Agronegócio
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Por Carlos Raíces — Para o Valor, de São Paulo


A queda nos preços internacionais da carne bovina fez os frigoríficos levarem para o exterior uma estratégia que deu bons resultados no Brasil: a aposta em marcas e produtos nobres, além da abertura de novos e mais exigentes mercados. A média da tonelada exportada caiu de US$ 6.210 (R$ 31.058 no câmbio atual) em abril de 2022 para US$ 4.790 (R$ 23.956) em abril de 2023, em boa parte por efeito da pressão chinesa para derrubar preços, diz Alcides Torres, da Scot Consultoria. O país respondeu por mais de 60% dos US$ 12,97 bilhões (R$ 64,9 bilhões) provenientes das 2,6 milhões de toneladas exportadas em 2022, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).

Diante do cenário, a Minerva Foods ampliou a oferta para o setor de food service e mercados de nicho, segundo Edison Ticle, CFO da empresa. A companhia também investe na diversificação de compradores, em especial países como China, México e Indonésia, que habilitaram novas plantas para exportação no país.

A Friboi também tem apostado em produtos com maior margem. Segundo seu presidente, Renato Costa, há cinco anos a empresa ampliou esse movimento em mercados como Estados Unidos, Europa, Canadá e Oriente Médio, com investimentos em carne com marca própria e marketing direcionado. Agora, a ideia é conquistar novos mercados no sudeste asiático, Coreia do Sul e Japão.

O Brasil começou 2023 com recuo nas exportações após um caso atípico de mal da vaca louca no Pará, em 23 de fevereiro. Vendas externas foram suspensas, e março fechou com 124,4 mil toneladas exportadas, queda de 26,4% frente ao mesmo mês do ano passado. Como as vendas foram normalizadas em 29 dias, a interrupção não deve afetar o bom desempenho dos embarques de carne bovina neste ano, mas dificilmente o país ultrapassará o recorde de 2022.

O mercado externo foi uma saída importante para desaguar o aumento da produção nos últimos anos, e a oferta deve continuar em alta ao menos até 2025. Só no ano passado, o abate cresceu 7,5%. Os bons preços da carne em 2020/21 fizeram pecuaristas investir na criação, colocando mais gado no mercado. Aproveitando a oferta, o dólar forte e o mercado interno enfraquecido por inflação e desemprego, as empresas do setor tiveram nas exportações garantia de rentabilidade. E são as vendas externas que devem seguir dando bons resultados neste ano, mesmo com os efeitos da paralisação nos embarques em fevereiro e março.

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O Ministério da Agricultura estima que a produção saltará de 8,6 milhões de toneladas para até 12 milhões em 2032. O Brasil deverá responder por 29% das exportações mundiais de carne bovina em 2030, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. “A oferta global de carne bovina segue cada vez mais restrita, uma dinâmica que deve se acentuar com a restrição prevista na produção norte-americana nos próximos anos”, diz Ticle, da Minerva Foods.

Apesar das expectativas para de exportação, o mercado interno, onde ficam 71,5% da produção nacional, segundo a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) - essa participação era de 82% há dez anos -, continua relevante e é um ponto de atenção para o setor. Como o consumo de carne varia em função da renda, o desempenho dos frigoríficos depende da estabilização da economia. “A perspectiva de arrefecimento da taxa de inflação favorece o consumo interno de proteína animal”, diz Costa, da Friboi.

No âmbito interno, o cenário adverso dos últimos anos fez o brasileiro reduzir o consumo de carne bovina. Por outro lado, o consumo anual per capita de carne suína, primeira opção na substituição da outra proteína, subiu quase 20% de 2015 para 2022, de 15,1 kg para 18 kg. Contribuiu para isso a maior oferta de cortes nobres no mercado nacional. O Brasil consome 77,5% da produção local de suínos.

Na suinocultura, o fator China também é o fiel da balança, mas por outro motivo. A epidemia de peste suína africana que dizimou a produção chinesa entre os anos de 2018 e 2019 abriu espaço para a carne de porco brasileira. Tanto que o país ultrapassou a barreira de 1 milhão de toneladas exportadas para o mundo em 2020, diz o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin. Em 2022, o país fechou sua balança comercial com volume de 1,12 milhão de toneladas e receita de US$ 2,57 bilhões (R$ 12,85 bilhões).

A Ásia é o maior comprador, com 72,9% das vendas de 2022, principalmente para a China. Neste ano, as exportações já cresceram 16% no primeiro trimestre, na comparação com o mesmo período de 2022, em função do retorno de focos de febre suína no continente. Essa tendência de alta, segundo o setor, deve se manter.

“A expectativa está na abertura e ampliação dos novos mercados como Coreia do Sul, Filipinas, México e Japão, visando manter a exportação brasileira em pelo menos 100 mil toneladas mês”, diz o presidente executivo da Frimesa, Elias José Zydek. A abertura do México, lembra Santin, foi uma disputa de 20 anos, que agora pode fazer do Brasil um substituto para compras do Canadá e dos EUA.

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