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Linha Direta

México se prepara para eleger primeira presidente mulher de sua história

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As eleições deste domingo (2) serão as maiores já realizadas no México. Além de presidente, cerca de 98 milhões de mexicanos irão às urnas para eleger mais de 20 mil candidatos a diversos cargos, tanto em nível federal quanto local. Entre eles, o chefe de governo da Cidade do México e os governadores dos estados de Chiapas, Guanajuato, Jalisco, Morelos, Puebla, Tabasco, Veracruz e Yucatán.

Claudia Sheinbaum (centro), do partido Morena, é a candidata favorita a vencer a disputa pela presidência mexicana no próximo domingo, 2 de junho.
Claudia Sheinbaum (centro), do partido Morena, é a candidata favorita a vencer a disputa pela presidência mexicana no próximo domingo, 2 de junho. AP - Marco Ugarte
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Larissa Werneck, correspondente da RFI no México

A disputa pela presidência do México tem duas personagens principais: Claudia Sheinbaum, do partido Morena, que representa a continuidade do governo López Obrador, e Xóchitl Gálvez, candidata da coalizão opositora formada pelos partidos PRI, PAN e PRD. De acordo com as últimas pesquisas divulgadas em 29 de maio - data que marcou o fim da campanha eleitoral - Sheinbaum é a favorita.

Dados da consultoria Mitofsky apontam que a candidata do partido Morena, que foi chefe de governo da Cidade do México entre 2018 e 2023, tem 50% das intenções de voto, contra 27,4% de Xóchitl Gálvez. Um terceiro candidato, Jorge Álvarez Máynez, do partido Movimiento Ciudadano, aparece com 10,4%. Já uma pesquisa do jornal El Financiero aponta que Sheinbaum tem 52% da preferência, Gálvez, 38%, e Álvarez Máynez, 10 %.

Diante desse cenário, ao que tudo indica, o México terá uma mulher como presidente da república pela primeira vez na sua história.

Sem garantia de promoção de agenda feminista

Segundo a cientista política e professora da Faculdade de Ciência Políticas e Sociais da Unam, Luz María Cruz, as eleições de domingo representam um divisor de águas na política do país. Mas, para ela, tanto Sheinbaum, como Xóchitl, representam forças políticas lideradas historicamente por homens e, por isso, precisarão romper subjetivamente com essas relações para governar a partir de uma perspectiva feminina.

“O fato de uma mulher chegar ao poder não é uma garantia de que ela promoverá uma agenda feminista ou de gênero, nem que será mais sensível a certos tipos de problemas. Há grandes expectativas de que a chegada de uma mulher à presidência possa realmente impulsionar agendas diferentes das que têm sido promovidas pelos homens, como o desaparecimento de pessoas, questões de saúde pública e, principalmente, o crime organizado. Portanto, quem ganhar as eleições terá que enfrentar problemas que, tradicionalmente, estão reservados ao imaginário masculino e patriarcal”, avalia Cruz.

Segundo ela, outra grande expectativa será a atuação da próxima presidente diante do Congresso, que também será renovado nas eleições de domingo. “A governabilidade é muito mais fácil quando você tem a maioria. É muito diferente quando você tem na presidência um partido que representa um projeto de governo e no Congresso, uma pluralidade de forças que depende de diálogo e negociação para aprovação de propostas. Essa pluralidade é muito caraterística do congresso mexicano, já que o nosso modelo permite que 200 deputados de partidos que não tiveram maioria nas urnas sejam eleitos", reitera a cientista política. 

Abstenção nas urnas preocupa candidatos

Um dos principais desafios que os candidatos têm de enfrentar nas eleições do próximo domingo é a participação dos cidadãos nas urnas, porque o voto não é obrigatório no México. A mobilização dos partidos foi intensa ao longo de toda a campanha. Isso porque, de acordo com o Instituto Nacional Eleitoral, nas eleições presidências de 2018 as abstenções foram de mais de 36%.

No entanto, a polarização política envolvendo as candidatas pode estimular a participação dos eleitores. “Geralmente, a média de participação nas eleições mexicanas é de cerca de 63%. Eu acredito que este ano a participação será maior e que muitos cidadãos e cidadãs irão votar, principalmente os jovens entre 18 e 29 anos, que representam cerca de 25% dos eleitores que podem votar pela primeira vez este ano”, prevê Cruz.

Discursos inflamados e violência política

A campanha política terminou na última quarta-feira (29). Em um comício realizado na cidade de Monterrey, no estado de Nuevo Léon, norte do México, Xóchitl Gálvez criticou a gestão de López Obrador e afirmou que, caso seja eleita, a segurança da população será a prioridade do seu governo. Diante de milhares de pessoas, a candidata disse que o presidente é autoritário e que tem esperança na vitória nas eleições de domingo.

“Hoje a esperança mudou de mãos. A esperança é nossa. Eles estão se tremendo no Palácio Nacional porque sabem que nós, os bons, somos mais e, também, porque já nos cansamos das suas mentiras.”, disse Xóchitl.

Já Claudia Sheibaum reuniu os apoiadores na capital, Cidade do México, em frente ao Palácio Nacional, sede do governo. Entre elogios ao atual presidente, a candidata morenista prometeu se dedicar "de corpo e alma" ao povo mexicano e afirmou que, caso seja eleita, se reunirá todos os dias com o gabinete de segurança pública. 

“O presidente López Obrador deixou um ensinamento para o nosso país, ele colocou os cimentos e o primeiro piso, agora falta a consolidação e, por isso, eu convoco vocês para construir o segundo andar da quarta transformação da vida pública do México”, afirmou.

No mesmo dia, casos de violência contra candidatos marcaram o encerramento das campanhas. José Alfredo Cabrera Barrientos, que era candidato a presidente municipal de Coyuca de Benítez pela coalizão PRI, PAN e PRD, no estado de Guerrero, foi assassinado com um tiro na cabeça enquanto conversava com apoiadores, antes de subir a um palanque para fazer um discurso. 

O crime é mais um da lista de agressões e assassinatos contra candidatos ou aspirantes a candidaturas ocorridos desde o início do processo eleitoral. Segundo um estudo da consultoria Integralia, até o dia 26 de maio foram 316 casos de violência política, incluindo 34 assassinatos. 

Em uma coletiva de imprensa realizada na quinta-feira (30), o presidente López Obrador disse que a violência político-eleitoral é um problema relacionado com os vínculos de administrações anteriores com o crime organizado.

“Vamos trabalhar para garantir para esses dias, especialmente no domingo, que as pessoas possam ir votar com tranquilidade, com segurança, de maneira livre, sem medos, sem temores, que todos participemos; e com eleições limpas e livres, se decida sobre o destino do nosso país”, declarou o presidente mexicano.

Divulgação de resultados

O México não tem boca de urna, mas já na noite do dia 2 de junho os resultados começarão a ser divulgados por meio do sistema de contagem rápida realizado pelo Instituto Nacional Eleitoral. É um procedimento estatístico, no qual, através dos resultados de uma amostra aleatória de urnas, é feita uma previsão das tendências de votação.

Além da contagem rápida, após o fechamento das urnas, às 18h pelo horário local, tem início o Programa de Resultados Eleitorais Preliminares (Prep), um sistema que permite a divulgação dos primeiros resultados em tempo real. Esses dados são disponibilizados ao público no site do INE.

O resultado definitivo das eleições gerais mexicanas deve ser divulgado entre os dias 5 e 8 de junho.

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