|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTES CÊNICAS
Vídeo, publicação de peças e mostra fotográfica relembram teleteatros de 1956 a 1965 de emissoras do Rio
Projeto rememora "O Grande Teatro Tupi"
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Numa semana, podia-se assistir
a "Vestido de Noiva", de Nelson
Rodrigues, com Glauce Rocha
(1930-71) como Alaíde, uma das
irmãs que se apaixonam pelo
mesmo homem. Noutra, Jayme
Costa (1897-1967) surgia como o
fracassado Willy Loman de "A
Morte do Caixeiro-Viajante", de
Arthur Miller. São exemplos de
atrações exibidas ao vivo pela televisão nas noites de segunda-feira, entre 1956 e 1965.
Infelizmente, não se conhece
nenhum videotape dos teleteatros
da TV Tupi (1956-62), da TV Rio
(1963-64) e da então recém-nascida TV Globo (1965), todos no Rio
de Janeiro. "Mesmo depois do
surgimento do videotape no Brasil [1962], a TV Tupi e a TV Rio
gravavam outros programas por
cima das fitas do teleteatro. Era a
mentalidade da época, não havia
respeito aos profissionais", diz o
ator Sérgio Britto, 82.
Na Globo, o "4 no Teatro" teve
vida curta, apenas 16 edições. Foi
interrompido por falta de patrocínio, conforme relata Britto. Nessa
emissora, as apresentações eram
gravadas, mas os videotapes desapareceram num incêndio.
Para rebobinar a história, havia
pelo menos duas alternativas práticas: colher depoimento dos artistas que protagonizaram aquele
período e garimpar fotografias
nos respectivos acervos pessoais.
Foi o que fez a jornalista Ana
Lúcia Vacchiano, curadora do
projeto "Na Caixa - O Grande
Teatro Tupi", que vem do Rio e
ganha temporada paulistana no
Conjunto Cultural da Caixa, praça da Sé. A iniciativa inclui exposição de 50 fotos dos principais teleteatros realizados em "O Grande
Teatro Tupi" (pertencentes aos
acervos de Britto e do dramaturgo
Manoel Carlos), vitrines com os
originais dos textos e um vídeo
documental de 18 minutos com
depoimentos de artistas.
Hoje, na noite de abertura, serão lançados os "Cadernos do
Grande Teatro". O primeiro livro
reúne duas adaptações assinadas
por Manoel Carlos e encenadas
na telinha em 1957: "Em Cada Coração, um Pecado", de Henry Bellamann, e "Madame Bovary", de
Flaubert. Com tiragem de mil
exemplares, a publicação será distribuída gratuitamente para convidados e entidades culturais e
educacionais.
A um só tempo, formavam-se
(tel)espectadores, leitores e mão-de-obra para o que depois viraria
a indústria do folhetim. "Que escola eu poderia ter melhor do que
essa, com liberdade total para escrever e adaptar obras-primas da
literatura universal?", pergunta
Manoel Carlos, 72.
Das cerca de 400 peças do programa "O Grande Teatro", pelo
menos cem foram adaptadas ou
escritas por ele.
"Minha preocupação era com a
diversidade, não apenas de países
mas de escolas literárias. Textos
românticos, realistas, naturalistas, tudo nos interessava. E fazíamos isso com escritores russos,
franceses, ingleses, alemães, espanhóis, portugueses e americanos,
sem esquecer os brasileiros. Muitos desses textos eram originais
meus, que eu escrevia às vezes
com o meu nome, outras vezes
com o pseudônimo de Doroty
Blay", diz o autor de novelas como "Mulheres Apaixonadas" e
"Laços de Família".
Também estarão presentes Britto (que revezava a direção do programa semanal com Fernando
Torres e Flávio Rangel), Fernanda
Montenegro, Nathalia Timberg e
Ítalo Rossi -núcleo recorrente
da Cia. de Teleteatro que desaguaria, em parte, no grupo carioca
Teatro dos Sete (1959-64).
Timberg foi escalada para ler a
peça "A Voz Humana", de Jean
Cocteau.
Mas o time de atores era maior.
Alguns freqüentavam os palcos
do Teatro Brasileiro de Comédia
(TBC), em São Paulo, a principal
companhia da época. Entre eles,
Bibi Ferreira, Leonardo Vilar,
Francisco Cuoco, Berta Zemel,
Milton Moraes, Zilka Salaberry,
Paulo Padilha, Sadi Cabral, Elísio
de Albuquerque, Cláudio Cavalcanti, Monah Delacy, Norma
Blum, Mario Lago, Fábio Sabag,
Sergio Viotti, Yoná Magalhães e
Vanda Lacerda.
"Nossa boemia era fazer "O
Grande Teatro'", diz Britto. Os
ensaios chegavam a varar a madrugada. As representações duravam até quatro horas e os "reclames" aconteciam durante a passagem de um ato para outro.
"Éramos todos muito jovens,
entre 18 e 25 anos. A televisão estava dando seus primeiros passos.
A dramaturgia era influenciada
pelo cinema, pois já queríamos
fugir do teatro, por achá-lo menos
adequado à linguagem da TV. Estávamos certos. O cinema estava
mais próximo. Tanto é assim que
todos os meus textos obedecem
ao formato dos roteiros cinematográficos. Era assim que fazíamos na época. Não apenas eu,
mas o [Walter Goerge] Durst, o
Cassiano Gabus Mendes, o Silas
Roberg e o Álvaro Moya. Nós que
copiamos esse formato e que os
novelistas seguem até hoje. Pegue
um script nosso feito há 50 anos e
compare com os capítulos de novelas de hoje: são idênticos", afirma Manoel Carlos.
O "TV Vanguarda", na mesma
Tupi, e o "Teledrama", na TV
Paulista, foram outros teleteatros
importantes.
Na Caixa: O Grande Teatro Tupi
Quando: hoje, às 20h, para convidados;
a partir de amanhã, para o público; ter. a
dom., das 9h às 21h; até 31/7
Onde: Conjunto Cultural da Caixa (pça.
da Sé, 111, tel. 0/xx/11/ 3107-0498)
Quanto: entrada franca
Texto Anterior: Memória: O compositor de jazz Oscar Brown Jr. morre aos 78 Próximo Texto: TV Cultura já reativou núcleo de dramaturgia Índice
|