São Paulo, sábado, 12 de outubro de 2002

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MAIS E MELHORES DEBATES

Não faz sentido, do ponto de vista do interesse do público, que os debates entre Luiz Inácio Lula da Silva e José Serra sejam reduzidos neste segundo turno, como pleiteia a assessoria petista. A recusa a cotejar diretamente questões programáticas e políticas, se confirmada, será um revés numa campanha eleitoral marcada, até aqui, pela ampliação dos espaços e das arenas de debate.
Neste momento, as assessorias dos candidatos e as empresas de mídia dispostas a realizar debates deveriam estar negociando não se haverá ou não os tais encontros, mas o que fazer para melhorar o seu formato e permitir programas mais esclarecedores para o público.
Mesmo tendo contado apenas com quatro candidatos à Presidência, os debates do primeiro turno ficaram manietados. O apego a um formato que obrigava que o tempo disponível fosse equânime e milimetricamente distribuído entre os candidatos e que reduzia as intervenções externas (de jornalistas, especialistas, eleitores etc.) em nada contribuiu para que os embates pudessem ser conclusivos. A forma prevaleceu sobre o conteúdo, e perderam-se oportunidades de imprimir aos programas um tratamento mais esclarecedor.
Agora, com apenas dois presidenciáveis na disputa final, as discussões para avançar também nesse terreno ficaram em segundo plano. Assessores de Lula propõem que seja realizado apenas um debate na TV, por um "pool" de emissoras, o que soa a estratagema diversionista para furtar-se ao confronto mais livre de idéias.
Estejam os petistas cientes dos riscos que correm ao desprestigiar debates. Parte do eleitorado certamente tomará a atitude como uma fuga de quem teme o confronto de idéias e passará a levar esse elemento em conta na hora de decidir o voto. Além disso, o próprio Lula, num cenário em que Serra suba rapidamente nas pesquisas, poderá vir a precisar dos debates mais à frente.
A despeito dos cálculos eleitorais, o aspecto mais lamentável da recusa petista é que o grande prejudicado com a ausência de mais e melhores debates será o público eleitor e, consequentemente, o país.



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