São Paulo, sábado, 12 de outubro de 2002

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Caso revela crescente subcultura dos atiradores de elite nos EUA

FOX BUTTERFIELD
DO "THE NEW YORK TIMES"

A série de ataques mortais lançados por um atirador na região de Washington vem chamando a atenção para o que, segundo muitos especialistas, é uma subcultura crescente de atiradores de elite -grupo de civis que praticam tiro de precisão como hobby. Eles têm seus clubes próprios, seus sites e um arsenal crescente de armas avançadas.
É o tipo de atenção que os entusiastas do tiro prefeririam dispensar. "Esse sujeito não é um atirador de elite", disse Rodney Ryan, que dirige um centro de treinamento de atiradores em Elk Garden, Virgínia Ocidental. O termo "atirador de elite", disse ele, se refere a uma especialidade militar e policial. "Ele não passa de um pistoleiro maluco. Está dando má fama aos atiradores."
Para Ryan, ex-atirador de elite do Exército e ex-membro da SWAT de Washington, o interesse crescente por treinamento e equipamento de atiradores é subproduto legítimo da necessidade de atiradores de elite de longa distância na área policial e militar, associada ao surgimento de tecnologia de armas mais avançada.
O centro de treinamento Storm Mountain, de Ryan, aberto em 1996 e que já teve mais de 5.000 alunos, exige do candidato a aluno um atestado de antecedentes criminais emitido pela polícia local, além de uma carta de recomendação de alguém, como um pastor de igreja. "Não queremos criminosos malucos vindo aprender aqui", disse ele.
Robert Barrkman, presidente da Robar Companies, de Phoenix, disse que o mercado principal para seus rifles caríssimos para atiradores de elite é formado pelos órgãos policiais e militares, mas que sua empresa também vende algumas armas a "cidadãos muito abastados" que os utilizam para praticar tiro ao alvo.
Nos anos 90, o mercado dos rifles para atiradores cresceu, disse Barrkman, mas sua participação no mercado caiu nos últimos anos porque a maioria dos grandes fabricantes de armas também entrou para o ramo, passando a produzir versões menos caras.
Há cerca de quatro anos a Robar parou de descrever suas armas como rifles para atiradores e passou a vendê-los como "rifles de precisão" ou "rifles contra atiradores", contou Barrkman. O termo "rifle para atiradores" não era bom para os negócios.
Barrkman disse que não tem peso na consciência por vender uma arma tão potente e precisa a civis. "Por que os civis não deveriam poder comprar essas armas?", indagou. "Como cidadã americana, a pessoa não precisa ter uma razão para querer comprar uma arma."
Os defensores do controle de armas vêem a situação sob outra ótica e dizem que o aumento da atividade de atiradores como hobby inevitavelmente levará a mortes violentas. "Em vista do desenvolvimento de toda uma cultura de atiradores de elite ao longo dos últimos dez anos, é praticamente inevitável que alguma pessoa desvairada ou algum terrorista acabe colocando em prática a mentalidade do atirador", disse Tom Diaz, analista sênior de política no Centro de Política da Violência, um grupo que luta pelo controle sobre as armas de fogo.
"O slogan do atirador é "um tiro, uma morte"", disse Diaz. "É exatamente isso o que esse sujeito vem fazendo aqui mesmo, em volta da capital de nosso país."
Não existem estatísticas precisas quanto ao número de rifles para atiradores que são fabricados ou vendidos nos EUA. Além disso, algumas armas usadas pelos atiradores de elite são versões modificadas de rifles militares ou de caça padronizados.
Segundo as autoridades responsáveis pelo controle de armas, o rifle do atirador de Washington, a julgar pelos fragmentos de balas e cartuchos que foram encontrados, é provavelmente uma versão do rifle militar americano padrão M-16 ou de um rifle de caça Remington ou Bushmaster.


Tradução de Clara Allain


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