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"EL ABRAZO PARTIDO"
Diretor se preocupa demais com passado
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Aos 30 anos, Daniel Burman
recebeu pelo filme "El Abrazo Partido" um duplo aval do júri
do Festival de Berlim. De fato,
Burman merece reconhecimento
como representante legítimo do
vigor do novo cinema argentino, e
seus três filmes ("Esperando o
Messias", "Todas las Azafatas
Van al Cielo" e inclusive este "El
Abrazo Partido") já configuram
com solidez a confirmação de um
jovem talento. Ainda assim, a dupla premiação pareceu exagerada.
"El Abrazo Partido" é simpático, mas guarda uma contradição
esquisita que só pode ser explicada pelo medo de se tocar em algumas feridas. Basicamente, Burman fez um filme inquieto na forma mas acomodado na história
que quer contar, já vista e revista
em outros contextos.
O diretor, também autor do roteiro (com Marcelo Birmajer), desenha o retrato de um jovem em
crise. Ariel (Daniel Hendler) usa o
pretexto de tirar um passaporte
europeu para conhecer suas raízes, que permanecem enterradas
(a avó nunca conversou com ele
sobre a Polônia, de onde fugiu da
perseguição judaica). Ao mesmo
tempo, debate-se para compreender a ausência do pai, que deixou
a Argentina para lutar na guerra
do Iom Kipur e não mais voltou.
Quase todo o filme se passa numa galeria comercial de Buenos
Aires, onde o protagonista ajuda a
mãe a vender lingerie. Uma narração em "off" descreve, com humor, o cotidiano desse espaço tocado por gerações de imigrantes.
Burman está falando da Argentina contemporânea. Adotou o
estilo barato de realização que
tem marcado as novas produções
do país. Empregou, também, uma
câmera na mão que o ajuda a obter a energia e a pulsação que sua
história parece evitar.
É esta, pois, a contradição: realizado em estilo contemporâneo e
urgente, "El Abrazo Partido" está
preocupado exclusivamente com
questões do passado. O estado
atual da Argentina é visto em pistas demasiado sutis, quase escondidas (basicamente, na falta de
perspectiva do jovem que quer tirar um passaporte europeu e,
quem sabe, sair do país). Mas onde está a Argentina em convulsão? E, para um jovem em busca
de suas raízes, onde está seu questionamento sobre questões atuais
envolvendo conflitos em Israel?
Burman parece ter feito "El
Abrazo Partido" como uma recusa ao desencanto que tem marcado a produção argentina recente.
Seu retrato da juventude é (positivamente) doce e aconchegante,
com traços esperançosos. Mas ser
otimista não significa, necessariamente, fechar os olhos para questões tão essenciais.
Avaliação:
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