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Monstros povoam o imaginário da cultura nipônica
PHILIPPE PONS
DO "MONDE"
No Japão, a modernização
não pôs fim ao sobrenatural:
fantasmas, monstros e demônios que povoam o imaginário popular desde as trevas da história continuam
presentes. A potente demonologia budista e o vasto repertório de lendas locais
permitem que o fantástico
alimente não só o teatro nô e
o kabuki mas também um
gênero literário do período
Edo (1603-1868) e a iconografia da gravura nipônica.
Os japoneses já não acreditam que existam seres sobrenaturais, mas sua religião os
incita a uma boa dose de tolerância com respeito a esses
monstros: trata-se de expressões de um mundo antiquado, mas de terror eterno.
Nas regiões rurais encontram-se pequenos santuários xintoístas dedicados aos
"espíritos vingadores", e os
guias sobre lugares mal-assombrados são sucessos de
vendas. Cineastas e autores
de mangás recorrem ao imaginário fantástico japonês. É
comum encontrar, na maior
parte dos filmes de terror, a
técnica cênica do kabuki,
além de uma grande figura
da tradição nipônica, a mulher-diabo.
O fantástico se alimenta da
tradição xinto-budista, sob a
qual as almas dos mortos
viajam, e da necromancia (a
evocação dos mortos para
apaziguá-los), presente nas
crenças populares. Os mortos precisam velar por seus
descendentes, e os visitam
uma vez por ano na festa dos
mortos. Mas alguns deles, vítimas de morte violenta, se
tornam "espíritos errantes".
Não pertencem mais ao
mundo dos vivos, mas não
conseguem se separar dele,
rondando em uma permanente busca de libertação.
Tradução Paulo Migliacci
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