Portugal é destino. Cumprido o bicentenário da independência, a nação brasileira pode finalmente descobrir, amar e compreender sem trauma suas raízes lusitanas.
Esse é um momento de dimensão histórica para os dois países irmãos que partilham a mesma língua, grande parte da mesma história e, em determinadas quantidades, também a mesma cultura.
Somando "estrangeiros" residentes e brasileiros com cidadania europeia estima-se que em Portugal vivam hoje cerca 700 mil almas falantes da língua de Amado, Krenak, Farias, Machado, Veloso, Lispector e outros tantos que, no português do Brasil, tornam ímpar a nossa cultura no panorama universal.
Mas se, para os portugueses, esse é o povo bem-vindo de que tanto se precisa para mitigar uma incurável insuficiência demográfica, para os brasileiros o país luso surge hoje como lugar mítico, terra prometida e nova casa de família, construída por uma vontade de pertencer —provavelmente pela primeira vez de forma explícita— à sua matriz histórica.
Hoje Portugal recebe novos brasileiros prontos a fazer parte da sua sociedade e capazes de enriquecer o ambiente cultural, social e econômico. Para um país tão pequeno, é impossível ignorar uma comunidade tão numerosa e, por isso, precisada de permanentes cuidados de reconhecimento e integração.
Algumas entidades —como a Associação Portugal Brasil 200 anos, da qual sou fundador— surgem em consequência desse novo contexto e são essenciais para conceber e construir alianças e correspondências entre a cultura portuguesa e a brasileira. São uma força de achamento.
Projetos culturais a exemplo de 200 anos, 200 livros ou Perguntas sobre o Brasil —os dois elaborados em parceria com a Folha e instituições portuguesas e brasileiras— dimensionam o papel da cultura brasileira no contexto global da língua portuguesa e são construtores de pontes efetivas entre as comunidades brasileira e portuguesa, que, cada vez mais, vivem e criam em desmaterializada diáspora.
Eles são pontes reais que juntam portugueses e brasileiros que escolhem o "outro" país para viver e produzir.
Lisboa, a cidade que em Portugal mais brasileiros alberga, é por isso um importante centro cultural do Brasil, contribuindo para a criação de uma "brasilianidade" tão estrangeira na geografia como autóctone na autenticidade.
Usando a língua, a cultura e a história comuns, esses projetos são instrumentos de uma cidadania da língua. Uma nova condição que ultrapassa pactos e fronteiras e define um novo estatuto que une para além daquilo que já existe, criando uma cidadania que transcende.
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