![Umbu colhido por agricultores da Coopercuc, no semiárido baiano — Foto: William França/Imburanatec](https://s2-valor.glbimg.com/Jrx-KjFwNbE4N2a0fDLry0Ie8rI=/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2023/A/s/u4Xj7HTzODseMYK0BVSA/foto31rel-301-renda-f6.jpg)
Campo consolidado da economia solidária, o cooperativismo acumula experiências de geração de renda e inclusão. O modelo associativo emprega milhares de catadores de resíduos, agricultores familiares, pequenos garimpeiros, artesãos, zeladores prediais, agentes da limpeza e outros. “As cooperativas têm um papel muito forte na inclusão de pessoas em grau elevado de vulnerabilidade, como presidiárias que sobrevivem do artesanato. A maioria desse contingente tem dificuldade de inserir-se no mercado, mas encontram um meio de inclusão e proteção social na organização coletiva”, diz Alex Macedo, analista da Organização das Cooperativas Brasileiras (Sistema OCB), entidade de defesa dos interesses do setor.
Estudiosos ressaltam que políticas públicas precisam avançar. Apesar de incentivadas pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída em 2010, as cooperativas de reciclagem, por exemplo, enfrentam desafios que inviabilizam a operação. “Elas se mantêm com muita dificuldade e, normalmente, a retribuição financeira não chega a um salário mínimo. Não há mercado consolidado para a compra dos recicláveis, os preços dos materiais são voláteis e a venda não é o suficiente para manter a cooperativa”, aponta Pedro Aguerre, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “Não há fomento para melhorar as condições precárias de trabalho e falta uma política voltada para isso. A rotatividade é alta no setor porque a remuneração é muito baixa”, reforça.
Segundo o Atlas Brasileiro da Reciclagem 2022, a remuneração média dos catadores varia de R$ 941 a R$ 1.200 - cooperativas sem contrato com o poder público têm os menores rendimentos. Na Coopercaps, cooperativa com seis unidades de reciclagem na capital paulista, seus cerca de 350 agentes recebem, em média, dois salários mínimos. A entidade, prestes a completar 20 anos, destaca-se no ramo atuando em conjunto com a Rede Sul, articulação de 23 cooperativas paulistas focada em fortalecer os canais de comercialização. Mulheres são a maioria na cooperativa, que também reúne refugiados, idosos e comunidade LGBT+.
“No começo, o grupo ganhava menos de meio salário mínimo. Então entendemos que precisávamos nos profissionalizar”, diz Telines do Nascimento Júnior, diretor-presidente e um dos fundadores da Coopercaps. A cooperativa também fundou uma escola e hoje oferta cursos como alfabetização e gestão em parceria com instituições como o Centro Paula Souza.
Nascimento Júnior comemora os avanços, mas diz que os atores da cadeia precisam comprometer-se com a agenda. “É inaceitável termos catadores ganhando menos que um salário mínimo. A política sugere, mas não obriga prefeituras a contratar cooperativas. Sem os catadores organizados, a cadeia da reciclagem não fecha”, frisa.
Na agricultura familiar há mais de mil cooperativas e associações, conforme o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Diese). Apesar da tradição do Sul no segmento, elas mostram força no Nordeste, região com a maior população rural do país, gerando oportunidades para assentados, indígenas e comunidades tradicionais.
Na Bahia, cerca de 14,5 mil estabelecimentos rurais estão vinculados a cooperativas, segundo o Censo Agropecuário de 2017. Levantamento da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR) identificou 70 delas que, além de frutas, hortaliças, carnes, e peixes, produzem mercadorias com maior valor agregado, como cafés especiais, chocolates, azeite e licores. O Bahia Produtiva, política estadual com financiamento do Banco Mundial, há oito anos investe em produção e comercialização.
Uma das beneficiadas é a Cooperativa Agropecuária Familiar de Uauá, Canudos e Curaçá (Coopercuc), que garante renda para 283 cooperados, a maioria mulheres extrativistas, em região de semiárido marcada por extrema pobreza. Principal agroindústria da região, virou referência em desenvolvimento regional. A cooperativa beneficia umbu, manga, acerola, banana e maracujá-da-caatinga. Geleias, doces, polpas, sucos e cervejas artesanais - a maioria orgânicos - abastecem entrepostos comerciais de 15 capitais e são exportados para França e Alemanha. Desde a fundação, o número de cooperados só cresce. “Felizmente, não lembro de alguém que assinou a carta de desfiliação”, diz Carla Pereira, membro da diretoria. Na safra do umbuzeiro, de janeiro a abril, as cooperadas chegam a ganhar 3,5 salários mínimos.
Contratos mantidos com a L'Occitane au Brésil há onze anos vem aumentando a renda das mulheres. As cooperadas fornecem mandacaru e sementes de maracujá cultivados em zonas de reflorestamento que a marca francesa usa na formulação de cosméticos.