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Conflito com Legislativo não foi superado
RODRIGO UCHÔA
DA REDAÇÃO
"É a Resolução do Golfo de
Tonkin de novo. É um cheque
em branco para o Executivo",
dizia apoplético, durante os debates no Congresso, o senador
democrata Robert Byrd, 85.
Byrd -jocosamente chamado pelos colegas de "a mãe de
todos os parlamentares"- referia-se à autorização quase ilimitada dada pelo Congresso
em 1964 ao presidente Lyndon
Johnson para empreender a
força contra o Vietnã, depois
de um navio americano ter sido
atacado no golfo de Tonkin.
O próprio Byrd, no Senado
desde 1958, votou a favor daquela resolução de 1964.
Hoje, se diz arrependido.
Mas, quanto à autorização
para atacar o Iraque, Byrd exagera na comparação? Bush pode fazer agora o que quiser?
"Não é o mesmo caso, por
uma questão fundamental: o
Congresso não declarou guerra, ou seja, Bush tem de continuar prestando contas", afirma
o cientista político Peter Francis McCormick.
Ele lembra que Bush já poderia empreender uma ação mesmo antes da autorização, já que
o Ato dos Poderes de Guerra,
de 1973, dá ao presidente a
prerrogativa constitucional de
mandar forças para situações
de hostilidade por um período
de 60 dias, que pode ser estendido por outros 30 dias.
Para Jack Rakove, professor
de história e ciências políticas
da Universidade Stanford, da
Califórnia, "o texto de 1973 é de
difícil aplicação, já que pode
comprometer a autoridade política do presidente durante a
condução de uma guerra já iniciada". Um Congresso dividido
poderia se negar a dar continuidade à ação militar.
"A dificuldade seria Bush
convencer os parlamentares da
iminência de perigo aos EUA",
pondera McCormick.
O grande problema de Bush,
então, seria moldar um discurso único dentro de seu próprio
governo. Na quarta-feira, uma
carta do diretor da CIA, George
Tenet, ao Congresso disse ser
improvável que Saddam ataque os EUA sem provocação.
"Por causa dessa carta, o governo americano teve de ser
mais flexível, comprometendo-se inclusive a justificar a
eventual ação no Iraque a cada
60 dias", analisa McCormick.
O senador democrata Tom
Daschle, líder da maioria na
Casa e anteriormente um ferrenho opositor do ataque, afirmou ontem que houve uma
"mudança na linguagem da
Casa Branca, transformando a
ação militar na última, não na
primeira opção".
Para o cientista político, esse
movimento dos democratas
em direção à aprovação se deve
em boa parte ao medo eleitoral.
Por isso, o conflito entre Legislativo e Executivo deve continuar latente, esperando a próxima legislatura. Byrd tentou
adiar a votação para depois das
eleições legislativas de 5 de novembro. Não teve sucesso.
Caberá ao próximo Congresso lidar com as ações aprovadas por este que termina.
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