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REGIME MILITAR
Soldados indicaram localização de corpos
Especialistas darão início à busca por ossadas de guerrilheiros do Araguaia
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um grupo de especialistas começa na próxima sexta-feira o
trabalho de localização de ossadas
de militantes desaparecidos que
lutaram na guerrilha do Araguaia
-movimento armado organizado pelo PC do B na região sul do
Pará e norte de Tocantins contra o
regime militar e sufocado pelas
Forças Armadas de 1972 a 1975.
Em entrevista para a revista
"Época" desta semana, quatro
soldados que participaram da investida do Exército indicaram o
local onde quatro militantes foram enterrados na região -69
guerrilheiros e cerca de 17 camponeses que integraram o movimento foram mortos, segundo
dados oficiais.
Passados 30 anos, apenas uma
ossada da guerrilha do Araguaia
foi localizada e identificada, a da
militante Maria Lúcia Petit da Silva, morta aos 22 anos.
"Com a indicação das ossadas, é
a primeira vez que gente do Exército que participou da ocultação
dos corpos colabora de forma
concreta para ajudar a esclarecer
o que aconteceu no Araguaia. O
relato dos militares mostra que o
Exército executou essas pessoas.
Depois disso, eles não podem
mais ousar dizer que houve um
confronto", afirmou Suzana Lisboa, representante dos familiares
na Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos.
Lisboa, ao lado de outros familiares de desaparecidos, irá acompanhar o trabalho dos especialistas na localização das ossadas. A
expectativa é que, com a ajuda de
equipamentos, outros corpos
possam ser resgatados.
A área apontada pelos militares,
em Xambioá (sul do Pará), foi isolada, segundo nota divulgada anteontem pelo ministro Nilmário
Miranda, da Secretaria Especial
dos Direitos Humanos da Presidência. O ministro acompanhou
os relatos.
De acordo com o comunicado,
o grupo de trabalho que atuará na
região será composto por um
geólogo brasileiro, antropólogos
forenses argentinos, além de representantes de familiares dos desaparecidos políticos, do Ministério Público Federal, da Fundação
Emílio Goeldi e da Universidade
Federal de Alagoas.
A coordenação caberá à Secretaria Especial dos Direitos Humanos e à Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos.
"A ação tem caráter humanitário e de respeito aos direitos humanos, uma vez que representa o
esforço de possibilitar que as famílias realizem o direito imemorial de enterrar seus mortos", diz a
nota assinada pelo ministro.
Sobre as mortes de militantes
no Araguaia, o Exército afirma terem sido resultado de uma situação de confronto. Informa ainda
não possuir nenhum documento
da época -o que poderia ajudar
a reconstituir o período. Diz que,
após tanto tempo, os papéis já foram queimados.
Documentos
Em 2003, pela primeira vez, a
Justiça Federal determinou a
abertura de todos os documentos
da guerrilha e a responsabilidade
de o governo devolver às famílias
os corpos dos militantes desaparecidos.
A Advocacia Geral da União recorreu da decisão judicial, sob o
argumento de que a sentença extrapolava o pedido original das famílias, que haviam requisitado
um documento específico.
O governo também criou no final do ano passado uma comissão
interministerial para localizar as
ossadas de integrantes da guerrilha do Araguaia, atitude que foi
criticada pelos familiares.
Essa nova comissão prometeu
entregar, até o dia 4 de abril, documentos sobre a guerrilha.
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