Organizar a produção sustentável da população ribeirinha para preservar a floresta é o desafio de várias cooperativas da Amazônia. Elas mobilizam a economia local, envolvendo famílias com atividades de produção de açaí nativo, madeira legal certificada, artesanatos e até limpeza dos rios para favorecer a atividade turística.
Há cerca de dez anos a Cooperativa dos Profissionais de Transporte Fluvial (Coop-Acamdaf), de Manaus, retira, mensalmente, de três a quatro toneladas de lixo e outros resíduos do rio Negro e seus afluentes, como o Tarumã-Açu e o Tarumã-Mirim.
O trabalho voluntário é feito por 52 cooperados, barqueiros que transportam turistas para locais como a praia da Lua e o Museu do Seringal, além de atender as comunidades locais. “Se esses igarapés ficarem sujos, perdemos a praia, perdemos tudo. Fazemos a limpeza pelo bem do nosso próprio negócio”, diz Flávio de Almeida Gonçalves, diretor da Coop-Acamdaf. Anualmente, no Dia do Cooperado, os cooperados e os voluntários fazem um mutirão para complementar a limpeza mensal.
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Segundo Gonçalves, o lixo e os resíduos provêm de bairros de Manaus, despejados no Tarumã por falta de saneamento adequado. No rio, são encontrados garrafas pet, latas de alumínio e até eletrodomésticos, que são recolhidos e armazenados nas embarcações e flutuantes da cooperativa. As latas são vendidas, e o plástico é doado para empresas de reciclagem. “Todas as nossas embarcações têm lixeiras. Fazemos a nossa parte e temos consciência ambiental, mas muitos ainda não têm”, diz.
Produção sustentável e floresta em pé são os princípios que norteiam as atividades da Amazonbai, criada em 2017 e instalada na foz do Amazonas, no arquipélago do Bailique (AP), com o objetivo de trabalhar com a cadeia produtiva do açaí e com foco no extrativismo do fruto dentro do território.
Hoje com 140 cooperados, a cooperativa tem cerca de 4.000 hectares certificados, além de uma produção anual de mais de 250 toneladas de produtos.
Os cooperados são responsáveis pelo manejo dos açaizeiros e trabalham em toda a cadeia produtiva, da coleta até o transporte dos frutos ao barco da cooperativa, utilizando o georreferenciamento.
Segundo Amiraldo Enuns de Lima Picanço, presidente da Amazonbai, o planejamento estratégico para os próximos anos prevê a construção de uma nova indústria com capacidade de produção e beneficiamento dez vezes maior. “Para 2024, prevemos a adesão de mais de 300 produtores, alcançando produção de um milhão de quilos de açaí por ano”, afirma.
Produzir madeira preservando a floresta é o propósito dos 320 ribeirinhos pertencentes à Cooperativa Mista da Flona do Tapajós (Coomflona), fundada em 16 de fevereiro de 2005 e localizada no município de Belterra (PA), dentro da Floresta Nacional do Tapajós.
Por meio do empreendimento, em 2022, a cooperativa retirou cerca de 46 m3 de madeira em tora da floresta, gerando faturamento bruto de R$ 26 milhões. Deste montante, 10,5%, ou seja, mais de R$ 2 milhões foram investidos em obras sociais, beneficiando cerca de 1.500 famílias da região.
A madeira com certificação FSC é comercializada para empresas na região de Santarém (PA), na loja da cooperativa e para o exterior. A Movelaria Anambé, uma das filiais da Coomflona, produz móveis rústicos e acabados, que são vendidos para empresas de São Paulo e Rio de Janeiro e por meio de designers parceiros. Em 2022, a cooperativa exportou 7.000 unidades de um produto acabado para os EUA.
Com autorização anual do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a Coomflona realiza o manejo florestal de 23 espécies. Para cada hectare de terra, é permitida a retirada de três árvores a cada ciclo de 35 anos. “Essa prática resultou em uma redução de 70% do desmatamento na região, evidenciando a conscientização da população sobre a importância da conservação e cuidado com a floresta”, destaca Arimar Feitosa Rodrigues, coordenador da Movelaria Anambé.