Intensivas no uso de tecnologia, as empresas de eletroeletrônica vêm traduzindo inovação em ações concretas para tornar o dia a dia dos consumidores mais prático e sustentável. De produtos que incorporam material reciclado a plataformas que conseguem simplificar o atendimento ao cliente, de tecnologias que permitem imersão no metaverso para ajudar na escolha de eletrodomésticos àquelas que levarão internet rápida a municípios sem banda larga, as companhias do setor vêm trabalhando para facilitar a tomada de decisões na hora da compra. Os resultados já aparecem, com retenção do consumidor e forte participação de lançamentos com inovações agregadas nas vendas.
Líder no setor segundo o ranking Valor Inovação Brasil, a WEG, com sede em Jaraguá do Sul (SC), tem acelerado e simplificado os processos de inovação internamente, com foco na produção de equipamentos para energia renovável, no uso de inteligência artificial para tomada de decisão e na pesquisa com nanotecnologia e novos materiais. A empresa busca inovar no uso racional de materiais. Os mais de quatro mil engenheiros da WEG têm sido estimulados a buscar processos para aumentar a eficiência dos equipamentos, sobretudo em mobilidade elétrica. O foco é inovar com menor uso de recursos naturais.
A HP estabeleceu como meta que 70% do seu portfólio global seja produzido com matéria-prima reciclável, inclusive à base de plástico coletado dos oceanos. “É uma meta agressiva, mas possível. No Brasil, todo portfólio já utiliza produtos recicláveis”, afirma Ricardo Kamel, presidente da HP no Brasil. Há pelo menos quatro anos a linha de cartuchos e impressoras tanque de tinta da empresa já utiliza plástico reciclável. Em março, por exemplo, a companhia colocou no mercado uma multifuncional tanque de tinta que tem 45% de plástico reciclável em sua composição. A Smart Tank 581 é produzida na fábrica de Sorocaba (SP), onde também fica o laboratório de reciclagem da HP, instalado na Sinctronics, parceira para projetos de inovação e tecnologia que tornam viáveis a economia circular.
“A inovação está em criarmos um sistema circular sustentável no Brasil, que já está funcionando. Temos gerado matéria-prima e produtos, reduzido as emissões de gases e, consequentemente, os danos ao planeta”, afirma Kamel.
Um dos projetos mais recentes da empresa no país prevê a instalação gratuita de coletores de lixo eletrônico em condomínios. Criado há cerca de um ano e meio, o programa tem a meta de coletar cem toneladas de lixo eletrônico por mês. A expectativa da HP é alcançar mil condomínios em todo o país até o fim de 2024 – mais de 150 já fazem parte do projeto. “Desenvolvemos esses coletores para garantir segurança de quem deposita um equipamento que tem dados registrados. Pensamos em um modelo que reduz a possibilidade de roubos. Além disso, eliminamos esses dados e destruímos o equipamento”, diz Kamel.
No país a HP também estruturou o programa Planet Partners, um sistema de logística reversa aberto a todos os consumidores – pessoa física ou jurídica – que estimula o descarte consciente de cartuchos e equipamentos eletrônicos. “Em qualquer um dos 5.570 municípios do Brasil, podemos retirar um produto HP”, afirma Kamel. Embora não cite cifras, ele diz que a HP não tem medido investimentos para levar adiante os projetos relacionados à economia circular. “Falar de tecnologia é uma praxe. Mas me orgulho de aliar a tecnologia a uma estratégia de sustentabilidade.”
Muitas vezes a inovação acontece quando se revisitam rotinas de relacionamento com consumidores e parceiros. A Electrolux conseguiu reduzir drasticamente o abandono de clientes da plataforma de atendimento da companhia ao revisar todo o processo usado anteriormente e adotar um olhar focado no consumidor. “O objetivo da plataforma é reunir informações sobre produtos e serviços, mas a linguagem usava a cultura interna da empresa, não a do consumidor”, afirma Rodrigo Padilha, vice-presidente de consumer direct interaction do Electrolux Group América Latina. Ao iniciar um atendimento, por exemplo, a plataforma pedia informações do refrigerador. “Mas o consumidor não entendia, porque, no dia a dia dele, o termo usado é geladeira”, conta.
A equipe de Padilha constatou que a plataforma Electrolux Cuida era truncada em termos de usabilidade – a taxa de abandono até o fim de 2022 era de 68%. A partir da estruturação de uma equipe especializada em design de serviços e usabilidade, a empresa congelou práticas até então utilizadas no relacionamento com o consumidor e adotou ferramentas de design research. A voz utilizada na plataforma passou a ser a do consumidor, que precisa resolver o problema e não perder tempo buscando o modelo do produto, exemplifica Padilha. A partir das mudanças implementadas neste ano, a taxa de abandono na Electrolux Cuida caiu para 8%, segundo o executivo.
Para resolver a dificuldade de verificar a compatibilidade de eletroeletrônicos em ambientes de um apartamento comprado na planta, a Electrolux levou os consumidores para o metaverso, mesclando realidade aumentada e ambientes virtuais em parceria com a incorporadora GT Building. Os interessados em um empreendimento da incorporadora em Curitiba (PR) já podem ter essa experiência em um apartamento mobiliado. Padilha diz que a aplicação chamou a atenção da Meta (proprietária do Facebook), que convidou a equipe responsável para fazer apresentações sobre o projeto. “É uma aplicação disruptiva e simples ao mesmo tempo. Além de verificar medidas e acomodação dos produtos no ambiente real do apartamento, o consumidor pode ver os serviços que cada produto oferece. Abrir a geladeira e testar a disposição de alimentos, por exemplo”, diz Padilha.
A experiência no metaverso levou o time de Padilha para outras dimensões de serviços. “Estamos cozinhando uma solução para resolver questões com má interpretação de manuais e produtos”, antecipa o executivo. O piloto do novo serviço está sendo desenvolvido com refrigeradores. Para agilizar o atendimento, o cliente mandará fotos dos produtos. “Com tecnologia de reconhecimento de imagem, a equipe tem testado a assertividade da solução, que já chegou a 74%. Agora estamos em contato com startups nos Estados Unidos para refinar esse reconhecimento de imagem”, diz Padilha.
Com cerca de mil profissionais exclusivamente dedicados à área de pesquisa, desenvolvimento e inovação, a Whirlpool, responsável pelas marcas Brastemp, Consul e KitchenAid no Brasil, tem 56 centros de pesquisa de tecnologias e fabricação. A empresa ainda mantém um ambiente de inovação aberta com universidades, centros de tecnologia e startups no Brasil. Gustavo Ambar, gerente-geral da Whirlpool no país, diz que entre 3% e 4% do faturamento é destinado a projetos de inovação, independentemente do cenário econômico. “Em 2022, em comparação ao ano anterior, foram investidos mais 57% em tecnologia de produto”, diz Ambar.
O aumento em investimentos para inovação na empresa tem considerado as transformações no comportamento dos consumidores. As opiniões dos brasileiros foram incluídas em uma pesquisa realizada pela companhia em mais de dez países. Entre os cerca de 19 mil consumidores que participaram do estudo, 40% preferem os eletrodomésticos que consomem menos energia. Para 35%, o importante é ter produtos menos intensivos na pegada de carbono. Ambar diz que a relevância dada pela empresa aos projetos de inovação tem sido percebida pelo consumidor. “Os lançamentos dos últimos 12 meses já representam cerca de 40% da receita da empresa no Brasil”, afirma.
O investimento em pesquisa e processos para entender o comportamento do consumidor no Brasil também faz parte da pauta da Intelbras. Carlos Reich, gerente do segmento de redes 5G, diz que a empresa investe 3% do faturamento em pesquisa e desenvolvimento e busca criar produtos que melhor se adaptem às necessidades do mercado brasileiro. A partir de uma parceria com a Qualcomm, Reich diz que a Intelbras tem se dedicado, nos últimos dois anos, a desenvolver soluções de FWA 5G para diminuir o abismo digital que separa milhões de brasileiros do acesso à internet em domicílio com alta velocidade. A tecnologia é uma espécie de banda larga sem fio, capaz de entregar qualidade de acesso semelhante à proporcionada pela fibra óptica. Entre as vantagens, está a instalação rápida e simplificada.
“Estamos trabalhando para resolver o problema de conexão à internet no país que atinge cerca de 50% de brasileiros. A tecnologia FWA 5G é uma solução para conectar as cidades em que o acesso à internet de alta velocidade é precário, onde não há investimento em infraestrutura de fibra óptica”, diz. Segundo Reich, a Intelbras está investindo cerca de R$ 150 milhões no desenvolvimento de soluções 5G.
Na avaliação do executivo, quando as equipes focadas em inovação se apaixonam somente por produtos, ficam cada vez mais distantes da resolução dos problemas dos clientes. “Quando pensamos em inovação, o cliente está no centro da decisão. Então, precisamos nos apaixonar por resolver o problema do cliente”, diz Reich.
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