O que se sabe sobre o ataque aos agentes das forças de paz da ONU no Líbano

Imagem de blindados da ONU

Crédito, Getty Images

As Forças de Defesa Israelenses (IDF, na sigla em inglês) afirmaram que dois agentes da missão de paz das Nações Unidas (ONU) foram "acidentalmente feridos durante combate das IDF contra o Hezbollah" no Líbano.

Os agentes feridos são do Sri Lanka.

A Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil, na sigla em inglês) informou que sua sede em Naqoura, cidade no sul do país, foi afetada nesta sexta-feira (11/10) por duas explosões em menos de 48 horas.

Após os ataques, os EUA pediram que Israel garanta a segurança dos capacetes azuis, como são conhecidos os funcionários da missão de paz.

As IDF confirmaram que dispararam contra a base da ONU em Naqoura após ordenarem que funcionários do local permanecessem “locais protegidos”. O exército israelense diz que apura rigorosamente os fatos.

Além dos dois agentes de paz feridos, dois soldados indonésios se feriram na quinta-feira (10/10) ao cair de uma torre de observação depois que um tanque israelense disparou em direção a ela, informou a missão de paz.

O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, condenou o ataque de sexta-feira e afirmou que ele era “intolerável e não pode se repetir”.

Pule Que História! e continue lendo
Que História!

A 3ª temporada com histórias reais incríveis

Episódios

Fim do Que História!

O porta-voz do exército israelense, o tenente-coronel Nadav Shoshani, afirmou que as forças de seu país estão operando no sul do Líbano como parte de um “conflito em andamento com o Hezbollah, cujos terroristas e infraestrutura estão em estreita proximidade com as posições da Unifil, representando um risco significativo para a segurança dos capacetes azuis”.

As forças israelenses lançaram uma invasão terrestre no sul do Líbano no mês passado, enquanto intensificavam sua resposta a foguetes do grupo armado libanês Hezbollah.

Hezbollah e Israel têm trocado fogo quase diariamente desde 8 outubro de 2023, no dia seguinte ao ataque do Hamas ao sul de Israel. O grupo xiita apoiado pelo Irã afirma que está agindo em solidariedade aos palestinos.

Nas últimas três semanas, Israel intensificou sua campanha contra o Hezbollah e aumentou os bombardeios aéreos no sul do Líbano e em partes do sul de Beirute.

Os ataques culminaram no assassinato o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, e em uma invasão terrestre.

O porta-voz do exército israelense disse que o IDF toma “todas as precauções” para minimizar danos a civis e aos agentes da missão de paz.

Brasil e EUA pedem segurança de capacetes azuis

A missão de paz da ONU no Líbano informou ainda que uma escavadeira militar israelense “atingiu o perímetro” de uma sede da ONU, próxima à “Linha Azul” — a fronteira reconhecida pela ONU entre o Líbano e Israel — no vilarejo de Labbouneh, no sudoeste do Líbano.

A Unifil relata que “tanques das IDF se moveram nas proximidades da posição da ONU”. Os capacetes azuis permaneceram no local e uma força de reação rápida da Unifil foi enviada para ajudar, acrescentou.

“Um capacete azul ferido foi levado a um hospital em Tiro, enquanto o segundo está sendo tratado em Naqoura”, disse nota da Unifil, que disse que incidentes representaram um "episódio sério".

O porta-voz da Unifil, Andrea Tenenti, disse à BBC que o incidente foi "muito preocupante" pois, embora já tenha havido troca de ataques na região, "desta vez parece mais um ataque deliberado contra nossas tropas".

"Estamos tentando pedir às autoridades israelenses alguma explicação sobre o que aconteceu", afirmou.

O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, ligou para o ministro da Defesa de Israel, instando-o a garantir “a segurança das forças da Unifil” no Líbano.

Austin disse que conversou com Yoav Gallant para discutir as operações de Israel no Líbano.

Ele acrescentou que reafirmou o apoio dos EUA ao “direito de Israel de se defender” e o compromisso americano com um “acordo diplomático que permita o retorno seguro de civis libaneses e israelenses para suas casas em ambos os lados da fronteira”.

Austin também enfatizou a necessidade de um “caminho diplomático o mais rápido possível”.

Na noite de sexta, o Itamaraty publicou uma nota condenando os ataques contra missões da ONU por dois dias consecutivos.

"Ataques deliberados contra capacetes azuis ou instalações da UNIFIL são inaceitáveis e constituem grave violação do Direito Internacional, do Direito Internacional Humanitário e da Resolução 1701 (2006) do Conselho de Segurança da ONU, que estabeleceu os termos do cessar-fogo que encerrou a guerra de 2006", diz a nota em nome do governo brasileiro.

O Itamaraty pediu ressaltou a "necessidade de cessação imediata das hostilidades e de uma solução diplomática ao conflito, com vistas a alcançar paz abrangente, justa e duradoura no Oriente Médio".

O primeiro-ministro do Líbano, Najib Mikati, disse que o ataque desta sexta-feira foi "um crime dirigido à comunidade internacional".

Já o governo do Reino Unido disse estar "chocado" com os relatos de ataques a postos da ONU.

"É vital que os pacificadores e os civis sejam protegidos", disse um porta-voz disse a repórteres nesta sexta.

O Embaixador Danny Danon, O embaixador de Israel na ONU, fala durante uma declaração à imprensa antes da reunião do Conselho de Segurança. Ele segura imagens de satélite de lançadores de foguetes pertencentes ao Hezbollah, localizados a cerca de 150 metros das forças da ONU.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, O embaixador de Israel na ONU, Danny Danon pediu que agentes da Unifil se retirem 5 km ao norte para 'evitar o perigo'

Israel argumenta que a Unifil falhou em estabilizar a região e pediu que os pacificadores se retirassem em direção ao norte, para que o país pudesse confrontar o Hezbollah.

O embaixador de Israel na ONU, Danny Danon, reiterou o apelo para que a equipe da Unifil se retire 5 km ao norte para "evitar o perigo" — mas o chefe da paz da ONU, Jean-Pierre Lacroix, disse que as equipes permaneceriam em posição de acordo com seu mandato da ONU.

Danon afirmou que Israel está cumprindo sua "obrigação" relativa a uma resolução da ONU de 2004 que pede a desmobilização de grupos militantes libaneses e não libaneses.

Ele também pediu para que as forças armadas do Líbano sejam enviadas para o sul para "fazer o trabalho".

O que são as missões de paz da ONU

Um soldado da tropa espanhola das Forças Interinas das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL) em um veículo militar patrulhando ao longo da fronteira perto de Kfarkela.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A UNIFIL auxilia atualmente o governo libanês na manutenção da paz e da estabilidade ao longo da Linha Azul

Cerca de 10 mil agentes de paz de 50 países atuam no Líbano, junto com aproximadamente 800 funcionários civis.

As Missões de Paz da ONU são forças multinacionais que atuam em regiões afetadas por conflitos armados.

Desde a criação da primeira missão em 1948, essas operações são implementadas em diferentes contextos, com a aprovação do Conselho de Segurança da ONU.

“Capacetes azuis” é o nome pelo qual são conhecidas as tropas multinacionais que servem nas Forças de Paz da ONU, já que os agentes usam bonés e capacetes na cor da bandeira da ONU.

Um comandante da tropa espanhola das Forças Interinas das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL) é visto na posição da UNIFIL perto de Kfarkela.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, À medida que a luta entre o Hezbollah e as forças israelenses se intensificou, a Força Interina das Nações Unidas no Líbano enfrenta desafios para realizar a missão de paz no sul do Líbano

As equipes são responsáveis por monitorar e verificar o cumprimento de acordos de paz, como cessar-fogos e supervisão de retirada de tropas, além de fornecer assistência humanitária.

Desde a implementação da primeira missão na Palestina (UNTSO), a ONU já estabeleceu mais de 70 operações de paz em várias partes do mundo.

No Líbano, eles patrulham a área entre o rio Litani e a fronteira reconhecida pela ONU entre o Líbano e Israel, a “Linha Azul".