Em entrevista ao portal Uol, nesta quarta-feira (26), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil), só será afastado do governo se seu indiciamento for confirmado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e pelo Supremo Tribunal Federal (STF), onde ele está sendo investigado.
Neste mês, a Polícia Federal (PF) indiciou o ministro por organização criminosa e corrupção passiva em um inquérito que apura suspeitas de desvio de emendas parlamentares direcionadas à Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). O inquérito final foi encaminhado para o STF e será relatado por Flávio Dino, que foi colega de Juscelino na Esplanada dos Ministérios.
“Encontrei Juscelino no Maranhão [na semana passada], e confesso que ele deveria estar apreensivo. Era a primeira vez que iria encontrar ele depois da denúncia [trata-se do indiciamento]. Há um pedido de indiciamento que tem que ser aceito. Como eu fui vítima de calúnia, de difamação, fui proibido de me defender e não tive a presunção de inocência [na Lava-Jato], disse a ele: ‘a verdade só você sabe’. Mas disse que se o procurador o denunciar, ele vai ter que mudar de posição”, afirmou Lula.
O presidente disse que o ministro das Comunicações ficou “muito agradecido” ao ouvir que “todo mundo é inocente até que se prove o contrário”. Ele mencionou que o exemplo para Juscelino Filho será o do ex-ministro das Relações Institucionais de seu segundo governo, Walfrido dos Mares Guia, que é amigo pessoal de Lula. Em 2007, Mares Guia foi denunciado pela PGR por envolvimento no chamado mensalão mineiro e deixou a pasta.
“Afastei o Walfrido porque ele foi indiciado [ele se refere à denúncia]. E todo mundo sabe que tem que ser assim. A iniciativa tem que ser do próprio ministro, para deixar o governo em paz”, afirmou o presidente.
Quando foi indiciado pela PF, Juscelino Filho afirmou que o pedido faz parte de uma ação política contra ele e que a investigação busca "criar uma narrativa de culpabilidade perante a opinião pública, com vazamentos seletivos, sem considerar os fatos objetivos". Ele ainda questionou a isenção do delegado responsável pelo caso e compara o seu modo de atuação ao adotado na Operação Lava-Jato, responsável por levar Lula para a prisão.
Ainda de acordo com Lula, na entrevista ao Uol, se acontecer mesmo de o ministro das Comunicações ter que deixar o governo, ele vai ser reunir com a direção do União Brasil para ver se o partido vai querer continuar com a pasta. "Tudo isso faz parte do jogo político e eu tenho que conversar [com os partidos]", afirmou Lula
Ele também defendeu a aliança e disse que o partido tem garantido ao Executivo os votos necessários em matérias mais importantes. "Essa aliança [com União Brasil] está me permitindo governar o Brasil, não do jeito que eu queria. Se eu tivesse 300 e poucos deputados meus seria muito mais fácil", afirmou durante a entrevista.