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OPINIÃO ECONÔMICA
Os trabalhadores brasileiros e a taxação do aço
CARLOS ALBERTO GRANA E HEIGUIBERTO DELLA BELLA NAVARRO
No dia 7 de março, dois dias
depois de o governo Bush
anunciar o aumento de tarifas de
importação sobre vários produtos
de aço (entre 8% e 30%), estivemos em Brasília para uma audiência no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
e no Itamaraty, onde levantamos
a necessidade de o ministério convocar o mais breve possível uma
reunião tripartite para aprofundar uma avaliação das possíveis
consequências e debater medidas
cabíveis. Na ocasião, obtivemos
um compromisso do secretário-executivo do ministério de realizar gestões nesse sentido, medida
que ficamos aguardando.
O IBS (Instituto Brasileiro de Siderurgia) tem avaliado que as
perdas para a indústria siderúrgica brasileira chegariam a US$ 1
bilhão em três anos e alertou que
as barreiras dos EUA poderiam
provocar a quebra de algumas
empresas. Além disso, o fechamento do mercado norte-americano poderá provocar o desvio de
exportações (asiáticas, ucranianas e outras) para outros mercados, como o brasileiro, o que distorceria a competição interna e
geraria demissões.
Foi exatamente para proteger-se do comércio desviado dos EUA
que, no dia 27 de março, a União
Européia anunciou que também
aumentaria suas tarifas de importação para produtos acabados
e semi-acabados de aço, decisão
que torna ainda mais urgente a
adoção de medidas de proteção
pelo Brasil. Raciocínio lógico que,
no entanto, ainda não foi adotado pelo governo brasileiro. Para a
nossa surpresa, no dia do anúncio
da decisão européia, o ministro
Sergio Amaral declarou à imprensa que era prematuro elevar
as tarifas brasileiras, pois havia
outros instrumentos de proteção
disponíveis (?!).
Para nós está claro que a adoção de barreiras tarifárias por
nossos principais compradores
poderá causar sérios danos à produção e aos empregos brasileiros.
E não pode ser enfrentada com a
defesa do discurso do "livre comércio". É preciso tomar medidas
concretas e urgentes concertadas
com os atores desse processo, as
empresas e os trabalhadores.
Nós defendemos a imediata elevação das tarifas de importação
de produtos siderúrgicos (menos
para o Mercosul), mas consideramos que isso não bastará para garantir a produção do setor. Como
mais da metade das exportações
brasileiras se dirigem aos EUA
(36%) e à UE (19%), se não houver uma elevação do consumo interno do aço, que ainda é muito
baixo (é cinco vezes menor que o
do Japão e o dos EUA), o setor
ainda sofrerá muito. Por isso defendemos a imediata adoção de
medidas que permitam a elevação da produção industrial brasileira e que resultem na geração de
empregos e no crescimento da remuneração.
Entre 1993 e 2000, depois das
privatizações, a siderurgia brasileira passou por um programa de
modernização e atualização tecnológica que, aliados aos baixos
custos operacionais (um dos menores do mundo), tornou o Brasil
o quinto maior exportador mundial de aço, com um montante de
9,3 milhões de toneladas.
Mas, sem dúvida, o que tornou
o aço brasileiro um dos mais competitivos no mercado mundial foi
o aumento da produtividade da
mão-de-obra que, nos anos 90, se
elevou em 150%; o corte nas folhas de pagamento -somente
entre 1996 e 2000 foram cortados
23% dos empregos- e o achatamento dos salários. Foi também
determinante o fato de que a força de trabalho da siderurgia brasileira custa 40% menos que em
outros países em desenvolvimento e 130% menos que a média dos
países desenvolvidos. Os trabalhadores não poderão ser ainda
mais sacrificados.
Os sindicatos de siderúrgicos tiveram um papel ativo na adoção
de salvaguardas pelos EUA e na
reação européia. Aqui, porém, temos sido alijados. Nas reuniões
que mantivemos há um mês em
Brasília, ouvimos do governo que,
graças ao envio de três delegações
de empresas e funcionários de governo em 2001 e início de 2002,
que foram aos EUA defender o
aço brasileiro, os impactos negativos seriam pequenos. Certamente, os resultados poderiam ter sido
melhores se os sindicatos tivessem
feito parte dessa estratégia lobista
e conversado com seus pares.
Desde o anúncio das medidas
norte-americanas, temos tomado
uma série de iniciativas: no dia 28
de março, tivemos um encontro
com um dirigente da Secretaria
Internacional da AFL-CIO, central sindical norte-americana, e,
no dia 10 de abril, tivemos um encontro com diretores do USWA
-sindicato de siderúrgicos dos
EUA- que foram convidados pela empresa siderúrgica CSN para
uma visita a Volta Redonda (procedimento de praxe quando uma
empresa de fora adquire uma empresa norte-americana); no dia 16
de abril, tivemos uma audiência
com o presidente do Senado, Ramez Tebet, para quem levamos
uma série de dados e avaliações e
pedimos que reforçasse ao ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio a necessidade de
realizar, o mais breve possível,
uma reunião tripartite do setor siderúrgico (medida que o ministério já nos comunicou estar viabilizando) e, no dia 9 de junho, enviaremos uma delegação da
CNM-CUT aos EUA para uma série de encontros com o sindicato
dos trabalhadores do aço naquele
país. Em todas essas ocasiões,
apresentaremos as propostas dos
sindicatos de metalúrgicos da
CUT, que são mais de 70% do setor siderúrgico, para defender essa fonte tão importante da economia brasileira e, consequentemente, os empregos e os salários
dos trabalhadores que representamos.
Carlos Alberto Grana é secretário-geral
da CUT; Heiguiberto Della Bella Navarro é presidente da CNM (Confederação Nacional dos Metalúrgicos) da CUT.
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