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COMÉRCIO NO ESCURO
Uma das teses mais caras ao
pensamento econômico tradicional é a de que a liberalização do
comércio internacional permite
maior crescimento a todos os parceiros. Quanto maior a abertura de uma
economia, maior seria o acesso de
suas empresas a mercados cuja escala é planetária. Nesse contexto, ser
competitivo significaria vender mais
e, portanto, crescer mais.
Essa confiança nos resultados positivos da liberalização comercial, essencial para a Organização Mundial
do Comércio, não tem respaldo no
desempenho da economia global. A
desaceleração do crescimento na
maior economia do mundo praticamente condena o comércio internacional à contração. Não há medida
de liberalização do comércio capaz
de reverter essa tendência.
Os cálculos da OMC para 2002 ainda apontam para um crescimento do
volume do comércio internacional,
que chegaria a 1% na hipótese otimista de uma recuperação da economia mundial nos dois últimos trimestres deste ano -já que os dados
do 3� trimestre ainda não estão disponíveis. Em 2001, o comércio mundial encolheu 0,7%.
O diretor-geral da OMC, Supachai
Panitchpakdi, interpreta os números
como evidência de que é urgente acelerar as conversações para reduzir
entraves ao comércio.
Os entraves percebidos pela OMC
situam-se ao nível das tarifas e das
barreiras não-tarifárias (leis e práticas protecionistas). No entanto, os
obstáculos ao crescimento econômico e ao comércio internacional são
de outra natureza. Pesam mais os fatores de ordem financeira, tecnológica e política. Causas que, possivelmente, ultrapassam em muito a capacidade e a disposição a agir das
principais lideranças mundiais.
A liberalização do comércio sem financiamento de longo prazo, sem
transferência de tecnologia e sem um
horizonte de harmonia mínima entre os participantes do sistema político mundial tende a ser inócua. É uma
aposta cega num caminho incerto.
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