A Embraer manteve na nona edição do anuário Valor Inovação Brasil a liderança no setor de bens de capital, como aconteceu em 2022. Uma das principais fabricantes mundiais de aeronaves, a empresa anunciou, em junho, um acordo com a japonesa Nidec, maior produtora global de motores, para a criação de uma joint venture, batizada de Nidec Aerospace, para o desenvolvimento de sistemas elétricos de propulsão destinados ao setor aeroespacial.
A parceria não apenas coloca a Embraer no mercado de produção de motores elétricos para a aeronáutica, como também produz resultados nos negócios. A inovação terá impacto direto em outro projeto da multinacional brasileira, ainda em fase de desenvolvimento, na área de tecnologia, considerado um dos mais disruptivos: o do eVTOL, aeronave 100% elétrica capaz de decolar e pousar na vertical, pensada para operar curtas distâncias, levando quatro passageiros e o piloto e cuja meta para a certificação é 2026.
“Vamos fornecer os motores elétricos para a Eve Air Mobility, empresa nascida na Embraer-X, a incubadora de negócios disruptivos da Embraer, e focada no desenvolvimento de soluções de mobilidade aérea urbana, como o eVTOL. Mas também vamos vender para outras empresas”, diz Daniel Moczydlower, head global de ecossistemas de inovação da Embraer e CEO da Embraer-X.
Segundo o executivo, o primeiro cliente seria o eVTOL, que utiliza oito motores elétricos para fazer a decolagem e mais um para o deslocamento em cruzeiro, na horizontal. “Ainda não temos a estratégia industrial e a logística, ambas em estudo, mas já estamos nos posicionando”, diz o executivo. “É uma fronteira de inovação bem radical, mas necessária para cumprirmos nossas metas de descarbonização, e esse é o primeiro passo dessa jornada”, completa.
O investimento em aeronaves eletrificadas faz parte do compromisso da Embraer em zerar a emissão de carbono de suas aeronaves até 2050, contribuindo assim com os esforços globais nesse sentido na indústria aeronáutica. Para aeronaves maiores, que operam rotas mais longas, a Embraer vem estudando soluções inovadoras para uso de combustível sustentável.
Em março, inaugurou, em São José dos Campos (SP), junto com o Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE), voltado a análises de mobilidade aérea do futuro. O novo CPE, que leva o nome de FLYMOV, terá um investimento compartilhado de R$ 48 milhões. Uma das linhas de pesquisa considerada prioritária envolve propulsão com estudos a respeito do hidrogênio. A expectativa da Embraer é realizar voos com hidrogênio em 2025, utilizando uma plataforma de novas tecnologias.
A empresa tem também em pesquisa, embora não seja ainda um produto, a tecnologia de célula de combustível de hidrogênio, algo que já é usado em veículos no mundo. “Estamos vendo como podemos levar essa tecnologia para a aeronáutica”, diz Moczydlower. O interesse nessa solução levou a uma parceria, em junho, com a britânica GKN Aerospace, empresa líder no setor aeroespacial, para o desenvolvimento tecnológico na área de hidrogênio.
A colaboração, diz o executivo, seria para desenvolver o projeto de um avião demonstrador de célula de combustível de hidrogênio, uma aeronave que seria adaptada para voar levando a célula e um motor movido a energia elétrica gerada nessa célula.
Trata-se, na opinião de Moczydlower, de um projeto superambicioso, mas as conversas ainda estão no início. “Não é possível, nem para nós e tampouco para os outros fabricantes de aeronaves, conseguir prever qual dessas tecnologias terá condições de amadurecer primeiro. O que nós sabemos desde já é que alguma nova tecnologia, sem dúvida, vai ser necessária para podermos continuar reduzindo a emissão de carbono.”
De fato, a Embraer já vem contribuindo para essa meta não é de hoje. Isso porque os produtos comercializados atualmente são os mais eficientes em matéria de consumo de combustível, diz Moczydlower. Ele cita como exemplo a Energia Family, uma nova família de aeronaves da aviação comercial lançada em 2021, formada por quatro aeronaves de tamanhos variados e que incorporam diferentes tecnologias de propulsão de energia renovável, que são quase 20% mais eficientes em consumo de combustível do mercado.
“À medida que as companhias aéreas vão substituindo seus aviões mais antigos por essa nova geração, já estão reduzindo significativamente a pegada de carbono”, diz. O combustível sustentável de aviação, o SAF, também é um caminho que a Embraer vem estudando, tendo já feito um voo de demonstração utilizando avião abastecido com 100% de combustível renovável. Ainda não está certificado para uso comercial, mas é um compromisso assumido pela empresa fazer com que todas as aeronaves, tanto as atuais como as futuras, possam, o mais breve possível, ter esse combustível renovável como alternativa. Os anúncios feitos pela empresa refletem o compromisso de avançar na agenda de descarbonização da indústria da aviação.
Um dos projetos que vêm sendo analisados já há alguns anos é o de colocar no mercado um turboélice, embora não seja uma novidade para a empresa. O modelo já foi produzido no passado, mas acabou sendo descontinuado. “Percebemos que há uma oportunidade interessante no mercado para o lançamento de um produto com maior eficiência, mais silencioso, de última geração tecnológica e voltado a rotas mais curtas”, diz o executivo.
Trata-se, na verdade, de um projeto voltado para o longo prazo e que ainda depende de uma definição quanto à combinação mais vantajosa de tecnologias de propulsão. A empresa possui mais de quatro mil engenheiros envolvidos em P&D, distribuídos nos centros de pesquisa de São José dos Campos (SP), Gavião Peixoto (SP) Campinas (SP), Belo Horizonte (MG) e Florianópolis (SC).
Uma segunda inovação de negócios, divulgada recentemente, vem da OGMA, empresa da Embraer com sede em Portugal, de motores de aeronaves, especializada em serviços de manutenção, reparação e revisão. “Estamos qualificando a OGMA, através de investimentos significativos, para que possa ser certificada para fazer a manutenção das turbinas da Pratt&Whitney de última geração”, diz o executivo.
Moczydlower avalia essa iniciativa interessante para a empresa como inovação de negócios. “Não estamos falando apenas de turbinas dos próprios aviões da Embraer, que usa a família da turbina da Pratt&Whitney, mas a OGMA vai poder fazer a manutenção nas turbinas de outros fabricantes de aviões, de concorrentes nossos”, diz. “O objetivo é que a companhia se torne um grande centro de excelência, de competência, na Europa e traga um volume de negócios para a OGMA e para a Embraer muito maior do que aquele que está ligado à sua própria frota”, explica o executivo. “Esse é um dos grandes novos negócios da inovação, um contrato muito importante”, afirma.
Outra área da Embraer que exibe dinamismo em matéria de inovação é a de corporate venture capital, fundo que investe em startups e segue em linha com a inovação aberta da Embraer. No início do ano, a multinacional investiu R$ 20 milhões no fundo Multi CVC da MSW Capital. Além do investimento em insurtechs e energytechs, o fundo também contemplará startups de soluções digitais e de plataformas para o setor aeroespacial. “A estratégia de se relacionar com startups, de usar o fundo CVC para aprender sobre novos mercados é algo que a Embraer vem fazendo muito. Com o novo fundo, estamos buscando empresas inovadoras no Brasil e fora dele”, diz Moczydlower.
Ficha
- Investimento no Brasil: 6% (US$ 270 milhões, sobre receita líquida de US$ 4,5 bilhões em 2022)
- Centros de Pesquisa no Brasil: 515**
- Patentes no Brasil: 164
- Patentes no exterior: 632
- Funcionários em P&D: 4,2 mil***
- **: São José dos Campos, Campinas e Gavião Peixoto (SP), Belo Horizonte (MG) e Florianópolis (SC)
- ***: inclui parcerias com universidades, incubadoras e institutos de pesquisa