do crescimento na maior economia do mundo praticamente condena o comércio internacional à contração. Não há medida de liberalização do comércio capaz de reverter essa tendência.
Os cálculos da OMC para 2002 ainda apontam para um crescimento do volume do comércio internacional, que chegaria a 1% na hipótese otimista de uma recuperação da economia mundial nos dois últimos trimestres deste ano -já que os dados do 3� trimestre ainda não estão disponíveis. Em 2001, o comércio mundial encolheu 0,7%.
O diretor-geral da OMC, Supachai Panitchpakdi, interpreta os números como evidência de que é urgente acelerar as conversações para reduzir entraves ao comércio.
Os entraves percebidos pela OMC situam-se ao nível das tarifas e das barreiras não-tarifárias (leis e práticas protecionistas). No entanto, os obstáculos ao crescimento econômico e ao comércio internacional são de outra natureza. Pesam mais os fatores de ordem financeira, tecnológica e política. Causas que, possivelmente, ultrapassam em muito a capacidade e a disposição a agir das principais lideranças mundiais.
A liberalização do comércio sem financiamento de longo prazo, sem transferência de tecnologia e sem um horizonte de harmonia mínima entre os participantes do sistema político mundial tende a ser inócua. É uma aposta cega num caminho incerto.



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