O desolador noticiário político e ambiental deste mês foi amenizado, ainda que ligeiramente, por animadores acontecimentos na gastronomia.
Incontáveis mortos soterrados sob a lama, em Minas, por negligência. Fortes suspeitas de que um filho do presidente está envolvido em falcatruas.
Desolador! Estarrecedor! Como pensar em comida com as notícias pairando como nuvem negra sobre nossas cabeças?
Pois foi justamente mergulhando na leitura das novidades gastronômicas que achei algum alento.
Alegrou-me saber que a alagoana Giovanna Grossi liderou, com brilho, a equipe de cozinheiros e confeiteiros no Bocuse d’Or, considerado a Olimpíada da gastronomia, que encerrou-se na última quarta (30) em Lyon.
De 63 países, só 24 classificaram-se para as finais. O Brasil conseguiu (representado por Luiz Filipe Souza, do Evvai, e pela pâtissière Letícia Cruz, do Sofitel Ipanema, jovem negra de Bangu), mesmo com um orçamento mil vezes menor do que países como a França.
A competição está inserida dentro de uma feira de negócios gigantesca chamada Sirha.
Três mil expositores e 208 mil visitantes! Pelo menos lá, estamos fazendo bonito, graças à Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).
Eles bancaram um estande de 72 metros quadrados, em que foram expostos purês e polpas de frutas amazônicas, cachaças artesanais e muito mais.
Os chefs Thomas Troisgros (RJ) e Onildo Rocha (PB) prepararam tapiocas para o público —o paulistano Ivan Ralston, do restaurante Tuju, foi outro chef que cozinhou ali.
Também festejei o anúncio, no fórum Fru.to, que aconteceu há dias em São Paulo, do lançamento do selo Origens Brasil, um código QR em embalagens que certifica e rastreia produtos da Amazônia.
Bela iniciativa da ONG Imaflora, que deverá ajudar a promover esses produtos “do bem”.
Como bem diz a chef Bela Gil: “A alimentação é uma ferramenta de transformação política, econômica, social, ambiental e cultural”.
Não faltaram exemplos, nesse janeirus horribilis, de pessoas e ONGs trabalhando duro por um Brasil melhor, usando a comida como ferramenta.
Vide a Gastromotiva, que lançou no Fórum de Davos o movimento Social Gastronomy e preparou pratos com ingredientes excedentes. Resta torcer, como no cinema, para que os mocinhos ganhem dos bandidos.
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