São Paulo, segunda-feira, 01 de março de 2004

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REGIME MILITAR

Soldados indicaram localização de corpos

Especialistas darão início à busca por ossadas de guerrilheiros do Araguaia

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

DA REPORTAGEM LOCAL

Um grupo de especialistas começa na próxima sexta-feira o trabalho de localização de ossadas de militantes desaparecidos que lutaram na guerrilha do Araguaia -movimento armado organizado pelo PC do B na região sul do Pará e norte de Tocantins contra o regime militar e sufocado pelas Forças Armadas de 1972 a 1975.
Em entrevista para a revista "Época" desta semana, quatro soldados que participaram da investida do Exército indicaram o local onde quatro militantes foram enterrados na região -69 guerrilheiros e cerca de 17 camponeses que integraram o movimento foram mortos, segundo dados oficiais.
Passados 30 anos, apenas uma ossada da guerrilha do Araguaia foi localizada e identificada, a da militante Maria Lúcia Petit da Silva, morta aos 22 anos.
"Com a indicação das ossadas, é a primeira vez que gente do Exército que participou da ocultação dos corpos colabora de forma concreta para ajudar a esclarecer o que aconteceu no Araguaia. O relato dos militares mostra que o Exército executou essas pessoas. Depois disso, eles não podem mais ousar dizer que houve um confronto", afirmou Suzana Lisboa, representante dos familiares na Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos.
Lisboa, ao lado de outros familiares de desaparecidos, irá acompanhar o trabalho dos especialistas na localização das ossadas. A expectativa é que, com a ajuda de equipamentos, outros corpos possam ser resgatados.
A área apontada pelos militares, em Xambioá (sul do Pará), foi isolada, segundo nota divulgada anteontem pelo ministro Nilmário Miranda, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência. O ministro acompanhou os relatos.
De acordo com o comunicado, o grupo de trabalho que atuará na região será composto por um geólogo brasileiro, antropólogos forenses argentinos, além de representantes de familiares dos desaparecidos políticos, do Ministério Público Federal, da Fundação Emílio Goeldi e da Universidade Federal de Alagoas.
A coordenação caberá à Secretaria Especial dos Direitos Humanos e à Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos.
"A ação tem caráter humanitário e de respeito aos direitos humanos, uma vez que representa o esforço de possibilitar que as famílias realizem o direito imemorial de enterrar seus mortos", diz a nota assinada pelo ministro.
Sobre as mortes de militantes no Araguaia, o Exército afirma terem sido resultado de uma situação de confronto. Informa ainda não possuir nenhum documento da época -o que poderia ajudar a reconstituir o período. Diz que, após tanto tempo, os papéis já foram queimados.

Documentos
Em 2003, pela primeira vez, a Justiça Federal determinou a abertura de todos os documentos da guerrilha e a responsabilidade de o governo devolver às famílias os corpos dos militantes desaparecidos.
A Advocacia Geral da União recorreu da decisão judicial, sob o argumento de que a sentença extrapolava o pedido original das famílias, que haviam requisitado um documento específico.
O governo também criou no final do ano passado uma comissão interministerial para localizar as ossadas de integrantes da guerrilha do Araguaia, atitude que foi criticada pelos familiares.
Essa nova comissão prometeu entregar, até o dia 4 de abril, documentos sobre a guerrilha.


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