São Paulo, terça-feira, 31 de maio de 2005

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Monstros povoam o imaginário da cultura nipônica

PHILIPPE PONS
DO "MONDE"

No Japão, a modernização não pôs fim ao sobrenatural: fantasmas, monstros e demônios que povoam o imaginário popular desde as trevas da história continuam presentes. A potente demonologia budista e o vasto repertório de lendas locais permitem que o fantástico alimente não só o teatro nô e o kabuki mas também um gênero literário do período Edo (1603-1868) e a iconografia da gravura nipônica.
Os japoneses já não acreditam que existam seres sobrenaturais, mas sua religião os incita a uma boa dose de tolerância com respeito a esses monstros: trata-se de expressões de um mundo antiquado, mas de terror eterno.
Nas regiões rurais encontram-se pequenos santuários xintoístas dedicados aos "espíritos vingadores", e os guias sobre lugares mal-assombrados são sucessos de vendas. Cineastas e autores de mangás recorrem ao imaginário fantástico japonês. É comum encontrar, na maior parte dos filmes de terror, a técnica cênica do kabuki, além de uma grande figura da tradição nipônica, a mulher-diabo.
O fantástico se alimenta da tradição xinto-budista, sob a qual as almas dos mortos viajam, e da necromancia (a evocação dos mortos para apaziguá-los), presente nas crenças populares. Os mortos precisam velar por seus descendentes, e os visitam uma vez por ano na festa dos mortos. Mas alguns deles, vítimas de morte violenta, se tornam "espíritos errantes". Não pertencem mais ao mundo dos vivos, mas não conseguem se separar dele, rondando em uma permanente busca de libertação.


Tradução Paulo Migliacci

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